24 - Love Scenario

Nós nos amamos, nós nos conhecemos
Nos tornamos em uma memória que não pode ser apagada
Foi um melodrama que valeu a pena ver
Com um bom finalIsso é bom o suficiente
Pois eu te amei

— Love Scenario, IKON

Quando recuperei minhas forças, retornei à Coreia, onde busquei o conforto do colo materno por um tempo. Ficar com minha mãe e receber todo seu amor recarregou minha energia. Meus pais sempre foram pessoas muito compreensivas, que me ensinaram tudo sobre o mundo. Nunca tive medo de dizer a eles o que eu sou, pois eles sempre me apoiavam acima de tudo. Somente após passar alguns dias com minha família, ergui a cabeça e percebi que era hora de recomeçar.

Primeiro, a JYPE emitiu uma nota esclarecendo o erro do hospital, e durante os três meses seguintes, mergulhamos em um processo que abalou a Coreia. Embora tenha ganhado bastante dinheiro com o caso, nenhum valor seria suficiente para curar a minha alma ferida.

Utilizei desse dinheiro para adquirir um modesto apartamento. Luxo não era necessário, pois aprendi nos últimos meses que ele não poderia comprar momentos felizes. Minha mãe desejava me devolver o dinheiro que lhe deixei, mas recusei, pois tinha saúde para me reerguer na vida. O governo coreano permitiu que eu me alistasse mais tarde, mesmo próximo ao limite de idade. No entanto, era necessário colocar minha vida em ordem, e foi exatamente isso que fiz durante esse intervalo.

Decidi me abrir mais uma vez com os fãs e escrevi uma carta abrangendo todos os acontecimentos, tentando não ocultar nenhum detalhe, nem mesmo meus relacionamentos com outros homens. O preconceito em relação a ter me revelado um idol LGBTQIA+ não me incomodava, hate sempre existirá, independente do que eu faça. Apenas omiti a parte sobre Gyu e eu, afinal, ele ainda tinha sua carreira.

Pensar nele fazia meu coração doer. Sentia sua falta, mas acreditei que precisava desse tempo sozinho para me fortalecer. Talvez ele estivesse melhor sem mim, pois eu não tinha muitos apegos nem escrúpulos, e ele merece um amor tão belo quanto o que eu poderia lhe dar.

Ao publicar a carta nas redes sociais, também compartilhei o vídeo de Ellie e eu dançando. O mundo precisava testemunhar a delicadeza única de seus movimentos, e a repercussão dessa história alcançou níveis que jamais poderia imaginar. Brianna me ligou, emocionada com meu relato, e me desejou felicidades. Giorgia estava com raiva de mim, desde que a notícia da doença veio a tona e eu não lhe contei nada, mas ela me mandou uma mensagem lamentando minha perda e nos acertamos.

Utilizei minha influência na Republic Records, uma gravadora internacional parceira da JYPE, e os convenci a concederem uma oportunidade para Nancy gravar uma demo. Quando liguei para a jovem, ela ficou completamente surpresa. Passei cerca de duas horas ao telefone, convencendo-a a procurar o diretor da Republic Records em Londres e gravar a demo, e, no final, ela aceitou. Essa garota vai longe se tiver a instrução certa. Posteriormente, fiquei curioso para saber se Bartov conseguiu encontrar sua filha, e esperava que sim, ele merecia ser feliz.

A Netflix entrou em contato com Bang Chan e agendou uma reunião comigo para discutir a possibilidade de adaptar minha história em um filme. No entanto, considerando a natureza absurda dessa proposta, decidi recusar, apesar da generosa oferta financeira.

Depois da reunião, Bang Chan questionou minha certeza, levando em conta que eu havia gasto toda a minha fortuna. Naquela época, o SKZ estava inativo, e eu não tinha interesse em lançar um álbum solo ou qualquer coisa do tipo. Compreendia a preocupação de Bang Chan, pois eu precisava encontrar uma forma de me sustentar...

— Foi assim que cheguei até aqui, pessoal. — Eu disse, olhando meu reflexo no espelho.

Em breve, eu teria que dar uma entrevista e contar aos convidados a história dessa exposição e, todas as versões que eu tento contar, parece errada.

Carinhosamente nomeei minha exposição de "Viva La Vida". Nela, os visitantes poderão apreciar todos os quadros e desenhos que eu havia produzido no ano passado. Organizar essa exposição foi uma experiência muito gratificante e, para ser sincero, cuidar dela tem sido divertido.

— Isso está patético... — Murmuro, lavando meu rosto.

Em poucos minutos, a inauguração começará, mas nada do que eu penso parece bom o suficiente. Embora todos já estivessem cientes das minhas aventuras e desventuras do ano anterior, eu sabia que eles me questionariam e eu precisava ter uma resposta adequada.

A porta se abre e vejo Jay, meu assistente, entrar apressado com uma prancheta nas mãos. Ele parece estar com pressa, e eu o compreendo. Teoricamente, eu já devia estar lá fora, cumprimentando as pessoas:

— Posso saber por que você está aqui? Muitas pessoas já chegaram, preciso de você lá.

— Desculpe, eu estou apenas lavando o rosto. Isso me faz questionar por que você abriu a porta do banheiro sem avisar — digo, olhando para o francês à minha frente, questionando por que ele não havia batido na porta.

— Você ficou quase duas horas aqui dentro. Pensei que estivesse passando mal. Enfim, vamos lá, temos que começar.

Jogo água no rosto e passo a mão por meus cabelos, que estavam relativamente longos, porém com um corte mais modesto. Ajeito meu blazer e sigo Jay em direção à exposição. Foi incrível trabalhar e organizar tudo aquilo, me fazendo refletir sobre tornar minhas pinturas em muito mais que um hobby. Há uma fila enorme de pessoas lá fora, e eu estou bastante entusiasmado com tudo isso.

Sempre ouvi dos Stays que minhas obras eram lindas, e agora todos poderiam vê-las de perto. Os SKZ não puderam comparecer devido a compromissos, mas eles viriam durante a semana. No entanto, a pessoa que eu realmente desejo ter ao meu lado estava longe... Na Coreia. Eu não sei como me aproximar ou retomar a conversa com ele.

Recebemos primeiro a imprensa, que nos bobardea com várias perguntas. Em seguida, meus convidados especiais chegam, e os cumprimento com gratidão por estarem presentes. Agora, estou aqui no alto, observando uma multidão de pessoas tirando fotos com seus celulares, enquanto falam de forma animada sobre as artes. Ali também está presente alguns críticos renomados do mundo da arte, o que me desconcerta um pouco. Sou um amador, é isso se trata de uma exposição amadora. Mas mesmo assim eles estão por aí, olhando as telas e desenhos, fazendo suas anotações. O escritório daquela galeria é elevado, e eu me encontro na escada, observando tudo. Não sinto vontade de me envolver em mais conversas, só quero observar.

Eu desejo ligar para Beomgyu. Várias vezes, abro o número dele no celular e fico encarando a tela, ponderando se terei coragem, mas, obviamente, não  consigo. Anseio por ouvir sua voz, para lhe dizer que as coisas não têm sido fáceis, mas que eu estava lidando da melhor forma possível. No entanto, sei que não tenho direito de fazer isso, não depois de tanto tempo sem procurá-lo.

Eu estou recolhendo os meu pedaços e não quero ser um fardo em sua vida, mas acho que Ellie nunca mentiu. A saudade que sinto é insuportável. Agora que ele está longe, consigo perceber o quanto ele é importante para mim. Estou tão acostumado a contar com ele que, agora que não o tenho, sinto-me mal, como se um pedaço meu tivesse se perdido para sempre. Talvez seja tarde demais. Às vezes, a vida segue caminhos com os quais não concordamos, e ele estaria melhor sem mim. Eu poderia amá-lo, mas ainda carrego um turbilhão de sentimentos misturados ao amor e ao luto por Ellie.

Eu queria tanto o trio de ouro de volta...

— Você precisa dar uma volta. — Jay diz, me assustando.

— Já te falei para não me pegar de surpresa assim. — Digo, irritado, colocando a mão no peito pelo susto.

— Desculpe. — O jovem responde, olhando para mim. — Você está até pálido, precisa tomar um pouco de sol.

— Só vou sair porque estou com vontade de comprar um café. Quer alguma coisa?

— Já que ofereceu, gostaria de um café gelado, por favor. — Jay responde, e eu concordo com a cabeça, seguindo para o escritório.

Troco o blaser por um moletom, coloco meu óculos escuro, o capuz e sigo discretamente para os fundos, onde podia sair sem chamar muita atenção.

Há uma cafeteria a algumas quadras dali, e eu chegaria rapidamente, nem notariam minha falta. No entanto, uma árvore caiu em cima de um carro, causando comoção, então eu teria que dar a volta. Suspiro e começo a andar pelo outro lado, passando próximo ao Sena.

Alguns turistas estão rindo e tirando fotos, e não consigo evitar pensar nela. Para eles, a França é mágica, mas esse lugar me lembra dos dias em que fui completamente feliz, ao lado das duas pessoas que tornaram minha vida mais leve. É engraçado como uma parte minha ainda acredita que Beomgyu seria capaz de fugir novamente para me encontrar, mas dessa vez isso não vai acontecer. Além disso, tudo aqui me lembra ela, cada luz, cada pedra, cada brisa, tudo me faz lembrar que ela se foi e não pode mais voltar. Paris é muito mais do que uma cidade, foi aqui que uma bela história de amor teve início e fim.

Existem memórias das quais não estou pronto para abrir mão, coisas que não devem ser esquecidas jamais. O tempo passa como o fluxo da água, já estamos em agosto, quase um ano desde que me casei com eles. Voltarei em setembro, me alistarei no serviço militar, e a vida seguirá seu curso  e se renovará, assim como a água. Acho que isso é tudo o que posso esperar para mim agora.

Tiro o óculos e o capuz, fecho os olhos e deixo o vento bater completamente no meu rosto. O tempo vai passar, eu sei que voltarei a ser feliz de novo, só preciso terminar de colar todos os meus pedaços...

— Hyunjin?

Uma voz familiar me chama, libertando-me dos meus pensamentos. Ao me virar, avisto Bartov. Um sorriso brota em meu rosto e me apresso em direção a ele.

— Olá! Uau, o tempo tem lhe favorecido, você está incrível — Exclamo, admirando sua aparência.

Seus cabelos estão cuidadosamente penteados, suas roupas mais descontraídas o rejuvenescem e até mesmo a nova armação dos óculos o deixa mais jovem. Também deu um jeito naquela barba horrível. Parece que tem se cuidado.

— Assim você me deixa sem graça. Venha cá, rapaz — Ele me puxa para um abraço e eu prontamente correspondo. É tão bom revê-lo. — Está sozinho? Estava indo para a sua exposição. Me contaram que há um quadro meu lá — Ele diz, após o término do abraço.

— Claro, você fez parte dessa história.

O convido a me acompanhar até a cafeteria e ele aceita. Ao chegarmos lá, pego o que preciso e voltamos pelo mesmo caminho, em direção à galeria.

— Li a carta que você publicou. Não consigo imaginar o quão triste foi — Ele menciona. Essa carta tem sido um dos assuntos mais comentados do momento.

Preciso respirar fundo antes de responder.

— A vida é assim — Digo, olhando para o chão.

— Quer conversar?

Bartov é alguém com quem me sinto à vontade para falar, então começo a contar em detalhes, coisas que não mencionei na carta. Falo sobre Gyu, as festas e tudo que sinto falta. O mais engraçado é que, quando o conheci, jurava que ele era um assassino em série. E ali estou eu, expondo meus sentimentos para esse desconhecido que se revelou uma pessoa boa, apenas sofrendo em silêncio por estar cercado de pessoas ruins. Quando termino, ele continua:

— Mas você desistiu do amor, meu caro?

— Estou bem sozinho e...

Ele me interrompe fazendo um sinal com os dedos e eu o olho, sem entender o motivo. Encarando-me, ele diz:

— Quando nos conhecemos, eu estava perdido, mas hoje é o contrário. Depois daquele dia, lutei pelos meus direitos e agora posso ver minha filha quando quiser e... Estou com alguém.

— Oh, fico muito feliz por você — não consigo deixar de sorrir ao perceber que a vida, apesar de cruel com alguns, também pode ser boa. Mal posso esperar para saber mais sobre essa pessoa. — Como ele é?

— Ah, Hyunjin, ele é tudo o que sempre quis. Vamos nos casar em breve e, aliás, me dê seu endereço, pois quero enviar um convite para você.

— Mas seu noivo ficará contente em ver um "peguete" seu no dia mais feliz de suas vidas? — Pergunto receoso e ele ri.

Naquela noite, optei por não prosseguir com o sexo, considerando a falta de prudência envolvida em ficar com um homem embriagado que enfrentava conflitos em relação à sua sexualidade. No entanto, isso não significa que eu não tenha compartilhado beijos com ele, nem que não tenham ocorrido alguns momentos mais íntimos entre nós.

— Ah, Hyunjin, eu já falei sobre você para o Ryan. Acredite, ele ficará feliz em conhecê-lo. — Ele disse, sorrindo para mim. Continuamos caminhando enquanto Bartov compartilhava detalhes sobre esse tal de Ryan.

Se conheceram no novo emprego dele e se deram muito bem desde o início. Pelas palavras de Bartov, Ryan parece ser uma pessoa legal, finalmente alguém ajudando esse homem a superar sua amargura. Quando nos aproximamos da galeria de arte, Bartov me segurou mais uma vez, e eu o olhei curioso, questionando o motivo.

— Você me fez abrir os olhos, agora é hora de você abrir os seus. O que você passou é realmente triste, mas você não precisa estar sozinho, especialmente se gosta de alguém. — Ele disse, tentando me encorajar.

Tentei explicar que não era tão simples assim, pois já fazia algum tempo que não tinha contato com Beomgyu. Além disso, estive apaixonado por outra pessoa e sabia que isso o havia magoado. Nunca tinha passado tanto tempo sem falar com ele, e não sabia como enfrentá-lo novamente.

— Então vá atrás dele, diga o que sente, seja sincero. — Bartov sugere, como se fosse a coisa mais fácil do mundo.

— Ele nem vai querer me ouvir, não é tão fácil assim. — Respondo, desanimado.

— Como você sabe? Olhe para mim. Sou um homem de meia-idade que só descobriu o amor agora. Você é jovem e enfrentou coisas tristes, mas ainda tem a chance de ser feliz. Pode ficar aí se lamentando eternamente pela perda e envelhecer sem saber o que deixou de viver, ou pode buscar sua felicidade. A escolha é sua. — Ele afirma, todo presunçoso.

— Não posso acreditar que você está usando meu próprio conselho contra mim. — Disse segurando um riso, lembrando que no ano passado eu havia dado um conselho semelhante a ele.

Bartov também ri e finalmente chegamos à galeria. Entro e observo as telas, até encontrar uma entre as várias que pintei de Gyu. Sinto sua falta, apesar de tudo, ainda o considero meu melhor amigo. E, no fundo, não é a amizade a base do amor? Como poderia alcançá-lo agora?

Kai e Tae foram fundamentais no auxílio do meu plano. Soube que Gyu reuniu coragem para deixar o dormitório e morar sozinho em um apartamento. Aproveitando o momento em que ele estava ocupado com um trabalho publicitário, Kai e Tae conseguiram a chave. E é exatamente em seu apartamento que me encontro, sentado em seu sofá, ansioso, esperando pela sua chegada. Tenho a sensação de que Gyu vai me mandar embora e eu até que mereço isso. Após tanto tempo afastados, acho que isso seria justo.

O apartamento dele é muito a sua cara. Repleto de pôsteres de jogos, bandas de rock e K-pop, uma infinidade de presentes de fãs que ele acumula por toda parte, uma enorme TV com um videogame, embora eu tenho minhas dúvidas de que ele realmente jogue. O sofá está repleto de almofadas fofas com estampas de animais, os álbuns de K-pop que ele gosta estão alinhados em uma pequena prateleira, fotos dele com os membros do T.X.T adornam a parede, um tapete branco e felpudo está no chão da sala e algumas suculentas enfeitam a janela.

Apesar de tantas coisas juntas, que dão a sensação de desorganizado, tudo está limpo e de certa forma organizado. No entanto, o que mais chama minha atenção é o violão que Ellie lhe deu de presente. Ele está apoiado na parede, fora da capa, e uma palheta está jogada no chão, indicando que ele tem tocado. Fico observando por um tempo e acabo pegando o violão. Toco algumas notas nas cordas e percebo que elas parecem ter sido trocadas recentemente. Ele tem usado o violão.

Quando ouço o som das chaves, meu coração dispara e fico um pouco desconcertado. Gyu entra distraído, carregado de sacolas de supermercado e olhando para o celular. Ele leva um susto ao me ver em pé na sala e quase deixa tudo cair. Eu sorrio, mas não me arrisco a me aproximar:

— Oi — eu digo, e ele se recupera do susto.

— Caramba, está invadindo casas agora? — ele responde, sua voz soando irritada.

— Em minha defesa, foi o Kai que me deu a chave.

— Eu ainda mato aquele garoto. — Ele observa minha mão e se aproxima, pegando o violão. — Não mexa nas minhas coisas.

Gyu passa por mim, deixa a mochila em um canto e leva o violão para o que suponho ser o seu quarto. Em seguida, volta e fecha a porta de entrada, tira os sapatos e segue para a cozinha. Depois de passar pela cozinha, ele retorna ao quarto e, alguns minutos depois, volta para a sala usando roupas mais confortáveis.

— Se veio atrás de sexo, não estou no clima. Mas talvez você tenha sorte em uma boate qualquer. — Ele diz, ainda olhando para o celular e se senta no sofá.

Sorrio para ele, sentindo falta de ouvir sua voz. Sento-me ao seu lado, e ele abre um joguinho qualquer, fingindo desinteresse. No entanto, eu puxo o aparelho de sua mão e ele reclama. Então, digo:

— Eu te amo, Gyu. — Ele me encara desconfiado, e eu continuo. — Sei que fizemos muitas coisas erradas... Sei que a gente ficou um tempo sem se falar mas... Quantas vezes estivemos com outras pessoas, tanto eu quanto você? Ainda assim, sempre acabávamos juntos... Não estava claro para mim antes, mas agora está.

— Você acha que é fácil assim? Acha que pode passar meses sem falar comigo, vir até aqui, invadir minha casa e dizer "eu te amo"?

— Sim? Estou sendo honesto com você!

— Ah, vai se ferrar, Jinnie! — Ele se levanta irritado e vai em direção à cozinha.

Não perco tempo e sigo-o de perto. Observo a cozinha toda colorida e os vários ímãs na geladeira de jogos, bandas de rocks e de cada país que visitamos, quando foi que ele comprou isso? Beomgyu procura uma panela nos nichos do armário e, assim que a encontra, a enche de água e depois a leva para o fogo. Em seguida, ele mexe em algumas sacolas que estava carregando e retira carne de peixe e diversos vegetais. Abre a embalagem, permitindo que a carne respire e seleciona um dos vegetais para higienizá-lo. Em nenhum momento, Gyu me encara; está agindo como se eu não estivesse ali.

— Gyu, me perdoa... Sinto muito por ter ficado tanto tempo sem falar com você...

— Ah, você não come berinjela né, que pena. Comprei bastante para o jantar. — Ele diz, sem me encarar, enquanto continua a lavar os vegetais.

— Gyu, por favor, fale comigo, olhe para mim...

— O que você esperava, Hyunjin? — Finalmente, seus olhos encontram os meus, e sua expressão não demonstra muita felicidade. — Não estou bravo por causa do seu luto, e nem irritado por ser sempre a sua segunda opção afinal quem aceitou e foi um idiota fui eu. Estou chateado porque você se diz meu amigo, mas passou todo esse tempo sem dizer uma palavra, e agora espera uma recepção calorosa?

— Gyu... Lamento não ter percebido meus sentimentos antes... Desculpe por precisar de um falso tumor para perceber que gosto de você. Me perdoa pela Ellie, eu só...

— Não estou bravo por causa da Ellie. Ela também era minha amiga. Só queria ser a prioridade na sua vida, apenas uma vez... Eu sabia que você ia sofrer pelo luto, mas eu acreditei mesmo que tinha sentimentos por mim... — Ele diz, procurando sua tábua de corte e colocando um nabo sobre ela, cortando-o habilidosamente. — Você concordou em levar nosso relacionamento a sério e desapareceu enquanto eu estava aqui, desolado e sofrendo com a perda dos dois. E agora você pensa que pode consertar tudo com um simples "eu te amo"? Você me subestima muito.

Me aproximo sem saber como resolver essa situação. Passei tantos anos imerso nessa vida turbulenta com Gyu que me acostumei a ela, mas deveria ter enxergado antes. Ele tem todo o direito de estar bravo, mas não quero mais uma vida sem ele. A única pessoa que desejo ao meu lado, mesmo que sendo tolos juntos, é ele, somente ele.

— Lembra daquele dia em que transamos no meu antigo apartamento, antes de eu ir para a Europa? Quando nos beijamos, senti que havia algo mais do que apenas sexo, havia sentimentos envolvidos, meus sentimentos... Gosto de você e gosto de estar com você. Você é meu melhor amigo.

Ele termina de cortar os nabos e parte imediatamente para a cebola, tomando o cuidado de pegar uma vasilha com água para ir molhando o vegetal e evitar a ardência nos olhos. Somente quando começa a cortar a cebola, ele comenta:

— O Felix ficaria ofendido se ouvisse isso.

— Você sempre me entendeu, sempre me apoiou, sempre viu o melhor em mim. Eu confio cegamente em você Gyu e por isso eu estou pedindo perdão, se não quiser que a gente se envolva mais, eu posso entender, mas a nossa amizade... Dê uma chance de novo. — Toco em seu ombro e ele me olha de soslaio.

— Cuidado! Você não deveria tocar num homem que está segurando uma faca e está muito irritado com sua pessoa.

Sorrio e me aproximo ainda mais dele:

— Você sempre esteve presente na minha vida e eu quero que continue assim. Dessa vez será diferente, você é minha principal prioridade agora, quero dizer, você e o exército, já que preciso me alistar e...

Sou interrompido quando ele larga tudo e me puxa, nossos corpos se unem enquanto seus lábios anseiam pelos meus. Eu o seguro firmemente enquanto nossas línguas matam a saudade. Aquele beijo reacende todo o fogo, desejo e todos os sentimentos reprimidos. Ele interrompe o beijo ao apertar minha bunda e eu sorrio, ele nunca muda:

— Você terá que me recompensar muito bem por ter deixado seu marido sozinho por todo esse tempo.

Rio alto e me entrego aos seus beijos. Ele me empurra para a mesa, onde sua mão aperta meu pau sobre a calça jeans, fazendo meus olhos revirarem. Seus toques são sempre deliciosos e logo sinto o volume me incomodar. Gyu morde meu pescoço e sussurra em meu ouvido:

— Agora que tenho exclusividade, quero começar aqui mesmo.

— Desculpe por demorar a voltar... Eu precisava desse tempo para superar e lidar com tudo. — Digo, enquanto consigo falar, pois já imagino que isso nos deixará ambos ofegantes pelo prazer do sexo.

— Tudo bem... — Ele diz, arrancando minha blusa e acariciando meu abdômen. — Não precisamos falar disso agora...

— Não quero mais ir a lugar nenhum sem o meu chaveirinho. — Provoco, e ele cutuca minhas costelas.

— Vamos criar novas memórias felizes. — Ele diz, deslizando suas mãos para minha bunda, o fogo desse garoto é indescritível.

— Depois do exército.

— Claro que não. — Ele ri. — Vou criar uma agora mesmo. Já ouviu falar que o sexo de reconciliação é maravilhoso?

Ele mal termina de falar e enfia a mão dentro da minha calça, fazendo-me soltar um suspiro. Não sei de onde vem esse fogo do Gyu, mas não me importo, porque sei que serei muito feliz com ele. Tenho certeza de que aproveitaremos cada minuto dessas memórias que iremos criar juntos.

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