22 - Pianeti
"E eu perdi voos
E eu perdi trens
Mas eu encontrei o mundo abaixo dos meus pés [...]
Que eu estava a um passo de te perder
Mas você também estava a um passo de perder
Por causa daquelas noites em que perdi você e não soube o por quê"
— Pianeti, Ultimo
Para aumentar a experiência desse capítulo recomendo ler com essa música que tem muito significado para nossa querida Ellie e para a autora também:
TXT : Love song (I Know I love You)
[Deveria haver um GIF ou vídeo aqui. Atualize a aplicação agora para ver.]
Nos casamos no final de agosto e em janeiro as coisas começaram a desandar. As dores de Ellie começaram a ficar insustentáveis e ela se sentia mais fraca a cada dia. As visitas ao hospital se tornaram constantes, até que o médico pediu para que ela não saísse mais.
A HYBE exigiu que Beomgyu voltasse para a Coréia, para gravar um reality. Passaram um certo pano para sua fuga e constantes polêmicas, devido a história por trás, mas exigiram que ele estivesse lá para a gravação do reality a fim de limpar sua imagem de fanfarrão e homossexual. As teorias sobre mim e Gyu se fortaleceram depois que fomos vistos de mãos dadas esperando pelo táxi na Itália e tanto a JYPE como a HYBE estavam se esforçando para ocultar um "possível relacionamento" entre nós, mas já está num nível impossível de esconder.
As pessoas nos apoiavam publicamente em todas as redes sociais, vídeos sobre nós no TIKTOK eram postado todos os dias, as MOAS se juntaram para impedir que a HYBE tomasse alguma reação radical quanto ao retorno de Beomgyu e os Kpoppers em geral estavam enchendo o saco das duas empresas em prol de nós. Nunca achei que ter tanta gente maluca no kpop um dia seria útil.
Dessa forma, Gyu teve que ir embora. Ele não queria ir e dizia estar disposto até a quebrar seu contrato, mas Ellie o convenceu dizendo que ainda estaria lá quando ele voltasse e assim ele foi.
Voltamos para França e já não saiamos mais do hospital. Eu me dispus a estar do lado dela até o último minuto, mesmo que a dor de vê-la perdendo sua vida de pouquinho a pouquinho fosse insuportável. Consequentemente conheci a sua mãe, ela me odeia, mas não me impediu de ficar ali. Apesar que eu não disse a ela, mas também a odeio, Liya forçou a a filha a viver de modo que não queria e isso a fez ser muito infeliz.
Eu não irei descrever como estava a aparência de Ellie nessas últimas semanas pois eu não quero que ninguém fique com essa imagem dela. Quero que se lembrem como uma garota linda e pra mim ela permaneceu linda até o último segundo.
Era quinta feira e chovia bastante lá fora, uma chuva estranha pois não era época. Ellie lia um livro enquanto eu estava sentado do seu lado, mexendo no celular e tentando não incomodá-la com a leitura:
— Sabia que os antigos acreditavam que se chovesse no dia da morte de alguém, esse alguém vai pro céu? — Ela disse com a voz fraca observando a claridade da janela devido a um trovão que caiu. — Eu quero que chova no dia em que...
— Gyu acabou de sair do aeroporto. Já está vindo pra cá. — Disse a cortando. Eu odiava quando ela começava a falar desse jeito, só aumentava minha tristeza. Eu havia avisado Gyu sobre a piora do seu quadro, e depois de muita negociação, conseguiu um alvará para vir até a França fazer uma visita.
Ela sorriu e estremeceu. Estava sentindo frio então me levantei e ajeitei novamente a coberta, alisando seu rosto:
— Obrigada. — Sua voz saiu quase como um sussurro e eu selei sua testa.
Sua mãe teve que ir pra casa resolver um problema com infiltração, mas disse que iria voltar o mais rápido que pudesse. E eu particularmente a preferia longe, ela não me deixava em paz com Ellie. Respirava fundo e aguentava, afinal era a mãe dela e mesmo que Ellie tenha me contato por alto os problemas que tinham, ainda era sua mãe e dava para ver que Liya também sofria ao ver a filha assim. Porém a mulher era intragável e implicava comigo só de me ver respirar, foi difícil, mas resisti.
— O que está lendo? — Perguntei curioso, ao ver que ela pegou um livro novo.
— A Culpa é Das Estrelas.
— Mas você não poderia ter escolhido um livro mais feliz pra ler? — Arquiei a sobrancelha e ela negou com a cabeça.
Só nos últimos dias eu vi em suas mãos livros como: Um Amor Para Recordar, O Menino do Pijama Listrado, Por Lugares Incríveis, PS: Te Amo e agora esse. Um combo para aumentar a melancolia de qualquer um. Mas ela continuava com aquele sorriso nos lábio, como pode?
— Eu gosto de histórias tristes e trágicas.
— Não é atoa que atuava em ballet.
Ela riu baixo e faz uma careta. Acredito que estava sentindo dores. Nos últimos dias o médico aumentou consideravelmente as doses de morfina, mas não parecia ser o suficiente.
Passado algum tempo Gyu entrou no quarto. Ele havia cortado o cabelo e estava usando jaqueta e calça jeans que por sinal estavam molhadas por causa da chuva, Ellie fez um bico ao vê-lo:
— Eu preferia você com todo aquele cabelo.
— Reclama com a Hybe. Eu vou ter que andar completamente na linha por agora. — Gyu respondeu bravo. As consequências de seus atos pelo visto estavam só começando.
Ele foi até a garota e selou sua testa, olhou para a capa do livro e e ficou revoltado:
— Vai ler algo feliz pelo amor de Deus, vou na biblioteca desse hospital caçar algo mais divertido pra você ler. — Ele acabou puxando o livro da mão dela.
— Eu não quero. — Ela falou emburrada e os dois começam a se implicar, do mesmo jeito que faziam quando estávamos viajando por ai.
— Que bom que chegou. — Disse e ele sorriu para mim.
— Gyu? — Ellie o chamou e ele a olhou no mesmo instante. — Você tem um violão aqui?
— Porquê eu teria um violão aqui?
— Então arrume um.
Gyu nem questionou. Saiu do quarto e depois de algum tempo voltou com violão rosa e cheio de adesivos. Eu segurei o riso e ele me olhou de cara feia:
— Não me pergunte, só vamos no que importa. Quer ouvir o que minha cara e estimada Ellie?
— Lovesong por favor.
Eu e Gyu nos entreolhamos por saber o que a letra significava para ela mas ele obedeceu e logo começou a dedilhar a música nas cordas do violão e sua voz suave complementou a melodia:
Nesse mundo de zeros
Eu sei que você é meu 1 e único amor
Nessa escuridão sem fim
Tipo, oh, meu Deus, tão divino
Ellie fechou os olhos apenas curtindo a voz dele. Já havia falado incontáveis vezes que sentia falta e pelo celular não era suficiente, então o sorriso que ela deu ali foi por finalmente poder ter seu amigo do lado:
Das pontas dos meus dedos
Todas as coisas fogem rápido para longe
Minha vida antes de você era uma bagunça
Não conseguia ganhar uma única partida desse xadrez
Oh, nós
Alisei o rosto de Ellie e ela me olhou, seus olhos castanhos adquiram um tom mais escuro, não conseguia mais ver aquele brilho natural que possuía.
No fundo desse buraco
Você é o ún1co ouro que brilha
Agora não consigo parar de pensar em você
Quando estou me afundando sozinho
Ellie sempre vai estar em meus pensamentos e isso nunca irá mudar. Naqueles dias eu já sentia a dor da perda assim que ela foi internada, eu sentia a falta dela e não foi fácil estar ali, vendo quem você ama sofrendo e a cada dia vivendo menos. Mesmo que me doesse, eu encontrei forças para resistir, afinal não é até a morte os separe?
Um anjo que apareceu de repente para mim
Me leve para sua cidade natal
Eu sei que é real, consigo sentir
Ela realmente foi um anjo que passou por essa terra. Sua amiga Lucy me contou brevemente como foi sua vida antes de tudo e eu me odeio por naquela noite em que a vi dançar La Sylphide eu não insisti mais. Como teria sido a vida se ela tivesse dito sim para mim?
Estou cheio de problemas, doente de amor
Não tinha caminho para seguir
Morrer estava bom para mim
Eu sou um perdedor nesse jogo
No final todos perdemos o jogo, mas ganhamos preciosas memórias que jamais poderão ser apagadas. Essas memórias jazem forte em nossas mentes. O tempo poderá tentar desbotar as cores dos quadros, mas a lembranças nunca irão se apagar, mesmo que envelheça e meu cérebro não funcione mais, elas sempre estarão lá.
A ún1ca regra desse mundo
Me salve, por favor
Segure minha mão
Por favor, me use como uma droga
(Eu sei que te amo)
Ela me salvou quando eu não queria mais ser salvo, e eu a salvei da vida vazia que tinha. Não sei como o Gyu se sentia sobre tudo isso, mas sabia que ele tinha um carinho enorme por Ellie, afinal veio até aqui e dessa vez não foi por mim.
Ellie, mesmo com sua voz fraca, cantou a sua parte favorita na música junto a Gyu:
Diga que me ama
Diga que me ama
Até o fim do mundo
Tudo ou nada
Eu quero tudo de você
(Eu sei que te amo)
Diga que me ama
Diga que me ama
Até o fim do mundo
Tudo ou nada
Eu dou tudo de você
(Eu sei que te amo)
— Eu te amo. — Disse baixinho e selei seus lábios e ela retribuiu.
A garota pediu a minha mão e a mão do Gui, nos entreolhamos mas aceitamos seu convite e ficamos os três de mãos dadas. Ela não olhou para nenhum de nós, apenas esboçou mais um sorriso e disse:
— Obrigada por estarem aqui, obrigada pela vida que vocês me deram. Pode parecer pouco, mas pra mim eu vivi o suficiente, obrigada por cada segundo que estivemos juntos.
— Para de falar desse jeito garota! Já sei, vou tocar La Seine pra você. — Gyu disse fugindo das lágrimas que queriam cair e já começou a melodia animada da música.
Ellie riu e mexeu sua mão, como se estivesse dançando. Continuamos nosso pequeno show particular até tarde.
Naquela mesma noite, ela abriu suas asas e voou, alcançando a liberdade que tanto esperou.
O tanto que chorei e sofri nas primeiras horas é indescritível, mas ali, observando do alto a família em volta do túmulo enquanto os coveiros jogavam a terra, eu me sentia perdido. A última vez que eu e Gyu colocamos um terno estávamos num momento alegre, e hoje eles representavam um evento fúnebre.
Eu perdi tudo na minha vida, perdi meus sonhos, perdi minhas ambições, perdi meu dinheiro, perdi minha carreira, mas me encontrei no sorriso dela. Parando para pensar aqui agora, acho que ela nunca foi minha, e eu a perdi para todo sempre.
Mesmo sabendo que ela se foi, eu ainda esperava por ela, quando fechava meus olhos conseguia vislumbrar a nossa dança, nunca teria fim e um dia iriamos dançar na luz da lua como ela sonhou. Secretamente desejava nunca ter feito a cirurgia de remoção do tumor, pois pelo menos quando sentia todas aquelas dores, ela aparecia para mim, ela sempre aparecia pra mim, mas agora eu não conseguia vê-la.
Tanto eu quanto Gyu não participamos da solenidade. Estávamos lá, mas não ousamos nos aproximar. A família dela nos odiava, é irônico pensar que odiavam as pessoas que mais deram alegria a ela nesses últimos tempos. Então ficamos afastados, em cima de um pequeno morro, enquanto os familiares estavam ali derramando lágrimas que para mim soavam falsas.
— O que faremos agora? — Gyu perguntou, depois que ficamos um bom tempo em silêncio.
— Vamos para casa, Bang Chan já iniciou o processo contra o hospital e prometeu que aquele lugar vai ser fechado pois ninguém merece gente incompetente.
— Obviamente. Ele não iria deixar isso barato mas... E quanto a nós?
Eu o encarei. Nesses últimos tempos não pensei sobre o que faria depois da morte de Ellie em relação a Gyu e, pra ser honesto, naquele momento eu só sentia a dor do luto, só conseguia me lamentar pela perda da Ellie. Olhei para Beomgyu, e deixei que as palavras saísse de uma vez:
— Gyu eu... Preciso de um tempo pra mim, para superar e respirar. Você já esperou tempo demais por nós e eu não quero mais te segurar. Acho que devíamos acabar por aqui.
Gyu nada disse, apenas assentiu e colocou as mãos no bolso observando os familiares de Ellie. Seguiu-se um silêncio até que eles começaram a ir embora:
— Eu a invejava sabia? — Ele começou a dizer e eu continuei encarando o tumulo de Ellie. — Ela conseguiu ter o que eu nunca tive de você... Essa dedicação, essa emoção. Mesmo que você afirme que tenha sentimentos por mim sempre foi diferente com ela. E eu não tenho raiva alguma pelo contrário, vou sentir tanta falta dela quanto você... Mas também não posso evitar de pensar que você nunca vai ser meu... Então eu concordo. Acho que é melhor terminarmos aqui.
Eu o olhei surpreso, mas não disse uma só palavra. No final, até nós, dois libertinos, são capazes de criar sentimentos. Mas eu não me sentia mais no direito de estar com Beomgyu e ele não precisava mais ficar me esperando. Meu amor e carinho por ele não iriam diminuir, eu só... precisava ficar sozinho.
— Espero de verdade que consiga superar. — Beomgyu diz e dá um pequeno sorriso. Em seguida, olha para a. Lápide de mármore e diz. — Ah minha cara Ellie... Nunca será esquecida, sempre fará parte da minha vida também.
Ele não disse mais nada. Deixou que as lágrimas rolassem de seu rosto, apertou meu ombro e saiu. Eu continuei ali, até todos familiares irem embora. Quando até os coveiros sairam, desci do morro e fui para frente do tumulo dela. Fiquei observando a lápide fria com seu nome, e sentindo muito incômodo de saber que Beomgyu estava indo embora e dessa vez acabou: ele não estaria mais do meu lado.
"Em memória de Ellie Mitchels, prima ballerina assoluta da Ópera de Paris"
Desde que comecei a esquematizar essa história, essa cena estava "pronta" por causa da música que coloquei no título, pra mim, ela foi uma das maiores propulsoras dessa história, assim como LOVESONG. Deixo aqui como sugestão.
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Não esqueça a estrelinha ⭐
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