21 - Três Corações
"Vi que era amor
Quando te achei em mim
E me perdi em você
Somos verso e poesia
Outono e ventania
Praia e carioca
Somos pão e padaria
Piano e melodia
Filme e pipoca
De dois corações um só se fez"
— Dois Corações, Melim
Off: aconselho demais a ler o capítulo com a música "dois corações" de fundo. Faz parte da história
Ajeitei cuidadosamente a câmera, buscando o ângulo perfeito, mas parecia insatisfatório. Não havia um tripé ali, então eu improvisei com o que tinha à disposição naquele quarto de hospital. No entanto, acredito que nunca encontraria o ângulo ideal para aquele momento.
— Ah, droga, isso não vai dar certo. — Murmurei quando meu celular quase escapou do "suporte" feito com revistas e o controle da tv.
— Acho melhor você segurar com a mão mesmo. — Gyu disse e segui seu conselho, mantendo o celular firme em minha mão.
Enquanto eu observava o grupo ot8 no Kakao, Gyu e Ellie estavam sentados no quarto. Eu precisava abordar esse assunto com todos eles, mas não sabia por onde começar.
— Hyunjin, ficar olhando para o celular não vai resolver o seu problema. — Gyu perdeu a paciência e, mais uma vez, concordei com ele.
Eu havia mandado uma mensagem a todos os SKZ sobre precisar conversar com eles. Portanto, tivemos que combinar um horário que fosse conveniente para Changbin e, agora, para Han, que estava na base militar.
Han se alistou logo depois de eu ter ido para a Europa. Assim que Minho retornou mais precisamente. O casal passou um mês completamente reclusos antes de Han ingressar na vida militar. Eu deveria estar lá, ao lado dele, mas a vida me pregou uma peça cruel... Coloquei para chanar e fiquei observando ansiosamente.
O primeiro a atender foi Felix, e Marie estava ao seu lado. A cada dia que passa, a loira fica ainda mais bonita. Com um sorriso quase imperceptível, cumprimentei-os:
— Oi, Lix, Marie.
— Meu Deus, Hyunjin, o que aconteceu com o seu rosto? E seu cabelo? — Felix perguntou, assustado ao notar os machucados em meu rosto e parte do meu cabelo raspado proveniente da cirurgia que conteve o sangramento no cérebro.
— É uma longa história. — Respondi rapidamente, evitando entrar nesse assunto delicado.
— Está arrumando briga por aí? — Indagou Marie, sorrindo com sua pronúncia estranha coreana. Ela se esforçou muito para aprender, mas ainda enfrenta dificuldades com a pronúncia.
— E eu lá sei brigar? — Respondi e ambos riram.
Em seguida, I.N atendeu a chamada, e um sorriso se formou em meu rosto ao ver suas adoráveis covinhas:
— Oi, pãozinho.
— Hyun, seu rosto... — Na última vez em que fizemos uma chamada de vídeo, meu rosto também estava machucado, uma pequena ironia, e o encarei através da tela.
— É uma longa história.
— Parece que ele está se metendo em confusão por aí, Innie. — Marie interrompeu, rindo, e eu suspirei.
— Não é bem assim. — Tentei proteger a garota de quem gostava e acabei levando uns socos, mas isso não era da conta deles.
— Então, o que aconteceu? — I.N perguntou, curioso.
Eles não me dariam paz até que eu contasse o que aconteceu, então decidi falar logo:
— O que aconteceu foi que...
— Meu Deus, Hyunjin, quem foi que deixou seu rosto desse jeito? — Minho perguntou assim que entrou na chamada.
— Ai, gente, já falei, é uma longa história. — Bufei irritado.
— Quando você se envolve em uma briga, espera-se que pelo menos saiba lutar. — Felix falou, querendo me provocar.
— Olha quem fala, o cara que levou uma surra do irmão da namorada. — Debochei, e Marie riu. Felix levou uma bela surra do irmão mais velho de Marie.
— Tenho que concordar... — A garota defendeu o meu ponto, e Felix soltou um "Hey" em protesto.
— Boa noite a todos. — Bang Chan chegou e arqueou a sobrancelha ao ver meu rosto, mas não comentou nada sobre isso. — Como você tem estado, Hyunjin?
— Estou bem, e o projeto mini Bang Chan? Ouvi dizer que alguém andou falando sobre isso por aí. — Decidi soltar um boato que me contaram para mudar o assunto do meu rosto.
— O quê? Bang Chan, segura aí! Não fez nem um ano que você tá casado! — I.N falou nervoso, o que arrancou risadas de todos, e Bang Chan respirou fundo, claramente irritado.
Minho sorriu satisfeito. Foi ele quem me contou que Yunjin andou falando umas coisas estranhas sobre cuidar de plantas, como se estivesse cuidando de um filho. E o Minhyuk, um idol e amigo próximo do Bang Chan, que por acaso já era casado e tem um filhinho, disse ao líder do SKZ que isso é um sinal de que ela está dizendo que quer ter um filho.
— Tenho certeza de que não estamos aqui para falar sobre mim. — Disse Bang Chan em tom calmo, ignorando as provocações.
Em seguida, surgiram novos rostos. Han e Changbin estavam servindo na mesma base. Fiquei chocado ao ver Han com o cabelo raspado, o que não combinava em nada com ele. Quanto a Changbin, eu já havia me acostumado com a falta da franjinha dividida, mas Han era uma novidade para mim.
— Uau, você está lindo. — Comentei.
— São seus olhos. — Han respondeu, rindo. — Vejo que você também está aderindo ao corte militar.
Eu preferia ter cortado meu cabelo por vontade própria. Ainda era estranho olhar no espelho e ver aquela parte faltando.
— Hyun... — Começou Changbin, já imaginando o que eu queria perguntar sobre o rosto.
— É uma longa história. — Interrompi antes que ele perguntasse.
Seungmin foi o último a chegar e sua expressão não estava nada feliz, mas ele deixou claro que não queria falar sobre aquilo e nós respeitamos sua decisão. Agora, finalmente, era hora de falar, e eu respirei fundo antes de começar:
— Bem, pedi que nos reuníssemos aqui hoje para atualizá-los sobre o meu estado de saúde. — Os semblantes sorridentes e descontraídos deram lugar a olhares ansiosos e expressões fechadas. A notícia foi avassaladora para todos, e cada um já vinha lidando com o luto à sua maneira. Então, eu disse de uma vez. — Eu não estou morrendo.
— O quê?
— O que você disse?
— Como assim?
— Hyunjin, o que está acontecendo?
— Eu não posso acreditar!
— Hyun, o que isso significa?
Todos começaram a falar ao mesmo tempo, e eu os interrompi:
— Ei, calem a boca! Deixem-me explicar... — Todos silenciaram e me observaram. — Eu tenho um tumor no cérebro, mas não é tão grave assim, e a cirurgia resolverá facilmente. Acontece que algum incompetente trocou os resultados dos exames. Fizeram com que alguém que estava morrendo de câncer acreditasse que não era algo tão sério, enquanto eu acreditei todo esse tempo que estava morrendo... É irônico, não é? — Disse, embora sem esboçar nenhum sorriso.
O silêncio prosseguiu, afinal, não foi apenas eu que passei os últimos meses encarando a morte. Como mencionei antes, cada membro teve seu próprio processo de aceitação, além de lidar com problemas pessoais. Essa notícia não mudou apenas a minha vida, mas a de todos ao meu redor. Então, o maknae gritou com um sorriso radiante:
— Minhas orações deram certo! Ah, estou tão aliviado!
— Nossa... Estou tão chocado e feliz. Ah, Hyunjin, você vai viver! — Disse Seungmin com um sorriso largo, mas não consegui sorrir.
— Apesar de você ter se envolvido em inúmeras polêmicas por acreditar que partiria para um lugar melhor, é realmente um alívio. — Changbin sorriu, empolgado.
— Quem se importa com isso? Hyunjin, você vai viver... Vai viver. Hoje é o dia mais feliz da minha vida. — Felix disse, com os olhos cheios de lágrimas.
Fiquei olhando para eles, todos felizes. Procurava forças dentro de mim para compartilhar a alegria de estar vivo, afinal, estaria com meus amigos... Mas essas forças não existiam. Naquele momento, só havia dor, um peso dentro de mim. Quem me dera pudesse dar minha vida pela vida dela...
— Por que sinto que você não está feliz com isso? — Minho perguntou ao perceber minha falta de expressões, e eu não sabia o que dizer.
Como posso dizer sobre a iminente morte da garota que mexeu tanto comigo? Como uma pessoa tão encantadora como Ellie poderia perder a vida para uma doença tão cruel? Como posso explicar que me sentia mais vivo quando pensava que poderia morrer do que agora? Inúmeros sentimentos se chocavam dentro de mim, impedindo-me de encontrar uma resposta concreta. A única certeza que tinha é que eu já sentirá a dor da perda antes mesmo de perdê-la. Percebendo minha relutância em responder, Bangchan interveio:
— Você precisa voltar para a Coreia. A primeira coisa que faremos é incendiar aquele hospital! Apenas processá-los não é suficiente. — Nosso líder estava visivelmente furioso e, conhecendo-o bem, sabia que ele faria o que estivesse ao seu alcance para arruinar aquele hospital.
— Aprendi a fazer coquetéis molotov. — Changbin disse, ostentando um sorriso presunçoso.
— Não sabia que o exército estava treinando terroristas agora. — Han provocou-o e ele respondeu indignado.
Os membros então começaram a rir e expressar o alívio por saberem que eu iria sobreviver. Eu queria ficar feliz, queria realmente estar rindo com eles, mas minha única reação foi chorar. Fiquei ali, observando minhas pernas enquanto as lágrimas escorriam. Tentei genuinamente compartilhar da alegria deles, mas essas lágrimas eram o reflexo do meu coração machucado. Han foi o primeiro a perceber e perguntou:
— Hyun, o que houve? — Após a fala do mais novo, todos se calaram e me encararam pela tela do celular.
Continuei observando minha perna por mais algum tempo, até fungar e limpar o rosto, recompondo-me:
— Eu... Vou ficar na Europa um pouco mais. Espero que entendam. Preciso fazer a cirurgia para remover o tumor e também tem o período de recuperação, mas não tenho dinheiro suficiente para a operação... — Falei um pouco envergonhado. Nunca precisei pedir dinheiro a ninguém, mas ali estava eu, sem nada além das belas memórias que se tornaram um fardo.
— Já disse que vou pagar essa droga de cirurgia para você. É tão difícil aceitar minha ajuda? — Beomgyu interrompeu a conversa, vindo para o meu lado indignado porque tenho rejeitado sua ajuda. — Droga, você gastou todo o seu dinheiro com a gente e agora não posso te ajudar? Meu dinheiro não é bom o suficiente para você?
Eu queria respondê-lo, mas as palavras sumiam de minha boca. Beomgyu não estava tão difamado na mídia quanto eu, então não queria prejudicá-lo. Além disso, ainda sou membro do Stray Kids, e a empresa poderia arcar com os custos até a minha expulsão, pois duvido muito que a JYPE queira sua imagem associada a mim depois de tanta polêmica.
— Não é isso, Gyu. Pare de pensar o pior de mim... — Consegui dizer.
— Você está agindo como um imbecil. — Ele resmungou, e Ellie deu tapinhas em seu ombro, para acalmá-lo.
Após o nosso pequeno espetáculo ao vivo, Bang Chan pigarreou para tomar a palavra:
— Isso não é um problema. Entre em contato comigo com os valores e providenciaremos o dinheiro. Mas por que você não pode voltar? Não acha que já ficou tempo demais longe?
— Há algo que ainda preciso fazer aqui. — Disse, olhando para Ellie e Gyu. Naquela hora, só se passava na minha cabeça que não importava o que acontecesse, eu precisava estar ao lado dela. Mesmo que isso significasse sofrer por vê-la definhar, minha amiga, minha amante, uma pessoa que eu tanto gostava, eu tinha que estar até o fim.
— Resolva seus assuntos e volte para nós. — Bang Chan sorriu, um sorriso de alívio. Apesar de estar distantes, pude sentir seu abraço afetuoso.
Assenti e comecei a me despedir dos membros, já desprovido de lágrimas e tomado por um sentimento de pesar em relação à Ellie. Desejava fazer algo por ela, ansiava por encontrar uma cura para sua doença, mas sabia que estava além das minhas possibilidades. Entretanto, uma ideia surgiu em minha mente, algo que poderia trazer imensa felicidade a ela. Tomei coragem, desci da cama do hospital, me aproximando dela e segurei suas mãos quentes:
— Ellie... Se lembra do nosso primeiro encontro? — Indaguei, ansioso, esperando que ela seguisse meu raciocínio.
— Claro que sim. Como poderia esquecer? — Respondeu ela.
— Bem, se lembra quando você me revelou seu sonho? — Continuei a encará-la, aguardando que a ficha caísse.
— Ah... Viver um romance? — Ela ponderou, ainda sem compreender plenamente.
— E o que mais? — Insisti, enquanto seus olhos me fitavam, repletos de apreensão.
Finalmente, ela compreendeu meu propósito.
— Não... — Ela respondeu, relutante
— Sim...
— Hyunjin, não posso fazer isso. — Balançou a cabeça em negação, porém, eu acariciei seu rosto com ternura.
— Do que estão falando? — Beomgyu interrompeu, curioso para entender o que estava acontecendo.
— Ellie Mitchels, case-se comigo — Eu tentei sorrir da melhor forma possível para ela.
— O quê? — Gyu perguntou, incrédulo.
A jovem não respondeu, e eu permaneci ansioso, esperando sua reação.
— Sei que parece uma ideia insana, mas... Deixe-me realizar seu sonho por completo.
Ellie me encarou, e eu fiz o possível para demonstrar meu sincero desejo. Era aquilo que ela queria, afinal de contas. Ela passou a vida inteira vivendo os sonhos dos outros, e eu ansiava por tornar um dos dela realidade.
— Somente se Gyu se casar conosco! — Ela disse rapidamente. — Se você me pediu em casamento, precisa pedir a ele também... De joelhos.
Beomgyu de início não disse nada, apenas ficou me encarando e depois encarou Ellie. Ao observar a garota, seus olhos lacrimejaram e ele segurou na sua mão, entrelaçando seus dedos enquanto reprimia as lágrimas:
— Não acredito que estou deixando uma hétero me tocar. — Ele disse, deixando escapar uma única lágrima, enquanto ela riu baixo e deitou sua cabeça em seu ombro.
Não pude conter o riso, então ajoelhei-me, olhando para os dois. Beomgyu reprimiu seu riso sarcástico, e eu os encarei com firmeza antes de prosseguir.
— Choi Beomgyu e Ellie Mitchels, aceitam se casar comigo?
— Sou difícil. — Beomgyu cruzou os braços, relutante em cooperar.
— Como Mina já dizia: "You got two choices, yes or yes?" — Respondi, e ele riu.
*(Nota: referência à música "Yes Or Yes" do grupo TWICE)
— Está bem, já que insiste. — Ele disse e mais lágrimas escaparam, enquanto ele apertava a mão de Ellie.
— E você, Ellie?
— Agora posso responder. Sim, claro que sim.
Permanecemos ali, os três, nos encarando. Três amigos, três histórias, três amores. Não poderia haver forma melhor de concluir nossa aventura do que compartilhar esse momento entre nós.
— Aceitam anéis de coco em vez de alianças de ouro? — Sugeri, consciente de que meu orçamento se limitava a pouco.
— Eu tenho cara de lésbica agora é? — Beomgyu protestou e eu rio alto. Como ele consegue ser assim?
A Toscana revelou ser um lugar de uma beleza incomparável, tanto por sua cidade encantadora quanto por suas paisagens deslumbrantes. A ascendência paterna de Ellie remontava à Itália, onde sua família, em outros tempos, possuía uma vinícola. Embora a propriedade já não estivesse mais sob posse da família, ela mantinha contato com os atuais proprietários e solicitou a gentileza de nos permitir realizar nosso casamento ali. Seríamos apenas eu, Gyu, Ellie e um celebrante não oficial, uma vez que um casamento entre três pessoas não poderia ser oficialmente sancionado. Contudo, o que importava era a intenção. Mesmo assim, Ellie desejava manter a tradição e decidiu ir mais cedo para a vinícola, mencionando que nos encontraria lá, uma vez que os noivos não deveriam se ver antes da cerimônia.
Eu já havia passado pela cirurgia e estava em fase de recuperação. Não sentia tantas dores e a única coisa que não conseguia aceitar era meu cabelo. Ele havia sido completamente cortado para realizar a cirurgia e passei a ostentar uma cicatriz no lado direito da cabeça. Desde então, optei por usar touca, na certeza de que os fios voltariam a crescer.
Naquele momento, porém, havia questões mais difíceis com as quais lidar do que a falta de cabelo.
Gyu e eu estávamos hospedados em um quarto de um hotel barato. Optamos por trajes simples, sem gravata ou colete. Vestimos apenas calças pretas, camisas brancas, blazers e sapatos sociais. Observei Gyu, que há algum tempo encarava a janela, e me aproximei dele:
— Está tudo pronto?
Ele assentiu, seu olhar continuava ao longe. Sua franja estava um pouco atrapalhada, devido ao vento batendo em seu rosto e tomei a liberdade de levar alguns fios para atrás da orelha. Gyu me olhou e sorriu, segurando meus dedos em seguida:
— Eu sei que você está fazendo isso por causa do sonho da Ellie, e nem sei se é o momento mais oportuno para falar sobre, mas... Precisamos conversar sobre nós. — Ele segurou minha mão de forma firme, contemplando o anel de coco que usava, representando nossa aliança. — Eu quero levar esse casamento a sério... Eu realmente quero estar com você, Hyunjin.
Entrelacei os dedos com Gyu e pressionei nossas testas, sentindo seu hálito mentolado tocar meu rosto. Foi ele quem tomou a iniciativa, puxando-me para um beijo apaixonado, repleto do amor que nutria por mim. Tentei corresponder à sua intensidade, para que ele entendesse que eu também estava levando a sério.
Com uma mordida, encerramos o beijo, mas nossos dedos permaneceram entrelaçados. Continuamos caminhando de mãos dadas em direção à rua, aguardando um táxi.
Embora soubesse que o futuro me reservava, era reconfortante saber que Gyu estaria ao meu lado, e eu não enfrentaria essa dor sozinho. Naqueles dias, minha mente estava repleta de pensamentos sobre Ellie, e não sabia se estaria pronto para me envolver novamente com Gyu. Mas pareceu ser a coisa certa a fazer, levar meu relacionamento com Gyu a sério era algo que eu precisava fazer.
O táxi não demorou muito para chegar e partimos em direção à vinícola. Eu sentia ansiedade para vê-la. Gyu havia dito que ela usaria um vestido de família, o que despertou minha curiosidade. O motorista nos conduziu por uma região montanhosa e nos deixou na entrada da vinícola, onde tivemos que seguir a pé o trecho restante. O sol começava a despontar nas bordas da serra enquanto continuávamos a subir. Quando finalmente alcançamos o topo, sem fôlego, exclamei:
— Ah, não aguentava mais subir.
— Vai valer a pena. — Gyu respondeu, caminhando ao meu lado.
Quando finalmente chegamos, mal podia acreditar no que meus olhos contemplaram: todos os meus amigos estavam lá. Os integrantes do Stray Kids, Yunjin, Marie e Dante, os membros do T.X.T, minha irmã irritante, meus pais e até mesmo Lucy, amiga de Ellie. Sorrisos se espalharam em seus rostos ao nos verem, e eu não pude conter as lágrimas que inundaram meus olhos.
— Omma? Appa? — Deixei que as lágrimas escorressem livremente, enquanto meus pais me abraçavam com força.
O calor do abraço de minha mãe era surreal, ela estava tão aliviada por seu filho sobreviver. Mas ao compartilhar sobre Ellie, ela também sentiu minha dor:
— Me perdoe por ter sido um péssimo filho. — Eu disse, e minha mãe acariciou meu rosto com toda a ternura do mundo.
— Está tudo bem, você vai continuar vivo, vai ser para sempre meu garotinho. — Ela respondeu e me abraçou novamente, desta vez ambos chorando, diante de todos.
— Aquele é Beomgyu? — Meu pai perguntou, e minha mãe me soltou para também encarar meu amigo.
Gyu sentiu-se levemente envergonhado, mas assentiu. Eu nunca o havia apresentado aos meus pais. Minha mãe caminhou em sua direção e o abraçou, como se também fosse seu filho. Foi até engraçado, pois Beomgyu é um homem alto, e minha mãe é a mais baixa da família, tendo que ficar na ponta dos pés para abraçá-lo. Em seguida, ela segurou suas mãos e disse:
— Embora não seja uma cerimônia oficial, seja bem-vindo à nossa família.
Gyu ficou surpreso com sua atitude. Meus pais são pessoas extraordinárias, que me ensinaram inúmeras lições sobre respeito e amor ao próximo. Seria estranho se eles não aceitassem Beomgyu.
Yeji me deu um leve tapa na nuca, e eu a abracei com força. Quem diria que eu sentiria sua falta?
— Seu patife, você nos preocupou tanto. — Ela disse enquanto estávamos abraçados.
— Também te amo, Yeji.
Após soltá-la, fui até meus amigos, um tanto emocionado por eles estarem ali, todos eles. Eu não fazia ideia do que Changbin e Han tiveram que fazer para estarem aqui, mas ser um idol no exército tem suas vantagens.
— Não chore, senão nós também não aguentamos. — Bang Chan foi o primeiro a dizer, vindo até mim e me abraçando apertado.
Em seguida, os membros vieram e fizeram o mesmo. Changbin me apertou tanto que pensei que ele quisesse me matar. E não foram apenas eles, mas também os membros do T.X.T, as esposas dos meus amigos, Dante e Lucy.
— Como vocês chegaram aqui? — Indaguei, após cumprimentar a todos.
— De avião, é claro. — Respondeu Kai do T.X.T, arrancando risos de todos.
— Beomgyu nos contou toda a história. Achamos apropriado estarmos aqui para celebrar com vocês. — Respondeu Yeonjun do T.X.T, enquanto Gyu sorria convencido para mim.
O celebrante chegou e assumiu seu lugar no altar construído com galhos retorcidos e algumas folhas estrategicamente posicionadas. Gyu e eu ocupamos nossos lugares, juntamente com nossos entes queridos nas cadeiras dispostas. Em seguida, Ellie entrou.
Vestia um simples vestido branco de mangas compridas, sem adornos, exceto pelos pequenos botões que se estendiam do busto até a cintura. Não havia véu ou joias, apenas três rosas brancas amarradas em uma fita preta, formando seu buquê. Apesar da simplicidade, ela estava deslumbrante. Sempre me impressiona como sua aparência a tornava algo místico, como se ela nunca tivesse pertencido a este mundo.
Ela olhou para os rostos desconhecidos e sorriu para eles. Caminhou em direção ao altar e se posicionou entre nós.
O celebrante começou a falar sobre amor e vida, enfatizando a importância de saborear tudo, mesmo que amargo, os sabores da vida devem ser aproveitados.
Eu não consegui conter as lágrimas, que escorriam sem parar, e percebi que várias pessoas também estavam emocionadas o momento. Quando o celebrante encerrou suas palavras, chegou a hora do beijo, e foi engraçado. Ellie, como sempre, provocou Gyu tentando beijá-lo, mas ele se esquivou de todas as maneiras e correu para o meu lado, como se eu fosse protegê-lo. Aproveitei a oportunidade para roubar-lhe um beijo e bagunçar todo o seu cabelo. Em seguida, abracei Ellie e a beijei, um beijo cheio de sentimentos, um beijo apaixonado.
Tiramos as fotos do jeito que Ellie queria, e Gyu avisou que haveria um jantar para comemorar o evento. Nos dirigimos a uma área com várias mesas juntas, já preparadas com pratos, copos e talheres, e ao fundo havia um palco improvisado. Fiquei surpreso, pois não esperava nada daquilo. Certamente foi ideia dos dois. Aproximei-me do palco e me virei para Ellie:
— O que é tudo isso? — Perguntei.
— Vamos gravar nossa dança aqui. — Ellie se aproximou e sorri.
A dança que ela vinha me ensinando. Como pude esquecer disso? Ela se dedicou tanto para me ensinar, e eu me esqueci de contar sobre nossos ensaios à noite! Ah... Como eu admirava sua habilidade e como éramos uma ótima equipe. Mas, enfim, foram noites maravilhosas.
Cada pessoa escolheu o seu lugar e foi servido um abundante banquete de carne, bebidas e massas. Os membros do SKZ ficaram encantados por conhecer Ellie, e ela também apreciou a presença de pessoas tão amáveis em minha vida. Não posso negar que amo todos os meus amigos, desde os mais chatos até os mais engraçados. A lealdade deles é algo que infelizmente nem todos terão na vida. Ao término do nosso festivo banquete, Changbin se aproximou de mim e disse:
— Que tal fazer um discurso?
— De jeito nenhum! — respondi imediatamente.
— Discurso! Discurso! Discurso! — Han começou, e então todos, incluindo Ellie e Gyu, começaram a pedir.
— Tudo bem, tudo bem! — Me levantei e peguei minha taça de vinho, já captando a atenção de todos ali. — Em primeiro lugar, quero expressar minha gratidão pela presença de vocês, pessoas tão queridas para mim, que compartilharam este momento especial na minha vida. É, sem dúvida, uma memória preciosa que guardarei para sempre. Amo vocês galera. — Os garotos batem palmas, gritam e assoviam. Segurei o riso e continuei. — Bom... Há algumas semanas, eu pensei que iria morrer, e como todos sabem, aceitei a morte e passei a viver cada dia que me restava como uma nova aventura. Conheci lugares incríveis, encontrei pessoas tão amarguradas quanto eu, e percebi que a vida, mesmo que breve, é o nosso bem mais valioso. Por um longo tempo, vivi em um estado de epifania, e hoje percebo que faria tudo de novo, cada decisão estúpida, cada riso, cada beijo... Tudo, absolutamente tudo. Esses momentos foram o que me trouxeram até aqui, no auge de toda essa felicidade que construí, e eu digo a vocês, se querem fazer alguma loucura, vão e façam, não se prendam a sistemas, só sejam felizes! Se há mais um conselho que posso dar, é: olhe para a pessoa ao seu lado e diga que a ama hoje, pois, afinal, em um dia, aqueles que estimamos podem estar bem, e no próximo, talvez não estejam mais aqui. Temos o hábito de nos restringir a ressentimentos e orgulho, mas não sejamos orgulhosos demais para aproveitar o tempo que temos para estar com aqueles que amamos, pois... Poder estar com os nossos é a maior dádiva que seja lá quem controla este universo pode nos conceder. Então, um brinde! Um brinde à vida tão bela e frágil! Desejo sinceramente que cada um aqui viva suas vidas com todas as alegrias deste mundo... Saúde!
Todos ergueram suas taças e seguiu mais momentos de conversas e risos. Gyu anunciou para todos que Ellie e eu iríamos apresentar uma dança, e assim saímos para trocar de roupa. Todos os nossos amigos se reuniram próximo ao palco para assistir, e Gyu começou a gravar. Da mesma forma como ensaiamos, executamos o pas de deux de Manon. Era uma dança desafiadora, repleta de emoções, mas eu tentei executá-la da melhor maneira possível, pois tive uma excelente professora. E ali, usando aquelas sapatilhas que eram seu maior fardo, pude perceber que elas lhe davam vida. Enquanto dançava, ela flutuava, e nada mais importava. Ali, no palco, executando com delicadeza seus movimentos precisos, ela mostrava quem era ela de verdade. Ellie amava o ballet, só não gostava de ter sido controlada a vida toda.
[Deveria haver um GIF ou vídeo aqui. Atualize a aplicação agora para ver.]
* pax de deux ato I de Manon que Ellie escolheu para dançar com Hyunjin, uma dança linda, essa é a versão da Royal e quem está dançando é a Marianela Nunez *
Quando o espetáculo chegou ao fim, uma onda de aplausos e elogios tomou conta do ambiente. Naquele momento, um sentimento de orgulho invadiu meu peito, pois todo o aprendizado havia sido árduo. Ellie continuou a dançar, a sua maneira, criando seus movimentos enquanto seus olhos fechados deixavam sua mente vagar. Eu a observava maravilhado, extasiado com sua forma única de se movimentar. Seu rosto irradiava um sorriso tão encantador, e é assim que desejo guardá-la em minha memória, sempre com esse sorriso radiante.
Decidimos os três desfrutar de um tempo na Itália, aproveitando de nosso recém-casados. E foram dias repletos de pura felicidade.
Não esqueça a estrelinha ⭐
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top