20 - Born To Die ( Ellie Mitchels)

"Continue me fazendo rir, vamos ficar chapados
A estrada é longa, nós continuamos
Tente se divertir nesse meio-tempo [...]
Porque você e eu
Nós nascemos para morrer"

- Born To Die, Lana Del Rey

*Ellie Mitchels on*

Parecia uma ideia louca, mas eu a aceitei sem nem pensar muito. Decidi embarcar em uma jornada sem rumo pela Europa ao lado de um cantor coreano e seu amigo. Estranhamente, depositava tanta confiança nele que, quando nos beijamos à porta do meu apartamento, senti uma vontade avassaladora de abrir minhas asas e voar com ele em direção ao céu. Apesar do meu histórico desfavorável em confiar nos homens, algo no seu brilho despertava em mim o desejo de ser iluminada por ele também. E, de alguma forma, acabei encontrando minha própria história de amor.

Antes dele, apenas ouvia relatos sobre como o amor era um sentimento belo. No entanto, não posso reduzir o que sentia por Hyunjin a uma mera atração mútua. Estar com ele me fazia sentir especial, como se eu estivesse perdida, mas a luz que ele irradiava dissipava a escuridão que habitava em mim, e ali, finalmente, me encontrei, tornando-me a melhor versão de mim mesma.

As opiniões das pessoas poderiam ser julgadoras, mas eu não me importava com o fato de que Hyunjin e Beomgyu também tinham uma relação. Estar com eles me fazia sentir viva, como se estivesse embriagada de felicidade. Além de ter alguém para amar, também ganhei um amigo, o melhor deles. Beomgyu cuidava de mim e, apesar de me sentir culpada por estar envolvida na dinâmica entre ele e Hyunjin, ele sempre me tranquilizava dizendo que estava tudo bem.

Em uma realidade alternativa, Hyunjin e eu poderíamos ter sido um casal maravilhoso, daqueles que se casam e têm filhos adoráveis. Todos os dias em nossa casa seriam repletos de alegria, pois seríamos autênticos. Por isso, toda vez que ia à igreja, rezava fervorosamente por essa possibilidade. Desejava poder viver ao lado dele por toda a eternidade, mesmo que ele não acreditasse em Deus. Eu poderia acreditar por nós dois. Juntos, criaríamos nosso próprio paraíso, ou pelo menos queria acreditar nisso.

Não conseguia deixar de me perguntar o que teria acontecido se tivesse dito "sim" naquela noite. Passei tantos anos aprisionada em um relacionamento com Rob, privando-me de vivenciar uma grande história de amor. No entanto, acredito que tudo acontece com um propósito. Talvez, naquela época, nossas cores ainda não se harmonizassem, mas agora elas se misturam, criando novas perspectivas em nossas vidas e transbordando sentimentos que eu nem sabia que possuía.

Hyunjin deixou as mais belas memórias em mim. A cada lugar que visitávamos, ele tornava tudo memorável de uma maneira única. Às vezes, parecia injusto que ele estivesse prestes a partir. Eu sempre fui uma pessoa vazia, mas ele tinha um brilho singular que me envolvia e me conectava a ele, permitindo-me vislumbrar o verdadeiro significado de viver.

Nem preciso mencionar que, sempre que ele me tocava, eu conseguia sentir seu desejo por mim e aquilo me tirava o ar. Embora não tenha tido muitos parceiros na minha vida, nada se comparava a ele. Nada se equiparava à sensação de tê-lo junto a mim, seus toques, seus lábios. Era como um paraíso na Terra, e eu me sentia confortável, mesmo diante de suas ideias malucas, porque era ele.

Eu tive uma conversa extremamente franca com Gyu. Desde o início, era evidente para mim o amor que Gyu sentia por Hyunjin. Ele me confessou - mesmo que era notório que o incomodava - que não se importava em me ver com seu amigo, pois conseguia perceber o cuidado que Hyunjin tinha por mim. Tudo o que Gyu queria era a felicidade dos seus amigos.

No entanto, Gyu não conseguia enxergar o que estava nas entrelinhas: Hyunjin não me amava, enquanto os sentimentos dele por Gyu eram sutis, mas perceptível. Hyunjin estava apenas apaixonado por mim, uma paixão avassaladora que envolvia mais desejos carnais do que sentimentos. No fundo, eu sabia que o verdadeiro amor de Hyunjin era por Beomgyu, e secretamente invejava essa conexão.

Desejava que Hyunjin me olhasse com a mesma ternura que olhava para Gyu. Da mesma forma, Gyu me invejava porque Hyunjin se empenhava tanto em criar momentos especiais comigo. Foi assim que eu e Gyu nos tornamos amigos, cada um invejando o que o outro tinha. No entanto, agora percebo o quanto essa situação era estupidamente idiota, e ríamos disso quando estávamos sozinhos.

Não me arrependo de nada. Se eu tivesse voltado para casa da minha mãe, continuaria me sentindo vazia, sem experimentar nenhum prazer na vida. Isso não era o que eu queria. Eu me sentia perdida, mas finalmente me encontrei. Não estava mais triste nem sozinha, porque tinha o romance dos sonhos. Sabia que nunca nos casaríamos, nunca veríamos nossos filhos crescerem, nunca envelheceríamos juntos, afinal, eu e ele nascemos para morrer.

No entanto, quando o médico disse a ele que tudo o que ele acreditara nos últimos tempos não era real, fiquei sem reação. Era um choque tremendo, algo que eu não conseguia acreditar. Em teoria, eu deveria me sentir aliviada, pois o homem que eu amava poderia viver. No entanto, eu não estaria ao seu lado, e essa ideia me partiu o coração. Eu achava que estava pronta para me despedir, pois iria com ele. Mas agora estou partindo sozinha, e ele iria sofrer, sofrer muito. Meu Deus, por que isso estava acontecendo? Eu não queria que ele passasse por tudo isso, não queria que ele sentisse a minha falta, não queria que ele chorasse pela minha perda. Eu só queria vê-lo feliz.

As lágrimas brotaram de meus olhos como uma torrente incontrolável. Gyu veio ao meu lado e me abraçou, enquanto Hyunjin segurava minha mão, seus olhos brilhando com a esperança de um futuro que nunca existiria. Então, eu tive que contar a eles, e a dor foi imensa ao ver a felicidade se esvair de seus olhares.

O médico sugeriu que eu fizesse exames, mas disse que isso não importava mais para mim. Fiz Ballet por muitos anos, e só vou parar quando as dores me incapacitarem completamente.

Aproveitei a oportunidade de que Hyunjin ainda passaria por mais alguns exames e dirigi-me apressadamente ao pátio do hospital. Sentada ali, mergulhei em pensamentos sobre como a vida se assemelhava a uma tragédia inescapável. Eu estava ciente de que meu destino era perecer, e meu amado inevitavelmente experimentaria a dor da minha ausência. Seria essa a senda que o destino nos reservara? No fim das contas, alguém sempre teria que derramar lágrimas pelo outro... Eu havia vivido em um paraíso sombrio, no qual a morte continuava a me enganar...

Gyu acomodou-se ao meu lado e permaneceu em silêncio por um momento, sem proferir nenhuma palavra. Eu, por minha vez, continuei olhando para o vazio, aguardando que ele dissesse qualquer coisa:

— Confesso que suspeitava disso. Você sempre se queixava de cansaço, mesmo quando não fazíamos muita coisa. Vi você tomar remédios várias vezes e, certa noite, flagrei-a limpando o sangue que escorria do seu nariz... Você se esforçou para esconder isso dele, e me pergunto o por quê.

— Não queria que ele se preocupasse comigo, nenhum de vocês, na verdade. — Respondi, ainda sem olhar para o meu amigo.

— Ontem, eu acreditava que o homem que amo iria morrer, mas teria uma amiga para me ajudar a enfrentar a dor da perda... E hoje descubro que o homem que amo viverá, mas minha amiga partirá, de qualquer modo... Terei que lidar com a perda.

— Ah, Gyu, você ficará bem. — Observei seu rosto e o acariciei. Ele me abraçou com força, e eu retribuí. Embora fôssemos rivais de uma maneira engraçada, eu valorizava imensamente a amizade que tínhamos. — Beargyu, prometa-me que cuidará dele. Ele sofrerá muito, e você sabe disso, então... Cuide dele por mim e espero que vocês sejam extremamente felizes.

— Eu odeio gostar tanto de você, garota! — Ele disse, reprimindo o choro, e nós rimos.

— Vocês são meu casal. Meu "ship".

— Você é boa demais para morrer...

— Acontece. Está tudo bem... Hyunjin provavelmente tentará afastar você quando eu partir, mas não desista dele, está bem? Já lhe disse que ele te ama muito mais do que você consegue perceber.

— Ele ama você, Ellie. Pensei que já tivéssemos encerrado esse assunto. — Beomgyu me encarou, chateado, e sorri diante de sua incredulidade.

— E já lhe disse que o que ele sente por mim é paixão.

— E qual é a diferença?

— Ah, Beargyu... Paixão é rápida e passageira, envolve uma atração inexplicável e um desejo ardente de prazer e entrega nessa mistura louca de sentimentos. Já o amor... O amor é duradouro e eterno, sólido e profundo, construído com o tempo. Gyu, você pode não acreditar, mas eu acredito.

— Como você tem tanta certeza de que ele me ama? — Gyu continuou a me encarar, e eu acariciei seus cabelos rebeldes.

Parei por um momento para refletir e comecei a recordar todos os momentos que compartilhamos: as conversas, os risos, as músicas. Para mim, tudo isso era tão claro quanto a luz do sol. Como ele não conseguia enxergar?

— A forma como ele te olha, sempre carinhoso. A maneira como ele te inclui em tudo o que quer fazer e, acima de tudo, a imensa consideração que ele demonstra ter por você. Lembro-me de quando ele acordou no hospital, nem mesmo olhou para o lado e já te chamou, sabendo que você estaria lá. O amor está nos pequenos detalhes, e vocês já estão juntos há tantos anos que ele se acomodou nesses sentimentos. Por isso, insisto: não desista dele, mesmo se ele se afastar. Uma hora ele vai perceber. No momento, ele não enxerga por causa dos seus sentimentos por mim, e mais uma vez, peço desculpas por atrapalhar. O que vocês têm é muito bonito.

— Você não atrapalha, Ellie... Lamento por todo o resto. — Beomgyu respondeu, agarrando meu braço e deitando em meu ombro.

Sorri e continuei acariciando seus cabelos. Ao lado de Gyu, sentia-me mais tranquila. Hyunjin seria feliz, mesmo que inicialmente sofresse pela minha partida, ele superaria e teria Gyu ao seu lado.

A tarde estava deslumbrante, o céu refletia a luz do sol nas nuvens, pintando-as com tons pastéis de rosa e laranja. O vento já não era tão refrescante, sinalizando que o verão estava dando lugar ao outono. Alguns pássaros cortavam o céu, e isso fez uma lágrima escapar dos meus olhos. Eu sabia que Agatha me esperava do outro lado do arco-íris, onde não tínhamos pais a agradar ou um estilo de vida a seguir. Finalmente, seríamos completas

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Quando percebi, estava cantando a música que ela tanto gostava de tocar no violino. Não pude evitar o pensamento de que, nesta vida, mesmo que a escuridão tenha me envolvido, eu ainda fui luz. Pude ser feliz e verdadeira comigo mesma. Sentia gratidão por cada coisa, cada pessoa, cada sorriso que me foi dado. Embora o fim do arco-íris possa estar próximo, ele ainda reserva cores maravilhosas para mostrar.

Gyu apertou minha mão e começou a assoviar no ritmo da música. No fim das contas, posso dizer que me realizei, mas agora preciso dizer adeus ao meu amor de verão antes que seja tarde demais.


O amor de verão...

Summertime Sadness, Lana Del Rey

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Estamos chegando na reta final da Fanfic e gostaria de agradecer imensamente por todo apoio, essa história não seria nada sem vcs <3

Não esqueça a estrelinha

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