11 - Dancing Queen

Você pode dançar, você pode se esbaldar
Aproveitar o melhor momento de sua vida
Ooh, veja aquela garota, observe essa cena
Se divertindo com a rainha da dança

— Dancing Queen, ABBA

Chegamos à Alemanha, com nossas mochilas, duas malas de rodinhas,além de um cooler. Como decidimos acampar por onde passássemos, tivemos que despachar algumas coisas. Enviei de volta para a Coreia roupas e alguns quadros que pintei, ficando apenas com meu caderno, meus lápis e pincéis, algumas tintas e duas telas pequenas em branco. Coloquei peças de roupas importantes na mochila grande, arrumamos uma barraca e tudo o que precisávamos para a nossa pequena aventura.

Na Alemanha, meu desejo era visitar os museus de Berlim, e Ellie se prontificou a ser nossa guia. Como uma verdadeira europeia, ela conhecia tudo. Mas o que foi mais inusitado foi ela e Gyu terem se dado muito bem. Após a conversa com o mais novo no hotel, pensei que ele apenas ficaria indiferente, mas estava enganado. Os dois conversaram bastante durante todo o trajeto até a Alemanha e até se uniram para me implicar.

Comecei a me questionar se isso era uma espécie de trisal. Gyu não se envolvia com mulheres; pelo menos, nunca o vi beijar uma mulher em toda a sua vida. Ellie notou que havia algo entre nós dois e, mesmo assim, ela estava conosco, sem se importar nem um pouco. O que diabos estava acontecendo afinal? Acho que nunca terei uma resposta concreta, mas enfim.

Percorremos as ruas de Berlim nos sentindo como estrelas do rock. Muitas pessoas nos reconheceram e isso causou um certo alvoroço no centro da cidade. O que começou com um pequeno grupo de pessoas pedindo por fotos e autógrafos acabou atraindo a atenção da imprensa, que logo foi até o local. Aparentemente, as minhas andanças ficaram muito famosas.

Não tínhamos o apoio de seguranças ou equipe de produção, e quando percebemos, havia uma grande multidão de pessoas se aproximando, chutaria em torno de quinhentas a seiscentas. Ellie ficou assustada com aquilo e eu e Gyu agimos rápido. Tivemos que despistá-los à moda antiga, correndo e passando por vielas até conseguirmos escapar do centro da cidade. No final, rimos disso tudo, mas quando paro para pensar, percebo que poderia ter sido uma situação muito perigosa, afinal, os fãs podem ser malucos.

Procuramos um lugar tranquilo para comer e desfrutamos de uma deliciosa refeição. Devido à confusão com os fãs, achei melhor adiar as visitas aos museus e irmos diretamente para o local de acampamento.

— Existe um lugar incrível para acamparmos aqui na Alemanha. Teremos que pegar um ônibus, pois fica longe da capital, mas garanto que vai vale a pena. — Ellie me disse, quando indaguei onde poderíamos montar a barraca.

— Já esteve lá? — Gyu questionou, ainda de boca cheia pelo hambúrguer, e ela balançou a cabeça, negando.

— Eu só sei onde fica porque uma amiga costumava ir lá acampar. — Ela suspirou e continuou. — Gostaria de ter passado menos tempo me preocupando em treinar, para poder ter ido acampar com ela.

— Ei, mas agora será muito mais divertido, você tem um aspirante a estrela do rock e a Barbie ao seu lado. — Beomgyu deu um tapa em minhas costas, implicando comigo e eu fiz minha típica expressão de deboche.

— Estrela do rock? Você tá mais pra projeto mal feito de emo. — Respondi cínico e ele me fuzilou com olhos.

Nada o irrita mais do que questionarem seu visual de adolescente rockeiro dos anos dois mil. Ele estava usando uma blusa de mangas listrada de vermelho e preto, uma calça jeans preta um tanto surrada, mas só adiciona charme ao visual e seu fiel all star vermelho, além do cabelo preto e cumprido.

— Isso aqui é style. Não tenho culpa se você não sabe apreciar bom gosto. — Ele respondeu, dando uma boa golada no seu copo de coca-cola.

— Você tem certeza que eu não tenho "style"? Você tá falando com o embaixador da Versace. A Donatella me ama.

— Deixa eu te falar uma coisa sobre alta costura, muita coisa é ridícula e a galera só paga pau porque é de marca.

Ellie ficou observando nossa pequena discussão desenrolar com um sorriso no rosto. Ela terminou seu hambuguer e limpou a boca com um guardanapo de papel:

— Se serve de consolo para vocês, eu acho o estilo dos dois muito bonito e reflete bem a personalidade de cada um. — Ela diz, mantendo seu sorriso.

— Você nem ouse entrar nessa discussão, pois não tem local de fala aqui. — Gyu disse implicante, o que fez com que a garota cerrasse os olhos.

— Hey! Porque não?

Gyu a olhou de cima a baixo e disse de uma vez:

— Você não está nos anos quarenta!

— Mas isso aqui é um clássico! — Ela disse, demonstrando estar insultada pelo seu estilo retrô romântico.

Ellie usava uma camisa de botões com mangas curtas na cor branca, uma saia midi de cintura alta na cor marrom, com vários botões detalhando a roupa, por cima um sobretudo bege que possuía o mesmo comprimento da saia e, ela somente substituiu os saltos mary jane por uma sapatilha, mas assim como o salto que a vimos usar, duvido que fosse confortável.

— Repito, você não está nos anos quarenta. — Gyu disse, ainda em reprovação com a roupa de Ellie.

— E você não está nos anos dois mil.

— Mas o Y2K está em alta. Não o estilo livros de história.

Tive que me segurar para não rir e ela me olhou pela tentativa falha de não esboçar. Eu gostava das roupas de Ellie, a deixava elegante e parecia combinar com sua personalidade. Mas a conversa com Beomgyu parece que a afetou e, dessa forma, antes de pegarmos o ônibus e irmos para o local de camping, ela passou em uma loja de departamentos e pediu ajuda de Beomgyu para escolher algo mais confortável.

Beomgyu a fez ficar parecendo uma adolescente num filme do Disney Chanel, calça jeans clara, all star colorido, e uma blusa de tricô verde musgo de mangas compridas. Ainda para completar o ar adolescente, ela amarrou os cabelos bem alto e comprou um óculos minúsculo e quadrado.

Sobrou até para mim, onde me deram uma calça jeans com dois rasgados no joelho, um tênis colorido, uma T-shirt com desenhos de pato é uma camisa xadrez amarela, me senti no debut, na época em que a gente se vestia como adolescentes americanos nos filmes colegiais. No final, os três pareciam jovens que fugiram de casa e foram viver suas aventuras em um roteiro clichê que envolveria um triângulo amoroso. Ah, a quem eu quero enganar? Foi muito divertido.

Fomos para o ponto de ônibus, e Ellie conferia em seu celular os horários:

— Vamos ver o lugar. Se tudo der errado, podemos ir para algum motel. — Ela disse, ajustando seus óculos escuros.

— Ei, ei, ei! Esqueça essa história de motel, garota! Eu não faço menage. — Protestou Gyu, arrancando risos de mim.

— Meu Deus, Gyu, nem tudo gira em torno de sexo. — Ela disse, quase que horrorizada.

— Bem vinda ao nosso mundo Ellie Mitchels.

Os dois continuaram implicando um com o outro até que avistamos o ônibus de aproximar. Tanto Ellie como Gyu queriam sentar do meu lado e, já que eles estavam desde cedo implicando um com o outro, os fiz sentar no mesmo banco enquanto me ajeitei logo atrás. Ela aproveitou a oportunidade para fazer tranças no cabelo dele, mesmo com ele reclamando o tempo todo. Porém não a impediu.

Realmente, o lugar era bastante afastado. Saímos da cidade e seguimos por paisagens deslumbrantes, chegando apenas quando estava nos últimos resquícios de sol. Após pegarmos as mochilas, caminhamos pela pequena cidade à nossa frente. As casas eram tipicamente iguais, com tetos pontudos, e as pessoas eram simples, porém simpáticas. A maioria delas sorria para nós.

— Acho que está muito escuro para montarmos uma barraca. Podemos procurar um lugar para ficar. — Disse Ellie, pegando seu celular e consultando o mapa.

— Oooooou, podemos ir a um bar e beber a noite toda. — Sugeriu Gyu, com um sorriso maquiavélico no rosto.

— Parece divertido. — concordei, pois já estava sóbrio há várias horas e queria uma bebida.

— Eu não costumo beber tanto assim, acho que posso passar mal. — Ellie nos olhou, um tanto receosa.

— Relaxa, você está falando com os dois profissionais em beber e não fazer merda. — Gyu fez-se de confiante, batendo duas vezes nas minhas costas enquanto segurava o riso; nem ele acreditava nisso.

— Ah, já que estou aqui mesmo, vamos com o seu plano. — Ela aceitou, e comemoramos.

Encontramos um pub bem animado e logo procuramos um lugar para nos sentar. Gyu pediu três canecas grandes de cerveja, e uma garçonete muito bonita as trouxe para nós.

— Dizem que a cerveja alemã é a melhor do mundo. — Gyu pegou sua caneca ansioso para experimentar seu conteúdo.

— Então, do que estamos esperando? — Falei animado, e Gyu e eu colocamos as canecas à nossa frente.

— ARRIBA, ABAJO, AL CENTRO Y ADENTRO! — Falamos juntos e viramos de uma vez toda o conteúdo.
*Para cima, para baixo, no centro e adentro!

Ellie ficou impressionada ao observar a velocidade com que viramos a cerveja e a encaramos, piscando os olhos. Ao perceber que estávamos esperando que ela bebesse a sua, a garota pegou a caneca de forma desajeitada e tentou nos imitar, mas sem sucesso, o que nos arrancou risos.

— Isso não é justo. Eu não estou acostumada a beber. — Ela reclamou e terminou a segunda parte do copo.

— Agora sim, minha cara! — Gyu disse, brincalhão.

— Se eu ficar bêbada, quem vai cuidar de mim? — Ela fez uma voz fofa, e Gyu fingiu que ia vomitar.

— O Hyunjin, é claro! Veja que homem mais másculo e prestativo que você encontrou.

Dei um tapa no piadista de araque, e ele se levantou, caminhando em direção ao balcão, voltando com três canecas, que quase transbordavam de tão cheias. Começamos a beber, conversar e aproveitar a atmosfera do local. No auge da noite, consegui hidromel com o bartender, e, obviamente, já não estávamos mais sóbrios.

A música continuava animada, e quando parei para procurar Ellie e Gyu, vi a garota dançando em cima da mesa, de forma graciosa, no ritmo frenético da música. Todos batiam palmas enquanto ela girava, mantendo sua graça, mesmo estando alterada. Gyu me puxou para dançar, e nenhum de nós conseguia acompanhar aquele estilo de música. Era uma mistura de folk medieval com algo moderno.

Quando nos sentimos cansados, voltamos ao balcão para pegar mais bebida. Ellie ainda dançava animadamente no meio dos desconhecidos. Eu estava cansado só de olhar para ela, imagine a própria.

— Aquela garota vai ter uma ressaca terrível amanhã. — Gyu disse, observando que ela aceitou mais um copo de hidromel e voltou a dançar.

— Somos más influências. — Comentei, e ele riu alto, apertando minha bunda. Esse garoto não sossegava.

Minha cabeça começou a latejar, mas ignorei. Nada iria tirar minha animação. As luzes começaram a embaçar minha visão, e precisei fazer um esforço para manter o equilíbrio. Tive que aceitar que não aguentaria beber mais, então larguei meu copo pela metade e pedi água a uma garçonete. Ellie finalmente desceu da mesa e foi até a jukebox para ver as músicas disponíveis. Gyu a acompanhou, olhando curioso para a seleção dela:

— Aposto que bailarinas como você só ouvem música erudita. — Ele disse, e concordei em minha mente. Ela parecia apreciar jazz, blues, R&B e aquelas típicas músicas francesas.

Ellie fez uma careta em resposta e continuou focada em sua busca:

— Eu gosto de muitas coisas, Gyu.

Ela parecia ter encontrado uma música e a colocou para tocar. A música escolhida foi "Shalala Lala", de um tal de Vengaboys, e ela começou a cantar animadamente a letra junto com a música.

https://youtu.be/Obi4iELWJ3Y

— There's a boy in my mind and/ He knows I'm thinking of him / All my way to the day and the night/ The stars shine above me ...

As pessoas ao redor começaram a cantar com Ellie e aplaudiram. Gyu e eu observávamos o animado público do bar. Todos levantavam suas canecas e entoavam o refrão da música com fervor. Acompanhamos o fluxo e nos juntamos, cantando o refrão que havíamos acabado de aprender para nos juntarmos a bagunça. Ao final da música, ela veio até nós, radiante, e perguntei:

— Essa é uma música dos anos noventa?

— Sim, eurodance, todos conhecem por aqui. — Ela respondeu, tentando pegar a bebida da mão de Beomgyu.

— Ei, mocinha! Chega de bebida para você. — Ele protegeu seu copo.

— Aff, não é justo! — Ela fez um bico e Gyu deu de ombros. — Sabe, vocês também deveriam cantar. São cantores, mas até agora não ouvi nenhum de vocês cantando.

— Sabe aquele rapaz ali? Ele me disse que é baterista, mas nem por isso está tocando bateria. — Aposto que Gyu inventou essa informação apenas para provocá-la, já que ela estava bêbada, mas me mantive calado, divertindo-me com a interação dos dois. Sempre dou risadas quando lembro da implicância que um tinha com o outro.

— Sabe, Gyu, você não é apenas um palhaço, é o circo inteiro! — Ela respondeu, sendo ácida.

— Obrigado, obrigado! — Ele fez uma reverência, e ela deu um tapinha em seu braço.

— Cantar a gente não vai, mas também existe música dos anos noventa na Coreia. — Eu disse, esticando os braços como se estivesse me preparando para uma grande performance.

Gyu me observou e, como se lesse meus pensamentos, correu até a jukebox em busca da música em questão:

— Todo mundo já nasce sabendo dançar essa. — Gyu completou, mas obviamente a máquina não tinha a canção.

No entanto, ele não se deu por vencido e percorreu o bar inteiro até encontrar uma caixa de som e conectar seu celular. Assim que "Dreams Come True" começou, nós dois encarnamos o S.E.S e executamos a coreografia. Os alemães, inicialmente, apenas nos observavam, mas essas músicas dos anos noventa não eram difíceis, então eles começaram a nos imitar. Ellie juntou-se a nós e, de repente, éramos como Eugene, Bada e Shoo em pessoa. Foi uma lembrança maravilhosa ver todo o bar se render aos sons do K-pop antigo.

https://youtu.be/8uiR4SrDGZk

* O berço do kpop. Quem vê o kpop atual nem imagina as relíquias do passado que tornaram o kpop o que é hoje.

A noite seguiu com mais álcool, música alta e dança. Mesmo que estivesse meio zonzo, o momento criado me distraiu e não tinha total certeza mais do que estava acontecendo. Me sentia como um jovem de dezoito anos, sedento para curtir a vida, se esbaldar com a noite e dançar até os pés não aguentarem mais. Quando Dancing Queen tocou, curtindo a vibe da música e ambiente, posso dizer que estava vivendo o melhor momento da minha vida.

Depois daquela noitada, recordo-me apenas de despertar na manhã seguinte. Estava em um quarto que assemelhava-se a um hotel, com os raios de sol incidindo em meu rosto. Ao levar a mão à cabeça, senti uma intensa dor, e com dificuldade, virei o olhar para o lado, onde Gyu estava adormecido, completamente despido. Notei então que minhas próprias roupas haviam desaparecido, e finalmente avistei Ellie, adormecida no sofá. Diferente de nós, ela não estava completamente nua. Suas peças íntimas ainda estavam no lugar, e um lençol branco cobria parte do seu corpo. Mas o que diabos aconteceu aqui? Cutuquei Gyu, que resmungou várias vezes antes de me encarar:

— Gyu, o que aconteceu?

— Nós transamos. — Ele respondeu, bocejando, e percebeu minha expressão de estranheza. — Não é como se fosse algo novo. Você não se lembra?

— Todos nós? — Apontei com a cabeça em direção a Ellie, que estava em um sono profundo no sofá.

— Ah, ela já estava aqui quando cheguei. Você realmente não se lembra? A equipe da taverna ofereceu este quarto para passarmos a noite, e você subiu com a Ellie primeiro. Quando cheguei, você estava a cobrindo com o lençol.

— Não, eu não me lembro. — Forcei ao máximo minha memória, mas tudo o que aconteceu está apagado.

— Já lhe disse para cuidar dessa cabeça. Você é muito teimoso.

Apenas neguei, não precisava voltar ao médico para que ele me dissesse que o tumor havia piorado, era notório só pelos sintomas, pelas dores, pelo sangue que insistia em escorrer pelo nariz. Eu tinha que lidar com isso, encarar da melhor maneira possível e só voltar para casa quando meu corpo não aguentasse mais.

Eu e Gyu tomamos um banho demorado e acordamos Ellie, pois precisávamos partir. Ela nos olhou atordoada, e eu segurei o riso ao ver sua expressão de ressaca:

— Bom dia, margarida. Hora de acordar. — Falei, entregando a ela uma xícara de café que obtive pelo serviço de quarto.

— Que caminhão me atropelou? — Ela perguntou, com a voz cheia de sono.

— Um caminhão chamado hidromel. — Gyu respondeu, também segurando o riso.

Ao se levantar, Ellie percebeu que estava apenas com suas roupas íntimas e deu um grito de susto.

— Meu Deus, o que aconteceu? — Ela falou, puxando o lençol para cobrir seu corpo, quase derrubando todo o café.

— Eu não sei, quando cheguei, você estava assim. — Gyu claramente se divertia com a situação.

— Eu também não me lembro. Só me recordo de estarmos dançando juntos, e acho que você estava em cima de uma mesa. — Falei, confuso.

— Eu dancei em cima de uma mesa? Ai, meu Deus. — Ela ficou chocada com sua própria capacidade.

— Não só isso amor, você deu de cima de pelo menos uns três caras ontem. — Gyu disse implicante e eu junto a Ellie o olhamos, Ellie parecia uma estátua e eu confuso por não me lembrar disso. — Claro que eu não ia deixar ninguém fazer nada com você bêbada, mas aí você foi se jogar pro pior deles. — Gyu deu um tapa em minhas costas, extremamente satisfeito por ser o único que lembrava do que aconteceu na noite passada.

— Meu Deus! — Ellie parecia embasbacada com sua própria capacidade.

— É garota, pra quem disse que é da igreja, você é bem atiradinha. — O sorriso de sarcasmo de Gyu não sumia de seu rosto.

— Ah quer saber? Tudo bem, eu posso jogar a culpa no álcool. — Ellie disse dando de ombros, fazendo jus ao ditado "não adianta chorar pelo copo de leite derramado".

— Meu Deus Hyunjin, ela tá pegando o nosso vírus. — Beomgyu levou a mão na boca, como se estivesse chocado.

— Ok, precisamos estabelecer limites. Primeiramente, o que está acontecendo aqui? — Perguntei, e os dois me encararam. Ellie não compreendeu bem a pergunta, mas Gyu entendeu muito bem o que eu queria dizer.

— Está claro que eu e Ellie passamos a noite com você. Mas isso não significa que somos um trisal, eu não me relaciono com mulheres. — Gyu me respondeu, todo pleno.

— Bem... Eu não sei o que dizer sobre isso. — Ellie colocou o copo de café no chão e terminou de envolver-se no lençol. — Mas acho que... Estamos aproveitando a vibe, não era esse o plano?

— Então nenhum de vocês está chateado? — Continuei confuso.

— Não.

— Nem um pouco.

— Estou profundamente frustrada comigo mesma por ter bebido a ponto de perder a memória. Acredito que devemos estabelecer uma regra: um de nós não pode se permitir beber tanto, alguém precisa assumir a responsabilidade pelo grupo. — Ela expressou sua opinião, e concordamos com sua proposta, uma vez que realmente tínhamos exagerado.

Pela primeira vez em toda a minha vida, senti-me desconfortável ao perceber que me envolvi com duas pessoas na mesma noite. Afinal, ambos gostavam de mim, mas por que eles não estavam demonstrando ciúmes um do outro? Me pergunto isso até hoje. Acho que Gyu gostava muito da vibe caótica de Ellie e por isso, não ficava incomodado com a sua presença.

Mas naquele dia,  fui eu que fiquei incomodado e decidi que isso não aconteceria novamente. Afinal, era bem notável o "Crush" que eu tinha pela Ellie, mas também não queria que Gyu saísse do meu lado pois a Ellie estava certa; gostava dele bem mais do que eu realmente admitia. Talvez  as pessoas me taxem de sem vergonha. Ou digam "ah, ele é pan, é isso que se espera de alguém assim". Mas se um cara hétero sai comendo todas as mulheres que vê pela frente, trai a namorada ou o que for, e todo mundo fica: então tá, porque o fato de ser pan muda isso?

Na verdade, eu nem gosto de ficar me rotulando, porque eu tenho um fascínio por pessoas, gosto de estar com gente diferente e, se me sinto a vontade com essas pessoas, não me incomodo de ficar com elas. Eu sempre falo por mim mesmo, nunca pelos outros afinal, promiscuidade não tem nada haver com orientação sexual. Desculpe te encher com isso, onde é que eu estava?

Não esqueça a estrelinha

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