Capítulo IV: Abraço

(Capítulo: 3622 palavras)

Saíram o mais rápido que conseguiram, estavam perto do apartamento iriam correndo para lá. Mal conseguiu encaixar as chaves na fechadura de casa e assim que entraram foram fazer as malas.

- Caralho, Alê! Tem uns furos no meu pescoço, que porra é essa?

- Nada, só junte suas coisas. Mas pega pouca coisa, temos que ir embora agora se não a gente tá fodido. - Falou enquanto colocava algumas coisas dentro de uma mochila, carregador, dinheiro que tinha acumulado em casa, roupas e documentos. Mais nada.

- Mas quem é aquela garota com que você falava? Ela era linda? Ela me drogou, sei lá. – Disse confusa e assustada.

- Ela é problema, gente maluca. Deixa o celular, vamos até um ponto de táxi, de lá a gente decide.

Saíram com as poucas coisas bagunçadas na mala, dois taxistas meio dormindo tentaram os abordar, o que veio primeiro perguntou para onde queriam ir

- Rodoviária. Rápido, estamos enrolados até o pescoço hoje. – Disse dando logo 100 reais. -Fica com o troco.

A rodoviárias estava meio vazia, mas, por sorte, saia um ônibus para o Rio de Janeiro, estava quase vazio. Ainda comprando os bilhetes Cláudia perguntou:

- Mas vamos fazer o que no Rio? Você conhece alguém?

- A gente tem dinheiro, depois a gente vê. Falou enquanto entravam. O plano era sumir no Rio e depois procurar uma cidade no interior para recomeçar.

- O que tá rolando, Alex? Tô largando tudo pra ir com você, preciso que me diga a verdade.

- Aquele pessoal é barra pesada, lidam com coisas estranhas, drogas e tal, até hoje eu não tinha certeza disso. Eles querem que eu trabalhe com eles diretamente e, bom, eu não tô afim. – Respondeu com essa meia verdade, talvez pudesse fazer sentido.

Ela o encarou, parecia estar pensando em algo, talvez não tinha acreditado tanto, fugir era drástico e ela não tinha feito nada para isso.

- Tem certeza de que é só isso, Alê? Eu vou investigar e se descobrir que é mentira nunca mais você vai me ver. Caralho, tô nervosa! Nunca me imaginei fugindo, pensava que era uma vitoriosa, não uma fugitiva. – Falou chorando. - Me fala, Alex. Você matou alguém? Aquela parada de você ir à igreja foi esquisita.

- Eu não! Claro que não! Tô te dizendo, é uma organização, do tipo que não aceita não e como eu não quero dizer sim, eles vão insistir. E sabe que a corda sempre arrebenta do lado mais fraco. Por isso fui preso e tal. Eles que deram jeito de me soltar, eu achava que eram só um bando de maluco, mas a coisa é séria.

- Será que não tem como conversar? Posso tentar falar com alguém, convencer, mesmo seduzir! Não quero ir embora, Alê, não assim!

- Então fica! – Falou com o coração apertado. Precisava salvá-la e ficar ao seu lado era perigoso, ela seria um alvo. - Fica, puxa a cordinha e desce do ônibus, tá bem. Eu tô bem encrencado, sei que nada disse é culpa sua, então fica. Toma o dinheiro, eu me viro.

Os olhos delas encheram de lágrimas, no rosto uma máscara de espanto se transformava em uma de traição.

- Fila da puta, eu não estou na porra desse ônibus com você! Não larguei tudo! Quer saber, foda-se, você é um erro de qualquer forma. – Disse se levantando e puxando a cordinha.

O ônibus não pararia ali, estavam no meio do nada. Ela pegou as coisas e se sentou no banco da frente, fugiria assim que o ônibus parasse, seria melhor para ela. Mas estava deprimido, tremia de raiva, tinha ódio por ter feito isso. Respirou fundo e foi até ela.

- Olha, relaxa. Não sei o que você quer ouvir, acredita em mim ou não, tanto faz, mas se você voltar para Vitória vai morrer e eu também, isso é fato. Eu não fiz nada de errado, nem você, mas quem tá por trás de tudo não se importa com certo e errado.

Ela o encarou com ódio, nunca tinha a visto assim. Sentiu o forte aperto no peito, mas antes de puder dizer algo a televisão do ônibus achou algum sinal e sintonizou o noticiário, uma chamada urgente. Um grupo havia entrado na ONG de seus pais e havia sequestrado todos. Viu uma imagem de sua mãe ajoelhada com uma arma na cabeça. O homem que a ameaçava era Jota. Outras imagens foram mostradas, crianças estavam ajoelhadas e chorando, funcionários deitados no chão sob armas apontadas e os bandidos, estes encapuzados. Um jornalista falava que havia começado a pouco, que os sequestradores estavam pedindo um carro para escapar se não matariam todos, ninguém entendia as exigências ainda.

- Cláudia, pega o dinheiro, tem uns trinta mil aqui, e vai pro Rio! Isso tudo é culpa minha, tenho que voltar!

Estavam chegando na rodoviária de Guarapari, a mulher ficou o encarando com o dinheiro na mão, ainda olhava para o noticiário. Alex desceu, pediu o telefone do primeiro que viu, deu cinquenta reais e ligou para a ONG de seus pais, disse apenas que estava voltando e desligou. O ônibus partiu, viu o rosto da garota mais uma vez, mas ela não olhou. Em pouco tempo uma carreta de luxo chegou e buzinou, era Edvaldo

- Você realmente achou que tinha uma escolha? Cadê a garota?

- Não sei, ela só foi, não perguntei pra onde. Deixa ela, meus pais são muito mais importantes que ela como refém mesmo.

Ele ligou na rádio o noticiário e o levou de volta para Vitória, em pouco tempo o sequestro havia se resolvido, um atirador havia matado o sequestrador e os outros estavam presos. O perfil de Jota foi traçado: Joaquim da Silva, criado na ONG Fraterno, preso duas vezes por tráfico, mas nenhum crime violento até então.

Uma morte nas suas costas, sua decisão havia tirado a vida do irmão. Entendeu um pouco mais no que se envolvera, não tinha para onde fugir, não tinha controle de nada e "eles" estavam acima da lei. Sentia-se frustrado, abatido, culpado e extremamente puto por não ter como reagir. Uma raiva explodiu em seu peito, suas mãos se fecharam agarrando o banco do carro, por um segundo olhou Edvaldo e quase o socou ou ficou tentado em puxar o volante matando os dois. Tremendo chorou, não conseguindo conter as lágrimas. Respirou fundo, não tinha como fazer nada agora, mas um dia teria, se tornaria importante como eles. Só precisava de tempo.

Passaram na frente da ONG de seus pais, uma multidão no local, havia dezenas de carros, viaturas, uma ambulância, algumas crianças retornavam de pijamas, alguém entregava uma cesta básica, sabia que, apesar de tudo, eles ganhariam donativos. Seguiram direto para a Ilha do Boi, em uma casa imensa cercada por muralhas, e no final da ilha Edvaldo parou o carro.

- Emanuel está lá dentro, ele quer falar contigo.

Finalmente encontraria o tal príncipe, esse Emanuel. Tudo era culpa dele, sabia disso. Respirou fundo e seguiu para o imenso portão de ferro onde um moderno sistema de segurança filmou sua cara antes de abrir sozinho. Ao entrar viu um jardim com palmeiras, bromélias e suculentas circundando uma casa de concreto modernista, mas não havia janela alguma. Um portão de madeira em baixo relevo e ferro talhado por algum mestre era a única entrada, estava entreaberta, dava para um salão imenso onde um candelabro com forte luz iluminava tudo com um tom branco azulado. Havia poucos móveis e em uma poltrona diante de tapeçaria antiga viu sentado um homem.

Seu corpo tremeu de imediato, qualquer raiva ou tristeza foi substituída por terror, por puro instinto de sobrevivência. Era como estar diante de um demônio, uma fonte de adoração maligna, uma profanação da ordem natural. Emanuel o encarou por mais de um minuto, parecia saborear seu medo e sua confusão, não mexia um músculo, nem sequer o peito para respirar, não precisava.

- Nasceu para governar, Alex. - Disse o homem com sedutora voz. – Posso notar só pela forma que me encara. Aproxime-se.

Deus alguns passos em direção a sua forte presença, emanava nobreza nele, mas cada célula de seu corpo estava focada em fugir, caso ele o ameaçasse, ou, se entregar, caso ele pedisse. Nunca estivera tão envolvido assim com ninguém.

- Você tem coragem, Alex. E é inteligente, mas em seu desespero comete falhas. Kamila falou que não havia escolha, espero que agora você perceba. – Disse quando finalmente se moveu alguns centímetros.

- Sou Emanuel Portugal, Príncipe de Vitória, Vila Velha e arredores. E você, Alex, será minha criança da noite. Será da minha linhagem, da linhagem de Antonelli Ferrari e outros mais antigos, nobres entre os imortais, senhores de amaldiçoados. Escolhi você para me suceder, não te contarei ainda meus motivos, saberá na hora, terá tempo, todo tempo do mundo se for inteligente.

Ele entendeu uma de suas mãos.

- Beije minha mão, sou seu príncipe.

Seus lábios tocaram a carne rija e gelada, a pele era extremamente branca e sentia-se consagrado só por poder tocá-lo. Ele o puxou com sua mão e subiram uma escada, passaram por um corredor sem janelas onde viu alguns quadros bem iluminados e entraram em um quarto também sem janelas. Havia apenas uma cama imensa, cobertas e travesseiros de luxo, e um quadro de um demônio com fundo rubro. Luzes saíam do teto e do chão, não havia sombra.

- É aqui que irá morrer, Alex. Aproveite o fim da enquanto me preparo. - Disse ele antes de sair.

Uma onda de adrenalina tomou o seu corpo, pensou em fugir, a porta não parecia trancada, mas ficou. Precisava se aproximar dele, fazer parte disso, precisava da confiança e, só com isso, poderia se vingar. Morreria de qualquer forma, mas ficar era optar pela pós vida caso isso tido fosse verdade. Mas agora acreditava. Era impossível negar em sua presença.

Entrou um homem branco, de cabelos escuros e vestindo uma antiga túnica vermelha. Em seus cabelos um arco de ouro como folhas de louro, como nas figuras romanas, e segurava um cetro prateado cravejado de joias. Havia tanta força em seu porte quanto em Emanuel, mas dele era emanado ódio, seus olhos claros pareciam malignos e com a voz gelada o mandou se despir.

Tirou a roupa encarando o demônio no quadro. As luzes do quarto ficaram vermelhas, Emanuel entrou também nu, mas havia algo diferente. Seu rosto era como uma besta, o olhar assassino o fitava como um pedaço de carne, alvas presas despontava por seus lábios. Correu para o ponto mais distante dele, sentiu a urina quente escorrer por suas pernas, chorava, ajoelhado implorava pela vida. Ele segurou um de seus braços suplicantes, o virou e com o joelho em suas costas o imobilizou antes de cravar os dentes em seu pescoço.

Foi imediatamente levado ao êxtase, não apenas carnal, mas, de alguma forma, espiritual, primitiva, como se sua vida só fizesse sentido se passasse por isso. Sentiu o sangue sendo drenado por seu pescoço, o calor fugindo, enfraquecendo-o, mas não se importava, só queria sentir um pouco mais desse prazer, morreria, mas era o seu melhor momento. Fraco demais mal se sustentava em pé, Emanuel o segurava, sorvia com força, as luzes vermelhas cada vez mais escura, o quadro do demônio cada vez mais real, até não haver mais nada para sentir, só a escuridão.

Mas sentiu algo na sua boca, era mais fresca que a água mais pura, o mais doce vinho, era o sabor da vida como uma fagulha de luz na escuridão. Quanto mais sorvia mais vida lhe enchia o âmago, mais as sombras se dissiparam. Retornou ao quarto vermelho, sentiu seu corpo novamente, o chão sobre seus pés, agarrava algo com os braços, era o braço de Emanuel de onde escorria o sangue sorvido com toda sua força. Todas as escolhas até agora, toda sua vida fora destinada ao momento que beberia dessa vida, tudo finalmente fazia sentido. Sua consciência retoma por completo, se vê preso a um ritual, percebe-se nu, perdido entre os mortos-vivos, mas seria um deles agora?

Seu corpo treme de imediato, repulsivamente empurra o homem para se afastar, o sangue em sua boca é recebido como dádiva e castigo. Vomita parte do líquido e é compelido a lambê-lo ainda no chão. Outro espasmo, havia quase nenhum calor no seu corpo, sua mente perde-se em nuvens rubras, fita o olhar bestial dos vampiros no quarto antes de cair. No chão os espasmos se intensificam, contorce-se, os órgãos reagiam em comandos incomuns, músculos retraiam, a boca retesava-se em mordidas que arrancara parte de sua língua, em um grito de dor qualquer excreção de seu corpo é expelida e derrotado se agoniza sobre seus próprios fluidos.

Sua mente nota toda a aflição, cada pedaço da dor e da agonia, cada fragmento de sofrimento e humilhação antes de desaparecer em medo, até que algo desperta em seu interior, algo desumano, monstruoso, a personificação do próprio medo e da fúria, o demônio de asas carmim. Sente do ódio mais puro, mil vezes mais forte do que sentira. Sente da raiva mais primitiva, como das bestas selvagens. Vivia algo no lugar de sua alma que o fazia se curvar a sua vontade, como um Deus ou o Demônio. Chora como nunca havia chorado, sente exposto como um recém-nascido e das profundezas de sua alma ouve:

- Tu, filho da noite, criança de Cain, morreu para nascer!

Humildemente aceita as palavras como tatuagens na alma antes de finalmente ser permitido parar de sofrer.

Acordou no quarto, estava escuro, apesar de conseguir ver cada detalhe do lugar, cada visgo do lençol, detalhes da estranha pintura ou mesmo a falta de sangue ou excrementos no chão. Tremia, parecia irreal, mas sentia que havia vislumbrado por trás das cortinas da realidade. Não era mais o mesmo, renascido sobre a mesma pele. Tenta mover seus antigos membros, mas pouco consegue, eram-lhes estranhos. E havia algo dentro de si, algo com a mesma força do ritual, um bocado daquela vida dentro de seu corpo e tudo, cada menor parte de si, estava de alguma forma ligado a ela. Um universo dentro do ventre, um universo de sangue.

E esse sangue era o motor de sua vontade, mas convertido em energia em um fluxo diferente, um pouco a mais e o movimento era desorganizado, um pouco menos e pouco se sustentava. Em alguns instantes conseguiu se levantar e se mover, sentia seu corpo gelado perambulando de um lado para o outro no quarto, consumindo um pouco daquilo que havia guardado em seu corpo sob os olhos bestiais do ser que lhe habitava,

mas isso a que princípio? Estava vazio, não era mais Alex Minster, era um cadáver?

Percebeu-se de pé diante do quadro do demônio, havia roupa dobrada sobre uma mesa. Olhou para porta e não se importou se ela estava aberta ou trancada. Sabia que deveria sair e encarar aquele que o matou, por sua vontade ou pela vontade dele se encontrariam. Vestiu-se e saiu, passou pelo corredor de até o salão onde Emanuel e o outro mais velho o aguardavam sobre os candelabros apagados. Sentia algo no ar, não sabia bem o que era.

- Bem-vindo a morte, Alex. Há sangue meu suficiente em você para conversarmos com calma. Bom, deixe-me nos apresentar novamente, já que agora faz parte de minha casa. Sou Emanuel Portugal, príncipe de Vitória, Vila Velha e arredores. Você bebeu de meu sangue, de uma linhagem direta que leva até Cain, nosso Pai, o amaldiçoado!

Depois apontou para o outro homem menos humano e disse:

- Este é o Barão Fernão de Monjardim, membro da primigênie do principado.

- Não vou dispender meu tempo com uma criança antes de sua apresentação no Elysium, caso ele chegue a isto. Adeus Emanuel. - Disse o antes de sair, mas pouco Alex entendeu das suas palavras. Sentia, com seu próprio demônio, a presença dos bestiais demônios deles. Sentia o sangue circulando com o poder em suas veias. Olhos malignos de predadores, mente malignas de psicopatas. Eram como feras, leões em sua confraria em meio as zebras e gazelas.

- Haverá o tempo das apresentações, Alex, mas antes a primeira lição: somos vampiros e nos alimentamos de sangue. Sem este sangue nos decaímos a maldição da besta que nos habita. Você a sente?

- Sim. Todo o tempo. Ela... Sou eu.... Mas não sou eu.

- Exato. De forma mais simples somos uma máquina movida a sangue. Muito de nós perdemos a motivação quando morremos, alguns enlouquecem, outros fascinados, acreditam que são deuses e fazerem estupidez. Não seja como eles. Para evitar isso existe a Máscara e a Camarilla, o que soube disso?

- É uma organização que mantém as coisas sob controle, tem regras que devem ser seguidas. É a forma encontrada de coexistir com os humanos.

- Uma organização é eufemismo! Somos a ordem no mundo! Às leis humanas são feitas para nós a nosso propósito! Mesmo as religiões! Entenda a nossa dimensão para saber o tamanho do nosso poder.

Alex pensou um pouco sobre aquilo, o homem acreditava no que falava, mas o achou um tolo por isso. Essa organização protegia os vampiros dos homens, não o contrário. Mas guardou sua opinião e disse:

- Entendo e acredito. Vi o que são capazes até certo ponto.

- Irá ver com seus olhos, terá todo o tempo do mundo se for fiel às leis e não for estupido.

- Serei fiel as leis e você não teria me escolhido se eu fosse estúpido.

- A primeira regra que não pode ser quebrada é não quebre a máscara! Não revele aos mortais que existimos e o que fazemos. Tenho certeza de que sabe o motivo. A segunda regra é: não mate outro de nós, a não ser por ordem do Príncipe, entendeu? Eu posso exigir mortes, mas deve se passar no conselho, se não for algo urgente.

- Sim.

- Bom, falando em conselho, eu, o príncipe, sou o líder incontestável desse domínio, mas possuo como conselheiros um grupo dos mais antigos vampiros para consultar antigas leis ou propor novas, é a Primigênie. Eles são influentes em suas casas ou clãs, então aconselho a não ir contra com muita violência ou veemência. Os clãs ou casa ou outros nomes são vampiros que compartilham a origem e os dons da noite de nossa maldição. Falei que nossa linhagem vem de Cain, e todos do nosso clã fomos abraços por um de seus filhos, nosso patriarca. Outras casas possuem outros patriarcas, com diferentes perspectivas da morte. Irei te apresentar cada um deles, aprenda seus desejos e temores, é o fundamental. Está compreendendo?

Se mantinha em silêncio, aprendendo, ouvindo, guardando as dúvidas.

- Sim. Nós também temos um clã?

- Sim, somos denominados Ventrue, mas já tivemos outros nomes em outros tempos. Somos o espírito da Camarilla, a realeza dos mortos e temos o fardo de levar os mortos para o futuro sem esquecer o passado. Em sua primeira refeição a besta te mostrará os dons do sangue consumido e verá que nossa vontade é preponderante. Mas, sempre visados em nossa corte, temos que ser espertos. Nosso símbolo é o centro ou outras insígnias de realeza. Nosso domínio entre os mortais são a política, as riquezas e mesmo a igreja, disso tiramos nosso rebanho.

- Rebanho?

- Sim. Sei que não matou antes, mas logo matará, esse é o preço de morrer e continuar vivo. Prometi que sofreria e que afligiria anda mais dor, esteja preparado.

- Eu entendo. Mas eu queria perguntar uma coisa. Por que eu?

- Essa pergunta me persegue a quase cem anos. Não existe uma resposta satisfatória! No começo preferimos acreditar que nossos atributos são especiais, força, inteligência, frieza. Mas isso passa. Depois começamos a cair em algo místico, mas a verdade é que não tem resposta. Se é o acaso ou o destino, se é Deus, Satanás ou Cain, nunca saberemos.

Alex anuiu positivamente com a cabeça, a resposta era vaga, mas não completamente sem sentido. No fim, era como tudo na vida, a hora certa no lugar certo. Ou hora errada no lugar errado e suas variantes.

- Além de nós, existem outras coisas? Outros tipos de criaturas?

- Sim, são raras, ainda mais raras que nós. Verá que nossa corte tem uma dezena de vampiros, conhecerá cauda um deles, claro. Precisa conhecê-los para dominá-los. Bom, falaremos mais quando tiver pronto. Te darei dois presentes, me amaldiçoará pelos dois, mas, por fim, irá me agradecer. Bom, descanse. Logo nascerá o sol e ele é a nossa maior fraqueza. Ele, o fogo e outros de nós! Quando acordar sentirá uma fome bestial

Não tinha mais o que falar, tinha mais perguntas, mas não era tolo a ponto de não entender quando tinha sido dispensado de forma educada, já tinha passado muitas vezes por aquilo.

- Sim. Bom descanso meu Príncipe.

Ele lhe indicou um quarto menos ritualístico, como um leito comum com cama, closet, uma suíte. Não tinha luzes vermelhas ou quadros infernais. Antes de fechar o olho sentiu a besta se movendo em sua alma, ela estava quieta, mas um pouco mais inquieta do que antes.

Dormir era como morrer, mas despertar era fácil, já tinha despertado da morte. Havia algo esquisito, dentro e fora de si. Seu corpo estava fraco, adoentado, não sentia a vida armazenada dentro dela, era como um saco vazio. Porém por perto havia vida, sentia o sangue pulsando e uma sensação que já tinha sentido antes e não conseguiu explicar. Era um aroma familiar.

- Alex, me desculpa! - Falou uma voz reconhecível, o tom era diferente, as lembranças apagadas, mas ainda havia amor.

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