Capítulo 22
Eu estava esperando tia Susi chegar eu ainda não tinha falado com ela sobre o que tinha acontecido com meu pai, e ela precisava saber.
Eu acordei cedo para esperá-la, meu pai também já estava de pé, na verdade ele estava sentado no sofá assistindo algum canal da televisão.
Nós tomamos cafés juntos. Meu pai perguntou se iria visitar o túmulo da mamãe, e eu respondi com prontidão que sim. Porém, estava com um pouco de receio de deixar meu pai sozinho, já que eu e tinha Susi sempre íamos juntas. Ele disse para não se preocupar, que ficaria bem. Não demoraríamos muito, apenas passaríamos na floricultura para pegar algumas flores e tia Susi dirigiria até o cemitério local de Strewood.
No momento eu estava sentada na mesa da cozinha com as duas mãos apoiadas nas bochechas, pensando em como contaria do ocorrido para minha tia.
— No que você está pensando? — meu pai entra na cozinha para pegar um copo de água. — Parece toda pensativa.
— É que acontece pai, que não falei nada com a tia Susi de você parar no hospital, achei melhor falar pessoalmente para ela não ficar toda preocupada em Crowerville.
— Você fez bem, Violet, foi apenas um susto, ela com certeza iria ficar preocupada. Podemos conversar com ela hoje sobre o assunto, vamos ter o final de semana inteiro — meu pai diz e logo em seguida toma um grande gole de água. — Refrescante! — ele fala ao tomar.
Rio do jeito dele. Um som de carro estacionando chama nossa atenção. Tia Susi. Me levanto rápido da cadeira e corro para porta principal, a abro de imediato e vejo Tia Susi sair do carro, meu pai vem até mim esperá-la ao meu lado.
— Olá, sentiram saudades? — Tia Susi estava com um vestido florado, com pequenas flores vermelhas e amarelas, seu cabelo acastanhado estava solto, caído nos ombros, ela usava um óculos de sol em seus olhos, e vinha com sua bolsa marrom de sempre em baixo do braço, ela estava toda radiante.
— É, claro, tia — digo com um sorriso largo.
— Seja-bem vinda de volta, Susana! — meu pai sorri para ela. — Entre!
Tia Susi entra. E eu ofereço a ela água, a mesma aceita e eu vou rumo a cozinha para pegar enquanto ela se senta junto ao meu pai na sala.
Quando chego lá ouço os dois conversando sobre a entrevista que tia Susi tinha feito, mas não era uma notícia positiva, pelo que ouvi eles tinham ligado, mas ela iria ficar na lista de espera.
— Sinto muito, tia! — digo a ela oferecendo o copo de água.
— Tudo bem, querida! Quando for para ser, será! — ela me diz com um sorriso. Admirava tanto minha tia, pelos pensamentos sempre positivos, pelo seu otimismo e esperança inabalável. Ela sempre me confortou com palavras e gestos, me aconselhando e cuidando de mim. Fiquei triste pela notícia de não ter dado certo, mas como Tia Susi, me manteria com pensamentos positivos, esse era o espírito.
— Tem razão, tia! — concordo com ela, lançando-lhe um sorriso confiante. Deus prepara os melhores momentos para nós. Temos que ser pacientes e confiantes.
— Mas e vocês? Como estão? Como passaram a semana? — olho para meu pai esperando que ele dissesse alguma coisa. Tia Susi nota meu olhar.
— O que aconteceu? — seu olhar é preocupado.
— Calma, Susana, está tudo bem — meu pai diz. Ele suspira. — Eu acabei bebendo demais, eu e a Violet tivemos uma discussão — ele me olha envergonhado. — Mas nos acertamos — Eu assinto olhando para ele. Meu pai me olha mais uma vez e suspira antes de continuar. Seu olhar agora focado no chão. — Eu acabei passando mal e fui parar no hospital — as expressões de tia Susi eram de total espanto.
— Calma, calma — ela pede. — Vocês vão ter que me explicar isso melhor — ela olha para nós dois incrédula com as informações que meu pai jogou em seu colo.
Tomo a palavra.
— Primeiramente, tia, peço desculpas por não ter lhe avisado nada, é que eu não queria preocupá-la — minha tia solta um longo suspiro e me faz sinal para continuar. Digo a ela que após a discussão com meu pai eu saí de casa, ela quis saber o porquê, e meu pai explicou essa parte. Ela ficou completamente indignada com a atitude do meu pai e do que ele tinha dito, ele estava se segurando para não chorar em frente de nós, meu pai não conseguia olhar para minha tia que estava com o rosto regado de decepção.
— Eu não estou acreditado nisso, Joseph. E quantas vezes eu já te disse para parar com essas coisas... — minha tia diz para ele, olhando em desaprovação. — As consequências machucam, você não pensou nisso? E você foi parar no hospital. Não entende a gravidade?
— É claro que eu entendo, Susana — ele olha para ela. — Eu sei dos meus atos, e me envergonho por isso, eu me arrependo — uma lágrima escorreu do seu olho. — Eu já pedi perdão para a Violet e peço desculpas para você também — ele enxuga a lágrima. — Mas eu vou melhorar — meu pai funga o nariz. E me olha. — A Violet viu, falei com o Dr. e eu vou ir para um psicólogo, eu vou melhorar. Eu quero melhorar, já está na hora — ele assente para ele mesmo. — Chega de me esconder.
Tia Susi o olha, seu olhar é substituído por compaixão. Eu sabia que ela estava triste pelo que ele tinha feito, mas assim como eu, ela o amava e também o ia perdoar. Ainda mais por meu pai demostrar estar profundamente arrependido e por estar determinado a ir em busca de ajuda profissional. Mas mais do que tudo ele precisava de nós perto dele. Precisamos nos manter unidos, como uma verdadeira família deve ser.
— Oh, Joseph! — minha tia exclama. — É claro que te perdoo, todos nós merecemos perdão — minha tia diz o mesmo que tinha dito a ele no hospital. Os olhos do meu pai brilham em lágrimas. Ele apoia a cabeça nas mãos, seus braços estavam sobre os joelhos. Minha tia me toca a mão, segurando-a, ela se levanta e me conduz até ele, juntas nos ajoelhamos e o abraçamos apertado.
O soluço abafado do meu pai se intensifica com a nossa chegada, algumas lágrimas dos meus olhos escorrem e pude notar que nos de tia Susi também. O abraçamos ainda mais forte lhe transmitindo todo nosso afeto, seu choro cessa, e nos afastamos devagar dele, ele nos olha com os olhos vermelho pelo choro, seu olhar recai sobre mim com carinho e ele deposita um beijo na minha testa, fazendo o mesmo com tia Susi e em um sussurro ele nos diz:
— Obrigado!
Para mim era isso que significava família: união. Amar incondicionalmente, e não desistir do outro por nada. Meu pai se sentiu tão feliz e acolhido, apesar da decepção que tinha Susi sentiu, ela o desculpou, e agora estávamos reunidos para almoçar juntos em harmonia. Eu estava feliz por tudo ter terminando bem.
Meu pai sorria mais para gente, ele parecia estar aliviado. Sua expressão fechada de sempre dava lugar a um olhar grato e sorriso gentil. Sabia que mudar é um processo que leva tempo, mas ele tinha começado bem.
— Tem certeza que você está bem, Joseph? — minha tia pergunta a ele, em meio a uma garfada. — Se você quiser a gente fica com você, e vamos outro dia ao cemitério — ela me olha e eu concordo.
— Eu estou bem sim, melhor do quê nunca. Podem ir tranquilas, espero vocês para o jantar — ele sorri para nós duas com convicção.
— Está bem — Tia Susi sorri. — Então, prepare o melhor jantar para nós quando chegarmos.
Papai torce a boca, meio que em protesto, mas no final assente. Solto uma risada do seu jeito, tia Susi também se segura para não rir.
Depois que terminamos de almoçar minha tia e eu fomos lavar a louça, meu pai foi resolver seus assuntos no seu pequeno escritório no andar de cima, já que ele tinha ficado sem ir trabalhar ontem e hoje. Semana que vêm ele já voltaria.
— Você não disse para onde foi depois da discussão com seu pai... — Tia Susi solta de repente. Me surpreendo um pouco.
— Ah... — engulo em seco, mas resolvo lhe contar. — Fui na casa do Aidan já que ele mora mais perto de mim do que a Jennifer — Tia Susi sorri enquanto lava os pratos, e me olha com o olhar sugestivo. Eu ignoro.
— Eles me receberam muito bem, sua mãe é muito atenciosa, ele deve ter puxado isso dela, além do Gerald e da dona Lourdes, Aidan me ajudou bastante — digo a ela.
— Ainda bem que o mundo tem pessoas boas como eles — Tia Susi diz reflexiva. Eu concordo veemente com a cabeça.
Terminamos de lavar os pratos e fomos nos sentar um pouco na varanda, onde estava pegando um vento bem refrescante. Ficamos ali jogando mais um pouco de conversa fora enquanto descansávamos para depois sairmos.
Eu tomei banho primeiro, coloquei um vestido branco básico, uma sandália dourada nos pés e arrumei meu cabelo em um coque, em meu braço a pulseira que Jennifer havia me dado. Desci já encontrando tia Susi pronta também, ela estava com um outro vestido agora preto com detalhes em branco na cintura, nas mangas e na gola. Ela estava com seu mesmo óculos de sol, cabelos soltos e com sua inseparável bolsa. Fui até o escritório do meu pai avisá-lo que já íamos, ele me lançou um joinha enquanto mexia em algo no seu notebook. Voltei para sala e saí com tia Susi, ela iria dirigir até a floricultura que era perto da casa de Jennifer.
— Depois eu tenho algo para você, Vi! — minha tia me diz estacionando o carro em frente a floricultura.
— O quê? — indago animada.
— É surpresa — ela diz rindo.
— A senhora adora fazer suspense, não é mesmo? — olho para minha tia fazendo bico. Ela ri ainda mais.
Descemos do carro e entramos na floricultura, vou direto para as violetas. Lembro-me das que havia recebido de Aidan, elas ainda estavam na mesa de centro da sala, quando chegasse iria transportá-las para meu quarto, elas ficariam melhor lá.
Sorrio enquanto escolho as flores. Tia Susi estava observando outras mais. Espero a mesma escolher. No fim levamos as violetas e mais algumas rosas que ela tinha achado bonitas.
Tia Susi dirigiu calmamente para o cemitério municipal, não muito distante da cidade, passamos pela pequena praia que meu pai e minha mãe tiraram as fotos, algumas pessoas caminhavam distraidamente na areia. A imensidão do mar azul, trazia uma sensação de bem estar, ele beirava o horizonte, se fundindo com o céu.
Passei todo o caminho observando à paisagem, era reconfortante. Tia Susi mantinha os olhos na estrada, enquanto ouvia baixinho a rádio local, tocava uma música que não conhecia, mas era calma e melódica, o que me deixava relaxada.
Tia Susi parou o carro em uma das vagas que tinham no cemitério, só tinha mais um carro estacionado por ali, dificilmente as pessoas frequentavam aqui a não ser no dia de finados.
Tia Susi e eu saímos do carro em silêncio com as flores, de repente o clima ficou meio melancólico ao estar presente de tantas lápides no chão.
Eu senti meu coração se apertar no peito. Tia Susi pegou em minha mão, com um sorriso simples no rosto, demonstrando que estava ali comigo. Caminhamos por entre os túmulos até chegar ao da minha mãe, não vinha aqui desde o último dia de finados. Já fazia um tempo. Tia Susi deixou suas rosas, juntamente com as que meu pai já havia trazido, sobre o túmulo de minha mãe, bem próximo a lápide, onde estava inscrito com letras negras e cursivas a data do seu nascimento e falecimento. Havia uma foto sua ali também, não daria mais de vinte anos para ela. Em volta da lápide cinza tinham figuras de flores a emoldurado.
Tia Susi passou a mão direita sobre minhas costas em um afago, eu sorri fechado para ela e soltei um grande suspiro contido. Ela me disse que me esperaria no carro, me deixando a sós com minha mãe, como sempre fazia. Sabia que assim como qualquer um, vir ao cemitério mexia com tia Susi.
Eu me sentia assim, triste, melancólica, porque no fim das contas e isso que o futuro nos reserva. Só não sabemos como ou quando iremos partir. E só de pensar nisso, me dá um arrepio na espinha.
Me agacho próximo ao túmulo da minha mãe, deixando as violetas ao lado das flores que minha tia havia trazido.
— Oi, mãe — digo em um sorriso. Eu sentia uma energia incomum ao estar ali, era como se eu estivesse mais próximo a minha mãe, era uma sensação boa e me trazia paz.
Então, resolvo contar a ela sobre como a minha vida estava indo, a relação com meu pai, em como era bom ter tia Susi ao meu lado, em como eu estava feliz por ter feito uma amizade verdadeira com Jennifer e que eu tinha ganhado uma pulseira representando isso, falei também sobre Aidan e as violetas que tinha ganhado dele. E de repente me vejo emocionada contando essas coisas para minha mãe.
Me levanto, minhas pernas um pouco dormentes. Enxugo meus olhos um pouco lacrimejados com as mãos. Fungo o nariz e respiro profundamente.
— Te amo! — digo baixinho, olhando diretamente para foto da minha mãe na lápide. Com um sorriso de despedida no rosto me afasto.
Caminho cuidadosamente até o carro de tia Susi, ela estava lá dentro me esperando. Quando entro ela me lança um sorriso gentil, dá partida no carro, para voltar enfim para casa, onde meu pai estava nos esperando para o jantar.
Eu era eternamente grata a minha mãe por ter me dado a vida. Sentia tanto por ela ter partido tão cedo, mas sabia que de alguma forma ela olhava por nós e desejava nosso melhor.
...
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