Capítulo 21
Depois que Dr. Malcon realizou os últimos exames e deu alta para meu pai, nós viemos para casa com o carro da saúde, Dr. Malcon também deu um cartão de um bom psicólogo para meu pai como indicação, ficamos imensamente gratos, Dr. Malcon era extremamente simpático e atensioso. Aidan também veio com a gente, também fiquei muito contente por ele ter ficado todo esse tempo ao meu lado, porém estava receosa por tê-lo feito perder as aulas. Mas ele estava ali por vontade própria e não parecia nem um pouco arrependido o que me deixava mais calma.
Quando o carro da saúde parou em frente de casa, ajudei meu pai descer, ele falou que não precisava mas eu fiz questão. Agradecemos ao motorista por ter nos trazido e eu acompanhei meu pai, o segurando pelo braço até dentro de casa. Aidan veio logo atrás. Mas ficou parado próximo a porta enquanto levava meu pai no quarto para repousar.
— Violet, não é pra tanto, eu estou bem! — ele diz para mim já deitado na cama.
— O Dr. mandou você por enquanto repousar, comer coisas leves, se hidratar e o principal não consumir mais bebida alcoólica exageradamente — olho para ele séria. — Eu me preocupei contigo, sabia?!
— Eu sei, Violet, o que eu fiz foi muito errado, prometo não repetir, eu estava fora de mim e acabei tomando más decisões, que prejudicaram tanto a mim quanto a você. Eu me envergonho por isso — ele diz cabisbaixo.
— Já passou, agora estou aqui com você, vamos passar por isso juntos, como deve ser — pego na mão dele em gesto de carinho. Ele assente para mim, e posso ver no canto do seu olho uma lágrima brilhar.
Estava feliz por meu pai se permitir ser ajudado, todo esse tempo com a dor da perda reprimida, ele estava estagnado, perdido, sem se deixar ajudar, apenas sofrendo calado ano após ano. E agora é como se uma nova porta tivesse se aberto para ele, ou essa porta sempre estivesse lá, mas só agora ele decidiu abri-la. Uma porta para superar, para aceitar o passado e ver que mesmo na escuridão pode surgir um ponto de luz.
Deixei meu pai descansando e voltei para sala, Aidan não estava, pensei que ele já tivesse ido, mas o vejo quando vou até a porta de entrada, ele estava sentado no degrau que dava para nossa pequena varanda.
Me aproximo calmamente dele e me sento ao seu lado. Ele logo me olha.
Sorrio.
— Obrigada por ter me acompanhado! — digo sincera.
— Não há de quê! — ele me diz sorrindo.
— Você quer comer alguma coisa? Já é passado do nosso horário de intervalo, deve estar com fome... — falo a ele.
— Eu tô bem...
— Vêm, entra — digo já me levantando. — Vou preparar algo para gente.
Aidan então levanta e me segue. Quando entramos mandei ele deixar sua mochila no sofá mais próximo. Depois, desviamos dos cacos de vidro no chão até chegar na cozinha, eu teria que recolher todos eles mais tarde.
— Violet, se você quiser ajuda para arrumar as coisas — Aidan diz apontando para sala, se referindo aos cacos.
— Ah, não precisa, depois eu arrumo rapidinho — digo abrindo a geladeira.
— Mas se eu ajudar acabamos ainda mais rápido — ele diz.
— Nós vemos isso depois de comer — digo, e coloco na mesa dois potes, um de geleia de morango e o outro de creme de amendoim. Pego o saco de pão fatiado e coloco próximo a eles.
— Pode se servir — digo a Aidan. — Vou fazer um suco.
Ele se senta a mesa, mas não mexe em nada.
— Vou esperar você! — ouço Aidan falar enquanto abro uma prateleira para pegar uma jarra. Sorrio pela sua consideração, como Aidan podia ser tão gentil?!
Após fazer o suco de laranja, eu e Aidan fizemos nossos sanduíches, eu estava faminta e ao julgar ele também. Em meio a uma mordida, ouço meu celular tocar, de imediato atendo, era Gerald.
— Alô, Gerald — falo um pouco com a boca cheia. Termino de engolir antes que falasse mais alguma coisa.
— Oi, Violet, vimos o carro da saúde sair agora pouco. Está tudo bem? — ele pergunta.
— Ah, sim, Gerald, está sim, meu pai agora está descansando. Dr. Malcon, mandou eu cuidar dele, vai ficar tudo bem. Obrigada pela preocupação — falo para o senhor.
— Fico feliz, Violet, ficamos preocupados — Gerald diz aliviado.
— Agradeço muito por terem ajudado!
— Não há de quê, menina! Se precisarem estamos aqui, fiquem bem! — ele diz por fim.
— Digo o mesmo, Gerald! Até mais — falo.
— Até! — ele diz finalizando a ligação.
Aidan me olhava, ele já tinha terminado de comer. Guardo o celular no bolso, lembro de tia Susi, eu até tinha pensando em avisá-la da situação mas não queria preocupá-la, contaria para ela do ocorrido amanhã quando ela viesse. Seria melhor.
— Obrigado pelo lanche, Violet! — Aidan diz quando enfim termino também. Ele me ajuda lavando a jarra e os copos enquanto guardo os potes de doces na geladeira e o pão.
Já era quase meio dia, e mesmo assim ele fez questão de me ajudar a limpar a sala, recolhemos os cacos em uma sacola depois iria colocar em uma caixa de papelão e escrever vidro para depois colocar na caçamba de lixo. Tinham vários cacos espalhados, tomamos o cuidado de recolher tudo.
Quando enfim terminamos, deixei a caixa na varanda para depois levá-la. Realmente com a ajuda de Aidan limpamos tudo mais rápido.
Sentamos um pouco no sofá para descansar, o vaso de violetas que Aidan tinha me dado no dia anterior ainda estava ali, na mesa de centro como eu havia deixado. Ele nota meu olhar nelas e sorri para mim, sua cabeça estava recostada no sofá assim como a minha, olho para ele e sorrio de volta. Estávamos separados por uns três palmos de distância. Seu peito subia e descia assim como o meu, pelo nosso empenho em recolher os vidros. Estávamos ali um olhando para o outro em silêncio, parecendo tentar adivinhar o que o outro estava pensando, ou então um desafio para ver quem desviava o rosto primeiro. Mas eu podia ficar ali pelo resto da tarde o observando, analisando seus traços, seu cabelo negro brilhante, seu olhar profundo e sincero, seu sorriso sutil e charmoso.
Me lembrei da noite passada, do seu toque em meu rosto e por um momento eu o desejei de novo. Desejei sua mão em meu rosto em uma carícia, meus olhos fechando para desfrutar ainda mais profundamente do seu toque com carinho. Nem me dei conta que eu tinha feito isso, fechado meus olhos e imaginado.
— Violet, está dormindo? — abro os olhos de imediato, e os arregalo, vendo Aidan ainda a minha frente. Eu estava viajando, seria o cansaço?! Passo as mãos pelo rosto.
— Acho que só estou um pouco cansada — falo para Aidan, mas sem o olhar.
— Entendo! Acho que já vou indo para casa, vou deixar você descansar — ele diz já se levantando e pegando a mochila que estava ali mesmo pelo sofá.
Eu me levanto também e o acompanho até a saída.
— Obrigada por tudo! — digo a ele.
— Disponha! — Aidan diz. — Até mais, Violet, fique bem!
— Você também! — falo para ele, que já seguia pelo caminho que levava até o portão. Ele acena uma última vez quando o atravessa e eu aceno de volta, com um sorriso fechado no rosto. Fecho a porta e me recosto nela. Meu coração atrapalhado retumbava no peito. Coloquei a mão no lado esquerdo e o senti intensamente.
— É, eu preciso descansar — falo para mim mesma. — Mas primeiro, um banho! — digo balançando o dedo indicador no ar.
Foi bom ter dormido um pouco, me senti mais revigorada depois do cochilo tirado. Eu acordei e fui ver meu pai, ele ainda dormia. Então, resolvi fazer a janta para levar para ele. Iria fazer uma sopa, algo leve. Trouxe meu celular comigo, iria colocar na minha playlist, quando percebi uma mensagem de Jennifer.
O que aconteceu? Por que não foi para aula? Vc e o Aidan faltaram...
Li a mensagem da minha amiga e já respondi de imediato, apesar de já fazer um tempo que ela havia enviado.
Não pude ir, meu pai foi parar no hospital, Aidan me acompanhou até lá. Pessoalmente te explico melhor a história...
Digito a mensagem e a envio. Coloco na minha playlist e vou fazer o jantar enquanto ela não responde, porém não demora muito para mim ouvir meu celular tocar, mas não era som de mensagem. Vou até ele que estava em cima da mesa da cozinha, Jennifer estava me ligando por chamada de vídeo. Sento na cadeira e atendo. Vejo Jennifer do outro lado da tela, ela estava deitada na cama.
— Ainda bem que me atendeu — ela fala sentando na cama.
— Oi, Jennifer! — digo sorrindo fechado.
— O que aconteceu com seu pai? Ele está bem?
— Então, é uma longa história. Vou tentar simplificar — Jennifer assenti do outro lado, me olhando com total atenção. — Meu pai e eu discutimos, ele estava bêbado, eu saí de casa e acabei indo até Aidan, choveu e eu passei a noite lá, pela manhã quando viemos aqui para pegar minhas coisas para ir para aula, meu pai não estava — dei uma pausa, soltando um suspiro. Jennifer ainda me observava. — A vizinha disse que tinham encontrado ele desacordado e chamaram a ambulância, ele tinha passado mal por causa da bebida, Aidan foi comigo no hospital e esperamos meu pai ter alta. Agora ele está melhor, foi só um susto.
O rosto de Jennifer esboçava surpresa.
— Meu Deus, que tenso! — ela exclama. — E vocês se acertaram? Por que brigaram?!
Suspiro mais uma vez e tento explicar para Jennifer o que tinha acontecido antes da sopa ficar pronta. Conto a ela o que meu pai tinha me dito, ela ficou indignada, mas entendeu que ele estava alterado e que tinha se arrependido. Ela achou minha atitude bonita de tê-lo perdoado, e eu me senti orgulhosa e em paz em ter feito isso. Disse a ela também, que meu pai tinha aceitado ir ao psicólogo e que o Dr. que nos atendeu tinha sido muito atencioso. Jennifer foi uma boa amiga, me ouviu e disse que estaria ao meu lado no que precisasse, me senti profundamente feliz pelo apoio.
Quando a sopa ficou pronta, deixei ela esfriando enquanto conversava mais um pouco com Jennifer.
— Mas eu perdi alguma coisa na aula? — indago a ela.
— Menina, que bom que você perguntou — me assusto um pouco com sua fala. — O professor de geografia já deixou avisado para falarmos para os que faltaram, no caso você e o Aidan, que nas próximas aulas é para vocês apresentarem as maquetes... se não me engano, o Aidan na segunda e você na terça...
— Meu Deus, já estava me esquecendo disso! — digo. — Você já apresentou?
— Sim, hoje. Falta acho que vocês dois e mais um outro menino que faltou, o Alex. Se você quiser depois te empresto o caderno para fazer a matéria atrasada.
— Muito obrigada, Jenni — digo a ela sorrindo.
— Imagina! — ela sorri para mim também. — Agora eu tenho que ir, Violet, vou jantar. Fica bem, qualquer coisa me manda mensagem.
— Tá bom! Boa janta, até mais — ela manda um beijo no ar e eu mando outro, antes de encerramos a ligação.
Sorrio, conversar com Jennifer foi maravilhoso, ela realmente é uma amiga muito companheira, mexo meu pulso onde a pulseira que ela havia me dado estava, eu não tinha tirado-a.
Pego a sopa e levo para meu pai, ele estava acordado, recostado em seu travesseiro.
— Licença, pai — ele assente e eu entro no quarto indo até ele. Noto que em sua mão estava aquela foto que ele havia ficado. A dele e minha mãe na praia, com a mensagem atrás.
— Trouxe para o senhor — digo colocando o prato na mesa que fica ao lado da cama. Eu me sento na beirada da cama junto a ele.
— Obrigado! — meu pai fala. Seus olhos estavam na foto em suas mãos. Ele passa o dedo sobre a figura da minha mãe.
— Eu queria tê-la conhecido! — digo ao meu pai. Ele sorri para mim me olhando. — Onde vocês tiraram a foto?
— Sabe aquela pequena praia a caminho do cemitério?! — meu pai me pergunta.
Assinto.
— Foi lá — ele diz nostálgico. — Eu tinha acabado de pedir sua mãe em casamento — seus olhos brilham. E penso que os meus também. — Eu planejei caminhar com ela pela praia e a surpreender, e foi o que aconteceu! Depois ela pediu para um casal que passava por lá tirar uma foto nossa, ela então revelou e me deu de presente — um sorriso aparece em seus lábios. E eu me emociono ao saber a história por trás da foto. Meus olhos se enchem de lágrimas. Mas me contenho.
— Que lindo, pai! — ele me olha com um sorriso emocionado. E eu sorrio de volta para ele, feliz por ele ter compartilhado essa história com a mamãe para mim.
...
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