Capítulo 20

Um sacolejo gentil em meu braço me desperta. Uma voz suave me chama e meio sonolenta abro os olhos, me surpreendendo ao ver Aidan bem ali na minha frente, me olhando fixamente com seus grandes olhos verdes.

— Bom dia! — ele fala com seus olhos ainda presos em mim. As lembranças da noite passada me invadem e entendo porquê acabei de acordar na cama de Aidan.

Bocejo antes de respondê-lo.

— Bom dia! — me sento na cama e coço os olhos, a janela de seu quarto estava aberta, uma leve brisa sacolejava a cortina. Fito Aidan que sorria, ele ainda me olhava, eu devia estar péssima, com a cara amassada e os olhos remelentos. Retiro a coberta sobre mim já me preparando para levantar. Coloco os pés para fora da cama me sentando antes que me levantasse por completo, passo as mãos no cabelo, ele estava todo armado.

— Você está ótima! — ele fala rindo. Tinha certeza que ele estava se segurando para não me zoar. — Você está bem? Eu te acordei porquê está quase na hora de ir para aula...

— Estou melhor, obrigada! Será que dá tempo de passarmos na minha casa?

— Dá sim, eu vou te esperar na cozinha para tomar café, você pode usar o meu banheiro. Mamãe colocou sua roupa lá, já enxugou. E ah, tem um pente na primeira gaveta se você quiser dar um jeito nisso daí — ele aponta para meu cabelo, segurando um riso.

Olho para ele fingindo estar extremamente brava, pego o seu travesseiro rapidamente para jogar nele, ele se movimenta ligeiro para fora do quarto. Eu arremesso mas ele sai antes que eu pudesse acertá-lo.

— Errou! — ele volta rapidamente só para dizer. O ameaço com o outro travesseiro e ele sai rindo. Sem perceber, me vejo rindo também. Me levanto balançando a cabeça em negativa, recolho o travesseiro que tinha jogado, arrumo a cama dele devidamente como se não tivesse dormido ali e depois sigo ao banheiro.

Quando chego na cozinha, só Aidan estava a mesa. Ele me convida para sentar e tomar café com ele.

— Meus avôs ainda estão dormindo — ele explica. — Minha mãe preparou o café e foi deitar mais um pouco.

— Entendi — penso no meu pai, estava ansiosa para voltar para casa para ver como ele estava, Aidan tinha razão, ele era meu pai, e mesmo ele me magoando eu me preocupava com ele. Ele estava bêbado e fora da razão.

Não consegui tomar café direito, a angústia estava me matando. Eu e Aidan saímos e andamos ligeiro até minha casa. Meu coração palpitava forte no peito, eu sentia um aperto que dificultava eu respirar. Abri o portão, Aidan vindo logo atrás de mim. Estranhei a porta estar  entreaberta. Entrei na casa que estava do mesmo jeito, cacos espalhados pelo chão. Mas nenhum vestígio do meu pai pela sala.

— O que aconteceu? — Aidan me olha com o rosto preocupado ao ver tanto vidro no chão.

— Ele quebrou as garrafas na parede — olho de relance para ele e vou até o pé da escada. — Pai! — grito, mas ele não responde, decido subir para ver se ele estava no quarto. — Me espera aqui — digo para Aidan e começo a subir a escada.

— Violet! — viro meu rosto para onde a voz vinha e me surpreendo ao ver Dona Lourdes parada em frente a nossa porta.

— Dona Lourdes! — falo surpresa e desço as escadas até ela. Seu rosto estava apreensivo e começo a me preocupar.

— Seu pai, o Gerald... — ela fala mas pausa.

— O que aconteceu? — incentivo ela falar.

— O Gerald encontrou seu pai desmaiado no chão, ouvimos barulhos estranhos vindo daqui, quando ele veio ver o que estava acontecendo, encontrou seu pai... — Dona Lourdes chorava compadecida. Meu coração acelera ainda mais.

— A onde ele está? — pergunto de imediato.

— Gerald chamou uma ambulância ele está no hospital, mandou eu ficar caso você aparecesse para mim te avisar.

— Eu preciso ir para lá, obrigada Dona Lourdes! — olho para Aidan que ouvia toda nossa conversa.

— Eu vou com você! — ele diz decidido.

— Não precisa...

— Eu já decidi — ele me interrompe. Assinto, senti meus olhos se umedecerem com as iminentes lágrimas. Mas segurei o possível choro.

Mais uma vez eu e Aidan saímos juntos. Fechei a casa e partimos rumo ao hospital, por sorte ele não era tão longe de casa. Eu estava andando quase correndo Aidan tentava me acompanhar. Paramos no cruzamento. Meu peito subia e descia. Senti Aidan segurar minha mão, me lembrando que estava comigo. O olhei agradecida. Uma lágrima teimosa escorreu do meu olho e ele a rapidamente a limpou com o polegar.

— Vai ficar tudo bem! — ele me diz tentando passar confiança. Aperto sua mão sentindo profundamente seu toque. Ele aperta de volta e não solta quando enfim atravessamos a rua.

Seguimos de mãos dadas até o hospital. Quando entramos na sala de espera, já pude avistar Gerald, ele estava cochilando em uma cadeira. Me solto de Aidan e vou até ele.

— Gerald — O balanço gentilmente. Ele acorda e me olha assustado.

— Violet! — ele exclama.

— O meu pai, como está meu pai?

— Seu pai está em observação disse o doutor, tomou soro estão esperando ele acordar. Ele teve uma overdose por causa da bebida.

— Aí, meu Deus — exclamo. — Será que eu posso vê-lo? — pergunto preocupada.

Aidan aparece ao meu lado, notando minha inquietação.

— Acho melhor você se sentar — ele diz para mim suavemente.

Me sento, mexendo minhas pernas impacientemente.

— Aidan se você quiser ir para escola pode ir, obrigada por me acompanhar.

— Eu vou ficar com você! — Aidan diz se sentando ao meu lado. Sorrio fechado para ele.

— Gerald, você tem que ir para escola, eu fico esperando notícias do meu pai, obrigada por ter ajudado!

— Não se preocupe eu já avisei ao diretor.

— Mas você passou a noite aqui, vá descansar, eu fico! — Gerald assenti.

— Qualquer coisa me ligue então! — ele diz se levantando.

Esperamos um pouco, enfermeiras e médicos transitavam pela sala, pessoas permaneciam sentadas esperando, um painel anunciava nomes para consulta, e a atendente digitava sem parar em seu computador. Decido falar com ela.

— Eu vou ali falar com a atendente já volto — falo para Aidan. Vou até ela. A mesma para de digitar para me olhar, ela usava um óculos vermelho nas bordas, seu cabelo em um coque e um pequeno brinco de argolas. Ela parecia ter mais ou menos a idade de tia Susi.

— Em que posso ajudar? — sua voz soa gentil.

— Eu gostaria de saber se eu posso ver o paciente Joseph Benson, sou a filha dele.

Ela mexe em alguma coisa no computador. Eu tento ver, mas ela logo me olha de novo.

— Ele está em observação. Vou avisar ao Dr. Malcon que você está aqui.

— Obrigada! — agradeço-a. Ela faz uma ligação ao consultório do doutor.

— Ele está atendendo agora, mas já vêm falar com você, só aguardar — ela sorri ao final.

— Está bem! — digo a ela e volto até perto de Aidan.

— E aí? — ele pergunta.

— O doutor já vêm falar comigo, ela disse.

Passou-se alguns minutos, eu e Aidan estávamos quietos, apenas esperando a vinda do doutor. Até que eu vi um homem alto todo de branco se aproximar do balcão da atendente, ela apontou para mim e ele se aproximou.

Me levantei quando ele chegou até mim e Aidan também.

— Você deve ser a senhorita Benson — ele diz, estende a mão em cumprimento. Sua voz era grave e firme. Assinto veemente. — Olá, rapaz — ele cumprimenta Aidan também.

— Então, doutor como meu pai está? Eu posso vê-lo?

— O quadro do seu pai agora é estável, vai ficar tudo bem, não precisa se preocupar — ele me olha enquanto fala, suspiro de alívio — Com grande sorte ele foi socorrido rapidamente, chegou desacordado, mas logo ele retornou a consciência, estava um pouco nervoso — ele pausa olhando para Aidan além de mim. — Demos medicamento para que pudéssemos fazer exame neurológico e de sangue, ele teve uma overdose por ingestão excessiva de álcool. Fizemos uma limpeza gástrica e agora ele está em monitoramento. Só estamos esperando ele acordar para fazer uns últimos exames e já lhe dar alta.

Suspiro outra vez. Estava aliviada por não ter acontecido nada de grave, não suportaria perder meu pai também.

— Licença, Dr. Malcon o paciente da sala 12 acordou — uma enfermeira de meia idade fala se aproximando de nós. Ele assente e se vira para gente novamente.

— Eu vou fazer a avaliação, logo chamo você para fazer a visita — ele diz diretamente para mim.

— Obrigada! — O Dr. assenti e segue junto com a enfermeira. Eu e Aidan nos sentamos novamente.

— Mais calma? — Aidan me pergunta.

— Sim! — digo a ele olhando-o.

— Quer um pouco de água? — ele me oferece sua garrafinha. Aceito, bebo um pouco e já a devolvo agradecida.

Esperamos mais um pouco até a mesma enfermeira de antes vir me chamar.

— Eu já venho! — digo a Aidan antes de me levantar.

— Não vou sair daqui — ele diz com um sorriso. Devolvo o sorriso para ele e me levanto seguindo a enfermeira, até chegarmos em uma sala com o número 12 logo acima dela. Ela abre a porta me permitindo que entrasse, lá estava o Dr. Malcon com sua prancheta na mão, conversando com meu pai.

Meu pai me olhou quando entrei, seus olhos estavam impassíveis, mas seu rosto demonstrava que estava abatido, ele parecia fraco.

— Vou deixar vocês conversarem — Dr. Malcon fala para nós. — E eu vou ver para o senhor o seu pedido — agora Dr. Malcon fala para meu pai, e não entendo sobre o que estavam falando.

Dr. Malcon sai me deixando sozinha com meu pai, me aproximo dele um pouco receosa. Porém ver ele em uma cama de hospital me parte o coração.

— Como o senhor se sente? — pergunto a ele.

— Minha cabeça está latejando, um pouco de dor na barriga e uma leve ânsia de vômito, mas estou bem — ele diz.

Um silêncio reina. Eu não sabia mais o que dizer, não sabia se ele se lembrava da noite de ontem, do que tinha acontecido. E eu não sabia como tocar no assunto e nem se era o momento.

— Violet, eu lhe devo desculpas — ele então diz. O som da máquina que registrava seus batimentos cardíacos tocava ao meu lado, eu a olhei de relance e pude perceber que seu coração parecia acelerar.

— Tudo bem, pai, podemos falar disso outra hora — lhe digo.

— Não — seus olhos se enchem de lágrimas — Eu me lembro do que falei, estava fora de mim, e disse coisas cruéis, eu te magoei, Violet, fui egoísta, sempre fui, ela era sua mãe também, não apenas o meu amor, ela estaria desapontada comigo pelo jeito que te tratei, não mereço ser chamado de pai....

— Pai — falo tentando conter o choro.

Ele balança a cabeça em negativa, lágrimas grossas escorriam de seus olhos.

— Eu fiquei muito magoada sim, mas o senhor não disse nenhuma mentira...

— Não, Violet, eu me arrependo do que eu disse, amargamente. Eu que nunca vou me perdoar. Mas por favor, não acredite no que eu disse, eu vou me tratar eu já falei com o Dr. Malcon, ele vai conseguir um psicólogo para mim, eu já devia ter ido atrás disso a muito tempo...

Olho para meu pai, pude notar a dor do seu arrependimento. As vezes dizemos coisas horríveis quando estamos com raiva, machucamos uns aos outros, mas é necessário perdoar.

— Todo mundo merece perdão, pai, inclusive o senhor. E eu te perdoo — digo a ele e afago sua mão sobre a cama.

Agora ele chora ainda mais, pondo a outra mão sobre os olhos. E eu me inclino para abraçá-lo. Deixo algumas lágrimas teimosas saírem dos meus olhos, meu pai me abraça de volta.

— Ela teria orgulho de você! — meu pai me fala. — Me perdoe minha filha, você foi o presente que ela deixou para mim eu deveria cuidar de você e não magoá-la.

Sorrio entre o abraço emocionada. Me desfaço do abraço, mas ainda permaneço próximo ao meu pai.

— Eu sei o quanto você a amava e sente falta dela. Tenho orgulho de ser filha de vocês e de representar o fruto do seu amor e do dela — digo com sinceridade para reconfortá-lo.

Ele me olha emocionado. E eu sorrio. Eu o perdoava, sei que minha mãe também o faria, no fundo ele nunca teve a intenção de me ofender. E eu permaneceria ao seu lado e o apoiaria na ida ao psicólogo, seria melhor para ele. Eu jamais desistiria do meu pai.

...

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