Capítulo 19
— Violet! — Aidan exclama assustado.
Seu rosto demonstra total confusão ao me ver em frente a sua porta. Mas ele logo me chama para entrar.
— Entra, rápido, você está toda molhada, o que aconteceu?
Eu passo pela porta, Aidan a fecha logo atrás de mim, fico estática pois estava molhando todo o chão. A mãe de Aidan também aparece e se assusta ao me ver.
— Violet! — ela me olha de cima a baixo. — Eu vou pegar uma toalha, você está ensopada.
Eu estava um pouco ofegante pela corrida, porém aliviada por ter chegado a casa de Aidan, ele e sua mãe esboçaram preocupação, mas também era de se esperar essa reação.
Não demora muita para que a mãe de Aidan apareça com uma toalha para me enxugar e um pano para secar meus pés. Eu agradeço de imediato.
— Eu vou pegar também alguma roupa seca para você — a mãe de Aidan ainda me observa com o rosto aflito. — E esse joelho, você caiu?!
Olho para meus joelhos, eles ardiam um pouco. Aidan que estava ao meu lado também os observa, logo seu olhar crava em meu rosto.
— Aidan vai pegar o kit de primeiros socorros seu e ajude Violet! — ela diz saindo indo em busca de roupas.
— Vêm comigo! — Aidan pega a minha mão e me leva até seu quarto, após adentrarmos o mesmo me manda sentar em uma poltrona que ele tinha perto da janela e se dirige até seu guarda-roupa, caçar o kit médico.
Nesse instante a energia caiu, o quarto ficou apenas levemente iluminado pela brecha da cortina. Ouvi os passos de Aidan se aproximando, ele abriu totalmente a cortina, iluminando um pouco mais o quarto. Eu tentava controlar minha respiração, sentia meu coração rápido em meu peito ainda, meus olhos também ardiam e estava fungando meu nariz a cada segundo. Pela janela pude notar que a chuva havia engrossado e o vento balançava a copa de uma árvore lá fora. Alguns relâmpagos ao longe, esse tempo estava me deixando ainda mais nervosa.
Aidan puxou a cadeira da escrivaninha e pôs na minha frente, em seu colo abriu uma caixa branca e tirou um pequeno frasco e algodão, o qual depositou o líquido.
— Vai arder um pouco — Aidan diz colocando a caixa de lado e me olhando nos olhos. Eu assenti e me preparei para que ele limpasse meu ferimento.
— Tá doendo muito? — ele indaga. Eu estava reprimindo os lábios, segurando a dor.
— É suportável! — digo, um alívio se instala quando ele para de limpar.
— Vou fazer o curativo! — ele diz e eu assinto mais uma vez. — Você vai sobreviver! — ele brinca.
Tento conter uma risada, só Aidan para fazer eu querer rir.
Uma luz então foca em nossos rostos rapidamente. Era a mãe de Aidan com uma lanterna.
— Eu achei essas peças — ela coloca a roupa sobre a cama de Aidan. — Vão ficar grandes, mas a calça você pode ajustar com o cordão que tem nela.
— Obrigada, Dona Cristina! — a agradeço.
— Tudo bem aí? — a mãe de Aidan se aproxima e ilumina ainda mais minha perna com a lanterna.
— Já estou terminando! — Aidan diz concentrado.
— O que aconteceu, flor?! — a mãe de Aidan pergunta me olhando com preocupação.
— Eu briguei com meu pai, e sai correndo desesperada de casa, cai quando vinha pra cá — revelo a ela.
Dona Cristina parece medir minhas palavras e me olha triste.
— Sinto muito, querida! — ela diz. — Tenho certeza que vocês vão se resolver! Eu vou providenciar um lugar para que você possa passar a noite aqui.
— Ela pode ficar com a minha cama, eu durmo no chão — Aidan diz, sem olhar para nenhuma de nós duas.
— Eu não me importo de dormir no chão — digo.
— Mas eu me importo — ele fala erguendo seus olhos verdes para mim. — Não se preocupa, mãe, pode dormir, eu arrumo as coisas — ele diz para ela. — Eu já terminei aqui, pode ficar tranquila!
— Tá legal, então! Não esquece de deixar a porta aberta e qualquer coisa me chama — ela olha para mim e sorri. Eu sorrio de volta antes que ela ilumine o caminho com a lanterna e saia do quarto.
— Eai, como está? — ele pergunta fazendo sinal com a cabeça para meus machucados.
— Ardendo só um pouco, obrigada pelos curativos! — tento sorrir para ele.
— Por que vocês brigaram?! — seus olhos ainda estavam presos nos meus. Engulo em seco, e olho para além da janela, a chuva ainda caía impiedosa. Passo as mãos nos meus braços e reprimio um espirro.
— Você quer se trocar?! Eu vou arrumando o colchão... — Aidan levanta. Ele acende a lanterna do celular e me indica um banheiro no quarto para mim me trocar. Também acendo a lanterna do meu e caminho até lá após pegar as roupas.
Coloco o celular na pia de modo que ele posso iluminar o banheiro para eu vestir as roupas que a mãe de Aidan tinha me emprestado. Penso no meu pai, no que ele poderia estar fazendo, será que ele tinha dormido lá mesmo no chão?! Ainda estava chorando?! Ele não podia ficar sozinho, mas eu nunca tinha passado por uma situação dessa. Estava confusa, preocupada, magoada, um misto de emoções. Lágrimas preenchem novamente meus olhos, enquanto visto a roupa, realmente tinham ficado grandes, mas nem tanto, dava para usar tranquilamente.
Quando saio do banheiro Aidan já estava lá, forrando o colchão.
— Quer ajuda? — me aproximo dele.
— Acho que sim, sou péssimo nisso! — rio dele.
Deixo meu celular na cama e juntos forramos o colchão, Aidan joga um travesseiro que ele havia trazido e cobertas sobre ele.
— Obrigado! — ele diz.
— Não foi nada!
— Ficou bem... — ele aponta para mim. — a roupa em você.
— Obrigada! — digo um pouco com vergonha.
— Então — Aidan fala um pouco cauteloso. — Você quer falar sobre seu pai...
Suspiro e me sento na cama dele, Aidan vêm e senta ao meu lado me olhando.
— Se você não quiser falar tudo bem, é que eu fiquei preocupado quando você disse que brigaram...
— Na verdade foi uma discussão — olho para ele. Seu rosto desfocado pela escuridão. Olhei novamente para a janela, podíamos ouvir o barulho da chuva, agora um pouco mais calma. Fito o rosto de Aidan ele ainda me olhava, sua mão toca na minha que estava sobre a cama, era como um sinal de consolo. Sorrio para ele, mesmo que ele não pudesse ver bem. Logo sua mão se afasta, e ele permanece sentado com os braços apoiados sobre as pernas.
— Por que vocês discutiram?! — ele realmente queria saber, sua voz esboçava preocupação. Suspirei mais uma vez antes de falar.
— Eu fui na Jennifer quando voltei encontrei ele no chão, ele estava bebendo e chorando — Aidan me olha totalmente focado em mim. — Ele estava fora de si, ele disse... — meus olhos se enchem de lágrimas quando me lembro do que meu pai me falou. — Ele disse... — um soluço me escapa dos lábios. — que eu tinha matado minha mãe — Começo a chorar, coloco as mãos sobre o rosto, e choro sentindo a dor dessas palavras.
Sinto a mão de Aidan no meu ombro, olho para ele. Ele me puxa para um abraço, choro em seu ombro, ele me aperta contra si e eu aperto de volta. Soluço muito em meio ao choro, Aidan tenta me acalmar, afagando meus cabelos e as costas.
— Está tudo bem, eu estou aqui com você! — o abraço de Aidan, a sensação de segurança vão me acalmando. Me separo dele e enxugo as minhas lágrimas com as costas da mão.
— Ele estava bêbado, não ligue para as palavras dele — era difícil, meu coração doia em saber essa verdade, ainda mais vinda do meu pai, independentemente se ele estava bêbado ou não era esse o sentimento que ele guardava. E eu estava fadada a conviver com isso.
— Violet, tenho certeza que ele te ama tanto quanto sua mãe — Aidan fala. — Tente sempre lembrar das coisas boas, uma vez você me disse — olho para Aidan e sorrio, eu tinha dito isso para ele com relação ao seu pai.
— É complicado! — olho para a janela. — Mas depois da chuva sempre vêm o arco íris, não é mesmo?! — digo tentando soar positiva.
— É claro! — ele fala e posso notar um sorriso em seu rosto. Mais uma vez sua mão toca a minha e eu retribuo o toque com um sorriso.
Depois de muita insistência de Aidan eu fiquei com a cama, fomos dormir cedo já que a energia não tinha voltado. Eu fiquei de bruços olhando para o teto, pensando em meu pai. Peguei meu celular e liguei, mesmo imaginando que ele não fosse atender, e foi exatamente isso que aconteceu. Talvez ele estivesse preocupado também por eu ter saído e depois logo começado a chover, ou então só estaria estirado no chão e depois nem se lembraria do que tinha acontecido ou falado. Achei melhor me concentrar para dormir, eu precisava descansar a mente.
Me remexi várias vezes durante a noite, fiz uma oração para Deus acalmar meu coração. Pedi a bênção da minha mãe e abracei o travesseiro a fim de me sentir mais confortável para adormecer.
Eu ainda sentia meu coração acelerado no peito, uma ansiedade eminente. Meus joelhos estavam ardendo, eles estavam sobre cacos de vidro. Você matou sua mãe, não merece perdão! Uma voz semelhante a do meu pai fala ao pé do meu ouvido, me viro rapidamente mas não há ninguém. VOCÊ ME TIROU ELA, um grito me assusta, garrafas são arremessadas no ar.
Acordo ofegante, suor me escorre da testa, arranco as cobertas do meu corpo com dificuldade.
— Calma, tô aqui! — a silhueta de alguém surge ao pé da cama. Eu me assusto, porém me lembro que estava na casa de Aidan. Ele não tinha se levantado totalmente, somente o tronco. — Foi só um pesadelo! — ele diz e se levanta vindo até mim, ficando de joelhos próximo a cama para que estivesse na altura do meu rosto.
Ainda estava ofegante.
— Você deu um grito! Mas acho que só eu escutei, meus avós e minha mãe tem sono pesado!
Eu me viro de lado e observo Aidan ali, ele solta um bocejo de sono.
— Desculpa te acordar! — digo envergonhada.
— Tudo bem, a chuva parou enfim, pena que não voltou a energia — ele observa.
— Deve ter queimado algum gerador! — digo.
— Você vai conseguir dormir? Quer que eu cante para você? — ele coloca uma mecha do meu cabelo atrás da orelha. Sinto meu rosto esquentar. Seus olhos estavam presos ao meu. Sua mão desliza pela minha bochecha e faz um carinho ali. Prendo o fôlego, meu coração acelera, engulo em seco e enfim posso soltar o ar quando ele recolhe a mão. Um sorriso desenha seus lábios. Seu cabelo preto estava todo desgrenhado, ele estava fofo assim. Uma brecha da cortina onde iluminava levemente o quarto me permitia vislumbrar Aidan.
— E você sabe cantar?! — indago a ele, um pouco demorado talvez.
Ele pigarreia e começa.
— Brilha, brilha, estrelinha, quero ver você brilhar — tento segurar o riso. Mas Aidan percebe.
— Você está rindo de mim?! — ele questiona fingindo estar ofendido.
— Você está recitando, não cantando — falo para ele em uma risada. — E essa canção é para bebê.
— Funciona com os bebês, pensei que funcionaria com você — ele fala como se fosse algo óbvio.
Mais uma vez tento segurar o riso, Aidan era inacreditável.
— Mas se é assim, então, mostra como se faz — ele me desafia.
Solto um suspiro e começo a mesma música.
— Brilha, brilha, estrelinha, quero ver você brilhar, lá no céu a noite brilha, brilha, brilha, estrelinha! — termino de cantar e solto um sorriso no final, Aidan me observou atento e também sorri quando eu finalizo.
— Uau, você canta bem! — ele diz.
— Obrigada! — sorrio para ele. Não era pra tanto, mas fiquei feliz com seu elogio. Aidan coloca a mão na boca e solta um bocejo.
— Você vai ficar bem? — ele indaga me olhando profundamente. Assinto para ele não se preocupar.
— Se você precisar, vou estar aqui, ok?! — ele diz, se levantando para voltar para o colchão.
— Obrigada, Aidan! — digo, puxando uma das cobertas para me cobrir novamente, fico de bruços e observo ele ir se deitar novamente.
— Boa noite, estrelinha! — ele diz quando enfim se deita.
— Boa noite! — digo com um sorriso estampando meus lábios. Minha mão vai até a bochecha a onde ele tinha tocado e é como se pudesse sentir seu carinho ainda ali. Acabo bocejando também, meus olhos pesam, fecho-os e fico na total escuridão, mas de repente vejo um ponto de luz, era uma estrela brilhando no céu, e eu estava como se flutuasse nas nuvens, indo em busca do brilho e me afastando da escuridão.
...
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