Capítulo 10

Contei para Jennifer da minha conversa nada agradável na hora do intervalo com Staci. "Ela está com ciúmes, isso sim." Jennifer me afirmou. "Ela precisa de remédios também, precisamos dar uns de presentes para ela." A menina de cabelos enrolados também fala, e eu tive que me conter para não rir durante a aula. Ela tinha razão, Staci era perturbada, adorava me atormentar, mas o que eu não podia era deixar ela se prevalecer para cima de mim.

Quando a aula acabou eu e Jennifer saímos juntas, ela estava falando comigo o quanto estava animada para ir na minha casa final de semana, eu me senti feliz em vê-la assim, e também mal podia esperar para o dia chegar. Nos despedimos dessa vez com um abraço, vindo da parte dela, que me surpreendeu de uma maneira muito boa. Tomei meu rumo sorridente, o sol de meio-dia estava ainda mais quente que o normal, sentia o suor nas minhas axilas, odiava isso. Passei minha mão no busço que também estava acumulando gotículas de suor, limpei na calça e continuei a andar, um pouco mais rápido para chegar logo em casa e tomar um banho refrescante.

Paro no cruzamento esperando um carro passar para então eu atravessar a rua. E nisso Aidan me alcança, ele estava ofegante.

— Estava correndo? — indago.

— Eu vim rápido, para poder te alcançar — O sinal abre, e então atravessamos.

Ele suava, olhei rapidamente para o céu, uma nuvem quase encobrindo o sol.

— Seu aniversário está chegando, não é mesmo? — ele fala para mim, olho em seu rosto.

— Como sabe disso? — o indago. Nesse momento a nuvem tinha encobrindo o sol, um breve alívio para nós.

— No mural do colégio, tem a data dos aniversariantes do mês, foi lá que eu vi — ele sorri. — Vai ter festa?!

— Não — respondo curtamente, percebo um pouco tarde que pareci grossa. Aidan fica sem jeito. — Eu só não comemoro aniversário, tá bom?! — tento explicar a ele.

— Por que não? — Aidan indaga.

— Porque não! — exclamo.

— Porquê não, não é resposta — ele diz e me lembro brevemente de uma conversa que tivemos. Nesse instante também chegamos em frente a minha casa. Eu já trato de abrir o portão e me despedir. — Tchau — o digo sem olhar, nem espero ele responder direito e vou rumo a entrada.

Abro a porta com minha chave e me assusto quando vejo tia Susi posta em frente a janela.

— AH! — dou um grito quando a vejo.

— Calma, sou eu! — ela fala se aproximando.

— O que faz aqui em dia de semana?! Você não avisou que iria vir...

— Quis fazer uma surpresa, hoje é o dia da minha entrevista de emprego.

Respiro profundamente, esperando as batidas do meu coração se normalizarem.

— Você me assustou — a digo, tia Susi tinha uma chave reserva da casa, por isso ela conseguiu entrar antes que eu chegasse, mas nunca que iria imaginar vê—la hoje.

— Desculpa, querida!

— Tudo bem! — a digo. — O que estava fazendo aí na janela, estava me espiando? — ergo as sobrancelhas para ela.

— Quem era aquele menino bonito com você? Seu namorado? — seus olhos brilham.

— Credo, tia, não. É só o Aidan.

— Quem é esse? Você não me contou dele.

— Contei sim, o menino desastrado que arruinou meu trabalho.

— Ah, você me falou disso, só não sabia que você e ele tinham virado amigos.

— É, tipo isso — digo a ela meneando a cabeça.

— Mas por que me pareceu que ele foi embora triste, cabisbaixo?!

— Não sei, eu só acho que fui grossa com ele sem querer.

— O que vocês estavam falando?!

— Nada de mais, coisas da escola — minto. — Tia, agora se você me der licença vou subir para tomar um banho, estou urgentemente precisando!

Ela ri e assenti, e eu subo rapidamente as escadas, rumo ao banheiro. Tomo um banho refrescante que me revigora, coloco roupas frescas e desço para o andar de baixo, onde encontro minha tia já fazendo o almoço.

— Você disse ao meu pai que viria? — questiono a ela quando entro na cozinha.

— Não, era para ser uma surpresa para os dois — ela sorri.

— Posso te ajudar? — pergunto.

— Claro! — ela me chama para me aproximar, resolvo preparar a salada, enquanto lavo umas folhas de alface ela diz:

— Depois da entrevista quando eu voltar, tenho uma outra surpresa para você!

— O que é? — pergunto.

— Ora, é uma surpresa — ela ri. — Vai ter que esperar.

— Então, porque me contou?! Vai fazer eu morrer de ansiedade! — exclamo.

Tia Susi simplesmente ri, e eu finjo cara de brava, o que a faz rir ainda mais.

— Você vai gostar de saber o que é — ela afirma. Isso atiça ainda mais minha curiosidade. Não acredito que ela vai fazer eu esperar.

Fazemos juntas o almoço, como nos dias de sábado. Tia Susi me contou que quanto mais as horas passavam ela ficava nervosa para entrevista. Tentei passar energias positivas. Eu esperava tanto quanto ela para que conseguisse.

Quando meu pai chegou do trabalho também se surpreendeu com tia Susi ali, mas ficou muito feliz com a visita inesperada. Ela havia dito a ele que a entrevista estava perto, só não disse quando era e nem que iria passar aqui primeiro.

Nos juntamos todos a mesa, para degustar a refeição que tia Susi e eu preparamos. Eu ainda estava com fome, então tive que repetir mais de uma vez.

A entrevista de tia Susi era às uma e meia da tarde, como meu pai saí mais ou menos esse horário para voltar ao trabalho, ele resolveu dar uma carona à ela.

— Fica calma, tia, você vai conseguir! — falo para ela enquanto meu pai tirava o carro da garagem.

— Que seja o que Deus quiser! — ela diz com um sorriso e me abraça antes de ir.

Vejo ela entrar dentro do carro e partir junto com meu pai. Após ele sumirem na esquina fecho a porta. Resolvo lavar as roupas e fazer uma faxina na casa, provavelmente quando terminasse tia Susi estaria de volta. E assim poderia saber o que ela estava guardando para me mostrar.

A ansiedade era tanta que ficava olhando no relógio para saber se já fazia muito tempo que tinha Susi tinha saído. Depois de um tempo dei uma pausa na minha faxina, para me refrescar, fiz um pouco de suco, peguei a jarra e um copo e levei para varanda de trás de casa, coloquei—a numa mesinha de madeira que tinha ali e arrastei a espreguiçadeira para perto. Me sentei, e senti meus ossos agradecerem, estava quente como mais cedo quando voltei da escola, porém ventava um pouco para aliviar o clima.

Eu estava aproveitando o momento de descanso. Quase caindo no sono ali, quando ouvi a voz da minha tia, ela havia finalmente chegado.

— Violet, cadê você, Violet?

— Estou aqui, tia, na varanda — falo alto para que ela pudesse escutar.

— Hm, suco, quero! — ela fala quando vê a jarra posta em cima da mesa. — Só um minuto. — Tia Susi volta com um copo e se junta a mim. Puxa outra espreguiçadeira ao lado da mesinha enche seu copo, e toma um belo gole.

— E aí como foi a entrevista? — pergunto.

— Ah, foi normal, tentei controlar o nervosismo e respondi todas as perguntas que fizerem com sinceridade. Acho que por eu já ter experiência contou muito, porém não sou a única com experiência que foi fazer entrevista, na espera, conversei com uma moça e um rapaz que disseram já ter trabalhado em outros mercados.

— Tenho certeza que a senhora se destacou — tentei ser otimista. Tia Susi sorri.

— Agora só aguardar a resposta, creio que até semana que vêm eles darão.

Assinto para minha tia com um sorriso. Se não desse certo nesse, ela poderia tentar outras vezes, uma hora ela iria conseguir.

— E você o que estava fazendo? — ela indaga.

— Eu lavei algumas roupas, e estava arrumando a casa, porém dei uma pausa.

— Eu te ajudo! Aí depois podemos ver sua surpresa — ela sorri.

— Então, vamos! — me levanto em um pulo da espreguiçadeira. Minha tia ri do meu jeito.

— Calma, deixa eu tomar meu suco primeiro! — ela ri.

Com a ajuda da minha tia terminamos rápido a faxina. Eu estava cansada, me joguei no sofá aconchegante e não levantaria dali tão cedo. Tia Susi mandou eu esperar ali que ela iria buscar a tal surpresa. Eu estava tão ansiosa que mal conseguia me conter.

Minha tia apareceu com os braços voltados para trás e sentou—se ao meu lado. Olhei para ela com um sorriso a curiosidade estampando minha face, então ela me mostrou o que escondia. Me estendeu e eu o peguei, parecia um álbum de fotos antigo. Eu a olhei em questionamento.

— Abra — ela pediu. E assim o fiz.

Me surpreendi ao ver dois jovens na primeira foto, a moça tinha os cabelos ruivos iguais aos meus. E o rapaz ao seu lado lembrava meu pai só que bem mais novo, minha boca estava aberta.

— São seus pais mais novos — minha tia fala sorrindo. Eu analiso ainda mais a moça de cabelos ruivos, era minha mãe jovem, ela se parecia muito comigo agora, na verdade eu me parecia muito com ela. Eu nunca tinha visto ela assim, eu tinha somente umas fotos que ela tirou com meu pai no hospital antes do meu parto e umas dela durante a gravidez. Meu pai me deu quando eu era pequena para me mostrar quem era minha mãe, eu tinha elas guardadas.

Virei a página e vi uma foto, tinha minha mãe, meu pai, tia Susi, meus avós paternos que já eram falecidos, inclusive tia Susi mora na antiga casa deles, onde ela e meu pai cresceram, e tinha mais dois senhores, uma mulher aparentando ter a mesma idade da minha avó, e um senhor com barba branca.

— Esses eram os pais da sua mãe — ela aponta para os dois. — Eles morrerem pouco tempo que sua mãe se foi — meu pai tinha falado deles, mas eu nunca os tinha visto.

— Onde você achou isso, tia? — pergunto do álbum.

— Estava em umas coisas de seu pai, no seu antigo quarto lá em casa — ela me diz. — Ele deve ter se esquecido, ou achado melhor deixar lá.

Olho mais algumas fotos, a maioria era do meu pai e da minha mãe. Eu fiquei contente em ver tantas fotos deles reunidas, eles pareciam se amar tanto. Minha mãe tia um sorriso tão bonito, em quase todas as fotos ela sorria.

Nesse instante que eu olhava minha mãe admirada, um carro estaciona em frente de casa. Era meu pai.

— Olá! — ele diz quando entra.

— Oi, Joseph! — Tia Susi o cumprimenta.

— Oi, pai — digo, ainda olhando o álbum.

— Como foi na entrevista, Susana? — ele pergunta para minha tia. — O que vocês estão olhando? — ele indaga se aproximando.

— Pai, você não vai acreditar, a tia Susi trouxe... — eu olho para seu rosto que estava com o olhar preso ao álbum. Seus olhos se enchem de lágrimas. Ele o pega rapidamente das minhas mãos.

— Onde você achou isso? — ele olha para tia Susi.

— Eu achei nas suas coisas, e pensei que seria uma boa ideia mostrar para ela...

— Você mexeu nas minhas coisas?!

— Eu estava arrumando, e caiu de uma caixa que estava em cima do seu antigo guarda—roupa...

Meu pai olha mais uma vez para o álbum, ele morde os lábios parecendo conter um choro. Ele se vira para subir as escadas com o álbum na mão.

— Ei, eu estava vendo — digo ao meu pai me levantando.

— Você já viu, Violet!

— Eu não terminei de ver... — falo para ele.

— Eu já te dei fotos dela!

— Mas essas são diferentes, você viu como eu me pareço muito com ela...

— Eu sei, Violet — ele diz subindo as escadas.

— Pai... — mas ele não responde dessa vez, apenas sobe as escadas com o álbum na mão.

— Deixa ele — minha tia fala. — Talvez ele queira ver sozinho primeiro, depois ele te dá. — Sento novamente no sofá, minha tia diz que hoje a janta era por conta dela e vai preparar. Eu espero meu pai descer, mas ele não desce, então resolvo subir. Devagar vou até a porta do quarto dele, abro um pouco, e sou capaz de ouvir soluços abafados dele. Ele está chorando. Meu coração aperta.

— Violet! — ele abre a porta e me encontra ali, seus olhos estavam vermelhos.

— Pai! — eu o abraço envolvendo sua cintura. Ele se afasta. E sai em silêncio, indo em direção ao banheiro. Abro um pouco a porta e vejo o álbum aberto em cima da cama, vou ligeiro até lá e noto que ele retirou uma foto, eram os dois na praia, alguém tinha tirado a foto para eles. Meu pai abraçava minha mãe por trás e eles se olhavam com paixão. Olhei o verso da foto. Tinha algo escrito.

"Meu amor por você é muito maior do que esse mar atrás da gente. Ele é infinitamente infinito. Te amarei até mesmo depois do fim."

Ass: Aurora.

Meus olhos se enchem de lágrimas emocionados. Deixo a foto no lugar e resolvo sair dali antes que meu pai volte. Me encosto na parede do lado de fora do quarto. Não sou capaz de imaginar o quanto meu pai sofreu quando ela se foi tão precocemente. E eu fui a razão da separação deles.

Limpo uma lágrima que do meu olho escorreu e fungo o nariz. Escuto a porta do banheiro se abrir e meu pai sai de lá, retorna, passa por mim e entra no quarto saindo logo em seguida.

— Você  pode ficar com ele — meu pai estende o álbum. — Mas veja—o quando estiver sozinha no quarto.

Assinto e pego sem hesitar o álbum de sua mão.

— Obrigada! — digo e já trato de ir para o quarto, sento na cama, me encostando na cabeceira. A foto que tinha visto antes, não estava mais lá, ele ficou com ela. Terminei de ver o álbum rapidamente. Estava feliz por ter visto minha mãe jovem, e encontrar tantas fotos deles cheias de paixão, porém triste por ter visto meu pai mexido com o álbum. Ele deve ter sentido grandes nostalgias. E com a data de partida da minha mãe chegando deve ser ainda mais difícil para ele, todo ano ele fica sensível e ver fotos antigas deles deve ter agravado a situação.

As vezes eu me sinto culpada pela morte da minha mãe, mas tia Susi sempre me disse para não pensar assim. Mas é difícil. Eu sei que meu pai ainda sofre calado, e vê-lo chorar me partiu o coração. Podia ter sido eu, não ela. Abraço o álbum sobre meu peito e em posição fetal, na cama, me permito chorar um pouco também.

...

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