8 - Samantha está o que?
— Não acho que ele realmente esteja com problemas, Cora. Dona Flávia teria me falado. Ela me ama. — Encaro minha amiga de rabo de olho antes de voltar totalmente a atenção para o estande de tiros de airsoft.
Lina e Cora passaram os últimos dois dias dizendo que meu humor estava insuportável. Piorou ainda mais depois da briga horrível que tive mais cedo, após a aula da faculdade, com Enzo. Realmente, uma péssima forma de começar a semana. Mas ele pediu, porra. Meu namoradinho acha que continuar mentindo é uma boa opção. Coitado. Mal sabe que está piorando a droga da situação, que já não é boa.
Depois disso, chegaram à conclusão de que eu precisava aliviar o estresse, então me trouxeram ao estande, que fica localizado em uma loja do shopping da nossa cidade.
— Ele me pareceu sincero quando disse que teve o cartão clonado. — Lina opinou, e eu dei três tiros certeiros na foto de Enzo que trouxe e pedi para o instrutor pendurar no alvo. Ou melhor, no que sobrou dela. Já estava há algumas boas horas ali, perfurando o belo rostinho de Enzo.
Passamos a droga da tarde aqui e o meu ódio sequer diminuiu. Abaixo a arma, retiro os óculos de proteção e, incrédula diante da fala, encaro minha amiga.
— Sabe o que me pareceu sincero? A madrugada que passei chorando após o meu aniversário porque Enzo não foi à boate para foder com a vadia da Samantha. — Sorrio de escárnio e coloco a arma de airsoft na bancada.
— E precisava derrubar café quente nele, Luna? — Lina questiona e eu reviro os olhos enquanto me dirijo ao caixa para pagar o longo tempo em que fiquei ali. Nem me dou ao trabalho de responder, ela não vai entender o meu lado.
— Ele nem se machucou, Lina. E a questão não é essa. O que está me deixando intrigada é como a Luna conseguiu arrancar a informação de que Enzo tinha ido se encontrar com aquela vaca do Caio. — Cora se pronuncia, e eu viro na direção das duas.
— Vocês perguntam coisas demais. Coisas que não vão mudar em nada a situação, continuarei sendo a porra de uma corna fodida. — Sorrio de ironia e as duas riem. — Mas poderíamos aproveitar que estamos aqui e tomar um milk shake. Atirar me dá vontade de ingerir açúcar. — Afirmo, e as duas voltam a me fuzilar com os olhos.
— Bryan comentou que está um clima diferente entre vocês desde aquela boate. Isso me deixou encucada. Tem certeza que não está escondendo nada? — Cora pergunta e eu reviro os olhos novamente.
— Amiga, não vai dizer que você fez uma troca de gêmeos para conseguir a resposta? — Lina sorri maliciosamente, e eu reviro os olhos. Como pode ter sido tão certeira a filha da mãe?
— Claro que não! Eu sou uma mulher leal. O Bryan que come merda. Também pode ser que o cérebro dele esteja se desfazendo de tanta porrada que levou nos jogos dos Sharks. — Agarro o braço de uma para que andemos juntas. — Afinal, goleiro, né?
Elas rebatem enquanto andamos pelos corredores do shopping, mas meu cérebro apenas ignora, porque minha mente simplesmente se desliga.
Tinha me esquecido completamente de conversar com o meu irmão sobre a droga do beijo que eu e Caio trocamos. Pelo visto, ele jogou um verde para a minha amiga, com o objetivo de colher maduro. Só não contava que ela não teria falado nada.
Confio cegamente em Cora e Lina. As duas são minhas parceiras, de verdade.
Cora é minha melhor amiga desde sempre, enquanto Lina se uniu ao nosso grupo de amigos durante a faculdade. Não me importaria de compartilhar minha pulada de cerca com o gêmeo do meu namorado em outras circunstâncias, mas quero descobrir o que está acontecendo antes. Tenho medo que isso possa atrapalhar meus planos.
E elas não entenderiam meus motivos. Eu, Enzo, Caio e Cora estudamos juntos no ensino médio. Bryan era um ano mais velho.
Sempre fui perdidamente apaixonada por Enzo. Do primeiro ao terceiro ano. Era um saco, porque sempre odiei esse sentimento sufocante e inoportuno. O pior de tudo era que ele sabia, mas não se importava.
Eu também tentava não ligar e, assim como ele, beijava diversas bocas e saía com vários caras do colégio. Tinha facilidade para conseguir quem queria; minha personalidade dominante sempre me ajudou nisso. Entretanto, havia uma pessoa que eu não conseguia: Enzo. Justamente aquele que dominava o meu coração.
Nos formamos e entramos na faculdade. Cada um seguiu para o seu curso. Só então começamos a nos envolver. Foi um ano de pura enrolação para conquistá-lo de verdade e, então, começamos a namorar. Nossa, que porcaria. Odeio a nossa história por isso, porque me considero uma mulher forte e cheia de personalidade, mas esse maldito amor me transformou em uma cadelinha cega.
E agora me encontro nessa situação deplorável. É impossível não querer vê-lo sofrendo. E vou até o inferno para...
— Ei, terra para Luna! — Cora passa a mão lentamente em frente ao meu rosto e estala os dedos. Em resposta, eu pisco algumas vezes, voltando à realidade. — Está em qual universo, mulher? Acorda para a porra da realidade, alerta vermelho, caralho.
— O que? Ham? Quem morreu? — Pergunto, extremamente confusa com a interrupção. Ainda não tínhamos chegado à praça de alimentação.
— Ninguém, mas provavelmente o Enzo morrerá em breve, tenho quase certeza. — Lina faz careta. — Aquela ali não é a sua sogra com a Samantha, Luna? — Ela aponta para duas figuras imponentes em frente a uma loja de artigos para bebês.
Minhas duas amigas permanecem em silêncio, apenas me observando enquanto ligo os pontos.
Dona Flávia, a sogra que há alguns minutos jurei que me adorava, e a loira psicótica estão rindo juntas enquanto observam as saídas de maternidade na vitrine. Filhas da puta miseráveis. Eu poderia matá-las. Mas resolvo apenas admirar a cena.
— Oh, que lindo. — Viro a cabeça de lado e sorrio amargamente. — Meu namorado vai ser papai.
O ódio sobe pelo meu corpo e me faz suar por baixo da jaqueta de couro. As mãos trêmulas contribuem para que o nervosismo tome conta do meu corpo e tenha uma atitude impulsiva. Pelo visto, a vingança terá que ser muito pior do que havia imaginado anteriormente. Apenas foder com o irmão gêmeo de Enzo não seria o suficiente diante de toda essa merda.
Acho que se não tivesse essa reação, não seria eu. Cora e Lina me conhecem bem, sabem que não engulo desaforo. A única coisa que elas jamais permitiriam naquele momento seria eu partir para cima da Samantha, afinal, a querida supostamente está grávida.
Sem pensar nas consequências, reúno todo o meu ódio e caminho firmemente na direção da dupla de cobras. Minhas amigas me seguem. Inclusive, Cora já estava ligando para Bryan e o informando da situação, mas nem presto atenção no que é dito, pois meu foco é outro agora.
Não demoro para alcançá-las. Inicialmente, não me percebem ali. Afinal, estão distraídas demais no mundinho da maternidade. Pensar nisso me faz querer vomitar nelas.
— Nossa, que lindo aquele macacão amarelo. — Quebro o silêncio e aponto, assustando-as. — Dizem que é a cor da falsidade e traição, sabiam? Combina com vocês, suas cobras. — Afirmo entre dentes. A dupla me encara surpresa. Logo depois, foco diretamente na mãe de Enzo. — E a senhora, Dona Flávia, achava que era gente boa. Mas pelo visto é do mesmo nível dessa aí.
Pelo impacto desenhado em seus rostos, ficou claro que ambas jamais imaginariam me encontrar ali. Ótimo, gosto disso: o caos. Não me apunhalaram pelas costas? Pois que aguentem até as últimas consequências. Antes que alguém mais fale, retomo a palavra.
— Mas ficar me olhando com essa cara de cu não vai explicar nada. Quem vai começar a falar, hum? Quando alguém ia me contar que o desgraçado do Enzo engravidou essa aí? — Pergunto, fazendo questão de ofender as duas na mesma frase.
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