7 - Foda-se, não preciso disso
O jogo foi intenso e serviu para distrair a cabeça, apesar da imagem da buceta molhada de Luna surgir na minha mente durante alguns momentos. Pelo menos, vencemos mais uma vez — isso que importa. Estou completamente exausto. Todas as partes do meu corpo doem. Facilmente me jogaria em uma banheira de gelo e ficaria lá até tudo derreter.
Bryan queria me arrastar para o Clube do Amor, junto aos outros jogadores do time. Também seria uma boa opção ter meus músculos tensionados massageados por uma gostosa aleatória. Seria uma ótima forma de relaxar. Contudo, meus pais insistiram em um jantar em família. Fizeram questão de que apenas eles, eu e meu irmão estivéssemos presentes.
Tive um tempinho para descansar o corpo e a mente. Mesmo que curto, foi ótimo. Nunca termina bem quando dona Flávia e o senhor Maurício decidem reunir os filhos dessa forma.
Sempre tenho que ouvir o quanto Enzo evoluiu com o passar dos anos e encontrou uma mulher decente — isso é tão irônico depois do que essa maluca me fez passar nos últimos dias.
Também costumam dizer que meu irmão está muito próximo de construir uma família e que é assim que as coisas devem ser. Que eu deveria seguir seu exemplo, ao invés de me apegar ao time da faculdade.
Como se investir na minha carreira esportiva não fosse nada.
A realidade é que eles não fazem ideia de como as coisas estão despencando no mundo perfeito inventado pelo meu irmão. Nem eu faria, se Luna não tivesse compartilhado. Portanto, prefiro continuar jogando a porra do meu futebol, estudando a merda do meu curso de Educação Física e fodendo com vadias por aí. Não estou traindo ninguém, nem me envolvendo com stalkers psicóticas.
Mas é isso, terei que encarar mais um jantar em família.
Cada um está sentado em uma ponta da mesa. Meu pai na principal, como os costumes exigem — que porra, não? —, minha mãe na outra e meu irmão à minha frente. Um silêncio desagradável toma conta do ambiente, até que dona Flávia, língua de serpente, decide falar.
— Teu irmão vai noivar, Caio. — Ela quebra o silêncio e eu engasgo com o whisky que estava bebericando. — E você, quando vai sair dessa vidinha de adolescente rebelde que chega em casa toda semana com uma tatuagem nova? — Questiona de maneira extremamente hostil, enquanto eu tusso para expulsar o líquido ardente da minha garganta. Meu pai levanta e dá algumas batidas nas minhas costas para ajudar.
Com o rosto tomado pelo tom vermelho de tanto tossir, viro na direção de Enzo, que está com um semblante indecifrável. É impossível entender o que se passa em sua cabeça nesse momento. Na verdade, não dá para compreender porra nenhuma do que está acontecendo, afinal, se Luna pudesse servir a cabeça do meu irmão em uma bandeja, assim o faria.
Por fim, meu pai se pronuncia.
— Nossa, eu realmente não esperava por isso agora. Vocês nem terminaram a faculdade ainda. Mas estou feliz pela escolha, Luna é uma garota decente. — Sorri enquanto volta ao lugar de antes, já que finalmente consegui desengasgar.
Eu o encaro de rabo de olho, tentando não permitir que o sorrisinho de deboche ao lembrar de Luna dizendo que o seduziria, caso necessário, apareça. Puta merda, nada disso faz sentido.
— A questão não é essa, Maurício. — Minha mãe o interrompe, e eu continuo fitando Enzo, que sequer consegue sustentar o olhar. Que porra está acontecendo? — Só quero saber quando Caio vai parar de brincar com a vida dele e buscar um rumo de verdade. Trabalhar em algo que não seja no time da faculdade e investir na construção de uma família. — Bate com a mão direita na mesa e me encara incisivamente.
Sorrio de maneira atrevida e passo a língua nos dentes, repetindo inúmeras vezes que não posso ser desrespeitoso com Flávia Valentine porque ela é a minha mãe. Tenho que honrá-la, não posso mandá-la para aquele lugar, apesar da grande vontade que revira minhas entranhas no momento.
— Oh, Dona Flávia. — Chamo seu nome ironicamente. — Se a senhora quiser, eu providencio um neto para a senhora hoje ainda, é só me liberar desse jantarzinho desagradável. — Afirmo e ela revira os olhos. Ignoro sua atitude e prossigo. — Mas irmão, pensei que seu relacionamento com Luna estivesse em crise. Lina estava falando que vocês estão brigados.
— Caio, o assunto aqui não é o seu irmão. — Meu pai começa a falar e eu faço questão de revirar os olhos. — A sua mãe tem razão, querido. Não acha que já deu a hora de esquecer esse sonho infantil e viver a vida de adulto?
Continuo encarando meu irmão, aguardando qualquer tipo de posicionamento vindo de sua parte. Geralmente, nesse tipo de situação, ele costuma me defender. Mas hoje, especificamente, optou pelo silêncio. Enquanto isso, meus pais continuam me encarando firmemente, aguardando algum posicionamento sobre o quase noivado do meu irmão.
Por fim, um clima insustentável preenche o ambiente e eu simplesmente ligo o foda-se de vez. Não moro mais aqui, não devo mais satisfações a ninguém. Não são eles que pagam a minha faculdade, tampouco a porra do meu aluguel.
Às vezes, esqueço por que saí dessa casa tão novo. Nesses jantares, lembro: cobranças e mais cobranças. Simplesmente não respeitam minhas escolhas. Não quero que aceitem, apenas exijo que respeitem, mas nem isso.
— Quer saber? Foda-se, não preciso disso. — Levanto e encaro minha mãe. — Dona Flávia, eu te amo muito, mas a senhora é insuportável com isso. Eu tenho 24 anos, estou muito novo para correr atrás de uma família. — Ela até tenta responder, mas não sobra tempo.
Viro a cabeça na direção de Enzo e continuo minhas críticas.
— E você, meu irmão, com certeza está escondendo algo. Não faz sentido algum um noivado, sendo que Luna, segundo a amiga, declarou guerra contra você. — "E queria foder comigo de vingança", concluo mentalmente.
Só então, após um jantar repleto de ataques gratuitos à minha pessoa, meu irmão gêmeo se pronuncia. Pasmem, me atacando. Justamente a pessoa por quem sempre coloquei a mão no fogo.
— Isso é inveja, Caio? — Ele levanta e para à minha frente. — Afinal, mesmo na casa dos 20 e ainda sem concluir a faculdade, já conquistei um emprego de verdade na minha área, tenho estabilidade e a porra de uma mulher maravilhosa que me ama. Toda a minha vida já está encaminhada, enquanto você conta com a porra da sorte. — Sorri desgostoso. Percebo raiva no olhar de Enzo e não consigo reconhecer meu irmão ali. — Cresça, Caio. Só vai entender que continuar nesse caminho de mulheres e sonhos adolescentes não dá em nada quando for tarde demais. — Conclui e eu sinto meu rosto queimar de ódio.
— É isso mesmo, meu filho. Você tem toda a razão. — Minha mãe complementa.
Decepção e raiva são as palavras que me definem neste momento. Enzo nunca se dirigiu a mim dessa forma.
Não faço ideia se ele está descontando algo em mim ou realmente resolveu mostrar as garras, mas nada justifica e eu não admito ninguém falando assim comigo.
Eu poderia facilmente quebrar tudo nessa mesa ou desfigurar a cara do meu irmão neste momento. Mas não ganharia nada em nenhuma das opções. Então, sorrio de escárnio e me refiro aos três.
— Vocês vão engolir cada palavra de desprezo quando meus objetivos se realizarem. Depois, não reclamem quando eu simplesmente me recusar a vir aqui. — Declaro e, antes de qualquer resposta, saio rapidamente desse ambiente tóxico que um dia já chamei de lar. Mas não antes de bater todas as portas.
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