41 - Ele o que?
Sinto um peso desproporcional atingir minha cabeça e não entendo o que está acontecendo. A última coisa que consigo me lembrar é da porra do ciclista me atropelando por estar no lugar errado, na hora errada. Agora muito mal consigo abrir os olhos, devido à dor que a luz me provoca e sinto que, no caso, meu corpo está deitado em uma cama nada confortável.
Absolutamente nada faz sentido nessa merda. As coisas conseguem ficar ainda mais confusas quando abro os olhos, viro para o lado e dou de cara com ninguém menos que Caio Valentine, que mantém o olhar fixo em seu celular, mas fita meu rosto assim que nota os movimentos.
— Essa porra é um pesadelo de muito mau gosto. — Esbravejo e solto um grunhido de dor. — O que está acontecendo? — Levo uma das mãos à cabeça.
Caio, que está com olheiras profundas, levanta assim que termino de falar e ajoelha na minha frente, sem esconder a animação em suas atitudes. Arqueio uma das sobrancelhas e arregalo os olhos assim que ele amarra seus lábios aos meus em um selinho rápido, porém profundo.
— Que porra, Caio! O que foi isso? — Questiono enquanto levo uma das mãos aos lábios, acariciando-os por conta da sensação que aquilo me provocou. Inúmeras borboletas sobrevoavam meu estômago, por mais que não gostasse disso.
— Desculpe, eu me empolguei. — Ele sorri e acaricia meu rosto. — Você ficou dois dias fora do ar, porra. Pensei que não voltaria mais.
— Do que você está falando? — Sento rapidamente na cama e sinto uma leve tontura.
Ao perceber a reação do meu corpo, Caio levanta e senta rapidamente ao meu lado, levando o braço às minhas costas para que não caísse.
— Você resolveu tentar matar todas as pessoas que gostam de você do coração, simples assim. — Caio fitou profundamente meus olhos. — Deu de cara no chão e precisou passar por uma cirurgia na cabeça.
Arregalo os olhos e abro e fecho a boca algumas vezes, tentando pensar no que falar sobre, mas essa informação foi muito impactante para digerir de uma só vez. Foi apenas um tombinho idiota, não consigo compreender a necessidade de uma cirurgia tão séria. Sem contar que a presença de Caio consegue me deixar ainda mais confusa, pensei que ele estivesse me odiando agora, afinal, dei motivos para isso.
Caio percebe a confusão no meu rosto e volta a acariciar minha bochecha.
— Querida, tente não esforçar muito essa cabecinha. Apenas foque no fato de que, apesar dos pesares, deu tudo certo. E eu estou aqui, ao seu lado. Quer dizer, não sei se essa parte é boa pra você... — Ele começa a falar, mas o interrompo.
— Não estou entendendo absolutamente nada, mas tenho total certeza de que sua presença aqui não é ruim, Caio. — Viro o rosto na direção dele com um sorriso preenchendo meu rosto. Ele devolve esboçando um sorrisinho.
— Fico feliz. Acho que essa porrada no chão alinhou seus pensamentos. — Brinca e eu estapeio seu braço forte. — Ai, Luna. — Caio levanta com o braço apoiado nas minhas costas. — Agora chega de conversinhas, tenho que chamar o médico, afinal, a senhorita estava em coma. E deite, não sei se pode ficar levantando a cabeça agora. — Ele me ajuda a deitar e, em seguida, sai do quarto.
Encaro a porta por onde Caio acabou de sair e respiro profundamente. A descoberta sobre a cirurgia que passei foi chocante, mas não é isso que preenche meus pensamentos agora.
O que toma conta da minha mente e me deixa completamente embasbacada é o fato de que, apesar de ter fodido sua relação com o irmão gêmeo e ter falado atrocidades sobre ele, Caio está aqui. Não é qualquer um que abre mão do orgulho para estar ao lado de alguém em seus piores momentos. E, apesar de tudo, ele fez questão de estar aqui.
Isso só me faz perceber o quanto fui injusta com o Valentine mais novo. Merda, acho que fiz uma das piores burradas da minha vida agindo feito uma puta maluca justamente com uma pessoa capaz de fazer isso por mim.
Ainda precisarei ficar nesse inferno, vulgo hospital, por alguns dias. Nada que não vá aguentar, mas a ideia de ficar trancada neste quarto sem muitas coisas para fazer é insanamente perturbadora.
De qualquer forma, este é o menor dos meus problemas, porque o médico fez questão de pontuar que quase fui de "arrasta pra cima" e que devo evitar estresses e pancadas na cabeça. Veja só, evitar estresses, logo eu! Mas é aquilo, né... posso ser caótica e revoltada em alguns momentos, mas prezo pela minha vida.
Depois que o médico saiu do quarto, para a minha surpresa, quem entrou foi Bryan. Apenas ele. Assim como Caio, sua feição é cansada. Grandes olheiras rodeiam seus olhos castanhos, o que me provoca até mesmo um aperto no peito. Sei que isso é por minha culpa.
Meu irmão se aproxima da cama e senta ao meu lado, já acariciando meus cachos.
— Nos deu um grande susto, pirralha. — Ele sorri na minha direção. — Se você morresse, eu te matava.
— Eu também te amo, Bryan. — Acaricio a mão dele em meus cachos. — Por que entrou sozinho? A mamãe não está aqui?
— Irmã, a mãe ta resolvendo questões jurídicas. Entramos com um processo contra aquele merdinha que estava fora da ciclovia. Mas isso é assunto para outro momento. — Bryan explica previamente e respira fundo. — Agora temos que comemorar o fato de você estar bem, pensamos que não fosse acordar.
— Jamais partiria por conta de um acidente tão merda quanto esse. — Sorrio.
— Ainda bem, porque tem muitos assuntos pendentes para resolver por aqui. — Bryan dá uma risadinha. — Caio é um deles. Sabia que ele deixou de fazer um teste no Vasco da Gama, sendo o favorito para entrar, para ficar aqui contigo?
Arregalo os olhos e encaro meu irmão profundamente.
— Do que você está falando? — Questiono incisivamente.
— No dia que apagou, Luna, Caio estava prestes a fazer o teste da vida dele. Só que não poderia deixar de avisá-lo sobre seu estado, foi tudo muito grave. Você literalmente querer morreu. Então mandei uma mensagem, só não esperava que ele fosse largar tudo para vir. — Explica e eu sinto algumas lágrimas escorrendo pelo meu rosto, mas não me importo com isso. — Pelo incrível que pareça, acho que conseguiu amolecer aquele coração de pedra.
— Não acredito que aquele maluco fez isso. Porra, era a chance da vida dele, pelo amor de Deus! — Falo consternada.
— E a mulher por quem ele está apaixonado poderia ter perdido a vida naquela mesa de cirurgia. — Bryan rebate imediatamente. — Acho que isso, pra ele, por mais que tivesse milhares de motivos para ignorá-la, valeu muito mais.
— Eu realmente namorei com o Valentine errado durante três anos? É isso? — Pergunto mais para mim mesma do que para ele.
— Irmã, vou te fazer um pedido muito sincero. — Ele pega uma de minhas mãos. — Deixe esse relacionamento no passado. Sei que o término é recente, mas, de verdade, isso entre você e Caio apenas vai funcionar se o seu namoro com o irmão dele virar uma memória. Sei que todo esse término foi turbulento, não precisava ter sido dessa forma e, sinceramente, você surtou arquitetando uma vingança e seduzindo o irmão gêmeo do seu ex-namorado, mas o que temos para gerenciar agora é isso. Então precisa, necessariamente, lidar da melhor forma.
Engulo em seco e fecho os olhos por alguns segundos. Não tenho o que dizer, Bryan tem toda razão.
Meu irmão percebe minha falta de resposta por simplesmente não ter o que dizer e continua seu monólogo.
— Sem contar que, durante o período em que esteve distante, algumas coisas aconteceram. — Ele fala e eu o encaro, curiosa. — Por exemplo, Lina e Enzo estão ficando sério agora.
Esboço um sorriso leve.
— Isso não me surpreende em nada, Enzo já havia mencionado que tinha interesse nela. — Respondo e Bryan arqueia as sobrancelhas.
— Estou igual a um corno, sempre sendo o último a saber. — Ele ri e balança a cabeça negativamente. — Que bom que lidou bem com isso, mas não para por aí... — Percebo um certo rubor tomar conta de suas bochechas. — Eu pedi Cora em namoro.
Arregalo os olhos e o lanço um sorriso largo.
— Não poderia receber notícia melhor que essa! — Aperto sua mão. — E ela? Óbvio que aceitou, né? — Pergunto animada, mas percebo sua feição se fechando e minha alegria se esvai.
— Ela disse que demorei demais e que agora existe uma outra pessoa... — Seu tom de voz é triste e eu o puxo para um abraço.
— Sinto muito por isso, irmão. — O abraço fortemente e ele retribu. Sinto suas lágrimas molhando minha roupa.
— Eu também, Luna. — Bryan soluça. — Eu amo essa mulher e acho que perdi a oportunidade de té-la por demorar demais... — Desabafa choroso e eu acaricio seus cabelos.
— Dê tempo ao tempo. Cora também te ama, independente de estar se envolvendo com outro ou não. — Rebato seriamente. — E o que é para ser seu, sempre voltará para você. É lei da vida, do destino. As coisas vão melhorar. — Concluo e Bryan levanta. Agora vou sair porque ela e Lina querem te ver. Caio também quer retornar ao quarto. Inclusive, ele tem passado muito tempo aqui. — Confidencia e eu sorrio.
— Tudo bem. Depois conversamos mais. — Eu falo e ele dá um beijo na minha testa. Em seguida, anda até a porta.
DIA DO ACIDENTE
Bryan, Lina e Cora estavam sentados na sala de espera aguardando qualquer atualização sobre a cirurgia de Luna. No celular, Enzo também pedia por qualquer nova informação sobre o procedimento. Por mais que as coisas entre os dois estivessem horríveis, ainda tinha um grande apreço pela ex-namorada e desejava tudo de bom à vida dela. Apenas Caio não tinha perguntado nada, mas todos sabiam que era porque ele estava no teste de sua vida, tinha motivos para isso.
Já Briana estava na delegacia. A mulher estava transtornada fazendo um boletim de ocorrência contra o ciclista que quase matou sua filha devido à falta de atenção. Mesmo que não estivesse no hospital, entrava em contato com o filho, através de ligação, a cada dez minutos.
Todos estavam apreensivos, com medo das consequências que tudo aquilo poderia gerar para a garota.
Além da apreensão, um sentimento se surpresa os preencheu ao avistarem ninguém menos que Caio Valentine, transvestido com o uniforme oficial do Vasco da Gama, caminhando pelo corredor do hospital na direção deles.
— Que merda você está fazendo aqui, Caio Valentine? — Cora pergunta, falando por todos. — Não deveria estar fazendo gols em São Januário agora?
— A mulher por quem sou apaixonado está na mesa de cirurgia, tendo a cabeça cortada. Ela simplesmente pode não acordar. Existirão outas oportunidades, mas Luna tem apenas uma. — Caio explica e senta ao lado dos amigos. — Se agissem dessa forma, talvez deixariam de sonhar com o amor ideal para vivê-lo. — Conclui, deixando o trio ali sentado pensativo.
Bryan começou a refletir sobre sua relação com Cora. Estavam nessa lenga-lenga há tempos. Imaginou se fosse ela naquela situação e até mesmo sentiu vontade de chorar. Chegou à conclusão de que não se perdoaria se ela partisse sem saber de seus verdadeiros sentimentos.
Já Cora concluiu que a vida era curta demais para esperar por um amor impossível, que aparentemente só existia em sua cabeça. Resolveu dar uma chance ao homem mais velho com quem se relacionou no aniversário dos Valentines. Ele sempre mandava mensagens, então se questionou: "por que não? Se for esperar por Bryan, vou morrer solteira".
Pela primeira vez desde que voltaram para casa, respondeu o homem.
Lina respirou profundamente e olhou para um ponto fixo, se questionando internamente se deveria ou não mandar uma mensagem para Enzo, compartilhando seu desejo de chamá-lo para sair e conversar sobre seus sentimentos. Não que estivesse apaixonada, apenas gostaria de tentar.
Lançou um olhar para Caio e percebeu uma tristeza genuína em seu olhar. Realmente... deixar pra depois pode ser o sinônimo de perder pra sempre. Então assim o fez, mandou a bendita mensagem.
— Cora, podemos conversar? — Bryan quebra o silêncio e atrai o olhar da garota. — Em particular.
— Hã... Tudo bem, eu acho. — Concorda receosa mas o acompanha assim que o mesmo levanta e segue na direção do refeitório do hospital.
Assim que o casal está distante de Lina e Caio, Bryan começa a falar.
— Eu acho que hoje, mais que nunca, podemos perceber que o amanhã pode não chegar. O destino é uma vadia suja. E, Cora, eu... eu amo você. É, eu te amo, a verdade é essa. E já passou tempo demais, sinceramente não quero mais viver um dia sem tê-la de verdade. Você quer tentar iniciar uma caminhada ao meu lado?
Cora arregala os olhos, incrédula com aquela admissão. Ela também o amava e não era de hoje. Entretanto, tinha seu orgulho e dignidade.
Bryan adiou muito isso. Ela já tentou insinuar diversas vezes sua vontade de ter algo sério, mas ele nunca aparentou se importar. Foi necessário Luna quase morrer para que o rapaz percebesse seus sentimentos. Ela definitivamente não conseguia digerir isso.
Então concluiu que melhor resposta para isso seria se resguardar do sofrimento.
— Não, Bryan. Você deixou passar do tempo, perdeu a validade. Agora tenho um outro alguém. — Explica e Bryan arqueia uma das sobrancelhas.
— Posso saber quem? — Questiona e Cora sorri ironicamente.
— Não lhe convém. Agora vamos, precisamos esperar com os outros. Atualizações sobre Luna podem surgir a qualquer instante. — Ela declara e sente o coração disparar por negar o homem que ama, mas, sem olhar para trás, caminha para o lugar de onde tinha saído.
Bryan, sem falar mais nada, a seguiu. Ele estava muito consternado.
Chegando lá, os dois sentaram-se distantes e aguardaram algum retorno do médico. Após algumas horas, finalmente uma enfermeira veio lhes dar notícias, compartilhando que a cirurgia tinha sido um sucesso e que Luna passaria a noite no CTI.
Neste momento, Enzo apareceu no hospital e andou diretamente até Lina, em quem depositou um selinho.
— É claro que podemos conversar. — O Valentine mais velho se pronuncia e Lina sorri. Em seguida, os amigos o atualizam sobre o estado de Luna.
Neste dia, todos passaram a noite no hospital, na sala de espera mesmo. Com exceção de Bryan, que dormiu no quarto com Luna.
NOTA DA AUTORA
Não passou por correção ortográfica. Peço desculpas por possíveis erros ortográficos.
Espero que gostem. Não deixem de votar e comentar muito.
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