37 - Mosca morta? No inferno

O desespero de Samantha tornava-se cada vez mais perceptível conforme seus passos em direção ao nada. A garota, seminua, andava rapidamente pela faixa de areia, sem qualquer perspectiva de lugar para ficar. Não que ela se importasse com o estado de Luna, isso, de fato, é algo que nem passa por sua cabeça. Estava preocupada, na verdade, com as consequências de seus atos, principalmente por ter sido flagrada fazendo o que fez. 

Se Enzo e Lina não tivessem chegado justamente naquele momento, poderia dizer que a garota estava delirando por ter levado um golpe muito forte. Só que a dupla testemunhou o fato, isso torna tudo mais difícil.

Já estava cansada. Andou por uma hora sem parar, mas, mesmo assim, parecia não estar muito distante. Se perguntava como isso era possível, contudo, culpava seu nervosismo. Estava tentando agir racionalmente, só que as circunstâncias não ajudavam em nada.

Ficou aliviada ao observar um quiosque abandonado. Estar de roupas íntimas em um lugar desconhecido durante a madrugada não era muito legal, sem contar que em pouco tempo o sol começaria a raiar. Seria péssimo ser flagrada assim. "Só falta me denunciarem por atentado ao pudor", ironizava consigo mesma.

Refletiu sobre o que fazer em seguida. Precisava sair daquela praia. Em seguida, precisava arrumar alguma forma de, sem ser percebida, sair da casa e fugir para algum canto que ninguém lhe encontrasse. Agora, mais que nunca, era necessário agir para livrar a própria pele. Mas e depois? Era isso que não conseguia formular. 

Tinha familiares em outros estados, mas não sabia se isso daria certo. Talvez o álcool que ingeriu escondida estivesse entorpecendo suas melhores ideias. Até que poderia ser isso, não é mesmo? 

Foi assim que, depois de longos minutos refletindo sobre como agir, o ambiente escuro do quiosque abandonado a fez tirar um cochilo. O peso em seus olhos provocado pelo cansaço foi totalmente irresistível. Samantha apagou que nem sentiu.

— Sério? Lina? — Questiono surpreso. — Nunca imaginei qualquer tipo de envolvimento de vocês. 

Já estávamos caminhando há, aproximadamente, trinta minutos. Já que não estávamos achando Samantha com tanta facilidade quanto imaginei, aproveitamos para nos atualizarmos sobre a vida um do outro.

Queria compartilhar com ele sobre como acabei me desenvolvendo sentimentos reais por Luna durante essa merda de plano. Só que, como o alvo é ele, não acredito que isso possa terminar bem. Acabamos de nos resolver, uma nova intriga não faria bem, principalmente nas circunstâncias em que nos encontramos agora. 

É necessário manter o foco. Depois que todo esse caos for resolvido e meu relacionamento com Luna for definido, talvez conte a verdade. Ou não. Quem vai definir é ela, não vou desrespeitar suas vontades. Por mais que esteja envolvido até o talo e tenha concordado com todos os detalhes sórdidos, quem formulou tudo isso não fui eu. É uma decisão que tem que partir de minha "namorada".

— Pois é, muita coisa aconteceu nesse meio tempo e nem conseguimos conversar. — Enzo explicou. — Eu vivi um quinteto amoroso. Sinceramente, não foi a melhor experiência. — Fala é dá uma risada.

— A Lina é ótima. Em todos os sentidos, se é que me entende. — Rebato com uma risadinha e Enzo me dá uma ombrada. — Estou falando sério, vocês vão se dar bem. Só não crie expectativas, ela é muito fechada emocionalmente. — Explico.

— Não sou como Luna, não saio de um relacionamento e pulo em outro. — Enzo explica e me encara. — Sem ofensas ao namoro de vocês, mas, na minha cabeça, preciso de um tempo para digerir tudo o que passamos e como essa merda terminou. 

— Cada um lida com términos à sua maneira. As coisas não estão muito bem entre nós, mas estamos juntos. — Dou de ombros, apenas imaginando no clima horrível entre Luna e eu, do qual nem conseguirmos resolver antes dessa merda toda entre ela e Samantha acontecer. — E por isso quero encontrar aquela puta o quanto antes, o que ela fez com a minha mulher não tem perdão. 

— É tão engraçado vê-lo apaixonado, Caio. — Ele ri. — Fala que Lina é fechada para relacionamentos, mas não se enxerga. Achava que não curtia ficar ao lado de uma única pessoa, mas veja só você... Realmente, alguns ciclos precisam se encerrar para outros começarem. — Reflete e eu arqueio uma sobrancelha.

— Que papinho é esse? Está chapado? — Pergunto segurando o sorriso e ele me dá outra ombrada. — Tá bom, tá bom, eu admito. Luna conseguiu tirar leite de pedra. Satisfeito? — Falo em meio a uma gargalhada.

Enzo estava prestes a me responder quando, ao passarmos ao lado de um quiosque abandonado, um barulho estranho chama a nossa atenção. Parecia algo muito próximo a um gemido.

Silenciosamente, nos aproximamos do quiosque de madeira velho e empoeirado. Paramos poucos metros à frente e meu irmão cochicha.

— Será que tem algum casal fodendo ali? — Pergunta tentando enxergar pela fresta da janela que está vedada por tábuas apodrecidas.

— Só se o casal for louco o suficiente para correr o risco de contrair uma doença que nem foi descoberta ainda. — Respondo consternado com o barulho.

Outro gemido, dessa vez mais alto, ecoa pelo quiosque. A voz é feminina e não parece ser de prazer.

— Cara, pode ser alguém passando mal. — Enzo sugere e eu respiro profundamente.

— Só espero que não seja alguma entidade maligna. — Rebato de braços cruzados. — Se eu for atacado por algum demônio por sua causa, juro que vou ficar puto.

— Você está vendo muito Supernatural, Caio. — Ele ri. — Vamos, a entrada é na parte traseira.

Acompanho os passos do meu irmão, apesar de não me sentir confortável fazendo isso. Já brincamos nesse quiosque uma vez quando éramos crianças e a experiência não foi boa. Sinto calafrios só de lembrar a sensação que foi pisar em um prego enferrujado.

Por fim, alcançamos a entrada e nos surpreendemos ao encontrar Samantha dormindo. Os gemidos foram ela sonhando ou tendo pesadelo, não sei. Mas que se foda, ela nos poupou muito trabalho ao se entregar com esses ruídos.

— Ela faz isso sempre enquanto dorme? — Pergunto ao meu irmão e ele balança a cabeça positivamente.

— Horrível, não é? — Ele cruza os braços enquanto observa a loira deitada de calcinha e sutiã. — Suportando tudo isso por conta de um bebê que nunca existiu.

Aproveito o ensejo para tirar uma dúvida que está me corroendo por dentro.

— Luna disse que você lembrou da noite com Samantha e assumiu a traição. Como tinha tanta certeza de que ela não estava grávida. — Questiono encarando-o.

— Ah... — Enzo coça a nuca. — Eu usei camisinha. — Responde e eu rebato imediatamente.

— Mas isso não garante nada, poderia estar furada.

— Caio. — Ele me encara constrangido. — Por algum motivo, não me pergunte qual, eu insisti muito para fazermos anal naquela noite. —Arregalo os olhos. — Ela aceitou. E pelo que sei, cu não engravida.

Dou uma gargalhada sincera com sua conclusão. Apesar de toda a situação ser uma merda, mas, ainda assim, meu irmão ainda consegue me fazer rir.

Contudo, minha risada acaba sendo muito estridente, fazendo com que a diaba loira que estava dormindo, acordasse.

Samantha arregala os olhos assim que nos flagra à sua frente e levanta em um pulo. Antes que ela tomasse a iniciativa de sair correndo, paro meu corpo em frente ao dela, quase colado, e lanço um sorriso ameaçador.

— Não faça o que está pretendendo, porque vai piorar ainda mais a sua situação. — Declaro enquanto tiro o celular do bolso. — A polícia já está atrás de você, vadia de merda. Aja como mulher, coisa que não faz há três meses, e venha conosco.

Dou um passo para trás, ficando ao lado de Enzo, e ela me encara enfurecida.

— Vadia? Está de sacanagem, Caio? — Ela começa a perder a linha e eu já desbloqueio o celular sem que ela percebesse, dando início à live. — Se fingi a gravidez foi para recuperar o que era meu. O seu irmão é meu, sempre foi. Vadia é a imbecil da sua namorada, que está toda fodida pra aprender a não mexer com o que não é dela.

Neste momento, viro o celular na sua direção e sorrio. Percebo que muitos comentários de alunos da nossa faculdade correndo conforme a live avança.

— Essa é a Samantha, gente. A vadia que fingiu estar grávida para acabar com o relacionamento do meu irmão e, de quebra, ainda deu uma pedrada na cabeça de Luna, para que ela não contasse seu segredinho sujo. Ah, também para se vingar, não é? — Coloco a câmera no modo frontal e sorrio. — Uma putinha barata. Agora que sabem a verdadeira personalidade dela, peço licença, porque vamos conduzi-la para a área da praia em que os policiais estão. — Concluo e encerro a live.

Diante disso, Samantha desvia do meu corpo e tenta sair correndo, mas Enzo impede ao pular de surpresa em seu caminho, fazendo-a cair na areia.

— Não, Samantha. Já fez merda demais, agora é o momento de pagar por isso. — Declara e, de maneira inesperada, pega seu corpo e atira contra o ombro, deixando sua bunda virada para o alto.

Samantha começa a se debater e socar as costas do meu irmão enquando grunhe de raiva e esbraveja.

— Isso é muito humilhante, Enzo! — Grita. — ME SOLTA! As pessoas estão olhando. — Ordena enquanto caminhamos lentamente até a parte rochosa da praia.

— Humilhante? Quem foi humilhado fui eu, que precisei dizer a todos que iria me casar com uma psicopata. — Enzo responde e eu rio. — Fez a merda porque quis, tentou aplicar o golpe da barriga porque quis. Agora engula as consequências. — Conclui e segue caminhando.

Eu ando ao lado do mesmo, pronto para agir caso Samantha co seguisse sair dali.

Não demoramos a chegar. Assim que nos viram com Samantha, os policiais correram na nossa direção e solicitaram que Enzo colocasse-a no chão. Em seguida, ela foi levada para a viatura. Mas não antes de Lina indagá-la.

— Por favor, me dê um motivo plausível do porquê não devo arrebentar a sua cara por ter feito o que fez com a minha amiga. — Trava a passagem dela e dos policiais, que observam a garota curiosos pelo que ela poderia fazer. Acho que apenas por isso não mandaram que saísse.

— Ora, ora... — Samantha, que não tem mais nada a perder, debocha. — A mosca morta decidiu agir, gente. — Dá uma gargalhada. — Você é uma piada, garota. Se enxerga.

Lina sorri de escárnio e cruza os braços.

— A mosca morta que pegou o seu "noivo", no seu quarto. Está mesmo afim de ser escorraçada, não é? — Pergunta e Samantha arregala os olhos.

A situação caótica ganha um tom diferente. Os policiais ficam boquiabertos, Enzo leva as mãos ao cabelo e eu dou uma gargalhada pela ousadia de Lina.

— Ah, sua... — Samantha tenta avançar contra ela, mas os policiais a seguram com força. — Eu vou te matar!

Lina solta uma gargalhada e, antes que os policiais afastassem Samantha por completo, soca o rosto da loira.

— Isso é pela minha amiga, vadia. Mosca morta? No inferno, só de for. — Samantha fica tonta devido ao golpe e é removida pelos agentes, que ficam surpresos com a reação, mas não falam nada.

Assim que Samantha é trancada na viatura e, em seguida, encaminhada para a delegacia, eu e Enzo encaramos Lina.

— Não esperava isso de você. — Enzo afirma e sorri. — Eu gostei. E muito.

— Agora não é hora. — Declaro, chamando a atenção deles. — Temos que correr para o hospital, Luna precisa da gente. — Defino e dou de costas para os dois. Eles me seguem.

NOTA DA AUTORA

Capítulo não foi revisado. Peço desculpas por qualquer erro ortográfico.

Não esqueçam de votar e comentar bastante, para engajarmos a obra.

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