31 - Foda-se você

Desta vez, assim que abri meus olhos, dei de cara com Caio, que estava com a perna jogada sobre a minha coxa. Vê-lo assim me desperta sensações diferentes. Nunca imaginei enxergá-lo de outra maneira a não ser como irmão de Enzo, mas agora estamos aqui, pelados e na mesma cama após uma madrugada lancinante.

Saí sem acordá-lo e fui em direção ao banheiro, onde tomei um banho. Vesti um biquíni e coloquei um short jeans por cima.

Depois, saí do quarto e segui para a cozinha, onde me deparei com Dona Flávia, senhor Maurício, Enzo, Lina, Bryan e Cora. Por algum motivo, Samantha ainda não estava ali, mas não me importei; meu corpo estava relaxado demais para isso.

— Dormiu bem, Luna? — Meu irmão pergunta assim que me sento à mesa. Encaro-o enquanto despejo café em uma xícara disposta ali. — Porque eu não.

Arqueio uma sobrancelha e, após dar uma golada na bebida quente e sem açúcar, respondo:

— Feito um neném. — Dou de ombros. — Por quê?

— Parecia um gato copulando, irmã. Tanta gritaria. — Bryan dá uma mordida no pão e Enzo ri. Sinto minha bochecha ruborizar automaticamente.

— Vocês estão com inveja. — Cora defende-me e fico muito grata por isso, já que estava tomada pela vergonha, mesmo que seja um sentimento raro para mim. — Deveriam ter transado também. Eu, por exemplo, tive uma ótima noite com o amigo da Dona Flávia. — Minha "sogra" encara Cora com reprovação, mas poupa as palavras e apenas dá uma golada em seu chá de erva-cidreira.

— Ninguém quer saber da sua noite quente, Cora. — Bryan rebate após mastigar e engolir seu pão e minha amiga sorri. Felizmente, o foco saiu de mim. 

— Você está com inveja e ciúmes. — Falo e dou outra golada. — E, nessa casa, não fui a única a transar essa noite. Não estou vendo ninguém reclamar de Enzo e Samantha. — Aponto para o meu ex-namorado, que estava quieto ao lado de Lina. 

— Porque não durou nem dez minutos o que tentamos. — Enfatiza a palavra e ri debochado. — Como se fosse possível fazer alguma coisa com aquela gritaria. A verdade é que só vocês dormiram nessa casa. Para tirar um cochilo sequer, todos tiveram que sair daqui. E estou falando sério. — Enzo rebate. O mau humor é visível em seus olhos. 

— Duvido que se fosse você na minha cama estaria reclamando agora. — Falo e me arrependo logo depois, pois meus "sogros" me fitam com os olhos arregalados.

Bryan dá um leve empurrão no meu braço para me repreender, enquanto Lina e Cora começam a rir. Para aliviar o clima, eu me pronuncio novamente:

— O que foi, é mentira?

Antes que meu ex-namorado pudesse responder, Caio surge na cozinha vestindo um calção de banho. Ele espreguiça o corpo e questiona.

— O que é mentira? 

— Antes que alguém responda, só pontuo uma coisa. — Dona Flávia se pronuncia enquanto levanta para deixar a xícara na lava-louças. — Pensem muito bem no que farão em seguida, porque dependendo, expulso todo mundo dessa casa, principalmente depois do que aconteceu ontem. Foi humilhante, um verdadeiro vexame! — Ela fala enquanto massageia as pálpebras. — Inclusive, cadê a genitora do meu neto? — Questiona raivosamente. 

— A senhora está falando da Samantha? A maluca com quem está me obrigando a construir um matrimônio fadado ao fracasso? — Enzo pergunta de volta e Dona Flávia rosna de volta.

— Não fale como se eu fosse uma vilã. Você que enfiou seu pênis sem camisinha naquela garota, eu apenas estou cumprindo o meu papel de manter a imagem dessa família limpa. — Rebate irritada. — Além do mais, se gosta de mulheres instáveis psicologicamente, isso não é problema meu. Controle-se da próxima vez. — Fala e me sinto ofendida. — Mas enfim, ela ainda está no quarto? Nós duas precisamos ter uma conversinha de mulher para mulher. 

— Está. Só não pegue tão pesado, ela já se estressou demais. Por mais que odeie isso, Samantha está grávida de um bebê meu. — Fala e encara Lina, que revira os olhos. 

Acho a troca de olhares estranha, mas ignoro, porque isso não é problema meu. Sem contar que meu estresse anterior é amenizado por duas mãos másculas que, sem aviso prévio, pousam em meus ombros e começam a massageá-los. 

Sorrio com os toques carinhosos, pois me fazem lembrar de duas frases específicas ditas por Caio durante a madrugada. "Como se entre quatro paredes tivesse espaço para egos inflados. Aqui é o único lugar em que você é minha de verdade e eu sou completamente seu, garota". 

O que ele fez comigo há algumas horas naquele quarto foi diferente do que qualquer outro já fez. Me senti... Diferente, digamos assim. Como se o pertencesse de verdade e como se esse nosso relacionamento fosse real. 

Na verdade, as coisas têm sido tão intensas que, mesmo sem querer, tenho agido como se fosse.

Caio Valentine tem um efeito diferente sobre mim. Algo que realmente não sei explicar. E ele nunca vai saber, porque não quero que sinta que tem algum poder sobre mim além do sexo.

Por fim, Dona Flávia sai da cozinha obstinada a conversar com Samantha e Caio volta a falar, me arrancando de meus devaneios.

— Tudo bem, tudo bem. — Ele senta ao meu lado. — E do que estavam falando? — Pergunta, já cortando um pão e passando manteiga. 

— Sobre o escândalo que vocês fizeram durante a madrugada. — Lina responde com um sorriso no rosto. — Gente, sério. Temos que conversar sobre isso. Se for assim todos os dias, ninguém vai dormir. 

— Quando era você no lugar dela, não tinham reclamações. — Caio rebate e eu sorrio levemente, mesmo com um frio na barriga pelas informações excessivas, por ele ter dado a mesma resposta que eu.

— Puta merda. — Bryan solta uma gargalhada. — Realmente a minha irmã tinha se envolvido com o Valentine errado. Se tivessem combinado as respostas, não teriam sido tão parecidas. — Ele conclui e Cora ri. Lina segue envergonhada. Já Enzo levanta abruptamente. 

— Vocês deveriam parar de falar como se meu relacionamento com Luna tivesse terminado há anos. Ou agir como se tudo isso fosse normal. — Bufa de braços cruzados. 

— Ah, o corninho ficou estressado. — Debocho. — Vá se foder, Enzo Valentine. Você engravida outra mulher enquanto está comprometido e ainda quer algum tipo de consideração? Ah, pelo amor, enfie o dedo no cu e rasgue. — Falo entredentes.

— E você acha que tem alguma moral? — Enzo anda na minha direção e para à minha frente. Eu levanto em resposta, não aceito ser peitada assim. — Você me traiu com o meu irmão gêmeo, Luna! No seu aniversário.

— Porque você não foi! Para estar com ela, Enzo! — Aponto na direção da sala, onde fica a escada que leva aos quartos. — Se estivesse na boate, nada teria acontecido. Mas aconteceu e agora estamos juntos, goste você ou não. — Explico.

— Não fui porque tinha acabado de receber a porra da notícia da gestação, Luna Simões. Gravidez essa que nem sabemos se é real, diga-se de passagem, até porque nem lembro de ter transado com ela. — Percebo seus olhos se enchendo de lágrimas. — E eu ia te pedir em casamento, droga! Só que agora você está com o meu irmão e nada mais faz sentido. Acha que é fácil te ouvir gemendo o nome dele, garota? Éramos nós há um mês. — Desabafa e um silêncio constrangedor toma conta do ambiente.

Bryan, Caio, Lina, Cora e o senhor Maurício nos encaram. Sinto meu rosto queimar de raiva, não esperava que ele fosse trazer esse assunto à tona.

É claro que Enzo mexe comigo, ainda o amo, de certa forma. Só que pelo que passamos juntos. O que resta pelo agora é mágoa. E muita.

— Foda-se que você ia me pedir em casamento ou que mês passado éramos você e eu fodendo. — Esbravejo. — Eu quero que pegue essa sua desculpinha barata de que não lembra e enfie no cu, entendeu bem? — Rosno, quase avançando nele. — E seu pai que me perdoe por tantos palavrões! — Encaro Maurício e ele gesticula com uma das mãos.

— Fique tranquila, gosto de uma boa lavação de roupas sujas. — Declara. — Pode continuar. — Ele estimula e eu sorrio em resposta. Meu irmão dá uma golada no café para não rir.

— Enfim... Se não tivesse rolado, não teria ouvido aqueles gemidos deprimentes de taquara rachada durante a madrugada. — Dou uma risada de deboche e imito os gemidos de maneira caricata. Ninguém resiste e todos começam a rir, menos Enzo.

Em seguida, continuo:

— Por isso está cheio de ciúmes aí. Saudades, não é? Mas vai ter que se acostumar. Atura ou surta. — Vou para trás de Caio e o abraço. — Porque eu e seu irmão nos damos muito bem em tudo, principalmente na cama.

— Você joga muito baixo. Ainda vou te provar que está errada nesses julgamentos. — Enzo balança a cabeça negativamente. — Não que nosso relacionamento tenha alguma salvação, mas quero te fazer engolir cada palavra.

— Foda-se, Enzo. — Ergo os braços em sinal de cansaço. — Darei um mergulho para espantar essa energia ruim que está emanando. — Ando até a porta e viro para ele novamente. — Antes que me esqueça, aqui, ó. — Elevo o dedo do meio.

Saio e fecho a porta. Antes de me afastar totalmente, ouço ao fundo o pai dos gêmeos falando.

Luna tem um geniozinho forte que vou te contar, hein? Por isso que gosto dela, ainda bem que Caio fez questão de mantê-la na família.

Saio rindo da declaração. Entre Dona Flávia e o senhor Maurício, o "sogrão" também é o meu preferido.


Peguei duas toalhas, minha caixinha de som e segui o exemplo de Luna. Caminho pela faixa de areia até encontrar o short jeans dela dobrado próximo ao mar. Como é uma área particular, aqui é deserto, então não corremos o risco dos nossos pertences serem furtados.

Coloco as toalhas ao lado do short de Luna e ligo minha caixinha de som na música Shape Of You, do Ed Sheeran. A animação me faz querer se exercitar e, por mais que esteja tirando uma semana de "folga", não posso voltar com o corpo frio para os testes no Vasco.

Essa é a oportunidade da minha vida.

Já com a música alta o suficiente, entro no mar e dou algumas braçadas. Apenas paro quando, por um descuido, meu corpo choca contra o de Luna.

— Ah, caralho, que susto! — Ela, que também aparentava estar nadando, esbraveja.

— Está se exercitando? — Questiono, ignorando o xingamento. — Pensei que viria apenas dar um mergulho.

Ela estica o corpo para se alongar e sorri ironicamente. Já eu inevitavelmente observo seus seios empinados se elevando conforme faz o movimento. Impossível não lembrar da madrugada intensa que tivemos.

— Seu irmão me irritou. E eu fico agressiva quando estou irritada, então prefiro gastar energia de outra forma. — Explica e eu sorrio maliciosamente, já aproximando nossos corpos e envolvendo sua cintura em meus braços.

— Podemos gastar como estávamos fazendo há algumas horas. Tem um mercadinho aqui perto, posso ver se vendem cordas. — Afirmo e ela sorri balançando a cabeça negativamente. Apesar disso, não se afasta.

— O que estamos fazendo, hein? — Luna pergunta fitando meus olhos. — Agindo como se esse relacionamento fosse real... Mesmo estando apenas nós dois aqui. — Ela encara meus lábios e eu os dela.

— Não sei o que te responder sobre isso. — Repiro profundamente e mordisco meu lábio inferior. — Apenas sei que o combinado de que não podemos nos envolver foi para o inferno. Eu te quero de novo. — Declaro e ela sorri.

— Aproveite, Caio Valentine, porque você tem três semanas de exclusividade. Serei toda sua. — Luna sorri.

— Então serei um ótimo namorado para você, Luna Simões. — Defino e uno nossos lábios em um beijo delicado, diferente dos que trocamos na madrugada anterior.

Esse tem sintonia e uma pequena dose de algo muito próximo a sentimento.

Nota da autora

Revisei, mas cheia de sono. Peço desculpa por qualquer erro. Caso encontrem atrocidades ortográficas, sinalizem kkkk

Não esqueçam de votar e comentar bastante para engajar a obra.

E aí, o que estão achando?

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top