18 - Minha mulher
— Entendo que tenham mágoas guardadas, mas é inadmissível que esse tipo de comportamento aconteça durante a viagem. — Minha mãe começa seu sermão. — Não serão apenas os seus amigos que estarão presentes, nossa família e alguns colegas de quando seu pai ainda estava na ativa da Marinha também estarão lá. Imaginem o vexame que seria uma discussão desse tipo? — Ela respira fundo e encara Luna. — Querida, sei que peguei pesado com você naquele shopping. Não fui minha melhor versão escondendo essa gravidez, mas é o meu neto. Precisa entender, por mais difícil que seja. Então, por favor, poderia evitar palavras de baixo calão dirigidas à Samantha?
Luna massageia as pálpebras e lança um sorriso ladino para a minha mãe. O ódio é evidente em seu olhar; ela sequer faz questão de disfarçar. Entretanto, Dona Flávia não se importa.
Minha mãe é uma mulher de classe, capaz de tudo para manter as aparências. Exatamente por esse motivo, implica tanto com minha carreira esportiva, sem mencionar o fato de repudiar as tatuagens pelo meu corpo.
— Desde que essa vaca permaneça distante do meu campo de visão. — Luna dá de ombros, e meu pai solta uma risadinha, atraindo um olhar mortal da minha mãe.
— O que foi? — Ele cruza os braços sobre a barriga. — Já começou muito bem, trocou "vadia" por "vaca". — Menciona o senhor Maurício e agora é a minha vez de rir.
Samantha cruza os braços e dirige a atenção para mim.
— Olha só, Caio: ninguém é obrigado a gostar de mim. Sei que ressurgi na vida de vocês como a "destruidora" de lares, mas ficar agindo no deboche não vai mudar as coisas. Sua mãe tem razão, temos que agir com classe. Então trate de colocar sua cadela na coleira. — Ela fala com um sorrisinho irônico no rosto, e eu pego na mão de Luna pela primeira vez nesse jantar. A garota até se surpreende com a atitude.
— A minha mulher não é uma cadela, Samantha. — Respondo com seriedade. — É uma pessoa que foi profundamente magoada e ofendida por você e meu irmão. — Acaricio delicadamente a mão de Luna, que evita me encarar.
Sei que ainda está irritada comigo. Eu também estaria. Mas certas coisas não devem ultrapassar limites; não quero sair ferido dessa brincadeirinha.
— E outra, não admito ofensas dirigidas à minha mulher. Todos aqui sempre acharam um absurdo o fato de não assumir um namoro, não é? — Nesse momento, Luna sorri ladino. — Pois então a respeitem. Enzo. — Dirijo o olhar ao meu irmão. — Nunca mais leve-a para um quarto trancado, está me ouvindo? Você perdeu a porra do privilégio de ter essa gostosa entre quatro paredes. Leve Samantha. Sei que ela adoraria. — Sorrio perverso.
— Ora, seu cretino! — Enzo se levanta e bate fortemente uma mão na mesa. — Mas é isso que você sempre quis, não é? Sempre desejou a Luna. Só estava esperando a porra do momento certo.
— Ei, ei, ei! — Luna se levanta e aponta para o ex-namorado, que abaixa o olhar para seus seios marcados na roupa branca. — Quem seduziu ele fui eu. Não o culpe por isso. Eu que percebi, no dia do meu aniversário, justamente quando levei um bolo, havia investido anos no gêmeo errado. — Luna me dirige um olhar sincero e ergue uma mão, para que me levante.
Prontamente, seguro e levanto.
— Pode demorar, querido. — Luna encara Enzo e depois volta o olhar à minha direção. — Mas o destino sempre nos coloca ao lado da pessoa certa.
Neste momento, senti uma vontade insana de beijá-la. E foi isso que fiz, foda-se. Juntei nossos lábios delicadamente e, em seguida, me dirigi à minha mãe.
— Fique tranquila, mamãe. Da nossa parte, não haverá brigas. — Sorrio e Dona Flávia assente. — Eu e minha mulher queremos aproveitar a casa de praia, a vista, o momento a sós.
Neste momento, Enzo se levanta violentamente da mesa e sai batendo o pé. Samantha o segue. Em resposta, Luna sorri.
— É, Dona Flávia. Seu maior trabalho será com aqueles dois. — Fala em tom irônico. — Agora, se nos dão licença, eu e meu amor vamos a uma boate. Temos que aproveitar a vida, afinal. — Declara, e eu a lanço um olhar confuso, mas permaneço em silêncio.
— Tudo bem, queridos. — Minha mãe responde. — Sei que tudo isso é muito difícil, então agradeço pelo esforço. Principalmente o seu, Luna.
Ela sorri forçadamente, agarra minha mão e me puxa na direção da saída.
— Então quer dizer que vamos à boate? — Pergunto enquanto manobro o carro e, em seguida, sigo em direção ao endereço indicado pelo GPS de Luna.
— Estou irritada com você. E com o seu irmão. — Ela desabafa enquanto encara a rua passar rapidamente pela janela. — Preciso foder com algum estranho, quem sabe isso passe.
Reviro os olhos sem que ela perceba.
— Vamos apenas eu e você? — Questiono, mantendo o foco no trânsito.
— Não. Cora e Lina também vão. Na verdade, eu as convidei. Ainda não confirmaram. — Responde imediatamente, tirando o celular da bolsa de ombro.
— E como vai se envolver com um 'estranho' tendo elas lá, Luna? — Encaro minha ex-cunhada de rabo de olho. — Esqueceu que, para elas, estamos namorando? Que ideia imbecil, porra. — Desabafo.
— Não fale assim comigo, Caio. — Luna esbraveja. — Eu estava irritada quando tive a ideia, não pensei direito. Tenho me sentido descartada por todos, droga. É errado querer se sentir desejada por alguém? — Ela me lança um olhar indecifrável.
— Ser desejada não é um problema, Luna. — Afirmo e rio, achando graça da minha situação. — Se soubesse a luta que estou travando contra mim mesmo, não diria uma merda desse gênero. — Respiro profundamente. — Só não... Só não posso me envolver ainda mais. Mas me diz, o que rolou naquele quarto? Samantha estava quase explodindo de raiva, admito que foi divertido vê-la surtar.
Luna revira os olhos.
— Você deveria parar com essa merda e viver a vida. As pessoas se envolvem umas com as outras, é assim que funciona. — Ela dá uma risadinha. — Acho que isso tudo é medo de começar a gostar de mim de verdade. — Conclui e eu dou uma gargalhada.
— E você se acha, Luna Simões. Não quero me envolver porque sei que, mais cedo ou mais tarde, você e meu irmão vão se acertar. — Faço uma expressão contrariada. — E não me respondeu. O que aconteceu naquele quarto? — Pergunto novamente, curioso.
A garota ao meu lado solta uma risadinha maliciosa. A cada três frases, uma é para me provocar. E, porra, odeio ser provocado.
— Por que, amor? — Ela continua sorrindo. — Está com ciúmes?
Desta vez, sou eu quem revira os olhos. Luna percebe minha reação e responde à minha pergunta inicial.
— Não, idiota. Ele tentou, mas não aconteceu nada. E percebi que o objetivo dele ali não era me ter, mas sim te atingir. — Dá de ombros e verifica o celular. — As meninas confirmaram.
Paro o carro em um sinal de trânsito e a encaro.
— Então teremos que fingir que somos um casal, amor. — Dou uma gargalhada. — Mas não se preocupe. Se quiser ficar com alguém, damos um jeito. Não vou atrapalhar sua diversão. — Digo e ela sorri ladina.
— Obrigada.
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