13 - Jantar em família
Vários olhares estavam queimando sobre Luna e eu enquanto caminhávamos, conversando descontraídos, pelos corredores da universidade.
Talvez a maneira como meu braço estava jogado sobre os ombros de Luna durante a caminhada ou a forma delicada com que, aleatoriamente, ela fazia questão de colar os lábios aos meus enquanto estávamos no meio de aglomerações tenha chamado atenção.
Três dias haviam se passado desde que decidimos assumir essa farsa. As piores decisões sempre são tomadas quando estamos bêbados, e a prova disso é esse "relacionamento" que estou tendo que engolir.
Me arrependi no exato momento em que cheguei ao meu apartamento e o efeito do álcool passou, dando espaço para uma dor lancinante em meu maxilar. Desde então, meu irmão e eu ainda não nos vimos e nem nos falamos. O clima em nossa família está horroroso.
O foda é que Luna e eu fomos flagrados nos pegando vorazmente no Clube do Amor. Mesmo que voltássemos atrás em relação ao namoro de mentira, Enzo me viu tocando, mesmo que por cima da calça, a buceta da mulher com quem planejava se casar. O ódio dele não diminuiria com um "término".
Mas que se foda. Ele me menosprezou e agiu como um moleque, omitindo a porra de uma gravidez e um noivado. Queria o quê? Que as pessoas magoadas não se revoltassem? Tratando-se de Luna e eu, isso é impossível.
Agora a merda já foi feita. Não posso simplesmente voltar atrás, até porque já estou envolvido até o pescoço nisso. A única coisa que me resta é, por respeito ao meu irmão, enquanto esse plano não chegar ao fim, evitar contatos físicos desnecessários.
Por exemplo: na minha concepção, esses selinhos aleatórios foram extremamente sem necessidade.
Assim que nos afastamos um pouco do grande aglomerado de pessoas, Luna senta-se no parapeito do pátio e eu me posiciono entre suas pernas, fitando incisivamente seus olhos. Ela já tinha plena consciência de que um grande esporro viria por aí.
— Que porra, Luna Simões — cochicho e olho para os lados para ter certeza de que nenhum fofoqueiro irá nos ouvir. — Pensei que o combinado era que não ficássemos trocando carícias sem propósito. Realmente é necessário ficar me beijando a cada cinco passos? — Questiono em tom de revolta. Ela revira os olhos e me lança uma risada de deboche em resposta imediata.
— Você se acha o gostosão, não é? Pelo amor, Valentine, saia desse pedestal que te colocaram. — Luna faz questão de sorrir enquanto cochicha, afinal, tem que manter as aparências e não pode dar indícios de que estamos discutindo. — Estou fazendo isso porque temos que demonstrar que somos um casal apaixonado. E outra, quem aqui demonstrou vontade de beijar alguém aqui foi você, caso tenha se esquecido.
Desta vez, quem revirou os olhos fui eu.
— Vai entrar nesse assunto novamente, droga? — Cruzo os braços. — Eu estava bêbado e aquele bar me provoca... coisas. — Explico e Luna ri. — E não seja hipócrita. Você gostou, tenho a imagem do seu rosto gravada na minha mente. — Pontuo, e ela dá de ombros.
— Não fui eu quem fez exigências sobre sexo e beijos, transarei com quem quiser, sendo você ou não. — Debocha. — Então, amor, não venha agindo como se não me desejasse e não quisesse isso. — Ela rebate com um sorriso malicioso irritantemente sexy. Porra, Luna Simões consegue ser extremamente irritante quando quer. — Inclusive, temos que falar sobre a viagem do seu aniversário.
Nosso grupo de amigos estava um caos. Bryan, Cora e Lina não paravam de falar nisso e tínhamos apenas uma semana para organizar nossas vidas, tendo em vista que ela dividiria o quarto com meu irmão e eu com a amiga dela, Lina.
O que existia entre Lina e eu não era nada sério. Não temos qualquer sentimento um pelo outro além de tesão; já conversamos sobre isso. Estávamos mais para uma amizade colorida. Íamos dividir o quarto, mas ela dormiria na cama e eu no chão. Dormir junto é algo muito íntimo.
Inclusive, ela é a única pessoa do universo que sabe sobre o interesse que eu tinha por Luna no ensino médio. Estranho o fato de não ter me puxado para uma conversa no meio dessa loucura toda. Talvez esteja pensando que minha "namorada" sinta ciúmes do que tínhamos.
Agora, Bryan ficará Cora com e Lina, Enzo com Samantha e eu com Luna. Não gosto nem de imagimar o caos que esta merda vai ser.
Estava prestes a comentar sobre o assunto quando sinto Luna pressionar os seios contra o meu peitoral. Geralmente, ela usa blusas mais fechadas, mas hoje, especificamente, escolheu uma decotada. Isso torna a atitude insuportavelmente provocativa.
Admito que senti uma forte vibração percorrer meu corpo, principalmente quando ela abraçou minhas costas e uniu a testa à minha, deixando nossos lábios a pouquíssimos centímetros de distância.
— Você não me respeita mesmo, não é? — Pergunto em tom de cochicho enquanto encaro seus lábios e já sinto meu pau duro. Luna, devido à proximidade, sente o relevo.
— Não fique tão animadinho. — Ela sorri. — Vire o rosto discretamente para a direita e repare no casal que está desfilando de mãos dadas. — Cochicha, e eu obedeço.
Excitado com a proximidade, levo o rosto ao pescoço de Luna, como se fosse beijá-la. Percebo que o movimento lhe provoca alguns arrepios e sorrio com isso. É bom saber que também causo esse efeito nela. Contudo, o foco não é esse. Viro o rosto para a direita e flagro meu irmão, de óculos escuros, caminhando de mãos dadas com Samantha.
Os dois estão sorridentes e exalam sintonia. Para alguém que jurava estar puto com toda essa situação, Enzo parecia radiante ao lado de Samantha. As mãos entrelaçadas e olhares cúmplices atestavam isso.
Essa situação apenas conseguiu deixar a minha cabeça mais confusa.
— Tampe minha visão desses dois, por favor. Não quero ser presa por agredir um corno e uma grávida. — Luna pede e eu rio. Ela realmente não tem limites.
O sorriso desaparece do meu rosto assim que percebo que o casal caminha diretamente em nossa direção. Rapidamente, abraço a cintura de Luna com mais força e uno ainda mais nossos corpos. Ela até suspira devido à pressão. Antes que me questionasse, eu esclareço:
— Deixe comigo. Não fale nada e não se solte. No pior dos cenários, eu enfio a língua na sua boca. — Puxo seu rosto para que me encare.
— De que porra você está faland...
Luna simplesmente congela ao ouvir a voz do meu irmão atrás de si. É como se tivesse perdido sua capacidade de falar.
— Bom dia, casal. — Enzo cumprimenta.
— Pensei que não estivesse satisfeito com o que está acontecendo. — Sou direto e ele me retorna um sorriso indecifrável.
— Às vezes a vida precisa nos dar um soco na boca do estômago para entendermos a realidade ao nosso redor, certo? — Ele pergunta retoricamente. Nesse momento, sinto Luna morder meu ombro e tento disfarçar a dor com um sorriso. — Então, o casal aceita conversar?
Respiro profundamente, irritado por estar envolvido nesse emaranhado de situações.
— Tudo bem, mas na primeira ofensa à minha garota... — Aperto mais a cintura de Luna e noto o olhar de Enzo fixo em nossa proximidade. O desconforto dele é evidente. — Nós vamos embora.
— Parem de enrolação, isso cansa a minha beleza e estressa o neném. — Samantha se pronuncia. — Vamos logo, mozão. — Ela dá as costas e arrasta Enzo consigo. Reviro os olhos, me afasto de Luna e a puxo delicadamente, mantendo minha atenção nela a todo momento. Afinal estamos falando de Luna Simões, nunca se sabe quando ela pode surtar.
Ver aqueles dois de mãos dadas e sorrindo me causava asco. A cada minuto, o ódio se intensificava em meu corpo, e eu apertava mais as unhas na mão de Caio, que me lançava um olhar repreensivo. Ou eu descontava na mão delicada dele ou nos rostos dos dois à minha frente. Sendo sincera, pelo meu réu primário intacto, prefiro continuar na mão dele.
Fomos andando até o estacionamento da faculdade, onde Enzo nos fez parar em frente ao seu carro. Em seguida, ele apontou para os arranhões e sorriu.
— Bela obra de arte, querida. — Comentou, e eu revirei os olhos, quase rosnando de ódio.
Estava prestes a respondê-lo de forma áspera, mas Caio, que prometera tomar a frente da situação, interveio.
— Foi para isso que nos chamou aqui, irmão? — Questionou, impaciente. — Porque, se sim, já vamos. Não há prova alguma de que foi a Luna que arranhou o carro. Se denunciá-la, sabe que não dará em nada. — Deu de ombros e ensaiou ir embora, mas Samantha, a oxigenada, tomou a palavra.
— Infelizmente temos outros assuntos pendentes. — Esclareceu. — Depois que meu mozão foi ao bar e flagrou vocês, voltou cabisbaixo. — Enfatizou a palavra. — Passamos o dia comprando roupinhas para o herdeiro Valentine, mas nada mudava o humor dele. Então, fomos à casa dos meus sogros. — Narrou detalhadamente, e eu mais uma vez revirei os olhos.
— Porra, essa sua voz de taquara rachada é extremamente irritante, Samantha. Já te disseram isso? Pelo amor de Deus, procure um fonoaudiólogo para não deixar o 'herdeiro Valentine' surdo. — Ironizei e Caio soltou uma risada contida. Percebi um breve sorriso ladino no rosto de Enzo, que logo desapareceu, cedendo espaço para ele defender a noiva.
— Não fale assim da minha mulher, Luna. Não respeita nem uma mulher grávida? — Indagou, acusador, e eu senti meu rosto queimar, apertando a mão de Caio com ainda mais força.
— Na verdade, não respeito vadias. — Respondi, sorrindo. Caio, então, puxou sua mão da minha e me abraçou pela cintura, aproximando nossos corpos. O gesto chamou a atenção de todos, e ele aproveitou para tentar encerrar o bate-boca.
— Entendo que os dois estejam irritados e magoados. Mas a fila andou, não é mesmo, amor? — Ele me lançou um olhar repreensivo, e eu engoli a raiva. — Então, Samantha, se puder ir direto ao ponto, agradeceríamos. Minha namorada realmente não se sente à vontade perto de vocês.
Samantha sorriu de forma maldosa, claramente satisfeita por ter causado discórdia na minha vida. Seu olhar transbordava de malevolência.
— Então tá... — Disse ela, acariciando o braço de Enzo. Evitei olhar, porque aquilo fazia o ciúme me consumir. — Fomos à casa dos meus sogros e contamos ao senhor Maurício, que ficou muito feliz com a notícia. Ele estranhou a feição do mozão e perguntou o que havia acontecido. Por fim, contou sobre vocês. — Apontou para nós com dois dedos.
Caio e eu nos encaramos, surpresos. Não esperávamos isso agora. Ainda não tínhamos conversado sobre formalizar o "relacionamento". Precisávamos definir algumas coisas. Mas Enzo, sempre um passo à frente, descobriu nosso "namoro" antes de tomarmos uma decisão e, agora, contou a meus ex-sogros, que voltaram a ser meus "atuais", antes de nós mesmos.
— Resumidamente, casal... — Enzo chama a nossa atenção sem esconder o tom de desdém. — Eles querem marcar um jantar em família. Estava adiando vir até vocês, mas nossos pais insistiram tanto que resolvi levantar a bandeira branca. — Ele bufa, evidentemente desconfortável com a situação. — Sabe, Luna, tenho plena consciência de que errei ao te trair. Esse bebê foi gerado enquanto estávamos juntos, sinto muito por ter sido covarde e não ter assumido isso. — Ele pontua, e meu coração acelera. — Mas temos que manter a paz, afinal, se escolheu ficar ao lado do meu irmão, o que me cabe é respeitar.
— Consequências, não é? — Cuspo as palavras a contragosto, mas sou cortada por Samantha.
— Então é isso, não é? — A noiva do meu ex-namorado pergunta, incomodada com a declaração feita por ele. — O bebê foi gerado enquanto estavam namorando, mas agora o cenário mudou, não é mesmo? — Ela corta completamente o clima. — Pois bem. Vamos, mozão. Minha aula já começou e a sua também.
A loira oxigenada puxa o braço do noivo, que dá alguns passos. Entretanto, antes de segui-la totalmente, ele compartilha uma última informação.
— Hoje, hein! — Declara. — À noite. Oito horas. — E, finalmente, acompanha Samantha.
Assim que os dois estão longe o suficiente, Caio solta a minha cintura e leva as mãos ao rosto, exasperado. A ideia de ter que lidar com os pais não o agrada. Não precisa dizer, sei disso devido à nossa última conversa.
— Que ideia de merda essa a sua, viu? — Ele começa a me criticar. — De onde tirou que seria uma boa ideia fingirmos para todos que estamos juntos? Olha a confusão agora, cara!
Começo a rir compulsivamente e Caio me fita raivosamente, como se perguntasse: "o que foi, porra?"
— Vai se foder, Caio. Sério. Não fale como se tivesse sido obrigado a aceitar. Lembro muito bem que a ideia lhe serviu perfeitamente naquele bar, inclusive quando massageou a minha buceta e beijou a minha boca em seguida. Não jogue para mim a responsabilidade. — Critico, e ele fica em silêncio. — Estávamos bêbados e deveríamos ter pensado melhor? Sim, mas o idiota do seu irmão chegou, e não tivemos tempo para isso. Então, vamos sustentar essa história até o fim. — Me afasto lentamente dele, irritada com a acusação.
O problema é que nossas personalidades são parecidas, e isso é irritante. Eu não me suportaria por uma hora sem partir para a agressão. Já Caio engole em seco e tensiona o maxilar.
Antes de seguir para a aula, viro-me na direção dele e aponto o dedo indicador.
— Me busque às oito e dez. Não quero ser pontual. Estou com raiva da sua mãe. — Afirmo e continuo andando de costas, ainda virada para ele.
— Não esperaria diferente vindo de você, amor. — Ele debocha da última palavra, e eu elevo o dedo do meio, finalmente seguindo para a minha aula.
O bom de ser estudante de psicologia é que pelo menos a aula serviria como um calmante para a minha cabeça.
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