Parte I

Lembro da primeira vez que a vi na escola, ela usava um vestido justo florido, que marcava seu belo corpo.

O vento tentava de todas as formas bagunçar seus longos cabelos loiros e ela lutava com unhas e dentes para vencer essa luta, com um sorriso lindo no rosto.

Quando a atendente da secretaria chamou seu nome, vi que este combinava perfeitamente com ela: Valentina.

Era um nome diferente, forte e belo na minha opinião, talvez se tivesse buscado num dicionário o seu significado eu tivesse ficado um pouco mais alerta, mas isso não me passou pela cabeça, ainda mais porque nunca acreditei muito que os nomes moldavam as pessoas, mas no caso dela, isso era um fato.

Ela assinou sua matrícula e depois, graciosamente, se virou para ir embora. Eu estava bem atrás dela aguardando a minha vez e quase demos um encontrão, o que eu adoraria.

Valentina sorriu e após se desculpar, saiu caminhando e eu fui seguindo o movimento do seu corpo com meus olhos, imaginando qual seria a sensação de abraçá-la.

-Aham! - fez a atendente da secretaria para me chamar a atenção. Agora foi a minha vez de me desculpar...

❤❤

Estava no 3° ano colegial, caminhando para os 17 anos.

Meus amigos me chamavam de Dan, muito mais fácil que Daniel.

Nunca havia namorado uma garota, só tinha dado uns beijos na Vanessa numa festa, uma amiga que estudava comigo desde o 5° ano em outra escola.

Acredito que ela sempre foi a fim de mim, mas eu a achava muito criançona, inclusive os beijos que a gente deu foram todos por sua iniciativa.

Não que ela não fosse bonita, era linda, só que eu estava naquela fase de curtir as amizades e nem me passava pela cabeça namorar ninguém, isso até a Valentina aparecer na escola.

Ela veio transferida de outro bairro mais afastado e, é claro, acabou caindo na minha classe.

A Vanessa percebeu, ela e a classe toda, a professora de matemática, a dona Lúcia que cuidava da limpeza, a dona Rute da merenda, vocês já entenderam né, o mundo todo percebeu que eu estava caidinho pela Valentina.

Mas minha amiga Vanessa automaticamente a viu como uma inimiga quando percebeu isso, só que em vez de ficar longe dela, fez bem ao contrário e acabaram virando unha e carne.

Eu percebi em pouco tempo que a sua intenção era fazer com que ela ficasse longe de mim, mas Vanessa estava fazendo justamente o oposto.

Ao tentar me sacanear, dizendo que eu era um safado,, que não queria nada sério, ela acabou fazendo uma excelente propaganda minha para a gata.

Vanessa, como eu disse, muito criança para seus 16 anos, não percebeu isso e acabou empurrando a Valentina para os meus braços...

Valeu Vanessa!

❤❤❤

Foi num recreio que a gente conversou pela primeira vez.

Ela estava com um jeans tão justíssimo que a deixava adorável e provocante. Não tinha um marmanjo que passasse por ali que não ficasse de olho nela.

Eu estava todo sem jeito, nem sabia o que dizer, mas Valentina foi muito legal, até demais.

O Dan aqui devia ter desconfiado de que quando a esmola é demais, até o santo desconfia, mas eu estava tão perdido naquele sorrisão dela que se ela me desse um tijolo para comer falando que era paçoca, eu acreditaria

- A Vanessa falou que já deu uns grudes em você, é verdade Danzinho?

Ahh, eu derreti ainda mais ao ouvir meu nome saindo de seus lábios no diminutivo.

- Foram só uns beijos, você sabe como é né...

- Não sei não! - disse Valentina toda melosa e colocando um dedo no meu peito - Você precisa me ensinar como é...

Eu nunca fui tímido, mas também não era atirado demais, e claro, consegui perceber que ela estava me dando uma tremenda indireta.

- Que tal a gente sair amanhã a noite pra pegar um cineminha?

Ela mostrou um lindo sorriso e piscou.

- Amanhã? Dia dos Namorados? Que romântico!

Nem tinha me ligado na data, queria era dar uns beijos nela de qualquer jeito, mesmo que fosse sexta-feira 13 e o Jason fosse sair com a gente dentro do mesmo carro, eu iria sem receio.

- Sim, eu posso lhe esperar lá na praça central, perto das 7, que acha? Topa?

Valentina nem respondeu. Chegou bem perto, consegui sentir o cheiro gostoso do seu cabelo, mesmo amarrado. Depois emendou um beijo no meu rosto, dando outra piscada. Se virou quase que dançando e foi embora, toda rebolativa.

Fiquei babando feito besta!

Amo você Vanessa!!

❤❤❤❤

Esqueci de contar que eu era o maior duro da face da Terra?

Pois é, em matéria de dinheiro eu sempre fui uma negação.

Minha mãe, dona Joana, não deixava eu trabalhar, queria que eu me formasse primeiro.

Só que minha mãe era a pessoa mais mão de vaca da face da Terra que eu conhecia. Pra arrancar dinheiro dela só com chantagem emocional, e foi o que eu fiz naquele dia.

Meus pais tinham um barzinho no bairro e nem no balcão eu podia fazer um bico, tinha que ficar com a cara enterrada nos livros.

Nesse dia em questão, que era um sábado, apareci lá como quem não quer nada.

- Então mãe, eu estava pensando em ir no cinema hoje a noite...

- Besteira! Assiste televisão!

Dona Joana sempre foi pra lá de prática, coisa de quem está acostumada a não jogar dinheiro fora.

- Sim mãe, eu até poderia, mas convidei uma menina linda pra ir no cinema...

- E ela vai pagar sua entrada?

Minha mãe devia ser comediante: as garotas não pagavam nada para os marmanjos.

Eu fiz minha melhor cara de coitado, ensaiada no espelho minutos antes.

- Oh mãe, a menina é uma princesa, nunca mais vou ter uma oportunidade destas na vida. A senhora não quer ter uma nora bonita agarrada ao seu filho?

- Prefiro feia, mas rica!

Eu comecei a rir e dona Joana riu também. Ela podia ser muquirana, mas tinha um amor muito grande por mim.

Abriu a caixa registradora e me deu 50 paus.

Eu dei um olhar enviesado e minha mãe entendeu o recado, soltando mais uma nota de 100. Eu estava praticamente rico!

- Vê se não vai fazer besteira, moleque, sou muito nova pra criar neto...

Dei um abraço e um beijo nela e prometi me comportar, com os dedos cruzados, é claro.

Amo você dona Joana!

❤❤❤❤❤

Vesti minha melhor roupa, aquela que eu usava para ir na missa aos domingos, venci a rebeldia do meu cabelo com gel e corri para a praça para encontrar a Valentina.

Sabia que ela morava afastada, então cheguei meia hora antes do combinado e fiquei ensaiando as palavras para encantá-la.

Os minutos foram passando, a meia hora passou voando e nada dela aparecer. Se ela demorasse muito, perderíamos a sessão, mas de verdade, eu não estava nem aí pra isso, nem sabia que filme ia passar, só queria dar uns belos amassos o tempo todo.

Comecei a ficar preocupado a cada segundo que passava.

Será que ela tinha perdido o ônibus? Ou será que tinha acontecido alguma outra coisa? Ficou doente, a mãe dela a proibiu de sair? Eu sei que essas coisas acontecem.

Já estava tecendo uma lista de possibilidades para me conformar quando um carrão preto parou ao lado do banco em que eu me encontrava.

Na hora não percebi direito quem eram seus ocupantes, mas em pouco tempo minha curiosidade foi sanada, quando vi uma Vanessa sorridente sentada no banco de trás agarrada a um garoto da minha idade.

A janela da frente foi baixada e reconheci a Valentina, toda maquiada ao lado de um carinha mais velho que vivia rondando a escola.

-Ó garoto - disse ela toda cheia de sarcasmo - Sabe o que vai passar no cinema?

Fiquei totalmente mudo, sem ação.

O carinha do carrão estacionou ali mesmo e os dois casais desceram e seguiram grudados para o cinema.

Valentina estava muito linda, com uma blusinha cintilante, eu tinha que admitir, e antes de sumir de vista, deu uma olhada na minha direção e cochichou qualquer coisa no ouvido do seu par.

Caíram na gargalhada e depois sumiram para dentro do cinema.

Eu fiquei ali ainda por um tempo, me sentindo humilhado demais para fazer qualquer coisa.

Aquela foi a primeira vez que eu senti vontade de matar alguém...

E pra falar a verdade, não foi uma sensação muito ruim, foi até boa, muito boa, diria que até excitante.

Odeio você Valentina!!

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