Capítulo único

Olá meus amores! Trago a vocês uma Oneshot que eu levei três meses para escrever ༎ຶ⁠‿⁠༎ຶ

Essa fic deu MUITO trabalho, então por favor, comentem bastante, pois como vocês queriam oneshot, abri mão de ter mais views e engajamento para trazer um capítulo só.

Eu simplesmente amei escrever essa obra, espero que vocês gostem tanto quanto eu, boa leitura <3

~❤️~

Kim Taehyung

— Todos vocês! Vejam o que acontece quando um vilão invade nossa cidade! — Gritou o Senhor das estrelas, o herói que protegia as pessoas dos vilões.

Sim, ele plagiou a Marvel na cara dura.

Naquele momento, Taehyung estava de joelhos diante de um enorme público, todos aplaudiam e gritavam agradecendo ao plagiador de "Os Guardiões da Galáxia" por ter salvo a vida deles, novamente. Era um pouco de exagero, não houve, de fato, um perigo, mas Taehyung precisava manter as aparências, já que ele era o antagonista daquela história. Ele havia plantado uma bomba — falsa — em um metrô e feito várias pessoas de refém, então estava sendo punido e levado a humilhação pública, como de praxe. Aquela maldita cena era tão comum que o dava nos nervos, mas foda-se, ele ganhava dinheiro com aquilo e precisava pagar o aluguel do seu covil. Porém odiava passar por aquela ladainha toda santa vez, o plagiador não poderia simplesmente resumir o discurso e jogar ele logo na cadeia para que pudesse fugir e ir para casa como todas as vezes?

— Vejam, essa é a face de um derrotado! — O plagiador voou sobre sua cabeça e todos gritaram quando as telas mostraram o rosto de Taehyung, que encenou a sua raiva.

— Eu vou voltar — Taehyung disse alto o suficiente para que sua voz soasse no microfone que estava nas mãos do plagiador. — Escrevam o que eu digo, não fui derrotado, apenas silenciado, mas ninguém jamais irá me parar!

Ele havia ensaiado aquela fala diante do espelho a manhã inteira.

Na realidade Taehyung não era o vilão em tempo integral, ele na verdade era ator, amava encenar e performar nas telas, Vil — seu codinome de vilão — era apenas um de seus personagens. Era para ele ser um herói, mas estranhamente quando o viram pela primeira vez as pessoas começaram a gritar e a correr, então o plagiador apareceu e Vil ficou com a fama de vilão. Por que gritaram quando o viram era um mistério até pouco tempo, sua roupa de super herói era foda, sua voz estava ensaiada para soar mais grave e seus poderes eram incríveis, mas aparentemente, a cor da sua roupa o tornava um vilão. Vil tinha um uniforme inspirado em Pantera Negra, seu herói favorito, o tecido era preto e tinha traços em ciano, seu físico forte e as fibras do traje o deixavam divino, mas por ser preto, todos o associaram a um vilão.

Desde quando preto representa coisas ruins? Se ele tivesse aparecido de branco as pessoas o amariam em vez de gritar e correr? Ridículo, eram uns racistas do caralho, por isso gostava de atormentar as pessoas toscas daquela cidade.

Taehyung ficou tão puto que aderiu com gosto ao posto de antagonista, e até que era divertido fazer os racistas de brinquedo, lutava com o plagiador de vez em quando, mas eram lutas nada balanceadas porque Vil era muito mais forte, por isso sempre fingia apanhar. O rosto mascarado de Vil estava estampado em diversos sites e outdoors, claro que em sua grande maioria ele estava sendo surrado pelo plagiador, mas idai? Era famoso do mesmo jeito. Conseguiu patentear — com uma facilidade estranha — o nome de Vil e tudo que tinha seu nome tinha de pagar por direitos autorais, era esse dinheiro que o ajudava quando não conseguia um papel importante. Apesar de às vezes ficar entediado porque o plagiador gastava mais tempo em arrumar o topete do que lutar, além de que seus poderes serem bem inferiores, era um emprego legal, sempre foi seu sonho ser um herói.

Mas o plagiador o dava nos nervos, era um puta narcisista chato para um caralho.

— Levem-no! — O plagiador gritou e apontou para o camburão da polícia que o levaria para a cadeia. Taehyung conseguiria sair dali segurando dois bebês, um em cada braço, mas tinha que fingir estar derrotado. — Um tempo na cadeia fará você repensar suas atitudes.

— Aham, claro! — Vil estendeu as mãos, para fingir estar sendo arrastado. Ele tinha superforça, se fizesse um movimento errado quebraria as algemas de Ródio, que eles levaram anos para encontrar e achavam que eram a sua fraqueza.

O grande "X da questão" era que o plagiador se achava incrível sem saber que Vil poderia quebrá-lo em pedaços se quisesse, às vezes Taehyung tinha vontade de partir a cara dele no meio mesmo, mas perderia o personagem se fizesse isso e todos tinham que acreditar que o bem sempre vence o mal. Fingiu estar indisposto por conta das algemas e caminhou cambaleante até o camburão, podia ver as mãos trêmulas dos policiais que o levava, mas o semblante de seriedade deles disfarçava o medo que sentiam do Vil. Quando estava dentro do camburão deitou a cabeça e dormiu, estava cansado de ficar encenando e aproveitou a viagem para descansar um pouco, foi acordado apenas quando estavam dentro do terreno da penitenciária. Sua cela era diferente das outras, não eram todas as vezes que era preso após uma luta, na maioria das vezes apenas fugia.

Não estava afim de dormir em uma cela, então fugiria antes naquele dia também.

— Identificação? — Um homem perguntou assim que pararam na recepção. Taehyung ergueu a sobrancelha pela pergunta idiota, mas percebeu que não conhecia o rosto dele, provavelmente um funcionário novo.

— Senhor das Estrelas, o plagiador da Marvel — Vil respondeu com um sorriso sarcástico de orelha a orelha. O homem arregalou os olhos e por algum motivo suas bochechas ficaram vermelhas.

Ora ora.

— Vil — estendeu suas mãos e ofereceu uma delas para um cumprimento. O homem ficou ainda mais vermelho quando viu seu sorriso galante.

— Ah... — Ele ficou sem palavras e pigarreou antes de olhar novamente para seu computador. — Cela doze, subsolo.

— Obrigado, gatinho — Vil piscou para ele antes de caminhar pelo caminho que sabia de cor. O homem hiperventilou-se e desviou o olhar.

Os policiais o escoltaram em silêncio, totalmente inquietos por estarem ao lado de um vilão mil vezes mais forte que eles. Quando chegaram ao pátio externo, Taehyung olhou para cima e viu o céu nos seus últimos resquícios de luz solar e sorriu, ainda daria tempo de procurar papéis antes de dormir, por isso parou de caminhar e usou sua super velocidade para pegar a chave das algemas. Infelizmente ele não poderia destruí-las ou os coitados entrariam em pânico se descobrissem que Ródio não é a sua fraqueza, então fingiu a sua melhor cara de indisposto e simulou dificuldade em abrir as algemas. Os policiais se desesperaram e não souberam o que fazer — até porque não podiam fazer nada — porque Vil era mais rápido, mais forte e à prova de balas, seria um esforço em vão tentar impedi-lo. Então, quando abriu as algemas, as jogou longe e novamente fingiu vitalidade.

— Vejo vocês depois — Vil sorriu e tomou impulso antes de saltar e voar para fora da penitenciária.

Sua casa ficava a quilômetros da penitenciária, por isso aproveitou a viagem para apreciar o pôr do sol enquanto sobrevoava por entre as nuvens. Após poucos minutos chegou até sua casa, que ficava escondida bem no centro da cidade, onde ninguém desconfiaria morar um vilão. Usou sua super velocidade para entrar pelos fundos sem ser visto e destrancou a porta com a senha, era assim que entrava em casa sempre, durante sua alta velocidade ninguém conseguia vê-lo com precisão, pois estava acima da velocidade da luz. Assim que entrou em casa, suspirou e retirou a máscara, respirou fundo e relaxou seu corpo completamente, sua máscara cobria quase que completamente sua cabeça, como a do Batman — sua inspiração também — e deixava somente sua boca à mostra. Deixou a máscara sobre sua bancada e estava prestes a tirar seu traje quando notou uma movimentação estranha atrás dele.

Taehyung usou sua super velocidade novamente e prensou um invasor contra a parede, tomou cuidado para não machucá-lo muito ao fazer o movimento, não queria matar ninguém, principalmente dentro de sua casa. Sua mão direita estava sobre o pescoço do invasor, que abriu a boca para respirar e colocou as duas mãos sobre seu pulso, tentando afastá-lo quando notou o que aconteceu. Taehyung arregalou os olhos ao encontrar duas orbes castanhas intensas encarando-o de maneira assustada, seus cabelos castanhos escuros e encaracolados estavam uma bagunça por conta de sua brutalidade. Já viu aquele homem na televisão uma vez, estava ao lado do prefeito comemorando a maioridade há alguns anos, fazia um tempo, seus traços estavam mais maduros, mas tinha certeza que era ele.

— N-não con-sigo res... — Ele disse com dificuldade e seu rosto ficou vermelho, foi quando Taehyung notou que estava usando mais força do que o necessário.

— O que está fazendo na minha casa? — Perguntou ao soltá-lo. O homem respirou fundo e levantou o olhar para encará-lo enquanto se recuperava.

— Você definitivamente não é soca fofo, né? — Perguntou ao massagear o pescoço.

— O que? — Franziu o cenho. — O que o filho do prefeito faz na minha casa? — Perguntou novamente e notou que não estava com sua máscara. — Porra!

— Meu nome é Jungkook — ele respondeu. Mas Taehyung estava entrando em paranóia agora que alguém havia descoberto sua identidade.

Sua vida pessoal estaria acabada se descobrissem sua identidade, ele não conseguiria mais trabalhos e certamente seria perseguido onde fosse. Sua paz estava condenada e tudo porque quem descobriu seu segredo era justamente o filho do prefeito, o homem que desembolsava rios de verba pública para o plagiador agir como o protetor da cidade. Taehyung andou de um lado para o outro com a mão sobre o queixo, enquanto era observado atentamente pelos olhos curiosos de Jungkook, que não se moveu nem um centímetro de onde estava. Precisava dar um jeito de calar ele, não poderia deixar sua vida acabar daquela maneira, nunca esteve em seus planos misturar suas duas identidades e realidades, ele como Vil não era como Taehyung, prezava por sua liberdade de ir e vir de onde quisesse, se todos soubessem sua identidade perderia tudo.

— Puta que me pariu — xingou e olhou para Jungkook. — Por que caralhos você está na minha casa?!

— Eu entrei com a senha — ele respondeu simplista, o que fez uma ruga surgir na testa de Taehyung imediatamente.

— Como você sabe minha senha?

— Eu segui você durante seis meses até te encontrar e consegui descobrir sua senha depois de te observar — Jungkook respondeu com um sorriso enorme. Taehyung o encarou em choque, aquele homem não batia bem das ideias e agora todo o seu futuro dependia dele.

— E se eu matá-lo? — Falou consigo mesmo enquanto caminhava de um lado para o outro pensando no que fazer, não podia deixar sua vida acabar desse jeito, mas também não podia simplesmente matar o filho do prefeito, pois ele se tornaria um vilão de verdade. — Ai porra! O que eu faço com ele?

— Não precisa me matar, eu vim negociar com você — Jungkook deu um passo a frente, que chamou novamente atenção de Taehyung.

— Negociar?

— Sim, tem algo que eu quero muito, mas não é algo que eu consiga comprar — ele respondeu com um sorriso.

— Espero que você não tenha invadido minha casa para me pedir por alguma droga alienígena — colocou as mãos na cintura, muitas pessoas achavam que ele era de outro planeta, já ouviu muitas coisas.

— Não, não é nada disso — Jungkook negou com a cabeça. — Em troca de não revelar a sua identidade você vai me ajudar a conquistar o meu objetivo.

— Isso não é um negócio, é uma chantagem — arqueou uma das sobrancelhas e Jungkook pareceu ponderar.

— É verdade, isso é uma chantagem — respondeu com um sorriso pequeno.

— Você sabe que eu posso te partir no meio como se você fosse um fósforo, não sabe? — Perguntou e Jungkook assentiu.

— Eu sei que você pode fazer isso, mas você não vai — ele disse com tanta certeza que Taehyung arqueou ainda mais a sobrancelha. — Se você quisesse me matar, já teria feito isso. Você não mata pessoas Vil, é um vilão, não um assassino.

— Você me subestima demais.

— Então me mate — Jungkook abriu os braços. Taehyung o encarou com perplexidade antes de praguejar.

— O que você quer? — Perguntou vendo o sorriso dele aumentar exponencialmente.

— Quero que você finja que me sequestrou para que o Senhor das Estrelas venha me salvar! — Jungkook disse com um sorriso tão grande que faltava até pular de alegria.

— Você está me zoando, né?

— Não, por que? — Perguntou confuso.

— Você invadiu a minha casa e está me chantageando para que você seja salvo pelo plagiador? Que ideia de merda!

— Mas é perfeito! É o romance dos meus sonhos — ele disse como uma criança sonhadora. — Eu sou o filho do prefeito que foi sequestrado pelo vilão e o herói veio me salvar das garras dele, todo herói fica com o mocinho.

— Você anda lendo quadrinhos demais — Taehyung respondeu com ceticismo.

— Mas vai dar certo, só faça o que eu digo e em breve eu estarei namorando o Senhor das Estrelas.

— E a Gamora tá sabendo disso? — Perguntou irônico e Jungkook fez um bico emburrado.

— Você vai fazer ou não? — Perguntou depois de cruzar os braços.

— E eu tenho escolha? — Suspirou e Jungkook sorriu novamente. — Mas já te aviso que se vazar minha identidade eu acabo com você, existem coisas muito piores que a morte.

— Eu sei, não se preocupe, eu não irei vazar a sua identidade — seu sorriso não diminuiu. — Mas é uma pena, sabia? Se as pessoas soubessem que esse é o seu rosto por debaixo da máscara você seria muito popular.

— Isso iria prejudicar meu trabalho — virou-se de costas, caminhou até o sofá e se jogou sobre ele. Junto a um suspiro cansado chamou Jungkook. — Vai, me conta aí seu plano para a gente acabar logo com isso.

— Então, é o seguinte... — Ele começou de maneira animada e caminhou até a poltrona que havia de frente para seu sofá. Seus olhos brilhavam em expectativa. — Você vai aparecer em público de alguma maneira e dizer que me sequestrou para ganhar uma recompensa do meu pai, nisso eu tenho certeza que meu velho vai correr até o Senhor das Estrelas e pedir para ele me salvar. Daí vai ter uma luta entre vocês e você vai perder, o Senhor das Estrelas vai me levar para casa e eu finalmente vou ter minha chance de ouro de conseguir um beijo dele.

— Não seria muito mais simples se você fosse até alguma boate? — Taehyung perguntou com o cenho franzido. — Tenho certeza que o plagiador vai quase toda noite dormir com alguma fã dele lá.

— Acha que eu já não tentei? — Suspirou e encostou as costas na poltrona. — Como você disse ele sempre está acompanhado de alguém, nunca consigo me aproximar muito porque ele sempre está rodeado de pessoas.

— Como sabe se ele gosta de homens? — Perguntou curioso. Em todo o seu tempo como vilão nunca o viu acompanhado de um homem.

— Eu não sei, nunca consegui me aproximar o suficiente para descobrir, mas agora eu terei uma oportunidade — seu sorriso aumentou, enquanto Taehyung o encarava com uma cara perplexa.

Jungkook era um fanfiqueiro e tanto.

— Inclusive — ele chamou a atenção de Taehyung novamente. — Você é hétero?

— Está atirando para todos os lados, hein? — Taehyung riu e Jungkook arregalou os olhos.

— Não é isso! É que vocês são seres super desenvolvidos, então estava me perguntando se há chance do Senhor das Estrelas gostar de homens também — explicou e aquilo o deixou pensativo.

— Hm... você está certo, somos seres super desenvolvidos, eu pelo menos estou bem resolvido com minha sexualidade — ponderou sobre o assunto. — Mas eu cresci entre todos os preconceitos dessa sociedade merda, então acho que o fato de ter poderes não interfere nisso, um grande exemplo é o plagiador, que apesar dos poderes é um merdinha narcisista pra caralho.

— Ei! — Gritou com uma careta.

— Você verá isso por si próprio, ele é o pior tipo de ser humano que tem — revirou os olhos. — Ele sempre soube que eu não sou um vilão, mas é conveniente para ele que eu seja.

— O que? — Perguntou confuso. — Você não é um vilão? Como assim?

— Inicialmente era para eu ser um herói, sonhei com isso desde pequeno, usar meus poderes para ajudar as pessoas — Taehyung iniciou. Jungkook já sabia de sua identidade, não faria mal deixá-lo saber a verdade sendo que já sabia seu segredo de qualquer maneira. — Assim como todos os heróis dos quadrinhos, fiz meu traje e planejei a minha estreia como super herói. Há três anos eu surgi dos céus e aterrissei no centro da cidade, eu estava usando meu traje feito a mão e minha máscara, as pessoas gritaram e correram, fiquei bons minutos parado sem entender, tentei conversar com alguém, mas todos correram de mim como se eu fosse o próprio diabo.

— Por que fizeram isso sem ao menos falarem com você? — Jungkook perguntou com o cenho franzido.

— Fiquei pensando nisso também, depois que o plagiador chegou, tentei falar com ele, mas adivinha? Ele atirou um carro na minha direção e como defesa, o joguei longe, acabando por acertar a fachada de uma loja — Taehyung estava com um olhar distante, encarando o tapete de sua sala enquanto falava. — As pessoas gritaram ainda mais e o plagiador veio para cima de mim novamente, eu sequer tive a chance de me explicar.

— Mas você sequestrou pessoas, plantou bombas e aterrorizou todos da cidade por três anos...

— Fiz isso depois de aceitar o meu papel, é isso o que eu faço, atuo — Taehyung o encarou. — Queriam que eu fosse um vilão, então virei um, mas nunca machuquei ninguém.

— Por que aceitou? — Jungkook perguntou com o rosto banhado em seriedade. — Por que deixou que todos pensassem que é um vilão?

— Sabe o porque acham que eu era uma pessoa ruim? Levei um tempo para descobrir, porque isso nunca tinha acontecido comigo, mas acontece com muitos outros — Perguntou e Jungkook negou com a cabeça. — Eu chuto que é racismo.

— Racismo? Com você? — Franziu o cenho. Era realmente estranho, mas descobriu após uma extensa pesquisa que o racismo não alcançava somente pessoas negras.

"Era um preconceito, discriminação ou antagonismo por parte de um indivíduo, comunidade ou instituição contra uma pessoa ou pessoas pelo fato de pertencer a um determinado grupo racial ou étnico, tipicamente marginalizado ou uma minoria."

— Qual é a cor da minha roupa? — Olhou no fundo dos olhos de Jungkook. — E qual é a cor da roupa do plagiador? Vê? Me associaram a um vilão pelo simples fato de eu vestir preto, porque na cabeça problemática deles, é lógico que os vilões usam roupas escuras. Podem me dizer que é apenas senso comum de que a cor preta representa obscuridade, e a cor branca paz, mas pra mim, é puro racismo estrutural. Não sei se estou errado nisso ou não, mas o fato de sequer terem me dado a chance de me explicar me dá a liberdade de fazer o mesmo.

— Ah — Jungkook respondeu com uma expressão entristecida.

— Foi um jeito bem triste de descobrir que eu não seria um herói, estava preparado para tudo, menos para isso — Taehyung encostou a cabeça em seu braço e deitou-se de barriga para cima. Acabou rindo da situação logo em seguida. — E eu achando que o máximo de preconceito que eu sofreria seria a xenofobia dos Americanos, eu estava preparado para apelidinhos como Superman da Shopee ou Made in China quando a notícia da minha aparição se espalhasse.

— Eu sinto muito — Jungkook disse com um olhar de condescendência.

— Não tem que se desculpar, se meu traje não fosse inspirado em Pantera Negra, eu jamais seria capaz de entender o quão merda é a nossa sociedade, levei isso como um aprendizado por conta da minha cegueira a realidade — deu de ombros. — Já que não posso ser um herói, serei um vilão e viverei minha vida sabendo que não ajudei pessoas tão horríveis.

— Mas sabendo do que sabe agora, você seria um herói incrível.

— Talvez sim, mas sinceramente? Perdi a fé nessas pessoas, se não por um preconceito, por dois ou três que virão também — suspirou. — Prefiro ficar na minha e ganhar meu dinheiro sem machucar ninguém, todos se beneficiam, vocês ganham um show e um super herói bostinha, eu ganho dinheiro e diversão. Está de bom tamanho para mim.

— Por que você o chama de bostinha, plagiador e daí para pior? — Jungkook perguntou e atraiu a atenção de Taehyung. — Fora o fato de ele ter seguido a onda e achado que você era um vilão, há outros motivos?

— Vários — riu. — Você vai namorar um narcisista mulherengo, aquele idiota só liga para a fama, dinheiro e as mulheres que ele vai conseguir pegar enquanto lutar comigo. Ele se ama mais do que qualquer um.

— Talvez ele goste de homens... — Murmurou com um bico.

— Hm, tá, eu não ligo — deu de ombros. — Mas então, ainda vai querer seguir com seu plano? Mesmo sabendo que o plagiador é um babaca?

— Você diz isso, mas eu não consegui trocar muitas palavras com ele, gosto de tirar minhas próprias conclusões do que dar ouvidos a boatos ou fofocas contadas por outras bocas — Jungkook cruzou os braços.

Ou seja, ele vai continuar.

— Tudo bem, você que sabe, mas já te aviso que você vai quebrar a cara — Taehyung colocou os pés sobre o sofá. — Quanto tempo vai durar esse sequestro falso?

— Talvez um mês? — Jungkook fez uma expressão pensativa.

— Um mês?! Para que tudo isso? — Perguntou com uma careta.

— Eu costumo fugir da casa do meu pai de vez em quando, então para ele estranhar e me dar como desaparecido precisa de um tempinho maior — abriu um sorriso culpado. — Prometo que será somente um mês, quando o tempo acabar irei te recompensar generosamente.

— De quanto estamos falando? — Taehyung o encarou com curiosidade.

— Que tal dez milhões de wons? — Ele perguntou e Taehyung arregalou os olhos. Um sorriso enorme surgiu em seus lábios antes de se aproximar e segurar a mão direita de Jungkook.

— Bem-vindo, sinta-se em casa! — respondeu e arrancou uma gargalhada de Jungkook. — Bem, agora que temos um acordo, irei tomar um banho, você trouxe roupas?

— Hã... não? — Jungkook o encarou com a sobrancelha erguida. — Que tipo de vítima de sequestro leva uma mala? Iriam achar que eu fugi de novo, nem mesmo meu celular trouxe comigo.

— Hm, até que você é inteligente — Taehyung disse com um sorriso. — Por dez milhões eu deixo você vestir minhas roupas, mas vou comprar algumas cuecas para você amanhã.

— Agradeço — respondeu um sorriso.

Taehyung retribuiu seu sorriso e virou-se para se desfazer de suas botas, as deixou próximas a entrada da sua lavanderia. Já descalço, deslizou seu traje pelos braços, querendo se livrar da peça o mais rápido possível, o material era bastante elástico, então era fácil de ser colocado e retirado, mas incomodava um pouco se ficasse muito tempo com ele. Era costume chegar em casa e se despir completamente e quase fez isso novamente, estava com o traje nos quadris quando lembrou-se da presença de Jungkook e virou-se para encará-lo. Viu o olhar dele devorá-lo de cima a baixo, por conta dos treinos intensos que fez, seu físico era bastante tonificado, ele não precisava cuidar bem de sua alimentação ou ter uma rotina de exercícios para que o traje de super herói ficasse bonito em seu corpo, erguer carros e correr na velocidade que corria já era o suficiente. Amaciou seu ego ver um olhar tão descarado em cima dele, por isso sorriu ladino.

— Gostou da visão? — Taehyung perguntou e Jungkook pareceu acordar de seu transe, suas bochechas ficaram vermelhas, ele desviou o olhar de seu abdômen e manteve o contato visual.

— Você não usa nada por baixo do traje? — Perguntou com os olhos brilhando em curiosidade e vergonha.

— Quer descobrir? — Taehyung perguntou e brincou com o cós da parte inferior do traje. O abaixou um pouco para que Jungkook visse as entradas que levavam a sua virilha.

— Não sabia que você era piadista, Vil — Jungkook cruzou os braços com uma expressão séria, mas o rubor em suas bochechas o denunciou.

— Taehyung — respondeu com um sorriso. — Vil é o nome do meu personagem, já que estará aqui pelas próximas quatro semanas, me chame de Taehyung.

— Tudo bem — ele assentiu e sorriu.

— E só para sanar a sua curiosidade, sim, eu uso cueca por baixo do traje — o sorriso em seus lábios era puramente provocativo. — Apesar de elástica e bem resistente, não seria legal deixar meu conteúdo solto.

— Hm — foi o que ele respondeu, o que arrancou uma risada de Taehyung.

— Sinta-se em casa enquanto eu tomo um banho — disse ao caminhar até o banheiro.

(...)

— Ok, a próxima cena é do Lee pulando do penhasco — o diretor falou com o roteiro em mãos. — Tudo o que você precisa fazer é correr e pular, balance as pernas e os braços para deixar para deixar mais natural.

— Certo — Taehyung concordou enquanto a maquiadora fixava a peruca em sua cabeça.

— Lembre-se, você está fugindo dos bandidos, então corra como se sua vida dependesse disso e não hesite em pular — o diretor lhe entregou o script, para que ele pudesse ler. — Vai ter uma equipe para tirá-lo da água e cabos de segurança presos em seu corpo para que você não se machuque na queda.

— Tudo bem — Taehyung assentiu enquanto lia o que precisava fazer na cena.

Taehyung estava participando da produção de um grande filme, com um ator super popular de uma franquia mais popular ainda, infelizmente ele não conseguiu um papel consolidado no filme, mas conseguiu ao menos fazer parte do projeto. Ele era o dublê do personagem principal, o ator estava sofrendo com uma hérnia de disco, então grande parte das cenas de ação era Taehyung que fazia, como aquela que iria fazer agora. Como não tinha uma empresa ou um empresário para gerenciar sua carreira como ator, não conseguiu grandes papéis, fez alguns trabalhos em comerciais e modelou para algumas marcas de produtos de beleza, mas nada grande o suficiente para dar um salto em sua carreira.

Aquele papel apesar de não ser o principal, lhe renderia uma quantia suficiente para não ter que trabalhar pelos próximos quatro meses — junto do dinheiro que recebia da imagem do Vil — então mesmo que não fosse o papel principal, para ele naquele momento era suficiente. Estavam colocando os equipamentos de segurança em seu corpo, como os cabos ligados ao guindaste que iria içá-lo e impedir que atingisse a água de maneira perigosa, mesmo que aquilo não o machucasse nem se quisessem. Quando todos os aparelhos de segurança estavam prontos, Taehyung se colocou na posição, o lugar era terroso e teria que tomar cuidado para não escorregar ou derrapar e estragar a cena.

— Cena do penhasco, take um! — Uma moça gritou com a claquete de filmagem em mãos.

— Ação! — O diretor gritou.

Taehyung dobrou os joelhos e tomou impulso, correu o mais rápido que conseguia sem levantar suspeitas de seus poderes, sabia que a cena seria gravada com o foco em suas pernas e costas, por isso contraiu os músculos e levantou o máximo de poeira que pudesse ao correr. Estavam em uma região montanhosa de Seul, o clima estava ensolarado, mas por conta da altitude fazia um pouco de frio onde estavam, por isso se preparou para encontrar a água super gelada, quando chegou a ponta do penhasco, Taehyung pulou sem hesitação alguma, como instruiu o diretor de cena. Amava sentir o frio na barriga de estar no ar, estava acostumado com a sensação, não sentia sequer uma gota de medo.

O guindaste diminiu a velocidade da queda, por isso balançou os braços e as pernas devagar como foi instruído a fazer, quando estava próximo da água esticou seu corpo e mergulhou. Como suspeitou, a água estava muito fria, então quando voltou à superfície, o frio o tomou por completo, apesar de sua pele ser mais forte que um aço inoxidável, ainda sentia frio e calor como todos os seres humanos comuns. A equipe estava pronta para tirá-lo da água, por isso não ficou submerso por muito tempo, mas mesmo assim, as roupas agarraram em seu corpo e o frio deixou seus dedos dormentes. Teve que regravar a cena mais duas vezes, por conta dos ângulos e erros da equipe de filmagem, mas não reclamou, apenas fez seu trabalho, recebeu seu dinheiro e foi para casa. Passou alguns minutos no ônibus sentindo seu corpo aos poucos aquecer com seu casaco.

Poderia apenas voar para casa ou usar sua super velocidade, mas quando estava como Taehyung não se arriscava por bobeira, por isso quando o ônibus parou, ele desceu e caminhou por poucos minutos até estar em casa. Poderia ter ido no transporte fretado da equipe, mas eles ficariam filmando até tarde e Taehyung queria chegar em casa o mais rápido o possível para descansar, passou o dia pulando de penhascos, precisava de um bom descanso. Quando enfim chegou em casa soltou sua mochila no chão e suspirou, porém foi surpreendido por um cheiro muito bom de comida, após alguns segundos de confusão lembrou-se que agora dividia a casa com outra pessoa. Quando caminhou até a cozinha encontrou Jungkook cozinhando, ele estava cantarolava distraidamente enquanto mexia algo na panela.

— Ah, oi Taehyung — ele o cumprimentou com um sorriso.

— Oi — respondeu enquanto se aproximava do balcão, para ver o que ele fazia. — Quem diria, o filho mimado do prefeito sabe cozinhar?

— Pois é, ao contrário do que o meu pai queria, eu fiz faculdade de gastronomia e vários cursos de culinária, tudo isso com uma bolsa de cem por cento — ele dizia tudo com um sorriso enorme nos lábios. — Eu amo cozinhar, faço isso desde pequeno.

— Hm... E qual iguaria culinária você está cozinhando agora? — Taehyung perguntou sentindo sua barriga roncar.

— Gosta de comida brasileira? — Perguntou com um sorriso.

— Nunca comi — confessou, sequer se lembrava de algum restaurante brasileiro próximo de onde ele morava.

— Eu amo a cultura brasileira, principalmente as comidas, os brasileiros são incríveis inventando refeições e melhorando as que já existem — ele explicou e virou a panela para que pudesse ver o que tinha lá. — Estou fazendo uma farofa.

— Farofa? — Perguntou confuso.

— Uhum, é um prato de acompanhamento que vai farinha, manteiga e algumas carnes picadas.

— E de prato principal?

— Arroz com suã — ele abriu um sorriso enorme. Taehyung retribuiu seu sorriso, mas não tinha ideia do que era aquilo. — Eu comi arroz com suã quando fui em Minas Gerais no Brasil, simplesmente o prato mais gostoso que eu já comi na minha vida.

— Pelo cheiro eu tenho certeza que você tem razão — admitiu ao respirar fundo, o cheiro na sua cozinha estava divino.

— Acredita que é um prato simples? Que as famílias brasileiras fazem no almoço do dia-a-dia? Não é nada elaborado ou chique, mas é muito gostoso.

— Como você está cozinhando isso? — Taehyung perguntou com o cenho franzido. — Nunca comprei nenhum desses ingredientes e nem me lembrava que tinha panelas em casa.

— Comprei os ingredientes por delivery, e verdade seja dita, suas panelas viraram um condomínio de aranhas — Jungkook o encarou com uma expressão desacreditada. — Há quanto tempo você não limpa os armários?

Precisa limpar os armários? — Franziu o cenho, estava claramente brincando, mas raramente fazia uma faxina em casa.

— O que você come diariamente? — Ele perguntou chocado.

— Normalmente eu faço algum lanche natural, peço comida por delivery ou como junto a equipe que eu estiver trabalhando — explicou pensativo, nunca parou para questionar seus hábitos alimentares, mas dizer em voz alta mostrava que era uma merda.

— E como é que você parece tão saudável? — O olhou de cima a baixo.

— Sabe quantos carros o plagiador já jogou em mim? Quantas vezes tive que destruir cofres ou correr? É um exercício constante ser um vilão — disse com a voz carregada de deboche. — Eu não fico doente ou algo assim, minha única desvantagem é que eu gasto muita energia para usar meus poderes, então bate a larica depois. Não importa o que eu coma, meu corpo não retém gordura, porque elas são reservas de energia e eu estou constantemente esgotando as minhas.

— Então você é incansável, esfomeado, forte, rápido, tem a pele indestrutível e voa? — Perguntou e Taehyung foi ticando suas habilidades em uma lista na sua cabeça.

— Sim, e eu tenho os sentidos apurados também.

— Qual é a sua fraqueza além do ródio então? — Perguntou enquanto mexia a panela.

— Quer saber para contar para o seu namoradinho plagiador depois? — Curvou uma das sobrancelhas.

— Não, claro que não — respondeu sem olhá-lo nos olhos, o que dizia que sim, ele iria contar.

— Para a sua grande tristeza, eu não tenho uma fraqueza, nem mesmo o ródio, eu simplesmente pesquisei algum elemento aleatório da tabela periódica e vazei a informação — respondeu com um sorriso ladino e Jungkook arregalou os olhos.

— Você deveria ser classificado como risco à Segurança Mundial...

— Não me importo o suficiente com as pessoas para causar um mal tão grande — deu de ombros.

— Ah, verdade, você disse que é vilão por hobbie — Jungkook desligou o fogão. Quando deixou a panela de lado, o encarou, a seriedade brilhava em seus olhos. — Mas você se tornaria um vilão de verdade por algum motivo? Você é um ser extremamente poderoso, o que o impediria de se vingar caso alguém lhe causasse algum mal?

— Sua pergunta é se eu me converteria em um vilão de verdade em algum momento? — Perguntou e Jungkook assentiu. — Como eu disse, não me importo o suficiente com as pessoas para fazer isso, mas talvez se houver um motivo plausível, sim, eu me tornaria um vilão de verdade.

— Que motivo seria plausível?

— Ah, sei lá, se maltratarem a minha mãe ou ameaçassem a segurança dela — deu de ombros e Jungkook assentiu.

— Entendi — ele concordou e levou a panela com a farofa até o balcão, a colocou ao lado da outra. — Bom, o jantar está pronto, espero que você goste.

Seu estômago roncou alto como se estivesse esperando sua deixa, foi rapidamente até os armários e pegou dois pratos, entregou um deles a Jungkook, que instruiu que deveriam comer aquela refeição com colher ou garfo, por conta da consistência da comida. Quando enfim Taehyung se serviu, colocou uma montanha de comida e sentou-se de frente para Jungkook, que estava sentado do lado oposto do balcão. Quando levou a colher cheia de comida até sua boca, Taehyung não esperava sentir uma explosão de sabores, os temperos, as texturas, a temperatura, tudo estava simplesmente incrível, tanto que não conseguiu conter o gemido ao mastigar. Os olhos de Jungkook estavam atentos, ele capturava todas as suas reações e as analisava, quando notou que havia gostado um sorriso surgiu em seus lábios.

— Puta que pariu, Jungkook! — Taehyung gemeu novamente e levou mais uma colherada para a boca. Sequer ligou se estava de boca cheia, precisava expressar o que sentiu a comer. — Não sei se é o seu tempero ou o prato, mas essa é a comida mais gostosa que eu já comi na minha vida!

— Fico feliz que tenha gostado — seu sorriso quase não cabia no rosto e suas bochechas estavam levemente coradas, ele parecia inseguro antes, mas agora expressava apenas pura alegria e satisfação.

— Gostar é pouco — disse novamente de boca cheia e levou uma colher atrás da outra para a boca.

— Coma devagar, não precisa ter pressa — Jungkook riu de seu desespero ao comer. — Fiz uma porção grande, ainda tem o bastante para você repetir e almoçarmos amanhã.

— Você é um anjo que caiu do céu — Taehyung disse de olhos fechados, experimentou a tal da farofa e simplesmente não conseguiu não gemer novamente. — Eu preciso me mudar para o Brasil o mais rápido que eu puder.

— Me leva junto — apesar do sorriso em seu rosto, Taehyung não achou que era um sorriso sincero.

Enquanto comiam, Taehyung teceu diversos elogios a comida e não estava sendo puxa saco, realmente estava deliciosa e um trabalho bem feito merece ser elogiado. Jungkook e ele engataram em uma conversa sobre a cultura brasileira e como era diferente da coreana, apesar das circunstâncias estranhas, eles se deram muito bem, o filho do prefeito que aparecia na TV de vez em quando era diferente do Jungkook que estava sentado jantando com ele. Taehyung sempre teve uma opinião impopular de que o prefeito sempre tentava usar a imagem do Jungkook, depois dos dezoito anos, quase toda a sua vida foi exposta ao público e o não mais adolescente caiu nas graças da população, filas e mais filas de mulheres caiam de amores por ele e o prefeito parecia gostar de toda essa atenção.

O que levantava a pergunta, o prefeito sabia que Jungkook era gay?

Taehyung era descendente de estrangeiros, sua árvore genealógica era muito diversificada em questão de nacionalidades, então acabou que sua criação não foi totalmente voltada aos preconceitos da cultura Coreana. Embora tenha alguns parentes que pensem de forma diferente, agradeceu imensamente por seus pais — principalmente sua mãe — serem pessoas desconstruídas. Mas sabia que a maioria dos Coreanos não pensavam igual, então a curiosidade para saber se Jungkook era assumido para a família tomou a cabeça de Taehyung, porém, não iria invadir a privacidade dele para descobrir e acabar por trazer algum gatilho. Quando terminaram a janta, ajudou Jungkook com a louça e guardou a comida na geladeira, ainda mantendo o assunto sobre o Brasil, o que mostrava que ele era apaixonado pela cultura.

— Você comprou o pacote de cuecas? — Jungkook perguntou aleatoriamente em algum momento da conversa. Taehyung travou e o encarou com uma expressão culpada.

— Desculpe, eu esqueci — foi sincero. — Não estou acostumado a ter alguém me esperando em casa, então por força do hábito vim direto para cá depois do trabalho.

— Não tenho mais cuecas limpas, se eu usar essa de novo é capaz de ela começar a andar sozinha — Jungkook fez uma careta enojada.

— Acho que eu tenho algumas cuecas novas que eu posso te dar enquanto eu compro mais pela internet.

— Tudo bem — respondeu com um sorriso. — Você não traz pessoas para a sua casa com frequência?

— Além da minha mãe, você é a primeira pessoa a vir aqui — respondeu ao terminar de fechar os potes de comida e os entregou a Jungkook, para que ele pudesse guardá-los.

— Então você não namora? — Perguntou, novamente, esbanjando curiosidade, o que o fez rir. Jungkook era uma pessoa muito curiosa, parecia uma criança.

— Não, eu evito trazer pessoas para a minha realidade o máximo que eu posso, apesar da minha mãe ser a exceção a regra, aquela mulher não me ouve nem a pau — revirou os olhos, ouviu Jungkook rir antes de fechar a geladeira.

— Sua mãe parece ser uma pessoa legal.

— Ela é — Taehyung abriu um sorriso sincero e caminhou até o sofá, jogou-se sobre ele e Jungkook fez o mesmo. — Ela é uma mulher determinada e de temperamento forte, a admiro demais.

— E seu pai? — Ele perguntou com um sorriso.

— Ele se suicidou quando eu tinha treze anos.

— Ah, sinto muito — sua expressão murchou em segundos.

— Tudo bem, faz muito tempo, ele também era um cara legal e cantava muito mal — riu ao revelar aquilo. — Ele era um cara muito animado, amava cantar enquanto ajudava minha mãe a arrumar a casa, mas por Deus, aquele homem conseguia estragar qualquer música que ousasse cantar. — Amava lembrar da alegria de seu pai quando estava se divertindo daquela maneira. — Mas ele tinha problemas com a família dele, então nos deixou quando a dor que ele sentia foi demais para suportar.

— Seu pai também parecia ser muito legal, ele com certeza encontrou a paz que ele buscava — Jungkook tinha um sorriso fraco em seu rosto, mas ele logo sumiu de seus lábios. — Eu não tenho nenhuma memória do meu pai fazendo coisas assim, desde pequeno ele sempre foi obcecado por política, seus planos é concorrer à presidência do país na próxima eleição.

— E sua mãe? — Perguntou cautelosamente.

— Uma narcisista que queria controlar até o ar que ela respirava, depois de conseguir a atenção que ela queria da mídia, ela foi embora para apresentar um programa em uma emissora pequena — deu de ombros, como se não se importasse. Mas ele não olhava em seus olhos. — Sequer se lembra que teve um filho.

— Ah... — Não soube o que responder.

— Enfim, o que vamos fazer? — O encarou com um sorriso. — Você trabalha amanhã?

— Não — suspirou e um sorriso surgiu em seus lábios também. — O trabalho que eu consegui me garantiu um bom tempo de tranquilidade, só irei trabalhar novamente quando me chamarem para uma nova cena, até lá, o que eu recebo em nome do Vil é o suficiente.

— Entendi, você quer assistir um filme? — Jungkook perguntou ao se acomodar no sofá. Ele usava um moletom e uma camiseta que Taehyung havia emprestado.

— O que têm em mente? — Perguntou ao se acomodar também.

— Que tal maratonar os filmes da Marvel na cronologia do universo? — Os olhos de Jungkook brilhavam e Taehyung não conseguiu conter seu sorriso de aumentar.

— Perfeito! — Concordou sorrindo.

(...)

Passaram horas e mais horas assistindo aos filmes da Marvel e comentavam sobre eles, mas em algum momento entre os filmes Taehyung acabou cochilando, acordou com o som alto de uma cena de ação de um dos filmes. Quando pegou seu celular viu que eram onze da noite, quase meia noite e como não havia tomado banho, levantou-se para isso, mas parou quando viu Jungkook dormindo do outro lado do sofá. Ele estava respirando baixinho e não importava a altura do som na televisão, nada parecia abalar seu sono. Taehyung sorriu e abaixou o volume antes de caminhar até seu quarto para pegar algumas roupas e tomar banho. Passou um bom tempo no chuveiro aproveitando a água quentinha e sentiu seus músculos relaxarem.

Quando saiu do banheiro já estava vestido e tinha secado o cabelo com o mini secador que sua mãe havia comprado para ele, aquela coisinha era pequena, mas muito potente, em menos de dez minutos seu cabelo estava completamente seco. Quando voltou para a sala viu Jungkook ainda dormindo no sofá, pensou em ir buscar o cobertor para ele, mas ao vê-lo todo encolhido se perguntou se ali era de fato o melhor lugar para dormir, quando comprou o sofá sua prioridade era o tamanho ideal para a sua sala e não o conforto, então tinha certeza que dormir ali por um mês iria acabar com as costas de Jungkook. Junto com um suspiro caminhou até ele e pegou no colo com cuidado, o levou até sua cama, que era grande o suficiente para os dois dormirem confortavelmente, era um agradecimento pela comida.

Jungkook pareceu gostar da textura de seu colchão, porque se aconchegou quando o deitou sobre o travesseiro.

— Muito melhor não é? — Sorriu e o cobriu com seu edredom.

Caminhou para fora do quarto para checar se todas as portas e janelas estavam fechadas e apagou as luzes, pronto para dormir também, quando voltou para o quarto apagou a luz e caminhou até a cama, deitou-se ao lado de Jungkook com cuidado para não despertá-lo. Pensou que seria estranho dividir a cama com alguém, mas dormiu facilmente, não só isso, como também teve uma das melhores noites de sono da sua vida, a ponto de acordar na manhã seguinte com baba seca grudada em sua bochecha.

Quando abriu os olhos, o sol já havia nascido e a julgar por seu brilho forte na janela, havia dormido mais do que o normal, sua noite tinha sido tão boa a ponto de seu corpo simplesmente não despertar com o sol batendo em seu rosto? Ainda estava sonolento quando percebeu que havia um peso estranho sobre seu corpo, foi então que seus olhos finalmente notaram Jungkook dormindo apoiado em seu peito.

Assim como ele, havia um filete de baba no canto de sua boca e sua mão descansava bem em cima de seu peito, além da coxa dele que estava dobrada sobre seu quadril, ele estava usando-o como um Dakimakura. Então havia sido por conta daquilo que havia dormido tão bem? O calor do corpo de Jungkook abraçado ao seu era muito bom e confortável, apesar de sentir seu braço direito dormente por conta do peso sobre ele, dormiu maravilhosamente bem. Notou alguns instantes depois que sua mão esquerda descansava sobre a coxa dele, próxima demais de uma região perigosa, por isso a afastou imediatamente, com medo de causar uma má impressão. Tentou se afastar de Jungkook para se levantar, mas ele resmungou e o agarrou com mais força, a perna dele subiu ainda mais sobre seu corpo e Taehyung sentiu todo o sangue esvair de seu rosto.

— Jungkook... — Tentou cutucá-lo com sua mão livre e tentou não se mover. Mas ele apenas resmungou e permaneceu dormindo. — Jungkook acorda...

Após mais um resmungo, Jungkook abriu os olhos, mas estava tão sonolento que estava prestes a fechá-los novamente, mas Taehyung não permitiu e o sacudiu levemente para que ele despertasse. Ele coçou os olhos e levantou o olhar, seus olhos se conectaram e Taehyung percebeu uma coisa que estava ignorando nas últimas horas, Jungkook era um homem extremamente bonito mesmo com a cara amassada de sono, na realidade, o sono o deixou ainda mais adorável. Seus cílios eram grandes, sua pele era clarinha e sem nenhuma manchinha, seus olhos castanhos eram lindos e hipnóticos, seus cabelos escuros caíam como uma cascata castanha sobre sua testa. Naquele momento, Taehyung imaginou que não seria nada mal acordar todos os dias com aquela visão, dormiu super bem e ainda foi agraciado com a imagem de um homem bonito agarrado a seu corpo, diria que dormiu em sua cama e acordou no céu.

— Bom dia — Taehyung disse sem desfazer o contato visual. — Você poderia mover sua perna?

— Hm? — Ele pareceu confuso, antes de descer o olhar.

— Ela está pressionando uma região muito sensível agora... — Taehyung fechou os olhos, pela primeira vez em muito tempo, se sentiu envergonhado. Estava com uma ereção matinal e agora Jungkook estava vendo-o com a barraca armada, mesmo que isso fosse normal, não deixava de ser embaraçoso.

— Oh, desculpa! — Ele levantou-se às pressas, com as bochechas coloridas de vermelho.

— Obrigado — respondeu baixinho e se sentou, puxou o edredom para cima e cobriu sua virilha.

— Como eu vim parar na sua cama? — Jungkook virou-se em sua direção com uma expressão confusa.

— Eu te trouxe, o sofá não parecia muito confortável — explicou-se e Jungkook assentiu com uma expressão pensativa.

— Você é muito bonzinho para um sequestrador — disse com uma expressão neutra, o que arrancou uma risada de Taehyung.

— Obrigado? — Respondeu confuso. — Você pode dormir aqui, a cama é grande o suficiente para nós dois e é um agradecimento pela ótima comida.

— Ah — ele corou e um sorriso genuíno surgiu em seus lábios. — Quer que eu faça o café da manhã?

— Eu adoraria — abriu um sorriso contente. — Se você continuar fazendo essas delícias todos os dias, terei que te sequestrar mais vezes depois de um mês.

Jungkook riu e se levantou, perguntou se poderia usar seu banheiro, estranhamente a única coisa que ele trouxe da casa do pai foi sua escova de dentes, por isso não teve que comprar uma nova. Taehyung escovou os dentes e usou o banheiro após a saída dele, que foi direto para a cozinha para preparar o café da manhã e como no dia anterior, sua comida estava deliciosa, por isso se prontificou a comprar mais ingredientes para que ele usasse sua cozinha sempre que quisesse. Passaram quase uma hora fazendo compras de comidas, temperos e mantimentos pela internet, Jungkook lhe auxiliou nas melhores marcas, melhores custo-benefício e disse que prepararia comidas saudáveis e não muito calóricas para ajudá-lo a manter o físico e lhe dar energia. Depois daquilo engataram em uma pequena faxina na cozinha, já que Taehyung nunca se importou com isso, então enquanto sua entrega não chegava, estavam limpando os armários, panelas e a geladeira, para guardar toda a comida que estava por chegar.

Taehyung sempre acreditou que dividir seu espaço, era uma coisa ruim, sempre colocou em sua própria cabeça que gostava de estar sozinho e que por conta disso, dividir sua casa era o pior tipo de invasão de privacidade. Mas com Jungkook não era, ele era uma pessoa agradável, simpática e tinham bastante assuntos em comum, os dois eram apaixonados por filmes e séries, liam HQ's desde pequenos, ele gostava de cozinhar e Taehyung gostava de comer. Percebeu quando estavam sentados no sofá assistindo uma série, que estavam sentados próximos um do outro como se se conhecessem há anos, aquilo fez uma ruga surgir em sua testa: Por que era tão natural gostar e se sentir confortável na presença de Jungkook? Ele simplesmente o cativava em todos os sentidos, gostava de conversar com ele, gostava de sua companhia a ponto de deixá-lo entrar em sua vida privada como se fosse algo normal, sendo que mantinha uma distância até mesmo de sua mãe.

Quando a comida chegou, os dois passaram a guardá-la nos armários enquanto Jungkook falava animadamente sobre cada prato que poderia fazer com cada alimento que segurava, ele dizia tudo com uma animação e uma paixão que hipnotizou Taehyung. Ele passou vários minutos em silêncio, apenas ouvindo os devaneios de um aspirante a chef de gastronomia contando qual era a maneira certa de cortar uma carne sem romper as fibras e deixá-la borrachuda. Percebeu que provavelmente estava encarando demais quando ele parou de falar e abaixou a cabeça, pareceu subitamente triste, o que o deixou deveras confuso e perturbado, por que ele havia parado? Apesar não entender uma única palavra, estava gostando de ouvir as curiosidades sobre gastronomia que com certeza nunca usaria no futuro, pelo simples fato de que Jungkook conseguiu tornar o tópico comida mais interessante do que qualquer outra coisa.

— Desculpe, eu me empolguei — ele respondeu enquanto lavava uma folha de um vegetal que não sabia qual era. Nunca soube diferenciar as folhas.

— Por isso que estava tão interessante — franziu o cenho e colocou os legumes em saquinhos, como Jungkook havia instruído a fazer. — Continue, eu gosto de ouvir você falar.

Foi totalmente sincero quanto aquilo, então saiu espontaneamente, tanto que sequer desviou o olhar dos saquinhos quando terminou de falar, mas estranhou o silêncio e levantou a cabeça para encará-lo. Jungkook o encarava com uma expressão confusa, ele abriu e fechou a boca algumas vezes, antes de se calar e levar o olhar para as folhas que estava lavando, parecia estar em conflito interno e aquilo o deixou confuso também, havia dito alguma coisa errada? Jungkook parecia sempre ter algo a dizer e nunca colocava para fora, aquilo de certa forma era algo novo e incômodo para Taehyung, que cresceu com uma mãe que gostava de sinceridade, por isso era extremamente normal que se abrisse para ela e para os outros, se estivesse em dúvida bastava perguntar, se estivesse incomodado bastava dizer, então nunca guardou nada para si mesmo. Ver Jungkook fazer aquilo lhe causou um incômodo.

— Eu disse alguma coisa errada? — Perguntou e Jungkook negou com a cabeça.

— Eu só... não estou acostumado com isso — respondeu, ainda sem encará-lo.

— Com o que? — Perguntou confuso.

— Com alguém demonstrando interesse no que eu falo — levantou o olhar para encará-lo. — Normalmente dizem que eu sou irritante ou que não se interessam em saber sobre esse assunto.

— Quem disse isso? — A ruga em sua testa se tornou ainda maior.

— Meus pais — deu de ombros. — Eu não tenho amigos, eu tinha apenas um, foi ele que me ajudou a perceber que eu gostava de gastronomia e não relações internacionais. Eu fazia faculdade na época porque meu pai me obrigava e Jimin sempre quis ser um diplomata, ele me ajudou a perceber que eu poderia escolher o que fazer da minha própria vida. — Ele pareceu viajar por seus pensamentos. — Ele era o único que me ouvia falar sobre o que eu gosto.

— Você ainda tem contato com ele? — Jungkook negou.

— Depois que eu tranquei a faculdade, eu acabei entrando em... Acabei passando por um momento ruim, não queria que Jimin me visse naquela situação, então cortei contato — respondeu após colocar as folhas sobre a tábua de cortar.

— Você fez bem em escolher algo que você goste e não algo que te obrigaram a fazer — Taehyung entrou em um devaneio. — Meu pai sofreu com isso, então não desejo a ninguém.

— Seu pai? — Perguntou com a expressão neutra.

— Sim, ele veio de uma família bem tradicional coreana, sua família inteira era de médicos e queria que ele seguisse os mesmos passos, para que no futuro herdasse o hospital dos pais — Taehyung começou, aquele assunto era algo que lhe causava um desconforto imenso, mas saber que Jungkook passou por algo parecido, sentiu necessidade em contar. — Meu pai queria ser bombeiro, sempre sonhou com isso, mas a pressão da família dele impediu seus sonhos. Tudo se tornou pior quando ele se casou com a minha mãe, que é mestiça e com ideais diferentes das deles, então chegou um momento em que ele não aguentou toda pressão e foi para a ponte do Rio Han.

— Oh... — Foi o que ele respondeu, parecia não saber o que dizer.

— Você teve a chance de fazer o que gosta, por isso não se sinta mal de falar sobre isso — Taehyung o encarou e manteve o contato visual, para ter certeza de que ele lhe ouvia. — Mesmo que tenha sido uma coisa muito difícil, você conseguiu. Então se quiser falar sobre isso, fale, eu vou te ouvir.

Viu um brilho no olhar de Jungkook, um brilho diferente do que estava acostumado a ver, não era como o brilho quando falava sobre comida, era o brilho das lágrimas se acumulando em seus olhos. Ele abaixou a cabeça e assentiu, respirou fundo e olhou para cima, como se tentasse segurar as lágrimas e só virou em sua direção para sorrir e assentir novamente. Para tentar sair daquele assunto e voltar à animação que estavam antes, Taehyung perguntou que folhas eram aquelas que ele tinha lavado, contou que não sabia diferenciar nenhuma delas e sua mãe sempre brigou com ele por comprar a errada quando ela pedia, o que arrancou uma risada de Jungkook. Gostava de vê-lo sorridente, a tristeza não combinava com ele, por isso faria de tudo para deixá-lo com o sorriso nos lábios enquanto ele estivesse em sua casa.

Até porque o sorriso dele era lindo demais para ficar escondido.

Jungkook o ensinou a armazenar a comida de maneira correta e como prepará-las quando ele não estivesse mais ali, mas Taehyung duvidava que sequer usaria sua cozinha novamente quando ele fosse embora. Depois que terminaram, Jungkook esquentou novamente a comida que havia feito no dia anterior e os dois almoçaram após organizarem tudo, agora com o tempo livre, os dois se sentaram no sofá para assistirem os filmes da Marvel, já que haviam caído no sono em um dos filmes. Porém, em algum momento do filme do Homem de Ferro, Jungkook pareceu ter uma epifania, o que assustou Taehyung, que estava concentrado assistindo o filme. Jungkook se levantou e buscou pelo controle remoto sobre a prateleira onde estava seu videogame, pausou o filme e voltou a sentar-se no sofá, dessa vez virado em sua direção com os olhos brilhando em curiosidade.

— Como você descobriu os seus poderes? — Ele perguntou com um sorriso enorme e o deixou Taehyung confuso com a pergunta aleatória. — Eu sei que apenas 0,01% da população nasce com o genes mutante, que precisa ter um gene recessivo de alguém da família que entrou em contato com um simbionte alienígena que caiu na Ásia há milhões de anos e blá blá blá, mas como você descobriu que manifestou? Ouvi dizer na TV que muitas pessoas possuem o gene modificado, mas uma parcela raríssima desenvolve alguma habilidade anormal.

— Você pensou em tudo isso vendo o Tony montar uma armadura em uma caverna? — Perguntou confuso e Jungkook assentiu. — Ah, bom, minha mãe desconfiou que eu era diferente porque eu nunca fiquei doente, sendo que as crianças tiveram ao menos um resfriado com as mudanças de estação, além do fato de que eu nunca me machuquei. Eu tinha o hábito de pular de lugares altos quando pequeno, porque eu sabia que nunca ia me machucar.

— Sua mãe deve ter ficado muito preocupada.

— Ficou, ela pensou que eu era uma criança especial, porque eu não tinha senso nenhum de perigo, mas o que ela não sabia é que eu era sim especial, só não da maneira que ela esperava — riu consigo mesmo, vendo o sorriso nos lábios de Jungkook alargar. — Eu descobri meus poderes em fases diferentes, descobri que eu podia voar quando eu quebrei um quadro que minha mãe amava e voei para tentar segurá-lo quando ele caiu. Descobri que era rápido quando estava fugindo do chinelo da minha mãe e minha força foi ao ajudar minha mãe a limpar a casa, não era normal uma criança de dez anos levantar um sofá sozinho.

— Não sei dizer se foi sua mãe a grande responsável pela descoberta de seus poderes ou se foi porque você era uma criança levada — Jungkook riu e Taehyung acabou rindo junto.

— Mas eu descobri sobre minha pele impermeável na escola, quando meus amigos tentaram fazer cócegas em mim e não funcionou.

— Só isso? — Perguntou confuso e Taehyung assentiu. — Você nunca tomou vacinas?

— Não, já que eu nunca fiquei doente, minha mãe não viu necessidade e mesmo que ela quisesse, as agulhas não conseguiriam penetrar minha pele — deu de ombros.

— E como foi a descoberta? Seus amigos descobriram sobre seu poder?

— Não, eu fingi estar sentindo cócegas porque todo mundo estava rindo e eu não queria ser esquisito, quando cheguei em casa tentei fazer cócegas em mim mesmo com uma caneta e me irritei por não estar sentindo nada — Taehyung riu de si mesmo, hoje era uma lembrança engraçada, mas se lembrava da frustração por não sentir o mesmo que seus amigos. — Eu tentei de várias formas, mas por conta de um acesso de raiva eu acabei passando uma caneta com força demais na minha barriga. Qualquer outra criança teria se machucado feio, mas comigo não aconteceu nem mesmo um arranhão, aí eu tentei de novo e nada.

— Meu Deus você era terrível — Jungkook o encarou horrorizado. — Ainda bem que foi agraciado com poderes ou estaria a sete palmos do chão. — Taehyung gargalhou e assentiu. — Mas fazer cócegas em si mesmo não funciona mesmo, você não sente nada? Nem dor?

— Nadinha.

— Você sente outras coisas? — Perguntou e Taehyung ficou confuso.

— Como o que?

— Frio, calor, prazer...

— Sim, sinto — Taehyung riu. — O último mais do que os outros. — Disse somente para provocá-lo, gostava de ver suas bochechas colorir de vermelho.

— Você deveria largar a carreira de ator e entrar no ramo da comédia — Jungkook revirou os olhos, mas suas bochechas rosadas fizeram Taehyung gargalhar novamente. — Já tentou fazer depois de adulto? Cócegas eu digo.

— Fique a vontade para tentar — Taehyung abriu os braços e os olhos de Jungkook brilharam em animação.

As mãos dele foram direto para a lateral de seu corpo, sobre suas costelas, sabia que aquela área era universal onde todos se contorciam em cócegas, mas sua falta de reação pareceu não agradar Jungkook, que fez um bico e tentou outros lugares. Taehyung praticamente rolou sobre o sofá, deixou que ele tentasse todos os lugares, ele tentou sobre as costelas, pescoço, suvaco, pés e barriga, mas não aconteceu absolutamente nada, sua risada devia a decepção de Jungkook e não de fato por seus atos. Com um bico emburrado, Jungkook voltou a sentar no sofá e cruzou os braços, como uma criança quando tinha o que queria negado, aquilo o fez rir, Taehyung se levantou e se acomodou confortavelmente sobre o sofá novamente. Ousou pensar que ele ficou ainda mais decepcionado com sua falta de sensibilidade a cócegas do que a si mesmo na infância.

— Não é possível isso, você é uma pedra! — Jungkook soltou desapontado, o que arrancou mais uma gargalhada de Taehyung. — Meus colegas me torturavam com cócegas na escola, eu sempre fui muito sensível ao mínimo toque, é frustrante.

— Uma pena, eu nunca passei por isso — respondeu com um sorriso ladino e viu o bico de Jungkook aumentar ainda mais.

— Com certeza você está fingindo, você é ator, deve ter praticado — disse como se tivesse descoberto o maior segredo da humanidade. — É isso! Deve ser a sua fraqueza, aí você aprendeu a se conter só para ninguém descobrir!

— E você consegue fingir não estar sentindo cócegas? — Perguntou com uma sobrancelha arqueada. — Achei que fosse uma reação involuntária do corpo.

— Se me esforçar eu consigo — respondeu com convicção. Taehyung podia ver o nariz dele crescer igual ao Pinóquio.

— Uhum — Taehyung abriu um sorriso ainda maior. — Vamos testar?

Após sua fala, Jungkook arregalou os olhos, em segundos perdeu toda a pose confiante e arrogante que havia feito para provar seu ponto e lhe encarou assustado, o que denunciou que não, ele não conseguiria suportar. Taehyung avançou sobre ele rapidamente, foi diretamente para as costelas, assim como ele havia feito consigo anteriormente. Jungkook riu e se contorceu, para o grande azar dele, enquanto testava se Taehyung sentia cócegas, mostrou-lhe todos os lugares onde provavelmente era sensível a cócegas, por isso espelhou seus atos. Mas bastava focar somente nas costelas e na barriga que Jungkook gargalhava alto, em dado momento ele tentou se afastar e caiu de costas sobre o sofá, tentou inutilmente segurar suas mãos, mas simplesmente prendeu seus pulsos sobre sua cabeça e aproveitou-se para torturá-lo ainda mais.

— Para, para, para! — Jungkook pediu por entre as gargalhadas, seus olhos já estavam úmidos pelas lágrimas e se contorcia cada vez mais. — Por favor, Tae!

Taehyung parou somente quando notou que ele estava ficando sem ar, havia um sorriso convencido em seus lábios, pois provou com bastante eficácia que Jungkook não conseguia fingir ou se conter. O observou se recuperar, ele estava vermelho e ofegante, provou a veracidade das histórias que diziam que cócegas eram perigosas, será que conseguia matar uma pessoa fazendo cócegas nela? Pelo estado de Jungkook, a resposta era sim, pois ele estava ofegante, vermelho e suado, seus cabelos estavam desgrenhados de tanto se contorcer, estava uma bagunça de fios castanhos espalhados pelo estofado, seus olhos estavam úmidos pelas lágrimas e o sorriso não saiu de seus lábios mesmo quando parou. Porém, aquela imagem mexeu com Taehyung de uma maneira diferente, de uma maneira nada saudável para sua sanidade.

Jungkook estava se recuperando das cócegas, mas seu cérebro assemelhou as reações dele a um orgasmo.

Foi naquele momento que Taehyung percebeu a situação em que estavam, sequer pôde culpar seu cérebro por lhe passar aquela impressão, pois ele estava sobre o corpo de Jungkook, entre suas coxas, segurando seus pulsos sobre a cabeça enquanto ele estava ofegante embaixo dele. Taehyung engoliu em seco, se Jungkook estava daquele jeito somente com cócegas, seu cérebro viajou para outro lugar, como ele ficaria depois de gozar? Como ele ficaria depois de enterrar seu pau bem fundo dentro dele? Iria chorar de prazer? Gemer e se contorcer? Pedir para parar quando o prazer fosse demais para suportar? Iria ficar tão ofegante quanto estava agora? Provavelmente seu olhar sobre ele denunciava seus pensamentos, pois o sorriso de Jungkook desapareceu e o encarou de maneira tão intensa quanto ele.

Os olhos de Jungkook desceram para suas pernas e pareceu perceber somente naquele instante que as coxas dele estavam em volta de seu quadril, ele corou ainda mais e engoliu em seco quando seus olhares voltaram a se encontrar. Manteve o contato visual por pouco tempo, porque Taehyung não aguentou e desceu o olhar para os lábios de Jungkook, achando-os deveras atrativos, pareciam macios e sentiu vontade de prová-los, por isso umedeceu os próprios lábios, sedento pelos dele. Quando voltou a encarar Jungkook ele estava com os olhos fixados em sua boca também, ainda ofegante ele engoliu em seco, sem desviar o olhar daquela região, como se sentisse a mesma ânsia que ele. Com aquela visão Taehyung notou novamente o quão atraente Jungkook era, suas roupas caíram muito bem nele, pois as coxas grossas dele estavam delineadas pelo moletom e sua camiseta havia subido um pouco por conta da sessão de cócegas.

Jungkook estava fodidamente atraente.

— Não vai me soltar? — Ele perguntou em um sussurro, ainda com os olhos fixados em seus lábios.

— Eu deveria? — Perguntou tão baixo quanto. Aquilo simplesmente escapou, não conseguia conter a língua às vezes.

Jungkook levantou o olhar e fez contato visual, seu olhar dizia muitas coisas, uma delas era que ele também sentia aquela tensão sexual pairando sobre eles, mas estranhamente não havia medo, hesitação ou desgosto. Como um teste, Taehyung soltou seus pulsos e esperou, queria saber se seria afastado ou não, mas Jungkook sequer se moveu, mesmo com os pulsos livres ele permaneceu na mesma posição, ainda com o olhar conectado ao seu, como se esperasse por alguma coisa. Para deixar suas intenções mais claras, Taehyung levou seu polegar aos lábios dele e os acariciou, sentiu a textura macia contra seu dedo e ao subir o olhar novamente, notou que Jungkook o encarava com expectativa, sem se mover. Queria provar seus lábios e se ele não parecia ser contra a ideia, não perderia tempo, por isso sem esperar por mais, Taehyung segurou em seu queixo e pressionou seu dedo contra o lábio inferior para que ele entreabrisse os lábios.

Queria prová-lo por completo e simples selares não eram o suficiente. Se aproximou ainda mais, o viu fechar os olhos e sorriu, visto que ele também estava ansioso por seu beijo. Porém, antes que conseguisse sentir os lábios dele junto aos seus, a campainha tocou.

— Correios! — Um homem gritou.

— Porra — Taehyung praguejou e se levantou, caminhou até a porta da frente aos resmungos. — As cuecas chegaram.

Assim que abriu a porta viu um homem uniformizado com um sorriso imenso, totalmente alheio ao que havia acabado de interromper, o recebeu com um sorriso meio forçado, mas não queria ser mal educado com um homem que estava apenas fazendo o trabalho dele. Depois de assinar a entrega, pegou o pacote e o homem voltou para a van que dirigia, Taehyung voltou a fechar a porta e caminhou novamente até Jungkook, que estava sentado sobre o sofá encarando as próprias mãos. Quando chegou até ele lhe entregou o pacote, Jungkook sem olhá-lo nos olhos agradeceu e se levantou para guardá-lo e Taehyung se sentou no sofá, agora que haviam sido interrompidos percebeu o que estavam prestes a fazer. Estava literalmente prestes a beijar o futuro namorado do seu maior rival, o filho do homem que fazia de tudo para tentar prendê-lo e o pior de tudo, é que não estava nem um pouco arrependido.

Mas pela cara que Jungkook fez quando voltou, ele com certeza estava arrependido por quase ter seguido o clima. Quem sabe onde teriam parado se tivessem continuado.

Depois daquele dia, Jungkook manteve uma distância segura entre eles, nada muito exagerado, mas também nada que desse abertura para novas investidas, ele deixou bem claro com seus atos que aquilo não deveria voltar a acontecer e Taehyung respeitou isso. Apesar da situação ter ficado um pouco embaraçosa nas primeiras horas após o quase beijo deles, depois de um tempo as conversas amigáveis e animadas voltaram, o clima tenso foi quebrado tão rápido que quase não se lembraram do ocorrido. Mas quase era a melhor maneira de descrever, porque a cena de Jungkook embaixo dele, entregue e de olhos fechados pronto para receber qualquer sensação que estivesse disposto a lhe proporcionar, rodeou a mente de Taehyung todos os dias. Com o passar dos dias as coisas pareceram se tornar ainda mais estranhas, a cada minuto Jungkook parecia mais atraente aos seus olhos.

Ele definitivamente estava começando a gostar dele mais do que um amigo com tesão acumulado.

E nem podia se culpar por isso, Jungkook era cativante demais, apaixonante demais, tudo nele era interessante, fosse suas conversas, sua aparência ou sua personalidade. Jungkook era o tipo de pessoa que sequer precisava se esforçar para fazer todos caírem de encantos por ele, o que o levava a questionar o porquê do plagiador não ter se apaixonado por ele ainda, ou ele era de fato hétero, ou era apenas um idiota cego que estava perdendo um cara incrível. Durante o passar das semanas, a vontade de ser mais do que um amigo estava lhe corroendo por dentro, queria ser mais do que era agora, construíram uma relação tão legal, não era somente o Vil sequestrando o filho do prefeito, era o Taehyung e o Jungkook se dando mais do que bem. Mas estava preso na friendzone aparentemente.

Depois do quase acontecido, Jungkook falava sobre o plagiador, como se tentasse convencer tanto a ele quanto a si mesmo de que estava ali para ser o futuro par romântico dele, aquilo de certa forma o deixava triste, porque o plagiador era um babaca e Jungkook com certeza merecia mais. Próximo ao final do combinado, Taehyung vestiu sua máscara de Vil e anunciou o sequestro de Jungkook, combinaram de ir a um lugar isolado e abandonado, para forjar um vídeo onde o filho do prefeito estaria amarrado e sob a mercê do vilão. Assim como haviam planejado, Vil pediu uma recompensa e que teriam três dias para lhe entregar ou Jungkook sofreria as consequências da demora, tudo para que o prefeito corresse até o plagiador e ele viesse resgatá-lo no dia da entrega do dinheiro, quando revelasse a localização de onde estavam. Os dois passaram horas ensaiando as falas e como fariam a cena, tudo com muita empolgação, ansiosos para verem as reações das pessoas.

Após vazar o vídeo para a imprensa, todos os noticiários da Coreia mostravam o rosto de Jungkook choroso na televisão, o vídeo deles teve o impacto que queriam, por isso comemoram bebendo vinho. Depois de algumas horas ficaram um pouco bêbados, por isso saíram para os fundos da casa e passaram horas ali, até escurecer e o álcool sair de suas veias, conversaram sentados nos degraus dos fundos. A noite já havia coberto completamente o céu e a lua belamente mostrava toda a sua beleza, ela iluminava seus rostos com sua luz natural. Em algum momento, Taehyung se pegou admirando Jungkook sob a luz do luar, pensou que ele ficava com uma beleza angelical daquela maneira, enquanto sorria com os olhos fixados nas estrelas sob suas cabeças. O álcool já não mais entorpecia seus sentidos, estava sóbrio e mais do que lúcido ao admirar a beleza de Jungkook naquela noite.

Olhar para Jungkook agora era diferente, a voz dele soava diferente aos seus ouvidos, o cheiro dele era diferente para seu nariz, tudo nele se tornou algo incrível em qualquer ponto de vista. A maneira como ele sorria era linda, seus olhos castanhos brilhavam e seu rosto todo se iluminava, ver Jungkook sorrir era seu novo paraíso particular, queria perpetuar aquela expressão em seu rosto, queria criar uma lei onde era proíbido sob pena de morte deixá-lo triste. Taehyung sentia seu coração se agitar a cada expressão nova que descobria no rosto dele, seus lábios se curvaram em um sorriso por reflexo quando viu o dele, tudo o que ele dizia era fascinante como nenhum outro assunto jamais foi. Jungkook se tornou tudo, seu norte, sul, leste e seu oeste, em qualquer lugar que estivesse, seus olhos sempre iriam atrás dele.

Estava perdidamente apaixonado por ele, como nunca esteve por alguém antes.

— É lindo, não é? — Jungkook perguntou ao olhar para o céu estrelado sobre suas cabeças.

— Sim... Muito lindo — Taehyung respondeu, mas ele não falava das estrelas.

— Acha que terei noites agradáveis assim com o Senhor das Estrelas? — Foi uma pergunta inocente, mas que causou um amargor na boca de Taehyung. Sentiu seu peito se contrair em dor somente em imaginar Jungkook tendo aqueles momentos com alguém que não fosse ele. — Será que ele é tão apaixonado quanto eu pelo céu?

— Eu não sei — não conseguiu conter a amargura em sua voz. Por que seu coração batia daquela forma por alguém que não iria aceitá-lo?

— Espero que ele me leve aos céus para vê-las de perto — Jungkook abriu um sorriso lindo ao voltar a conectar seus olhares.

Aquilo foi a gota d'água para Taehyung, que não conseguiu conter o próprio corpo. Ele se levantou e desceu os pequenos degraus dos fundos de sua casa, virou-se para encarar Jungkook, que observava seus movimentos com pura confusão estampada em seu rosto. Em um rompante de coragem misturada com desespero, Taehyung esticou seu braço para segurar a mão de Jungkook, que franziu ainda mais o cenho, porém não lhe deu tempo para fazer perguntas, apenas o puxou contra seu corpo e colou seus peitos. Viu o momento em que os olhos dele se arregalaram diante de suas ações impensadas e abruptas, mas jogou qualquer hesitação para o fundo de sua mente antes de segurá-lo com força pela cintura e tomar impulso com as pernas. Não ligou se estava com a aparência de Taehyung e não de Vil, não ligou se poderiam vê-lo, simplesmente não ligou para nada, apenas voou.

Jungkook gritou assustado e agarrou seu corpo como se sua vida dependesse daquilo, mesmo que o segurasse com firmeza e jamais o deixaria cair, os braços dele contornaram seu pescoço e suas pernas envolveram sua cintura. O vento frio bateu contra suas peles e bagunçou seus cabelos, o rosto de Jungkook estava escondido em seu pescoço, com medo de olhar em volta. Quando atravessaram as nuvens, Taehyung parou, ficaram alguns segundos em silêncio até que Jungkook percebeu que não estavam mais subindo, devagar ele tirou o rosto de seu pescoço e olhou em volta. Estavam acima das nuvens, dava para ver as luzes da cidade lá embaixo por entre algumas brechas e as estrelas sobre eles, Jungkook passou alguns minutos embasbacado com a visão, apesar de estar agarrado a Taehyung com força, com medo de cair. Ver todas as luzes da cidade refletidas nos olhos dele lhe deu ainda mais certeza.

Queria ter seus sentimentos correspondidos.

— Não pode ser eu? — Taehyung perguntou, o que atraiu o olhar de Jungkook. Estavam muito próximos por conta da posição em que estavam, seus narizes quase se tocavam.

— O que? — Ele perguntou com o olhar fixado ao seu.

— Me escolha ao invés dele — pediu, quase implorou, os olhos de Jungkook o encaravam com intensidade. — Eu posso fazer tudo o que ele faz e ainda melhor, eu posso levá-lo para ver as estrelas sempre que quiser, eu posso dar a você tudo o que quiser... Basta me dar uma chance.

— Taehyung... — Sua voz soou fraca, o brilho em seus olhos não era de felicidade, não era o brilho que tanto amava ver, era de lágrimas.

— Por favor, me escolha... — Suspirou e juntou suas testas, seus narizes se tocaram e seus hálitos se misturaram. Fechou os olhos e apreciou a proximidade, queria diminuí-la, queria provar seus lábios, queria findar de vez a distância que existia entre eles. Mas não faria isso sem que ouvisse da boca de Jungkook que ele o queria também. — Eu serei um namorado melhor que ele e nunca o farei chorar, eu prometo a você.

— Por favor, não torne as coisas mais difíceis — pediu em um fio de voz.

— Três palavras Jungkook, apenas três palavras e eu entrego o mundo em suas mãos se você desejar — Taehyung disse ao se afastar, os olhos intensos dele estavam conectados aos seus, absorvendo a intensidade de suas palavras.

"Eu escolho você" eram as três palavras que ele precisava ouvir.

— Eu sinto muito — foram as três palavras que recebeu.

Se realmente tivesse criado uma lei onde quem deixasse Jungkook triste tivesse pena de morte, Taehyung estaria sendo enforcado naquele momento, pois a única emoção visível no rosto dele era a tristeza.

— Tudo bem — Taehyung desviou o olhar, incapaz de manter o contato visual por muito tempo.

Sem querer tornar o momento ainda pior, o segurou com mais firmeza antes de descer devagar, o levou com cuidado para que não o assustasse novamente. Sentiu o olhar dele sobre seu rosto o percurso inteiro, mas não disse sequer uma única palavra até que seus pés tocaram a terra novamente. Sem conseguir se conter novamente, se afastou assim que chegaram aos fundos de sua casa, se possível a tristeza no rosto de Jungkook ficou ainda mais intensa, mas não conseguiria ficar próximo a ele sem sentir seu coração pesar no peito, não podia ter a ilusão de que poderia tê-lo tão próximo para não se machucar ainda mais. A dor da rejeição doeu mais do que qualquer outra coisa, nunca havia experimentado a dor, mas jamais imaginou que a pior delas seria a do coração partido. Ficaram a passos de distância um do outro, até que o silêncio fosse quebrado.

— Taehyung... — Jungkook o chamou com a voz baixinha, pareceu querer dizer algo, mas não sabia se suportaria ouvir.

— Está tudo bem, Jungkook — abriu um sorriso, o melhor que conseguiu, mas pela expressão dele não pareceu convincente. Se julgava um bom ator, mas aparentemente todos os seus anos trabalhando com teatro não lhe prepararam para levar um fora. — Sério, eu entendo.

— O que você entende? — Perguntou confuso.

— Que não há espaço para mim em seu coração — assim como doeu pronunciar, doeu ver a mágoa estampada nos olhos dele também.

— Se as coisas fossem diferentes... — Jungkook disse com a voz embargada.

— Mas não são e está tudo bem — respirou fundo e se aproximou, hesitou um pouco em tocá-lo, mas sua palma encontrou o caminho e tocou o rosto de Jungkook. — Não se preocupe comigo, vou estar feliz se você estiver feliz.

Jungkook não segurou o semblante de choro e as lágrimas escorreram por suas bochechas, aquilo deixou o peito de Taehyung ainda mais dolorido, não queria fazê-lo chorar. Conseguiu quebrar todas as promessas que havia feito a ele em uma única noite.

— Eu preciso te mostrar uma coisa — ele disse com as bochechas molhadas e a voz embargada.

— O que? — Perguntou cautelosamente e limpou as lágrimas de Jungkook com o polegar.

Viu ele respirar fundo, a ponto de seu peito se inflar e depois expirou todo o ar de uma vez, quando seus olhos se encontraram novamente eles estavam úmidos, mas havia também hesitação, medo e insegurança neles. Taehyung franziu o cenho, não sabia o porquê ele se sentia daquela forma, pois havia se confessado, mas se ele não retribuía seus sentimentos, o que estava causando aquele misto de emoções negativas? Delicadamente Jungkook levou os dedos até os seus, que limpavam as lágrimas de sua bochecha e os segurou com tanta delicadeza quanto, como se pudesse quebrá-lo com o toque mais simples. Jungkook desceu os olhos para suas mãos juntas e pareceu pensar em algo, dizer que Taehyung estava confuso era pouco para descrever, estava completamente perdido, boiando no mar de incógnitas que era Jungkook.

— Feche os olhos — ele pediu e Taehyung franziu ainda mais o cenho. — Confie em mim.

— Tudo bem — concordou e fechou os olhos.

Mesmo que fosse a intenção de Jungkook causar algum mal a ele, não funcionaria de qualquer maneira, apesar de saber que ele jamais faria isso. Taehyung sentiu uma brisa fria bater em sua testa, de repente o ar se comprimiu um pouco e o som ficou abafado por um som de música repentinamente muito alto. Assustado com a mudança abrupta de percepções e sentidos Taehyung abriu os olhos, primeiramente se deparou com um espaço escuro, iluminado por lâmpadas néon coloridas, após alguns segundos percebeu que estava em uma espécie de boate, a julgar pela música, ambiente e o barulho de pessoas conversando. Estavam escondidos atrás de uma parede, havia uma porta onde estava escrito "somente funcionários" atrás deles e as pessoas da boate não conseguiam vê-los ali, mas a verdadeira pergunta era: como eles haviam parado ali?

— O que? — Taehyung perguntou sem conseguir criar uma razão lógica em sua cabeça que explicasse como entrou ali de uma hora para outra.

— Eu também faço parte do 0,01% das pessoas que nascem com um gene mutante — Jungkook disse baixinho, ele encarava suas mãos juntas. — Eu consigo me teletransportar para qualquer lugar que eu quiser, basta apenas visualizar em minha mente e estarei lá.

— Por que está me contando isso agora? — Sua sua cabeça deu um nó com todas as informações.

— Eu achei que você merecia uma explicação — ele levantou o olhar e manteve o contato visual. A boca dele se abriu e fechou algumas vezes, parecia hesitar em lhe contar algo, mas no final ele respirou fundo e pareceu mais confiante em dizer o que queria. — Eu...

— Ei, você viu na televisão sobre o caso do filho do prefeito? — Uma terceira voz soou um pouco distante atrás da parede, o que interrompeu Jungkook, que se calou e segurou sua mão com mais força.

Os barulhos altos eram um tormento para os sentidos aguçados de Taehyung, mas conseguiu canalizar sua audição somente naquela conversa e a ouviu como se ele estivesse falando diretamente em seu ouvido. Pareciam estar do lado oposto da parede que estavam.

— Ah, eu ouvi — o plagiador respondeu. Taehyung rapidamente olhou para Jungkook, que também o encarava.

— Para onde nos trouxe? — Perguntou.

— Para a boate que o Senhor das Estrelas frequenta — Jungkook abaixou o olhar novamente quando notou a expressão de Taehyung se fechar. — Foi o primeiro lugar que me veio à mente, desculpe.

— O prefeito ofereceu uma boa recompensa para encontrá-lo? — O homem anterior perguntou novamente.

— Não — o plagiador respondeu, o que fez Jungkook franzir o cenho e encarar um ponto específico da parede. — Ele sabe que eu não estou interessado nesse assunto, por isso não insistiu tanto quando ele notou o desaparecimento há algumas semanas. Mas depois que o Vil trouxe a público eu vou ser obrigado a me envolver.

— Que merda hein? Por que ele não ofereceu uma recompensa para você? — O homem perguntou.

— Ele não está tão preocupado, na realidade ele disse que Jungkook foge de casa com frequência, achou que era só mais uma ceninha de drama dele, parece que nem o próprio pai suporta a presença dele — o plagiador disse tudo com um desdém que irritou profundamente Taehyung, que não tirou os olhos de Jungkook, atento a todas suas expressões ao ouvir aquilo. — Mas quando o Vil apareceu dizendo que havia sequestrado ele, o prefeito viu uma boa oportunidade para engajar e ajudar ele a ganhar a simpatia do público. Ele pediu para eu ajudar.

— E você não vai? — O homem perguntou novamente. — Você não parece muito preocupado.

— E não estou, eu achei até bom que Jungkook foi pego — o plagiador disse com um tom de diversão. Ao ouvir aquilo Jungkook desviou o olhar para outro lugar, mas Taehyung conseguiu ver nitidamente as lágrimas se acumularem ainda mais ao redor de seus olhos. — Foi um livramento e tanto, o Vil sempre encontra uma maneira de me divertir.

— Livramento? Por que?

— Ah, você não sabe? O filho do prefeito é um viadinho que gosta de ficar me perseguindo — o plagiador disse com um tom zombeteiro. Taehyung sentiu o sangue em suas veias ferver ao ouvi-lo dizer aquilo, mas a raiva logo deu lugar a preocupação, porque Jungkook não levantou a cabeça e nem esboçou reação. — Tipo assim, tudo bem ser gay, mas não precisa sair mostrando e dando em cima de todo mundo sabe? É nojento, eu fugi o máximo que eu pude, mas o cara grudou em mim como um carrapato.

— Credo — o outro imbecil riu. — Mas você poderia tirar proveito disso, sabia? Ele é filho do prefeito, o velho te daria rios de dinheiro, você nem ia precisar aparecer em público junto com ele e outra, o coroa vai se candidatar a presidência ano que vem, assim que acabar o mandato dele.

— Você conseguiria namorar um cara? — O imbecil do plagiador perguntou risonho. — E se ele quisesse transar depois?

— Caras também tem um buraco para meter, daí é só comer de costas e fechar os olhos.

O plagiador riu alto junto com o outro imbecil, Taehyung sempre soube que ele era um babaca, mas nunca sentiu tanta vontade de quebrar alguém quanto sentiu em fazer com o plagiador naquele momento. Jungkook havia dedicado o último mês na esperança de conseguir ao menos uma brecha para conversar com ele, só para ouvir que era um viadinho carrapato e um buraco para meter. Taehyung admitiu a si mesmo naquele momento, ele queria fazer o plagiador pagar, queria vê-lo sofrer, vê-lo sangrar, implorar enquanto a sola de sua bota quebrava seus dentes, fazê-lo sentir tanta dor a ponto de sequer conseguir pronunciar o nome de Jungkook outra vez. Pela primeira vez em todos os seus anos de vida, se imaginou matando uma pessoa e o pensamento não lhe causou culpa ou medo, se Jungkook quisesse, o mataria sem pensar duas vezes diante da cidade inteira. Sem qualquer remorso.

Por Jungkook ele se tornaria um vilão de verdade.

— Jungkook... — Taehyung sussurrou, preocupado com seu silêncio.

Sabia que ele estava extremamente magoado, a pessoa que ele gostava havia partido seu coração da pior maneira possível, queria consolá-lo, abraçá-lo e trazer o sorriso aos seus lábios novamente. Mas quando Jungkook levantou a cabeça, Taehyung sentiu seu mundo desabar, já havia visto tristeza nos olhos dele, percebeu há muito tempo que ele era atormentado por alguma coisa, sempre que falava sobre sua família ou sua adolescência ele murchava, porém nunca havia visto aquele olhar. Jungkook simplesmente não tinha aquele brilho que tanto amava, não havia sequer uma sombra do homem por quem havia se apaixonado, era apenas uma casca vazia cheia de mágoa e um sentimento que assustou Taehyung. Ele conhecia aquele olhar, foi o mesmo olhar que seu pai lhe deu antes de partir e nunca mais retornar.

Preocupado Taehyung esticou a mão para tocar em seu rosto, o medo de sentir a dor da perda abrupta o abalou mais uma vez, dessa vez com Jungkook, que já deu diversos sinais de que precisava de ajuda. Mas antes que pudesse tocar sua pele, Jungkook desapareceu diante de seus olhos e o deixou sozinho naquele pequeno espaço da balada, fazendo seu coração dar um salto em seu peito. O desespero o tomou em uma proporção tão grande que sequer ligou de não estar usando a roupa do Vil, apenas usou sua super velocidade para tentar encontrá-lo, passou por todos em uma velocidade tão grande que mesmo se tentassem, não conseguiriam vê-lo. Correu na maior velocidade que conseguiu de volta para casa, na esperança de encontrá-lo lá, quando chegou, passou pela cozinha, sala, quarto, banheiro e nada, Jungkook não estava lá.

— Merda — o pânico havia tomado completamente seus sentidos no momento que correu para os fundos de sua casa e voou, o impulso foi tão forte que rachou o chão.

Tentou imaginar os lugares para onde Jungkook pudesse ter fugido, mas não conseguiu pensar em nenhum lugar fora o Brasil, mas se ele realmente tivesse ido para lá, seria um grande problema, o Brasil era um país imensamente maior do que a Coreia do Sul, jamais o encontraria. Por isso foi ao lugar mais óbvio, a casa dele — ou o lugar que ele morava, pois a casa é onde nos sentimos confortáveis e Jungkook não se sentia bem ali — onde morava o prefeito. Era uma mansão grande, luxuosa, que esbanjava ostentação, então levaria um tempo para olhar todos os cômodos de modo convencional, então usou sua super velocidade para olhar em todos os lugares, mas novamente, não o encontrou. Gemeu frustrado e saiu da mansão, tomou impulso e voou novamente, para que pudesse procurar por ele nas alturas.

Jungkook podia se teletransportar, poderia estar em qualquer lugar do mundo, poderia estar a milhares de quilômetros longe dele, se fizesse algo contra a própria vida, não chegaria a tempo para impedir e aquilo o deixou desesperado. Antes de atravessar as nuvens Taehyung parou e olhou para baixo, usou sua visão aguçada ao limite, procurou por Jungkook por toda a cidade, vagou por cada rua, cada beco, cada telhado, tudo, mas não o encontrou em lugar algum, então focou em tentar ouvi-lo. Fechou os olhos e canalizou sua audição, tentou procurar pelo som de sua voz, sabia que seria ainda mais difícil de encontrá-lo do que com sua visão, mas precisava tentar qualquer coisa, por isso focou também em encontrar sons de choro. Mas ouviu diversos choros, levaria a noite inteira ir atrás de cada pessoa que estivesse chorando pelo país.

— Porra Jungkook, onde você está? — Passou as mãos pelos cabelos e os puxou em desespero. Pensou em diversos lugares que ele poderia ter ido, até que um pensamento intrusivo tomou sua mente. — Não... Ele não poderia...

Sentindo um desespero quase palpável, voou até a ponte do rio Han, onde seu pai tirou a própria vida.

Quando sua mãe lhe contou sobre a morte de seu pai, sentiu uma dor que não coube em seu peito, mas conteve as lágrimas diante dela apesar de sua dor dilacerante, sua mãe estava aos prantos, sem saber como lidar com o próprio sofrimento, precisava ser forte, pelos dois. Mas dias depois, sua mãe apareceu em seu quarto, sentou-se ao seu lado e sem dizer uma única palavra, o abraçou, aquilo foi um rompante para liberar todas as suas lágrimas e lidar com o luto da maneira que seu corpo necessitava, a morte de seu pai criou uma ferida que levou anos para cicatrizar, não queria sentir aquilo novamente. O vento frio castigou seu rosto enquanto voava em direção a ponte, as luzes da cidade embaçaram sua visão ainda aguçada por conta do medo, assim como o barulho dos carros incomodava seus ouvidos.

Quando enfim, chegou, com o coração acelerado, procurou por Jungkook e o encontrou sentado no alto da arquitetura da ponte do rio Han, ele estava na parte mais alta da ponte onde os cabos de sustentação estavam conectados a estrutura, ele olhava para baixo, onde o rio calmamente preenchia todo o espaço. Aliviado por encontrá-lo, mas ainda com medo de que ele fizesse algo, voou até o alto da arquitetura, notou como era alto, seu pai havia pulado do parapeito da ponte, mas sua morte foi causada por afogamento, da altura onde estava, Jungkook morreria na queda se pulasse. Taehyung aterrissou com cuidado, seus passos fizeram barulho quando se aproximou, mas não o tocou, ele era rápido o suficiente para salvar Jungkook se precisasse, então não precisaria invadir seu espaço. Ele estava quieto, apenas observando o rio Han silenciosamente.

— Jungkook... — O chamou baixinho, com cuidado.

— O que foi que eu fiz de errado? — Ele perguntou, sua voz estava baixa, fraca e embargada. — Eu tentei tanto, mas tanto, atender as expectativas de todo mundo, por que não consegui?

— A culpa não é sua — Taehyung sentiu seu coração partido se despedaçar ainda mais.

— De quem mais seria? — Jungkook fungou e usou a manga da blusa para limpar o nariz. — Meu pai me odeia, minha mãe me odeia, o senhor das estrelas me odeia... Eu não tenho ninguém.

— Você tem a mim — sua voz também embargou.

— Eu não mereço você — soluçou e aquilo fez Taehyung dar mais um passo em sua direção, queria tocá-lo, abraçá-lo, mas tinha medo de fazer isso e afastá-lo ainda mais. — Você não merece ser segunda opção Taehyung, o substituto de um romance que deu errado.

— Eu não ligo se eu for.

— Eu ligo, eu te usei para me aproximar de um homem que nitidamente nunca gostou de mim, só para meu pai... — Jungkook chorou, sem conseguir terminar de falar. Aquilo deixou Taehyung confuso, o que seu pai tinha a ver com seu romance frustrado?

— O que tem seu pai? — Perguntou cauteloso.

— Eu fiz tudo isso, na esperança do meu pai me reconhecer, foi uma tentativa desesperada de conseguir a afeição dele — soluçou novamente. — Ele gosta tanto do Senhor das Estrelas que eu pensei que mesmo sendo gay, ele aprovaria nosso namoro, me apoiaria... Eu só queria ser motivo de orgulho uma única vez.

— Você não está apaixonado pelo Senhor das Estrelas?

— Eu achava que sim, até...

— Até? — Perguntou ao sentir a esperança correr por suas veias como um doce veneno.

— Você me mostrou tantas coisas, eu me diverti tanto com você nas últimas semanas que eu esqueci o meu verdadeiro objetivo, por um momento... Eu esqueci que a minha vida era um lixo — sua voz diminuiu gradativamente, até que a última palavra soou como um sussurro. — Você realmente merece ser um herói de verdade.

— Não, não mereço — deu mais um passo, próximo o suficiente para tocá-lo se esticasse o braço. — Um herói não pensa como eu, não tenho vocação para isso, então... — Taehyung respirou fundo e flutuou, parou quando estava de frente para Jungkook, que estava com os olhos e o nariz vermelho por conta do choro. Ele o encarou, com as lágrimas ainda escorrendo por suas bochechas, estas que Taehyung fez questão de limpar com cuidado. — Deixe-me ser um vilão, deixe-me levá-lo para longe daqui, me permita monopolizar a sua atenção por completo.

Jungkook arregalou os olhos, o brilho que tanto amava, apesar de fraco estava lá, no fundo do olhar tristonho dele. Taehyung tomado por um impulso de carinho se aproximou e plantou beijos cálidos nas pálpebras dele, traçou com os lábios todo o caminho de suas lágrimas e acariciou suas bochechas com os polegares. Jungkook fechou os olhos e se entregou ao seu carinho, as lágrimas ainda insistiam em cair, mas Taehyung fez questão de limpar cada uma delas, quando terminou, plantou um beijo demorado em sua testa. Olhou no fundo dos olhos de Jungkook, ele estava tão quebrado, tão frágil, tão ferido que isso o machucava também, ele merecia ser amado, mas não um amor meia boca, ele merecia um amor incondicional e cego, ele merecia o mundo, as estrelas e o todo o universo aos seus pés. Se ele o aceitasse, daria tudo isso e ainda mais, faria tudo por ele, para mantê-lo sempre como o conheceu, vívido, espontâneo, inocente e feliz, longe de qualquer coisa que pudesse furar sua bolha de felicidade.

— Por favor, me escolha — implorou em um último sussurro, os olhos de Jungkook brilharam ainda mais.

— Mesmo com todas as minhas imperfeições?

— Você é perfeito Jungkook — riu daquela pergunta tola e lhe deu um beijinho de esquimó. — Perfeito pra mim.

— Tem certeza que não vai se arrepender? — Perguntou novamente, com qualquer outra pessoa, aquelas perguntas iriam frustrá-lo. Mas o olhar banhado em insegurança de Jungkook mostrava que havia diversas razões para que existisse aquele medo de rejeição. — Você tem tantas opções melhores...

— Se você me aceitar, irei fazê-lo se enxergar da maneira que eu o enxergo — acariciou suas bochechas carinhosamente, sentiu seu peito se aquecer de tal maneira que tinha certeza que estava com um sorriso de boboca apaixonado. — Você, dentre todas essas opções, é definitivamente a melhor delas.

Um sorriso escapou dos lábios de Jungkook, que agora meio ria e meio chorava, mas seus olhos passavam todas as mensagens que Taehyung precisava saber. As mãos trêmulas e delicadas de Jungkook tocaram seu rosto e o encarou com intensidade, parecia esperar qualquer sinal de hesitação ou rejeição de sua parte, mas aquilo era tudo o que ele mais queria, ser tocado pelo homem que ele amava, por isso seu sorriso rasgou-lhe a face e entregou o grande apaixonado que era. Ainda havia certa insegurança no olhar dele, por isso Taehyung levou os dedos até as mãos dele e as cobriu com as suas, antes de flutuar até estar a centímetros do rosto dele. Jungkook suspirou e puxou seu rosto de encontro ao dele, ele o beijou como tanto desejava, sonhou tanto com aquele momento que não demorou nem meio segundo para que suas mãos fossem de encontro ao pescoço dele, para aprofundar ainda mais aquele beijo.

Era um beijo delicado apesar da visível sede que tinham um pelo outro, o toque de Jungkook era leve e cálido, seus lábios eram macios e seus polegares trêmulos descansavam sobre sua têmpora. Taehyung nunca esteve tão feliz em toda a sua vida, o sentimento de ter seus sentimentos correspondidos era simplesmente incrível, as borboletas voavam em sua barriga a mil por hora, sua felicidade era tanta que não conseguia conter o sorriso. Quando Jungkook se afastou ele o observou com atenção, procurou por qualquer sinal de arrependimento, mas o enorme sorriso em seus lábios deixava muito claro que não havia qualquer espaço para o arrependimento em meio a sua felicidade.

— Vamos para casa? — Taehyung perguntou, ainda com o sorriso no rosto. — Para a nossa casa?

— Nossa? — Seus olhos brilharam lindamente, antes de um sorriso ainda mais lindo surgir em seus lábios.

— Sim, nossa — concordou e deixou mais um beijo delicado sobre seus lábios. — A partir de hoje, tudo o que é meu, é seu, assim como o meu coração. Você irá aceitá-lo?

— Com uma condição — fungou, com um sorriso. — Somente se você aceitar o meu também. — Taehyung não conseguiu conter um sorriso ainda maior de surgir em seu rosto, a felicidade era tanta que se sentia no topo do mundo.

— Se eu aceito? — Riu ao se aproximar para deixar um beijo demorado em seus lábios. — Não só aceito como prometo que jamais irei machucá-lo.

— Eu gosto de você Tae, meu coração acelerou desde o momento em que você sorriu após comer a minha comida — Jungkook admitiu, sem desviar o olhar um milímetro que fosse do seu. — Você sempre me fez duvidar das minhas escolhas, porque você sempre pareceu a melhor delas.

Taehyung sentia um ímã que o puxava em direção a Jungkook, era uma força que mesmo ele e seus poderes não podiam — e não queriam — suportar, por isso deixou que o magnetismo o controlasse e juntou suas bocas novamente. Diferente dos outros beijos que tiveram, Taehyung passou seus braços em volta da cintura de Jungkook e o puxou contra seu corpo, o segurou em seus braços antes de senti-lo prender as pernas em volta de seu quadril. Ainda sem afastar seus lábios, voou até ultrapassar as nuvens novamente, afastou-se apenas quando o frio os cobriu como um véu gelado. Jungkook abriu os olhos e sorriu ao ver onde estavam, rodeados pelas luzes da cidade e pelas estrelas novamente, mas diferente de antes, ele não rejeitou seu coração, pelo contrário, o abraçou ainda com o sorriso perpetuado nos lábios e descansou a cabeça em seus ombros.

— Jungkook, eu posso me vingar deles por você? — Taehyung perguntou, sem querer esconder nada dele. Principalmente sua sede por vingança.

— O que? — Perguntou com a voz serena, como se aproveitasse ao máximo o abraço.

— Eu não sou tão bom quanto você pensa, sou um ser humano, tenho falhas e uma delas é que meu senso de justiça supera a razão na maioria das vezes — acariciou os cabelos de Jungkook, para niná-lo. — Eu quero fazê-los pagar por terem feito você chorar, posso fazer isso?

— Por que está me perguntando? Eu não conseguirei te impedir caso queira fazer isso.

— Mas não o farei se não quiser — disse enquanto olhava para as luzes da cidade. — Mesmo que tenham te machucado, essas pessoas já foram importantes para você.

— Mas se você fizer isso, você se tornará um vilão de verdade — ele se afastou para poder olhá-lo nos olhos novamente.

— Eu não me importo, nunca me importei e definitivamente não tenho motivos para me importar com eles agora, não depois do que fizeram com você — Taehyung levou as mãos até suas bochechas e fez um carinho leve em seu rosto. — Quero ensinar uma lição a eles.

— Você vai... matá-los?

— É o que você quer? — Perguntou com cuidado novamente. Jungkook desviou o olhar do seu e encarou seu peito e pensou sobre o que acabou de ouvir.

— Eu também não sou uma pessoa tão boa Tae — suspirou e brincou com a gola de sua camiseta. — Eu estou magoado a ponto de não me importar com o que acontece com eles, mas...

— Mas?

— Não quero que você se torne um assassino — voltou a olhá-lo nos olhos. — Não quero que você pague pelas merdas que aconteceram comigo, então, se você quer castigá-los, faça, mas não quero que você se torne uma escada para ajudar meu pai e o Senhor... o plagiador a conseguir mais fama.

— Tudo bem — assentiu e deixou um beijo sobre sua testa. — Você quer ir embora da Coreia junto comigo? — Perguntou ao tomar o rumo para casa, enquanto abraçava Jungkook para que ele não sentisse medo enquanto voavam pela cidade.

— E para onde iríamos? — Perguntou com um sorriso enorme e voltou a deitar a cabeça em seu ombro, para apreciar a paisagem.

— Para onde você quiser.

— Você deixaria tudo para trás para fugir comigo?

— Sem pensar duas vezes — respondeu com um sorriso. — Você pode se teletransportar, eu posso voar e existem aviões, mesmo que eu sinta saudades da minha mãe, em um piscar de olhos eu estaria junto a ela novamente. — Sobrevoou através das nuvens, para não atrair a atenção das pessoas da cidade. — O céu é o limite e talvez nem ele.

— Então eu aceito — Jungkook respondeu e o abraçou com mais força.

Taehyung sentiu uma alegria tão intensa que as borboletas em seu estômago ficaram alvoroçadas, Jungkook havia aceitado ir embora com ele, havia também aceitado seus sentimentos, sentia-se um adolescente namorando pela primeira vez. Sua mãe já lhe disse que um dia iria se apaixonar de verdade, que um dia ele iria sentir todas as sensações incríveis e assustadoras que o amor causava, mas na época não acreditou nela, mal sabia ele que Jungkook viria para fazê-lo sentir tudo isso e muito mais. Quando chegaram em casa Taehyung tomou cuidado para que ninguém os visse chegar, aterrissou nos fundos de casa como de costume e colocou Jungkook no chão, que não se afastou, pelo contrário, ele o encarou com aquele olhar lindo e brilhante antes de segurar sua mão. Se antes as borboletas estavam agitadas, aquilo quase as fizeram explodir, tamanha a felicidade, seu coração deu um salto em seu peito sem saber como suportar a intensidade de estar segurando a mão do homem que tinha seu coração em uma bandeja.

Com um sorriso pequeno, Jungkook o puxou para dentro de casa, seus dedos estavam entrelaçados e os sorrisos não saíram de seus lábios. Taehyung fechou a porta e deixou-se ser guiado pela casa, a cada passo em direção ao quarto seu coração acelerava, estava consciente demais da própria paixão, aquilo era um perigo, não saberia dizer se conseguiria manter suas mãos longe de Jungkook em seu quarto, tinha medo de estar indo rápido demais na mesma proporção que queria muito ir mais além. Quando estavam no cômodo os dois caminharam até estarem sobre a cama, Taehyung estava rígido sentado sobre o colchão, sem saber o que fazer, era assim que os adolescentes se sentiam na primeira vez? Não se lembrava de ter sentido algo parecido quando levou sua primeira namorada para a casa. Jungkook parecia mais tranquilo, apenas se deitou na cama de lado e deu pequenas batidinhas no colchão, pedindo para que se deitasse também.

— Não precisa ter medo — Jungkook disse sorrindo. — Eu não mordo.

— Mas eu sim — suspirou e deitou-se ao lado de Jungkook, vendo a poucos centímetros de distância a beleza desconcertante dele. — Você é tão lindo...

— Você é mais ainda — ele respondeu com um sorriso fofo e levou a mão até seu rosto. — Tão lindo que nem parece real, será que você não é uma alucinação da minha cabeça emocionada? — Taehyung riu e se aproximou, deixou um beijo lento e suave sobre os lábios de Jungkook, que apenas fechou os olhos e aproveitou o carinho.

— Parece mais real agora? — Perguntou sem conseguir se afastar e o beijou novamente. Era como se não conseguisse se manter longe dele, precisava tocá-lo o tempo todo, senti-lo para ter certeza de que ele também era real.

— Não, ainda parece um sonho — com um pequeno sorriso Jungkook segurou em seu rosto, para beijá-lo novamente.

O beijo era mais firme, apesar de lento e cuidadoso, Jungkook deixou diversos selares sobre sua boca antes de deixar um último mais demorado e morder seu lábio inferior. Taehyung viu estrelas, seu corpo foi tomado por uma adrenalina e uma fome que nunca havia sentido antes, o magnetismo o puxou em direção a Jungkook de uma maneira tão natural e, quando notou, já estava em cima dele enquanto segurava em seu rosto para que tivesse fácil acesso a sua boca. Era tudo instintivo e espontâneo, sua mente mandava e seu corpo obedecia, queria mais do que apenas selinhos, queria beijá-lo de verdade, como há dias vinha sonhando em fazer. E sem demora, chupou o lábio inferior de Jungkook que abriu a boca para soltar um suspiro. Aquela foi a deixa para Taehyung, que firmou as mãos em seu queixo e deixou que sua língua procurasse pela dele, sentiu o gosto dele salpicar sua boca.

Jungkook gemeu no momento em que sua boca foi invadida, o que enviou um calor por todo o seu corpo e por isso Taehyung se afastou, para observá-lo e ter certeza de que não estava avançando demais, se certificar de que não havia passado dos limites. Mas o que encontrou deixou seu corpo quase em estado de combustão, Jungkook estava ofegante e o encarava com os olhos semicerrados e com um olhar extremamente satisfeito. Uma explosão de calor e hormônios tomou o corpo de Taehyung ao vê-lo daquela maneira tão entregue debaixo dele, por isso não demorou muito até que seus lábios percorressem o caminho pelo pescoço de Jungkook, retornou a beijá-lo até seus lábios novamente, adorou ouvir seus suspiros e sentir o aperto dele em sua camiseta, estava sedento por ele. Os lábios de Jungkook eram viciantes, seu beijo era gostoso e tinha certeza que aquilo se tornou seu novo vício.

— Isso realmente é bom demais para ser um sonho — Jungkook respondeu quando seus lábios se separaram.

— Se nós não pararmos por aqui, eu não vou conseguir me controlar mais — Taehyung suspirou e se deitou ao lado dele, para que pudesse puxá-lo para seus braços.

— Eu iria gostar se você não se controlasse — ele respondeu ao se aconchegar em seus braços.

— Você não sabe o que diz — riu e fez carinho nos cabelos de Jungkook. — Obrigado por me escolher.

— Eu que tenho que te agradecer — Jungkook passou os braços por sua cintura e o abraçou também. — Obrigado por me mostrar a verdade, se não fosse por isso, eu ainda estaria correndo atrás de um amor pela metade. Ou uma falsa ilusão de amor.

— Disponha — Taehyung respondeu com um sorriso.

— Lembra quando eu disse que fugia de casa com frequência, por isso esse sequestro falso precisava durar mais? — Ele perguntou com a cabeça apoiada em seu peito.

— Lembro.

— Eu tinha dezesseis anos quando eu me teletransportei pela primeira vez, foi durante uma crise muito forte que eu tive — disse baixinho, como se lhe contasse um segredo, por isso ouviu atentamente. — Eu simplesmente gritei e apareci em outro lugar, até hoje eu não sei para onde eu fui, mas era simplesmente lindo, era uma floresta com um lago grande de águas calmas.

— Você escolheu aquele lugar inconscientemente? — Perguntou enquanto passava o nariz pelos fios do cabelo dele e sentia o cheirinho gostoso do seu shampoo.

— Acho que sim, eu estava muito ansioso, me sentia sufocado e abrir os olhos em um lugar como aquele não me assustou, pelo contrário, eu me senti bem pela primeira vez em muitos anos — apesar de não ver seu rosto, que ainda estava escondido em seu peito, sabia que ele estava sorrindo. — Claro, depois eu entrei em pânico porque não sabia onde estava e nem como sair de lá.

— E como você conseguiu?

— Eu desejei voltar para a mansão e quando abri os olhos, eu estava de volta — Jungkook ficou um tempo em silêncio, ele respirava baixinho, provavelmente estava bastante sonolento a julgar por sua calmaria. — Acho que o universo me deu esse dom, por saber que eu me sentia preso, ele me deu uma chance de fugir da minha realidade sempre que quisesse.

— Você nasceu com esse dom porque até mesmo o universo sabe o quanto você é especial e merece ser feliz — sussurrou contra seus cabelos. Os braços dele em volta de sua cintura o pressionaram com mais força. — Boa noite Jungkook...

— Boa noite Tae.

Ficaram ali, abraçados por um bom tempo, apenas sentindo o conforto dos braços um do outro, até que Jungkook adormeceu. Taehyung acariciou seus cabelos e apreciou o calor de uma pessoa junto ao seu depois de tanto tempo, nunca se sentiu tão bem, tão completo, era uma sensação muito gostosa. Com muito cuidado se afastou de Jungkook, com medo tirá-lo de seu momento de paz, mas tinha algo que precisava fazer, então o deixou dormir e o cobriu quando se levantou, ele estava aproveitando a tranquilidade de seu sono quando saiu do quarto. Taehyung fechou a porta com cuidado e respirou fundo antes de caminhar até a roupa do Vil que estava na lavanderia, a encarou por alguns segundos, pronto para dizer adeus a sua tão amada tranquilidade e dizer olá à justiça. Vestiu-se e colocou sua máscara logo em seguida, enquanto calçava suas botas pensava no que havia acontecido, somente para fomentar ainda mais sua raiva.

Checou uma última vez se Jungkook estava dormindo e saiu de casa, trancou a porta e tomou impulso para voar, voou até a prefeitura, pois sabia que o prefeito estaria lá, sentado atrás de sua mesa como se fosse um trono. Quando chegou não se incomodou em ser furtivo, apenas aterrissou na calçada sem qualquer cuidado e a deixou em pedaços, as pessoas a sua volta se assustaram e correram quando o identificaram, mas não deu a menor bola para elas, apenas foi até a porta da prefeitura e a derrubou. A porta da entrada era de vidro blindado, por isso não se quebrou, mas sua força a derrubou dos ganchos nas paredes e assustou todos que estavam dentro do lugar. As pessoas gritaram e correram enquanto Vil caminhava, viu que algumas gravavam sua chegada ou ligavam para a polícia, mas ela seria completamente inútil agora.

Sua vontade era de colocar o prédio da prefeitura abaixo, transformar aquele lugar em uma pilha de pedras e poeira, mas haviam muitas pessoas ali dentro, então seria um ideia idiota, por isso destruiria o máximo que conseguisse sem envolver inocentes. Usou sua super velocidade para andar por todos os lugares, à procura do prefeito, as pessoas que estavam lá dentro estavam em pânico, todas provavelmente já sabiam que havia acontecido alguma coisa, mas as que estavam mais afastadas da entrada pareciam confusas com todo o pânico. Quando enfim chegou até a sala onde estava escrito "Prefeito Jeon Hyungwoon" parou diante dela, pensou se a derrubava ou se fazia suspense, mas não estava com paciência, por isso simplesmente arrombou o trinco. Com apenas um único golpe a porta se abriu abruptamente, o que deixou a maçaneta em pedaços.

Vil caminhou para dentro da sala devagar, viu o pai de Jungkook se levantar às pressas de sua cadeira com uma feição assustada, havia uma secretária junto a ele, mas ela fugiu assim que teve a oportunidade. Ao olhar para a cara dele naquele momento Taehyung sentiu o ódio em sua essência mais pura, era um velho maldito e ganancioso que preferia dar atenção a candidatura do que ao próprio filho, sentia raiva por Jungkook ter gastado seu precioso tempo para se reconciliar com aquele lixo de ser humano. Vil caminhou até estar de frente para a mesa de mogno, que brilhava por estar bem limpa com cera, a placa com o nome de Hyungwoon estava belamente exposta a todos que entrassem na sala, havia um computador e uma medalha emoldurada sobre a mesa, uma medalha do exército para expor a todos o patriotismo do prefeito de Seul. Aquilo deu náuseas a Vil.

— Que engraçado, não vejo sequer uma foto do seu filho naquela prateleira — Vil riu com amargor ao encarar uma prateleira cheia de fotos de Hyungwoon com outros políticos. — Que tipo de pai é você prefeito?

— Se é o dinheiro do resgate que você quer, me dê uma hora e eu darei tudo a você! — Respondeu acuado. Ele estava de pé, próximo a janela, tentava manter-se o mais longe possível de Vil.

— Eu ouvi o plagiador dizer que você não estava tão preocupado com Jungkook — ignorou o que ele falou e pegou a placa que dizia "prefeito Jeon Hyungwoon". — Que era apenas mais um draminha, que nem mesmo você, o próprio pai suportava o filho.

— Isso não é verdade! — Rebateu, mas se encolheu quando seu olhar encontrou o dele.

— Não? — Ainda com os olhos conectados ao dele, Vil despedaçou a placa de vidro e espalhou os cacos pelo chão impecavelmente limpo. — Para um homem que pagou propina para subir no parlamento, você sequer negociou pela vida do seu próprio filho. — Pegou o quadro que estava sobre a mesa também, onde tinha a medalha do exército. — A julgar pela sala impecavelmente limpa, suas fotos sem uma única partícula de pó e seu terno bem passado, pagar pelos serviços dos empregados é mais importante do que seu filho, que estava sendo mantido em cárcere pelo inimigo de Seul.

— O que você quer? — Perguntou com o olhar sobre a medalha enquadrada em suas mãos. — É dinheiro?

— Dinheiro é tudo o que passa pela sua cabeça, não é? — Se irritou e quebrou o quadro, pegou a medalha e a despedaçou na altura dos olhos de Hyungwoon. — Eu vou te ajudar a enxergar que uma vida é mais importante do que qualquer dinheiro.

Vil usou sua super velocidade para agarrar Hyungwoon pelo pescoço, em uma fração de segundo sua mão estava em volta do pescoço dele, que se assustou tanto que seus olhos quase saltaram das órbitas. Aproveitou-se da janela atrás dele e a atravessou depressa, segurava o prefeito com firmeza pelo pescoço, sem se preocupar se ele estava se ferindo ou não, prometeu que não iria matá-lo, mas também não iria deixá-lo sair ileso. O prefeito gritou quando o vidro da janela se estilhaçou e se agarrou ao pulso de Vil, que voava enquanto o segurava pelo pescoço, para restringir sua respiração por conta do peso de seu corpo. Se apressou e deixou o prefeito sobre o chão da praça onde ele gostava tanto de fazer pronunciamentos, ironicamente, o mesmo lugar onde o plagiador o "derrotou" pela última vez.

— Se correr eu quebrarei suas pernas — Vil disse a centímetros do rosto de Hyungwoon, que se recuperava do sufocamento.

Vil caminhou até um banco, onde arrancou o ferro que servia para apoio para os braços e o retorceu, quando voltou a caminhar em direção a Hyungwoon com a barra de ferro na mão ele gritou, mas seus gritos não o abalaram. Enquanto o prefeito se debatia, Vil passava a barra de ferro ao redor do corpo dele, para prendê-lo e evitar que estragasse seus planos, fez isso mais algumas vezes, prendeu seus braços e pernas com os ferros dos bancos. Mais cedo, enquanto estava deitado com Jungkook, pensou no que faria para se vingar do prefeito, ele não só era um pai ruim, como também era um ser humano horrível que pagava propina a políticos e imprensa para que fizessem o que ele queria, que bancava a vida de ostentação do plagiador quando nem a faculdade do próprio filho quis pagar. Teve um tempo pequeno para planejar o que faria, mas estava decidido a expor tudo sobre ele, queria acabar com a vida dele, por isso tateou os bolsos, atrás do celular que ele usava.

— O que está fazendo?! — O prefeito quase gritou, o que fez Vil sorrir.

— Pelo seu desespero, imagino que tenham coisas muito interessantes aqui — balançou o celular diante dos olhos dele quando o pegou. Riu da cara de pânico que Hyungwoon fez e o contornou. — Preciso da sua digital.

— Não toque em mim!

— Hyungwoon escolha, eu preciso da sua digital — Vil disse próximo ao ouvido dele, sem qualquer resquício de humor. — Eu vou consegui-la de qualquer maneira, a escolha é sua, ou me deixa pegá-la do modo fácil ou arrancarei seu dedo e pegarei no modo difícil.

Hyungwoon arregalou os olhos e o encarou com medo, ele tentava decifrar se estava falando sério ou não, mas ao contrário do habitual onde Vil demonstrava diversão ou deboche, ele estava sério. Os olhos do prefeito marejaram e Vil quis rir, mas segurou sua vontade de caçoar dele, faria isso em outro momento, pois agora tudo o que queria era expor todas as merdas que ele fazia ao público. Após um tempo em silêncio simplesmente se abaixou e colocou o dedo dele para fazer o reconhecimento digital e desbloqueou o aparelho, primeiramente foi para as conversas, encontrou diversos números que não estavam salvos, todas as conversas tinham mensagens temporárias. Mas por sua sorte, Hyungwoon havia trocado mensagens com um deputado estadual há algumas horas, onde planejavam um golpe de estado para derrubar o presidente atual, as mensagens diziam o que fariam no momento em que o "plano" de desmoralizar o presidente desse certo.

Somente com aquilo Vil já tinha material suficiente para acabar com a candidatura de Hyungwoon, por isso abriu um sorriso imenso. Tirou print de todas as conversas e as enviou diretamente no e-mail de denúncias eleitorais e para o departamento de polícia de Seul. Procurou por pastas e documentos também, revirou todos os pdfs e arquivos suspeitos, encontrou vários comprovantes de banco com valores extremamente altos, todos saiam da conta da prefeitura e iam para diversas offshores, inclusive algumas em nome do ministro da economia. Além de diversas transferências para lojas e lanchonetes, todas com valores extremamente altos, compras de comida e cosméticos, mas se não fosse para alimentar uma comunidade carente ou fazer kit de skin care para distribuir, aqueles valores não faziam sentido, porque o prefeito enviou tanto dinheiro para elas? Simples, lavagem de dinheiro, ele sequer se livrou dos comprovantes e provas, talvez para comprovar aos seus colegas corruptos os pagamentos que fez para desviar dinheiro.

— Isso aqui é uma mina de ouro hein, Hyungwoon? — Vil riu e abriu novamente as conversas após enviar todos aqueles comprovantes por e-mail também. — Somente com o que eu encontrei em dois minutos você passaria uns vinte anos na cadeia.

— Por favor! Eu imploro, não me exponha — ele implorou, as lágrimas lavaram sua cara de pau e ele conseguiu ficar ainda mais patético aos olhos de Vil. — Eu te dou qualquer coisa, você quer dinheiro? Que eu limpe sua ficha? Eu faço!

— Vamos adicionar suborno ao seu bingo de crimes, daqui a pouco você gabaritará o código penal — disse enquanto procurava por mais provas. Acabou por encontrar uma conversa com um cara que fazia algumas documentações, mas a julgar pelas conversas, eram documentos fraudulentos. — Não se preocupe, você vai dividir a cela com seus amiguinhos, não vai ficar sozinho.

— Vil por favor! Eu tenho um filho para cuidar — ele disse no auge do desespero. Aquilo vez Vil desviar o olhar do celular e o encarar com raiva.

— Você por acaso sabe quantos anos seu filho tem? — Perguntou, viu Hyungwoon arregalar os olhos. Ele havia comemorado o aniversário de dezoito anos dele há seis anos e usava o filho, já adulto, que negligenciou a vida inteira como barganha e sequer sabia quantos anos ele tinha. — Sequer foi atrás dele quando o sequestraram e agora que pagar de pai de família? Você consegue ser ainda mais patético como pai do que como prefeito!

— Por favor... — Ele implorou novamente, enquanto chorava ainda mais.

— Eu tive uma ideia — Vil disse com um sorriso de orelha a orelha e ligou a câmera, virou-se para que pegasse os dois. — Olá, queridos seguidores do prefeito Hyungwoon, futuro presidente do nosso querido país! Hoje eu vou contar a verdade sobre a pessoa que vocês estão depositando todas as suas expectativas e confiança!

— Não, por favor! — Hyungwoon gritou e tentou se levantar, mas não conseguiu por conta dos ferros que o mantinham preso.

— Como sabem, eu sequestrei o filho dele, mas advinhem? O pai dele, esse homem incrível, sequer se importou — virou a câmera e apontou diretamente para a cara de choro de Hyungwoon. — Ele e seu amiguinho plagiador, digo, Senhor das Estrelas, estavam contentes que Jungkook foi sequestrado, ótimo herói e pai não é? O filho do prefeito cresceu a vida toda sendo renegado pela família, mas não é isso que Hyungwoon mostrou, já que podia usar a imagem de bom pai para conseguir mais eleitores, mas ele contou que ignora o filho em casa? Que o trata como um parasita? — Vil virou a câmera novamente, focou totalmente em sua máscara. — Hoje vocês vão descobrir quem é o verdadeiro vilão dessa cidade, o que eu fiz não chega nem perto do que o prefeito fez, fiquem atentos às notícias, vocês vão se surpreender com todos os furos quentíssimos que eu vou trazer para vocês!

Após terminar, Vil encerrou o vídeo e o postou em todas as redes sociais que Hyungwoon tinha no celular, com a legenda "Vocês sabiam disso?". Com isso, Vil foi nas configurações e desativou todas as senhas de bloqueio do celular, pronto para levá-lo até a polícia para que fizessem uma investigação mais a fundo sobre todos os crimes que Hyungwoon cometeu. Colocou o aparelho celular em um bolso de seu traje e ao olhar para Hyungwoon pensou no que mais faria... Deveria bater nele? Com certeza ele merecia uma surra, mas, realmente, perderia seu tempo batendo em alguém que provavelmente não aguentava nem um peteleco seu? Enquanto pensava no que fazer ouviu um drone sobrevoar sobre suas cabeças, levou seu olhar até ele, se haviam câmeras filmando, só poderia significar uma coisa, por isso respirou fundo e virou-se para trás, viu o plagiador chegar voando e pousar com uma pose exagerada e fingida.

Finalmente chegou o momento onde Vil não iria atuar, queria quebrar a cara dele e com certeza faria isso.

— Você não cansa de apanhar Vil? — Colocou a mão sobre a cintura e fingiu decepção. Além de tudo ele era um péssimo ator.

— Você vai se arrepender tanto de dizer isso — Vil riu. — Hoje eu não estou afim de fazer fan service para os seus seguidores cegos.

— Está com inveja que o meu fan clube é maior que o seu?

— Inveja? — Viu gargalhou. — Eu tenho pena de você, inveja eu tenho de quem não te conhece.

— Por que sequestrou o filho do prefeito? — Fingiu seriedade e mudou de assunto. — Não estava satisfeito só com o filho e resolveu sequestrar o pai também?

— É, isso mesmo — debochou após colocar a mão na cintura. — É essa a resposta que você queria ouvir?

— Você não toma jeito mesmo — balançou a cabeça como se estivesse desapontado, com a encenação de merda dele. — Mas eu vou ensiná-lo mais uma vez que não pode fazer o quiser com as pessoas dessa cidade.

— Aham, estou ansioso por isso — fez pouco caso e olhou para algo irrelevante que parecia mais interessante do que a encenação péssima dele.

O plagiador olhou para cima uma última vez, para se certificar se o drone estava gravando a cena e voou em sua direção. Vil o encarou com tédio, sempre o achou lento, mas tinha que fingir que era mais lento que ele para que a luta não ficasse desbalanceada, porém agora estava pouco se fodendo para aquilo, simplesmente desviou como se uma lesma tentasse derrubá-lo. O plagiador passou reto e parou quando notou que havia desviado, aquilo pareceu surpreendê-lo, pois normalmente ele conseguia pegá-lo de primeira, mas o que ele não sabia, é que Vil sempre deixou que ele fizesse isso. Após se recuperar da confusão, o plagiador voltou a tentar pegá-lo, provavelmente queria empurrar seu corpo contra alguma estrutura, porém, novamente, Vil desviou.

— Isso é melhor que você consegue fazer? — Perguntou Vil enquanto bocejava.

O plagiador franziu o cenho e tentou desferir diversos socos em direção a seu rosto, mas facilmente Vil conseguiu desviar, sem sequer precisar se esforçar muito. Quando cansou daquela dança lenta e entediante, Vil agarrou a mão do plagiador quando ele tentou acertar seu nariz, parou o golpe frontal dele, que aparentemente estava utilizando muita força. Qualquer outra pessoa teria quebrado todos os ossos e até mesmo morrido se fosse acertado por aquele soco, mas em seu corpo ele teria o impacto de uma mosca tentando socá-lo. O plagiador arregalou os olhos quando notou o que ele havia acabado de fazer, porque normalmente aquele soco teria lhe deixado no chão, chegava até ser engraçado que ele se vangloriava e se gabava das lutas que tinham com aquela força ridícula. Por isso, segurou seu pulso com a mão esquerda e usou a direita para acertar um soco em seu rosto, que o jogou do outro lado da praça, onde ele bateu as costas contra a estátua do fundador da cidade, que tremeu e ameaçou cair.

— Vou te contar um segredinho — Vil disse ao caminhar em direção ao plagiador que gemia de dor, enquanto tocava o próprio rosto. — Eu sempre fingi ser derrotado por você.

— O que?! — Ele perguntou ao levantar o olhar. Vil viu um rastro de sangue sair de seu nariz e manchar os lábios dele, o que mostrava que não era indestrutível como ele.

— Você é arrogante e narcisista, estava tão focado em ser o centro das atenções que nunca notou que eu apenas atuava — abaixou-se para ficar na mesma altura que ele. — Você sempre foi ridiculamente fraco comparado a mim, eu poderia acabar com você desde o começo e quis fazer isso, mas decidi aceitar o papel de vilão, mesmo quando você sempre soube que eu queria ser o herói.

— Você tem mais cara de vilão, olha tudo o que fez! — Ele gritou, pareceu irritado por ouvir a verdade.

— Eu já machuquei alguém? Alguém já foi parar no hospital por minha causa? Eu só encenei, nunca machuquei ninguém realmente — explicou, com os olhos fixados aos dele. — Foi você, o único idiota que não liga de destruir tudo a sua volta para "me derrotar", já cansei de salvar as pessoas dos seus surtinhos de estrela durante as nossas lutas.

— Você está mentindo.

— Uhum, claro que estou — revirou os olhos e se levantou. — Depois olhe as gravações das nossas lutas na internet, por que você acha que eu tenho um fã clube apesar de ser um vilão? Porque algumas pessoas notaram que você é um grande babaca narcisista que não se importa com ninguém além de si mesmo.

— Não banque o santo, Vil! — Se levantou também e tentou limpar o sangue que não parava de escorrer de seu nariz. — Você sequestrou o Jungkook e provavelmente está torturando ele para conseguir o dinheiro do pai dele.

— E para que eu iria querer dinheiro? Ao contrário de você, eu gosto da minha vida simples, nunca quis muito dinheiro, pois se eu quisesse, eu simplesmente acabaria com você e tomaria o seu lugar — curvou uma sobrancelha. — Jungkook foi quem me procurou e pediu para mantê-lo comigo em minha casa, tudo porque ele queria que o pai mostrasse nem que fosse um pingo de preocupação e afeição pelo próprio filho. — Vil virou-se em direção ao prefeito, que arregalou os olhos.

— Ele pediu para ser sequestrado? Conta outra! — O plagiador cuspiu cheio de ironia.

— Sim, ele pediu — respondeu e voltou a encará-lo. — Ele queria que você fosse salvá-lo, para que o pai que gosta mais de você do que do próprio filho, olhasse para ele sem ser com decepção. Mas adivinha o que ele ouviu sair da sua boca? Que era um viadinho carrapato e um buraco para meter de costas.

Aquilo fez o plagiador arregalar os olhos e o encarar assustado.

— Isso é mentira, eu nunca disse isso!

— Disse sim, eu estava lá, faz poucas horas que eu o ouvi dizer na boate que não iria salvá-lo e que era até bom que eu o tinha levado — aquilo fez o sangue correr em suas veias de maneira mais espessa, como se a raiva o fizesse solidificar. — Eu estava lá, então não ouse mentir.

— Eu ia salvá-lo sim! Eu estava apenas tentando descobrir onde você estava mantendo-o preso! — Disse ao desviar o olhar do seu para encarar o drone que sobrevoava suas cabeças. Saber que o que o deixava preocupado era a possibilidade das pessoas saberem que ele era um babaca, e não que ele estava arrependido, o deixou ainda mais possesso.

— Eu vou arrancar a verdade da sua boca à força — Vil disse cansado de pegar leve.

Voou em direção a ele sem conter sua velocidade, não queria oferecer a ele a chance de uma luta justa, usaria toda a sua força e sua velocidade sem contê-las, arrancaria a verdade da boca dele mesmo que tivesse que fazê-lo dizer engasgado no próprio sangue. O agarrou pelo pescoço e o levantou, apenas para jogá-lo contra o chão novamente, queria afundá-lo contra o concreto. O plagiador gemeu de dor e o encarou com a expressão tomada por medo antes de segurar sua mão, ele usava toda a força que tinha para tentar livrar-se do aperto em seu pescoço, porém sequer conseguiu fazê-lo se mover um milímetro que fosse. Usou a mão livre para acertar um soco em sua bochecha e viu um dente voar, mas não parou e acertou mais alguns, parou somente para segurar suas bochechas, queria que ele olhasse em seus olhos, sem conter sua força no ato.

— Vamos, admita e talvez eu poupe a sua vida — Vil disse com o olhar tomado de raiva. Mas o plagiador escolheu o silêncio, por isso acertou outro soco, ainda mais forte, o que arrancou mais um dente e ainda mais sangue. — Eu arrancarei todos os seus dentes, então diga agora enquanto ainda tem alguns na boca!

— Não — respondeu e cuspiu em seu rosto.

Vil sentiu sua visão escurecer em ódio, por isso afastou-se e o soltou, somente para mirar seus golpes em outro lugar. Usou toda a sua força e sem se conter, fechou os punhos e acertou um soco no estômago do plagiador, que perdeu o ar e se encolheu, por conta da força que usou e o som estalado, sabia que havia quebrado suas costelas. O viu se contorcer e realmente se engasgar no próprio sangue, por isso se levantou e voou até o drone, que tentou se afastar quando notou sua aproximação, mas ele era muito mais rápido, então o pegou e voltou até onde o plagiador chorava de dor. Com o drone em sua mão esquerda, Vil usou a direita para levantar o plagiador pelos cabelos e o deixou de joelhos, apenas para empurrar a cabeça dele contra seu próprio joelho, bem diante da câmera do drone, deixou a câmera registrar com detalhes o momento em que quebrou o nariz dele.

— Vamos, diga a eles ou a próxima coisa que eu quebrarei será o seu pescoço — Vil disse entredentes. O plagiador chorou alto, com o rosto completamente destruído.

— E-eu admito... — Ele respondeu aos prantos. — E-eu n-não ia salvar ele.

— Do que você chamou o Jungkook? — Vil perguntou ao puxar ainda mais seus cabelos.

— D-de viadinho... — Ele engasgou por um segundo e continuou. — Carrapato e ri quando disseram que ele era um buraco para foder.

— Você fazia parte do esquema de propina do Hyungwoon?

— Sim — ele chorou ainda mais. — Eu recebia d-dinheiro e me livrava das pedras no sapato dele...

— Como? — Aproximou ainda mais o drone, para que ficasse ainda mais nítido no microfone.

— E-eu ameaçava e b-batia quando necessário — o plagiador levantou os olhos, para que pudesse encará-lo. — Por favor... não me mate...

— Você não merece tamanha piedade — se levantou e largou o drone, que sobrevoou sobre suas cabeças novamente.

O plagiador parecia aliviado, mas não matá-lo não significava que o sofrimento acabaria, por isso largou seus cabelos e desferiu um golpe forte contra sua nuca, que o nocauteou, ele caiu desacordado no chão de concreto sem qualquer delicadeza. Vil virou-se em direção a Hyungwoon, que encarava a cena com o semblante extremamente aterrorizado, parecia em estado de choque, porém quando o viu caminhar em direção a ele, tentou fugir. Seria uma cena cômica vê-lo tentar se arrastar para longe dele, mas estava tão enojado que qualquer coisa que ele fizesse o deixava puto, então tratou de terminar o que precisava fazer antes de voltar para os braços de Jungkook. Hyungwoon parou de rastejar no momento em que Vil o segurou pelos cabelos também, ele se curvou para tentar se livrar de seu aperto, quando tentou levar as mãos presas até a sua notou que ele segurava um objeto estranho.

— O que é isso? — Vil perguntou após tomar o objeto das mãos do prefeito. Parecia um pequeno controle, mas havia somente um botão vermelho no centro.

— Um alarme de emergência — ele respondeu com um sorriso, o que o fez curvar as sobrancelhas com a ousadia dele de sorrir naquela situação.

— Solte o prefeito! — Alguém gritou atrás deles.

Vil desviou o olhar do prefeito para encarar o homem que havia lhe dado aquela "ordem" e viu diversos homens armados, todos com as armas apontadas para ele. Ao ver aquilo uma gargalhada irrompeu por sua garganta, eles achavam mesmo que aquilo iria pará-lo? As balas podem ser do mais alto calibre que mesmo assim nunca iriam penetrar sua pele, aquilo sequer causava um arranhão, era inútil. Os homens estavam todos uniformizados com um uniforme diferente dos policiais da cidade, o que fez suas sobrancelhas se curvarem, eles criaram um esquadrão novo somente para lidar com Vil em alguma situação de emergência? Haviam armas grandes e pequenas, ao todo deviam ter uns dez homens, prontos para neutralizá-lo e salvar o pobre prefeito em perigo, aquilo fez seu sorriso aumentar ainda mais, pela prepotência deles em acharem que poderiam pará-lo.

— O que pretendem fazer com isso? — Vil colocou a mão sobre a cintura, com um sorriso debochado nos lábios.

— Nós vamos atirar se necessário — o homem avisou.

— Vocês não assistem televisão? — Vil perguntou com a sobrancelha curvada, por que eles estavam confiantes com armas normais, mesmo sabendo que sua pele era impenetrável? — Não sabem que isso não funciona comigo?

— As balas são feitas de ródio — um deles falou com um sorriso pretensioso.

Vil não aguentou, gargalhou com vontade novamente.

— Deixa eu contar uma história para vocês — ele levantou o olhar para o drone. — Inicialmente eu apareci para ser um herói, planejei minha roupa por anos, ensaiei minha entrada e minha falas, ansioso para ser um novo herói. Só que o maldito Senhor das Estrelas decidiu por mim que eu não merecia ser um herói, apesar de eu ser dez vezes mais forte, vocês simplesmente foram na onda dele. — Todo o humor que existia em sua voz ou expressão se foi. — Vocês me transformaram em um vilão porque era conveniente, eu apenas aceitei o papel. Mas agora, eu cansei de aturar essa merda, não vou mais deixar esse imbecil do plagiador usar da fama que eu dei a ele para fazer as merdas que ele gosta. Ele não merece ser chamado de herói, assim como vocês não merecem ser salvos.

— Conta outra Vil, tá querendo pagar de bonzinho depois de tudo o que você fez? — O homem fardado que estava na frente disse antes de revirar os olhos.

— O que eu fiz? — Vil o encarou com ironia. — Eu matei alguém? Machuquei alguém? Eu só causei comoções, nunca feri ninguém.

— E daquela vez que... — Ele começou com confiança, mas parou de falar e franziu o cenho. — E teve aquela vez em que...

— Sim, continue — Vil pediu, pois notou que ele não tinha argumentos.

— Isso não importa, olha o que você está fazendo agora! Feriu dois inocentes.

— Inocentes não é? — Vil riu sem humor algum. — Fique com seus dois inocentes então, eu vou embora e não voltarei a pisar meus pés aqui novamente. — Virou-se para o prefeito e o viu ainda no chão assistindo tudo. — Mas antes, eu vou arrancar alguns dentes dele.

— Se tocar nele eu atiro! — O homem deu um passo à frente após gritar.

Aquilo irritou Vil, que simplesmente usou sua super velocidade para parar na frente dele e puxar sua arma, o homem arregalou os olhos quando de repente eles estavam frente a frente e a arma não estava mais em suas mãos. Para acabar logo com aquela merda e voltar para casa, Vil pressionou o cano da arma contra a própria cabeça, com os olhos fixos sobre os do homem fardado ele simplesmente apertou o gatilho, um barulho estupidamente alto soou quando atirou. Diante dos olhos de todos, Vil mostrou a bala cair no chão completamente amassada, tudo isso sem haver sequer um mínimo arranhão em sua cabeça. Aquilo fez todos arregalar os olhos, pois o Ródio era — supostamente — sua fraqueza, então ver a única esperança em detê-lo fracassar bem diante deles os deixou paralisados. Com uma facilidade quase cruel, Vil partiu a pistola em dois e a jogou no chão logo em seguida.

— Ródio não é a minha fraqueza, nunca foi — ele disse enquanto olhava nos olhos do homem que estava paralisado na frente dele. — Eu deixei vocês acreditarem nisso para que se sentissem seguros, aceitei o papel que me deram, agi de acordo com as expectativas, mas o que eu ganhei? Um esquadrão treinado para me matar. — Revirou os olhos e virou as costas. — Sumam da minha frente, vocês não são os alvos da minha raiva.

Vil não precisou dizer duas vezes, em um piscar de olhos todos os homens que estavam armados simplesmente começaram a correr para bem longe. O prefeito estava novamente com a expressão banhada em terror, o sorriso prepotente não deixou nem mesmo um sinal de que já esteve ali, até porque ele viu com os próprios olhos uma bala de Ródio ser amassada contra seu crânio sem lhe causar nenhum dano. Quando se aproximou o suficiente, Vil se abaixou e encarou o prefeito bem de perto, pensou no que faria com ele, com certeza ele merecia apanhar igual o plagiador, mas havia uma diferença entre os dois, Hyungwoon era um ser humano comum, se medisse sua força errado o mataria e não queria ser um assassino, mas como estava com raiva, certamente não conseguiria medir a própria força mesmo se tentasse.

— O que eu faço com você, hein? — Vil perguntou enquanto o encarava. — Você está muito inteiro para o meu gosto.

— Por favor, não me mata! — Ele pediu e voltou a chorar.

— Não, a morte para você seria um livramento — Vil respondeu, até que teve uma ideia e sorriu. — Não se preocupe, eu não vou machucá-lo.

Hyungwoon acompanhou com o olhar o momento em que Vil se levantou e o pegou nos braços, o jogou sobre os ombros antes de pegar impulso e decolar novamente, deixou o plagiador ensanguentado e inconsciente para trás. Voou até a penitenciária, que já conhecia todo o caminho de cor e salteado de tantas vezes que entrou lá dentro, porém faria o caminho contrário de sua cela adaptada e foi para o lugar onde os presos normais ficavam. Quando chegou, aterrissou na entrada da penitenciária e arrombou os portões de entrada, assustou todos os policiais que estavam de guarda, que no momento que chegou, todos arregalaram os olhos e olharam uns para os outros, pensativos sobre que fariam. Ródio era um metal raro, então mesmo que Hyungwoon tenha encontrado e importado para a Coreia, duvidava que tivesse distribuído para os polícias um metal tão raro e caro, então mesmo que fosse inútil, eles não tinham nenhuma esperança a qual se agarrar.

Praticamente abriram caminho para Vil passar, pois sabiam que não poderiam fazer nada contra ele, então simplesmente caminhou até estar dentro da penitenciária, viu os outros policiais encará-lo de maneira assustada. Quando chegou até às celas onde todos os criminosos estavam, Vil arrombou o portão que separava as celas do resto da delegacia, o que atraiu a atenção de todos os detentos, que se agarraram aos ferros das celas para ver o que estava acontecendo. Vil caminhou tranquilamente até estar no centro do corredor e colocou Hyungwoon no chão, notou o olhar confuso dele ao olhar para os lados. O prefeito não sabia, mas muitos dos homens que estavam dentro daquelas celas trabalhavam para os amiguinhos dele e foram deixados de lado quando não eram mais úteis, ou eram contra a candidatura dele e foram presos em manifestações contra ele. Hyungwoon estava rodeado por seus inimigos.

— Acho que vocês querem acertar as contas com o prefeito, não é? — Vil perguntou com a atenção voltada sobre os detentos. — Vamos fazer o seguinte: vocês cuidam dele pra mim e eu concedo passe livre para fora dessa prisão. Mas não quero ele morto, isso não seria um castigo e sim um ato de piedade para ele.

— Você disse que não era um vilão! — Hyungwoon gritou do chão.

— Mas eu também nunca disse que era o herói — respondeu e virou-se para encará-lo antes de caminhar para a primeira cela.

— Você disse que não ia me machucar! — Ele implorou uma última vez.

— E não vou — sorriu ao quebrar a fechadura da primeira cela, onde libertou os primeiros detentos. — Eles irão.

Os detentos saíram da primeira cela e o encararam com receio, esperavam que os impedisse de sair, mas Vil apenas caminhou para outra cela e arrebentou a fechadura, fez o mesmo com todas as outras também. Todos os detentos foram soltos e se aglomeram em volta do Hyungwoon, que gritou para que não chegassem perto dele, mas ele não conseguiria correr estando preso às barras de ferro e Vil não iria desatá-lo para deixá-lo em igualdade com os detentos, não queria ser justo com ele. Quando o primeiro detento segurou o prefeito pela camisa e o deixou de pé — com dificuldade por contas das barras de ferro — o primeiro soco foi desferido, após isso, Vil simplesmente virou as costas e saiu. Ao sair pelo corredor que veio, viu os policiais correrem em direção às celas, todos o encararam com receio e passaram direto, sem impedi-lo ou tentar pará-lo, por isso caminhou até a recepção e se aproximou do homem que estava sentado lá.

Notou que era o mesmo que encontrou um mês atrás, quando foi preso pela última vez.

— Investiguem esse celular — Vil colocou o celular de Hyungwoon sobre o balcão. — Vocês encontrarão muitas evidências de que o prefeito é um homem corrupto e criminoso.

— T-tudo bem — ele respondeu e estendeu a mão até o celular, notou que ele tremia e o encarou novamente.

— Vá para casa — Vil disse ao virar as costas novamente. — Eu soltei os detentos, esse lugar está um caos.

Satisfeito com o próprio trabalho, Vil tomou impulso e voou, queria voltar o mais rápido possível para casa, para Jungkook. Quando chegou em casa, tomou muito cuidado para não fazer barulho, percebeu durante o caminho que havia respingos de sangue em sua roupa e não queria assustar Jungkook, caminhou cautelosamente para não acordá-lo e foi direto para o banheiro tomar um banho. Retirou a roupa do Vil e a deixou sobre o cesto para que pudesse lavá-la em outro momento, assim que estava despido entrou no box e ligou o chuveiro. Taehyung sentiu a água quente relaxar seus músculos e pegou o sabonete, disposto a tirar qualquer vestígio de sangue de seu corpo, mesmo que não fosse o suficiente para penetrar o traje, enquanto esfregava o corpo com a bucha de banho, ouviu três batidas na porta, o que o assustou, já que não esperava que Jungkook estivesse acordado.

— Tae? — Ele o chamou.

— Oi? — Respondeu e abriu o box para que Jungkook pudesse ouvi-lo com mais clareza.

— Eu posso entrar?

— Pode — respondeu. A porta se abriu e, logo em seguida, Jungkook adentrou o banheiro, ele estava vestido com um roupão de banho e o encarava de cima a baixo.

— Posso tomar banho com você? — Ele perguntou com aqueles olhos lindos que desestabilizavam todas as suas estruturas.

— Jungkook não sei se é uma boa ideia — respodeu hesitante. Somente ao ver um pedaço de pele exposta pelo roupão já sentia sangue correndo em direção a seu pau.

Se sentia um adolescente passando pela puberdade quando estava com Jungkook.

— Você não quer tomar banho comigo? — Ele perguntou enquanto se aproximava, tudo sem desviar o olhar do seu.

— Se você entrar dentro deste box, a última coisa que faremos será tomar banho — Taehyung alertou, sem desviar o olhar do dele.

— Entendi — Jungkook respondeu e desatou o nó de seu roupão.

Taehyung viu o tecido deslizar pelo corpo de Jungkook até o chão e o deixou completamente nu e exposto a seus olhos famintos, que o devorou de cima a baixo sem qualquer pudor. Nem mesmo em todos os seus sonhos mais eróticos conseguiria criar uma imagem que fizesse jus a beleza dele, tudo nele era perfeito, tudo que compunha Jungkook era um deleite, uma beleza que deveria ser valorizada e apreciada todos os dias. Taehyung subiu o olhar para os olhos dele no momento em que ele espalmou a mão sobre seu peito, ele o empurrou para dentro do box, até que coubesse os dois ali dentro e fechou a porta atrás de seu corpo. O olhar de Jungkook em momento algum desviou do seu, ele manteve o contato visual e causou um misto de sentimentos que iam da paixão a malícia como uma montanha russa, queria jogá-lo contra a parede e se enterrar dentro dele na mesma proporção que queria beijá-lo apaixonadamente.

— Gosto quando me olha assim — Jungkook disse com um sorriso lindo.

— Assim como? — Perguntou uma oitava mais baixa, sentia-se um completo boboca por ele.

— Como se eu fosse a melhor coisa que aconteceu na sua vida — os olhos dele brilhavam como se mil estrelas cintilassem em suas íris.

— Talvez você seja — Taehyung respondeu.

Sem conseguir se manter longe por muito tempo, Taehyung simplesmente se aproximou e o beijou, o ouviu rir à mercê de seus lábios, antes de retribuir seu beijo. Era um sensação incrível sentir suas bocas juntas, o beijo dele era tão bom, tão excitante e incrível que se perguntou como conseguiu sobreviver todos esses anos sem prová-lo, em seu completo desespero em senti-lo contra seu corpo o prensou contra a parede, ouviu um gemido junto a uma risada escapar do fundo da garganta dele, além de uma reclamação que a parede estava gelada. Taehyung sorriu também, mas não se manteve afastado por muito tempo, amava ouvir a risada dele, ela desencadeou diversas sensações ótimas em seu corpo. Sentiu os braços de Jungkook contornarem seu pescoço e a coxa dele pressionar seu quadril, o que automaticamente levou sua mão até ela, a apertou enquanto se aproximava ainda mais.

— Jungkook eu não tenho camisinhas, não tenho lubrificante e muito menos controle sobre o meu desejo por você — Taehyung disse ao se afastar, focado em marcar o pescoço dele com seus beijos.

— Não precisamos de camisinhas, temos sabonete líquido e a última coisa que você precisa é se controlar — respondeu baixinho, seus olhos estavam fechados e apreciava a pressão que sua língua fazia contra a pele dele. — Eu gosto quando é bruto.

— Jungkook... — Se afastou para olhá-lo nos olhos. — Eu sou mais forte que todos os homens com quem você se relacionou, eu posso te machucar.

— Mas você não vai — sorriu e deixou um selar demorado sobre seus lábios antes de voltar a encará-lo. — E outra coisa. — Ele aproximou-se de seu ouvido e se esfregou contra seu pênis, o que arrancou um gemido seu. — Eu gosto quando dói também.

Jungkook estava empenhado em acabar com qualquer resquício de sanidade que restava no corpo de Taehyung, porque foi como ligar um interruptor, ele mandou qualquer hesitação embora naquele exato momento. Voltou a juntar seus lábios com a mesma fome de antes — talvez até mais — e após isso Taehyung levou a mão até o sabonete líquido que estava sobre uma pequena prateleira dentro do box. Enquanto suas línguas dançavam juntas, Taehyung passava o sabão por seus dedos, ansioso para sentir a maciez da pele de Jungkook contra seus dedos, por isso não demorou a fazer isso. Ainda sob a água do chuveiro, imersos em um beijo intenso que a cada instante parecia se tornar mais desesperado, suas mãos encontraram o caminho até o corpo de Jungkook. Inicialmente deslizou seus dedos pelo peito dele e o ouviu suspirar contra sua boca, percorreu com os dedos por todos os lugares, disposto a conhecer todo e qualquer cantinho do corpo do homem que amava.

A cada toque, Jungkook suspirava, gemia e se contorcia contra ele, apesar de não segurar a coxa dele como fazia antes — porque suas mãos estavam ocupadas traçando um caminho de seu peito a seu abdômen — ele não a moveu, o que fez Taehyung sorrir. Afastou-se um pouco e interrompeu o beijo dos dois, Jungkook agarrou seu pescoço e seu rosto mostrou descontentamento por ter interrompido o beijo, mas não deixou que essa expressão permanecesse em seu rosto, pois seus dedos logo desceram para sua bunda, onde apertou com vontade. Os olhos de Jungkook brilharam em malícia e sua boca se abriu para soltar um suspiro no momento em que seu dedo deslizou para dentro dele, ele fechou os olhos e mordeu o lábio inferior, suspirou toda vez que seu dedo entrava e saía com facilidade. Se afastou porque queria ver suas reações, vê-lo gemer e se contorcer enquanto o masturbava, queria gravar aquela cena em sua cabeça para sempre, como ele ficava quando sentia prazer

Como era quando ele lhe dava prazer.

— Entrou bem fácil — Taehyung sussurrou ao se aproximar de seu ouvido. — Ou você faz sexo com frequência ou tem brincado sozinho.

— Eu me masturbo com frequência — ele gemeu em seu ouvido, quando o segundo dedo foi adicionado.

— Mesmo depois de chegar aqui? — Perguntou enquanto deixava diversos chupões espalhados por seu pescoço.

— Uhum — gemeu novamente e agarrou seus cabelos. — Me masturbei pensando em você hoje de manhã no banho.

Jungkook tinha um dom de fazer o coração de Taehyung falhar e naquele momento ele disparou de uma maneira alarmante, o sangue em suas veias correu de maneira frenética, sentiu seu pau pulsar em sensibilidade somente em imaginar ele se masturbando em seu banheiro, pensando nele enquanto gozava. Sedento, Taehyung levou os lábios de encontro aos dele novamente, invadiu sua boca com tanta fome que Jungkook desceu as mãos para seus ombros, onde o segurou com força enquanto afundava os dedos dentro dele. Curvou seus dedos, a procura do pontinho que o levaria a loucura e quando o encontrou, Jungkook separou seus lábios para gemer e arrancou um sorriso de Taehyung quando sentiu ele se contrair contra seus dedos e curvar as costas, o que causou um atrito entre seus pênis, ao olhar para baixo viu ele pingar contra seu abdômen, a cena o deixou extremamente satisfeito.

Empenhado em deixá-lo uma bagunça, Taehyung tirou e colocou os dedos dele repetidamente, focado em sempre acertar aquele mesmo lugar, Jungkook revirou os olhos e gemeu ainda mais. Seu próprio pau clamava por atenção, sua glande babava líquido pré-seminal só em assistir Jungkook sentindo prazer, toda vez que ele se esfregava contra Taehyung ele ficava mais molhado, por isso para aliviar a si mesmo e enlouquecer ainda mais Jungkook, usou a mão livre para masturbar seus pênis juntos. Os estímulos pareceram demais, pois sentiu as unhas dele contra sua pele, mesmo que não o machucasse ou sentisse dor, sabia o que aquilo significava, eram sensações demais, prazer demais. Jungkook encostou a cabeça nos azulejos da parede, sem conseguir conter os próprios gemidos, soltou aqueles sons que mexiam com a sanidade de Taehyung, que também gemia com a masturbação.

— Tae eu vou gozar — ele disse entre os gemidos. — Se você não parar... eu vou...

— Consegue gozar duas vezes? — Perguntou com a voz mais rouca por conta do prazer.

— Porra, normalmente os caras não conseguem nem me fazer gozar uma vez e você quer duas? — Mordeu o lábio inferior e o encarou com cenho franzido.

— A culpa não é minha se eles são uns bostas na cama — deu de ombros. — Eu quero fazer você sair desse banheiro sem conseguir andar.

— Vamos ver se você consegue — ele respondeu com um sorriso ladino. O sorriso que surgiu nos lábios de Taehyung mostrava que ele havia aceitado o desafio e simplesmente o virou de costas, o deixou com o peito contra os azulejos e com a bunda empinada em sua direção.

— Pensando bem, eu não vou fazer você gozar duas vezes— disse após pressionar seu corpo contra o dele. — Como serão os melhores orgasmos da sua vida.

— Você está deixando minhas expectativas lá em cima — ele respondeu com um sorriso enorme e o encarou por cima do ombro.

Taehyung também sorriu e voltou a lambuzar seus dedos com sabão, prometeu a si mesmo que faria um estoque de lubrificante assim que terminassem, mas por enquanto o sabão teria que servir. Assim que seus dedos invadiram o interior de Jungkook novamente ele gemeu, mas ao contrário de antes, não foi devagar, o masturbou rapidamente, visando levá-lo o mais próximo possível do orgasmo, sempre curvando os dedos para massagear sua próstata. Toda vez que tocava aquele pontinho, Jungkook estremecia e gemia mais alto, suas pernas pareciam estar perdendo as forças, mas se manteve firme e se empinou ainda mais em sua direção. Após adicionar o terceiro dedo, Jungkook virou uma bagunça, seus gemidos ficaram mais manhosos e ele começou a rebolar contra seus dedos, o que fez seu pau pingar em sensibilidade, por isso para aliviar um pouco marturbou-se com a cena dele rebolando em seus dedos.

— Preciso ser delicado com você? — Taehyung perguntou, ao sentir seu corpo se aquecer a cada vez que subia e descia a mão em seu pau.

— Não — foi que ele respondeu.

— Prometo cuidar de você depois, mas agora eu não consigo mais me conter.

Taehyung tirou seus dedos de dentro dele e usou mais sabão para passar em seu pênis, queria ao máximo evitar qualquer dor ou desconforto que fosse causar a Jungkook. Quando sentiu que estava escorregadio o suficiente abriu a bunda dele com a mão esquerda e observou ele se contrair bem diante de seus olhos, o que fez seu pau pulsar, por isso não demorou a encaixar seu pau nele, pincelou algumas vezes antes que enfim se afundasse dentro dele. Jungkook gemeu ainda mais manhoso e Taehyung viu estrelas, entrou devagar para não machucá-lo, mas a cada centímetro dentro dele seu prazer dobrava, mesmo com toda a preparação ele estava muito apertado, o que fez uma corrente elétrica passar por todo o seu corpo. Gemeu também, sem conseguir esconder o quão gostoso aquilo estava.

A sensação quente e deliciosa de ter Jungkook se contraindo em volta de seu pau era absurdamente incrível, estava sensível por conta da falta de estímulos no último mês, quase gozou assim que sentiu o interior quente dele o acolher tão bem. Segurou a cintura dele com mais força, era um misto de sensações e sentimentos, enfim, saciar sua fome de Jungkook, tanto que seu corpo quase não suportou todas. Taehyung deitou sua cabeça sobre o ombro dele e tentou com todas as suas forças não gozar somente em meter dentro dele uma vez, mesmo que seu corpo pedisse por isso, era estimulante demais fazer sexo depois de tanto tempo, principalmente com a pessoa que estava apaixonada, parecia que tudo era cem vezes mais intenso. Apesar de Taehyung estar parado para tentar aguentar todas as sensações, Jungkook parecia não querer esperar, pois levou as mãos para seus quadris, onde conseguiu apoio para se mover.

Taehyung gemeu alto quando sentiu ele se mover e gemer ao ter seu pau entrando e saindo de dentro dele, seus movimentos eram lentos e tortuosos demais para sua fraca sanidade, por isso quando ele se afastou para voltar logo em seguida, Taehyung levou seu quadril de encontro ao dele, se afundou mais fundo do que estava antes. Jungkook deu o gemido mais alto até então, apertou suas coxas enquanto o fodia com mais rapidez, queria sentir seu pau atingir cada vez mais fundo. Taehyung abraçou o corpo de Jungkook e não parou de se mover, o barulho de seu quadril ao se chocar com a bunda dele se tornou mais alto no momento em que o frenesi o tomou, estava tão gostoso que simplesmente não se conteve, meteu como sonhava fazer há dias, desde a sessão de cócegas há algumas semanas. Jungkook, no entanto, quase cedeu em seus braços no momento em que agarrou a ereção dele e passou a bombeá-la, o masturbou juntamente com seu pau que entrava e saía com cada vez mais força.

— Tae, assim não — ele gemeu mais alto, seu corpo se curvou no momento em que deu mais atenção a glande, que estava melada contra seus dedos. — Eu vou gozar rápido.

— Pode gozar — sussurrou contra seu ouvido, ele aumentou a velocidade de seus movimentos, o que o deixou em completo caos em seus braços.

— Eu quero que dure mais — a julgar por sua voz e seus gemidos cada vez mais manhosos, ele estava prestes a gozar.

— Temos todo o tempo do mundo, amor — deixou diversos beijos espalhados por seu pescoço. — Podemos foder sempre que você quiser.

Aquilo pareceu ser o limite para Jungkook, pois ele fincou as unhas em sua coxa e jogou a cabeça para trás, a deixou deitada sobre seus ombros enquanto lambuzava sua mão com porra. Ouvir ele gemer arrastado e manhoso daquela maneira, sentir ele se contrair em volta de seu pau com tanta força foi o suficiente para fazer Taehyung quase entrar em colapso, por isso movido pelo desafio anterior, em vez de parar após fazer ele gozar, começou a masturbá-lo com mais rapidez. Jungkook praticamente gritou com a super estimulação, ele tentou segurar sua mão, para fazê-lo parar de masturbá-lo após o orgasmo, pois seu pau estava muito sensível, mas sua força comparada a de Taehyung não era nada, por isso o abraçou com o braço esquerdo e usou o direito para bombear seu pau com vontade, isso sem parar de mover seu quadril, pois também queria chegar ao próprio ápice.

— Tae! — Jungkook gemeu de maneira desesperada, ele entrou em colapso com tantas sensações juntas. Seu corpo se curvou e consequentemente fez seu pau se afundar ainda mais dentro dele. — Oh, Deus... Tae não vai sair mais nada.

— Veremos se não — respondeu e gemeu logo em seguida, afundou-se com mais força e sentiu seu ápice cada vez mais próximo.

Seu quadril moveu-se de maneira desesperada, cada vez mais rápido e mais forte, sua mão não parou de se mover, pelo contrário, Taehyung aplicou mais pressão em seus dedos, queria terminar aquilo antes que gozasse também. Os gemidos de Jungkook se tornaram desesperados e rápidos, quase não havia pausa entre eles, até que após um quase gritou ele ficou em silêncio, Taehyung sentiu ele enrijecer em seus braços, observou a boca dele aberta em um gemido muito, ao mesmo tempo em que sofria estamos. Sentiu o interior dele contrair novamente em volta de seu pau e soube naquele momento que ele havia gozado novamente, mas não melou seus dedos, por isso sorriu, ele meteu com mais rapidez e gemeu pela estimulação. Jungkook havia tido um novo orgasmo no sexo, gozou pela segunda vez em poucos minutos.

Um orgasmo seco.

— Jungkook, eu posso gozar dentro? — Perguntou e ele apenas assentiu, parecia sequer conseguir pronunciar uma única palavra.

Taehyung sentiu o calor o cobrir como um véu, o vapor da água quente do chuveiro juntamente com seu corpo superaquecido fez o suor escorrer por todo seu peito, sua cabeça girou e sua respiração engatou na garganta quando sentiu aquele prazer insano adentrar cada veia e se espalhar por todo seu corpo. Estava tão sensível que quase não conseguiu se mover, ainda tentava meter em Jungkook para prolongar o prazer de ambos, mas seu abdômen se contraiu e seus olhos se reviraram, por isso não conseguiu focar em nada além de seu pênis preenchendo o interior de Jungkook de sêmen. Quando todas as sensações do orgamos foram se acalmando, Taehyung ainda estava dentro de Jungkook, abraçado a cintura dele, enquanto os dois respiravam de maneira ofegante ao tentar se recuperar dos misto de sensações que sentiram. Após alguns segundos parado, Taehyung saiu de dentro dele, o ouviu soltar um gemido baixo e sorriu, Jungkook estava molinho em seus braços, por isso foi fácil virá-lo, para que pudesse limpar toda a sujeira de seu corpo.

— Você está bem? — Taehyung perguntou com um sorriso.

— Bem acabado — ele respondeu também com um sorriso satisfeito nos lábios.

— Qual foi a sensação de ter dois orgamos em uma transa? — Perguntou ao pegar o sabão novamente, dessa vez, para lavar seus corpos.

— Não sinto minhas pernas — gargalhou. — Foi uma das melhores experiências da minha vida.

— Farei você sentir isso mais vezes — Taehyung disse ao espalhar o sabão pelo peito de Jungkook, que o encarou com um sorriso muito fofo.

— Estou ansioso por isso — ele respondeu antes de se aproximar e deixar um beijo delicado sobre seus lábios. — Mas você vai lavar a minha bunda agora.

(...)

Após tomarem um banho demorado e regado a beijos, os dois se deitaram no sofá, estavam abraçados, sem desgrudar um do outro por mais de cinco segundos. Agora que tinha a liberdade de tocá-lo, Taehyung não queria de maneira nenhuma se afastar, ficaram abraçados o tempo todo, assistiram filmes, comeram e conversaram, estavam apenas curtindo a presença um do outro sem ligar para mais nada. Mas após algumas horas, tiraram os filmes e deixaram a TV ligada nas notícias e, como era de se esperar, todos os noticiários falavam sobre os feitos de Vil e a descoberta dos crimes do plagiador e do prefeito. Jungkook assistiu tudo sem esboçar uma reação, o que de certa forma preocupou Taehyung, pois da última vez que ele ficou apático daquela maneira, ele sumiu diante de seus olhos. Agora que o tinha tão perto, tinha medo de perdê-lo, por isso o abraçou com mais força, como se ele pudesse desaparecer a qualquer instante.

— Está tudo bem? — Taehyung perguntou. Estavam de conchinha, sendo Jungkook a concha menor.

— Uhum — foi o que ele respondeu, ainda sem tirar os olhos da tela da televisão.

— Tem certeza?

— Sim, é só que... — Jungkook suspirou. — Eu fico chateado comigo mesmo por ter ido tão longe por eles, mesmo sabendo desde o início o tipo de pessoa que meu pai é.

— Acha que eu exagerei na vingança?

— Na verdade não, sinceramente eles mereceram isso, eu acompanhei tudo o que você fez pelas redes sociais depois que saiu, achei que seria algo difícil de assistir — Jungkook disse ao segurar sua mão. — Mas foi assistindo que eu percebi que eu não sou próximo o suficiente do meu pai para sentir empatia, pelo contrário, eu diria que gostei de ver ele pagar por todo o sofrimento que causou a mim e aos outros.

— E o plagiador? — Perguntou curioso. — Eu estava sonhando com o dia que eu ia quebrar os dentes dele há anos, então não peguei leve.

— Eu sou indiferente a ele — deu de ombros. — Mas pelo o estado que você o deixou, acho que o ódio que sentia por ele era grande.

— Eu nunca gostei dele, mas o ápice da minha raiva foi quando ele falou de você — Taehyung respondeu ao que observava as notícias na televisão que mostrava algumas cenas do que o drone gravou, mas censuraram grande parte delas.

— O importante é que agora tudo acabou, o que faremos? Vil se tornou um herói — Jungkook disse olhando para manchete na TV.

"Vil, vilão ou herói?"

— Eu-

— TAEHYUNG! — Uma terceira voz soou atrás da porta da entrada e assustou os dois. Quando a porta se abriu, sua mãe entrou alvoroçada, antes de fechar a porta novamente. — Que palhaçada é essa de sequestrar... — Ela parou de falar no momento em que viu os dois deitados no sofá, abraçados. — Sequestrar o gato da vizinha, é! Ela está desesperada atrás do bichano.

— Ele sabe mãe — Taehyung respondeu rindo. Jungkook e ele se levantaram do sofá, enquanto sua mãe os encarava.

— Ele não é o filho do prefeito? — Ela perguntou com o cenho franzido e Taehyung assentiu.

— Meu nome é Jungkook, prazer — ele se curvou de maneira respeitosa e sua mãe retribuiu.

— Tae eu não estou entendendo nada — ela fez uma careta, mas logo voltou sua atenção a Jungkook. — Meu nome é Heesun, é um prazer.

— Ele é meu namorado — Taehyung respondeu e Jungkook o encarou com surpresa, antes de abrir um sorriso enorme.

— Você está namorando o filho do prefeito?! — Ela perguntou chocada e depois fez uma careta confusa. — Você sequestrou o próprio namorado?

— Mãe, isso é um pouco complicado de explicar — Taehyung respondeu rindo.

— Pois eu tenho todo o tempo do mundo — ela caminhou até a bancada e sentou do lado oposto, os encarou e apontou para os bancos altos, em um pedido silencioso para que eles se sentassem. — Vamos, comecem.

Assim que se sentaram, Jungkook e Taehyung se encararam, se perguntaram silenciosamente por onde iriam começar a contar. Jungkook que começou contando sobre o ponto de vista dele, sobre como ele descobriu o endereço e sobre como entrou na casa do Vil sem saber a senha, o que deixou Taehyung perplexo, pois ele havia se teletransportado para dentro de sua casa. Contou sobre seu péssimo relacionamento com o pai e o motivo de ter ido atrás do Vil, sua mãe escutou tudo de maneira concentrada, assentiu algumas vezes e depois perguntou sobre o plagiador, após isso Taehyung contou sua versão da história e ela ficou um pouco sentida na parte sobre o rio Han. Heesun levantou-se da cadeira, caminhou até Jungkook e o abraçou, disse a ele que era um homem muito forte e que merecia muitas coisas boas na vida, o que o deixou choroso também.

— Então foi por isso que você quebrou a cara da falsificação do Peter Quill? — Heesun perguntou e Taehyung assentiu. — Devia ter arrancado mais dentes.

— Também acho — Taehyung concordou e Jungkook riu.

— Tudo bem para a senhora? — Jungkook perguntou e deixou Heesun confusa. — Com o meu relacionamento com o seu filho?

— Ah, meu bem, eu já tive meu surto de mãe homofóbica na adolescência do Tae — ela fez um sinal com a mão que dizia que aquilo não era nada. — A primeira pessoa que eu vi o Tae beijar foi um amiguinho da escola que dormiu lá em casa, foi um choque.

— Depois disso ela me apresentou algumas meninas — Taehyung contou e riu das lembranças. — Eu fiquei com elas na época, mas as coisas desandaram um pouco quando eu fiquei com os amigos delas também.

— O Tae nem para sair do armário devagarzinho que nem um gay normal... — Heesun segurou o osso do nariz, ela fingiu decepção e arrancou uma risada de Jungkook. — Traumatizou minha cabecinha homofóbica.

— Mas depois nós conversamos e ela entendeu que eu gostava de meninos e meninas — Taehyung olhou para Jungkook, que tinha um sorriso fofo nos lábios.

— Você é uma mãe incrível — disse com uma expressão admirada.

— Que nada, eu só fiz o mínimo — ela sorriu grande. — O Tae é meu filho, ele gostar de meninos não muda nada no meu amor por ele. — Heesun olhou para Taehyung, que sorriu para ela também. — Mas o que pretendem fazer agora? Vil se tornou procurado, tanto por ter se tornado um herói quanto para ser interrogado. E Jungkook é o centro das atenções agora que sabem como o pai dele é.

— Eu pensei em irmos para o Brasil — Taehyung respondeu, o que surpreendeu tanto sua mãe quanto Jungkook.

— Por que tão longe? — Heesun arregalou os olhos.

— Eu conheci alguém apaixonado por lá — Taehyung respondeu, seu olhar foi de encontro ao de Jungkook novamente. — Ele falou tão bem, que me interessei pela cultura brasileira.

— Você está querendo ir para um país onde a taxa de homicídio contra pessoas LGBTQIA+ é literalmente uma das maiores do mundo? — Sua mãe perguntou indignada.

— O que eles podem fazer contra mim? — Taehyung perguntou com uma sobrancelha arqueada.

— À você, nada — sua mãe respondeu, mas seu olhar se direcionou a Jungkook.

— Por incrível que pareça, não sou tão indefeso — Jungkook respondeu com um sorriso envergonhado. — Eu posso fugir de qualquer situação a qualquer momento.

— Como? — Ela perguntou.

— Eu também tenho dons, nada comparado aos do Tae, mas me ajudam em certos momentos — Jungkook respondeu.

— Mas mesmo que alguém seja louco o suficiente para tentar algo contra ele, eu estarei lá também — Taehyung segurou a mão de Jungkook, que descansava sobre a bancada.

— Se já estão decididos, tudo bem — Heesun deu de ombros e se levantou. — Vou arrumar minhas malas.

— Você vai com a gente? — Taehyung perguntou chocado.

— A única coisa que me importa no universo está indo para o outro lado do mundo, que merda eu vou ficar fazendo aqui? — Ela arqueou a sobrancelha.

— E suas amigas? Nossos parentes? Sua casa, que você demorou tanto para comprar? — Taehyung perguntou chocado.

— Minhas amigas têm celulares, podemos conversar normalmente e desde quando eu me importo com nossos parentes? — Ela o encarou como se ele tivesse dito o pior dos absurdos. — E eu vendo minha casa e compro outra melhor lá, sinceramente, será até melhor uma mudança de ares.

— Mas... — Taehyung tentou argumentar, mas não veio nada à cabeça. Estava preocupado que ela largasse tudo para ir para um lugar que não estava habituada.

— Tae não se preocupe, eu não vou dormir na mesma cama que vocês dois ou algo assim — ela revirou os olhos e sorriu. — Só não quero sentir saudades do meu filho e ter que me contentar com uma chamada de vídeo com qualidade duvidosa.

— Se é assim — Taehyung riu, ele também não conseguiria ficar tão longe dela.

— Vou arrumar minhas coisas, quando tiverem um destino me avisem, vamos comprar as passagens juntos — ela disse após caminhar até a porta, virou-se apenas para sorrir para os dois. — Essa vai ser minha primeira viagem em família.

Após dizer isso abriu a porta e caminhou para fora de maneira animada, o que fez Taehyung rir, pois ela havia entrado brava e saiu quase saltitando de alegria, o que aqueceu seu coração, amava ver sua mãe feliz. Quando seu olhar voltou-se em direção a Jungkook se surpreendeu com os olhos dele marejados, o que fez seu coração apertar e quase como um gesto involuntário, se levantou e o contornou com seus braços, o abraçou e deixou sua cabeça encostada sobre seu peito. Jungkook fungou e o apertou contra o próprio corpo, ficaram assim por alguns segundos, até que Taehyung se afastou para olhá-lo nos olhos, enxugou suas lágrimas com cuidado antes de notar o sorriso singelo que estava em seus lábios. Jungkook segurou em suas mãos enquanto respirava fundo, enquanto tentava conter a emoção.

— O que te fez chorar? — Taehyung perguntou preocupado.

— Quando sua mãe disse que era a primeira viagem em família — riu baixinho e fungou. — Mesmo que ela esteja falando de você, eu me senti feliz, quase como se eu finalmente tivesse conseguido uma família de verdade.

— Você conseguiu — Taehyung levantou o rosto dele com delicadeza. — A partir do momento em que me aceitou, você ganhou um espaço na minha pequena e imperfeita família.

— Ela é perfeita para mim que nunca teve uma — apesar de suas palavras tristes, o sorriso em seus lábios fez o coração de Taehyung bater com mais intensidade em seu peito.

— Vamos arrumar nossas coisas e pensar em um destino? — Perguntou após deixar um beijo delicado sobre os lábios dele. Os olhos de Jungkook brilharam ainda mais e ele assentiu.

— Antes disso — ele se levantou e segurou em sua mão com um sorriso arteiro. — Eu tenho uma pequena quantia que meu pai desviou para a minha conta, porque ninguém iria me investigar, que tal limpar ela?

— De quanto estamos falando? — Também sorriu ladino, naquele momento, quem estava falando era o Vil, não Taehyung.

— Umas dez vezes mais que o valor que eu tinha prometido a você — deu de ombros, como se não fosse nada, mas se estivessem em um desenho animado, era naquele momento em que os cifrões iriam aparecer em seus olhos. — Eu nunca encostei no dinheiro, porque queria ganhar a confiança dele, mas acho que ele não vai mais precisar do dinheiro.

— Tenho certeza que ele não vai se importar — Taehyung riu e de mãos dadas caminhou com Jungkook para o quarto.

Jungkook se teletransportou para a mansão de seu pai depois de alguns minutos de conversa, ficou fora por alguns minutos e voltou com as malas prontas, ele disse que a mansão estava um caos, todos os empregados estavam falando sobre o que Vil fez e como Hyungwoon foi parar no hospital por conta dos ferimentos deixados pelos detentos. A polícia conseguiu conter os presidiários, que claramente tentaram fugir após deixar o prefeito em frangalhos, o intuito de Vil era causar um tumulto muito maior, era uma pena que conseguiram conter eles tão rápido. Enquanto arrumavam suas coisas e separavam o que era mais importante para a viagem, Heesun voltou com malas e bagagens de mão, tudo com um sorriso de orelha a orelha, ela contou que viu nas notícias que o plagiador havia fugido e agora era um foragido. Taehyung olhou para sua mãe de maneira abismada, haviam se passado poucas horas desde que ela havia partido e levava quase meia hora de carro de onde ela morava, vê-la adentrar sua casa com a bagagem e um sorriso enorme para conversar com Jungkook e fofocar o fez rir.

Ela com certeza estava muito animada para a viagem.

Enquanto Taehyung arrumava sua casa para a viagem — já que ele provavelmente só voltaria para empacotar o restante das coisas — sua mãe e Jungkook engataram em uma conversa animada sobre os planos da chegada ao Brasil. Conseguiu convencê-los a comprar uma passagem no dia seguinte, pois estava muito em cima da hora e eles precisavam se planejar melhor, mas eles estavam tão animados que fizeram um bico imenso quando usou lógica para convencê-los que não podiam simplesmente largar tudo fácil assim. Como passou o dia inteiro longe do celular, não notou as vibrações incessantes, mas quando pegou seu celular novamente entendeu o porquê seu celular não parava de vibrar, por conta da comoção com Vil, sua conta bancária lotou de zeros pelo uso de sua imagem. Um sorriso imenso surgiu em seus lábios, ele sempre tinha dinheiro guardado para possíveis fugas caso tudo desse errado, então usaria aquele dinheiro para sair do país, mas não imaginou que teria alguns acréscimos em sua quantia, aquele valor iria garantir um tempo de tranquilidade no Brasil.

Após planejarem tudo com mais calma e alugarem um hotel no Brasil para a estadia deles até que fossem atrás de uma casa fixa, fizeram planos com o dinheiro que tinham. A quantia acumulada dos três daria para alugar um cantinho para Jungkook e Taehyung — que involuntariamente já estavam fazendo planos de morarem juntos sem nem perceber — e para Heesun, fizeram as contas usando um aplicativo de conversão, pois o Real era uma moeda mais valorizada que o Won. Foram dormir com as coisas mais planejadas e ao menos com um teto para dormirem quando chegassem lá, Jungkook sabia o básico do português para que conseguissem se virar e Heesun tinha uma amiga brasileira que aleatoriamente morava do outro lado do mundo, mas que podia ajudá-los, mesmo que ela não morasse no estado onde iriam desembarcar. Quando foram dormir, Jungkook estava tão animado que mal podia conter a alegria, estavam deitados na cama enquanto Heesun estava no sofá, por insistência dela mesma.

— Você se tornará um herói lá? — Jungkook perguntou virado de frente para ele no colchão.

— Não sei, veremos se as coisas lá são melhores que aqui — deu de ombros e Jungkook assentiu.

— Obrigado, Tae — ele disse com um sorriso fofo e juntou suas mãos.

— Pelo o quê? — Perguntou após entrelaçar seus dedos.

— Por tudo, mas principalmente por fugir desse lugar comigo.

— Eu deveria ter feito isso há muito tempo — Taehyung sem desviar o olhar. — Mas ainda bem que eu não fiz, nunca vi minha mãe tão feliz, ela adorou você.

— Ela é uma fofa — riu baixinho.

— Você tem esse poder de cativar todo mundo, o que me deixa um pouco preocupado — suspirou, o que fez Jungkook franzir o cenho. — E se você encontrar algum brasileiro gostoso e me trocar? — Ao ouvir aquilo ele gargalhou.

— Trocar você? — Perguntou como se aquele fosse o pior dos absurdos. — Sabe o quão patético todos os homens ficam perto de você?

— Até o plagiador? — Ergueu uma sobrancelha e Jungkook revirou os olhos.

— Tae, apenas alguns dias morando sob o mesmo teto que você, eu quase te beijei umas quinze vezes — suspirou e riu logo em seguida. — Eu deveria ganhar um prêmio por manter minhas convicções, mesmo que elas fossem péssimas, porque você é muito mais bonito e incrível que o idiota do plagiador, desde o início eu pensei "e se eu dar para ele?". — Taehyung gargalhou alto e o puxou para um abraço, com o intuito de ficarem encaixados um no outro.

— Naquele dia das cócegas eu estava louco para te beijar — admitiu.

— Eu percebi — ele respondeu enquanto ria e se aconchegou em seu abraço.

Ficaram daquela maneira até que caíssem no sono, as últimas horas haviam sido intensas, o cansaço os venceu rapidamente. Quando despertaram na manhã seguinte, estavam prontos para partir, chamaram um táxi e guardaram todas as bagagens antes de Taehyung trancar sua casa, pronto para virar as costas sem sequer olhar para trás. As lembranças ruins ficariam para trás juntamente com sua casa, apesar de ser uma imensa mudança, não estava assustado, pois a alegria de sua mãe e Jungkook era tão contagiante que não tinha espaço para medos ou inseguranças. Quando chegaram até o aeroporto, teve que ser o adulto entre os três, porque eles estavam tão eufóricos que pareciam crianças em um parque de diversões, então cuidou das passagens, entrega de passaportes, o despache das malas e os guiou até a sala de embarque.

Enquanto aguardavam o horário para que pudessem embarcar no avião, Jungkook contava com bastante entusiasmo sobre as coisas que sabia sobre o Brasil, ele contou que viajou pelo país algumas vezes, conheceu as praias e as cachoeiras. Enquanto ele falava de maneira tão animada com sua mãe, Taehyung o observava, ele parecia tão genuíno e feliz que aquilo lhe trouxe um sentimento de dever cumprido, como se seu dever fosse perpetuar a felicidade dele. Como pode se apaixonar tanto por alguém em tão pouco tempo? Era o que se passava na cabeça dele, em poucos dias Jungkook se tornou tão especial a ponto de fugir para morar com ele em outro país. Quando chegou o horário de embarque, as duas crianças caminharam pelo corredor que conecta o aeroporto ao avião de maneira saltitante, o que fez Taehyung rir. Já dentro do avião, os dois tiraram diversas fotos e continuaram engatados em uma conversa sobre o Brasil.

O falatório sobre a viagem só acabou quando o cansaço os venceu, por ser literalmente do outro lado do mundo, tiveram que fazer muitas paradas e conexões, estavam exaustos quando finalmente chegaram no Brasil. Mas nem mesmo a fadiga conseguiu conter a alegria deles quando finalmente pisaram em solo brasileiro, mesmo enquanto pegavam as bagagens Heesun e Jungkook pareciam duas pipocas. Taehyung, que não conseguia se livrar do sorriso no rosto, carregou as malas mais pesadas enquanto caminhavam até o táxi, que pegou o endereço pelo celular de Jungkook, já que ele falava somente o básico do português. Chegaram cedo, o sol havia acabado de raiar e o calor estava fritando os miolos de Taehyung, que agora teria que se acostumar com o calor, principalmente porque haviam chegado em pleno verão.

Os três viram as paisagens pela janela do carro, enquanto o taxista dava uma de guia turístico e sempre dizia algum ponto que os "gringos" gostavam de visitar. Por recomendação de Jungkook, estavam no Rio de Janeiro, mas ele e Heesun planejaram visitar outros três estados antes dos três escolherem um lugar definitivo para morar, sendo que Heesun foi bastante clara que queria morar na praia. Quando desceram do táxi em frente ao hotel onde ficariam hospedados por duas semanas, a felicidade das duas crianças pareceu triplicar, simplesmente correram para dentro da recepção, deixaram todas as malas para Taehyung carregar. Após pagar o taxista e rir da pressa dos dois, ele também caminhou para dentro do hotel e encontrou a cena dos dois tentando se comunicar com a recepcionista através de um aplicativo de tradução. Taehyung viu o exato momento em que a mulher entregou as chaves dos quartos e Jungkook virou-se para encará-lo com um sorriso imenso.

Não ligaria de passar alguns perrengues no Brasil se pudesse ver aquele sorriso todos os dias.

(...)

— Vamos Tae, por favor? — Jungkook perguntou com um bico.

— Você não está cansado não? — Perguntou com a sobrancelha arqueada, estava organizando suas roupas no guarda roupa do hotel quando Jungkook deu a ideia de caminhar pela orla da praia.

— Não — ele respondeu prontamente, com os olhos brilhando, o que o fez rir. — Vamos, vai ser rapidinho eu prometo.

— Ok, mas só uma caminhada e depois você vai descansar — cedeu e fechou a mala. O sorriso de Jungkook era tão grande que parecia rasgar-lhe a face.

— Tá bom! — Respondeu animado e estendeu a mão a Taehyung, que a segurou e entrelaçou seus dedos.

Deixou que fosse levado por Jungkook para fora do hotel e enquanto estavam no elevador avisou sua mãe da saída dos dois, pois eles haviam alugado quartos separados. Quando saíram do hotel ainda estavam de mãos dadas, Jungkook estava animado olhando para a paisagem, o hotel que haviam alugado ficava em frente a praia de Arraial do Cabo, de acordo com seu celular o horário era perto da uma da tarde, então o sol estava castigando todos os visitantes da praia. Estava usando uma bermuda e uma camiseta e Jungkook também, os dois tiraram os tênis para que pudessem caminhar pela areia da praia e ainda de mãos dadas caminharam pela areia quente, as pessoas simplesmente não se importavam com a presença de dois homens de mãos dadas. Acho que a homofobia não era mais atrativa do que água de coco e a visão do mar, pois sequer desviavam o olhar para eles.

— Vou demorar para me acostumar com esse calor — Taehyung disse enquanto guiava Jungkook para a água do mar, ele queria mergulhar os pés e refrescar o calor.

— De acordo com a meteorologia daqui, está fazendo trinta e sete graus — Jungkook respondeu olhando para o celular.

— Trinta e sete?! — Perguntou abismado e Jungkook assentiu.

— Aparentemente vai fazer ainda mais calor no restante da semana.

— Você disse que era um país tropical, mas não me avisou que eu seria assado vivo — respondeu chocado e Jungkook gargalhou. — Mas a água ao menos está uma delícia. — Disse ao sentir as ondas baterem contra seus pés.

— Você vai ficar bronzeado rapidinho — Taehyung não sabia dizer se era por conta da paisagem paradisíaca a sua frente ou pelo sol iluminando os cabelos castanhos dele, mas Jungkook estava extremamente lindo. — Olha, Tae! Uma concha!

Jungkook correu pela água e se abaixou, ele pegou uma concha pequena e suja de areia, mas ele a lavou na água cristalina e azul do mar com um sorriso enorme no rosto. Quando ele voltou com o rosto todo iluminado por conta de uma coisinha tão simples, Taehyung sentiu-se o ser mais sortudo do universo, não eram todos que tinham a dádiva de observar a beleza dele, de apreciar o sorriso lindo que ele tinha ou enxergar o brilho de diversas galáxias em seus olhos. Jungkook estendeu a concha em sua direção para que pudesse vê-la, era pequena, do tamanho de uma moeda, mas tinha um tom perolado lindo que juntamente com a luz solar a deixava com um brilho arroxeado, sua cor era simplesmente linda. Taehyung voltou a encarar Jungkook, que o observava com expectativa, enquanto esperava uma reação sua a respeito da conchinha, o que fez um sorriso surgir em seus lábios também, ele era tão adorável que não conseguiu se conter, plantou um beijo delicado sobre os lábios dele.

— Eu te amo — Taehyung disse ao se afastar. Jungkook arregalou os olhos e seu sorriso hesitou, mas logo se alargou ainda mais, seus olhos ficaram pequeninos e seus dentes fofos ficaram à mostra.

— Eu também te amo.

~❤️~

Sim, essa fic foi inspirada em Megamente :)

O que vocês acharam meus amores? Aprovado? Valeu a pena a espera?

Se quiserem comentar sobre ela comigo no twitter, meu user é @alanizita_ e eu sou bem ativa lá💜

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