Capítulo 4
Depois do massacre da noite anterior, Jimin não conseguiu dormir e ficou acordado durante toda a madrugada. Ele testemunhou a troca de turnos entre alguns bárbaros, mas não saiu de perto de Jungkook, que dormia tranquilamente como se estivesse em sua casa.
Evitou olhar diretamente para um guerreiro que afiava a ponta de uma lança, sentado do outro lado da fogueira e de frente para ele. O homem não tirava os olhos de si, o que o deixou pouco à vontade.
De repente, este se levantou, deu a volta na fogueira e sentou ao lado dele. Jimin engoliu em seco e olhou para Jungkook, se perguntando se daria tempo de acordá-lo caso aquele homem decidisse atacá-lo.
— Jimin, não é?
— Uhum...
— Sou Taehyung. — O noviço manteve o rosto virado para o outro lado. — Eu sou tão feio assim que você não quer olhar pra mim?
Isso fez Jimin virar o rosto imediatamente, encontrando o semblante sorridente do jovem guerreiro. Ele sabia que o noviço estava amedrontado, quase podia tocar o medo que emanava dele.
— Desculpe, é que...
— Você tá com medo. — Taehyung completou. — Não tiro sua razão, mas enquanto você pertencer a Jungkook ninguém vai te causar qualquer dano.
— Eu não pertenço a ninguém. — Jimin franziu o cenho. O outro riu. — O que você quis dizer com isso?
— Nada. — Ouviram a voz de Jungkook, ainda deitado. — Taehyung fala demais às vezes. Não ligue pro que ele diz.
— Melhor eu ajudar os outros com os preparativos pra viagem... — Taehyung levantou-se e deixou os dois para trás.
Jimin permaneceu no mesmo lugar quando o outro se sentou. Ele não sabia o que deveria fazer, tinha medo de dar um passo errado e ser morto, agora que Jungkook acordou ele sentiu um pouco mais de alívio.
— Você não dormiu? — O guerreiro estudou o rosto do noviço.
— Não tive sono — Jimin passou as mãos nos olhos. Era evidente que estava abatido.
— A viagem é longa e árdua. — Jungkook se perguntou se Jimin sobreviveria a ela. — Você comeu alguma coisa?
O noviço negou balançando a cabeça. O cheiro de carne exalava nos arredores. As últimas ovelhas estavam sendo assadas na fogueira, alimento para os bárbaros famintos.
Jungkook levantou-se e pegou um pouco para ambos, o noviço olhou a carne dentro de um recipiente e depois para o guerreiro, que já comia a dele, lembrando-se de quando passava suas tardes na companhia das ovelhas.
— Precisa comer. Não pode viajar estando tão fraco.
— Não como carne.
— E o que você come? Mato? — Andrews e outros homens riram.
— Já prepararam o barco? — Jungkook perguntou.
— Vamos fazer isso agora mesmo... — os guerreiros se dispersaram.
Jungkook deixou o noviço mais uma vez, levando a carne consigo. Dessa vez ele demorou um pouco mais para retornar, mas quando voltou, trouxe junto alguns legumes.
— Isso aqui você come?
— Sim. Mas não estou com fome.
— Você vai comer. — Jungkook disse firme. — Nem que eu tenha que ajudá-lo.
Embora estivesse sendo gentil e compreensivo na maioria do tempo que passava com ele, aquele homem era muito ameaçador. Jimin entendeu que a forma que ele evidenciou aquela palavra, dava um outro significado a ela.
— Não pode me obrigar a comer.
— Posso. Mas não vamos chegar a esse ponto.
Jungkook estava acostumado às duras viagens que faziam, em barcos não muito seguros, em mares agitados. Era preciso estar bem preparado fisicamente. O noviço não iria sobreviver a jornada se continuasse negando ingerir alimento.
Ficou satisfeito por vê-lo comer algumas batatas.
Depois de juntarem todos os objetos de valor, provisões para a viagem e fortalecer o barco, os guerreiros se encontraram na praia para retornar a Westberg. Cada um foi ocupando seu lugar dentro da pequena embarcação, até que Andrews interrompeu o acesso.
— Não estou convencido de que é seguro viajar com um cristão em nossa companhia. — Ele pronunciou, segurando no cabo da arma.
Namjoon estava ao lado de Jungkook, e também mantinha a mão na espada. Haviam outros também atentos, assim como aquele que conversou com Jimin mais cedo. Um homem segurando um martelo se levantou, encarando Andrews com atenção.
Jungkook parecia calmo, mas Jimin sentiu a tensão no ar. Sentiu que a qualquer momento aqueles bárbaros poderiam matar uns aos outros, então tomou a própria iniciativa, exibindo os punhos unidos na direção do líder do grupo.
— Não tenho intenção de atacar ninguém.
Mesmo achando desnecessário, Jungkook recebeu uma corda de um outro guerreiro e prendeu as mãos do noviço. Ele o ajudou a subir no barco e entrou logo em seguida.
— Assim está melhor, Andrews? — Jungkook perguntou com voz debochada, colocando Jimin ao seu lado. — Não precisa mais temer o cristão.
Os guerreiros começaram a rir diante da vergonha de Andrews. Jimin tentou manter-se atento à ele, mas acabou adormecendo quando a noite chegou. O barco balançava suavemente, e ele não percebeu quando encostou-se no único que estava ao seu lado.
Jungkook observou o noviço repousando tranquilamente com a cabeça apoiada em seu ombro. Entre as mãos amarradas pela corda havia um crucifixo, que ele segurava com força embora estivesse dormindo.
— Esse foi o roubo mais fácil que fizemos — Andrews riu. — Pareciam um bando de idiotas correndo de um lado para o outro.
— Não entendo por que eles guardam tanta riqueza e nenhum guerreiro para proteger.
A companhia seguiu conversando conforme o barco era guiado de volta para o Norte. Jungkook preservou cogumelos e legumes defumados para o noviço se alimentar durante a viagem, os outros homens ficaram com as carnes, pães e frutas. A água foi dividida e calculada para durar todos os dias até o fim da jornada.
XXX
Algumas pessoas se juntaram no cais de Westberg assim que viram uma embarcação se aproximando. Namjoon desceu e amarrou o barco em uma estaca no deck para que todos pudessem desembarcar. O segundo a descer foi Jungkook, ajudando Jimin a fazer o mesmo logo em seguida.
O noviço olhava curioso para as pessoas que se amontoavam ao redor, todos querendo ver as riquezas trazidas por Jungkook e sua companhia. Agentes do rei foram avisá-lo sobre o retorno dos guerreiros.
Jungkook e seus homens levaram as pilhagens para o salão real imediatamente, para prestar suas obrigações para com o soberano, antes que o rei inventasse qualquer nova lei que os obrigue a entregar os espólios.
Quando as portas do grande salão do trono abriram-se para recebê-los, um grupo de pessoas já estavam esperando conseguir alguma caridade do rei. O local era onde Magoth recebia os habitantes do reino para as diversas audiências, que sempre deveriam ser marcadas com antecedência, a não ser que fosse um julgamento urgente.
O rei não tirou os olhos quando os objetos de valor foram expostos no meio do salão, para que todos pudessem ver. Era tanta riqueza que até mesmo ele ficou alguns instantes em silêncio, impressionado. Embora quisesse jogar na cara do rei, Jungkook esperou, pois o soberano determinou que a primeira e a última palavra deveria ser sempre a dele, sob pena de execução.
— Deve estar se sentindo muito orgulhoso por ter trazido todo esse ouro — Magoth iniciou, falando com Jungkook. — Mas não esqueça que só trouxeram porque eu permiti a viagem. Demonstre gratidão por isso.
— Obrigado. — Jungkook respondeu.
— Não deveria mostrar mais gratidão?
— Expresso nossa gratidão com um muitíssimo obrigado. — Namjoon conteve uma risada. — Assim está melhor?
— E ficaremos ainda mais agradecidos, quando vossa Majestade cumprir sua parte do acordo — Jungkook acrescentou.
O rei permaneceu com uma expressão séria, pois a gratidão a qual se referia era parte dos espólios, mas o acordo que fizeram era que Jungkook e seus homens ficariam com tudo, apenas desta vez. Ele olhou para o tesouro e depois para Namjoon, quando este lembrou a todos:
— É tudo nosso.
— Majestade, me permite a palavra? — Grimas, o conselheiro do rei, solicitou. Magoth acenou que sim com a cabeça e ele continuou: — Eles deveriam pagar os custos da viagem, pelo menos, já que foram com seu barco e levaram provisões que o senhor pagou.
— Você está completamente certo. — Magoth suspirou.
— Mas o acordo... — Andrews tentou argumentar, mas o próprio rei interrompeu:
— O acordo era que eu permitisse a expedição, e eu o fiz. Só não foi decidido que viajar com meus recursos seria de graça.
— Filho da... — Namjoon rosnou baixo.
— E quanto isso vai nos custar? — Andrews perguntou.
— Grimas? — O rei buscou o conselheiro.
— Levando em consideração as avarias no barco, a comida e a água que levaram, deixe-me calcular, só um instante... — Grimas observou os objetos de valor e o quanto poderia ganhar do rei. — Pelo menos metade do tesouro.
— Como é?! — Namjoon bradou, segurando-se para não enfiar um machado na testa do conselheiro. — Você bateu com a cabeça?!
Grimas o encarou com desprezo. Há tempos já não estava satisfeito com o comportamento rebelde do guerreiro, e vinha buscando formas de conseguir acusar Namjoon de algum crime, para que fosse julgado e executado, mas Jungkook percebeu as intenções do conselheiro e não concedia espaço para que ele conseguisse.
— Isso porque não estou considerando os dias em que Sua Majestade deixou de lucrar, com um barco a menos.
— Está decidido, o tesouro é de vocês — Magoth informou. — Porém, vão me pagar o que devem antes de deixar este salão.
Jungkook olhou para cada homem, todos eles assentiram amargamente. Ninguém queria ser executado por "dever" ao rei. Não havia nada que pudessem fazer. Magoth era um tirano egoísta que governava um reino, com um exército à sua disposição.
O próprio Jungkook fez a divisão dos itens. Grimas aproximou-se para garantir que a partilha fosse exatamente metade para cada parte. Após a divisão dos espólios, o conselheiro evidenciou alguém que, até o momento, passou despercebido aos olhos do rei.
— E ele? — Grimas apontou para o Jimin.
Jungkook olhou para o noviço e depois para o conselheiro novamente, quando perguntou:
— Quer partir ele ao meio também? — Algumas pessoas riram.
— Vender como escravo e dividir o lucro seria mais útil.
Jimin sentiu o coração bater mais forte, como se quisesse escapar pela garganta.
— Ninguém compraria — Jungkook disse, para que o rei não ficasse interessado. — Ele não sabe fazer nada.
— E por que você o trouxe?
— Pretendo ensiná-lo algumas coisas, para me ajudar na pescaria.
— Majestade? — Grimas virou para o rei.
— Traga ele aqui. — Magoth ordenou.
Jimin buscou os olhos de Jungkook quando o conselheiro segurou em seu braço, para levá-lo diante do trono onde o rei estava sentado. Jungkook retribuiu o olhar, tentando de alguma forma transmitir seus pensamentos ao noviço: "finja que não sabe de nada. Mostre que não será útil para ele".
Grimas o deixou na frente do rei e se retirou. Este, avaliou Jimin dos pés à cabeça, e o noviço reparou os traços dele, sentindo a mesma sensação desagradável de quando viu a espada do bispo Abraham e o que ele disse sobre ela.
— Como se chama? — O soberano perguntou. Jimin engoliu em seco e travou, sem saber se deveria responder ou fingir que não entendia aquele idioma.
O noviço olhou para o lado buscando uma saída para aquela situação. Estava alí devido a um acordo feito com Jungkook, Jimin pensou, o guerreiro mostrou-se muito interessado em aprender um novo idioma, não fazia sentido chamá-lo de inútil depois de ter protegido e cuidado dele durante todo o tempo em que fizeram a viagem.
Jimin encarou o soberano novamente, pensando na melhor das hipóteses. Até o momento, Jungkook estava mantendo sua palavra, protegendo-o, assim como disse. Mas aquele rei não parecia ser do tipo que fazia acordos para cumpri-los. Ele deixou isso claro quando retirou metade dos espólios dos guerreiros.
Lembrou-se de um jovem que vivia perto do mosteiro, e que às vezes encontrava-o nas colinas. Embora Jimin tenha tentado iniciar várias conversas com ele, o menino não respondia a nenhum chamado. Foi exatamente o que ele fez, quando Magoth o chamou pela segunda vez:
— Você está me ouvindo?
Jimin encarou um ponto no vazio, em seguida ergueu a mão tentando tocar em alguma coisa invisível. As pessoas trocaram olhares curiosos quando ele ergueu a outra mão, ainda tentando segurar algo no ar, comportando-se como se não tivesse ninguém ali, tal como o menino das colinas.
— O que, em nome de Odin, está acontecendo com ele? — Magoth virou-se confuso para o conselheiro.
Jungkook inclinou o rosto para baixo encarando o chão, escondendo o sorriso, depois respirou fundo e voltou a encarar o rei com um semblante mais sério, quando lembrou:
— Como eu disse, ele não sabe nada.
— Tire ele da minha frente! — O rei ordenou, sem dar chances ao conselheiro para uma explicação. Ele odiava ser ignorado, mas aquele noviço mostrou ter sérios problemas, os quais Magoth não estava interessado em saber.
Jungkook guiou Jimin para fora do salão, enquanto Namjoon e os outros levaram os objetos de valor para repartir entre si em um lugar mais apropriado.
Continua...
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