Capítulo 3
Se passaram alguns dias depois da minha dança para aquele cara, nunca mais o vi por lá e o Chefe tem andado no meu pé, segundo ele, eu espantei um dos seus melhores clientes. Estou quase sendo rebaixada, só estou na Casa porque ele iria perder vários outros clientes se me deixasse na rua.
— Você não fez isso?! — indaga Milena incrédula.
— Você está ficando louca, priminha. — Gargalha Mel e Milena a repreende com o olhar.
Acabei de contar para elas o ocorrido com o babaca daquele dia, pela primeira vez tivemos um momento sozinhas em que não falamos de contas atrasadas, como normalmente fazíamos desde que eu tinha começado a faculdade.
— E se ele for perigoso? Não podemos brincar com um brinquedo que a gente não sabe como funciona. — fala ela como se tivesse dizendo óbvio.
— Aposto que ela gostaria de saber como funciona... — fala Mel com um sorriso malicioso causando riso em todas nós.
— Vamos dormir que já está quase amanhecendo, amanhã vou chegar mais tarde.
— Sabe que é perigoso voltar de madrugada, não tem ninguém na rua, a não ser bandidos e prostitutas. Se aquelas garotas te cercarem de novo? Ou aquele cara aparecer para tirar satisfações? — fala Milena preocupada e eu reviro os olhos.
— Vai ficar tudo bem, agora, boa madruga! — falo apagando a luz e indo dormir. Não tínhamos muito dinheiro, então dormíamos no mesmo quarto em dois colchões usados que a gente conseguiu comprar de uma senhora muito gentil.
As vezes me arrependo de colocá-las nessa situação, se não fosse por mim elas ainda teriam uma cama confortável e quentinha para dormir, uma família amorosa que as acordaria todos os dias para um belo café da manhã. Eles nos tratava até bem, até que eu decidi que queria estudar e elas me seguiram.
No começo foi tudo perfeito, minha mãe dizia que isso poderia atrair um homem mais rico, eles gostam de mulheres poliglotas que possam levar para outros países sem se preocupar. Com isso começou a corrida, minha mãe colocou aulas de piano para mim e como minha tia não queria deixar as minha primas para trás, colocou-as na aula de violino. Enquanto eu aprendia francês, elas aprendiam irlandês.
Nossa vida foi uma eterna competição, até que chegou uma noite, nós estávamos conversando na sala quando um figura loira aparece animada na nossa frente.
— Meninas, coloquem os véus que teremos visitas! —fala minha tia Beatrice, mãe das minhas primas, animada e corremos até o quarto para colocar nosso véus, eu usava vermelho, por mais que minha mãe não gostasse da cor, Mel gostava do azul e Milena do verde.
— Prontas? Vocês terão uma missão, daqui a pouco vai entrar por aquela porta o futuro noivo de uma de vocês. Lembrem-se: apenas uma de vocês. — fala e eu olho em desafio para as meninas que retribuem. Como eu disse, vivíamos em uma eterna competição e gostávamos disso, afinal, fomos criadas assim.
Sentamos no sofá e esperamos ele chegar, quando atravessa a porta um homem simplesmente encantador, já o conheci quando estava no escritório do meu pai arrumando alguns papéis, mas ele pareceu não notar minha presença.
— Senhoritas! Devo dizer que suas filhas são muito belas, senhor Pellegrini. — fala olhando diretamente para Milena que dá um sorriso mínimo e Mel revirou os olhos em descrença. De todas nós, Melanie sempre foi a mais bonita, mesmo Milena sendo a única a herdar os cabelos ruivos da nossa avó.
— Apenas a Latifah é minha filha, as outras são minhas sobrinhas. — fala meu pai e eu aceno levemente com a cabeça para que ele possa me diferenciar mas ele apenas assente. Meu pai me chamava de Latifah por preferir o meu segundo nome ao que minha mãe me deu, particularmente eu prefiro Megan.
Meu avô era muçulmano e acabou por se casar com um mulher cristã, como forma de homenagear sua memória depois de sua morte. Logo após o nascimento de minha mãe, ela criou todas as suas filhas com os costumes da religião dele, mas ainda íamos para a igreja e ninguém parecia se importam com o véu, afinal, mulheres cristãs também usavam os véus para sair na rua e não mostrar os cabelos, nas famílias mais conservadoras eu diria. Depois de investigar um pouco sobre a cultura, descobri que isso era mais comum do que imaginava.
— As gêmeas Giordano, é um prazer imenso. — fala pegando a mão de Milena delicadamente e beijando-a enquanto mantêm o olhar intenso um no outro. Mel parece querer fuzilá-la com o olhar mas posso ver ele olhar de soslaio para ela que disfarça com um sorriso que ele corresponde prontamente.
Eu não sabia naquele momento, mas depois dele nossas vidas nunca mais foram as mesmas. Minhas primas eram vistas como um jogo para alguns homens, tanto da nossa religião quanto das outras.
— Acorda, Megan! Vai se atrasar para as compras do mês. — fala Milena, ou Mily, como estava habituada a chamá-la.
— Espera só mais cinco minutinhos. — resmungo e abraço meu travesseiro.
Eu queria vida decente para as minhas primas, são a única coisa que restou da minha vida antiga.
— Primeiro diz "só mais cinco minutinhos", depois que se passam meia-hora diz "por que não me acordou antes?". E eu te conheço o suficiente para saber que vai se arrepender de não acordar na hora, então levanta! — fala me puxando pelo pés e eu abraço a perna de Melanie que também é puxada para fora do colchão. — Bando de preguiçosas!
— A culpa não é nossa se você acorda com o canto do galo. — falo enquanto vou ao banheiro e ela ignora.
Após um longo e merecido banho, visto um vestido vermelho simples com alguns babados e vou até a cozinha preparar o café da manhã. Nunca vou entender o fato de nós termos sido criadas juntas, da mesma forma e ainda ter pensamentos tão diferentes.
— Ainda tem algum brioche ou comeram todos? — pergunta Mel entrando na cozinha com sua mochila da faculdade, elas revezam o uso do notebook na universidade.
— Fiz uns ontem de noite, devem estar no forno e daqui a pouco o café está pronto. — respondo.
— Só não esquece que o meu é...
— Sem açúcar, eu sei.
— Está aprendendo direitinho a ser minha escrava. — fala bagunçando meus cabelos como se fosse um filhote e dou um tapa na mão dela.
— Se fizer isso de novo eu deixo Milena passar uma semana com seus cadernos. — ameaço e ela levanta as mãos em rendição. Da última vez, ela acabou desenhando projetos e paisagens em todas as páginas do caderno da Mel por estar sem fazer nada. Engraçado que era dia dela limpar a casa mas aparentemente isso era o "nada" dela. — Ótimo! Vou no mercado e volto em uma hora.
— Espera! Eu queria te pedir uma coisa. — fala Milena entrando na cozinha e eu espero ela falar. — Tem um menino... Ele me chamou para um encontro e eu queria saber se está tudo bem para vocês eu chegar mais tarde?
Mel parece tão surpresa quanto eu, não é para menos. Por mais que a Mily tenha uma maior facilidade com garotos, ela parece sempre ter uma expectativa muito alta sobre o seu homem "ideal".
— Claro, mas esteja em casa antes das onze, ok? Pode pegar algo do meu guarda-roupa se não achar nada adequado. — falo e ela me dá um sorriso animado.
— Muito obrigada! Não vejo a hora. Eu vou indo porque tenho que passar na casa da Andrea. — abraça Mel e vem até mim que dou um beijo em sua testa antes dela correr porta afora.
— Vai permitir isso? — Mel me olha incrédula e eu ignoro. — Você mais do que ninguém sabe o quanto ela sofreu com...
— Eu sei! Mas não podemos deixar os nossos traumas afetar todo o futuro, ela pode se dar bem com ele e até mesmo casar, ou odiar ele e nunca mais olhar na cara. Isso é uma decisão dela, não podemos protegê-la para sempre. — falo e ela sai de casa batendo a porta.
Vou até a saída, tranco e coloco a chave na minha bolsa. Quando chego ao pequeno mercado pego um carrinho e coloco o básico para depois ver o que sobra para pequenos mimos.
Conheço quase todo mundo que trabalha aqui mas não sei onde fica cada coisa nas prateleiras, nem parece que eu vivo a mais de 3 anos aqui.
Onde fica o açúcar? Nunca consigo lembrar.
— Moço, pode me dizer onde... — alguém esbarra em mim e eu quase caio mas sinto mãos fortes me segurarem.
— Desculpe-me! — fala com uma voz rouca, antes de sair ele olha para mim. Seu rosto me parece familiar mas tenho certeza que me lembraria de seus olhos castanhos.
Ele parece estar seguindo um homem acompanhado de uma mulher loira, deve estar tentado pregar uma peça nelas ou, na pior da hipóteses, tentando assaltá-los. Olho para o chão e vejo que ele deixou um relógio de bolso cair, se eu encontrar eu devolvo, se não, vai para a caixa de coisas inúteis que eu não quero jogar fora.
— Deveria saber que isso iria acontecer, fez coisa errada e agora vai pagar, Megan!
— O que eu fiz de errado? Me recusei a vender meu corpo, se eu fosse desse tipo eu estaria na esquina e não aqui dentro trabalhando para um velho asqueroso como você! — retruco. Ele me joga no chão fazendo eu bater a parte de trás da cabeça e aperta meu pescoço fazendo eu respirar com dificuldade mas não consigo conter um sorriso sarcástico.
— Estou a um passo de vender você e sabe que eu posso fazer isso, não sabe? Mas sei que não se importa de verdade. Quer dar um bom exemplo para elas, eu conheço suas fraquezas, querida, se sair um pouquinho da linha eu vendo-as para o Scorpione. Esmos entendidos? — fala bem perto do meu rosto com seu mau hálito e me seguro para não oferecer a bala de menta que está na minha bolsa.
— Não sei do que está falando. — desvio o olhar do dele e ele segura meu rosto mais forte.
— Então vou ser mais claro. Se você fizer qualquer coisa, por mais pequena que seja, eu mando meu filho suas irmãs para um país bem distante, como as prostitutas que eu sei que são. — fala me jogando contra a porta e assinto devagar.
Depois que saio daquela sala passo correndo pelas pessoas e vou até minha casa mas paro no caminho por me sentir uma completa idiota. Mas como ele sabia sobre minhas primas? Não parece saber a história completa por ter dito que elas eram minhas irmãs, tem alguém que estava me vigiando esse tempo todo.
Suspiro enquanto aperto mais os meus passos para passar em um beco escuro. Enquanto aqui de dia ficam as crianças de ruas e alguns mendigo, a noite só ficam pessoas envolvidas com drogas.
- Vamos dar uma volta, belezura. - fala um cara tentando se aproximar de mim mas eu começo a correr e ele vem atrás de mim com mais um homem e acabo esbarrando em alguém.
Merda.
Hoje definitivamente não é meu dia.
- Vai a algum lugar, princesa? - pergunta um homem com um sorriso que me deu ânsia de vômito.
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Votem e comentem!
Vocês querem que eu faça uma apresentação dos personagens? Tenho umas pessoas que se encaixam perfeitamente nas descrições e acho que fica melhor, mas vocês que decidem.
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