Capítulo 3

(9 anos depois)

— Sabe, Za, acho que deveríamos tentar nos candidatar — o tom de Rowan saiu suave quando ele trouxe aquele assunto à tona pela primeira vez naquele dia. — Já estamos com dezessete. Se substituírem os guardas reais esse ano, jamais teremos outra oportunidade na vida.

Deitada ao seu lado, Zariah suspirou. Eles já haviam tido aquela conversa antes, há dois dias, quando viram o anúncio que dizia que os guardas pessoais do rei estavam para se aposentar e que os testes para se candidatar ao cargo seriam dentro de três semanas.

Quando viram, ficaram animados com a ideia, mas agora que a empolgação passara, Zariah conseguia pensar com mais clareza.

— Mas e se acontecer alguma coisa com papai durante os testes? E se.. e se o estado dele se agravar?

Ela se remexeu, tensa, e se forçou a focar em uma outra nuvem para afastar a sensação ruim no peito. Aquela se parecia um patinho.

— Eu.. — Rowan suspirou também. — Eu não sei...

Por alguns minutos longos, os irmãos ficaram em silêncio na grama, observando as nuvens deslizarem pelo céu preguiçosamente.

Por fim, Zariah quebrou o silêncio:

— Quero isso tanto quanto você, sabe? A ideia de viver ao lado do rei a vida inteira é mais do que jamais ousaríamos querer. Mas eu também não suporto a ideia de perder papai sendo que poderíamos fazer alguma coisa.

Rowan virou a cabeça na direção da irmã, seus olhos azuis calmos que quase sempre contrastavam com os tempestuosos da irmã gêmea, traziam uma melancolia que Zariah não estava acostumada a ver.

— Não podemos fazer nada e você sabe disso — disse, seco. — E não vai ajudar em nada ficarmos aqui parados, esperando algo acontecer, Za.

Ela mordeu as bochechas, sabendo que o irmão estava certo.

— É só que... — ela observou a nuvem de patinho se desmanchando com o vento e se tornando algo parecido com um crocodilo. — Nos alistamos aos oito justamente pra não perdermos ninguém, e justo agora, que somos capazes de derrotar mil bruxas, nosso inimigo é algo que pode ser derrotado com força ou habilidade.

Rowan desviou o olhar para o céu, suspirando também.

— Vamos pedir uma licença de uma semana — falou. — Passaremos um tempo com ele e aí.. aí vamos nos inscrever para os testes, tudo bem?

Ela assentiu.

— Bem.. — Rowan se levantou com um grunhido e bateu na própria roupa para tirar a grama presa. — Então é melhor fazermos isso logo pra dar tempo de chegar em casa antes do anoitecer.

Ele estendeu a mão para a irmã, que a pegou para se levantar.

— Uma semana com papai... — ela repetiu para si mesma. — Parece bom.

***

A licença foi a coisa mais fácil de conseguir. Tendo conseguido se alistar oficialmente com doze anos, e se formarem no primeiro estágio como melhores da turma, os irmãos Everblane se tornaram extremamente respeitados até mesmo pelos sargentos. Por isso, quando explicaram a situação do pai, a permissão para visita-lo foi imediata. Então selaram os cavalos e partiram.

A viagem se passou em silêncio um silêncio que era cortado apenas pelo som dos cascos dos cavalos quando pisavam em alguma pedra. Nenhum dos dois queria conversar de qualquer forma, pois sabiam que o assunto inevitavelmente recairia na saúde do pai ou nos testes.

A paisagem também não estava muito bonita: sendo final de outono, as folhas estavam secas e úmidas no chão — as árvores não passavam de manchas marrons retorcidas e assustadoras.

Rowan odiava o inverno. Não por causa do frio em si, mas do que isso significava: ele teria que passar muito tempo perto de fogo. Depois do incidente da sua infância, o elemento passou a ser o portador de lembranças e gritos que perseguiam suas noites por nove anos, e não havia como escapar daquilo, por mais que o trauma tivesse diminuído, a dor da culpa sempre o visitava.

Com a paisagem morta e sem cor, os irmãos achavam que a vista não poderia piorar, mas o lugar estava quase irreconhecível! O mato no quintal estava mais alto do que jamais esteve; nem mesmo as folhas pesadas das árvores apareciam.

A impressão que os irmãos tinham era de que a casa estava abandonada há meses. A única coisa que denunciava que havia alguém lá, era um ponto brilhante em uma das janelas, provavelmente de alguma vela que o médico estava usando.

Era uma sensação estranha ver a casa silenciosa. O pai era um comerciante muito respeitado e, por isso, eles tinham o luxo de ter uma casa grande e empregados, mas a maior parte de suas riquezas fora embora em busca da cura da doença do pai e, por isso, os empregados haviam sido mandados embora. Os irmãos temiam ter que vender a casa em breve e procurar uma bem menor para conseguirem continuar pagando o médico.

Eles prenderam os cavalos em uma cerca tomada pelo mato e entraram na casa, os passos leves e silenciosos sob o piso de madeira.

— Doutor Flitzen? — chamou Zariah. — O senhor está aí?

— Oh! Justamente quem eu precisava! — a voz do velho médico respondeu. Ela soava mais rouca do que a garota se lembrava. — Estou aqui em cima, no quarto de seu pai.

Rowan esticou a mão para que a irmã a pegasse antes de subirem até o quarto, e ela aceitou, respirando fundo. Juntos, eles abriram a porta.

A situação estava pior do que poderiam esperar: o pai, magro demais estava deitado na cama da mesma forma que estava quando os dois o visitaram pela última vez há duas semanas. Porém, seu semblante trazia uma expressão agoniada, apesar de estar claramente dormindo.

Dr. Flitzen, ao ver os dois jovens, se levantou do banco ao lado da cama e foi apertar a mão deles.

— Como ele está? — indagou Rowan, sem conseguir desviar o olhar da cama.

O velho médico da família suspirou.

— Piorando a cada dia. Temo que ele não passará de uma semana...

Ao lado do irmão, Zariah soltou um suspiro.

— Não há nada que possamos fazer?

Dr. Flitzen fez um gesto positivo com a cabeça.

— É exatamente por isso que eu estava prestes a escrever uma carta para vocês: no estágio dele, apenas as folhas da árvore da vida poderiam o salvar.

Rowan franziu o cenho.

— Mas essa árvore é um mito.

— Pelo contrário: ela é bem real — disse o doutor. — Eu não gostaria de revelar isso a vocês, pois a viagem é extremamente perigosa, mas... — ele suspirou. — Mas não vejo outra saída para seu pai.

Zariah deu um passo à frente e colocou uma mão sobre o ombro do médico, a luz bruxuleante acentuando as linhas de expressão profundas do mais velho.

Os dias no exército não eram fáceis, mas com certeza pareciam brincadeira de criança quando comparados aos do médico. Cuidar de alguém doente era uma coisa, mas ter que cuidar e ao mesmo tempo ter que preparar as coisas básicas da casa — como o preparo da comida e a limpeza do quarto — e ainda ter que arrumar tempo para tentar estudar a doença sem cura, era algo que poucos homens conseguiam administrar.

Porém, o doutor Flitzen estava na família há anos; fizera até mesmo o parto dos irmãos e cuidara da mãe deles até seu último suspiro. O que ele fazia para o pai dos meninos era mais do que meramente pelo pagamento ou pelo amor à profissão: era pela família. Porque se importava.

E se importava tanto ao ponto de omitir a existência da árvore perigosa até que não houvessem outras opções mais seguras.

— Você deveria ter nos dito antes — disse a garota. — Onde ela está?

— Para o norte — disse. Ele foi na direção de uma escrivaninha que usava para o preparo de remédios. Abriu uma gaveta e retirou de lá um mapa de aparência antiga, o qual entregou à Zariah. — Vocês devem atravessar um portal de pedra. O mundo é o mesmo que o nosso, mas a magia lá é forte. Se vocês não atravessarem, a árvore da vida não será capaz de curar seu pai, mesmo ainda assim ser um forte remédio.

Os irmãos se entreolharam.

— Conhecemos um portal de pedra. Já atravessamos ele antes.

— Então vocês devem saber como encontra-lo — disse o doutor Flitzen, assentindo. — A viagem, entretanto, não será fácil.

— Não esperaria menos de uma árvore milagrosa — disse Zariah, cruzando os braços. Ela deu uma breve olhada no pai adormecido, alheio à conversa. — Partiremos ao primeiro raio de sol.

— Antes — corrigiu Rowan. — Se aquelas três pedras eram um portal, aquele lado escurece mais rápido do que aqui. Se quisermos aproveitar todo sol disponível lá, é bom sairmos uma hora antes do amanhecer.

— Tudo bem — Zariah assentiu. Ela pegou o mapa do médico e se virou. — Vou arrumar algo para comermos e traçar um plano. Obrigada, doutor.

— Boa sorte, garotos — disse Flitzen. — Vocês são a última esperança dele.

Rowan assentiu antes de se retirar também, deixando o médico sozinho com o pai, seu único companheiro que jamais o abandonava, fraco demais para isso.

Enquanto a irmã preparava a janta, Rowan decidiu tirar a poeira do quarto dos dois e arrumá-lo para a noite.

O silêncio durante a refeição recaiu sobre eles como uma manta pesada. Não importava o quão quente estivesse a sopa que Zariah preparara; a frase do doutor não conseguiu sair da mente do garoto, ecoando como um martelo: vocês são a última esperança dele.

Como se ele precisasse do peso de mais uma morte em suas costas.

Zariah notou que o irmão estava mais quieto do que o de costume e esticou a mão para tocar a sua. Ela o encarou, esperando pacientemente até ele olhar de volta. Quando o fez, disse:

— Vamos conseguir, não se preocupe.

Ele assentiu e forçou um sorriso.

— Eu sei.

Vocês são a última esperança dele.


|Votinho pra dar sorte?|

Gente, o Rowan ainda vai surtar com tanto peso nas costas dele, tô falando. AINDA BEM que ele tem a Zariah pra cuidar da retaguarda do moleque.

Enfim, agora a aventura comecará! O que estão achando? Quais suas expectativas??

Eu vou ser bem sincera com vocês... tô muito nervosa. Ô, CONCURSO BRILHANTINA, POR QUE UM PRAZO TÃO CURTO? EU SOU ENROLADA COM HISTÓRIA, MOÇA! (meus leitores de Cryokinesis vão te MATAR por isso, né, gente?)

Espero muuuuito que vocês comentem tudo o que estão achando pra me dar aquela motivada gostosa pra terminar isso em UM MÊS. Se eu conseguir, vai ser, definitivamente, a minha maior conquista (o que vai ser perfeito pra quem me acompanha também porque vou me achar capaz de tudo e aí vou terminar todas minhas estórias empacadas rapidin uhuuu)

Enfim, amanhã - se Deus - quiser vai ter cap novo! 

Espero vocês aqui <3

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top