Capítulo 13
Quando a luz voltou, os irmãos se viram de ponta cabeça, amarrados a alguma coisa muito pegajosa que, pela textura, presumiram ser teia de aranha.
Perto deles, Geomi fez um ruído rouco que poderia ser tanto de felicidade quanto de sofrimento. Rowan olhou para baixo — ou melhor, para cima, no teto — e se surpreendeu quando viu a moça: o rosto continuava humano, porém da cintura para baixo ela era uma aranha completa! O corpo era marrom e suas oito pernas eram peludas. Elas faziam um ruidinho irritante conforme ela tecia uma teia fina em volta de Zariah, que estava ao lado de Rowan em um casulo bem mais encorpado.
Com aquela visão, o garoto não soube o que sentir. Ele sentia seu coração partido, sim, mas o sentimento de ser o homem mais tolo do mundo era o que mais gritava na mente. Como se deixara enganar por aquilo? Trêmulo, ele observou a carapaça enorme de Geomi e calculou que deveria ter o tamanho de uma criança deitada. Se somasse ao corpo inteiro de aranha, o tamanho poderia chegar a ser maior até do que Dumbão.
Ele não conseguia olhar para aquilo. Era extremamente nojento pensar em todo aquele corpanzil escondido de seus olhos. Então, mudou sua atenção para o rosto de Geomi e quase gritou quando percebeu que havia se enganado quanto à suas feições: ela tinha oito olhos enfileirados de uma forma estranha, evitando o nariz da mulher que, um dia, ele já considerou uma das mais belas.
E seu sorriso.... ele era escancarado; nada natural. Rowan viu o desejo e a fome refletida em seus — vários — olhos negros conforme enrolava Zariah. Aquilo era um pesadelo!
.... Só pode ser um pesadelo, pensou ele, Se não for, então por que raios ela se transformou apenas da metade para baixo? E por que ela continua usando o vestido? Não faz sentido! É só um pesadelo... um pesadelo...
Ele estava prestes a se beliscar quando ouviu o grunhido de dor de Zariah. Era abafado, como se o ar em seus pulmões estivesse quase no fim.
...E Rowan sabia não teria tanta criatividade para sonhar com esse som.
— Za! — chamou ele, esquecendo-se completamente de do beliscão. — O que ela fez com você?
Zariah levou alguns segundos para responder enquanto tentava forçar os pulmões a se expandirem em busca do oxigênio necessário para falar.
— Nada ainda. Mas não sei se vai ser assim por muito tempo.
Como em resposta, Geomi riu.
A risada dela era tão horrível, tão... selvagem, que Rowan mais uma vez se perguntou como conseguira ser enganado por tal monstro. Seus cabelos estavam com a aparência de molhados e se mexiam em volta de sua cabeça como os tentáculos de uma criatura das profundezas do oceano tão obscura que até mesmo baleias deviam temer.
Ele não suportou guardar toda aquela angustia dentro de si:
— Por quê? — indagou para a aranha, o peito pesando como chumbo. — Por que nos enganar dessa forma?
Ela diminuiu um pouco da atenção em Zariah para poder olhar para o moreno antes de responder:
— Não sou tola, garoto. Sei que os dois são guerreiros e eu conheço os meus limites. Faço isso há séculos e eu definitivamente prefiro não me arriscar tanto — ela riu um pouco de alguma piada interna que apenas ela entenderia antes de continuar: — e você é um garoto tão ingênuo... Foi mais fácil do que picar um humano recém-nascido.
Ela voltou a atenção para Zariah, e sua teia continuou a sair rápido. Ele lançou um olhar rápido para a irmã. Seu rosto já estava roxo pela falta de ar.
Desesperado, ele notou que a irmã não tinha mais muito tempo. Precisaria continuar distraindo Geomi enquanto que, lentamente, tentava cortar a teia com a pequena faca que usava para esfolar caça.
Felizmente, ele sempre a guardava na bainha da espada.
Rowan respirou fundo para poder enfrentar o monstro de cabelos flutuantes sem deixar transparecer seu plano:
— Pelo menos alguma coisa que disse foi verdade?
Geomi olhou para o garoto novamente, esquecendo-se por um segundo de Zariah. Ele não era um especialista em analisar a expressão de aranhas, mas algo em seu rosto demonstrava que estava se divertindo.
— Quem pensa que eu sou? Uma mentirosa? — seu sorriso se esticou, mostrando sua fileira completa de dentes, mas dessa vez Rowan reparou que eles eram ligeiramente compridos demais. Como que ele conseguira beijar aquilo? — Não, posso não ter participado do circo, mas definitivamente a árvore está aqui. Veja bem, que lugar melhor para fazer de casa do que na base de uma das montanhas que protegem a árvore?
Seus olhos cintilaram e brilharam ao refletirem a luz da tocha trêmula que ela reascendera. Rowan não se deixou levar pelo pânico e continuou cortando fio por fio da teia gosmenta. Estava quase... e felizmente Geomi parecia ser orgulhosa:
— E, de fato, a comida depois do mar é realmente melhor... — continuou. — As pessoas parecem ser mais despreocupadas e saudáveis. Acho que é a água.
Plec. A teia arrebentara. Ele estava solto.
Em um movimento único, Rowan abriu um talho grande o suficiente para seu corpo girar e cair, de forma que, ao pousar no chão, ele não deu de cara no piso de pedra.
Geomi soltou uma exclamação de surpresa e tentou cortar o próprio fio que usava para enrolar Zariah. Rowan se aproveitou desse pequeno tempo e sacou a espada em um segundo. O casulo não estava tão alto e, por isso, conseguiu o cortar com facilidade. Com um grunhido, Zariah, seu arco e as flechas caíram em cima de Rowan. Ele estendeu os braços, mas só conseguiu pegar a irmã no ar apenas para amortecer a queda. Seu braço direito, privado de movimentos graças aos curativos de Geomi, não conseguiu fazer o movimento de gancho para que a irmã permanecesse em seu colo e ela simplesmente rolou para fora dele. Porém, assim que ela atingiu o chão, começou a lutar por ar, então devia estar bem.
— Ar..arco! — gritou ela, em meio às tosses.
Até mesmo o curativo fora uma armadilha, pensou Rowan, enquanto corria até a arma da irmã e a jogava em sua direção. Como eu sou burro!
Ele sentiu antes mesmo de ver: em um segundo, ele estava no meio da caverna e, no outro, já rolava para o canto perto de Zariah, puramente seguindo seus instintos.
Geomi pulou para o chão no momento em que estava começando a se levantar do rolamento: seus cabelos negros e lustrosos enrolavam-se e emaranhavam-se pelo pescoço e no colo como se um vento — que Rowan não conseguia nem tocar e nem sentir — soprasse sobre eles.
...ela também estava muito alta. A sua metade aranha tinha praticamente o tamanho dele.
Ainda com o rosto um tanto roxo, Zariah agarrou o arco e se arrastou para o lado do irmão, fugindo das patas dianteiras de Geomi que vinham em sua direção em uma velocidade voraz.
A aranha riu da situação e avançou novamente. Rowan, sabendo que não seria muito útil usando a espada na mão esquerda, correu para o lado oposto da sala. Quando passou por Geomi, esticou a espada e feriu de raspão uma das suas pernas.
— Estou aqui! — gritou ele, e, caindo no plano, a aranha se virou com uma careta raivosa. — Jogue limpo.
— Com muito prazer — ela escondeu a dor em um segundo quando avançou na direção de Rowan, as oito pernas peludas trabalhando em conjunto para alcança-lo.
Quando ela estava a quase um metro dele, o garoto mergulhou no chão e rolou para de baixo da carapaça dela. Em um movimento fluído como a água de um rio, ele virou de barriga para cima e espetou a espada no abdômen duro.
Geomi gritou quando o corte e sua metade humana se virou para baixo, de modo a ficar cara-a-cara com o guerreiro. Ela usou uma das pernas para tentar alcança-lo.
Não havia como fugir prisão de pernas e muito menos se defender ali. Em uma fração de segundo, Rowan considerou sua posição burra e mal pensada. Se tivesse analisado a situação por um segundo a mais, ele teria escolhido dar a volta em Geomi e fazer pequenos cortes em suas pernas até Zariah estar pronta para ataca-la também.
Antes que pudesse erguer a espada em uma tentativa de defesa que com certeza seria fracassada, Geomi gritou e sua perna caiu com um baque, espalhando sangue vermelho e espesso pelas paredes da caverna escavada.
Ele teve apenas o tempo de uma batida de coração para reagir e, aproveitando a nova abertura, Rowan se jogou para longe da aranha antes que ela pudesse descontar a própria dor nele. Quando se levantou, percebeu que, logo acima da articulação da perna, havia uma flecha firmemente presa ali.
Ele olhou para a irmã, que já estava com a próxima montada no arco, pronta para ser lançada.
Ela atirou antes que Geomi pudesse se virar para eles e aquilo lhe custou outra perna.
— Na cabeça! — gritou Rowan, mas Zariah o ignorou conforme sacava outra seta.
— Não temos certeza se a parte de aranha é dependente da humana. Não quero arriscar as flechas. — Respondeu ela enquanto corria para longe do irmão. — Acerte a barriga!
Rowan assentiu quando eles começaram a correr. Por alguns milésimos de segundo, Geomi ficou indecisa sobre quem ir atrás, mas, ao receber outra flechada certeira e perder sua terceira perna, ela escolheu Zariah.
A garota rolou para longe da aranha, as três últimas flechas presas entre os dedos para que tivesse um saque mais rápido. Geomi atacou, a perna dianteira veloz como uma lança, mas atingiu apenas o vento.
Quando a aranha olhou para o lado, a procura da menina, sua quarta perna já voava para longe.
Ela ouviu um grito de guerra vindo atrás de si e, virando a cabeça, viu que era Rowan com a espada erguida acima da cabeça, pronto para desferir um golpe perfeito em suas costas.
Sangrando, tonta e desiquilibrada, Geomi forçou as suas quatro patas a se dobrarem e empurrarem o corpo para o alto, de forma que ela se atirasse para o teto, desviando-se do golpe mortal garoto.
Seu plano seria pular novamente para o chão, em cima de Rowan e mata-lo com sua perna dianteira, porém ela não contava com a pontaria da arqueira que a acertou antes mesmo dela poder processar verdadeiramente seu plano.
Ela caiu com um baque surdo no chão, as pernas para cima. Sobrara duas no lado direito, e uma no esquerdo. Gritou e rolou de dor conforme o sangue se acumulava em uma poça abaixo dela.
Estava derrotada.
Sem pensar, Rowan correu na direção da irmã, que estava quase desmaiando de exaustão. Os braços feridos sangravam por baixo das ataduras e o arco não estava mais tão firme em seu punho
— Está tudo bem? — indagou ele, abraçando-a com o braço esquerdo. Sua espada estava suja de pus e sangue e ele não pode deixar de notar que a irmã estava tremendo violentamente.
Ele a apertou mais forte contra o peito, em gesto acolhedor.
— Conseguimos... — murmurou ela, a voz tão trêmula quanto o corpo.
— Desculpa... — sussurrou ele. — Eu deveria ter te ouvido, Za... Desculpa...
Ele estava tão imerso no próprio arrependimento que não notou quando Geomi tomou um impulso e rolou para o lado esquerdo, levantando-se.
Tropega, ela avançou na direção dos gêmeos, uma das patas dianteiras levantada em posição de ataque.
Zariah ergueu a cabeça e gritou quando faltava apenas um metro entre eles e a morte. Ela virou Rowan na direção de Geomi, de forma que o irmão pudesse erguer a espada, agachar-se no momento em que ela iria acerta-lo e cortá-la pela raiz.
Geomi soltou um grito de ódio e dor e caiu no chão. Pedras e poeira se levantaram com o impacto, mas finalmente ela não conseguia mais se manter em pé.
— Você me chama de ingênuo... — falou Rowan, ofegante, conforme se levantava. — Mas você que foi ingênua ao tentar se meter conosco.
Geomi respirou profundamente, os oito olhos fechados. Quando tornou a abri-los, olhou para Rowan furiosamente, mas sorriu com doçura.
— Continuo com a mesma opinião, garoto. E eu ainda tenho duas pernas — disse, e olhou para Zariah, que estava praticamente ao lado de sua parte humanoide. — Espero que tenha a vida mais longa e fisicamente saudável que um homem pode ter, Rowan Everblane.
Então, antes que ele pudesse fazer qualquer coisa para impedir, Geomi esticou a perna dianteira que restava e atacou o abdômen de Zariah.
E tudo se resumiu a dor e penumbra quando ele revidou, enterrando a espada no coração da mulher que o enganara.
|Votinho se você quer me socar|
Todo dia eu me pergunto pq raios eu INSISTO em botar ação nos meus livros...
SÉRIO, POR QUÊ?????
Eu já tô tendo que me forçar a escrever mesmo sem inspiração e fazer cena de luta é um bagulho que tenho dificuldade e daí o que eu invento? UMA LUTA COM UMA FUCKING ARAGOGUE METADE HUMANA.
Ai, ai... essa Julie, viu...
Enfim, se vocês acharam ruim, terei que sofrer porque só vou reescrever isso lá pra abril. (ih, rimou!). De qualquer forma, pelo menos soltei uma bombinha no final que ESPERO ter compensado essa luta bem méh.
E HOJE VAI TER SURPRESINHAAAAAAAA.
... vou falar mais nada heheehe. Até a surpresa, meus aventureiros!
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