II

Alguns meses se passaram, e eu amava a Escócia cada vez mais. Não poderia explicar o bem que aquele lugar me fazia. Sentir aquele vento em meus cabelos, o mar molhando meus pés, enquanto eu lia um livro. Passava minhas tardes descansando em uma cadeira na beira do mar.

Rose continuava insistindo para eu procurar minha família e Isabella. Porém, toda vez que eu pegava no telefone, desistia. Cada diz mais eu me sentia fraco, quase sem disposição para nada. Muitas vezes eu precisava da ajuda de Rose para me levantar da cama, tomar banho, me alimentar; tornou-se minha enfermeira indiretamente, e por causa disso, ela insistiu em morar comigo até meu último dia de vida.

Inicialmente, não concordei. Jamais achei certo ela sacrificar a vida dela em função da minha, contudo, percebi que a companhia dela era muito necessária. Aquela senhora tinha se tornado minha melhor amiga, sua confidente nos melhores e piores momentos.

— Dário.

Senti a mão dela em meu ombro, me entregando a xícara de chá, que havia se tornado um costume diário.

— Veja como o mar está calmo hoje, Rose.

— Sim, está calmo.

— Gosto quando ele está assim, traz uma certa tranquilidade em meu coração.

— Fico feliz por isso.

— Alguma coisa aconteceu?

— Encontrei Isabella em Edimburgo procurando por você loucamente.

— Como? — assustei-me, ela não poderia ter me achado. — Isso não podia acontecer.

— Eu sei que não. Demorei bastante tempo para aceitar suas escolhas, Dário. E, agora...

Encostei a cabeça na cadeira e fechei o livro.

— Sabe, Dário, por um momento tive vontade conversar com ela e dizer absolutamente tudo o que eu sei. Mas, eu respeito você e suas escolhas. Não prometo que ela não o encontrará, é bem possível. Ela está perto demais, muitas pessoas sabem que um homem estrangeiro veio morar aqui e não comparece em sociedade.

— Não tenho coragem de enfrentar Isabella.

— Imagino que não tenha, entendo.

— Rose, tudo está piorando. Minha doença está avançando de maneira assombrosa, sinto muita dor. Não quero que ela me veja dessa forma. — respirei fundo antes de continuar. — Preciso descansar. — entreguei a xícara completamente cheia para ela.

— Nada de se jogar na areia do mar e se molhar. — pegou a xícara e saiu.

Isabella era o grande amor da minha vida. Não tinha somente um dia em que eu não pensasse nela. Ela era um dia de sol depois de uma longa tempestade, um chocolate quente no inverno; uma completa alegria. Cheguei a pensar que um dia casaríamos, teríamos filhos e ficaríamos velhos juntos, observando nossos netos brincando.

Mas, agora, tudo não passava de um belo sonho. Os dias eram difíceis sem ela ao meu lado, entretanto, eu seria feliz da minha forma sem ela.

A vida continuaria sem ela.

Na verdade, era bem o contrário.

(459 palavras)

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top