🔮Prólogo🔮
"É curtinho, não se preocupe!" 😉
A bola de cristal reluzia, refletindo a chuva que caía sobre Elisa e Miguel. Eles gargalhavam, corriam, dançavam, brincavam na tempestade.
Entre beijos e abraços, o amor deles era inegável, como se o mundo inteiro tivesse desaparecido ao redor.
Eles pareciam feitos um para o outro.
A cena era observada por olhos frios e calculistas.
Isadora Vasconcelos fitava a bola com atenção, com os lábios curvados em um sorriso satisfeito.
— Essa é a escolhida, Artur. — Ela murmurou, sem se virar, mas lançando um olhar de esguelha para o filho que permanecia atrás de sua cadeira.
Artur estava imóvel, com as mãos enfiadas nos bolsos, o semblante sério, e com os olhos fixos na cena.
— Bela, coração puro e, o mais importante... virgem.
Enquanto Isadora pronunciava as palavras, um leve som inaudível vindo da janela quebrada ecoou no ambiente. Pequenos olhos castanhos e curiosos observavam a cena com atenção. Era uma criança de tranças loiras, espiando pela fresta.
— Tenho que realmente fazer isso? — Artur perguntou, sem desviar o olhar da bola de cristal, com sua voz carregada de dúvida.
Isadora soltou uma risada baixa, quase desdenhosa.
— Se não quer perder todo o seu império, sim. O senhor do Abismo desejou isso.
Artur respirou fundo, deixando escapar um sorriso irônico.
— Ele está cada vez mais exigente... esse poder está me saindo muito caro.
Isadora virou-se parcialmente, estreitando os olhos.
— Ele é quem mantém sua posição. Não vá jogar tudo fora.
— O prefeito vai assinar o maldito contrato. Afinal, ele estará nas minhas mãos. — Artur comentou, indiferente, mas o brilho em seu olhar revelava sua ambição.
Isadora apontou o dedo ossudo para a bola de cristal.
— Traga Elisa Medeiros para o Senhor do Abismo e destrua quem se opuser no caminho, inclusive... Miguel Fontana! — Sua voz carregava uma frieza mortal, e seus olhos pareciam duas sombras vivas.
De repente, um espirro agudo quebrou a tensão no ar. A poeira acumulada há anos em toda casa, provocou uma alergia subta na pobre menina revelando sua pequena presença. Artur e Isadora giraram imediatamente na direção do barulho.
— Quem está aí?! — A bruxa vociferou, erguendo o cajado com a ponta circular brilhando em um tom ameaçador.
A menina de tranças loiras tampou a boca com as mãos, e com o coração batendo em disparada. Tentou recuar, mas antes que pudesse escapar, Isadora surgiu à sua frente com um salto sobrenatural, e os olhos faiscando de fúria.
A criança tropeçou para trás, caindo ao chão, enquanto encarava a bruxa com pavor absoluto.
— Como ousa me espiar pela porta?! — Isadora rosnou, aproximando o cajado da testa da menina.
— Calma, mamãe... ela é só uma criança. — Artur interveio, surgindo atrás dela e pousando uma mão firme em seu ombro.
Isadora olhou para ele de soslaio, irritada com a interrupção, mas relaxou o aperto nos dedos por um instante.
— Apenas uma criança... — Ela murmurou. — Qual é o seu maldito nome, pirralha?! — Isadora vociferou, com sua voz ecoando pela floresta, enquanto o cajado brilhava de forma ameaçadora.
A menina, que tremia até então, de repente firmou o olhar. Seu semblante mudou de medo para uma determinação inesperada. Ela encarou Isadora de frente, com os olhos faiscando coragem.
— Eu me chamo Ana Fontana! — respondeu com firmeza, com a voz surpreendentemente forte para alguém tão jovem. — E não tenho medo de você!
Isadora arqueou uma sobrancelha, surpresa com a ousadia.
— Então... Miguel Fontana tem uma irmã caçula?! — Falou parecendo se divertir.
— A Elisa e o Mi vão saber tudo o que você e o seu filho estão tramando contra eles! — Ana completou, levantando o queixo em desafio, mesmo caída ao chão.
Por um momento, o ambiente ficou em silêncio, até que uma risada baixa, fria e cortante escapou dos lábios de Isadora.
— Que ousadia... — murmurou ela, como se saboreasse as palavras. Mas logo o sorriso desdenhoso desapareceu, e seu semblante se fechou novamente em uma máscara de severidade.
Ela inclinou o cajado, com a ponta brilhando com uma energia escura que parecia pulsar junto ao coração da menina.
— Vamos ver o que sobra dessa valentia quando eu terminar com você...
Pressionou a ponta do cajado contra a testa da menina.
— Que o esquecimento do que viu e ouviu caia sobre você! — Isadora bradou, com sua voz ecoando como um trovão.
A luz do cajado brilhou intensamente, e a menina soltou um pequeno gemido antes de desmaiar.
Artur suspirou, abaixando os olhos para a garota inerte no chão.
— Você poderia ser menos... teatral.
Isadora deu um leve sorriso sombrio, erguendo o cajado.
— O poder não exige sutileza, meu filho. E nem piedade.
E assim, o silêncio voltou a reinar no quintal e na sala iluminada apenas pela luz trêmula da bola de cristal. Isadora se afastou com passos elegantes, enquanto Artur permaneceu imóvel, encarando a menina desacordada no chão. O peso das escolhas que tinha pela frente parecia mais denso do que nunca. No fundo, ele sabia que o preço do poder não era apenas caro, era impiedoso. E o destino de Elisa Medeiros estava prestes a mudar para sempre.
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