Dane-se o Sorvete!
Do livro: Cadu. De JVLeite
---
Saio do treino natação, exausto, barriga roncando de fome e os olhos pesados de sono. Troco de roupa, sem tomar banho, despeço-me do Cadé, outros colegas e treinador.
Saio do clube e avisto o Chagas encostado no carro me esperando, ou seja, Rhyan não pode vir me buscar. Atravesso a rua e corro ao seu encontro.
– E aí?
– Como vai seu Carlos? _Ele abre a porta.
– Bem, e cansado. _ Jogo a mochila dentro do carro e entro.
Assim que ele dá partida, pego minha carteira no bolso da frente da minha mochila, abro e dou de cara com três notas de cem reais.
Rhyan... Claro!
Ele sempre faz isso. Pega minhas notas menores e enche minha carteira de dinheiro. Ás vezes me sinto um verdadeiro garoto de programa. Depois de uma noite daquelas, no outro dia de manhã, minha carteira aparece abarrotada de grana. Já reclamei algumas vezes, mas não adianta, Rhyan faz o que quer, e eu não acho ruim. Só não gosto quando ele tira as notas menores, pois muitas vezes fico sem poder comprar um lanche ou tirar uma xerox na faculdade por falta de troco. Pego uma nota e entrego ao Chagas.
– Passa num drive thru pra mim. Compra um cheeseburg com batata frita. Por favor.
– Claro. _Ele responde.
Acomodo-me no banco e durmo. Só acordo quando já estou em frente ao meu prédio, com o Chagas me sacudindo pelo ombro. Agradeço a carona, o lanche e subo o elevador comendo batata frita.
Assim que entro no apartamento vou direto para a cozinha. Dona Iolanda parece que foi embora mais cedo, então jogo minhas roupas molhadas em cima da máquina de lavar roupa, pego um Toddynho na geladeira e devoro meu sanduíche no sofá, assistindo SportTV e mexendo no celular.
Não demora e Rhyan liga para mim.
– Oi... _Falo meio manhoso, meio chateado, pois tínhamos combinado de que ele iria me buscar na natação.
– Oi anjo. Me atrapalhei aqui. Chagas foi te buscar? Já tá em casa? _Ele pergunta meio ofegante, como se tivesse correndo e falando comigo ao mesmo tempo.
– Sim. Onde você tá? _Já fico ressabiado, por que diabos ele tá ofegante?
– Então se arruma que eu tô indo te buscar. Vamos fazer compras. O pessoal vai jantar aí em casa hoje, pra gente comemorar um contrato com uma rede de ensino filiada a uma das maiores redes de educação do mundo, com mais de cinquenta anos de mercado. Vamos desenvolver uma plataforma de ensino digital. Um projeto ambicioso e audacioso, mas que vai nos render uma grana preta e quem sabe abrir nossas portas para o mercado internacional.
– Caralho, Rhyan, sério? _Fico feliz e empolgado por ele.
– Seríssimo. Vamos comprar o material, a Sure vai fazer uma massa com camarão ao molho roquefort. Os meninos vão levar as bebidas.
– Pensei que era o pessoal da Oráculo que vinha... _Falo sem demonstrar a decepção na voz. Adoro a Sure, mas ela tá sempre dando um jeitinho de falar do Noah e isso me irrita.
– Com minha equipe só depois da plataforma pronta. Ainda temos um trabalho árduo pela frente, ainda tá cedo pra comemorar. Mas os levei para almoçar num restaurante bam bam bam aqui perto. Já com os amigos, não precisa de muitos motivos pra gente se reunir. Você sabe.
– Ok. Vou tomar banho.
– Antes de descer pega lista de compras que Dona Iolanda deve ter deixado na porta da geladeira. Te espero na garagem.
– Tá bom. E parabéns...
– Parabéns o cacete... A gente ainda vai comemorar muito hoje noite. Se prepara.
– Ai merda! _Meu pau endurece. – Tchau. _Desligo.
Já no carro, depois de um beijo desentupidor de pia, seguimos para o supermercado. Meu pau endurece mais um pouco e eu já quero terminar logo as compras que nem começamos.
Assim que chegamos, pegamos um carrinho abandonado no estacionamento e subimos a esteira rolante conversando sobre o tal novo contrato. Rhyan está tão empolgado que está me contagiando. Só em pensar em acompanha-lo nas suas viagens pelo Brasil e quem sabe pelo mundo afora, está fazendo meu estômago revirar de ansiedade. O único problema é a faculdade, mas eu dou um jeito.
Começamos as compras. Fico com o carrinho e com a lista enquanto ele compra o material do jantar. Confesso que fazer compras não é minha praia. Raramente fazemos isso, normalmente é a Dona Iolanda ou o Chagas, e eu não sei por onde começar.
· Arroz (3kg) – compro um que vem em saquinhos, um tal de parboilizado.
· Feijão (1kg) – tinha marrom, branco e preto. Optei pelo marrom, que é o preferido do Rhyan.
· Açúcar demerara (4kg) – depois de várias brigas entre mim e o Rhyan sobre que tipo de açúcar usar, optamos pelo demerara. Nem o mascavo, que ele gosta, e nem o branco que eu gosto.
· Café (5 pacotes – embalados a vácuo) – isso não pode faltar, senão Rhyan deixa de funcionar. Nunca vi tão viciado!
· Macarrão – Minha cabeça dar um nó. Não sei se compro espaguete, fusili, fetuccine, penne... De sêmola ou de ovos.
Por sorte Rhyan chega na mesma hora, com as compras quase caindo das suas mãos.
· Queijo gorgonzola – "Não tem Roquefort" – ele diz – "Vai esse mesmo".
· Azeite extra virgem
· Alho
· Alcaparras
· Três sacos de camarão congelado
· Uma garrafa de vinho branco, bem pequena.
– Você não disse que eles que iam levar as bebidas? _Pergunto
– Esse vinho é pra preparar o molho. _Ele olha os pacotes de macarrão na minha mão. – Vai levar qual desses?
– Não sei..._ Rio de mim mesmo. – São tantos...
– Pro jantar tem que ser parafuso. Pra gente pode ser qualquer um.
– Parafuso? _Olho as opções nas prateleiras, nenhum é parafuso.
– Esse aqui, anjo. _Ele pega um pacote de macarrão fusili, grano duro, e joga no carrinho.
– Ah... _Vivendo e aprendendo, fusili e parafuso é a mesma coisa. – E pra gente? _Pergunto.
– Humm... Deixa eu ver. _ Ele cola em mim e cheira minha orelha, fazendo todos os meus pelos se arrepiarem. Praguejo e me afasto. – Que foi? _Ele pergunta na mesma hora.
– Tá foda né?! _Aponto para o volume na calça. Ele ri safado. – Desencosta, vai... Tá constrangedor. _Falo cheio de dengo, quase suplicando. Ele sabe como sou vulnerável aos seus estímulos, e se a brincadeira continuar o negócio vai ficar bem feio pro meu lado.
– Então se apressa... _Ele pega um pacote de macarrão qualquer e joga no carrinho. Arranca a lista da minha mão, lendo e conferindo o que eu já peguei. – Caralho anjo, não comprou quase nada...
– Foi mal... fiquei empancado no macarrão.
– Tudo bem. Tem que comprar carnes, frutas e verduras. _Ele me encara. – Vou pras carnes e você vai pras frutas e verduras.
Saímos empurrando o carrinho, quase correndo no supermercado. Ele agora tá com pressa, e eu também.
· Batata
· Cenoura
· Tomate
· Cebola
· Beterraba
· Repolho
· Chuchu
· Pimentão
· Alface
· Banana
· Mamão
· Maracujá
· Laranja
· Melancia
· Ovos
O carrinho fica parado no corredor entre a seção de carnes e a seção de hortifrúti, e cada um vai abastecendo a medida que vai pegando as coisas. Nosso carrinho vira uma bagunça total. Coisa por cima de coisa.
· Carnes vermelhas e variadas – não entendo nada de carnes.
· Galinha – coxa, sobrecoxa e peito.
· Peixe – também não entendo nada de peixes.
Rhyan tem sorte por ter acompanhado seu avô inúmeras vezes no mercado. Eu praticamente só fui ao mercado quando era criança e olhe lá.
Depois de dar uma organizada no carrinho, separando as frutas das carnes, fomos para a seção de gelados.
· Manteiga
· Requeijão
· Cream Cheese
· Queijo
· Presunto
· Sorvete
· Iogurte
· Yakult
· Danoninho
– Era pra gente ter pego os gelados por último. _Reclamo, pois disso eu entendo e não quero que o sorvete derreta, senão fica ruim.
– Mas vai ser rápido... _Ele me dá um beijo na bochecha. – Só falta uns biscoitos.
– E cereal. _Complemento.
– Isso.
· Biscoito maisena
· Bolacha cream cracker
· Club social
· Bono de chocolate e morango
· Biscoito Wafer de chocolate, limão e negresco.
· Cereal de bolinha de chocolate e rosquinhas coloridas.
Terminamos tudo e vamos para a fila do caixa.
– Faltou o leite. _Ele diz.
– Vou buscar. _Saio andando pelo supermercado enquanto ele espera na fila
· Leite ninho
· Farinha láctea – pra vitamina da manhã
· Nescau
Levo tudo pro carrinho. Ele já está colocando as compras na esteira.
– Pega leite condensado e creme de leite pra Dona Iolanda fazer bolo. _Ele pede
– Tem farinha de trigo?
– Não sei, anjo. Pega também, vai...
– Tá...
Saio apressado, pego tudo e volto para o caixa. Alguns itens da lista ficam de fora, mas não vai fazer falta e Dona Iolanda ou Chagas podem comprar depois.
Quando vai passar os gelados, Rhyan me devolve o sorvete.
– Troca lá... Pega um mais gelado que esse.
Reviro os olhos. Já não aguento mais fica pra lá e pra cá, mas obedeço. Troco o sorvete, napolitano, que eu amo, e quando volto as compras já estão quase no fim. Passo pelo carrinho, me espremendo por trás de Rhyan para ajudar o carinha que tá embalando, e acabo levando um apertão na bunda. Meu rosto esquenta absurdamente, nem tenho coragem de levantar os olhos, que agora estão fixos nas sacolas. Ajudo a colocar tudo no outro carrinho e enquanto Rhyan paga levo tudo pro carro. Estou tão desconcertado que me esqueço de pegar a chave. Mas não demora muito e Rhyan chega, andar apressado, arregaçando a manga da camisa que escorrega pro cotovelo e maior sorrisão safado no rosto. Me desmancho completamente. Meu homem com certeza é o mais lindo do mundo. Barriga chega a congelar de vontade e ansiedade.
Colocamos tudo no porta malas da sua BMW e assim que entramos no carro, mais um beijo que me tira de rota. Fico perdido em pensamentos, corpo mole de desejo, pau duro e latejando dentro da calça jeans apertada. Ele dá partida e eu já nem sei mais onde estou, só quero chegar em casa, logo.
Assim que ele estaciona, pego o carrinho de compras na garagem, colocamos as compras dentro, subimos o elevador quase nos devorando e assim que entramos em casa, vamos direto para o quarto.
Dane-se o sorvete!
***
A manteiga chega derrete! Nesse caso, o sorvete mesmo 😏
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top