Skuld voava em ritmo acelerado pela vasta noite de Midgard, passou por vários vilarejos, regiões montanhosas e algumas áreas de floresta, até que finalmente a sua frente, já conseguia ver o vasto oceano de Midgard, a princípio a Valquíria achou estranho, não estava esperando que os sinais brilhantes vistos no céu mais cedo teriam vindo daqui, do meio do oceano. Skuld parou um pouco para recuperar seu fôlego, e depois de respirar fundo, voltou a voar pelos céus.

Agora sua visão era coberta pelas águas, o barulho do mar no silêncio da noite fazia Skuld sentir um pouco de tensão, depois de mais alguns minutos sobrevoando o oceano, Skuld pôde ver um grande foco de incêndio vindo de muitas ilhas, próximo a uma ilha que até então era a única que estava intacta, Skuld percebeu vários destroços de metal flutuando sobre as águas. Skuld parou no ar e começou a girar olhando para todas as ilhas a sua volta queimando, também podia se ouvir choro de crianças e algumas pessoas gritando de medo.

Skuld rapidamente girou Mjionir a cima de sua cabeça e começou a invocar poderosas nuvens de chuva a fim de apagar os focos de incêndio. As nuvens começaram a se reunir ao entorno do local e um pouco mais além, e logo uma grande tempestade havia se iniciado, as aguas caindo do céu caíram sobre as ilhas, apagando por completo os focos de incêndio.

Após mais alguns minutos, Skuld percebeu que as ilhas já estavam normalizadas e cessou a tempestade, o céu lentamente foi se abrindo dissipando as nuvens de chuva e dando lugar a grande lua no céu com algumas estrelas. Skuld desceu até a ilha mais próxima para ajudar os moradores locais, a cena em solo era ainda mais devastadora, casas queimadas, alguns corpos carbonizados pelas chamas, famílias chorando, Skuld se perguntava quem teria feita algo assim. A Valquíria se aproximou de uma mulher que saia de trás de uma casa com seu filho no colo.

A mulher usava um quimono branco simples e um pouco rasgado devido ao ataque, seu filho estava desmaiado com alguns ferimentos, a mulher também apresentava machucados em torno do corpo.

- Ei! Deixe-me ajuda-la. – disse Skuld correndo para segurar a criança.

- Obrigado senhora Valquíria... – disse a mulher derramando algumas lágrimas.

Skuld deixou Mjionir próximo ao seu corpo, pegou a criança e a deitou com calma no chão, logo depois preparou uma magia de cura no pequeno e perguntou:

- Não se preocupe ele está bem. Ao cura-lo ele deve acordar em breve. A senhora pode me contar o que ouve aqui?

- Foi terrível... Não sei explicar muito bem, mas... Tudo o que vi foi uma serpente... Uma serpente enorme com olhos assustadores... Ela surgiu daquela outra ilha e então... Nos atacou... – disse a mulher voltando a chorar.

- Uma... Serpente? – questionou Skuld ficando confusa.

- Sim... A marinha atacou, mas também não adiantou muito... – completou a mulher.

Skuld estava ainda mais preocupada, se a marinha estava lutando contra a misteriosa serpente, isso significaria que Nautica também estava em batalha, mas o que teria acontecido com a almirante? Perguntou-se Skuld.

A Valquíria terminou os socorros no garoto que voltou a acordar, Skuld disse para a senhora procurar algum abrigo para ficar. A Valquíria levantou voou procurando sinais de alguém da marinha que ainda estivesse vivo. Chegou até outra ilha e viu alguns soldados tentando ajudar.

- Olá recruta! Onde está Nautica? – perguntou Skuld pousando próximo ao soldado.

- Valquíria Skuld! É um alívio vê-la por aqui. Bom, não sabemos. A almirante foi até aquela ilha de onde a serpente saiu e não voltou. – respondeu o soldado.

- Tem alguma coisa errada... Continue a ajudar os moradores... Se puderem peçam reforços eu vou investigar a ilha. – afirmou Skuld voltando a voar.

- Certo! – respondeu o soldado as ordens de Skuld.

Após Skuld se virar para a ilha, esticou sua mão e puxou Mjionir novamente o agarrando com força e seguiu para a ilha, ao chegar lá, Skuld viu a floresta devastada e sinais de luta com alguns soldados mortos no caminho, Skuld se assustou, mas continuou em frente, de repente, Skuld ouviu uma voz ao longe.

- Skuld! Em cima! – disse a voz.

Skuld olhou para os céus e viu Hel, a deusa dos mortos estava chegando ao local. Hel pousou a frente de Skuld fazia alguns meses que as duas não se encontravam.

- É bom vê-la de novo Hel – disse Skuld.

- Igualmente... Mas o que aconteceu aqui? – questionou Hel.

- Os moradores não souberam explicar muito bem, mas disseram que foi uma serpente gigante. – respondeu Skuld.

- Serpente... Gigante? Parece até uma piada. – disse Hel olhando a sua volta.

- É... Mas o que veio fazer aqui? – perguntou Skuld ficando muito curiosa.

- Estou seguindo rastros mágicos de uma alma que fugiu de Helheim misteriosamente. Sua última leitura mágica veio daqui. – afirmou Hel.

- Uma alma escapou de seu mundo? E isso é possível? – perguntou Skuld ficando bastante surpresa.

- Sim... Se tiver alguém de fora que consiga puxar uma alma e corrompe-la por completo é possível. Porém é algo complicado demais, e exigi conhecimento de magia proibida, ninguém que conhecemos teria poder para fazer isso. – Respondeu Hel se virando para a entrada do templo.

- E você sabe de quem é a alma que escapou? – questionou Skuld.

- Sim... Não sei como você vai reagir, mas a alma... Pertencia a Urd. – respondeu Hel olhando para a Valquíria.

- U-urd...?

Asgard. Em uma floresta escondida.

Estava de noite, Thor seguia Freya adentrando uma misteriosa floresta que ficava ao norte da cidade de Valhala, era um lugar um pouco sombrio e frio, suas árvores eram altas, podia se ouvir alguns pequenos animais por perto e o barulho de um rio passando mais ao leste, os dois deuses já estava caminhando a algumas horas, de repente, Freya parou e deu um sinal para que Thor parasse também. Os dois prestaram bastante atenção em volta do lugar e perceberam uma poderosa barreira cercando o local à frente.

Freya recitou um encantamento mágico e então encostou sua mão na barreira, rapidamente no lugar que tocou, uma espécie de ondulação começou a surgir formando uma entrada logo depois, Freya e Thor atravessaram e viram uma casa de dois andares feita de madeira, meio acabada com algumas janelas com luzes ainda acesas, uma chaminé, e algumas árvores cercando a residência. Freya continuou a andar em direção a porta e de repente podia se ouvir uma voz.

- Deusa Freya... É bom tê-la por aqui novamente... E desta vez veio com o filho de Odin... – disse uma voz vinda de algum lugar próximo.

- Também fico feliz em revê-la será que podemos entrar? Temos algumas coisas a perguntar para você – disse Freya sorrindo.

- Claro... Sintam-se a vontade...

A voz aos poucos foi sumindo, e então à porta da casa se abriu para os dois deuses, Freya e Thor entraram e viram um lugar bastante organizado com uma mesa de madeira com algumas cadeiras em volta, alguns tapetes nos chão e vários armários com poções mágicas e livros antigos. Mais ao fundo havia uma entrada com uma escadaria que levava ao segundo andar, a casa era bem iluminada, as luzes foram feitas com pedras mágicas encontradas em diversos lugares.

Thor e Freya se sentaram e então, uma massa de energia surgiu à frente dos dois, formando uma esfera negra, de dentro da esfera saiu uma bela mulher. Tinha cabelos em um tom de rosa, seus olhos tinham uma cor castanha, usava um cajado mágico em suas mãos, e um colar em torno de seu pescoço, usava uma armadura que cobria seus braços e algumas partes de seu corpo, deixando a mostra somente o necessário, a suas costas estava uma capa negra.

- Thor... Está é Gullveig, a bruxa que vive escondida nesta área. – disse Freya.

- É um prazer Gullveig – disse Thor ficando um pouco envergonhado.

- O prazer é todo meu filho de Odin... – disse Gullveig se sentando.

- Então... Você vive aqui há muito tempo... Gullveig? – questionou Thor.

- Sim... Eu tomei a floresta como meu lar depois da deusa Freya me salvar em Midgard há muito tempo. Ela me trouxe para cá escondida de Odin, e me ensinou o básico da magia, o resto aprendi sozinha lendo livros antigos, aprendi a esconder minha presença do pai de todos, e criei uma poderosa barreira para proteger minha casa. Apenas Freya sabe como passar pela barreira – respondeu Gullveig.

- Gullveig, como você estudou por muito tempo magias proibidas e outras coisas, acredito que possa nos ajudar com um problema que nem mesmo eu sei resolver. – afirmou Freya ficando seria.

- E que problema seria este Deusa Freya? – questionou Gullveig.

- Eu estou tendo pesadelos há alguns meses, gritos, um ser que não sei quem é, e então, sempre acaba comigo dando passos até meu pai. – disse Thor em resposta a pergunta.

- Eu entrei na mente dele, mas não consegui entender o significado dessas imagens. - afirmava Freya olhando para Thor.

- Entendo... Tenho uma leve ideia do que seja, mas preciso confirmar... Thor feche os olhos. – ordenou Gullveig pegando seu cajado e se levantando.

- C-certo...

Gullveig se concentrou e começou a recitar um encantamento mágico, a mesa a sua frente desapareceu, logo não havia mais nada em volta além de uma massa de energia cercando o lugar, deixando Thor, Freya e Gullveig sozinhos em uma espécie de plano astral, os dois estavam dentro da mente de Thor. O deus dos trovões aos poucos abriu os olhos e se assustou com o lugar em volta.

- Onde estamos? Perguntou Thor.

- Aqui é o plano astral dentro da sua mente. Freya me ensinou a usar a magia da mente. Porém não consigo controlar o tempo de navegação por muito tempo. Vamos ser rápidos aqui Thor. – disse Gullveig invocando as portas que davam acesso aos sonhos de Thor.

- Tem certeza que quer deixar Thor conosco? Isso não vai te desgastar mais ainda? Afinal trazer o dono da mente junto pode ser perigoso - afirmava Freya.

- Não tem problema se for por alguns minutos certo? - questionava Gullveig dando uma piscada com o olho direito para a deusa da beleza.

- Que seja. Gullveig é a vermelha – afirmou Freya.

Seguindo as ordens de Freya, Gullveig abriu a porta vermelha que dava acesso ao pesadelo de Thor e ao abri-la, viu o estranho sonho do filho de Odin, Gullveig ficou séria e mais pensativa sobre o que significava tal sonho, até que notou uma coisa estranha, o ser enfrentando Thor, a bruxa já havia visto algo em um livro antigo.

- Algo errado Gullveig? – perguntou Thor.

- Tenho a leve impressão de que sei do que se trata seu pesadelo filho de Odin. Preciso confirmar algo antes de sairmos daqui. – respondeu Gullveig.

A bruxa avançou o sonho e viu o final repetidas vezes até que chegou a uma conclusão. Ao estalar os dedos, Gullveig, Freya e Thor retornaram ao mundo real, Thor se assustou com a transição entre dois planos dos quais não estava acostumado a transitar, Gullveig voltou a se sentar estava um pouco exausta, como ainda não tinha controle total de sua nova magia e ainda por cima levou Thor, o dono da mente da qual entraram junto, a bruxa acabou se cansando, aos descansar por alguns minutos Gullveig se levantou e caminhou até o armário onde continha livros antigos de profecias. Pegou um deles, e o colocou sobre a mesa.

- Gullveig. Isto é...? – questionou Freya olhando para o livro com inscrições asgardianas.

- Sim. Este é um livro antigo que Odin guardava na biblioteca real de Asgard, porém durante uma de suas saídas do palácio, eu consegui me infiltrar e roubei o livro, pois ele seria uma boa fonte de pesquisa, foi então que descobri a profecia. As páginas que vocês verão agora estavam camufladas com magia, demorei muito tempo para quebrar o feitiço. – Gullveig abriu o livro procurando as páginas certas - Acredito que seu sonho esteja ligado a isso Thor. – disse Gullveig mostrando as páginas que antes estavam escondidas por magia.

- Isso é... Eu? – disse Thor se assustando ao ver um desenho seu lutando contra uma enorme serpente.

- Sim... Tratasse de uma profecia antiga que Odin tentou esconder a todo custo, eu passei muito tempo estudando essas coisas e tenho certeza sobre isso, acredito que apenas eu que pesquisei muito sobre o assunto e seu pai Odin sabemos sobre ela. – respondeu Gullveig.

- E o que fala a profecia? – questionou Freya.

- Na profecia, é dito que nas profundezas de Midgard, existe uma enorme serpente capaz de cobrir o mundo dos humanos conhecida como Jormungand, a Serpente de Midgard. Tal criatura foi selada por Odin há muito tempo atrás, porém quando suas cinco chaves fossem quebradas, e o selo desfeito, os nove reinos seriam banhados no medo, a única forma de impedir a serpente de destruir tudo é você Thor.

- C-como assim? E-eu? – perguntou Thor se assustando.

- A profecia fala que o filho legitimo de Odin, ou seja, você Thor, irá matar a serpente de Midgard, dará nove passos até Odin e então... Morrerá! - respondeu Gullveig virando a pagina mostrando a figura de Thor caído à frente de Odin.