27. escapasse para longe, voasse como uma borboleta.
Você é como uma borboleta
Te observo de longe, se tocarmos as mãos, eu vou perder você?
O efeito borboleta que brilha sobre mim na escuridão
Seus pequenos gestos que me fazem esquecer a realidade
(Butterfly - BTS)
♡
Se lhe perguntassem por quais motivos ele havia aceitado ir até o apartamento de Taehyung, Yoongi jamais saberia responder. Talvez fosse seu coração tolo, a curiosidade em conhecer mais o londrino, ou a constelação presente nas íris dele. Era um emaranhado de sensações e fatores que influenciaram ele a cometer tal loucura. E mesmo que ainda estivesse com um pé atrás a cada frase, que temesse ter o coração dilacerado a qualquer momento, Yoongi não conseguia deixar de sentir.
Ele sentia-se nas nuvens toda vez que Taehyung confessava abertamente sobre estar apaixonado, sentia que poderia conquistar o mundo ao observá-lo sorrir, e sentiu seu coração se partir ao vê-lo derramar todas aquelas lágrimas pela mãe. Estar ao lado de Taehyung era ter a certeza de que iria sentir. Tudo de uma vez, ou pequenas amostras de um paraíso distópico. Seja um frio na barriga, uma dor no peito ou uma vontade insana de rir até os músculos da bochecha doerem.
Taehyung era um reflexo do ato de sentir porque ele sentia demais, não foi preciso muito para perceber isso.
— Naquele dia eu queria muito tomar sorvete... — ele murmurou, depois do choro incessante. Estava deitado no sofá, com a cabeça apoiada no colo de Yoongi, que acariciava seu cabelo. — Minha mãe, sempre tão atenciosa, me levou para passear a tarde. Só que acabamos perdendo a hora, e já tinha anoitecido quando voltamos. Se eu não tivesse incistido tanto em tomar o maldito sorvete...
— Não foi sua culpa. — Yoongi cortou-o, antes mesmo que ele conseguisse finalizar seu discurso de auto-sabotagem. — Você era só uma criança, Taehyung.
Ele nada respondeu, continuou em um silêncio sepulcral até que, subitamente, levantou-se como se nada tivesse acontecido e serviu outra dose de vinho para si. E então, começou a falar, sobre tudo e nada, engatou assuntos aleatórios e parecia disposto a fugir daquele clima tenso que se instalou no ar. Yoongi deixou-o ser assim, respondeu a cada pergunta sobre seu trabalho, sua família, sua coelha, e tomou a liberdade de fazer algumas a seu respeito. Em poucas horas, soube bem mais de Taehyung do que em uma semana ao seu lado.
Como sua obsessão por Chase Atlantic — ele tinha todos os CDs da banda —, ou até mesmo sua paixão gigantesca pela moda, Taehyung falava sem parar sobre esse tópico com um olhar brilhante e empolgação genuína. Seu sabor de sorvete favorito era chocolate, o que Yoongi não conseguia entender, pois na sua cabeça sorvete de chocolate nem deveria existir. Taehyung pareceu claramente ofendido quando Yoongi disse isso e o expulsou da sua casa, mas no fim chegaram a um acordo parcial quando Yoongi disse que por ele, seria capaz de fazer o sacrifício de tomar sorvete de chocolate.
Isso foi o mais próximo de dizer "eu estou apaixonado por você" que Yoongi chegou.
Acabaram deitados no chão, rindo de alguma história que envolvia a dupla dinâmica Jimin e Jungkook. Os dedos estavam entrelaçados, Yoongi tinha o rosto corado pela quantidade de álcool que ingeriu e Taehyung ria disso, apontando como algo fofo, mas também tinha a fala mansa e riso fácil graças a bebida. No fim, apenas riam de tudo e continuavam conversando como se fossem amigos íntimos.
Amigos que desejavam se beijar, amigos que ficavam com as mãos entrelaçadas.
Yoongi o encarou, sentindo novamente uma flor brotar em meio aos rochedos. Taehyung tinha a expressão leve, fitava o teto em silêncio e um riso ainda brincava no canto esquerdo da sua boca. Era real? Se o músico fechasse os olhos, ele continuaria ali com toda aquela espontaneidade sincera? Tinha medo de estar sonhando, e Taehyung escapasse para longe, voasse como uma borboleta.
Era tão perfeito que parecia um sonho.
— Como foi que viemos parar no chão, hein? — ele questionou, virando a cabeça na sua direção. Seu olhar de menino travesso, tão puro, tão brilhante, fez Yoongi sair fora de órbita por alguns segundos.
— Acho que foi culpa do vinho. — Yoongi respondeu, e os dois riram sem motivo nenhum. — Eu vou embora agora.
Yoongi avisou manso, em um sussurro quase que carinhoso, afável. Taehyung se agarrou em seu braço como um filhote de coala manhoso e Yoongi quase amoleceu por esse feito. Quase.
— Não vai, não. Você tá bêbado, dorme aqui. — os olhos brilhantes semelhantes aos do Gato de Botas lhe fitaram com todas aquelas estrelas e Yoongi soltou um risinho. Ele era inacreditável.
— Eu não tô tão bêbado assim, consigo pegar um táxi. E não acho que nós dois juntos e álcool seja uma combinação muito segura.
— Eu durmo no sofá, só fica aqui...
Yoongi suspirou, lutando para se manter firme em sua palavra perante aquele tom manhoso.
— Taehyung, eu vou embora. — soou mais enfático, deixando óbvio que não mudaria de ideia. Os olhos amendoados fitaram o músico com um brilho quase que insatisfeito. — Um passo de cada vez, por favor.
Taehyung suspirou, assentiu e pareceu muito mais compreensível.
— Certo, um passo de cada vez.
[...]
— Taehyung, não pule os degraus assim! Você pode cair!
— Guinho, você tá ficando igualzinho o Namjoon! — Taehyung gritou, já no topo da escadaria, sumindo de vista em seguida. Yoongi bufou, ocupado na sua tarefa de cortar os legumes.
— Eu concordo com o Hyunie. — Jin exclamou risonho, enquanto mexia algo na panela. — Meu Joon tem essa mania de achar que os meninos são crianças.
— Eu não sou assim. — Yoongi resmungou, ao terminar de cortar as cenouras.
— É, você é assim só com o Hyunie. — o ator provou o molho e fez um tsc com a boca, fazendo o músico querer atirar um pedaço a cenoura na testa dele. — O Ji ficará com ciúme quando souber.
— Eu vou te deixar cozinhar sozinho.
— Não se preocupe, Guinho. — desdenhou do apelido usado por Taehyung. — Você pode ir cuidar do seu menino, eu cozinho sozinho. — Jin gargalhou alto, e Yoongi começou a agredi-lo com um nabo, o que só fez com que o homem risse ainda mais.
Uma semana havia se passado desde a noite no apartamento de Taehyung, e os garotos passaram a se ver com certa frequência, assim como expor aos seus amigos que estavam fazendo aquilo. Yoongi não sabia o que estavam tentando, uma amizade, um possível romance, ou nada como foi em Paris. No entanto, haviam se aproximado gradativamente e era óbvio que alguma coisa estava acontecendo ali. As mensagens frequentes, que ora se estendiam pela madrugada, os abraços apertados, os dedos que se enlaçavam timidamente, os ruídos nas ligações de quando não se tem mais o que dizer, mas nenhum é capaz de desligar.
Alguma coisa estava acontecendo. Mas ao contrário dos dias em Paris, Yoongi não guardaria aquelas sensações para si, não deixaria Taehyung escapar das suas mãos como um peixe. Ele buscaria compreender aquilo, e ser tão sincero com o rapaz como ele vinha sendo consigo. Faria isso naquela noite, quando os seus amigos fossem embora, sentaria para colocar todos os pingos nos i's com Taehyung.
— Depois eu que sou o crianção. — Jungkook exclamou, assim que entrou na cozinha e se deparou com a cena de Yoongi batendo em Jin com o nabo. — Yoon, não faz isso, vai estragar a comida.
Yoongi finalmente deixou de fazer o nabo de chicote e voltou a cortar a cenoura como se nada tivesse acontecido, mas o ator ainda sorria ao voltar sua atenção para as panelas.
— E o Jimin? — o músico perguntou, lançando-lhe um breve olhar.
Jungkook sentou-se em uma das banquetas próximo a bancada e pareceu meio desolado. Yoongi analisou-o com o cenho franzido. Eles brigaram novamente? Era difícil saber, aqueles garotos viviam brigando e se beijando. O músico não conseguia acompanhá-los, tampouco compreendê-los.
— Não vai vir, ele tem que estudar para umas provas. — ele surrupiou um pedaço da cenoura crua que Yoongi cortava, e olhou-a como se fosse um objeto místico.
— Meu Joon também — Jin respondeu casualmente, quase que cantarolando. — Parece que somos os únicos desocupados nesse final de semana.
— E o Hyunie? — Jungkook enfiou o pedaço de cenoura na boca e encarou os cortes que Yoongi fazia com um olhar perdido, parecia estar em outra dimensão.
— Lá em cima, sufocando a Lua. — o músico respondeu, analisando a postura corporal de Jungkook com cautela. — Você está bem?
— Ah, tô sim. — o garoto soou tão verdadeiro quanto uma cédula de três dólares. — Só pensando.
— Pare de pensar e diz logo pra ele o quanto é apaixonado. — Taehyung surgiu na cozinha, agarrado a coelha como se fosse esmagá-la. Jungkook começou a murmurar uma série de frases sem sentido, negando como se tivesse sendo acusado de cometer um crime. Yoongi ouviu Jin soltar um risinho atrás de si.
— Não devia trazê-la aqui — o músico apontou para a coelha. —, estamos cozinhando.
Taehyung assentiu e sorriu docemente para ele, Yoongi pode jurar que viu faíscas voarem naquele momento. O rapaz estava prestes a sair da cozinha, enquanto o músico lutava para controlar as batidas desenfreadas do seu coração. Não importava que se vissem quase todos os dias, sempre era como se fosse a primeira vez. O londrino parou na porta e chamou por Jungkook.
— Faça como eu, Jun. — disse ele e desviou os olhos para Yoongi com um sorriso ladino. O músico engoliu em seco. — Guinho, eu sou completamente apaixonado por você.
Yoongi teve que soltar a faca abruptamente para evitar que cortasse um dedo, Taehyung saiu do cômodo rindo como um garoto peralta, enquanto o coração do músico batia loucamente como se fosse pular para fora do corpo a qualquer momento. Ouviu Jin rir atrás de si e quis jogar uma batata na testa dele, enquanto Jungkook assobiou alto.
— Cara, ele tá tão na sua. — disse ele e começou a rir, sendo acompanhado pelo ator.
Yoongi encostou o quadril na bancada, olhando-o como se quisesse matá-lo com o nabo na sua frente, mas sequer tinha forças para isso. Ele encarou a porta pela qual Taehyung passou a poucos segundos e suspirou daquela forma ridícula que apenas tolos apaixonados fazem.
Aquele homem ainda o deixaria louco.
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