13. um trauma de homens bonitos e reluzentes.

estou chorando no banheiro de uma festa
um ator pergunta o que houve
você, foi você que aconteceu

(All to well - Taylor Swift)

A música alta embalava os corpos quentes e agitados da pista de dança, as luzes coloridas iluminavam sorrisos largos, as vozes tentavam sobrepor o som e se misturavam umas com as outras em uma bagunça de palavras. A casa inteira cheirava a álcool, perfumes caros e suor. Yoongi sentiu a cabeça doer, assim como a cerveja na sua mão esquentar. Uma garota do outro lado do cômodo lhe encarava como se o músico fosse um bife suculento e ele quis vomitar. Olhou em volta, à procura de uma escapatória, mas não encontrou nada e nem ninguém.

Se arrependeu fortemente de ter ido.

Quando Taylor ligou, e com uma gentileza adorável lhe convidou para a festa na sua casa, Yoongi pensou que essa era uma boa oportunidade para tentar esquecer o que tanto lhe atormentava. Achou que poderia achar uma válvula de escape entre mentes alcoolizadas e luzes coloridas. Talvez a música alta ajudasse a cobrir o som alto do seu coração que batia loucamente, talvez a cerveja lhe ajudasse a parar de chorar tanto. Talvez encontrasse uma boca mais saborosa que a de Taehyung em meio aquele mar de estranhos.

No entanto, mesmo em meio aquela bagunça de pessoas pulando, tudo o que Yoongi pensava era no londrino. Em Paris, nos olhos, no cabelo, na boca. Mesmo com a quantidade absurda de perfumes distintos, o músico só pensava em um aroma floral e doce. Quase podia senti-lo no ar, como se ele estivesse naquela multidão. Mas sabia que era apenas sua cabeça lhe pregando peças, torcia para nunca mais esbarrar com Taehyung novamente. Nova York era imensa, o que aconteceu há duas semanas não se repetiria.

O rapaz começou a caminhar por entre as pessoas, procurando uma saída, enquanto sentia seu peito se comprimir. Era difícil estar em um lugar lotado tendo a certeza de que nunca mais o encontraria, mas procuraria seu rosto na multidão mesmo assim. Era quase impossível dar atenção a qualquer um que cruzava seu caminho quando tudo o que ele conseguia pensar era em Taehyung. E pensar no londrino o lembrava da última conversa que tiveram, no olhar cruel, nas palavras afiadas, no sorriso perverso.

Yoongi levaria uma vida para superá-lo.

Sua visão embaçou, mas ele jamais se permitiria chorar em público. Procurou por alguma porta, ou qualquer buraco que pudesse se enfiar, enquanto esbarrava em alguns bêbados pelo caminho. A cerveja intocada foi abandonada em uma lixeira no início de um corredor, não precisava de álcool para lembrar de alguém, muito menos para derramar lágrimas em seu nome. Tentou abrir a primeira porta que encontrou, pois sentia que desmoronaria a qualquer momento, no entanto estava trancada. Olhou ao redor, algumas delas tinha que ser um banheiro. Seu peito era esmagado, seus olhos ardiam e suas mãos tremiam ao alcançar a próxima maçaneta.

Não chore, não chore.

A porta estava destrancada, e Yoongi se viu dentro de uma suíte. Não suportando o peso das costas, ele correu até o banheiro e se trancou lá dentro com todas as suas angústias, todas as suas lágrimas, toda a sua dor. O cômodo estava escuro, o músico encostou na porta e sentiu suas pernas perderem as forças, fazendo seu corpo deslizar sobre a madeira de forma dramática. As lágrimas caíam copiosamente como água das nuvens em uma tempestade, em seu coração caiam raios e em suas mãos estavam cacos de um coração que já não lhe pertencia.

Um soluço escapou da sua garganta, e Yoongi se sentiu aliviado em saber que ninguém poderia ouvi-lo com aquela música. Então ele aproveitou e chorou ainda mais, descontando toda a raiva, mágoa, e paixão que sentia por Taehyung. Vomitou algumas flores* enquanto lágrimas rolavam pelo seu rosto, quis socar o espelho, quis engolir os cacos de vidro, quis correr até o rapaz cruel, mas apenas chorou como uma criança.

Duas batidas na porta do banheiro assustaram Yoongi, que prendeu a respiração e arregalou os olhos em meio ao breu.

— Com licença — uma voz masculina em um tom doce soou, e deu outra batida suave na madeira. — Você está bem?

Yoongi não se moveu, ainda temia ser descoberto, temia que vissem seu lado mais frágil. Ainda tinha muito o que chorar, muitas flores para vomitar, seu coração ainda era esmagado pela pressão de ramos espinhosos.

— Eu vi você entrando no quarto... — o homem tornou a falar, com o mesmo tom de voz doce de antes. — Só quero que saiba que não estou aqui para julgar, muito menos contarei a alguém, Agustd. — um pausa. A essa altura Yoongi não sabia se chorava mais ou gritava para aquele homem ir embora. — Apenas confirme que está consciente, por favor. Você parecia transtornado, estou preocupado.

O músico respirou profundamente, sentindo agulhas perfurarem todos os seus órgãos internos e sua cabeça doer ainda mais.

— Vá embora. — conseguiu verbalizar secamente, tentando não soar grosso pois apreciou a gentileza daquele homem. Mas sua voz saiu áspera, não parecia sua.

— Leve o tempo que precisar. — o estranho sussurrou suavemente, e isso pareceu ativar alguma chave na mente de Yoongi para que mais lágrimas caíssem.

Ao sair do banheiro, com o rosto seco e olhos inchados, o músico se deparou com um homem sentado na cama. Encarou-o sem saber o que fazer, estava anestesiado pelo choro, não conseguia raciocinar nada direito e o quarto estava escuro demais para revelar as intenções daquele sujeito que permanecia estranhamente calado.

— Você parece estar precisando de um amigo. — ele exclamou calmamente. Yoongi suspirou cansado, queria ir para a casa. Aquela festa não fazia mais sentido, ficar escondido em um quarto escuro com um estranho não era algo sensato de se fazer, ele já havia aprendido a lição.

Por isso não disse nada, apenas saiu do cômodo em silêncio, torcendo para não encontrar nenhum conhecido e ter que explicar o motivo dos olhos vermelhos. No entanto, assim que pisou no corredor, uma mão pousou no seu ombro. Ele se virou para o autor do ato, prestes a mandá-lo ir para um lugar nada agradável, mas se conteve ao reconhecê-lo.

Era Jin Reed, um ator renomado de Hollywood que sabe-se-lá-porque estava em Nova York em uma festa da Taylor Swift. Yoongi nunca havia esbarrado com ele antes, o pouco que conhecia era por personagens marcantes que interpretou e matérias genéricas de jornalistas que são pagos para escreverem o que a empresa do artista permite. Jin o encarava de modo solene, como se ele fosse uma viúva no funeral do marido, e Yoongi desviou os olhos,sentindo-se incomodado. A mão foi retirada do seu ombro para buscar algo dentro dos bolsos internos da jaqueta, Yoongi estava prestes a continuar andando, quando o homem lhe estendeu um óculos escuro.

— Está bem óbvio que você estava chorando. — disse ele de modo simplista.

Yoongi o encarou, ponderou se recusava e ia embora ou aceitava e ia embora. As duas opções envolviam não conversar com estranhos, ainda mais sendo do sexo masculino e dono de uma beleza espetacular. Resolveu aceitar o objeto, não queria ter que inventar desculpas enquanto sua mente dava voltas no motivo por trás dos olhos vermelhos.

— Obrigado. — murmurou com a voz fanha. O músico suspirou ao colocar os óculos e começou a caminhar pelo corredor, tendo Jin ao seu encalço.

— Você já vai embora? — o ator perguntou curioso.

— Sim.

— Veio de carro?

— Não.

— Eu sim, posso te levar se quiser.

Yoongi suspirou ao alcançar o fim do corredor. Sentia que as intenções de Jin eram as melhores, mas não conseguia deixar de desejar que ele simplesmente desaparecesse.

— Obrigado, mas não quero.

Abandonado o homem falante para trás, o músico se esgueirou por entre as pessoas até a saída, recebendo um abraço apertado de uma Taylor bêbada e animada no meio do caminho. Se permitiu sorrir minimamente ao ver a cabeleira loira sumir novamente entre a multidão.

Gostava dela.

Ao sair do condomínio, Yoongi encarou os carros indo e vindo na avenida e se perguntou o que faria, como continuaria seguindo sua vida normalmente depois da tempestade Taehyung Kim.

Uma buzina soou, fazendo dar um sobressalto no lugar pelo susto. Yoongi encarou a BMW vermelha na sua frente e franziu o cenho. O vidro foi lentamente abaixado e revelou a figura de Jin Reed no volante, brilhando mais que os faróis. Yoongi quis sair correndo, adquiriu um trauma de homens bonitos e reluzentes.

Hey — Jin exclamou. — Eu sou mundialmente bonito, sabia disso? Vai mesmo recusar uma carona?

Yoongi o encarou por trás das lentes escuras procurando qualquer indício de sarcasmo, mas ele realmente parecia sincero.

— Tá falando sério?

Jin assentiu.

— Tenho até um certificado. — sorriu presunçoso, e depois analisou Yoongi com um olhar quase piedoso. — Entra aí, cara, vamos dar uma volta. Não vou te morder, só quero ajudar.

O músico encarou o homem dentro daquele carro de luxo e suspirou. Talvez ele estivesse certo, Yoongi precisava de um amigo. Por isso deu a volta no carro e ofereceu um sorriso de pequeno ao ator enquanto afivelava o cinto de segurança.

[...]

— Quer me contar o que aconteceu? — Jin inquiriu, enquanto caminhavam lentamente pelo Central Park. Yoongi evitou responder, assim como encará-lo, focado nas pedrinhas que chutava pelo caminho.

— Não.

Jin lhe lançou um rápido olhar e suspirou como se fosse um monge sábio prestes a dar um sermão sobre a vida.

— Problemas com a fama? Ou um cara muito bonito? Se for a última opção te aconselho a fugir, eles sempre são os piores...

Yoongi interrompeu sua caminhada e encarou o ator como se estivesse crescido um par de chifres na sua cabeça.

— Espere, o que disse?

Jin parou e o encarou confuso, mas soltou um risinho divertido.

— Sim, eu sei que soa meio hipócrita o homem mais lindo do mundo dizer isso... — ele penteou os fios castanhos com os dedos e ostentou um sorriso sacana e extremamente branco na direção de Yoongi. — mas acredite, eu sou a exceção. Não vou te seduzir, relaxa.

O músico observou o homem piscar um olho ainda sorrindo e continuou encarando-o à procura de respostas. As únicas pessoas que sabiam sobre a sexualidade de Yoongi eram seus pais e Elijah, então era comum ouvir comentários heterosexuais a seu respeito. Rumores de relacionamentos que nunca existiram, casos de uma noite com cantoras que nunca trocou mais que um oi. Aquela era a primeira vez que alguém falava sobre a ideia dele gostar de um cara com tanta naturalidade assim. Yoongi estava dividido entre se sentir acolhido ou assustado.

— Mas... — ele começou incerto. — O que te faz pensar que eu me atraio por homens?

Jin adquiriu uma expressão de quem estava prestes a rir ou falar algo absurdo. Por fim, ele soltou uma gargalhada.

— Talvez porque esteja escrito na sua cara? — constatou o óbvio, fazendo o músico franzir o cenho. Duvidava muito disso, se esse fosse o caso a mídia não estaria com tantas especulações a respeito da sua vida amorosa que fugiam completamente da realidade. Jin mirou as próprias unhas de modo despretensioso. — Mas relaxa, cara, eu não tiro ninguém do armário. Até porque eu também vivo lá e é agradável ficar escondido.

— Já te disseram que você é doido?

— Na verdade, não. — respondeu reflexivo. — Sou o mais normal do meu grupo de amigos.

— Sei. — Yoongi exclamou, sem saber de nada e desejou ir embora. Jin o encarou de forma analítica, como se pudesse ver através da sua postura defensiva e soltou um longo suspiro.

— Tá legal, Sr. Desconfiado. — disse ele, impaciente. — Eu vi você aos beijos com aquele cantor esquisito que esqueci o nome. Por sinal, ele não é um dos ex da Taylor Swift?

— Que?

— No after party do Grammy no ano passado. — explicou. — Cara, você merecia coisa melhor que aquilo.

Yoongi encarou o ator boquiaberto apenas piscando os olhos repetidas vezes. Tinha vagas lembranças daquela noite, estava bêbado demais para ser racional e evitar beijar bocas conhecidas mundialmente em cabides de banheiros. Observou Jin pentear os fios castanhos com os dedos daquele jeito que apenas galãs de filmes fazem e soltou uma espécie de riso frouxo misturado com um suspiro. Ele viu Yoongi agarrar outro cara tão prestigiado quanto ele e não fez nada. Poderia ter tirado fotos e vendido para qualquer blog de fofocas de famosos, mas ele apenas ignorou e guardou seu segredo a troco de nada.

Jin Reed era alguém que gostaria de poder chamar de amigo.

— Você bebe? — o músico perguntou depois de um tempo em silêncio, atraindo os olhos grandes de Jin para si.

— Sim? — sua resposta soou mais como uma pergunta. — Mas hoje estou dirigindo

— Ah. — Yoongi exclamou sem jeito. — Iria me oferecer para te pagar uma bebida.

Hey, eu disse que não vou te seduzir, então não faça o mesmo comigo! — exclamou em uma falsa indignação, arrancando uma risada de Yoongi. — Eu tenho namorado, só para deixar bem claro.

— E eu tenho aversão a homens muito bonitos. — dessa vez foi Jin que riu, franzindo o cenho. — Só quero recompensar por guardar meu segredo, Jin.

O ator lhe encarou por um tempo significativo antes de assentir e sorrir pequeno.

— Eu aceito uma pizza.


N/A: vomitou algumas flores*  faz referencia Hanahaki,  que para quem não sabe, é uma doença fictícia literária que faz uma pessoa vomitar as flores favoritas da pessoa amada quando o amor é platonico. se nunca ouviu falar nisso (o que eu acho dificil ja que esse era o assunto do momento em 2018 ou 2019 no twitter), faça uma pesquisinha rapida e conseguirá entender mais sobre isso.

usei muito essa doença como metáfora em Volúvel, então você com certeza verá mais citações como essa.

mas me conte, o que achou desse capitulo? quem mais já ama o Jinzinho?

não esquece da estrelinha e até sabado que vem!

beijinhos de morango!

~ vick

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