01. ele parecia um raio de sol escapando pela fresta da janela de manhã.
Quando me vi tendo de viver
Comigo apenas e com o mundo
Você me veio como um sonho bom
E me assustei, não sou perfeito
Eu não esqueço
(O Teatro dos Vampiros - Legião Urbana)
♡
As luzes de Paris pareciam ofuscantes pela óptica de Yoongi, que estava preso dentro de um terno caro e um quarto de hotel de luxo. Seu assessor tagarelava sem parar sobre tudo e nada, sobre o evento daquela noite, as pessoas que estariam lá, sua próxima viagem, os próximos eventos, próximos shows. Eram muitas informações de uma vez, Yoongi se sentia cansado, sua cabeça parecia pesar uma tonelada. A janela estava aberta, as cortinas longas dançavam suavemente com a brisa e o rapaz permanecia congelado no sofá tendo que escutar Elijah falando como se fosse um robô.
O homem tinha um tablet nas mãos, pernas cruzadas e trajava um terno mais discreto que o do músico. Seus lábios se moviam, mas Min não conseguia ouvir nenhum som escapando dentre eles. Somente o eco da sua mente, o oco de uma alma solitária. Ele suspirou, desfazendo a geleira que envolvia seu corpo, desistiu de assistir seu assessor agindo roboticamente e caminhou até a janela do quarto. Havia uma pequena varanda ali, Yoongi respirou profundamente o ar noturno que a Cidade do Amor fornecia ao se escorar na grade.
As luzes ainda pareciam ofuscantes, os prédios sem graça e a noite ainda mais escura. Nem mesmo a Torre Eiffel parecia ter todo o glamour como nas fotografias para ser digna de prender sua atenção. Era somente uma pilha longa e brilhante de ferro. O rapaz suspirou novamente ao cruzar as mãos ainda escorado no parapeito. Desde quando suspirava tantas vezes assim? Se sentia o protagonista de um filme dramático e isso nem fazia sentido. Ele deveria estar perfeitamente bem, não? O que o incomodava tanto?
Os olhos pequenos e afiados vagaram pela abóbada celeste, procurando uma razão, uma resposta para todas as suas perguntas, mas só encontrou um manto negro e vazio. Quando desceu o olhar para frente novamente, sua atenção foi prendida numa movimentação na varanda do quarto à sua frente. Um rapaz passava pela porta de vidro segurando um violino enquanto cantarolava sozinho alguma música que a distância impediu de discernir. Havia algo na expressão dele que deixou Yoongi fascinado, além do fato dele estar segurando um instrumento tão delicado quanto aquele.
Mesmo vestido de preto da cabeça aos pés, ele parecia um raio de sol escapando pela fresta da janela de manhã. O rapaz posicionou o violino no ombro e Yoongi se perdeu na delicadeza de seus movimentos. Ele tinha os olhos fechados, então não percebeu estar sendo observado. Quando os primeiros acordes escaparam do instrumento, presenteado a cidade com uma canção suave e melodiosa que Yoongi desconhecia, mas passou a apreciar; ele vê algo reluzir em Paris desde que chegou. E era aquele rapaz, que mesmo dentro de uma camisa preta e uma boina na cabeça da mesma cor, parecia ter sido banhado em ouro em pó e cintilava como se fosse alguma criatura divina.
Ele... era real?
Poderia Yoongi, ter chegado a um nível de solitude ao ponto de criar ilusões assim? No entanto, aquela música era real. Vagava pela mente dele como se fosse um mantra, luzes pareciam apontar para o rapaz na outra varanda como holofotes invisíveis. Ele não conseguia desviar os olhos, sentindo o coração — pela primeira vez em muito tempo — dar solavancos descontrolados dentro do peito. Não havia mais perguntas e nem respostas perdidas em um vácuo do tempo, era apenas ele e o garoto tocando violino como se ali fosse um palco.
E quando a música terminou, Yoongi quase pediu por mais.
Chocou uma mão na outra sem nem hesitar, o rapaz do outro lado finalmente abriu os olhos e se deparou com ele ali, batendo palmas e com uma expressão que gritava muitas coisas em silêncio. E, talvez por isso, sorriu. E céus, Yoongi nunca viu um sorriso tão bonito e brilhante quanto aquele. Desejou ter asas apenas para voar até a outra varanda.
Como se estivesse realmente em cima de um palco, o rapaz se curvou em uma reverência exagerada em agradecimento pelos aplausos. Yoongi se permitiu sorrir, mas seu sorriso morreu quando assistiu o jovem correr pela porta de vidro como o diabo foge da cruz. Ele olhou em volta, viu o brilho da cidade sumindo novamente e a melancolia voltar. Seu coração ainda batia de modo arritmado dentro da caixa torácica, ele pousou a mão sob ele e engoliu em seco ao lançar um rápido olhar para a varanda vizinha que permanecia com as cortinas fechadas.
Que porra foi essa?
[...]
— Depois do desfile terá um jantar para alguns convidados. — Elijah dizia dentro do carro enquanto via alguma coisa no seu tablet. — Coisa granfina, só gente rica e celebridades. A utilidade disso? Apenas para que essas pessoas ricas demonstrem o quanto são ricas. Mas, infelizmente, você é obrigado a ir, Garoto Valentino.
— Não me chame assim. — Yoongi ralhou de modo ranzinza. Seu assessor ainda continuava falando sem parar, enquanto tudo que o músico conseguia pensar era no rapaz da varanda. Ele observou a cidade passando correndo pelo vidro e suspirou. — Falta muito para chegarmos? Eu só quero terminar logo com isso.
— Garoto — o homem chamou Yoongi daquele jeito que sempre queria dizer: "deixe de ser estúpido", mas ele ignorou. Estava cansado, queria ter ficado dormindo naquela cama grande e confortável do hotel. —, você acabou de ser anunciado como o embaixador oficial de uma das maiores marcas do mundo e está usando um terno lindíssimo que custa a minha casa. Não pode ficar mais animado?
— Eu tô com sono.
— Você é inacreditável. — o homem bufou ao ajeitar os óculos de grau no rosto. — Pelo menos disfarce essa sua cara de velho ranzinza na frente das pessoas.
— Vai pro inferno. — Yoongi murmurou ao fechar os olhos.
— Eu ouvi!
Yoongi o ignorou pelo restante do caminho, focando em observar uma Paris chata e monótona pelo vidro do carro. Na verdade, nem ele sabia porque estava tão desanimado mesmo tendo praticamente o mundo aos seus pés. Parecia faltar algo, era como se fosse um peixinho flutuando em Marte. Encarou Elijah, com aquele topete americano cafona e um terno tão sem graça quanto os óculos que o fazia ter uma falsa aura intelectual. Yoongi não tinha nem um amigo, todos os rostos que já posaram ao seu lado fora por puro interesse, e nunca ligavam no dia seguinte para perguntar como ele estava. A única pessoa que lhe restara foi seu assessor, que era obrigado a aturá-lo por causa de um contrato.
Yoongi estava começando a se sentir solitário.
[...]
Os flashes eram definitivamente a pior coisa que Yoongi poderia enfrentar naquela noite. Piscavam sem parar, de todos os lados, cercando-o como se ele fosse uma presa. E o músico era obrigado a fingir sorrisos, acenar e agir como o bom moço que esperavam que fosse. O caminho até seu assento no desfile parece que durou uma eternidade de sorrisos forçados e luzes que faziam sua cabeça explodir. Mas ele finalmente se sentou ao lado de um cantor pop que não parava de conversar com uma mulher ao lado como se o mundo fosse feito de assuntos infinitos.
Vez ou outra um flash piscava na sua direção e ele sabia que deveria controlar aquela expressão de quem não queria estar ali, mas foi impossível. Por isso ficou encarando um ponto qualquer do chão com uma cara de paisagem, Elijah provavelmente reclamaria depois. O desfile começou e ele permaneceu com aquela mesma expressão enquanto observava as modelos indo e vindo na passarela, se perguntando porque o mundo girava naquela órbita.
Nada fazia sentido, não?
Após cerca de cinco minutos de muitos ziguezagues sobre a passarela, o desfile finalmente se findou e Yoongi já começou a vasculhar os olhos por entre as pessoas à procura de Elijah e seus seguranças para irem logo para sabe-se-lá-onde. Foi então que sua atenção se fixou em um certo alguém entre tantas pessoas naquele evento. Era ele. Sentiu as mãos formigarem, a boca secar de repente e o coração dar alguns pulinhos animados dentro do peito.
O rapaz estava sentado calmamente do outro lado da passarela, novamente parecendo existir o muro de Berlim entre eles. Vestia uma jaqueta vermelha por cima de uma camisa preta recheada de lantejoulas que o fazia ser notado em qualquer lugar que estivesse. O cabelo parecia tão sedoso mesmo a distância, os olhos grandes e astutos encarando tudo e todos e os dedos longos batucando os joelhos cobertos por uma calça de couro preta extremamente apertada. Yoongi sentiu uma vontade insana de ir até ele, perguntar por que estava tocando violino numa varanda de hotel e como havia parado ali. Era como se existisse um magnetismo o puxando até ele, aquele rapaz parecia segurar todo o oxigênio do mundo entre os dedos.
Seus olhares finalmente se encontraram e Yoongi conseguiu ler cada expressão que os olhos dele transmitiram nesse momento. Primeiro foi surpresa, depois dúvida, e depois fascinação. E ele não gostou muito disso, teve um mal pressentimento sobre aquele brilho sugestivo daquele olhar. O rapaz sorriu docemente e acenou quase que graciosamente na direção de Yoongi. O músico por um momento não soube direito o que fazer, mas sorriu de volta. Um flash piscou na sua direção, mas ele não brilhava tanto quanto o sorriso daquele rapaz.
Yoongi não notou quando Elijah se aproximou com os seguranças para que pudessem ir, então se assustou quando recebeu um cutucão na costela. Seu assessor começou a arrastá-lo para longe, ele olhou uma última vez para o garoto da jaqueta vermelha e o viu sorrindo. Quando seus olhares se encontraram novamente, ele piscou um olho com uma expressão malandra.
Yoongi teve um mal pressentimento.
N/A: usem a tag #voluvelfic la no twitter para falar da fanfic, e não esqueçam de clicar na estrelinha, elas iluminam minha vida. no próximo sábado vocês irão conhecer um pouco mais desse rapaz misterioso que todo mundo já sabe quem é hihi. até lá!
~ vick
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