02. Coincidência inesperada

Capítulo 2 - Coincidência inesperada

Havia perdido a conta de quantas vezes ligaram para Donghae. E quando a noite chegou Jungkook perdeu as esperanças. Mas sua mãe tentou outra vez. Um toque. Dois. Três. E nada.

— Por que ele está ignorando? — questionou.

— Não acho que esteja, a ligação está caindo. Ou está ocupado ou talvez não tenha mais esse número. — disse Yeji.

— O que vamos fazer? Principalmente se ele não quiser ajudar?

— Nada de ser precipitado.

— Ele é irmão do meu pai, ninguém me garante que não seja tão ruim quanto.

— Eu garanto. — afirmou. — Vocês tiveram pouco contato, pode não se lembrar mas eles são completamente diferentes. Então até termos algum retorno, vamos nos acalmar e dormir. Amanhã será um novo dia.

— Eu queria sair daqui logo. — deitou a cabeça no colo de sua mãe, a sentindo inicar um carinho.

— Eu entendo, meu amor. Mas precisamos de calma para nos organizarmos direitinho. Se eu não conseguir falar com seu tio até amanhã de manhã, prometo que, mesmo sendo domingo, darei um jeito de contratar uns caminhões e fazer nossa mudança nem que seja para casa do seu amigo. Acho que Yoongi não se importaria de ficarmos lá até conseguirmos um novo lar, não é?

— Sim. — suspirou. — Me sinto mais aliviado por ter outra opção. Porém, caminhões? Se formos levar móveis lá não cabe…

— Vamos pensar nisso depois. Mas eu não vou deixar aquele medíocre com todos os nossos bens materiais. Pelo menos nisso eu ouvi as pessoas e não fui boba, casamos com união universal.

— Eu confundo esses termos, isso seria que você tem direito a tudo?

— Sim. O que é ótimo porque ele não me permitiu ter uma vida profissional, agora tudo que ele tem, independente de quem adquiriu - nesse caso só o bonitão - é partilhado igualmente.

— Estou surpreso que ele tenha concordado com isso.

— Eu o convenci concordando que ele tivesse uma despedida de solteiro. — rolou os olhos. — Mas, vamos lá, tome um banho quentinho e relaxante que eu vou preparar um risoto do jeitinho que você gosta para jantarmos.

Jungkook levantou-se do colo dela, lhe dando um beijo na bochecha.

— Você é a melhor. Te amo.

— Também amo você, querido. — sorriu, o abraçando.

Boram ainda estava irritado, por isso ficou trancado no escritório o dia todo e a noite se trancou no quarto do casal, se recusando a jantar ou interagir com eles. Mas não foi um incomodo, pelo contrário, gostaram desse afastamento.

Yeji foi para o quarto de hóspedes após o jantar e Jungkook para o seu, onde ocupou a mente tirando suas peças do guarda-roupa, dobrando-as e colocando nas malas que tinha. Ficou nessa até às duas da manhã que foi quando o cansaço bateu.

Deitou-se na cama e fechou os olhos, tentando relaxar depois desse dia intenso. Mas tudo começou a repassar por sua mente, a gravidez, as reações de Jungsang, de Yoongi e Hoseok, dos seus pais… Se sentiu perturbado e surpreendentemente apenas 10% era sobre isso, os outros 90% ganhadores ficavam com as incertezas da vida.

A princípio a notícia o deixou em choque, não estava planejando um bebê. Mas, ao mesmo tempo, gostava da ideia de ser pai. É uma responsabilidade enorme, isso é fato, só que se via se dedicando ainda que tenha sido uma surpresa inesperada.

Ao mesmo tempo, ficava preocupado com o futuro. Ter um filho muda tudo na vida, a rotina, prioridades, finanças, literalmente tudo será diferente. Ele como alguém desmotivado em 28 anos, está pronto para finalmente deixar sua zona de conforto e enfrentar todos os desafios que irão surgir?

Morria de medo da resposta ser não. Era esse o ponto que mais angustiava. Sabia que precisava confiar em si mesmo, mas realmente ia conseguir? Porque em todo esse tempo não se sentia capaz de mudar a própria realidade, queria sair daquela casa, descobrir o que gostava e trabalhar com isso, só que sentia-se preso de uma forma que não sabia explicar. Talvez tenha se acostumado mais do que deveria com essa sensação de frustração e ficado acomodado. Como sua mãe nesse casamento que só piorou ano após ano.

Outra preocupação que lhe perturbava muito é que aproveitaria a deixa para sair do trabalho que odiava, muito provavelmente, seu pai não vai o querer no escritório também, o problema é que duvidava que ele desse boas recomendações de si. Sendo assim, como arrumar outro emprego? Precisaria de um já que agora terá um bebê para cuidar. E pensando mais além sobre… Será capaz de equilibrar trabalho com todas as demandas que vão vir com uma criança?

Sobrecarregado de tantos sentimentos acumulados durante o dia e de pensamentos preocupantes sobre mudanças e desafios futuros, acabou chorando. Seu último pensamento antes de pegar no sono foi mais perseverante: independente das incertezas, fará de tudo para tomar as melhores decisões para si e para seu bebê.

🐺🍼

Enquanto Yeji e Jungkook tomavam café da manhã, o celular da ômega tocou. Era uma chamada de vídeo feita por Donghae.

— Bom dia. Eu estava viajando, não consegui atender. Você nunca me liga. Aconteceu alguma coisa? — perguntou, preocupado.

Olhou para o filho como se perguntasse se podia contar, ele assentiu. Logo todo mundo estaria sabendo mesmo.

— Jungkook está grávido. Boram foi contra, até propôs que casasse com a filha de um sócio e depois voltasse só quando “esvaziasse”, um absurdo. Eu discordei, ficando ao lado do meu filho, e agora temos que ir embora daqui.

— Isso é sério? — demonstrou incredulidade, o alfa gestante estava ao lado ouvindo e se perguntando por segundos se contatá-lo foi uma boa idade, porque ele era seu tio, essa reação se parecia com... — O Jungkook não é nenhum adolescente. O que eu quero dizer é que se fosse ia precisar de muito mais apoio e cuidado, mas ele já é adulto, responsável, Boram não precisa se preocupar com nada nas costas dele apenas confiar e demonstrar que o filho dele é capaz de fazer as coisas sozinho como o perfeito adulto funcional que é. Mesmo assim… Ah, porra, vem agindo como esse bonzão conservador de merda. Como ele teve coragem de expulsar vocês? Já encontraram um lugar para ficar?

Jungkook estava pasmo mas ao mesmo tempo feliz de analisar a fala de seu tio e ver que realmente ele parecia ser melhor que seu pai. Nem toda a família estava perdida.

— Eu pensei se poderíamos ficar na sua casa por um tempo até termos condições de ter a nossa própria. — disse Yeji. — Se não for incomodar.

— É claro que não incomoda, linda.

“Linda”. Jungkook deixou que uma expressão mista de estranhamento e confusão tomasse conta de si, afinal, o tom que seu tio usou foi diferente de quando a gente dizia só por dizer, chamando todas as fêmeas assim.

— Eu não estou na cidade no momento, mas vou ligar para o Jinnie e pedir que arrume quartos e mostre nossa casa para vocês. Podem aproveitar todos os ambientes à vontade.

— Obrigada, Don. — “Don”? Jungkook franziu o cenho. Sua mãe nunca chamava ninguém por apelido. — Nós agradecemos muito por tirar esse peso de nossos ombros.

— É, obrigado. — disse o alfa recessivo. — Não sei o que faríamos sem o senhor.

— Que isso, não precisam agradecer. Primeiro: Yeji, você sabe que pode me pedir qualquer coisa. E segundo: não precisa de formalidades comigo, garoto. Gosto que me chamem de Don. — ouviram uma batida na porta. — Preciso ir palestrar. Vejo vocês em breve!

— Boa sorte. — disse Yeji.

— Obrigado, linda. — piscou, logo desligando.

Mãe e filho se encararam, abrindo sorrisos aliviados.

— Eu sabia que ele nos ajudaria. Donghae é tão diferente do seu pai. Em tanta coisa... — disse um tanto melancólica, suspirando em seguida.

— Qual é a de vocês? — não conseguiu deixar de perguntar.

— Como assim? — ergueu a sobrancelha.

— Você chamando ele de "Don", ele te chamando de "linda"...

— Eu nunca contei isso a ninguém. — puxou ele para um cantinho vendo o casal reaparecer pronto para carregarem mais caixas até o caminhão. — Eu namorei ele na época da escola.

— Você e o tio Donghae? — perguntou, chocado.

Jungkook ficou boquiaberto pois ambos eram ômegas. Tudo bem que Donghae era um ômega dominante mas ainda assim um ômega, e na época deles sair de relacionamento Alfa-Omega era ser anti-tradicional, inaceitável.

— Como deve imaginar, nossas famílias não aceitaram bem e se intrometeram, após várias confusões acabamos nos separando. Donghae foi para o Japão e quando voltou eu já estava casada.

— Você quis esse casamento? De verdade?

— Eu pensei que sim… Eu acreditei que sim… Mas era mais algo que os meus pais faziam questão. Não é algo que eu gosto de ficar falando. Eu... Ele foi meu primeiro amor. E eu talvez ainda sinta alguma coisa por ele. Mas ainda sou casada. — desviou o olhar, se sentindo constrangida.

— Entendo. — coçou a nuca, sem jeito pela situação que nunca imaginou ser possível. — Ele parece gostar de você também.

— Eu sei. Mas essas coisas são complicadas. — por hora, deu o assunto como encerrado. — Vamos terminar de encaixotar as coisas, ainda falta muito.

— Vou providenciar ajuda extra.

Ligou para Yoongi, informando tudo o que havia acontecido e pediu para que convidasse Hoseok também. Inesperadamente, este tinha um caminhão disponível para que usassem, visto que frequentemente buscava artes para abastecer sua galeria. E, juntos, colocaram todas as caixas e os móveis que Yeji não abria mão dentro dele.

— Tudo pronto. — disse Min, fechando as portas e tendo a chave em mãos. — Qual o destino?

— Calminha, isso me pertence. — Hoseok tomou a chave. — Você não tem habilitação para dirigir essa belezinha.

— Ah, tanto faz. — deu de ombros.

— Eu também não tenho. — disse Yeji. — Mas quando era jovem dirigia o caminhão de entregas do meu pai. Bons tempos.

— A senhora quer matar a saudade? — o ruivo ofereceu a chave.

— Yoon sendo substituído por uma beldade ômega. — brincou Jungkook.

— Pra você ver. Depois dessa vou com você no seu carro. — falou já indo para o banco do carona.

Yeji riu da graça deles.

— Meninos, não precisam discutir. Eu estou enferrujada. Recuso a proposta.

— Não, que isso. A senhora vai dar um show. Vamos. — disse Hoseok, apoiando a mão nas costas dela e a guiando. — Faremos esses dois comerem poeira.

Com todo incentivo do alfa ruivo, Yeji pegou o volante, no início insegura mas com os elogios e dicas do rapaz, veio a se soltar. Passando o caminho contando a ele como sentia saudade disso e de seu falecido pai.

Já Yoongi foi com o amigo de propósito para que pudessem conversar melhor sobre os últimos acontecimentos.

— Não esperava que fosse contar ao seu pai tão cedo.

— Ah, hyung. Eu me sinto incomodado por tanto tempo mas nunca tomava atitude nenhuma e com isso de gravidez de todo jeito ele iria descobrir e ia dar ruim, já me sinto um fodido, então decidi jogar tudo para o alto de uma vez. Pelo menos, de certa forma, eu me sinto livre, mesmo que tenha preocupação com o que diabos farei de agora em diante.

— Falando nisso, para onde vocês estão indo?

— Casa do tio Kim Donghae. Você não o conhece, não temos muito contato. Mas ele é irmão do meu pai.

— Não é um Jeon?

— Eles têm mães diferentes. — deu de ombros. — Talvez seja por isso que meu tio parece, e minha mãe garante, ser mais legal. Acho que os Jeon sempre foram autoritários, tradicionalistas e a favor de relações A-O. Não julgo, nem posso culpar minha mãe por não saber o que ela passou, mas ela escolheu a família errada pra nós. Quem sabe agora possa voltar atrás e mudar isso. — sorriu, lembrando-se da conversa de mais cedo dos mais velhos.

— Por que está dizendo algo assim? — franziu o cenho, confuso.

— Confio em você por isso vou te contar: ela já teve algo com Donghae anos atrás.

— Whoa! — exclamou, ficando boquiaberto. — Pensei que o primeiro homem da vida dela tinha sido o Boram.

— Exatamente. Eu fiquei meio chocado também. Descobri hoje cedo. E ela disse que talvez ainda sinta algo por ele. Acho que ele também sente. Mas eu conheço minha mãe, ela não vai resolver esse assunto enquanto não se divorciar de vez.

— Ela é sensata. Evitar problemas é bom. Nesse caso, mais problemas.

Eles estacionaram em frente a uma enorme casa. Desceram do carro, notando que Yeji e Hoseok já estavam lá dentro.

Seokjin já havia peço para as governantas arrumarem o que fosse necessário para a acomodação dos familiares, mas estava pensativo sobre o que fazer com os móveis e inúmeras caixas de mudança espalhadas pela casa.

— Não se preocupe. — Yeji tocou no seu ombro. — Muita coisa eu irei vender, no fim vão ficar mais nossos pertences para colocarmos no lugar.

— Sem problemas, eu que sou o chato das organizações. — riu. — Aguento essa baderna por um tempo, afinal, é por uma boa causa. Ter vocês com a gente é ótimo e eu amo ver a casa cheia de gente.

— Perfeito porque chegaram mais. — disse o alfa recessivo terminando de entrar, chamando atenção deles. — Como vai Jin hyung?

— Jungkook! — o abraçou. — Quanto tempo eu não te vejo! Como você está?

— Grávido.

O ômega dominante riu.

— Fora isso.

— Enjoado e tonto por estar grávido. — disse, meio emburrado com os sintomas que se sobressaíram no momento.

— E com o humor questionável pelo visto. — brincou, se direcionando ao platinado, o cumprimentando com um aperto de mão. — Tudo bem? Qual o seu nome?

— Tudo e você? Sou Min Yoongi.

— Kim Seokjin, mas pode me chamar de Jin. — sorriu simpático. — Vamos lá, irei mostrar nossa casa à vocês.

À direita do hall de entrada, decorado com cores neutras e enfeites minimalistas, ficava uma sala de estar com sofás confortáveis com decoração semelhante, à esquerda uma ampla sala de jantar com cadeiras estofadas. A cozinha, próxima a sala de jantar, era bem equipada e mantinha o clássico branco, bege e madeira dando um ar luxuoso ao ambiente. Subindo as escadas, era possível encontrar diversos quartos espaçosos e decorados de acordo com quem passava tempo neles, alguns deles com varandas oferecendo vistas do quintal verde da casa e outros um parque público pouco distante dali com várias árvores e playground para crianças. A casa também possuía uma área externa encantadora, o jardim era bem cuidado, com árvores frutíferas, flores coloridas e a área de gramado verde.

Jungkook conseguiu imaginar direitinho seu futuro filhote brincando por ali, nesse ambiente que parecia extremamente calmo, confortável e familiar. Mas ao mesmo tempo desejava que não demorassem muito. É claro que apreciava a boa vontade de Donghae e Seokjin e iria aproveitar a estadia ali, só que desejava poder adquirir uma casa própria. Agora mais do que nunca.

🐺🍼

Yeji e Jungkook estavam relaxando nas poltronas da sala de estar após guardarem suas coisas pessoais. Yoongi e Hoseok já tinham ido embora após ajudarem eles.

— Boram nem estava lá quando fomos embora. — disse Yeji. — Queria que tivesse me visto partir naquele caminhão. Eu ia dar tchauzinho com gosto, sorrir e depois dar o dedo do meio para ele.

Sua mãe era muito boa, quieta, aceitava caladinha inúmeras coisas, mas quando implicava com alguém era para valer. E Jungkook não sentia dó de Boram. Que ela acabe com a raça dele.

— Até vejo ele vermelho de raiva com a veia da testa saltando. — riram. Logo o alfa recessivo suspirou. — Eu acho que ele vai me demitir.

— Nesse caso, processe ele. Vamos tirar o máximo de grana daquele ordinário. 

— Eu espero que sim. Porém, ele tem ótimos advogados…

— Don tem melhores. — deu de ombro.

— Olha, eu gosto muito que ele seja gente boa, mas me incomoda nós estarmos contando com ele para tudo assim, não sei… — disse, inseguro.

— Há algo que eu demorei a aprender: não tem problema em ter suporte quando se está em momentos fragilizados e se precisa, meu bem. Não é como se fossemos viver por conta dele pelo resto da vida. É momentâneo. Depois do divórcio eu estarei em boas condições porque metade das coisas de Boram são minhas então podemos seguir por contra própria, nós dois e o bebêzinho. Até lá, Don está disposto a ajudar sem nada em troca porque ele é assim, seu propósito é fazer tudo pela família. Mas é claro que quando precisar, lembraremos do que ele fez, e iremos retribuir, certo?

— Certo.

— É assim que se faz de verdade em relações tranquilas e saudáveis. 

“Por hora, menos uma preocupação”. Pensou Jungkook.

🐺🍼

Realmente foi demitido, mas isso já era algo que esperava. Então passou os dias seguintes entregando currículos em todo lugar. Mas estava ansioso demais, queria entregar hoje e amanhã ser chamado, como não teve nenhum retorno até o momento, estava incomodado. Talvez fosse por isso que não estava conseguindo pregar os olhos.

Em algum momento desistiu de tentar dormir, levantou-se, indo a cozinha esquentar um leite e andar pela casa que nunca cansava de admirar por ser extremamente bela. Claro, foi feita por Donghae que era arquiteto engenheiro e decorada por Seokjin, designer de interiores.

Distraído, esbarrou em Namjoon, marido de seu primo, no qual estava visitando a mãe e agora parecia estar chegando da viagem. Era por isso que Jin estava ali, não gostava de ficar sozinho. Mas segundo sua mãe, que vinha conversando todo dia com Donghae por vídeo chamada, era uma desculpa. Aparentemente ele usa todas as desculpas possíveis para ficar ali, vigiando a casa como uma senhorinha que se recusa a largar seu lar. Já a versão do ômega dominante, além de não querer ficar só - ali tinha funcionários que cresceu sendo amigos e agora tinha os Jeon -, ele precisava ficar de olho no pai que não era lá muito fã de cuidar da própria saúde mesmo tendo diabetes.

— Olá. — sorriu simpático, estranho que o outro nem pareceu lhe ouvir. Isso porque Jungkook sentiu algo estranho em sua barriga… logo reconheceu como cólicas. — Você está b... — antes que terminasse, o viu gemer sofrido enquanto se segurava em si. — Ei, ei, respira. Vem, vamos deitar um pouco. — o segurou, levando para o sofá onde o moreno se encolheu, choramingando. — O que está acontecendo? — não estava entendo nada.

— Dói... São cólicas... Oh, meu Deus! O bebê! Por favor, chama minha mãe! — exclamou, já se sentindo desesperado.
Namjoon não demorou a correr até os quartos, trazendo tanto ela quanto Jin pra sala.

— Kook — Yeji foi até ele, preocupada. — O que foi, meu bem?

— E-eu estou com medo, mamãe... — soluçou, apertando a mão dela.

— Tenha calma. — pediu.

— É. Não pense nada demais. Mas vamos te levar para o hospital para garantir, sim? — disse Seokjin. — Consegue se levantar?

Jungkook assentiu, levantando, logo os seguindo até o carro. Namjoon, que estava mais tranquilo - na medida do possível -, os guiou até o hospital que o mais novo consultava.

— Eu vou acompanhá-lo para dar os dados, já volto. — informou Yeji.

— Tudo bem. Vamos esperar aqui fora. Qualquer coisa é só ligar. — disse o ômega de cabelo rosa.

Jungkook se sentia fraco para dores. Para si elas pareciam aumentadas dez vezes mais que o comum e o deixavam desesperado, imagina agora que carregava um bebê consigo. Só não estava tão amedrontado e surtando por isso porque tinha sua mãe consigo, lhe permitindo um conforto maior.

Ficou sentado, rangendo os dentes pela dor das cólicas estranhas que lhe dominavam, enquanto ela dava sua entrada. Não demorou a ser chamado para dentro de um dos consultórios.

— Fique tranquilo, sim? — falou Yeji, acariciando seu rosto, tentando passar confiança. — Você vai ver que não é nada demais.

Ele assentiu, respirando fundo e seguindo a enfermeira.
Dentro da sala a estagiária observou sua ficha e o analisou, apalpando para todo lado.

— Onde está a Dra. Sky? — fungou, tentando conter suas lágrimas.

— Ela não está no turno de hoje. Estamos um pouquinho atarefados mas nosso novo obstetra logo virá olhar você. — anotou algumas coisas. — Acho que não é nada demais mas o protocolo pede por exames, você pode seguir a senhorita Ma. — então lá estava ele indo com a enfermeira anterior coletar sangue e urina.

Ao entrar na sala de consulta outra vez, o médico já estava lá, e quando o mesmo levantou a cabeça, Jungkook se assustou.

Jimin?!

Não podia ser. Não dava para acreditar. A dor estava tão forte ao ponto de lhe fazer alucinar? Não. Aquele era mesmo seu melhor amigo de anos atrás. Ele estava mais magro, forte, com feições mais maduras, o cabelo agora era loiro mas eram os mesmos olhos afiados, a mesma boca carnuda, o mesmo Park Jimin que fazia seu coração perder todo o compasso.

Fazia menos de um mês que ele estava de volta a cidade, morando em sua casa nova e arrumando a papelada necessária, portanto, não teve tempo de informar a ninguém. E, por coincidência, havia começado no Hospital Central justo naquele dia.
Não demorou a reconhecer aquele lupino. Jungkook não tinha mudado quase nada, só estava com o rosto mais definido, mais alto e parecia mais musculoso também.

— Jungkookie! — sorriu, satisfeito pela sorte de revê-lo tão rápido.

Se levantou, dando a volta na mesa e o abraçando fortemente pois não conseguiu se conter. Estava nostálgico. Eufórico. Foi agraciado com um abraço na mesma intensidade. Jeon até esqueceu de suas dores. Enfiou o rosto no vão do pescoço alheio e chorou, dessa vez, emocionado.

Depois de anos... Dez anos... Seu melhor amigo estava de volta. Aquilo era quase inacreditável.

Jimin tinha as mesmas lágrimas, assim como a incredulidade pela surpresa daquela coincidência.

— Eu estava com tanta saudade. — resmungou o recessivo, aproveitando muito bem daquele abraço aconchegante. Faziam dias que estava precisando de um assim e vindo do loiro era muitíssimo nostálgico e gratificante.

— Nem me fala. — afagou os fios escuros e sedosos dele.

Eles ficaram assim por alguns segundos até a enfermeira bater na porta, os obrigando a se afastar e disfarçar.

— Aqui estão os resultados, dr. Park. — ela estava tão distraída que sequer notou que ele limpou os cantos dos olhos discretamente, nem o estado do outro que se encontrava com olhos inchados de tanto chorar e, ao menos, dessa vez foi de alegria pelo reencontro que por anos sonhou em ter.

Sinceramente, de todas as cenas que imaginou, essa nunca esteve ali: Jimin de volta, sendo um obstetra, e ele sendo seu paciente por esperar um bebê concebido em um sexo a três.

— Obrigado. Pode se retirar. — ela saiu e como médico, se obrigou a voltar para seu lugar. — Sente-se, Jeon. — ele o fez, ao passo que o loiro olhava os papéis, surpreendendo ao ler aquilo, afinal, Jungkook estava grávido?

— Tem muito tempo que voltou? — perguntou, curioso.

— Não. Menos de um mês. Tem muito tempo que está grávido? — devolveu a pergunta, brincalhão.

— Dois meses. — corou.

— Uhm. — passou a anotar pontos importantes na ficha dele. — Quando começou a sentir essas dores? Ainda está sentindo?

— Hoje, agora a pouco, então eu vim correndo para cá porque fiquei com medo. Ainda sinto mas está mais suportável... Está tudo certo com meu bebê? — perguntou, não deixando de estar preocupado.

— Sim. Foi só um susto. Não precisa se preocupar. — sorriu, mostrando os olhinhos adoráveis aos quais o recessivo percebeu que sentia muita falta de ver.

— Como não? Foram dores…

— Pelo o que absorvi, você está nas primeiras semanas da gravidez, é normal sentir dores, principalmente cólicas. Sei que elas podem ser assustadoras mas é comum então tente relaxar. São dores associadas aos hormônios e expansão do útero. Como disse, não precisa se preocupar. Dores na gravidez são passageiras, podem ir e vir conforme ela avança e o bebê vai crescendo. Você terá que se acostumar com isso e com as mudanças de seu corpo. Ah, e seus exames estão em perfeita ordem.

— Mais essa. Por que eu fui engravidar? — resmungou, fazendo o outro rir.

— Eu não sei. — o observou atentamente, rodando a caneta entre os dedos. — Me diz você. — até porque estava curioso para saber.

— Foi um acidente. Meu remédio falhou. — deu de ombros.

— Entendo. Acontece… — suspirou. — Eu sentia sua falta, Kook-ah. — disse, surpreendendo o mais novo pois eles estavam falando de médico para paciente e agora já não era mais. — E, veja, é só eu sumir por um tempo que você apronta. Tsc. Ninguém te avisou que se comer uma semente aquilo nasce dentro de você? Agora sabe, afinal, tem uma melancia crescendo aí dentro.

Jeon não conteve a risada.

— Deixa de ser bobo. Mas eu também senti sua falta. O que aconteceu pra gente perder o contato? — questionou, melancólico.

— Eu fiquei ocupado demais e...

— Aconteceu. É. Mas está tudo bem. Eu até admirei termos conseguido ficar nos falando frequentemente no início. Mas o que importa é que você está de volta. — sorriu fofo, mostrando seus dentinhos salientes.

"Extremamente encantador, como sempre"  era o que passava pela mente de Jimin

— Eu estou. E não consigo acreditar que você está esperando um bebê.

— Às vezes nem eu mesmo consigo acreditar.

— Vamos ter que nos acostumar então. E você trate de se cuidar direitinho, nada de esforços bruscos ou muito estresse, recomendação médica.

Meio complicado visto que estava no olho da rua, sem emprego, morando de favor.

— Vou tentar. Irei para casa agora, deitar um pouco e ver se sobrevivo. — sorriu de leve, ainda se sentindo mole demais para as dores, porém conformado.

— Está sozinho? — demonstrou-se preocupado. — Se quiser posso te levar, meu plantão termina em dez minutos.

— Estou acompanhado, obrigado. — agradeceu pela gentileza, recebendo um assentir. — Minha mãe veio junto do meu primo e do marido dele, lembra do Seokjin? — não soube o porque mas sentiu que devia explicar. — Mas eu aceito que me acompanhe até lá fora.

— Ótimo! — sorriu, sentindo que assim podia se aproximar mais do moreno e quem sabe voltar a ser seu melhor amigo. Oh, seu coração, morto de saudade, agradeceria por isso.

Em pouco tempo os dois seguiram juntos para fora do hospital, as memórias do que viveram e sentiram no passado os faziam sentir nostalgia, os corações ainda estavam acelerados, os peitos quentinhos e os sorrisos frouxos demonstravam a felicidade que sentiam de terem se reencontrado.

— Pensei que não voltaria mais. — comentou Jungkook.

A verdade é que até tinha se obrigado a esquecer dele para evitar ficar triste.

— Como não? Você sabe que amo essa cidade. Eu só estava terminando os estudos e me especializando para finalmente voltar às minhas raízes.

— Seu pai estaria orgulhoso. — a menção dele fez com que Jimin vacilasse um pouco. — Desculpa. Eu não devia…

— Tudo bem, Kookie. Eu não me importo. Espero que você tenha razão. — sorriu de leve.

Eles pararam em frente ao hospital, em um canto próximo a porta, olhando bobamente um para o outro ainda sem acreditarem que estavam frente a frente. Oh, como tinham boas lembranças dos momentos que compartilharam... Principalmente de uma certa noite em que se beijaram. Mas ainda não era hora para relembrarem sobre.

— Uhm... Você tem um celular disponível para receber ligações agora? — perguntou o moreno fazendo Jimin rir, exibindo seus dentes brancos e perfeitos.

— Tenho. — o tirou do bolso de imediato.

— Então, licença, vou adicionar meu número para o caso de alguma emergência. — pegou o aparelho das mãos alheias e, como lembrava, Park não usava senha alguma. Após salvar seu número ali, ligou do mesmo para si próprio, assim gravando o do doutor.

— Eu lembro dessas suas emergências. — seu tom foi insinuante.

— Pode parar. Eu não ligo pra ninguém quando me sinto solitário a noite. Ao menos não mais. — murmurou.

Se não tivesse aprendido com o episódio com Jungsang, não iria aprender mais que isso não dava bom.

— Imagino que você tenha o pai da sementinha para te ajudar com isso. — jogou verde, só para saber se tinha alguém na área.

— Ahn... Na verdade, não. Eu não fui tão responsável, Jimin. Não sei quem é o pai. — por um instante se sentiu constrangido.

— Sem problemas, baixinho. Sabe que não vou te julgar. — afagou e apertou um dos ombros dele em um tipo de carinho a fim de passar confiança, a mesma que tinham no passado.

— Baixinho? — mordeu o lábio, tentando não rir mas não conseguindo segurar. — Eu sou maior que você agora.

— Força do hábito. — deu de ombros, também rindo. — Acho que é melhor você ir. — disse após olhar para frente e ver o que acreditava ser Yeji, nervosa, aguardando o filho e as notícias.

Jungkook olhou nessa direção e suspirou. Não queria afastar agora que tinha reencontrado o mais velho. Queria passar mais tempo com ele e saber as novidades sobre o mesmo. Jimin também pensava assim. Mas eles precisavam cuidar de suas vidas distintas nesse instante.

— É. Eu preciso ir. Foi bom te ver de novo, Jimin.

Não conseguiu se conter, aproximou com o coração se acelerando mais, encostando seus lábios macios e bem desenhados na bochecha dele, surpreendendo o loiro que sorriu bobo diante disso e de seu coração pulsar com maior intensidade também.

— Igualmente, Jungkook.

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