01. A descoberta
Capítulo 1 - A descoberta
— Eu não aguento mais! — Jungkook se jogou em cima da mesa de seu escritório, farto daquele trabalho diário no departamento pessoal, do calor que estava fazendo e de estar passando mal desde quando acordou naquela manhã ensolarada de quinta-feira.
— Você está bem? — perguntou Yoongi.
Ele era seu principal amigo e assistente. “Principal amigo” para não chamá-lo de melhor amigo porque esse título era apenas de um lupino.
— Puta dor de cabeça. Sr. Choi está me enchendo o saco desde ontem, sendo que eu mandei os documentos no prazo, dentro do que me foi passado. A culpa não é minha se a assistente dele me mandou dados errados, mas como ele come ela, é claro que vai dizer que o erro foi meu. Agora meu pai me culpando por essa merda não estar certa e disse que eu irei me acertar com ele os dados corretos para a reunião não chegarem a tempo. Além disso, está tão quente que esse ar-condicionado não está esfriando nem um fiozinho do meu cabelo!
— Não está porque estragou, lembra? E o seu pai disse que não era para mandar consertar por agora porque “seria um gasto desnecessário para o momento”. — engrossou a voz, o imitando.
— Desnecessário porque não é ele que fica nessa sala pequena e quente vestido com a porra de um terno o dia inteiro. Por que trabalhamos de terno, afinal?
— Porque ele preza por sermos extremamente profissionais e elegantes. — rolou os olhos.
— Esse tradicionalismo antigo de merda. Ele só atrapalha a minha vida. Como não bastasse esse calor infernal, estou com enxaqueca e agora ela está me dando enjoo, que maravilha. — sorriu irônico.
— Eu posso te ajudar a terminar de corrigir os documentos. E, aqui, bebe. — entregou a ele uma água gelada, vinda da pequena geladeira que eles tinham comprado e instalado ali. — Tira esse paletó, respire fundo e fique quietinho por um tempo para ver se passa. Quer remédio?
— Não precisa. Vou ficar bem. — suspirou. — Obrigado. — tirou a parte de cima do terno, abrindo a água e indo até a janela tomar um ar.
Yoongi segurou seus ombros, fazendo uma massagem para ver se o amigo desestressava. Essa cena era muito comum por ali.
— Essa água está horrível! — reclamou, quase a cuspindo.
— O que há de errado?
— Está grossa, com um sabor estranho. — fez careta.
— Deixa eu ver. — pegou a garrafa, colocando a água na boca, movendo a língua nela e tomando. — Está normal. Deve ser o seu paladar. Vou ver se encontro alguma com sabor.
— Obrigado, mas eu só quero ir embora.
— Aguenta mais um pouco, falta apenas terminar os documentos.
— Uhum. — concordou, porém sabia que não aguentaria ficar nem dez minutos a mais naquela sala porque além de estar se sentindo mal, odiava demais esse trabalho e cada dia que passava esse sentimento parecia piorar.
Enquanto se esforçava para terminar de resolver aquela merda junto de Yoongi, pensava no que havia feito de errado para parar ali no escritório de contabilidade de seu pai.
Após se formar, não tinha ideia do que fazer e o Sr. Jeon veio todo manso com um papinho de que seria ótimo trabalharem juntos, pensou inocentemente que se fizesse contabilidade e isso acontecesse, ficaria mais próximo de seu pai, ele mostraria orgulho de si pelo menos uma vez... Então fez uma faculdade que no início pensou ser difícil por ser algo novo, mas justamente por ser algo novo estava empolgado. Essa empolgação com o tempo foi diminuindo e a ficha foi caindo de que não gostava daquelas matérias, mas seu pai parecia feliz e orgulhoso contando para seus amigos, o tempo passava rápido, por que não continuar até ter o diploma?
Conseguiu o diploma depois de muita obstinação e passou a trabalhar ali desde o estágio obrigatório. A relação com seu pai era difícil, mas ele sendo seu chefe… Era como estar no inferno constantemente sendo perseguido pelo capeta.
Por que continuava ali então?
Contas para pagar e a famosa zona de conforto nada confortável. Pois era ruim, mas se não estivesse ali, aonde estaria? E se fosse um lugar pior? Pelo menos ganhava até que bem, isso meio que compensava as chatices de seus dias.
Mas se fosse pensar mais profundamente, o ponto é que Jungkook nunca foi incentivado a querer mais, sempre ouviu desde pequeno que o básico está de bom tamanho. Isso cortou as asas da sua iniciativa de se arriscar, o fazendo sempre se contentar com pouco.
Não só na área profissional. Seu pai sempre lhe deu o mínimo de respeito, atenção, amor… Não precisa nem dizer como era seus relacionamentos, não é? Isso quando ele resolvia “ficar sério” pois no fundo nunca teve coragem de arriscar entrar em um relacionamento. Tinha medo que fosse tão frustrado quanto o casamento de seus pais.
Seu atual ficante era um conhecido da sua época maluca e inconsequente de faculdade, onde virava noites em festas se acabando de dançar e beber para esquecer um pouco da pressão dos estudos e da vida desagradável em casa - lá só era bom quando seu pai não estava presente -. O nome ele era Lee Jungsang, um alfa dominante.
Se encontrar com ele se tornou um escape desde a faculdade, eles se afastaram por um tempo porque Jungsang foi morar um tempo com a mãe em Jeju, mas agora estava de volta a Busan. Era divertido farrear com ele, conseguia esquecer dos problemas com o pai tradicionalista e exigente, principalmente quando tinha uma verdinha no meio.
Jungkook também ficava com Yoongi de vez em quando. Ele também era um alfa dominante. Entrou na faculdade quase no mesmo ano que Jungsang saiu e sempre foi muito gentil o que lhe encantou.
Ele era cheio de conselhos e sempre lhe ajudou. Não esquece do dia que bateu o carro embriagado depois de uma festa, quebrou o braço, não queria ligar para seu pai porque ele iria brigar horrores consigo, nem para a mãe para não preocupá-la, então chamou o novo amigo. Yoongi passou a noite toda consigo no hospital, ele lhe deu sermão mas de longe parecia com os do Sr. Jeon, era muito mais explicativo e afetuoso, o que fez Jungkook repensar no que estava fazendo de sua vida, que sempre foi muito maduro e responsável, não era mais um adolescente - nessa época nunca fez nada, aliás - para ficar agindo como um. A partir daí maneirou nas suas farras, usos de substâncias alcoólicas e verdinhas.
Yoongi, ao contrário de Jungsang, leva a vida de forma leve e satisfatória, lhe incentivando a seguir isso. Ele se tornou o apoio que perdeu quando seu melhor amiga de infância se foi. Assim, trocou as farras em casas de desconhecidos, baladas, loucuras de bebado, e sexo com machos alfas aleatórios por coisas saudáveis como noites de jogos ou karaoke com Yoongi e sua família, saídas com ele ou sua mãe para encher a barriga de comida gostosa e momentos a sós para ler, ouvir músicas, assistir filmes, caminhar no parque, sentir uma melhor sintonia consigo mesmo.
Tinha muito tempo que não fazia isso por estar lotado de trabalho - muito chato vale acrescentar - deve ser por essa razão que se sentia tão cansado e estressado. O pior é que quando estava assim sempre dava crises fortes de enxaqueca.
— Me desculpe, hyung. Mas estou realmente mal. — disse quando estavam quase o fim. — Vou ter que ir. Finaliza para mim?
— Sem problemas. Você vai no hospital?
— Não se preocupe, é esse calor. — afrouxou a gravata — E a enxaqueca de sempre. Só preciso ir para casa e descansar.
— Me ligue se precisar de alguma coisa. — como sempre, seu amigo era extremamente prestativo.
— Obrigado.
Quase na porta do escritório, sentiu uma tontura estranha, sorte que tinha um banheiro perto. Adentrou, molhando as mãos na pia e passando no rosto enquanto respirava fundo. Maldita enxaqueca.
Quando se sentiu um pouco melhor, foi para seu carro, conectado logo o celular no aparelho de som, escolhendo uma música leve que estava viciado no momento: Dandelions.
— ‘Cause I’m in a field of dandelions (porque eu estou em um campo de dentes de leão), Wishing on every one that you’ll be mine, mine (desejando a cada um que você seja meu, meu)... — murmurava, cantando baixinho, concentrado no trânsito e evitando momentaneamente o mal estar.
Estacionou indo logo para dentro de casa, deitando, ou melhor, se jogando no sofá.
Se seu pai descobre que saiu mais cedo e o vê dessa forma, o chamaria de preguiçoso e o mandaria sentar direito porque sofá não é lugar para deitar. Ah, Jungkook raramente ficava ali na sala… ou em outros cômodos. Preferia ficar fechado sozinho em seu quarto para evitar ouvir o que não queria.
Começou a refletir, ficando ansioso. Por que gastou tanto dinheiro com uma faculdade que não queria? Por que trabalhava onde não gostava? Por que ainda morava com os pais? Isso tudo teria sido resolvido mais cedo se não tivesse sido burro em acreditar que dando orgulho ao seu pai fazendo o que ele desejava, as coisas mudariam entre eles. Tinha que ter alimentado sua vontade de sair dali e ir viver como bem entendesse, mas não. Foi ser inocente e depois ficar ocupado demais torrando dinheiro nas farras para aliviar-se momentaneamente daquela vida frustrante, com pai frustrante, estudo frustrante, trabalho frustrante. E agora estava frustrado por começar a economizar para comprar uma casa mas ainda não ter o suficiente, sendo obrigado a continuar preso naquele emprego para conseguir realizar isso e ainda pagar as contas que faziam parte da vida.
Paciência.
Tinha que ter paciência e continuar focado no seu objetivo.
Acreditava que não adiantaria nada jogar tudo para o alto, ir morar de aluguel, não saber se conseguiria um emprego depois, não conseguir e perder a casa de aluguel e ir parar na rua tendo que depois implorar ajuda ou pra voltar. Isso seria humilhante.
Pelo menos ali tinha sua mãe, que era seu apoio e conforto. Ela sempre lhe dizia para ter paciência quando estava nessa crise de “caralho, eu tenho 28 anos e me sinto completamente insatisfeito morando com meus pais e tendo essa porra de vida”, pois as coisas vem na hora certa desde que nunca as deixasse de lado.
Se lutou, dedicando-se, e no fim conseguiu se formar em uma faculdade que odiava, precisava ter a mesma garra para conseguir dar entrada em sua casa própria. Será que se arrumasse outro emprego, trabalhando dois turnos, esse sonho seria realizado mais rápido?
Pensaria sobre isso depois já que agora a fadiga estava quase insuportável.
E, para completar, um cheiro forte de comida sendo feita adentrou seu nariz e seria gostoso caso não lhe fizesse enjoar ainda mais ao ponto de sair correndo para o banheiro vomitar.
Depois do enjôo cessar, mesmo que minimamente, se limpou e saiu do banheiro todo desanimado por conta do mal estar.
— Meu amor, está tudo bem? — perguntou Yeji, sua mãe, ao perceber que ele já estava em casa e meio pálido.
— A enxaqueca está pior dessa vez. Vomitei.
— Você tem que ir no médico ver isso, não é normal sentir enxaqueca frequentemente, ainda mais tão forte. Quer que vou com você?
— Não precisa, eu vou tomar o remédio e mais tarde se não melhorar.
— Certo. — o viu colocar o comprimido na mão, engolindo em seco porque para ele a água continuava com o gosto ruim. — Espero que fique melhor. — deu um beijo em sua bochecha e ele sorriu com o carinho.
Mas Jungkook não ficou.
Os sintomas se estenderam por mais dois dias até ele decidir ir ao hospital.
Estava ali outro detalhe que o fazia permanecer no escritório de seu pai: convênio médico que praticamente cobria todas as despesas. Pelo menos para isso ele prestou. Aquilo facilitava muito a vida.
Após todo o procedimento comum, foi chamado para o consultório da Dra. Sky, sua médica favorita.
— Bom dia, Jungkook. Como está se sentindo? — a beta perguntou toda carismática.
— Eu não vejo um bom dia. É domingo de manhã e eu estou num hospital depois de tanto passar mal, sendo que poderia estar bem, dormindo na minha cama macia e quentinha. — resmungou, chateado.
— Não seja dramático. Eu estou aqui a mais de vinte e quatro horas, comendo pouco e mal dormindo, e mesmo assim acho um bom dia.
— Esse é seu trabalho, você gosta dele, então claro que está satisfeita.
— Certo. Certo. Vamos ao seu problema.
— Meu problema é que quarta minha enxaqueca começou, na quinta pirou ao ponto de eu ter tonturas e vômito, os enjôos estão acontecendo demais na parte da manhã, e tem uma fadiga insuportável que pensei ser o calor mas agora o clima fresco, chuvoso, e nada de eu ficar bem.
Sem contar seu humor inconstante, parecia que tudo andava lhe incomodando. Até sua médica favorita que era a simpatia em pessoa.
— Vou te examinar e depois vamos fazer alguns exames para ter o diagnóstico exato. — gostava de saber precisamente o que alguém tinha para depois informar, porém já tinha suas suspeitas.
Jeon coletou sangue e urina, esperando alguns minutos para o resultado ficar pronto. Ao entrar novamente na sala da Dra. Sky, pôde ver que ela analisava as folhas e parecia... Feliz? A beta na faixa dos cinquenta anos sempre era alegre, no entanto, parecia muito mais.
— Eu tenho uma boa e uma má notícia. — informou toda sorridente.
— Quero ouvir a boa primeiro.
— Meus parabéns, você será papai!
— Perdão? — disse, incrédulo.
— Você está grávido!
O moreno ficou estático no mesmo instante. Como assim, "você está grávido"? E por que a médica parecia gostar da ideia? Provavelmente ela gostava de bebês, também de dar notícias que bebês estavam a caminho, porém sem condições de um estar dentro de si, não é?
— Eu não posso estar grávido. Eu tomo remédios. — argumentou.
— Anticontraceptivos podem falhar, Jungkook.
— Mas... — não sabia o que dizer.
Suspirou, apertando as pálpebras com os dedos e massageando as têmporas, sentindo a dor de cabeça bater ainda mais forte para desgraçar o resto.
— Qual é a notícia ruim?
— O mal estar e enjôos às vezes só terminam no fim do terceiro mês.
— O que?! — exclamou, alterado. — Não basta que eu esteja grávido, eu tenho que passar mal todos os dias por mais de mês?
— Bom, é comum que seja assim, mas pode ser que o tempo seja menos ou mais. Tudo varia em cada gravidez, portanto, não tem fórmula exata.
— Quanto tempo? — perguntou, batucando os dedos na mesa em sinal de ansiedade, pois não era uma notícia que esperava assim, tão de repente.
— Quando foi sua última relação sexual?
Jungkook travou, conseguindo apenas murmurar um "talvez a dois meses".
Foi quando Jungsang deu uma festa de pijama com espuma em sua nova casa nada humilde. Pela primeira vez conseguiu convencer Yoongi a ir junto. Eles beberam e acabaram fazendo sexo a três.
Já se via contando sobre a existência do filhote para eles, destruindo o recente namoro de Yoongi, tirando Jungsang do sério e, para completar, vendo seu pai iniciar a terceira guerra mundial.
— Então provavelmente seja cerca de dois meses. Também é o tempo que geralmente se descobre. — a médica se assustou com o alfa se jogando para frente, deitando a cabeça e parte do tronco no tampo da mesa. — Jungkook?
— Ferrado. — murmurou, aflito. — Estou tão ferrado... — soluçou, sentindo as lágrimas descerem em abundância. — Eu tenho vinte e oito anos, não soube sequer organizar minha vida, ainda moro com meus pais e tenho um emprego que detesto. Meu amigo que costuma resolver tudo pra mim. Eu mal sei cuidar de mim mesmo, como eu vou cuidar de um filhote? — se sentia dois D: despreparado e desesperado. Não gostava dessa sensação.
— Está tudo bem. — fez carinho no cabelo dele para ver se acalmava seu paciente. — Cada pessoa conquista suas coisas em uma idade e ela não precisa vir com ordem pré estabelecida. Fora que você ainda não é um velho impossibilitado, pode vir a fazer quantas mudanças for preciso para se realizar. Seja positivo. E saiba que pode ter a idade que for mas nunca irá se sentir cem por cento preparado para a paternidade, cabe a você enfrentar e aproveitar as novidades que virão ou não. É a sua decisão de agora que irá começar a definir um rumo mais claro em sua vida. E você pode o que quiser, Jungkook.
— E-eu quero. — ergueu o rosto. — Eu quero ser pai, inclusive um bem melhor do que eu tenho. Só estou com medo… Essa é a primeira vez que cogito de verdade sair da minha zona de conforto já que eu desejo esse algo novo mesmo que tenha vindo inesperado, que eu sei lá o que vai acontecer no futuro, e isso pode gerar uma baita confusão.
— Você consegue, Jungkook. Não perca a fé em si mesmo. Empenhando-se pode sim ser um bom pai. E creio que tenha boas pessoas ao seu redor que possam te ajudar a lidar com essa novidade.
Pensou em sua amada mãe e em Yoongi. Eles eram tudo para si, sempre estavam disponíveis quando mais precisava, não lhe deixariam na mão. Era bom poder ter essa certeza.
Fungou, usando esse pensamento para próprio se reconfortar, buscando parar de chorar. Se endireitou na cadeira, limpando o rastro de lágrimas e encarando a médica.
— Eu tenho sim. Desculpa a minha reação, saber da gravidez foi uma baita surpresa e abalou todos meus pensamentos e emoções.
— Está tudo bem. Só peço que tente se manter calmo, descansado, ok? Cansaços e estresses aumentam os enjôos. — lhe entregou alguns papéis. — Aí estão os resultados dos exames. E esse aqui é um folheto onde explica sobre os meses da gravidez e dicas de como se organizar. Talvez você precise ou não, como disse, cada gravidez pode acontecer de uma maneira.
— Obrigado. — pegou o item e se levantou, sentindo um pouquinho mais calmo, só que ainda cheio de ansiedade.
— Minha secretária irá te ligar para marcar o início do seu pré natal.
— Certo.
Trocaram um aperto de mão e Jungkook saiu da sala se sentindo pior do que entrou, mas agora por estar com incômodo no peito devido ao medo.
Suspirou, adentrando no carro. Precisava falar com alguém. Talvez fosse melhor ir até Jungsang e Yoongiz informá-los sobre a situação e de quebra desabafar… Como a casa de seu dongsaeng era mais perto do hospital, seguiu para lá.
Bateu na porta de Lee Jungsang, aguardando alguns minutinhos até ela ser aberta. Ele estava surpreso, afinal, não haviam marcado nada e Jungkook nunca aparecia ali na parte da manhã, ainda mais sem avisar.
— Ei, bro. O que faz aqui?
— Preciso conversar com você. Posso entrar? — ele deu de ombros, saindo do caminho para o hyung passar.
Já na sala, foi a vez do recessivo ficar surpreso. Tinha uma alfa de cabelo vermelho como fogo ali, tomando café com uma baita cara de ressaca. A questão é que seu amigo nunca permitiu que nenhum (a) ficante ou peguete dormisse em sua casa. Menos ainda deixava ficar para o café da manhã. Nem a si que era amigo dele há mais de cinco anos. Mas mesmo estranhando, não disse nada.
— San, quem é esse? — perguntou a ruiva, parecia bem íntima já que lhe tratou com apelido.
— Meu amigo. Temos que conversar, pode esperar aqui? — ela assentiu. — Obrigado.
— De nada. E, até logo, amigo do San!
Jungkook assentiu, sorrindo fraco, dando as costas e subindo as escadas da casa que conhecia bem, afinal, havia transado com Jungsang em todos os cômodos possíveis. Mas ele nunca o permitiu ficar até amanhecer ou ofereceu um cafezinho. O alfa o considerava só para farra e sexo? Por um momento ficou magoado. No outro disse a si mesmo para não começar a pensar besteiras porque era só os hormônios recém alterados pela gravidez mexendo com suas emoções.
— Diga. — disse ao adentrarem o quarto, com uma expressão impaciente no rosto.
— É que... Ah, vou ser bem direto para não perder a coragem então se prepare. — respirou fundo, soltando de uma vez: — Eu estou grávido.
Ele arregalou os olhos, chocado.
— Cara, seus pais vão pirar.
— Eu estou pirando. Não esperava por isso. Você sabe como a minha vida é e eu nunca movo um dedo para arrumar. Aí, de repente, por um deslize, meu pai poderá ferrar o resto dela. Ainda mais ao descobrir que concebi um filhote em uma aventura a três.
— Caralho! O que você disse?
— Isso mesmo, foi naquela noite.
— Você tem certeza? — perguntou com uma expressão assustada.
— Sim. E já adianto que eu não sei quem é o pai. Pode ser Yoongi hyung mas talvez seja você. Olha em que situação eu fui me meter por causa de álcool e fogo no rabo. — massageou as pálpebras de novo.
— Como isso foi acontecer?!
— Quer que eu te explique em detalhes? — disse irônico.
— Droga, Jungkook! — bufou. — Mil vezes droga! Você não pode ter isso!
— Licença, você acabou de dizer que eu não posso ter o filhote — enfatizou porque se estava nele, ele ia chamar como quisesse e nunca seria de "isso" — Que está no meu ventre?
Como a Dra. Sky disse, a decisão era sua. E estava disposto mesmo que fosse repentino e assustador pois tinha vontade de ser pai.
— Eu sei que você não vai querer foder ainda mais da sua vida. Olha, bro, você não precisa se preocupar com nada, ok? Eu conheço uns caras aí e vou dar um jeito. Eu tenho uma boa grana, posso pagar para tirarem isso de você. Então cada um de nós podemos viver nossas vidas tranquilamente como se nada tivesse acontecido.
As emoções confusas e intensas que Jungkook estava sentindo se reuniram, transformando em uma só: raiva.
— Como é que é?! — berrou, indignado.
Sabia que Jungsang era por vezes egoísta mas não tanto. Se fosse de uma maneira calma e ele sugerisse aborto, não ia se estressar, simplesmente negaria porque, mesmo sendo complicado, queria ter o filhote. Só que não foi assim e conhecia bem demais seu amigo, ele não estava preocupado consigo, apenas em se livrar de possíveis responsabilidades. Afinal, ele sempre fugia delas.
— Qual o problema, cara? Nós transamos, apareceu algo indesejável, é só descartar e tudo fica na boa, você não tem problemas com seu pai e eu continuo com meu relacionamento. Sabia que estou quase namorando? Ela é perfeita, e-
— Não quero descartar! E não finja que se preocupa comigo e a situação de merda com meu pai! Você só pensa em si mesmo! Isso não me incomodava antes mas agora... Muito lindo você ignorar nossa amizade, o momento que preciso de seu apoio, por uma alfa que acabou de conhecer. Aliás, o que tivemos foi amizade para você? Porque em todos esses anos eu nunca dormi aqui, muito menos fiquei para um cafezinho. É daqui a quanto tempo para você iludir a coitada que está lá embaixo e chutar a bunda dela como se ela não valesse de nada, a trocando por quem considera ser melhor para suas farrinhas de momento, hein?
— Você não sabe de nada!
— Faça mil favor, não seria a primeira vez que você faz isso. Mas eu era o pior tipo de cego: o que não queria ver. Bem que o Yoongi me dizia que você não era e nunca foi amigo de verdade e sim uma má influência. Mas você sabe sabe manipular bem com esse seu sorriso bonito e jeitinho malandro, tanto que até ele que não vai com a sua cara parou na sua cama. Sua pose de amigo tranquilão e despreocupado acabou de ir embora. Continua me mostrando o babaca vazio que você é. Briga, me xinga e manda embora como fez com todos os outros que você se cansou com o tempo. Aliás, está passando da hora de me chutar, não?
— Eu sempre estive aqui por você. Nunca te tratei mal. Pelo contrário, te levei a festas e apresentei do bom e do melhor, pagando tudo o que eu podia para você curtir. Está sendo um completo ingrato só porque não concordo com essa porra!
— Você foi quem mais me influenciou a curtir sim, mas raramente pagava algo e nisso eu perdi tempo e dinheiro. Coisas que poderia ter investido e saído da casa do meu pai logo, mudado de vida. Mas agora eu vejo. Isso seria ruim para você, não é? Porque eu era o único amigo disponível na época que aceitava participar de todas as suas loucuras e se não fosse por mim você estaria completamente sozinho. Você no fundo nunca quis que eu me dedicasse a ter outra vida, por ser esse egoísta que só pensa em si mesmo. Quem esteve sempre aqui por você, fui eu. E agora que é a minha vez, você quer pular fora.
— Não venha se colocar de vítima por conta de um feto que ninguém pediu para existir, que mal chegou e já está causando discórdia. Eu não sou nenhum duas caras. Você sabe que será melhor se livrar disso, afinal, não quer tanto dedicar e crescer na vida? Com isso você não vai conseguir, só vai te atrasar mais ainda. Então eu vou ligar para algumas pessoas, você vai tirar essa porra ainda nesse fim de semana, e eu não quero saber de mais nada. Pode ir parando de chilique.
— Você… Você realmente é um babaca! Acha que é fácil assim? Se diverte ao máximo e quando vem as responsabilidades você só pensa em joga fora? Caralho, Jungsang. Não é uma coisa qualquer. Estamos falando de um bebê e que está em mim, no meu corpo e eu quero ele! Você não me manda, me deve respeito que eu sou seu hyung e de longe tem o direito de dizer essas merdas pra mim! — retomou o fôlego, se sentindo tremer de nervoso. — Eu entendo. Sua vida sempre foi fácil, não é? Você sempre foi um mimadinho do caralho. Mas está passando da hora de você entender que nem todo mundo fará suas vontades e que vida você não pode se livrar de tudo! Por mais que tenha sido inesperado, que não goste da situação, você não pode querer se livrar porque é simples: você não está em posição pra isso. Não quando o feto está em mim e eu também sou o pai. Só que você não pensa no meu lado, né? Não consegue por ser um baita egoísta que mal sabe se o filho é seu mas já quer fugir. Covarde!
— Disse bem: feto. Essa desgraça nem é um bebê, é só um monte de células que vai atrapalhar todos nossos planos. É melhor resolver enquanto a tempo. E, pensa bem, se alguém aqui está sendo covarde, é você.
— Se toca, seu otário! Eu sou diferente de você. Sou macho o suficiente para encarar minhas consequências. E não sei porque não enfia nessa sua cabeça oca que eu tenho todo o direito de querer tê-lo. É difícil entender que ele está na minha barriga e no meu corpo mando eu? Eu quero e vou tê-lo sim! Goste você disso ou não. Afete você ou não. Você fique ao meu lado ou não. Eu só vim porque pensei que você precisava saber e eu necessitava de um amigo. Mas desabafar com um merda como você foi um grande erro. Você nem precisava saber de porra alguma. Eu vou embora.
— Quanto drama! Não faço nenhuma questão de te ouvir choramingar. Mas, sabe, isso é engraçado, Jungkook. Se me lembro bem você disse que podíamos curtir a vontade que usava anticontraceptivos. Agora, de repente, me aparece grávido? — sorriu com escárnio.
— O que você está insinuando? — questionou, torcendo para ele não vir bostejar ainda mais para cima de si.
— Você me conhece a anos. Sabe da minha situação financeira, de como meu pai quer me forçar a ser sempre um maldito responsável, me casar e ter uma família. Foi só afastar um pouquinho de você que de repente volta assim, todo para baixo e insinuando que eu posso ser pai. Ah! E o Yoongi me odeia, é muito fácil vocês estarem planejando algo contra mim.
— Não seja ridículo. Ele ainda nem sabe!
— Perfeito para você. Pode dar o golpe em dois. Não é isso que você quer? Isso resolveria a sua vidinha desgraçada, não?
A boca de Jungkook foi ao chão, ele se sentiu mais irritado e enjoado que antes.
Como podia ser amigo de um cara desse? Certo. Jungsang era muito legal fazendo companhia em festas e bancando festas mas, pelo jeito, em alguma delas parte de seu cérebro ficou para trás junto de sua consideração.
— Nunca pensei que pudesse ser tão egoísta e escroto. Eu não quero seu dinheiro, por mim você pode comer ele e morrer engasgado. Eu só queria que você fosse o amigo que devia ser, nem precisava aceitar esse deslize já que não faz questão, só me ouvir e ter respeito estava de bom tamanho. Mas você não consegue não ser um covarde sem noção que morre de medo de responsabilidades e ainda acha o mundo gira só ao redor do seu cu. Eu prefiro manter distância. Até porque eu não preciso de um merda como você na minha vida.
— Ótimo porque eu não vou assumir essa porra. E, fala de mim, mas que responsabilidade você tem? É só mais um que não faz nada da vida e que trabalha para o papai, só esperando o dia de pegar toda a empresa.
— Mais responsabilidade que você até uma criança tem. E você está enganado. Eu odeio aquele lugar.
— E eu odeio essa porra de situação que você está querendo me meter! Eu não quero bebê nenhum e estou pouco me lixando pra você e seus dramas. Tem razão em dizer que eu vivo de momentos e os meus com você já estão de prazo vencido a muito tempo. Eu só continuei a te procurar porque você é gostoso de comer. Mas é cheio de dramas e eu não quero mais estresses. Estou fora desse seu golpinho da barriga. E você também está ficando velho, eu prefiro dar o mundo às novinhas e novinhos, e sem cria, claro.
Naquele instante, Jungkook se sentiu fraco.
Lee Jungsang nunca foi seu amigo. Ele realmente era um babaca. Se arrependeu das incontáveis vezes na faculdade que o defendeu de outras pessoas que falavam mal dele e agora percebia que o conheciam melhor. De ter dado seu ombro para ele chorar quando precisava. De matar sua carência a qualquer hora. De ter ficado sempre disponível para um falso.
Bem que Yoongi dizia que amigos de noitadas não são exatamente amigos. Se sentiu um bobo por não ter acreditado nele, principalmente quando lhe alertava desde a volta de Jungsang para Busan que ele era apenas mais um bad boy mimadinho atraente mas completamente idiota.
Isso era difícil de ver porque consigo ele sempre era bem simpático e sedutor. Mas, claro, só queria lhe manter por perto para ter companhia e transa fácil sempre que estivesse se sentindo solitário. Maldito escroto do caralho.
— Eu só te digo uma coisa, "amigo". — pronunciou ironicamente, sentindo uma raiva absurda tomar conta de todas suas células. — Quando o meu filho me perguntar sobre o outro pai e, se ele for você, irei responder exatamente o que você disse. Vou fazer questão de explicar direitinho o quão merda você fez eu me sentir e o quão egoísta você foi. Se ele for esperto, manterá total distância do imbecil que você é.
— Será um prazer. — sorriu.
E Jeon riu incrédulo.
— Olha, eu imaginei que você não iria gostar disso mas jamais imaginei que seria tão estúpido assim. — andou em direção a porta mas antes de sair se virou para acrescentar: — Espero que você seja muito feliz, muito mesmo. Mas cuidado que esse pode ser mais um motivo para meu filhote nem querer olhar na sua cara. Até nunca mais, babaca!
Desceu as escadas rapidamente, batendo a porta com força ao sair daquela casa. Teve que se escorar no portão pois se sentiu tonto. Queria chorar de raiva naquele momento, porém, não faria. Não derramaria uma lágrima sequer por Lee Jungsang!
Entrou no carro e pisou fundo. Aos poucos, focado em dirigir, foi se recuperando do estresse e diminuindo a velocidade.
Parou na casa de Yoongi. Ele não seria capaz de fazer algo parecido, não é? Acreditava que não. Com ele podia contar verdadeiramente. Era o único que lhe daria, não só um ombro amigo, mas os dois.
— Jungkook? — exclamou o platinado, surpreso por tê-lo em sua porta no dia de folga, justo em um domingo de manhã. — O que foi? Você parece péssimo.
— Eu estou péssimo, hyung. — o abraçou, sem querer, deixando as lágrimas desceram aos montes.
— Calma. — o apertou em seus braços, deixando que ele continuasse até a crise de choro ir diminuindo.
— D-desculpa.
— Não se preocupe. Vem. Vamos pra dentro. — o levou para a sala.
Jeon quase engasgou ao ver o atual namorado de seu amigo sentado tranquilamente no sofá. Ele é um alfa recessivo usando um pijama de ursinhos enquanto via o noticiário da manhã e tomava, provavelmente, um chocolate quente que não duvidava ter marshmallows pois isso era a cara de Jung Hoseok.
A um mês e alguns dias, Yoongi foi a uma galeria comprar uns quadros para sua nova casa e exigiu que o gerente lhe atendesse, no caso, foi o dono que veio até ele. Os dois conversaram bastante e o papo fluiu tanto que no mesmo dia eles foram a um encontro. Uma semana depois estava terminando a amizade colorida com Jungkook e começando algo novo ao lado de Hoseok.
O moreno ficou extremamente feliz pois Yoongi estava se apaixonando por um lupino aparentemente incrível. E agora estava mal. Não sabia qual seria a reação do dono da galeria. Poderia estragar o relacionamento recém iniciado... Mas não ia conseguir mentir, sempre era sincero com seus amigos e precisava muito por pra fora tudo o que houve até então.
— Oh, Jungkookie! — levantou ao vê-lo, deixando sua caneca da mesa de centro e indo até ele. — Bom dia! — o abraçou, sendo correspondido sem jeito. — Está tudo bem?
— Na verdade não. Por isso eu vim aqui. — coçou a nuca, nervoso e sem jeito. — Podemos conversar a sós, Yoongi hyung?
— Está tudo bem. É o Hobi. Ele é confiável. Seja o que for você pode dizer na frente dele. — informou, abraçando o namorado.
— Ah... Uhm... Acho melhor vocês se sentarem então. — eles o fizeram. — Eu vou ser direto. — se não ia fraquejar e sair correndo dali. — Eu estou grávido.
Ambos ficaram paralisados, mas pouco segundos depois soltaram suas exclamações surpresas com direito a olhos esbugalhados, boca aberta e tudo.
— Isso é... Bom...? — Jung não sabia definir já que a expressão do outro recessivo era de pura agonia.
— Mas eu nem sabia que você estava saindo com alguém. — argumentou Yoongi.
— Eu não estou. De acordo com a doutora, eu estou com dois meses e... — a menção do tempo fez o mais velho engasgar e o namorado bater em suas costas. — Me desculpem. Eu não quero ver vocês dois brigarem mas também não posso deixar de ser honesto nesse momento. Eu quero ser honesto já aconteceu e vai atingir todos nós de qualquer jeito- — falou rápido, afobado e ia dizer mais se não fosse interrompido pelo hyung.
— Calma, Kook. Respira. — ele o fez. — Agora conte essa história direito. É o que eu estou pensando?
Há dois meses os dois estavam juntos. Ele só estava esquecendo que juntos, especificamente, em uma cama luxuosa transando com um terceiro cara.
— Você contou pra ele? — perguntou, olhando para Hoseok que estava confuso.
— Sim. Ele sabe que tivemos uma amizade colorida.
— E não se importa? Ou você sente ciúmes de nós, Jung? — temia a resposta, não ia saber o que fazer caso ele dissesse que se incomodava com sua presença.
— Pode considerar que eu me apego rápido, mas me sinto próximo de você. Pode me chamar de Hoseok, Hobi, hyung. — soou simpático. — Eu admito que no início eu ficava bem incomodado, o Yoon não parava de falar de você. Era Jungkook pra lá, Jungkook pra cá. E eu sabia que vocês tinham um passado, que trabalham juntos e eram bem íntimos, não nego que fiquei com um pé atrás. Só que depois de conhecer vocês melhor, vi que não tem nada mais, vocês são melhores amigos, se respeitam e não parecem ser pessoas maldosas que podem fazer mal a mim ou ao meu relacionamento. Então não precisa ter medo, sou tranquilo em relação a isso.
— Tão sensato. — suspirou Min, apaixonado.
— Você também é, amorzinho. — lhe deu um beijinho de esquimó. Então pela primeira vez naquela manhã conturbada, Jeon sorriu.
— Ele é uma gracinha, né, Jungkook?
— Espera. — o ruivo virou para o mais novo. — Você está todo cuidadoso assim porque o Yoon é o pai?
— Provavelmente. — disse, engolindo em seco e continuando: — Ou...
— Ou...? — receoso, o mais velho o incentivou a continuar.
— Ou talvez seja o Jungsang.
— Oh, não. Não me diz que... Não! — estava surpreso, muitíssimo surpreso. — Não foi naquele dia, foi?
— Foi, sim, hyung.
— Porra...
— De que dia vocês estão falando? — perguntou Hoseok, tentando entender os dois.
— Jungkook, um amigo dele e eu fizemos sexo a uns dois meses, antes de eu te conhecer. — então a boca alheia foi ao chão de surpresa.
— Eu fui até o Jungsang... — murmurou, voltando a ficar mal pelas merdas que ouviu de alguém por quem não tinha consideração. — Ele odiou a ideia, provou estar pouco se fodendo pra mim, ainda me acusou de querer dar um golpe nele e quis que eu me livrasse do bebê. É tudo recente, eu estou com medo, mas não quero me livrar de nada. — os encarou com os olhos grandinhos brilhando em aflição.
— E você não vai! Você tem que fazer o que você deseja, nem ele, nem ninguém pode se opor! Eu imagino o que aquele mimadinho do caralho tenha dito. Ah, mas eu vou acabar com a raça desse merda! Eu disse que ele não era confiável. Quando você quer farrear, ele vai na hora, mas quando você precisa de apoio emocional olha o que ele faz! Aquele babaca egoísta, tomara que não apareça na minha frente porque, se não, eu não respondo por mim!
— Se você o detesta tanto, por que diabos transou com ele, amor?
— Porque o idiota é gostoso e tem boa lábia, mas você não sabe o quanto me arrependo daquele dia.
— Ainda mais agora, não é? — murmurou o dongsaeng, todo melancólico.
— Não! Não, Jungkook. — aproximou dele, segurando suas mãos. — Você sabe que eu não falei por causa disso. É porque eu fiquei trilouco e peguei quem eu tenho ranço. Ter essa notícia de sua gravidez foi uma grande surpresa, mas está tudo bem. Nós somos adultos, vamos conseguir lidar. E eu sou seu melhor amigo, sempre estarei aqui por você.
— Independente se for seu ou não?
— Independente disso ou de qualquer outra coisa.
Por uma fração de segundos, Jeon lembrou de alguém especial ao qual perdeu nesse mundão e as lágrimas voltaram a encher seus olhos.
— Obrigado. — o abraçou, forte.
Saber que podia contar com ele nessa nova etapa aterrorizante de sua vida era aliviante.
— Pronto. Está melhor?
Afastou, o observando.
— Sim. Eu estou arrependido de não ter te escutado sobre Jungsang antes e ter ido até ele agora a pouco.
— Se não tivesse ido, talvez não percebesse que ele é um babaca. Certas coisas são livramento, deixa o karma bater na bunda dele e, para o seu bem, evita pensar nisso, sim?
— É. Relaxa, Kook. — falou o ruivo, afagando suas costas. — Por mais que esse cara tenha sido idiota, você fez certo em contar porque ele merecia saber também.
— Certo. Já que estamos bem, eu vou para casa descansar porque a Dr. Sky disse que quanto mais cansado e estressado eu estiver, mais enjoado fico. Fazem só três dias mas está sendo um saco, principalmente hoje. — resmungou, se sentindo psicologicamente esgotado.
— Não é melhor você ficar e descansar? — perguntou Hoseok.
— Obrigado, mas eu prefiro ficar no meu quarto.
— Quer que a gente te leve? — ofereceu Yoongi, porém ele negou de novo.
— Dirigir é uma boa distração pra mim, assim eu esqueço essas emoções. Eu vou indo. Obrigado por tudo.
— Se precisar de nós é só ligar.
Agradeceu ao hyung, em seguida deixando a residência.
No trajeto, Jungkook pensou bastante se contaria a novidade para os pais ou não, no fim optou por não prolongar sua agonia, falaria de uma vez e superaria a merda que, provavelmente, viria daquela conversa.
Sua mãe era um amor de pessoa, com certeza lhe entenderia e daria suporte, mas seu pai... Poderia juntá-lo com Jungsang que daria certinho.
Suspirou mais uma vez. E, ao chegar, aproveitando que os mais velhos estavam na mesa almoçando juntos, jogou os papéis dos exames no tampo, esperando a discussão que aconteceria.
— Me diz que isso é mentira! — falou Boram, sério, após ler as folhas e entregar para Yeji que imediatamente levantou, indo até seu filho, tocando seu ombro com carinho, expressando que estava ali.
— Isso é mentira. — o alfa dominante lhe encarou confuso. — Não era o que você queria ouvir? Mas eu tenho uma novidade, papai: não é mentira. E eu não posso fazer nada contra.
— Não seja idiota. Temos dinheiro guardado, é claro que você pode.
— Mas não quero. Não vou tirar o bebê ou dar ele para alguém. E antes que pergunte quem é o outro pai, eu já vou logo avisando que não sei.
Por mais que estivesse dizendo calmamente, seu coração batia desenfreado e ele rezava para não chorar com qualquer coisa que o mais velho poderia dizer já que ele gostava de lhe diminuir ou ofender por não considerá-lo um filho alfa perfeito.
— Como não sabe?
— Eu não sei porque foi na noite que eu dei muito para dois caras. — sorriu cínico.
Não adiantaria esconder, seu pai iria descobrir e usar isso contra si de todo jeito então era melhor expor a situação.
— Você se tornou uma vadia! Eu sabia que aconteceria, que não devia aceitar essa sua machadagem!
— Você nunca aceitou.
— Não aceitei porque sabia que daria nisso! Olha só as merdas que você fez nesses anos, chegando bêbado em todos fins de semana, até no meio dela, e, pelo jeito, dando pra todo mundo. Agora vem me dizer que está grávido de um zé ninguém porque ficou vagabundando por aí?! Isso é o cúmulo! Você é nojento!
— Não xingue o meu filho! — ordenou Yeji, se posicionando, abraçando o citado que estava quase vomitando de tão nauseado por aquelas palavras.
Seu pai sempre foi um tanto rude, porém, havia conseguido relevar e sobreviver durante esses anos. Mas agora estava cansado disso. Farto de tudo. Que o mundo se exploda!
— Deixa ele dizer o que quiser, mãe. Eu não me importo.
— Você não se importa com nada. Nunca se importou. Se eu não tivesse te obrigado a fazer faculdade e dado um lugar na empresa estaria ainda mais vagabundo e irresponsável. Tenho dó da criança que está no seu ventre.
— Não precisa se preocupar. Eu sou grandinho o suficiente para saber resolver meus assuntos.
— Sabe, Jungkook, eu te avisei que ia aceitar sua opção desde que você não desonrasse a família e você desonrou. Agora, se quer ter o fruto dessa promiscuidade, tudo bem. Mas saiba que essa é a última chance que te darei. Seja ajuizado ao menos uma vez na vida. Case com a ômega, filha do meu sócio, vá embora e só volte quando estiver esvaziado. Isso é o melhor a se fazer.
— Vai se fuder! Isso é melhor pra quem? Só se for pra sua imagem mas, oh, você já é um grande merda, papai! Eu não vou casar com ninguém! Se não me aceita assim, me deixe em paz. Basta fingir que não me conhece. E pode ter certeza que não tive juízo na hora de conceber mas na hora de criar é o que mais terá em mim e eu, definitivamente, não preciso de você pra isso!
— Ótimo. Saí daqui então. Você nunca foi um alfa de verdade e nunca prestou pra nada, não vai fazer falta alguma!
Jungkook sentia a garganta arder por segurar o choro, porém ia continuar firme. Se negava a desabar na frente dele.
— Você não pode fazer isso, Boram! Ele está grávido, é um poço de sensibilidade que precisa de cuidados. Nós somos pais dele, temos que ajudá-lo e...
— Tanto posso como vou! E se você estiver achando ruim, que vá com ele! Esse depravado sem cérebro tem até o fim de semana para sair da casa que me pertence, caso contrário, as coisas vão ficar muito feias!
Yeji, vinda de uma família de religiosos, sempre ouviu e acreditou que iria para o inferno caso se separasse do marido - fora que precisava constantemente tratá-lo bem e servi-lo -. Divórcio sempre lhe atraiu, mas não era opção porque não tinha coragem. No entanto, agora estava levada ao extremo da irritação e disposta a proteger sua cria. Então elevou a voz:
— Sem cérebro é você, seu brutamontes ignorante e estúpido! Se quer assim, nós vamos embora, mas metade dessa casa me pertence e eu quero o que é meu por direito!
O recessivo ficou boquiaberto pois nunca pensou que sua mãe fosse fazer isso algum dia.
— Não acredito que está o defendendo. Eu sou seu marido!
— Foda-se. Eu sequer gosto de você. A única razão que me fez estar aqui esse tempo todo, depois que essa merda de casamento esfriou, foi por puro conformismo e medo religioso. Jungkook é meu filho, um rapaz maravilhoso e bem mais importante que você. Não vou abandoná-lo justo agora que precisa de apoio por causa de um macho alfa idiota. Estamos no século vinte e um. Não preciso mais de você.
— Perfeito! Que vá embora essa nova familiazinha de merda! — gritou, saindo enfurecido dali, batendo todas as portas possíveis.
— Mãe. — por mais que estivesse com as emoções à flor da pele e quisesse se acabar em lágrimas naquele instante, se controlou. — Eu não quero atrapalhar seu casamento.
— Que casamento? Aquele alfa frio fez essa relação congelar com o passar dos anos. Não faço mais do que certo deixá-lo, não fazia antes por puro medo do inferno mas agora foda-se. Se Deus não quiser me perdoar por ficar ao lado do meu filho, problema dele. Já está passando da hora de eu me impor, sair desse conformismo. Eu posso trabalhar, hoje em dia isso é super comum. Não vou mais ficar presa a ele por dinheiro também não. Peço perdão por não ter tomado essa atitude a tempos atrás, eu era muito medrosa. Mas agora, se me permitir, eu quero reparar os anos ruins que tivemos nessa casa. E de forma alguma conseguirei viver longe de você, nem quero me privar de ter meu primeiro netinho ou netinha. — sorriu, acariciando o rosto do filho que não demorou a encher de lágrimas.
— A culpa não é sua de ter se casado com alguém pensando que era de um jeito e descobrindo que ele era de outro. Você sempre foi muito dedicada. E eu entendo seu medo, sua geração é diferente. Acho que hoje nós dois chutamos o balde e estamos saindo da zona de conforto. Obrigado por ficar ao meu lado. Eu te amo, mamãe.
— Oh, meu bem, eu também amo você.
O abraçou, deixando que Jungkook chorasse, colocando para fora todo o incômodo, tensão e agonia que sentiu naquele dia que mal começou mas que o bombardeou com emoções de vários tipos.
— O que... O que vamos fazer agora?
— Lembra do seu tio Donghae? — ele assentiu, ainda que a lembrança fosse vaga de infância. — Vamos ligar para ele. Eu confio nele, não vai nos deixaria na mão.
— Está sentindo tanto medo agora quanto eu?
— É inevitável não sentir diante da situação que estamos. Mas não se preocupe, querido. Nós vamos ficar bem.
— Nós vamos. — respirou fundo, tentando pensar positivo, se sentindo um bocado mais calmo pois era esse o poder que sua mãe tinha sobre si: sempre acalmar seu coração aflito.
Esperava que no futuro, conseguisse ser um pai assim.
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