𝟮𝟮 : A HARSH WINTER

PRELÚDIO : DIÁRIO #6

PROVISÕES ATUAIS
POR SALLY :

• 1 frasco de analgésicos
• 3 garrafas de água vazias
[ + 1 contendo café ]
• 1 rolo de bandagens
• 2 garrafas pequenas de álcool
• 2 rolos de fita isolante
• 4 pedaços de carne

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Não é o suficiente para o inverno todo, mas é alguma coisa. Também não devemos passar o mês todo aqui, apenas o tempo necessário para o Joel se recuperar.

O problema, é claro, que temos tudo, menos o que ele precisa.

Não sei como vamos sair dessa.
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CAPÍTULO VINTE E DOIS :
UM INVERNO RIGOROSO
my head is a jungle


"Não é o mundo que é cruel.
São as pessoas que estão nele."
── Nora Sakavic






INVERNO⠀─ ⠀DEZEMBRO 06, 16:20
⠀⠀⠀⠀⠀Silver Lake, Colorado
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A VISTA DE SALLY SE enche de água enquanto ela esfrega suas mãos sobre a água gelada do rio. Força se polegar sobre suas juntas, fazendo o possível para limpar o sangue seco que permaneceu grudado em sua pele por conta da noite anterior. Ela luta contra vontade de chorar ao fazer isso, tentando ser forte quando sente o pânico açoitando seu corpo, soltando suspiros quebrados enquanto arfa.

Seus dedos estão tremendo e ela quase não pode mais senti-los, pois o tempo não lhe favorece e o inverno tornou-se mais frígido naquela manhã. Mesmo assim Sally continua o que faz, continua insistindo até sua pele esteja avermelhada pelo esforço e não pelo sangue de Joel em suas mãos. Concentra-se unicamente nisso para que não possa deixar sua mente se voltar para o pior.

── Não sai... ── Murmura com os dentes cerrados, forçando-se a limpar uma mancha que permanece em sua mão esquerda. ── Por que isso não sai? ── A tristeza e a preocupação se transformam em frustração, dando lugar à raiva. ── Droga!

Ela bate a mão contra o chão de pedra do rio, sentindo uma leve dor pungente quando o faz, porém que logo passa quando seus dedos permanecem sobre a água.

── Sally... ── A vozinha miúda de Ellie chama seu nome com cautela, lembrando a Adams que a garota ainda está ali. A mais velha a encarava por cima do ombro. ── Tá tudo bem?

Não, era claro que não estava. Porém Sally sabia que Ellie apenas perguntou aquilo porque não sabia o que dizer. Não julgava a menina por isso.

Sally retira suas mãos dormentes da água enquanto assente. Não podia se deixar quebrar na frente da menina, não de novo. Era apenas as duas agora, precisava ser adulta, agir como adulta, tinha que tomar o controle da situação.

── Estou bem, não se preocupe comigo. ── Ela seca as mãos com um pano que retirou de dentro de sua mochila. ── Apenas... Continue vigiando.

Ellie faz o que Sally pede, observando a floresta à sua volta. Tudo o que há é o manto branco da neve que cobre toda aquele extenso terreno. Nada mudou desde que chegaram ao rio.

Após o dia anterior terrível que tiveram, tendo que fugir da Universidade às pressas, Joel acabou desmaiando pelo caminho. Ellie ficou desesperada, Sally não sabia o que fazer. Foi naquele estante, no meio do nada, que ela percebeu a gravidade de sua situação. Sem Riley, sem Joel. O que sobrou para Ellie era apenas ela.

Sally fez o possível para manter a calma. Ela puxou Joel para o seu cavalo, pediu para que a menina a ajudasse e as duas foram o mais rápido que conseguiram até a cidade mais próxima. Elas tiveram sorte de não ser um caminho longo, conseguiram chegar a uma casa antes de anoitecer e se estabeleceram no porão dela para poder tratar do homem.

Joel estava mal, mas Sally se sentiu pior quando viu que não tinha o necessário para tratar do homem em seu kit médico. Ela tinha linha e agulha para sutura-lo, mas não tinha os remédios certos para abaixar a febre dele. Estava fazendo o possível para Joel não acabar pegando uma infecção, cuidando dele da melhor maneira que poderia. Mas nem mesmo comida mais eles tinham.

As rações estavam chegando ao fim e conseguiram usar toda a água na noite passada, bebendo e usando-a para lavar algo. Por isso, mesmo que não gostasse da ideia de sair da casa, Sally decidiu que elas deveriam caçar. A residência em que ficaram era perto de uma floresta, então não estariam tão longe e poderiam voltar rapidamente caso fosse necessário.

Elas chegaram ao rio primeiro, enchendo as garrafas com água. Ellie parou para vigiar, já que segurava o rifle de Joel, enquanto Sally estava apenas com o arco e as flechas restantes. Enquanto lavava suas mãos, acabou ficando à beira de um colapso. Ela não havia dormido na noite passada, seus pensamentos voltavam para Riley o tempo todo. Também não ajudou que Joel murmurou o nome dela várias vezes enquanto dormia.

── Vamos continuar. ── Enquanto se levantava, Sally já estava com as luvas vestidas novamente e jogava a alça da mochila por cima do ombro, pegando novamente o arco.

── Pra onde vamos agora? ── Pergunta Ellie.

── Seguir em frente. Vamos tentar encontrar algo mais adiante. ── Sally já está começando a andar quando a responde e Ellie não demora para segui-la. ── Cervos ou coelhos. Qualquer coisa que tenha carne o suficiente para nós três. Fique atenta.

── Você está falando que nem a Riley agora. ── Murmura a garota. A Adams olha brevemente para ela por cima do ombro e suspira ao voltar-se para a frente novamente.

── Vamos tentar focar em achar um cervo, mas qualquer coelho também deve servir. ── Continua a mais velha. ── Significa menos carne, mas se pegarmos pelo menos dois vai ser o suficiente para hoje e a amanhã.

Sally também não pensava que comeria muito, poderia deixar a maior parte e tudo o que sobrasse para Ellie e Joel. Se tudo corresse como o planejado, amanhã mesmo ela estaria deixando os dois para poder ir atrás de Riley.

No dia de ontem ela havia dito para Ellie que precisava ir atrás da irmã, a menina entrou em desespero com a ideia, por isso Sally a descartou por um tempo. Precisava ao menos ter certeza que Joel estava melhorando antes de partir. Sem progresso da parte do homem, a garota acabaria ficando desprotegida. Joel precisava de antibióticos que eles não tinham e a única com o mínimo treinamento médico era a Adams.

Após conseguirem comida, seus próximo objetivo era vasculhar as casas das redondezas. A casa em que estavam não tinha mais nada de útil e as duas já haviam revirado tudo de cabeça para baixo quando precisaram na noite passada. Agora o que restava era avançar mais um pouco, até que conseguissem encontrar algo útil.

Durante o caminho que percorrem, não demora muito para um coelho aparecer. Ele é cinza e de um tamanho médio. Está perto de uma árvore alta e cheia de neve. Sally pede para que Ellie pare e que lhe deixe assumir a liderança. A mais velha coloca uma flecha sobre o arco, o ergue até uma altura confortável, acostumada com o que faz, e prepara-se para atirar.

O animal está completamente disperso, ele não nota as duas as distância. Seu foco está completamente em algo que encontrou no chão coberto pela neve. Ele cheira algumas vezes, concentrado no que faz. Quando o coelho se ergue para cheirar o ar e vira sua cabeça na direção delas, Sally dispara a flecha que atravessa seu estômago e o prende ao chão.

── Uau. ── Ellie exclama. ── Isso foi foda. Eu nunca conseguiria atirar dessa distância.

── Isso leva tempo e prática. Não aprendi a usar o arco do dia pra noite. ── Sally responde, caminhando até o animal morto. ── Você pode utilizar o arco depois para treinar, se quiser.

Ela arranca a flecha do corpo do animal primeiro, limpando a parte ensanguentada em sua calça antes de guarda-la na aljava. Sally segura o animal pelas pernas e o prende em um gancho em sua mochila, deixando para esfola-lo quando estiverem de volta a casa segura.

Ellie nota o cervo antes de Sally, que está olhando na direção contrária a Williams. Ela se anima com isso, agindo antes de anunciar a Adams o que havia encontrado. Sally apenas escuta a movimentação dela e volta-se para a jovem quando a vê se afastar.

── Ellie, volta aqui! ── Ela exclama.

── Shh. ── Ellie responde, pedindo silêncio. Enquanto se deita no chão para ter uma melhor visão com o rifle, aponta na direção do cervo.

Sally fica surpresa quando vê o animal e compreende o que a menina está tentando fazer. Agacha-se um pouco e caminha com passos cuidadosos até Ellie, buscando não fazer um barulho alto para assustar o cervo. Ele está longe e distraído, mas ainda assim pode acabar se assustando qualquer movimentação brusca.

── Mantenha suas mãos firmes. ── Sally a instrue, quando deita-se ao lado dela. ── Respira profundamente e se concentre.

── Eu sei o que estou fazendo. ── Murmura Ellie em tom de irritação.

── Essa é a sua primeira vez atirando com essa coisa.

── E você nunca nem usou uma dessas. ── A garota retruca, encarando-a.

── Ok, desculpe. Não vou falar mais nada. ── Adams ergue as mãos em uma falsa rendição e deixa que Ellie retorne ao trabalho.

A Williams se concentra, fechando apenas um olho para poder manter o outro na mira do rifle. Ellie respira profundamente, fazendo com que solte uma fina camada de ar pela boca enquanto prepara-se para atirar. Quando o faz, ela é incrivelmente precisa.

Acerta o cervo no estômago, deixando Sally surpresa. O animal chega a cair uma vez, mas logo põem-se de pé e começa a correr, assustado e ferido.

── Merda. ── Pragueja Ellie, colocando-se de pé. ── Eu não acredito.

── Você foi bem. ── Sally fala, enquanto as duas vão atrás do cervo. ── É um tiro fatal. Ele vai sangrar bastante até morrer. Não vai durar muito. Só temos que seguir os rastros.

Elas atravessam a floresta atrás do animal, seguindo os rastros de sangue que ele deixa pela neve. Sally e Ellie passam por dentre as árvores, desviando de galhos e troncos caídos pelo chão, indo atrás do animal ferido com passos apressados. É difícil correr na neve, ainda mais quando se tem uma arma em suas mãos. A menina encontra certa dificuldade, por isso Sally tenta não ser tão rápida.

Ela mantém um ritmo que Ellie possa acompanhar, mesmo ficando um pouco ofegante por conta de pressa. Poderia se oferecer para segurar a arma, mas não confiava em si mesma com uma. O máximo que podia evitar segurar qualquer arma de fogo, Sally evitava.

Elas correm atrás do cervo por um longo tempo, um tempo maior do que Sally havia calculado. Parecia que aquele cervo em específico estava disposto a lutar bastante antes de morrer pela perda de sangue, praticamente andando por caminhos aleatórios pela floresta, perdido e sangrando até a morte. Porém não se afastou muito da cidade. Seria um caminho longo, mas Sally havia percebido que passaram pela mesma árvore duas vezes durante aquele processo contínuo de seguir o animal.

Quando finalmente o encontraram, Sally quase sugeriu que voltassem. Havia dois homens perto do cervo morto. Os dois estavam de costas para elas, vestindo roupas de frio e com mochilas nas costas. O mais alto estava com uma touca, enquanto o mais baixo estava sem, mostrando seu cabelo claro.

── Para. ── Ellie exclamou antes mesmo que Sally pudesse reagir. Ela já estava apontando o rifle para eles que enrijeceram no momento em que aquelas palavras foram proferidas. ── Soltem suas armas agora!

Sally quer repreende-la, mas é tarde demais para isso. Acaba se contentando em seguir os passos da garota. Ergue o arco e puxa uma flecha da aljava, mantém a arma apontada para eles.

O mais alto as observa de lado, sem se virar na direção delas. Ele permanece onde está, depois lança um olhar para o homem ao seu lado, é quase como se esperasse pelas instruções dele. Esse pequeno detalhe deixa claro para Sally quem é a pessoa que comanda e arquiva essa informação em sua mente.

Seu olhar feroz passa pelos dois, aguardando qualquer movimento abrupto que eles queiram fazer. Se tem algo que Sally aprendeu é que pessoas são perigosas e não confiáveis ── principalmente homens. Seu instinto lhe diz para tomar cuidado.

O menor começa a soltar a arma primeiro e o mais alto o segue, deixando evidente o que Sally já esperava. Apenas o mais baixo mantém as mãos para cima em sinal de rendição após deixarem seus objetos no chão.

── Vira de frente pra gente. ── Ellie ordena e eles começam a fazer o que ela diz, ainda em completo silêncio. ── Devagar. ── Quando os dois estão de frente para elas, as duas começam a caminhar até eles. ── Um movimento brusco e eu meto uma bala no meio da cara. Do seu amiguinho também.

── São boas caçadoras. ── Diz o loiro com uma fala mansa. Ele não parece surpreso, mas também não aparenta estar disposto a lutar. ── Nem ouvimos vocês chegando.

── Virem-se e vão embora. ── Sally exclama, sem querer soar amigável.

── Ok.

── Vão logo!

── Olha só, ── ele continua. ── eu só peço 10 segundos do seu tempo. Eu só quero conversar.

── Eu te dou 5 para sair daqui, antes que eu me arrependa de tentar ser legal. ── A Adams responde. Ela está aflita por dentro, nervosa e preocupada com o que pode acontecer, mas não deixa isso evidente. Uma coisa que havia aprendido com Riley era sempre tentar ser o mais intangível o possível na frente de estranhos.

Nunca deixe claro suas fraquezas, mesmo que esteja sentindo medo. Tudo o que ela precisava fazer era se manter firme e encontrar a melhor saída da situação.

── Por favor, 10 segundos. ── Ele implora. ── O meu nome é David. Esse é meu amigo James. ── Ele apresenta os dois. ── Somos de um grupo grande de mulheres, crianças, e estão todos com muita, muita fome.

Isso toma a atenção de Sally. Ela pensa no que aquele grupo pode estar passando durante esse inverno rigoroso, pensa nas dificuldades que encontram. Porém não quer se deixar abater pelas palavras dele. Quase consegue escutar as palavras de Riley em sua mente, exatamente o que sua irmã diria em uma situação como aquela.

── Sério? ── Ela soa incrédula. ── Quer mesmo que eu acredite na sua historinha triste? "Oh, nosso grupo está passando fome, por favor nos ajude. " ── Sally debocha. ── Não vou cair nessa.

── Não estou mentindo para vocês, eu juro. ── David responde. ── James e eu saímos para caçar, justamente para conseguir algo para alimentar o nosso grupo. Esse inverno não tem sido fácil, o que restou não é o suficiente para alimentar ninguém.

── Isso não é problema nosso. ── Disse a Adams. ── Também estamos com fome, também fazemos parte de um grupo grande. Vocês não são os únicos passando por um período dificil.

── Tudo bem, eu entendo. Mas vocês não vão conseguir arrastar esse cervo sozinhas, ele é bem pesado.

── Não se preocupa com isso. Somos mais fortes do que você imagina. ── Sally estreita os olhos para ele, mantendo o arco mais alto. Um aviso silencioso de que sua paciência está acabando. Ela não quer atirar, mas precisa manter o teatro que está encenando.

── A gente não está pedindo esmola. Podemos trocar por parte do cervo. ── David sugere. ── O que vocês querem? Temos... botas-

── Remédio? ── Ellie questiona mais rápido do que Sally pode acompanhar. A mulher a encara, pega de surpresa. ── Tipo para a infecção?

── Nós temos. ── Sally volta a encarar o homem. ── Lá na cidade. Vocês... Podem ir com a gente.

── Não vamos com vocês pra lugar nenhum. ── Responde a Adams. ── O seu amigo pode buscar. Quando ele voltar, vocês levam a metade.

A ideia não agrada Sally totalmente, mas aquela aparenta ser a melhor chance que elas tem agora. Joel precisa de um remédio que elas não tem e aqueles homens podem consegui-lo ── se não estiver mentindo. Era difícil ter certeza. David aparentava não estar mentindo, mas também não parecia ser confiável.

Algo na forma como ele olhava para as duas, na forma como queria ser amigável, deixava Sally desconfortável e sempre em alerta. Riley sempre dizia para ela desconfiar de tudo e todo mundo e era isso que estava fazendo agora. Não confiava nele, não confiava em nenhum dos dois.

── Se mais alguém aparecer, eu meto uma bala bem-

── Bem no meio da cara. Tá, eu já entendi. ── Completa David, antes que Ellie possa terminar sua ameaça.

Sally nota que ele não as está levando 100% a sério. Ele não as vê como uma ameaça real, pelo menos quando encara Ellie, o olhar dele suaviza. É estranho e Sally não gosta disso, acha que precisa manter o foco dele nela, pois a garota é apenas uma criança. Sally precisa protegê-la. Precisa tomar o controle da situação para si.

Porém ela não causa medo nas pessoas, não é alguém para se temer. Mesmo agindo como Riley, Sally não é como sua irmã mais velha. Não é ameaçadora e durona, por isso precisa encontrar outros meios de lidar com aquela situação, de conseguir o que quer sem colocar as duas em perigo ou acabar atraindo aqueles dois e seu grupo para onde estão escondidas.

── Olha só, vai. ── David se vira para James. ── Fala com o Howard. Ele tem uma maleta com penicilina ── Ele olha brevemente para elas. ── Trás duas garrafinhas e uma seringa.

James aparenta não compreender aonde David quer chegar. Ele espera alguma coisa implícita na fala do homem, porém não encontra.

── Não é um código, James. ── Responde David. ── Faz o que eu mandei.

Eles se encaram por um tempo, até que James olhe para elas e decida de afastar. O tempo todo em que ele parte, Ellie mantém a mira do rifle sobre ele, seguindo os passos do homem até que ele suma.

── 10 passos para trás. ── Sally ordena a David, assim que fica apenas os três naquele lugar.

O loiro obedece e dá exatos 10 passos para trás. Enquanto ele se afasta, elas se aproximam até que estejam perto da arma que David jogou no chão. Sally se agacha e retira todas as balas da arma, descartando cada uma pela neve, deixando-a totalmente vazia por precaução.

── Essa é a arma do seu pai? ── David pergunta a Ellie. ── É ele quem está doente?

── Não tenta puxar assunto com ela. ── Sally disse. Aponta novamente o arco na direção do homem. ── Sem gracinhas.

── É uma viagem de 6 quilômetros até a nossa cidade. ── Ele responde. ── Vamos ficar muito tempo por aqui esperando, estou tentando ser amigável.

── Não tente. ── Retruca Sally. ── Não queremos a sua amizade.

── Ok, tudo bem. Eu aceito isso. ── Ele assente. ── Você é uma mãe que se preocupa com a sua filha, aprecio isso. ── David é cordial ao falar. ── Mas juro que não sou uma ameaça a vocês. Não quero fazer mal a nenhuma das duas. Sei o que é estar perdido e sozinho.

Sally não o responde, permanece da maneira em que está, sem deixar transparecer qualquer empatia pelo homem. Também fica um pouco a frente de Ellie, agindo de maneira protetora.

── Eu tenho óleo e fósforo na mochila. ── David disse, enquanto a menina descarregava o pente da arma de James. ── Podemos nos abrigar e fazer uma fogueira. Vai ser melhor do que ficar aqui no frio, esperando até que o James retorne.

Sally pensa em responder friamente, indo contra a ideia de David, mas eles escutam um estalar à distância. Os três olham da direção de onde aquele "click" veio, porém não encontram nada há nao ser o balançar das árvores. Por um momento Sally acha que apenas se enganou, que fora apenas um galho se quebrando. Porém o som se repete várias vezes em seguida, mostrando-se ser um sinal claro de que deveriam sair dali.

Por dentre os galhos que se projetam dos arbustos com neve, surge o primeiro infectado ── um estalador ── assustando as duas mulheres. David não se move quando o vê, permanecendo no lugar em que está. Sally atira uma flecha na cabeça dele e em seguida puxa mais uma e atira mais uma vez, perfurando o crânio. O infectado cai no chão, desaparecendo da linha de visão deles.

── Ellie, fica atrás de mim. ── Adams guia a garota para suas costas, porém Ellie permanece com a arma apontada para a área ao redor delas, zoneando em busca de mais infectados.

Elas estão olhando para a esquerda, porém o corredor aparecer pela direita. Ele surge abruptamente, correndo pela neve, grunhindo e chorando quando o faz, indo na direção delas. Sally se assusta e está perto de disparar uma flecha, quando uma bala atravessa o crânio do infectado.

A direção de onde ela vem indica que não foi Ellie quem fez o disparo, fazendo com que Sally vire-se para David. Ele segura uma pistola e a abaixa devagar, sem desviar o olhar do infectado que acabou de matar. Quando nota o olhar de choque das duas sobre ele, o homem finalmente encara as duas.

── Aceitam minha oferta agora? ── Ele questiona, soando presunçoso.

O choque dá lugar a raiva e as feições de Sally se aprofundam em total descontentamento. Ela aponta o arco com a flecha restante para ele, Ellie ergue o rifle na direção dele.

── Joga essa arma pra mim. Agora! ── Ordena.

David bufa, mas não reclama. Ele joga a pistola na direção a Sally e mantém suas duas mãos levantadas em tom de rendição.

── Só estava tentando ajudar.

── Não pedi pela sua ajuda. Eu tinha a situação sobre controle. ── Ela responde. Sally pega a arma, mesmo não gostando da sensação da mesma sobre seus dedos. A guarda em dos bolsos de sua mochila, enquanto Ellie ainda faz o trabalho de manter David sobre a mira do rifle.

── Sim, claro. Mas, as vezes, todos nós precisamos de uma mão amiga. ── Disse o homem, soando cordial. Sally estava começando a odiar a forma como ele falava com elas. ── Minha sugestão ainda está de pé. Aqui fora não é seguro. ── Ele aponta para o que antes deveria ser uma estação de caça ou as ruínas dela. ── Podemos ficar ali dentro.

Sally e Ellie se entreolham em uma conversa silenciosa, a menina aparentando estar mais preocupada que ela. Adams sabia que Ellie faria tudo o que ela fizesse, Williams confiava nela e só esperava para saber o que Sally acharia o melhor a se fazer.

Respirando profundamente, Sally decidi ceder. Encara David novamente, mantendo um olhar nada amigável, deixando que ainda não estava disposta a confiar nele.

── Vamos pra estação, mas você vai levar o cervo junto. ── Sally disse para ele. David assente. ── E não tente nada, entendeu? Não vou hesitar em atirar em você.

── Tudo bem. ── Responde ele.

David arrasta a carcaça enquanto as duas o seguem, mantendo-o sempre sobre a mira de suas armas. A estação não está longe, porém eles demoram um pouco para chegar até ela por conta do cervo. O animal pesa e por mais que David consiga arrasta-lo, a neve não ajuda.

Quando eles finalmente chegam, Sally contém um suspiro de alivio por estar fora do frio congelante. A estação é feita de madeira, tem muitos buracos e é bem antiga, mas ainda assim é melhor do que o lado de fora. Eles deixam o animal em um canto próximo e se sentam no centro, onde David pode acender a fogueira que prometeu.

Ellie e Sally sentam-se de frente para ele, mantendo seus olhos grudados em cada movimento do homem que ainda não confiam. A garota está sem sua mochila, porém Sally saiu com a sua. Mesmo ali, ela não tira o objeto das costas. O arco descansa em seu colo e a flecha foi devolvida a aljava presa em sua mochila, enquanto Ellie deixou o rifle sobre suas coxas e o segurava na direção de David.

── Vocês duas realmente não deveriam estar aqui sozinhas. ── David é o primeiro a quebrar o silêncio entre elas, visto que nenhuma das duas falaria nada.

── Digo o mesmo de você. Não deveria estar aqui sozinho. ── Sally responde. Ellie permanece em silêncio, deixando que a mais velha conduza a conversa, ela apenas observava com atenção.

── É justo. ── David disse com um sorriso de lado e aquecendo suas mãos no fogo. ── E como vocês se chamam?

── Pra que quer saber?

── Eu compartilhei com vocês o meu, o mínimo que podem fazer é retribuir o favor.

── Você não precisa saber nossos nomes, não vamos nos ver mais depois que seu amigo chegar com o remédio. ── Sally retruca.

── É difícil confiar em estranhos, eu sei. ── Ele afirma. ── Mas eu não quero fazer mal a vocês duas. ── Sally parece incrédula e David nota isso. ── E só para constar, tem espaço para vocês no grupo.

── Adorável, mas passamos. ── Ela responde.

── Não queremos nos juntar ao seu grupo da fome. ── Ellie completa, soando ofensiva. David não se deixa abater pelas palavras dela, nem sequer parece ofendido.

── Realmente, estamos com fome, mas ainda estamos aqui. ── Retruca, encarando as duas. ── Eu sou um cara legal. Só quero cuidar das pessoas que contam comigo.

── Você é o líder? ── Questiona a mais nova.

── Não por escolha minha. Foram eles, mas... Sou.

── Eles escolheram te seguir. É tipo... uma seita esquisita? ── Indaga a jovem.

── Eu acho que agora você me pegou. ── Ele diz, rindo fracamente. ── Sou pastor, mas só falo coisas básicas da bíblia.

── O padre Matthias também falava tantas coisas básicas da bíblia. ── Sally comenta em tom de deboche, referindo-se as várias vezes que o homem justificou os acontecimentos atuais com passagens bíblicas e tentou entrar na mente das pessoas, fazendo-as acreditar que deveriam aceitar de bom grado o cordycerps.

David maneja a cabeça de um lado ao outro, ponderando.

── Ele tem a sua fé e a utiliza da maneira que lhe agrada, acha que está ajudando as pessoas da sua própria maneira. Talvez tenha sido a forma como encontrou para lhe ajudar com o caos dentro da própria mente. ── David responde. ── Mas eu não sou como ele, lhes garanto isso. ── Elas o encaram por um tempo, ainda parecendo incrédulas. ── O que foi?

── O mundo acabou e você ainda acredita nessa merda. ── Sally responde. ── Fé.

── Comecei a acreditar depois que o mundo acabou. ── Disse David, abaixando as mãos enluvadas e aquecidas para longe do fogo. ── Antes disso eu era professor de matemática, dava aulas para criança da idade dela.

── E você foi de professor a pastor por que? Só por que rima? ── Ellie indagou.

── É, isso ai. ── David assentiu, sorrindo. Ellie também conteve um sorriso com a resposta dele.

Sally não gostava da forma como Ellie começava a soar confortável perto dele, quase como se o homem estivesse ganhando a confiança dela. Isso a deixou tensa, precisava remediar a situação.

── Agora fala sério.

── Bom, eu encontrei Deus depois do apocalipse. Pode ser a melhor hora ou a pior hora para encontrar, não sei dizer. ── Ele fala. ── Quando a ZQ de Pittsburgh caiu em 2017 com Vaga-lumes contra a FEDRA, ── David suspira. ── eu fui embora com algumas pessoas, incluindo o meu sobrinho, e foi assim que formamos o rebanho.

── Você está bem longe de Pittsburgh. ── Comenta a Adams.

── Sim. A gente tentava se estabelecer, ladrões atacavam e a gente se mudava de novo. ── Responde David. ── No caminho a gente acabou conhecendo mais pessoas até que a gente veio parar aqui.

── Bom, a sorte ia acabar em alguma hora. ── Sally disse.

── Ahn, sorte? ── Ele indaga. Em seguida nega com a cabeça. ── Não existe isso de sorte. Não, eu acredito que tudo acontece por um motivo. ── Ellie não acredita nas palavras dele e o olhar de Sally é claramente em descrença. ── É sério. Acontece e eu posso provar.

── Então prova. ── Ellie disse, sorrindo fracamente.

David aceita o desafio dela, ajeitando-se em seu lugar.

── Ninguém esperava que o inverno fosse tão cruel. Nada cresce, é difícil de caçar. ── Ele começa a falar. ── Eu mandei quatro pessoas nossas para uma cidade aqui perto com o intuito de ver se achavam alguma coisa. Mas só três pessoas retornaram. O cara que não voltou era pai. Tinha uma filha que nem você, mas tiraram o pai dela. E pelo visto, quem matou ele, foi um cara maluco.

O olhar de Sally se intensifica, a mão que segura o arco aperta sobre o cabo. Algo lhe diz que ela não vai gostar do fim dessa conversa.

── E escutem essa. ── Prossegue David. ── O tal maluco estava viajando com uma garotinha e uma mulher. ── Ele olha de Ellie para Sally quando fala. Sorrindo amplamente para as duas, quando elas entendem onde ele quis chegar. Sally tenta conter o frio na espinha quando aquele sorriso dele a lembra de alguém desagradável de seu passado. ── Viram? Tudo acontece por um motivo.

Ellie e Sally ficam de pé no instante em que David termina de falar. James está em uma das entradas atrás delas, segurando uma pistola e apontando o mesmo na direção das duas. Ellie aponta seu próprio rifle na direção dele, enquanto Sally coloca uma flecha no arco e aponta para David, intercalando seu olhar entre os dois homens presentes.

── Foram elas que mataram o Alec, não foi? ── James questiona.

── Elas não mataram ninguém. ── David responde, sem sair de seu lugar. ── Abaixa essa arma. ── Mesmo a contragosto, James obedece. ── Você trouxe os remédios?

── Trouxe, mas-

── Joga para elas. ── Ordena o loiro.

── David. ── James deixa evidente que não concorda com a ideia dele, porém o homem está impassível quanto a sua decisão. Enquanto isso, Sally e Ellie permanecem na defensiva.

James leva a mão ao bolso do casaco e retira um pequeno pacote. Os remédios e a seringa estão envoltos em um pano, presos com uma corda pequena. James o joga no chão de madeira, próximo aos pés de Ellie.

── Vai para trás! ── Ordena a garota e ele obedece. Ellie pega o pacote, tentando ser rápida, porém estando bastante nervosa para isso.

── Eu sei que não estão com um grupo. ── David fala enquanto elas se movem. Sally se aproxima de Ellie, ainda com o arco e a flecha apontados para o loiro. ── Não vão sobreviver muito tempo por ai. Posso proteger vocês. Posso proteger ela.

── Cala a boca, caralho. Não queremos a sua maldita proteção. ── Sally responde, exclamando as palavras com raiva. ── E se vier atrás da gente, qualquer um de vocês dois ou outro alguém do grupo de vocês, eu vou matar, entendeu? Foda-se todos vocês. Não vou hesitar em acabar com qualquer do seu grupinho de merda.

Sally empurra Ellie em direção a uma outra saída, oposta aquela em que James está. Elas vão embora correndo dali, sem olhar para trás e deixando os dois homens naquela estação de caça, decidas a ir para o mais longe o possível deles.

Adams faz com que Ellie ande em zigue-zague algumas vezes, elas pegam o caminho mais longo e apagam algumas pegadas. Por mais que seja arriscado, faz isso para tentar confundi-los caso decidam ir atrás delas mais tarde. Sabe que, caso eles decidam procura-las, não vai ser complicado encontra-las. Só há uma cidade próxima e deve ser o primeiro lugar onde iram procurar, mas ainda assim ela faz como Riley havia lhe ensinado.

Pelo menos teriam um tempo antes que a situação se tornasse mais agravante.

Quando finalmente chegam na cidade, elas vão diretamente para a casa onde estão se abrigando ── Sally fazendo questão de apagar seus rastros por ali também. Elas entram e vão direto para o porão onde deixaram Joel. Os cavalos estavam abrigados na garagem, onde poderiam ficar seguros e aquecidos.

A primeira coisa que fizeram foi deixar suas armas de lado. Sally retirou a mochila e se aproximou de Joel, que dormia pacificamente no colchão que trouxeram e coberto por um coberto quente. Sally levou a mão até a testa dele, sentindo o quão quente ele estava.

── Ele ainda está com febre. ── Ela comenta. ── Me entrega os remédios. Precisamos medica-lo o quanto antes.

Ellie retira o pacote do bolso do seu casaco e entrega para Sally, ficando de joelhos ao lado oposto de Joel o qual a Adams está. Sally desembrulha o pacote e pega o remédio e a seringa. Ela deixa um frasco de lado e segura apenas um na mão, balançando o liquido dentro do vidro e checando como ele está.

Enquanto Sally prepara a injeção, até mesmo checando se é realmente o remédio que precisam, cheirando o conteúdo dentro do fraco, Ellie puxa o cobertor de Joel até a cintura. Ela sobe a camisa dele, deixando a mostra o estômago do homem e o ferimento do lado esquerdo que agora está costurado.

Sally adiciona o remédio a seringa, bate os dedos de leve contra o vidro do objeto até que o líquido esteja posto corretamente e então respira fundo. Ela abaixa seu olhar para Joel, implorando aos céus que dê certo, pois sabe que precisam sair dali o quanto antes agora. Pressiona a agulha próximo ao ferimento dele e injeta, ouvindo quando Miller grunhe algumas vezes.

Ellie segura o braço direito dele, encarando o homem com total aflição e pesar em suas feições. Ela está aflita, preocupada com ele. Sally nota como ela não desvia o olhar uma vez sequer, mas tenta permanecer com o foco no trabalho que exerce. Quando todo o remédio é injetado nele, Adams retira a seringa devagar e a cobra no embrulho novamente. Arruma a roupa de Joel, deixando sua camisa o cobrindo novamente e sobe o edredom até próximo a garganta dele.

── Acha que ele vai melhorar agora? ── Ellie pergunta em um murmúrio baixo.

── Ele deve melhorar. ── Sally responde, levando as costas da mão até a testa dele para sentir a temperatura que ainda está alta. ── Mas vai demorar um tempo até fazer efeito.

── Quanto tempo?

── Algumas horas. ── Ela se levanta e vai em direção a sua mochila. ── Pela manhã a febre já deve ter abaixado. Não vai estar 100%, mas a infecção vai estar contida. Só temos que esperar.

── E a gente tem tempo pra esperar? ── Ellie se senta no chão, perto de Joel. ── O que vamos fazer se aqueles homens chegarem até aqui?

── Eu não sei. ── Sally retira o coelho que pegou e o deixa no chão. ── Sinceramente Ellie, eu não sei. Não sei o que vamos fazer.

Ellie fica em silêncio por um tempo, contemplando o nada. Sally retira sua faca de sua mochila.

── Queria que a Riley estivesse aqui. ── Ellie comenta, fazendo a Adams parar seus movimentos no meio do caminho. ── Ela saberia o que fazer.

Sally engole o seco com a menção de sua irmã.

── É, ela saberia. ── Responde Sally. ── Qualquer um dos dois saberia.

Suspirando, termina de fechar sua mochila e puxa colchão de um canto. Ellie sai de perto de Joel por um momento, deixando que a mulher arrume a cama ao lado dele.

── Durma um pouco. ── Ela instrui Ellie a se deitar. ── Eu vou lá em cima limpar o coelho, não quero que aqui fique fedendo. Vou aproveitar e fazer algo para a gente comer. Acordo você quando estiver pronto.

Ellie concorda com ela sem reclamar, deitando-se no colchão enquanto Sally a cobre com seu próprio cobertor que está emprestando para a menina. Assim que ela está confortável, a Adams pega o animal morto e vai até as escadas. Quando começa a subir para no meio delas e olha para os dois. Ellie se aproximou de Joel e deitou a cabeça no ombro dele, quase próximo ao peito.

A garota fechou os olhos, respirando profundamente enquanto buscava conforto no homem debilitado ao seu lado. Por sua vez, a cabeça de Joel acabou tombando um pouco e sua bochecha estava encostando no topo da cabeça dela. Sally sorriu minimamente vendo a cena.

Ela voltou a subir as escadas e fechou a porta de devagar para não incomodar nenhum dos dois. A entrada do porão dava diretamente na cozinha bagunçada e revirada da casa. Sally apoiou o coelho sobre o balcão, que não estava completamente limpo, porém era única superfície que tinha para deixar o animal.

Sally encara o coelho primeiro, percebendo como a adrenalina começou a se dissipar em seu corpo. A faca permanece em sua mão e ela a segura como se estivesse perto de começar a esfolar o animal, mas também não sabe por onde começar. Havia feito isso milhares de vezes antes, ela viu Riley fazer isso milhares de vezes antes, porém não conseguia se concentrar.

Olhou para a janela vendo que agora começava a escurecer. A neve começou a cair novamente, uma pequena tempestade que se formará, indicando que seria uma noite fria. Mais uma noite fria sem qualquer notícia de Riley. Mais uma noite que não conseguiria dormir.

Ela sentiu o peso em seus ombros tornando-se maior, a forma como seus olhos começaram a arder. Encarou o coelho sobre a mesa mais uma vez, morto e imóvel. O sangue ao redor da ferida já havia secado, assim como a neve em seu pelo. Sally levantou a mão com a faca com o intuito de começar a esfola-lo, mas não conseguiu prosseguir. Apoiou as duas mãos sobre o balcão e começou a chorar.

Sally aproveitou que estava sozinha para isso e deixou toda a sua frustração sair daquela maneira. Apenas por um momento, decidiu ser fraca o suficiente para chorar sozinha, onde os olhos curiosos e preocupados de Ellie não poderiam vê-la. Não poderia quebrar na frente dela novamente.

INVERNO⠀─ ⠀DEZEMBRO 07, 9:00
⠀⠀⠀⠀⠀Silver Lake, Colorado
⠀⠀⠀⠀

A manhã chegou rápido, porém Sally praticamente não a viu passar. Ela cochilou durante a noite, em algum momento após o jantar, mas não dormiu muito. Havia passado a madrugada vigiando a casa e tentando falar com Riley pelo rádio. Nenhuma das suas chamadas foram atendidas.

Sally também foi esperta em não falar muito até que alguém atendesse do outro lado da linha. O máximo que dizia era 'oi' ou questionava se alguém estava escutando. Pensou que seria melhor do que dar muitas informações ── apenas para o caso de Riley estar em perigo ou ter perdido o rádio no processo de fuga. Se o walkie talkie estivesse com alguém que não fosse sua irmã, Sally não queria cometer o erro de entregar sua localização.

Também aproveitou para fazer alguns desenhos em seu diário, mas não conseguiu ficar com ele em mãos por muito tempo quando viu os desenhos de Henry e Sam que havia feito a muito tempo atrás. Ainda doía encara-los e Sally sentia-se mau apenas de lembrar da forma como tudo terminou. Sentia tanta falta deles da mesma forma que sentia de Bill e Frank.

Acabou desenhando no caderno de Riley. Durante o tempo em que passaram na estrada, esqueceu de devolver o diário de sua irmã quando o pegou por uma segunda vez, após desenhar os vaga-lumes. Sally não leu nada do que estava escrito, decidindo preservar a privacidade de Riley. Apenas fez alguns desenhos nas páginas. Desenho Ellie, Joel e Riley em algumas, mas nunca desenhou a si mesma.

Desenhou borboletas ── pois sabia que sua irmã mais velha gostava ── e uma árvore caída que viram quando estavam na floresta caçando no dia de ontem. Sally passou muito tempo rabiscando as paginas, aperfeiçoando seus traços. Focou nisso por muito tempo até Ellie acordar. Quando a menina levantou, compartilharam um café da manhã silencioso, conversando pouco entre si. Assim que terminaram, quando os primeiro raios da manhã estavam altos no céu, Sally checou como Joel estava e aplicou uma segunda injeção nele.

Ele estava menos quente, porém ainda inconsciente. Quando ela o tocou para ver o ferimento, durante seu sono, acabou chamando o nome de Riley novamente. Esperava que pelo menos em seus sonhos ele conseguisse encontra-la.

As duas subiram depois disso. Sally pegou um balde e juntou neve para os cavalos. Ellie os alimentou com umas frutas que elas encontraram na caçada de ontem e os deixaram se alimentar disso, neve e cerejas. Era tudo que poderiam prover para aquele animais naquele momento, deixando um de cada vez se aproximar do balde de metal.

Enquanto Ellie fazia isso, Sally estava parada na frente da garagem, observando a cidade e a paisagem ao redor. Tudo parecia pacífico como sempre. Aquela era mais uma cidade fantasma e esquecida por Deus. Nem mesmo os animais se aproximavam daquele lugar e elas podiam escutar a movimentação do vendo a distância.

Sally caminha até o meio fio, passando a sola do sapato sobre a neve, enquanto suas mãos estão sobre a cintura e ela apenas aprecia aquela manhã. Ainda não se sente totalmente em paz, sabe que só terá tranquilidade quando Riley retornar e Joel ficar melhor, porém precisava dar um momento para si mesma onde apenas pudesse respirar fundo.

Ao fazer isso, escuta Ellie se aproximando. Seus passos são calmos, porém desleixados.

── Já fez anjos de neve? ── A garota a questiona, fazendo com que Sally a encare. ── É bem legal.

Sally acaba sorrindo.

── Eu já fiz algumas vezes. Todo natal era a mesma coisa. Bonecos de neve e anjos de neve na frente de casa. ── Ela responde. ── Mas não quero fazer isso agora. Vou acabar toda suja e molhada quando a neve derreter na minha roupa.

── Ah, qual é, Sally? Vai ser divertido. ── Ellie tenta convencê-la. ── E você só vai molhar o casaco. Podemos colocar para secar lá dentro depois.

── Não vou fazer isso, Ellie.

A mais nova bufa em total irritação e Sally não pode negar que se diverte com a reação dela.

── Tá bom, quem vai perder é você. ── Disse a garota, deitando-se de costas no chão.

Sally acaba rindo enquanto Ellie abre os braços e as pernas e começa a movimentá-los para cima e para baixo, fazendo um anjo sobre a neve.

── Tá vendo? É divertido. ── Disse a Williams, sorrindo.

── É, eu to vendo. ── Responde Sally, bem humorada. ── Muito divertido. Mais divertido que isso, impossível.

Ellie dá a lingua para ela, por conta da resposta ironica de Sally. Quando acha que já está bom o suficiente, levanta-se para poder encarar a obra que fez sobre a neve.

── Esse é o meu... anjo de neve. ── Declarou Ellie, um pouco ofegante. ── Ele não gosta de você, porque você não quis dar um parceiro para ele.

── Diga para o seu anjo de neve ir se foder, por favor. ── Sally responde e Ellie a empurra, fazendo-a rir. ── Muito maduro da sua parte, eu diria.

── Cala a boca, Sally.

Ellie tenta ficar brava, mas não consegue, ela acaba rindo também. Aquele momento descontraído serve para tirar a mente das duas dos problemas, porém não dura muito tempo.

Enquanto estão rindo, pássaros começam a grasnar a distância. As risadas começam a morrer quando Sally observar eles voando a distância. Um pequeno grupo partindo de dentre das árvores, atraindo o olhar curioso da mulher para aquela movimentação inesperada.

Sally acaba caminhando na direção de onde os pássaros voaram.

── Sally. ── Ellie a chama quando a observar se afastar.

── Fica aqui. ── Ela ordena. ── Eu já volto. Não sai daqui.

Ao frisar sua ordem, Sally olha para ela brevemente por cima do ombro, checando se Ellie está onde deveria e encontra o olhar preocupado da garota. Adams continua indo para a frente, escondendo-se atrás de um carro amarelo estacionado perto da calçada por pouco tempo. Ela está agachada agora e anda por dentre as árvores para chegar até o muro de madeira de um parquinho.

Passa rente a ele, porém para quando vê o que a deixa em alerta máximo. A distância, Sally vê um grupo de homens passando. Ela não consegue ver o rosto deles por conta das árvores bloqueiam sua visão, porém consegue ver as pernas deles enquanto passam. Ela também não precisa de muito para ter noção de quem eles são. Os homens do grupo de David e talvez até o próprio esteja naquele meio. Sally não fica para ter certeza.

Ela dá meia volta e retorna pelo caminho que percorreu para chegar até ali, escutando a forma como seu coração está batendo intensamente agora. O som quase reverberando em seus ouvidos, inundando-a de preocupação enquanto retorna até Ellie e a força a voltar para casa.

── Sally, o que foi? O que aconteceu? ── Ellie questiona enquanto Sally a empurra para dentro da garagem.

── São eles. O grupo do David. ── Ela responde ao descer a porta. ── Estão aqui agora, procurando pela gente. ── Sally a encara. ── Procurando pelo Joel.

Elas não tem tempo para permanecer ali, por isso saem da garagem correndo e vão diretamente para dentro da casa. Ellie desce as escadas do porão na frente e vai diretamente até Joel, tentando a todo custo acordar o homem. Ela chama por ele várias vezes, porém os olhos dele não se abrem. Sally se agacha perto deles, coloca uma mão na testa dele quando nota que Joel está suando.

É um efeito positivo, confirma que o remédio está fazendo efeito. Um progresso que elas poderiam comemorar se a situação atual não fosse tão alarmante. Elas precisavam sair dali, mas carregar Joel para fora não era uma boa ideia. As duas quase não conseguiram arrasta-lo quando ele desmaiou na estrada e se atrasariam bastante com o homem desacordado sobre o cavalo. Naquele momento, Sally não sabia mesmo o que fazer.

── Joel, você precisa acordar! ── Ellie o sacode, dessa vez as pálpebras dele tremem um pouco, mas é um movimento lento e quase imperceptível. ── Acorda, caralho!

── Ellie, ele não vai acordar... ── Sally murmura.

── Então a gente precisa fazer alguma coisa. ── Disse a garota, encarando a mulher. ── Eles podem chegar aqui a qualquer momento.

Sally tem apenas uma ideia em mente.

── Eu posso despistá-los. ── Ela odeia a forma como soa como Riley agora. ── Vou atraí-los para longe de vocês. Pego um dos cavalos e vou para o mais longe o possível, chamando a atenção deles para longe.

── Não, isso é muito arriscado! Não pode fazer isso sozinha.

── E eu não posso arriscar a sua vida por isso. ── Sally responde entredentes. ── Precisa ficar aqui e cuidar do Joel. Eu posso lidar com eles, eu me viro. Não são muito, eu contei 6 deles lá fora.

── Você nem usa armas, Sally! ── Retruca Ellie. ── E eles devem estar todos armados. Você não pode ir. Eu vou no seu lugar. Eu faço isso.

── O que? Claro que não! Ficou maluca por acaso?

── Você sabe que eu posso fazer isso. Você tem que ficar com o Joel, é você quem tem o treinamento médico, não eu. ── Constata ela.

Sally está perto de retrucar quando Ellie se levanta. Não dá chance de Sally responder quando pega o rifle e corre até as escadas. A Adams poderia pará-la, sabe que é capaz disso, mas o pânico que envolveu seu corpo a deixa petrificada. A verdade era que Sally não queria sair e ter que encara-los, uma parte dela acha que realmente seria melhor se Ellie fosse.

A menina sobe as escadas apressadamente, ela é rápida enquanto age. Ellie chega até a porta e a abre. Ela não sai antes de se virar para Sally e encara-la.

── Cuida dele. ── Disse a menina.

A porta se fecha quando Ellie sai, deixando uma Sally perdida para trás. A mulher encara Joel, vendo os olhos dele semicerrados agora. Ela está arfando, sentindo suas mãos tremendo e começando a sentir o remorso pesando em seu corpo.

Sally passa a mão pelos cabelos exasperadamente, quase puxando os fios no processo.

── Merda, merda, merda! ── Ela pragueja.

Não deveria ser dever de Ellie ter que defende-las, deveria ser o contrário. Era para isso que Sally estava ali, era esse o seu trabalho, e mesmo assim Sally não conseguiu cumpri-lo. Achava que estava preparada para lidar sozinha com o mundo real, enfrentar seus próprios problemas sem Riley, mas não estava se mostrando capaz disso e isso fazia com que odiasse a si mesma por ainda ser tão fraca.

Enquanto está ali embaixo, chafurdando em auto piedade, Sally escuta disparos que a fazem olhar para cima. O som é distante, porém ainda pode escuta-los com clareza, assim como a comoção que acontece do lado de fora.

Sally limpou o rosto furiosamente quando percebeu que derramou algumas lágrimas. Ela encarou Joel, mas uma vez, os olhos dele estavam quase se fechando mais uma vez. Tomada por uma coragem insana, Sally puxou a faca e colocou sobre o peito de Joel. Fechou a mão direita dele em torno do objeto enquanto se inclinava para poder falar com ele.

── Joel, fica acordado. Não fecha os olhos agora, você precisa prestar atenção em mim. ── Ela diz, tentando fisgar a atenção dele. ── Tem um pessoal vindo. São pessoas muito perigosas e eu não sei do que eles são capazes. Eu travei, eu fiquei com medo. Deixei a Ellie assumir a liderança e eu sei que isso foi burrice minha, mas eu vou consertar isso. Não vou deixa-la sozinha.

Miller a está observando enquanto fala, mas não expressa nenhuma reação.

── Mas isso significa que eu vou ter que deixar você sozinho, você vai ficar por conta própria agora. ── Continua ela. ── Então se alguém chegar aqui embaixo, você mata, entendeu? Você precisa se defender. Entendeu, Joel? ── Os olhos dele tremem. ── Joel! Porra, não dorme de novo.

Sally o sacode e o olhar dele se foca no teto. Joel não reage e isso a deixa frustrada, porém não pode ficar mais tempo ali. A mulher se levanta e corre até suas coisas. Ela deixa a mochila, mas pega o arco, a aljava e por último a arma que roubou de David. Sally treme quando a guarda atrás de suas costas, mas o faz de qualquer maneira. Se fosse necessário, por Ellie, ela daria um jeito de vencer seu trauma.

Sobe os lances de escada correndo e sai abruptamente pela porta. Quando a fecha, Sally puxa a estante ao lado esquerdo para bloquear a passagem e depois vai até a garagem. Judie ainda está lá, porém Buell fora levado por Ellie. Sally levanta a porta da garagem e monta em Judie para procura-la.

O lado de fora está vazio, sem qualquer sinal de Ellie ou dos homens de David, porém ela consegue ver as pegadas na neve e é isso que a mulher segue.

Quando vê um homem parado na esquina, Sally não pensa duas vezes ao atravessar uma flecha contra a cabeça dele. O mesmo chega a se virar quando escuta os cascos do cavalo se aproximando, mas não tem tempo de reagir. A flecha o acerta diretamente na testa e atravessa, saindo pelo outro lado, porém ficando presa.

Sally não tem o costume de matar pessoas, evita ao máximo, mas, naquele momento, ela não os vê como pessoas. Riley havia lhe ensinado a ver todos como infectados e era isso que fazia, era a forma que enganava sua mente e não falhar ao disparar uma flecha. Havia prometido a David que os mataria se fossem atrás delas e estava cumprindo com isso.

Sally continuou a cavalo por um tempo, procurando por qualquer sinal de Ellie ou de inimigos próximos, porém eles estavam apenas mais a frente, longe de sua direção e de sua vista. Apenas soube que estava chegando perto, quando escutou um disparo alto que a fez parar e em seguida a voz de James.

── Acertei! ── Ele gritou, distante e alertando o pessoal de seu grupo que estava disperso.

Sally foi para o meio do mato e escondeu Jude, achando que iria chamar muita atenção se chegasse com o animal no meio deles. Ela desceu e andou de volta para a neve, indo em direção aonde havia escutado o disparo. A julgar para onde estava caminhando, Sally estava chegando a uma área próxima a saída da cidade. Menos caças, o campo era mais aberto.

Quando avistou ela, os homens do grupo de David já haviam chegado. Ela estava caída no chão e Buell estava morto, tendo sido acertado por James. A menina estava desnorteada por conta da queda, ainda tentando entender o que havia acontecido quando eles ficaram acima de sua visão, rodeando seu corpo.

── Atira. ── Um deles disse para James.

Sally ergue o arco e apontou a flecha para o homem de seu lugar na moita, observando enquanto James colocava outra bala no pente do rifle, descartando o cartucho vazio. Atirar significava chamar a atenção para si, porém garantiria que Ellie não fosse morta.

Ela tinha a vista perfeita para atravessar uma flecha no crânio de James. Depois teria que lidar com os outros dois que estavam próximos. Faltaria apenas David e um segundo homem que deveria estar acompanhando ele. Sally poderia se esconder e pegá-los depois.

Antes que qualquer um ali presente possa agira, alguém dá um tiro para o céu. Todos se voltam na direção do som. Sally não consegue vê-lo do lugar onde está posicionada, porém ele logo entra em seu campo de visão.

David não diz nada enquanto se abaixa próximo ao corpo de Ellie no chão, a menina agora desmaiada. Ele leva a mão até o pescoço dela e sente a pulsação.

── Dois vem comigo, arrastando o cavalo. ── Ele diz aos seus homens, enquanto coloca suas luvas novamente. Ele pega Ellie no colo ao se levantar. ── O restante fica aqui de porta em porta. Querem tanto assim vingança? Corram atrás.

Sally tem o arco apontado para ele agora, uma mira perfeita para acertá-lo na cabeça, assim como havia feito com James antes. Porém ela deixa passar um detalhe. Há apenas quatro homens ali. Após matar um dos grupo de 6 pessoas, ainda faltava uma 5 pessoa.

Quando puxa a corda do arco e está perto de disparar, uma mão envolve seu pescoço e a outra sua boca. Sally tenta se soltar daquele aperto de ferro, mas não consegue. Ela se debate enquanto é arrastada para trás e tudo que consegue ver é enquanto David vai embora com Ellie, sumindo de sua linha de visão.

Como um ato de raiva, Sally morte a mão de seu agressor com força. Está protegida com a luva, porém ainda assim causa um efeito e ela consegue acertar o cotovelo na barriga dele. A pessoa pragueja e a lança no chão com raiva, fazendo Sally cair na grama de um quintal velho de uma das casas.

O homem que a segurava antes vai para sua frente, ficando a alguns passos de distância e Sally retira o cabelo do rosto para poder vê-lo melhor. A raiva se dissipa e da lugar ao choque em suas feições, quando ela o reconhece.

── Simon? ── Profere, surpresa ao encontrar o homem ali. Ela o analisa e vê que ele está melhor do que da última vez que os dois se viram.

Simon não veste mais roupas rasgadas, agora está trajado com roupas de frio adequadas e até uma touca azul escura cobre sua cabeça. Seu cabelo está maior agora, mas passa pouco do ombro. Ele manteve o mustache, parece um pouco mais velho do que aparenta, mesmo limpo. Parece que não come adequadamente a algum tempo ou talvez que não durma direito a dias.

── Sabe, não era assim que eu esperava ver minha salvadora novamente. ── Ele ofega, massageando a mão que ela mordeu.

── O que está fazendo aqui? ── Ela indaga, ainda sentada no chão, apoiando uma mão na grama.

── Tentando sobreviver, eu diria. ── Disse ele. ── E tentando evitar que você faça uma loucura. O que estava pensando?

── O que eu estava pensando? Eu ia atirar naquele maluco quando você me atrapalhou! ── Sally retrucou. ── Ele está levando a minha amiga embora, eu preciso salvá-la.

Sally avança até o arco, porém não consegue pega-lo quando Simon pisa nele. Ela congela e começa a processar a situação em que se encontra. Ergue o olhar até Simon devagar.

── O que você está fazendo aqui, Simon? ── Ela o questiona mais uma vez e pode ver um traço de tristeza no olhar dele.

── Não posso deixar você fazer isso, Sally. ── Ele responde.

── Responde a porra da minha pergunta! ── Quando Sally insisti, Simon fecha os olhos por um momento e respira fundo.

── Eu estou com eles. Meu tio é o líder do grupo e eu-

── O David é o seu tio?

── Sim. Ele é. ── Simon assente. ── Sally, não posso te deixar ir atrás dela. Eu conheço o meu tio, sei como ele age. Você precisa ir embora daqui.

── Eu não vou ir embora sem a Ellie! ── Ela afirma com veemência.

── Por favor, não faz isso.

── Sai do meu caminho, Simon.

── Eu não posso fazer isso. Eu não posso. ── Ele balança a cabeça de um lado ao outro. ── Eles vão te matar. Tudo o que posso fazer é fingir que não te vi, deixar você ir da mesma forma que você fez comigo meses atrás.

── Eu já disse pra você, não estou saindo daqui sem a Ellie. ── Sally tenta puxar o arco e quando não consegue, ela puxa a arma de suas costas.

Simon age antes que ela possa mirar a arma na direção dele, segura o pulso dela e o força para cima. Um disparo acaba soando para os céus enquanto os dois entram nessa briga corporal.

── Merda, Sally. Você alertou os outros! ── Ele pragueja, enquanto escuta a comoção que o tiro causou. ── Eu estou tentando te ajudar.

── Não quero a sua ajuda!

Os dois estão lutando pela arma. Sally ainda está no chão, porém suas costas encontraram a terra enquanto Simon a imprensava contra a grama. Ele é mais forte do que ela, já havia demonstrado isso quando segurou aquele Jericó em Oregon, mas agora Sally sentia como o aperto dele era de ferro.

Vendo que não tinha escolha, Kline a puxa cima e depois bate com as costas dela contra o chão, roubando o ar do pulmões dela, fazendo o aperto da Adams começar a se afrouxar. Apenas após a segunda vez que ele consegue puxar a arma das mãos dela, Sally esta buscando por ar, sentindo a dor que se alastra em sua coluna.

── Me desculpa, Sally. Mas você não me deu escolha. ── Ele murmura, segurando os pulsos dela com suas mãos. Simon olha para longe, escutando os homens que estão chegando perto, em seguida olha pra Sally novamente. ── Sinto muito mesmo por isso.

A última coisa que Sally escuta são os passos que se aproximam. Antes que pudesse processar o que está acontecendo, Simon a acertou com a coronha da arma. A escuridão lhe envolve, a puxando para um sono profundo enquanto as vozes ao seu redor tornam-se distantes e inalcançáveis.

AUTHOR'S NOTE. 𓏲࣪ ☄︎˖ ࣪

I. Nosso querido Simon está de volta, trazendo consigo uma revelação e tanto. Quem esperaria que a Sally iria ajudar o sobrinho do seu mais novo inimigo? To ansiosa pra compartilhar o desenrolar desse arco com vocês.

II. Queria dizer também que UATW agora tem um trailer! Essa maravilha está na segunda galeria de gráficos e foi feito por uma amiga minha, a ícone da @_gwlden (mesma pessoa que fez o opening credit). Vejam lá aquela obra prima e surtem junto comigo!

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