𝟮𝟬 : I WALK THE LINE

CAPÍTULO VINTE :
EU ANDO NA LINHA
because you're mine,
I walk the line

aviso: conteúdo +18 na primeira parte
do capítulo, começa após a "☆";
menção de estrupo, assédio e pedofilia
no decorrer do capítulo.



"Um dia feliz tem mais poder que a
tristeza de uma vida inteira. Nele
moram as reviravoltas."
── Carla Madeira






INVERNO⠀─ ⠀DEZEMBRO 04, 07:40
⠀⠀⠀⠀⠀⠀Jackson, Wyoming
⠀⠀⠀⠀

A LUZ DO SOL ADENTRA através das persianas brancas e ilumina o quarto. O tempo continua trazendo consigo ventos gélidos, a camada de neve permanece, o inverno se estende pelo mês de dezembro como era esperado, deixando o mundo exterior menos convidativo. Dentro da sua pequena bolha, tudo o que Riley pode sentir é o calor que emana do corpo ao seu lado.

Há névoa do sono ainda nubla seus sentidos, envolvendo-a enquanto lentamente começa a despertar. Riley vai aos poucos se tornando consciente do ambiente ao seu redor, do que pode sentir e cheirar naquele cômodo onde adormeceu na noite passada. Seus sentidos despertaram aos poucos, a deixando saber o quão confortável estava.

Suas costas estão contra o peitoral dele e há um braço pesado sobre sua cintura. Quando ela começa a acordar, mexendo-se devagar, aquele braço a aperta como se estivesse com medo de deixa-la ir e faz com que seus pequenos movimentos parem. Seus olhos se abrem lentamente e ela está de frente para a janela do lado esquerdo do quarto.

O edredom que a cobre também a mantêm quente, mas Riley nota que Joel é como uma fornalha enquanto a envolve. O calor é bem-vindo, ainda mais quando não há nenhuma camada de roupa para cobrir seu corpo nu. O exato momento em que ela se lembra da noite passada.

Realização toma suas feições, enquanto Riley pisca através do embaçamento em seus olhos quando acorda e vê os menores raios de sol começando a espreitar pelas janelas. Sorrindo para si mesma, ela escuta a respiração pesada de Joel em suas costas. Eles dormiram a noite toda. Ela não se lembra de ter acordado desde que deitou sua cabeça contra o peito dele e fechou os olhos.

Foi uma boa noite de sono, uma que Riley não tinha a muito tempo. Agora que estava mais desperta, quase não parecia real. Ela repassava os acontecimentos em suas mentes, sentindo seu coração cheio, mordendo o lábio inferior para tentar conter o sorriso largo que queria manter-se em seu lábios. Virando-se, encara Joel que ainda está dormindo. O braço direito dele permanece sobre ela, enquanto o peito dele sobe e desce devagar.

As feições dele estão suaves, despreocupadas. Sua testa não está franzida e ele não resmungando enquanto dorme. Enquanto o admira, Riley nota que aquela é a primeira vez que ela o vê tão tranquilo. Envolve os braços em volta da cintura dele e o abraça, enquanto repousa a cabeça sobre o peito dele, como fez na noite passada. A pequena movimentação dela é o suficiente para fazer Joel acordar aos poucos.

Ele respira fundo, piscando os olhos para o teto magenta do quarto, antes de abaixar a cabeça e observá-la envolta em torno dele. Joel leva sua mão livre até a cabeça dela e a acaricia com ternura, fazendo um cafuné com a ponta de seus dedos em seu couro cabeludo.

── Bom dia. ── A voz rouca e grossa pelo sono de Joel, retumba pelo silêncio do quarto. Riley ergue o olhar suave para ele, apoiando o queixo no peito dele.

── Bom dia. ── Ela o saúda de volta, um pouco mais desperta que ele, um sorriso singelo nos lábios. ── Desculpa, acordei você, não foi?

── Não, eu já estava acordando. ── Joel responde, tentando tranquiliza-la quanto a isso. A mulher torce o nariz, sabendo que é mentira. ── Você dormiu bem?

── Melhor impossível. ── Riley riu fracamente, fazendo Joel sorrir enquanto a observa. ── E você?

── Também. ── Joel murmura, colocando uma mecha de cabelo dela atrás da orelha, muito tentado a beija-la, porém contendo-se.

Quando ele a encara daquela forma, Riley sente suas bochechas ficando vermelha, exposta demais para Joel, mas do que gostaria de estar. Ainda é novo para ela que o homem a trate de tal maneira. Mesmo depois de ontem, parece que tudo que aconteceu não é real.

Talvez fosse por causa de Ben. Ela não havia tido muito relacionamentos. Teve alguém durante sua época na universidade, um primeiro beijo em um acampamento para meninas, mas nenhum relacionamento duradouro. Ninguém ficou para a manhã seguinte. Riley ainda não sabia o que acontecia depois que tudo era dito e feito. Não sentia que era um felizes para sempre, pois a vida tinha que continuar. Mas como se continuava?

── Que horas são? ── Ela o questiona, mudando de assunto. ── Acha que já está na hora da gente levantar?

── Não sei, mas parece cedo ainda. ── Ele murmura. O braço com o relógio quebrado se posiciona perto do estômago dele e Riley quase o observa, quando lembra que o objeto não funciona e bufa, ainda com preguiça de se levantar da cama.

Ela se afasta um pouco de Joel e olha ao redor, até encarar o relógio ao lado da cama. É pequeno e verde, antigo mas ainda funciona. Tommy deixou na casa noite passada, junto com algumas coisas para que eles pudessem fazer café na manhã seguinte.

Riley não tinha certeza, mas o irmão de Joel parecia tentado a convence-los a ficar em Jackson. Adams não achava uma ideia ruim, mas parecia não ser a hora certa para se estabelecer. Por mais que gostasse das companhias e a cidade era bem melhor do que a zona de quarentena, eles ainda tinham assuntos inacabados para resolver.

── É perto das 8hrs. ── Ela responde, voltando se posicionar perto de Joel. O braço esquerdo dele agora agarra seus quadris. ── Planeja sair partir que horas?

── 10hrs é bom pra você? ── Pergunta ele.

── Pensei que você fosse querer sair mais cedo. ── Comenta a mulher. ── O que houve? Está ficando molenga? Não aguenta mais madrugar? ── Riley provoca e Joel bufa.

── Se você quer que eu te apresse pra ir embora, tudo bem. ── Joel responde, olhando para o teto agora. ── Mas só não acho necessário a gente sair tão cedo. Tommy deve querer nos prender por mais um tempo.

── Vamos ter que tomar café da manhã com ele, a propósito. ── Disse Riley. ── Ele deixou café, mas não tem nada pra comer aqui além da comida que reservamos pra viagem. ── Ela descansa a cabeça contra o peito dele mais uma vez. ── Também não quero comer nada enlatado agora. Bacons com ovos parece saboroso demais pra deixar passar.

── Tudo o que você quiser, querida. ── Ele aperta a cintura dela levemente, o coberto deixando as costas de Riley a mostra pela forma que ela está deitada sobre Joel.

── Está falando isso porque não vai ser você quem vai ter que cozinhar. ── Riley cantarolou.

── Antes fosse eu cozinhando. Tommy não sabe cozinhar, ele é um fiasco na cozinha. ── Responde Miller.

── Sebastian é o chefe, ele fez o café pra gente ontem. Alguém precisa fazer com que a casa não pegue fogo. ── Joel apenas murmura afirmativamente para a fala dela.

Os dois caem em um silêncio confortável, enquanto aproveitam o começo daquele dia. Joel levou o braço direito para trás da cabeça, apoiando acima de seu travesseiro. Riley faz círculos aleatórios com o dedo sobre o estômago do homem, enquanto sua mente vaga para longe.

A quietude é boa, mas também traz consigo certos pensamentos que a mulher não consegue evitar ter. Não são exatamente conflitantes, mas as vezes parece difícil encontrar palavras para se iniciar a conversa sobre. Eles estão bem agora e Riley não quer estragar isso. Não quer pressionar Joel demais quando eles ainda estão iniciou dessa nova relação. Porém a mulher sabe que eles não podem ignorar isso.

── Acha que Ellie e Sally já estão acordadas? ── Ela pergunta em um murmúrio baixo.

── Eles devem estar. ── Responde Joel.

── A porta está trancada, certo?

── Sim, eu tranquei ontem a noite quando entramos. ── Joel faz baixa a cabeça para olhar para ela, porém Riley mantém seu olhar para algum lugar na direção da porta. ── Por que? Medo de alguma das duas nos pegarem assim?

── Sim, ainda não sei como vou explicar isso pra elas e não quero que seja dessa forma "traumática." ── Disse ela.

── Vamos explicar para elas quando chegar a hora. ── Assegura Joel, tentando tranquiliza-la. ── Não se preocupe com isso.

── E o que exatamente vamos dizer para elas quando chegar a hora? ── Riley vira seu olhar para ele, encarando-o.

── Vamos dizer que estamos juntos. ── Dá de ombros ao falar. ── Simples.

── Ok, estamos juntos. E o que nós somos? ── Prosseguiu a mulher.

── Namorados?

── Eu não me lembro de você ter feito um pedido ontem a noite. ── Ela cantarolou.

── Pensei que estivesse implícito depois de ontem. ── Riley ri enquanto se desvencilha de Joel para sentar, vendo que ele parece de certa forma um pouco ofendido. ── Quer um pedido formal?

Ela segura o edredom em volta da sua frente nua, dando ao Miller apenas a chance de ver suas costas. Joel nota que ela tem uma tatuagem na costela. São três pássaros, que não seguem uma linha pois é como se estivessem voando em conjunto. Ele não havia conseguido ver na noite passada por conta da escuridão que o quarto estava.

── Não, isso seria estranho. Não somos mais adolescentes, então parece estranho pra mim fazer isso. ── Ela responde. ── Só acho que a gente deveria ir devagar.

── Como assim?

Ele deixa que sua mão vá até a cintura dela, mas apenas para acariciar a pele onde está marcada pela tatuagem. Joel não é um grande fã, mas gosta de observar o desenho sobre o corpo dela. Não consegue resistir a passar seu polegar sobre aquela área, sentindo o corpo de Riley estremecer levemente com o contato sobre suas costelas.

── Eu estive pensando sobre isso e eu quero que dê certo. Você e eu. ── Riley aponta de Joel para ela com o dedo. ── Mas eu sei que nós dois temos muita bagagem, muita coisa pra por em ordem. Por isso quero ir devagar para que a gente possa trabalhar isso de maneira certa.

Joel sente a intensidade do olhar dela sobre ele quando a mulher fala.

── E como quer fazer isso? ── Ele a questiona, abaixando a mão e a deixando repousar perto dela. Ele está sendo receptivo ao que eles conversam, o que deixa Riley um pouco aliviada.

── Só... Vamos tentar firmar alguns acordos, alguns limites. Coisas que precisamos saber um sobre o outro. Não sei muito sobre relacionamentos, mas sei que precisa haver diálogo para que eles funcionem. ── Ela explica. ── Você me fez prometer não te deixar ontem a noite, quero que prometa que vai tentar conversar mais comigo sobre como se sente. Ao invés de internalizar tudo, preciso que você tente se abrir mais Joel. Não posso ler mentes.

Ele está pensando sobre, Riley consegue ver. Porém o rosto de Joel é sempre tão impassível em alguns momentos que a deixam incerta sobre como ele está se sentindo sobre. Ela fica receosa de ter o incomodado.

── Se algo te incomoda, diga pra mim. Se precisa de um momento sozinho, se não gosta de algo que eu fiz... ── Continua a mulher. ── Qualquer coisa Joel. Eu só quero saber como posso te ajudar se for necessário e até onde posso ir para não te magoar. Conhecemos um ao outro, mas não sabemos tudo.

De seu lugar na cama, mantendo um braço abaixo da cabeça, Joel leva a mão livre até a de Riley e a segura. Seu polegar acaricia os nós dos dedos dela, passando sobre as marcas deixadas pelos machucados de meses atrás. Ele viu as suas próprias também, lembrando-se da noite em que perdeu o controle e acertou Lee no rosto várias vezes.

As marcas deixadas pelos machucados passados ainda estavam lá, mesmo depois de mais de 4 meses de viagem. Ela não iriam embora, por mais que não doessem mais. As cicatrizes permaneciam e sempre estariam lá para lembra-los do que aconteceu, do que cada um fez no passado.

── Tudo bem. ── Depois de um tempo pensando em silêncio, Joel responde. ── Mas você precisa saber que nada me ajuda mais do que ter você do meu lado. Só isso já é o suficiente.

Não passa despercebido por ele a forma como o rosto dela se ilumina com isso, as bochechas de Riley ficando um pouco rosadas e ela precisa morder o lábio inferior para conter o sorriso que teima em crescer em seus lábios.

Joel confessa que gosta da Riley que apenas ele tem a oportunidade de ver. Aquela que parece mais tímida com os elogios dele, que gosta tanto do contato que eles tem um com o outro ao ponto de não se importar de envolver sua mão na dele ocasionalmente. Ele se pergunta como durou tanto tempo sem isso.

── Certo, acho que a gente já ficou tempo demais na cama. ── Ela se inclina sobre ele e beija a bochecha de Joel antes de se afastar, mudando de assunto rapidamente. ── Vou tomar um banho.

Riley sai da cama deixando o edredom sair de seu corpo, pegando algumas roupas do chão, antes de correr para o banheiro. Joel ainda permanece em seu lugar na cama, meio estupefato por ela não ter lhe dado um beijo na boca e apenas ter corrido como uma criança pega no flagra.

Ele fica alguns minutos parado, olhando para o teto, até finalmente escutar a água começar cair, vinda do chuveiro no banheiro ligado ao quarto de casal ── algo que Joel agradecia imensamente a existência, pois lhe deu a liberdade de se levantar e segui-la sem preocupações.

Entrando naquele cômodo, ele é recebido por uma camada de vapor provinda do banho quente que Riley está tomando. O homem caminha até o boxe e puxa cortina. O movimenta faz Riley vira-se para ele sobre o Jato de água.

── Você não me beijou. ── Constata ele, enquanto ela o encara. Ao ouvir o que Joel diz, soando um tanto birrento, Riley ri.

── Eu não tinha escovado os dentes. Nem você. ── Respondeu, arqueando as sobrancelhas. Ele grunhe, dando as costas para a mulher.

Enquanto Riley retorna seu foco para o banho, Joel vai até a pia e pega sua escova de dentes e a pasta. Ele escova seu próprio dentes escutando a mulher cantarolando para si mesma alguma melodia aleatória que Joel não reconhece. Quando termina, seca seu rosto com a toalha e caminha até o chuveiro novamente.

Dessa vez, Joel não diz nada. Ele apenas entra no pequeno espaço, forçando Riley a dividir o boxe com ele.  Ela precisa chegar um pouco para o lado, pois os dois cabem ali dentro, mas não há espaço o suficiente para que os dois permaneçam sobre o Jato do chuveiro.

── O que está fazendo? ── Ela o questiona.

── Tomando banho. ── Dá de ombros. ── Não é óbvio?

── Sim, isso eu já entendi. Só não entendi porque você entrou agora, junto comigo. ── Riley o responde.

── É para economizar água. ── Disse ele, fazendo com que ela revire os olhos para aquela resposta. ── Também não quero que você acabe com toda a água quente.

Ela bufa.

── Quem disse que eu iria?

── Tenho certeza que iria. ── Ele afirma, tentando não dar uma olhada muito longa para o corpo dela sobre a água.

Joel molha a si mesmo, enquanto Riley lhe dá espaço para isso. Ele está tentando agir naturalmente, mas é muito difícil quando o ombro dela continua roçando contra ele. É muito tentador também como os dois já não tem mais nenhum pudor na frente do outro. Bastou uma noite e eles não se enxergonham de tomar banho juntos.

Enquanto Joel se molhava, Riley aproveitou para passar sabão pelo corpo. Assim que terminou, Miller deixou que ela entrasse debaixo do chuveiro e se lavasse. Ele acaba chegando um pouco para trás, tendo uma boa vista de onde está, saboreando a visão a mulher enquanto afasta a espuma que está em sua pele sobre a água. Agora que não estão no escuro, Joel consegue ver mais claramente as cicatrizes que sentiu sobre o corpo dela na noite passada.

Riley tinha uma no quadril, uma linha quase imperceptível pegando na parte da frente até a parte de trás, bem perto do seu cóccix. Ela também tinha uma no estômago, perto do umbigo, parecia ter sido cortada com vidro. Era bastante irregular.

── Você está olhando demais, cowboy. ── De olhos fechados, ela cantarolou. Ela fecha o chuveiro e os abre para encarar Joel. ── Vê algo que gosta?

── Ainda pergunta? ── Joel lhe dá um sorriso de lado, antes de ir na direção dela e puxá-la para um beijo.

As costas de Riley acabam indo de encontro aos ladrilhos frios do chuveiro, enquanto as mãos de Joel embalam seu rosto durante o beijo, descendo levemente para segura-la nuca. As mãos dela estão sobre vagando pelos braços dele, apertando a pele enquanto o beijo se intensifica, ficando cada vez mais carente e apaixonado.

Eles se separam apenas quando precisam respirar, pintando água um sobre o outro, ainda molhados do banho e envoltos pelo vapor que envolve todo aquele cômodo. Riley pode sentir sua pele começando a formigar em sinal de puro desejo. Era impressionante como apenas um beijo de Joel estava sendo o suficiente para começar a deixa-la excitada.

── Vamos mesmo fazer isso aqui? ── Adams pergunta a ele. ── Não parece muito seguro.

── Quer sair e ir para a cama então? ── Indaga Joel. ── Nós não temos muito tempo.

── Você está certo. Vamos ter que ser rápidos. ── Ela responde, arfando um pouco. Riley desvencilha-se dele e dá as costas para o homem, inclinando-se contra a parede. ── Acho assim mais seguro do que você tentar me segurar contra a parede. Menos esforço.

── Não estou reclamando quanto a isso. ── Joel comenta, tendo a chance de apertar o traseiro dela uma vez. ── Gosto da vista.

── Apresse-se, cowboy. ── Riley mexe os quadris, tentando faze-lo começar a trabalhar. ── Não tenho o dia todo.

── Você é muito impaciente. ── Ele murmura. Antes que Riley possa retrucar, dois dedos dele afundam em seu calor, fazendo a mulher gemer pela intrusão repentina. ── Acho que preciso ensinar bons modos a você.

Joel desliza dois dedos para dentro e para fora, trabalhando contra ela com movimentos mediados, sentindo a forma como as paredes dela lhe apertam a cada enrolar de seu dedos. Riley geme e rola os quadris contra ele, sentindo-se tão bem apenas com os dedos de Joel.

Beijando o pescoço dela, as costas de Riley tocam os peito de Joel enquanto ele a prensa contra a parede. Ele acelera os movimentos, abrindo-a para ele, a deixando cada vez mais escorregadia a cada deslize de seus dígitos para dentro, curvando-se para massagear seu ponto ideal e faze-la soltar mais daquele sons bonitos que Joel está amando ouvir.

Seus dedos a fazem se sentir cheio e satisfeito e ele sabe exatamente como trabalhá-los. Os dedos dos pés de Riley se enrolam e ela pode sentir que já está prestes a gozar, mas não quer. Ainda não. Ela precisa senti-lo dentro dela ou acabar perdendo  a cabeça.

Quando Riley pensa que ele vai ficar apenas nisso, Joel se foi, parando seus movimentos e retirando seus dedos de dentro dela. A mulher reclama de maneira audível, pela falta dele, atraindo uma risada baixa do homem que compreende o que ela realmente precisa.

── Acalma-se, amor. ── Ele diz enquanto segura seu membro duro na mão e o guia para a entrada dela, indo devagar até que esteja completamente dentro das paredes apertadas da mulher. ── Puta merda.

Os dois gemem, sentindo o prazer que percorre seus corpos pelo contato tão íntimo. Enquanto eles apenas estão se acostumando, soltando algumas respiracões profundas, as mãos de Joel se posicionam nos quadris dela, a segurando no lugar enquanto Riley apoia seus braços na parede.

── Posso me mover, querida? ── Joel pergunta, entra arfadas, controlando-se ao máximo.

── Sim.

Ele puxa para fora, deixando apenas a ponta dentro dela, antes de bater de volta, expelindo o ar dos pulmões dela. Riley geme a cada estocada, deixando que Joel a movimente. Ele a puxa para si mesmo pelo quadril, balançando os seus próprios de encontro aos dela.

Seus movimentos são duros e rápidos, sem provocações, sem brincadeiras. Apenas direto ao ponto. O que está bom para ela. Joel a preenche tão bem, e ele atinge aquele ponto repetidamente neste ângulo, deixando a louça a cada investida cruel. Talvez fosse por conta da falta de tempo que eles tinham, era isso que deveria os estar excitando ainda mais.

Mais uma vez, como na noite anterior, Joel envolveu a mão em torno do pescoço dela e a puxa de encontro a ele, fazendo com que suas costas se arqueiem. Assim que a cabeça dela repousa perto do ombro dele, Miller solta a aquela área e deixa que seu braço serpenteie até os seios dela, onde aperta um deles em sua mão.

Joel faz tudo isso enquanto continua a penetrando, mantendo o ritmo que estabeleceu e segurando a cintura dela com a mão livre. Ele beija e mordisca o ombro dela, deleitando-se com cada gemido que escuta, com cada arfar do peito dela e com cada "mais" que Riley tem a lhe oferecer, proferindo aquelas palavras tolamente enquanto está muito envolvida no que sente para compreender o que fala.

O corpo inteiro dela fica tenso conforme seu orgasmo cai. Riley pode sentir-se tremendo, apertando suas paredes firmemente em torno do pênis de Joel enquanto goza, os olhos rolando para trás de sua cabeça e gemendo de maneira audível. Joel ri de sua resposta, sentindo-se bastante orgulhoso de si mesmo. Nada mal para um velho, ele pensa.

Ambos gemem quando ela afunda sobre ele uma última vez, sendo o suficiente para levar Joel a sua alta. Ele puxa para fora antes de gozar, arfando e grunhindo várias vezes enquanto sua semente cai sobre o chão do boxe do banheiro. A testa dele está encostada no ombro de Riley, enquanto o homem recupera o fôlego junto dela.

Os dois tem respiracões difíceis, voltando para a terra aos poucos e tentando respirar adequadamente. Joel ergue-se, quando sente Riley chegando para trás e afastando-se da parede. Ele a ajuda a permanecer de pé, notando como as pernas dela parecem bambas.

── Tudo bem? ── Ele pergunta. Riley voltou-se para Joel, enquanto o homem mantêm as duas mãos nos quadris dela.

── Sim, tudo bem. ── Assentiu. ── Só vou ter que me lavar de novo. ── Riley faz uma careta, atraindo uma risada de Joel.

Dessa vez, eles ajudam um ao outro a se lavar, dando alguns toques demorados e procativos, porém sem qualquer chance de uma possível segunda rodada. Não há reclamações contra isso, alguns beijos trocados parece ser o suficiente para acalma-los.

Quando eles terminam, Riley é a primeira a sair do chuveiro. Ela tem uma toalha em volta de seu corpo e está secando seu cabelo com outra. Joel tem apenas uma toalha em volta dos quadris e sai para o quarto logo em seguida, indo até as suas coisas para procurar suas roupas.

Eles estão de lados opostos do quarto se vestindo, dando privacidade um ao outro naquele momento. Durante um tempo de procura, Joel sente-se frustrado por não encontrar a camisa xadrez que pegou na casa de Frank. Ele havia vestido apenas a roupa de baixo e seus jeans e havia vasculhado dentro de sua mochila, porém não estava lá.

Ele logo se recordou que a usou na noite passada e decidiu procura-la pelo quarto, lembrando-se que Riley havia a tirado de seu corpo e jogado pelo quarto. Quando se voltou para perguntar para a mulher se ela tinha visto, Joel já tinha sua resposta.

── Essa é minha camisa? ── Questiona, apontando para a roupa que Riley veste. Ela está trajando seus jeans de sempre, suas botas e uma camisa preta de mangas, porém veste por cima a camiseta xadrez que Joel estava procurando. ── Eu estava procurando por ela.

── Essa coisa velha? ── Riley faz-se de inocente, enquanto segura áreas aleatórias da roupa. ── Nah, ela é minha agora. Fica melhor em mim. ── Ela sorri, fazendo Joel tentar manter um olhar zangado fingido.

── Eu ia usar ela.

── Não vai mais. ── Pegando suas luvas, Riley vai até a porta. ── Arrume outra, querido. ── Cantarola, destrancando a fechadura para poder deixar o quarto.

Após sair daquele cômodo sorrindo para si mesma, Riley encontra-se no corredor. Ela fecha a porta com cuidado, olhando para o andar de cima e conseguindo ver que a porta do quarto de Ellie está aberta e escuta um movimento na cozinha. Como já era esperado, as duas já estavam de pé.

Andando casualmente, tentando apresentar naturalidade, Riley caminha para o outro cômodo, seguindo o cheiro de café fresco que é permeado pela casa. Ela passa pelo batente, encontrando Sally de costas para ela, abaixando o fogo do fogão após terminar de ferver a água.

── Bom dia. ── Cumprimenta, fazendo com que Sally vire sua cabeça na direção dela, surpresa. Riley puxa uma cadeira para se sentar.

── Oh. Bom dia. ── Sally saúda. ── Bom que você está de pé. Estava pensando em ir te acordar agora mesmo, depois de terminar o café.

── Está acordada a muito tempo? ── Apoia os dois braços sobre a velha mesa de madeira.

── Não, faz pouco tempo. ── A mais nova retorna sua atenção para o café que está preparando, derramando um pouco em duas xícaras. ── Vocês dormiram bastante. Pensei que iam acordar a gente umas 5 da manhã para sair.

── Ah, Joel mudou de ideia. Ele não vê problema da gente sair daqui umas 10hrs ou por volta disso. ── Riley explica, fazendo com que Sally murmure afirmativamente.

── Vocês dormiram juntos? ── Questiona ela, virando-se para Riley e servindo-a com a xícara de café quente. Sua irmã mais velha engasga.

── O- o que? ── Riley indaga, pega de surpresa. Sally franze o cenho.

── É, você e o Joel. Eu não vi ele no outro quarto e nem na sala quando acordei. Vocês dividiram o quarto ontem a noite ou ele decidiu ir embora novamente, sem avisar nada pra ninguém? ── Explica Sally, encostando-se contra o balcão da cozinha e assombrando contra sua própria caneca fumegante.

── AH, certo. Sim, bem... ── A Adams mais velha tenta organizar seus pensamentos, agora que entendeu o que Sally quis dizer. ── Falei pra ele que não teria problema se a gente... dividi-se o quarto. A cama é grande, então... Foi tudo tranquilo. ── Ela dá um sorriso amarelo, antes de assoprar contra seu próprio café, o qual segura com as duas mãos, e beber um pouco para testar as águas.

── Então vocês dois se entenderam? ── Sally pergunta, após dar um gole em sua bebida.

── É, pode se dizer que sim. ── Riley dá de ombros, tentando soar casual. Ela leva a caneca de café até os lábios e bebe mais um pouco quando nota que não está tão quente, em seguida deixa o objeto sobre a mesa novamente. ── E a Ellie? Onde ela está? ── Mudando de assunto, Riley espera que Sally não tenha percebido nada de estranho em suas ações e não volte para aquele assunto.

── Ela foi para o quintal nos fundos. ── Sally aponta com o polegar para a área atrás de si. ── Não quis tomar café, disse que ia esperar vocês dois acordarem para comer na casa do Tommy. ── Riley murmura afirmativamente, assentindo.

── Acho que vou falar com ela. ── Ela se coloca de pé. ── Sabe o que ela está fazendo sozinha no quintal? ── Pega sua caneca de café antes de caminhar até a porta dos fundos.

── Dá última vez que eu chequei, ela só estava sentada, observando a neve. ── Responde a mais nova de seu lugar em frente a pia. ── Pensei que ela fosse querer ficar sozinha, então não fui perturba-la.

Compreensiva, Riley assente uma última vez, antes de sair para encontrar a garota.

Ela abre a porta e encara o lado de fora. Não há uma cerca rodeando o quintal, o lugar é aberto, uma extensa camada de terra que agora tem toda a sua vegetação coberta por um cobertor branco feito de neve. Há distância, Riley nota que Ellie está sentada em um velho balanço, sozinha.

Fecha a porta atrás de si e caminha até a menina, andando cuidadosamente até chegar nela. Ellie parece estar distante, com a mente em outro lugar. Ela quase não nota quando Riley senta no balanço vago ao seu lado, bebendo seu café que agora está ficando cada vez mais frio, o tempo gélido influenciando na temperatura.

Riley suspira em total contentamento, enquanto toma mais um gole da bebida que lhe esquenta de dentro pra fora. Mesmo com as várias camadas de roupa, o vento frio daquela manhã ainda trouxe um pouco de desconforto para o seu corpo aquecido. Riley saboreava os resquícios daquela calmaria tranquilamente e Ellie também não parecia muito preocupada em quebrar o silêncio que se estendeu entre as duas.

Entre a fuga da garota e o retorno para casa, elas não conversaram muito. Ellie viu uma oportunidade em importunar Sebastian no caminho para Jackson, deixando a mulher fora de seu radar - mas não evitou de olhar para ela em alguns momentos, aproveitando que Riley não estava olhando.

Agora que o pior havia passado, parecia que a tensão de antes tinha retornado.

── Então... Como você está? ── A Adams quebra o silêncio entre elas, envolvendo suas mãos na corrente do balanço, após deixar a caneca vazia no chão.

── Eu acho que sou eu quem deveria estar te perguntando isso. Foi você quem despencou de uma ponte alta pra caralho ontem. ── Ellie comenta, fazendo Riley soltar uma leve risada.

── Eu to bem, sei lidar com esse tipo de coisa. Já fiz coisa pior nesses últimos anos. ── Responde ela. ── Mas você passou por uns momentos bem tensos ontem.

── Nada fora do normal. Só um bando de infectados tentando arrancar um pedaço meu. ── Ellie olha para os próprios pés. ── Acontece o tempo todo.

Riley cantarola em concordância, olhando para longe. Ela pondera sobre o que vai falar a seguir, não querendo estragar tudo entre elas novamente. Riley sabia que deveria consertar a bagunça que havia feito com suas palavras duras naquela noite, há começar com Ellie, pois Sally e ela eram um assunto para depois.

── Olha, eu quero conversar com você sobre o que aconteceu ontem. Sobre as coisas que você escutou de mim. ── Ela vira seu olhar para Ellie enquanto fala. ── Eu sei que você ouviu todas as coisas ruins que eu disse e que elas te machucaram. Eu sinto muito por isso, Ellie. Não era a minha intenção, eu não queria dizer aquilo.

── Então por que você disse? ── Indaga a garota. ── Eu sei que você tinha bebido, mas não é como eles dizem? É justamente quando as pessoas estão bêbadas que elas dizem a verdade.

── Certo, isso não é totalmente mentira. A bebida da coragem para as pessoas dizerem muito do que pensam, mas a maioria das coisas são tudo que lhes vem a mente naquele momento. ── Riley responde. ── Eu sou uma pessoa horrível algumas vezes. Quando a Sally disse que, quando estou infeliz, quero que todos estejam infelizes também, ela não mentiu. É egoísta da minha parte, mas faço isso com frequência, é algo que preciso mudar em mim mesma.

── Então você precisa melhorar nisso urgentemente. Não é legal. ── A sinceridade de Ellie faz a mulher rir fracamente.

── É, está certa. Eu preciso melhorar em muitas coisas, principalmente porque sei o quanto as palavras podem ferir alguém. ── Disse. ── E minha intenção nunca foi ferir você. Sinto muito mesmo, Ellie.

── E você queria ferir quem então? ── Suspirando, Riley olha para longe.

── Eu estava frustrada naquela noite, eu bebi e... deixei meus pensamentos correrem para o lado negativo de tudo e juntei isso para me afogar em um momento depressivo. ── Ela começa a explicar. ── Quando a Sally me abordou aquela noite, tudo o que soltei foi pra afetar ela, pra tentar fazer com que ela me deixasse em paz. Na hora, eu não pensei direito em nada do que eu disse. Foi idiota da minha parte, eu sei.

Ocorre um período silencioso entre as duas, onde Ellie olha para longe também, enquanto pondera sobre tudo o que Riley acabou de lhe dizer.

── Eu sei que você pode não acreditar em mim e tudo bem. Eu entendo. Você tem o direito de ficar chateada e não me perdoar. ── Riley continua. ── Palavras não são algo que podemos apagar depois que são pronunciadas, tal qual uma flecha lançada e uma oportunidade perdida. Nada disso volta atrás, é o que um velho provérbio chinês diz. Mas eu quero que você saiba que estou realmente arrependida das coisas que eu disse. Eu não acredito em nada do que falei naquela noite.

── Até mesmo quando falou da cura? ── Indaga em um murmúrio.

── Bom, essa já é uma questão mais complicada, Ellie. Quando você vive 20 anos em um mundo assim, você perde a esperança nesse tipo de coisa. Não me entenda mal, mas você para de acreditar que alguém vai vir e te salvar, que tudo vai voltar a ser como antes, é quase impossível hoje em dia. ── Ela explica. ── Mas eu não acho que seja impossível de acontecer. Eu disse que é quase. E o que importa aqui, não é que eu acredito, é se você acredita nisso. Se você tem fé que possa realmente acontecer e que vai dar certo ── Riley dá de ombros. ── então é isso que realmente conta.

── Mas e se não der certo? ── Ellie a encara. ── E se tudo o que você, o Joel e a Sally fizeram até aqui for em vão? Eu sei que você só tá nessa porque a Marlene te deve, mas você poderia ficar aqui e deixar toda essa merda pra lá. Você e a Sally viveriam em paz em Jackson e deixar todo o resto de lado. Mas você vai continuar, então... Por que? Por que perder seu tempo com algo que você nem acredita? Acha que sua opinião não importa, mas ela é importante pra mim porque... ── A garota suspira, olhando para longe. ── Droga, eu confio em você. E até mesmo agora, eu queria continuar com raiva de você, mas... Não consigo.

Sem saber o que responder para ela, Riley sente um pouco de vergonha pela palavras que Ellie acabou escutando. A sensação que tinha era que havia sido tão maldosa com as coisas que havia dito, coisas essas que ela nem mesmo acreditava.

Adams continuava arrependida de tudo e ficar sobre o olhar triste de Ellie piorava tudo. 

── Ellie, nada do que fizemos até aqui foi em vão. ── Riley responde. ── Nós fizemos isso por você e continuamos por você. E se a vacina não der certo, nós vamos só seguir em frente. Frustrações acontecem o tempo todo, precisamos aprender a lidar com elas. Não podemos salvar todo mundo, mas podemos salvar quem realmente importa.

── Nem isso eu consegui fazer... ── Ellie murmura, voltando seus olhos para seus tênis. ── O Sam, eu... eu tentei salvar ele, Riley. Tentei salvar ele com o meu sangue e não consegui. ── A menina a encara com os olhos cheios de lágrimas. ── Se a cura não der certo, isso vai continuar acontecendo. Eu vou continuar perdendo as pessoas que são importantes pra mim e a minha vez nunca vai chegar.

── Querida, ninguém está isento da morte. Essa é a única certeza que temos hoje em dia. ── Riley segura o rosto da menina com ternura. ── Eu sei que dói perder as pessoas importantes e continuar perdendo elas é... uma ferida que nunca se cura, mas infelizmente é algo que precisamos aceitar. Sem cura ou com cura isso vai acontecer, e não vai ser sua culpa se tudo der errado. É como eu disse, nós seguimos em frente. Aprendemos a viver com isso e tentamos fazer o nosso melhor a cada dia que passa.

Riley leva sua mão até a de Ellie e a segura.

── Você não é mais apenas uma carga pra mim, ok? ── Ela aperta a mão dela, fazendo a menina entender. ── É uma amiga, uma pirralha que não larga do meu pé e sempre me irrita ── a garota ri fracamente, enxugando os olhos com as costas da mão livre. ── Mas, acima de tudo, é quase como um cachorrinho que eu nunca tive. ── Ellie ri, empurrando o ombro de Riley e afastando a mão dela. ── Quase.

── Você continua sendo um saco. ── Comenta ela, fazendo a Adams rir também. ── Eu te odeio.

── Não, eu sei que não. ── Riley sorri, observando a menina se recompor.

Levando as mãos aos bolsos do casaco e as mantém lá dentro, enquanto as duas ainda estão rindo juntas, ela sente o clima tornar-se mais leve. Ellie termina de limpar o rosto, quando algumas lágrimas caem enquanto ela está rindo e funga uma vez, ajeitando o casaco que Maria lhe deu.

── Mas falando sério agora, ── A mulher começa a falar. ── se eu tivesse uma filha, gostaria que ela fosse como você. Corajosa, bondosa e leal. Só que menos boca suja, claro. ── Ellie revira os olhos, mas está tentando conter um sorriso e com as bochechas um pouco coradas pelo elogio. Ela disfarça olhando para o chão e chutando um pouco de neve com a ponta do tênis.

── E você e a Sally? Vai conversar com ela também? ── Williams a questiona, depois de um curto período silencioso. ── Ela ficou bem chateada com você. ── Riley suspira profundamente, deixando seus ombros caírem.

── A gente precisa conversar, também preciso me desculpar com ela, mas... talvez realmente esteja na hora de deixar a Sally viver a vida dela.

── Como assim? ── A garota a encara. ── Vocês vão mesmo se separar?

── Eu não quero isso, acredite em mim. Sally sempre foi a pessoa mais importante na minha vida, fiz de tudo por ela nesses últimos anos, mas também a controlei demais. ── Disse a Adams. ── Ela estava certa em tudo que disse naquela noite e acho que ela merece escolher o que quer fazer da própria vida. Não quero que ela se sinta culpada por me deixar. Não seria certo fazer isso, seria egoísmo da minha parte.

Riley estava pensando sobre isso desde a discussão, pensando no que iria acontecer depois que eles chegassem até os Vaga-lumes. Talvez, realmente fosse o final da linha para Riley e Sally juntas e ela não queria olhar para isso como um problema. A sua vida toda girou em torno de sua irmã e o mesmo aconteceu com Sally, elas fizeram de tudo uma pela outra, mas agora estava na hora de tomarem as decisões por elas mesmas.

Adams sempre ensinou sua irmã a correr atrás daquilo que acreditava e, se ela realmente acreditava nos Vaga-lumes, então seria uma escolha dela se aliar a eles ou não. Sally já era uma adulta e Riley precisava aprender a enxerga-la como tal. Precisava tirar a imagem da Sally de 11 anos da cabeça. Aquela garotinha não existia mais, ela era uma mulher agora e tinha direito de traçar seus próprios caminhos.

Riley foi obrigada a traçar o seu próprio a muito tempo antes e talvez fosse por isso que ela se tornou superprotetora com a própria irmã. Mas agora era a hora que precisava aprender a deixar ir. Se ela foi forte o suficiente para mantê-la por perto todos esse anos, ela deveria ser forte o suficiente para deixa-la partir também.

── Eu nunca contei pra Sally, mas eu sempre soube o motivo pelo qual nosso pai foi embora quando nossa mãe adoeceu. ── Riley disse, enquanto olha para algum ponto a distância, sentindo o olhar curioso de Ellie sobre si. ── Ele não foi embora porque não a amava. Ele foi embora porque a amava demais para vê-la partir daquela maneira. Depois de ter perdido os pais, o irmão, ver a minha mãe definhar até morrer era demais pra ele. Isso não anula o fato de que ele não deveria ter abandonado ela e a gente, mas... eu sei qual é a sensação que isso te dá.

── E qual é?

Desviando o olhar para a garota ao seu lado, Riley a responde:

── Impotência. ── Disse ela. ── Nada é pior do que isso.

Ellie parece compreender o que Riley quer dizer, pois já passou por isso antes. Ela já passou por isso várias vezes.

── Eu entendia a dor dele, mas não queria aceitar isso, porque era orgulhosa demais para ver a verdade naquela época. Achava que só eu tinha sofrido com a morte dela. ── Adams prossegue, com o olhar distante mais uma vez. ── Então eu preferi não perdoar o meu pai. Preferi não dar uma última chance pro homem que um dia foi o meu maior herói. Ele morreu achando que eu odiava ele.

Escutando e ponderando sobre as palavras dela, Ellie se sente mal. Inicialmente, quando Sally lhe contou sobre as desavenças que Riley e o pai tiveram, ela ficou com raiva dele e entendeu o temperamento da Adams. Mas agora, enquanto a mulher compartilhava algo tão íntimo com ela, Ellie tinha um pouco de empatia pelo homem que nem ao menos conheceu.

Talvez não houvesse um lado certo ou errado, afinal. Haviam apenas os dois lados da mesma moeda. Duas pessoas que sofreram demais com a perda ── uma que não soube lidar com ela e a outra que foi obrigada a lidar com a perda e o luto que veio junto disso.

── Por que você tá me conta isso, Riley? ── Ellie a questiona, um pouco curiosa pela Adams está sendo tão aberta com ela naquele momento e não com Sally.

── Achei que fosse importante você saber que, se temos algo pra dizer pra alguém, algo verdadeiro sobre como realmente nos sentimos, precisamos fazer isso agora, enquanto ainda temos a chance. ── Riley a responde. ── Aprender a viver sem arrependimentos e a deixar ir quando a hora chegar. Eu sei que a Sally nunca vai deixar de ser a minha irmã, não importa onde ela esteja e eu quero que ela saiba disso agora, apenas para o caso de realmente seguirmos caminhos diferentes em algum momento.

Ellie assente, compreensiva. Elas ficam em silêncio mais uma vez e Riley percebe que as duas já estão tempo demais do lado de fora. Ela respira fundo e coloca-se de pé, sentindo seus pés afundando na neve fofa durante o processo. Alongando as costas algumas vezes, Adams abaixa e pega sua caneca no chão.

── Bom, acho que tá na hora da gente entrar. ── Ela comenta. ── Sebastian e Tommy devem estar esperando a gente para o café. ── A barriga de Ellie ronca de forma audível quando Riley menciona comida, fazendo a mulher rir.

── Sim, acho que estou com fome.

── Acha? ── Indaga Riley, enquanto a garota também se levanta e começa acompanha-la de volta para a casa. ── Está tudo certo entre a gente, não é?

── Hum, eu não sei. ── Williams fingi ponderar sobre isso, passando a mão pelo queixo. ── Talvez se você me ensinar a atirar com o rifle, eu posso te perdoar por ter sido uma cuzona antes.

Adams bufa e revira os olhos.

── Estou começando a repensar essa ideia de ser legal com você. Já está começando a querer demais. ── Ela responde. ── Mas vou te dar um desconto dessa vez porque você foi uma boa ouvinte.

── Isso é porque você fala pra caralho. ── Ellie retruca. Riley lança para ela um olhar indignado e tenta alcançar a garota com a mão, que foge de seu alcance rindo.

── Eu vou te dar um cascudo, garota. ── Adams a ameaça.

── Agora você falou igual uma velha. Está finalmente se acostumando com a idade que tem, idosa? ── Provoca a garota.

Ela desvia das investidas de Riley, que tenta aparentar raiva, mas acaba rindo também enquanto corre atrás de Ellie. Adams a puxa pelo capuz do casaco quando finalmente consegue alcança-la com a mão e envolve o braço em volta do pescoço da garota.

Ellie está rindo e pedindo para Riley solta-la, quando a mulher começa a esfregar os nós dos dedos fechados sobre a cabeça dela, após retirar a touca que a mesma usava e despentear seus cabelo no processo.

── Ei, para, para! Eu já entendi! ── Ellie exclama, entre risadas. ── Eu já entendi, Riley. Desculpa, foi mal!

Riley a acerta na cabeça mais uma vez, antes de deixa-la ir.

── Ai! Isso doeu, caralho.

── Pra você aprender a parar de me provocar. ── Adams responde, um pouco ofegante como a garota. Ellie mostra a língua para ela, que acaba ameaçando pega-la mas uma vez, isso é o suficiente para fazer a mais nova correr.

Elas chegam até os três degraus que levam para a porta dos fundos da casa soltando algumas risadas ocasionais. O ar leve entre as duas é bom e Riley sente-se feliz por tudo estar retornando ao lugar. A Adams sobe primeiro e chega até a porta, levando a mão até a maçaneta, porém vira-se para Ellie antes de abrir.

── Vou te ensinar a atirar com o rifle quando tivermos a chance. Não precisa se preocupar. ── Riley comenta, enquanto a Williams está colocando sua touca novamente. O rosto da garota se ilumina e as duas sorriem uma para a outra.

Ela abre a porta e entra primeiro, retornando para o conforto daquela casa quente e um tanto aconchegante. Ellie a segue logo depois, também suspirando aliviada por deixar o clima frio um pouco. As duas são recebidas por olhares de Joel e Sally, que estão juntos na cozinha.

Enquanto Sally está lavando a louça, Joel está encostado contra o armário do outro lado do cômodo. Seus braços estão cruzados na frente do peito e sua face apresenta certa tranquilidade, sem aquele vinco característico em sua testa franzida.

── Eu estava pensando em ir lá fora chamar vocês duas agora. ── Joel comenta, enquanto Riley fecha a porta. ── O que estavam fazendo?

Ellie e Riley se entreolham.

── Apenas colocando a conversa em dia. ── Adams responde. ── Então, podemos ir para o Tommy agora? Esse mini monstrinho que alimentamos está com fome.

── Eu to com fome pra caralho. ── Ellie adiciona, andando em direção ao corredor.

── Olha, você tem que começar a controlar esse linguajar na frente das pessoas, Ellie. ── Sally fala, deixando os utensílios que lavou para secar e indo atrás da garota.

── Mas vocês xingam o tempo todo e ninguém fala nada.

── Somos adultos. Você não é. ── Joel disse, seguindo atrás das duas. Riley os acompanha por último. ── Crianças tem que ter modos.

── Eu tenho modos. ── Retruca a garota, enquanto sai pela porta da frente. Joel e Sally pegam seus casacos perto da entrada, antes de partirem. ── Sou super educada.

── É, quase igual um hamster. ── Riley murmura.

── Ei, eu escutei isso, Riley! ── Exclama a Williams a distância, fazendo a mulher rir fracamente.

Ellie ainda está falando enquanto eles saem, conversando com Sally sobre algo que Riley escuta parcialmente enquanto fecha a porta. Ela para sobre as escadas, observando quando a garota faz uma bola de neve e lança contra sua irmã, as duas iniciando uma pequena guerra.

Joel havia descido as escadas e deu alguns passos balançando a cabeça e revirando os olhos ao observar a cena das duas.

── Vocês vão acabar se machucando. ── Ele fala, porém elas não lhe dão ouvidos. Miller bufa. Quando nota que Riley não está o seguindo, Joel para e olha para trás, vendo a mulher parada no primeiro degrau. Há um singelo sorriso nos lábios enquanto observa Ellie e Sally juntas. ── Ei, está tudo bem?

Quando Joel a chama, Adams desvia o olhar para ele, parecendo retornar para a realidade. Ela desce as escadas e caminha até ele enquanto fala.

── Sim, claro. ── Responde, erguendo o olhar e sorrindo para ele, enquanto deixa seus ombros de encostarem sutilmente enquanto passa. ── Está tudo ótimo.

aviso: menção a estrupo, pedofilia
e assédio sexual no decorrer desta parte.

⠀⠀⠀

INVERNO⠀─ ⠀DEZEMBRO 04, 09:20
⠀⠀⠀⠀⠀⠀Jackson, Wyoming
⠀⠀⠀⠀

O café da manhã na casa de Tommy e Sebastian ocorreu melhor do que Riley esperava. Todos conversaram bastante durante aquele momento de confraternização, até mesmo Reeves que foi mais receptivo a algumas perguntas de Ellie. Joel também parecia estar mais conformado que o homem agora fazia parte de sua família. Os dois não conversaram muito, mas não havia aquela típica tensão no ar causada por uma possível desavença passada ── Riley também achava que eles deveriam ter conversado em particular, talvez quando Joel saiu com Sebastian e Tommy pela primeira vez.

Enquanto estavam na mesa de jantar, o falatório não parou. Sempre havia uma conversa ocorrendo, às vezes algumas risadas ocasionais, outras vezes alguma reclamação sobre o linguajar de Ellie. Aquele havia se mostrado um bom começo de manhã onde tudo ocorreu normalmente como se sempre tivesse sido assim. Riley apreciou isso, principalmente quando a mão de Joel segurou a dela de baixo da mesa, permanecendo repousada sobre a coxa da mulher e tudo que ela podia sentir era o calor que emanava.

Ela notou que para ele não era o suficiente estar ao lado dela, o contato também era algo que Joel apreciava. Não era um homem bom com as palavras, mas era bom com atos e esses pequenos toques significavam muito para Riley ── e ela sabia que para ele também. Agora que o relacionamento dos dois havia evoluído para algo mais, Riley não via esses detalhes com os mesmos olhos.

Apenas sentiu ele se afastar quando Tommy se ofereceu para levá-los aos estábulos. Eles já haviam terminado de comer, porém Ellie estava interessada em comer mais um pouco, fazendo com que Sebastian se oferecesse para acompanhar ela e Sally depois, quando tudo estivesse pronto para que partissem. Joel e Riley concordaram com a ideia, seguindo o Miller mais novo para fora de sua casa e em direção ao local onde os cavalos estavam, conversando com eles durante o caminho.

── Vocês dois estão bem, pelo visto. ── Tommy comenta, enquanto eles caminham juntos. Ele olha para Riley e Joel por cima do ombro, enquanto pergunta: ── Conseguiram se entender novamente?

Os dois se entreolham e depois disfarçam, andando lado a lado enquanto o irmão mais novo de Joel está alheio ao olhar conhecedor que os dois trocam.

── Sim, nós dois ── Joel limpa a garganta. ── Nós dois nos entendemos. Conversamos ontem a noite.

── Resolvemos nossas desavenças. As coisas estão melhores agora. ── Riley completa.

── Isso é bom. ── Diz Tommy. ── Espero que vocês continuem assim.

Joel e Riley concordam com ele, a mulher contendo uma risada mordendo o interior da bochecha e o Miller cruzando os braços, enquanto finge agir naturalmente.

── Tommy, eu esqueci de te perguntar isso ontem ── Disse a Adams, enquanto ele abria as portas de madeira para que pudessem entrar no estábulo. ── o caminho até a Universidade do Colorado é muito perigoso? Vamos encontrar problemas durante o percurso?

── Possivelmente sim. É um percurso de 1 semana, então isso pode acontecer. ── Responde Tommy. ── É como eu disse para o Joel antes, não há nada como o que já não lidamos antes. ── Ele limpa as mãos enluvadas cheias de resquícios de neve uma na outra. ── Vocês devem encontrar alguns invasores, alguns infectados. Nada fora do nosso comum, mas ainda são problema.

── Jericós? ── Ela questiona, enquanto o Miller caminha até a baía. Riley sente o olhar de Joel sobre si, mas não encara o homem.

── Faz muito tempo que não vejo esses malucos por aqui. ── Tommy fala. ── No inverno, eles não aparecem tanto.

── Mas costumam aparecer pela área? ── Joel o questiona, aceitando a sela que Tommy lhe entrega.

── Não, mas já encontramos alguns grupos pequenos durante a patrulha. Sebastian acha que eles estão do outro lado do rio e que só às vezes atravessam para esse lado atrás de recursos.

── E eles nunca tentaram nada contra a cidade? ── Pergunta Riley, enquanto Tommy lhe entrega uma cela também, porém ela fica parada no lugar em que está, enquanto conversa com ele.

── Nunca chegaram perto o suficiente. ── Disse. ── E se sabem sobre Jackson, ainda não ousaram tentar nada.

── Vocês têm proteção o suficiente caso eles tentem? Essas pessoas são perigosas e nada confiáveis. Se descobrirem sobre essa cidade, podem tentar algo contra vocês do nada. ── Afirma ela.

── Não precisa se preocupar, pensamos sobre isso também e sempre mantemos um plano de contingência para caso ocorra um possível "ataque". ── Respondeu o Miller. ── Esse é o lado bom de ser marido de um ex-tenente do exército. Ele sempre é paranóico o suficiente para pensar em tudo o que pode dar errado.

── Ele não está errado quanto a isso. Melhor prevenir do que remediar. ── Joel comenta. Ele já havia entrado em uma baia e estava colocando a sela sobre um dos cavalos.

── Vou dizer para o Sebastian que você finalmente concordou com ele em relação a alguma coisa. ── Tommy brinca, sorrindo ladino. ── Você pode ficar com esse cavalo, Riley. ── Ele aponta para a égua que Riley havia montado ontem.

── Ela tem um nome? Não tive tempo de perguntar ontem. ── Riley passa por ele e entra na baia depois de abrir a porta.

── Jude. ── Ela sorri ao escutar o nome, fazendo com que acabe se lembrando da música e consequentemente de seu pai.

── Combina com ela. ── Adams comenta, colocando a sela sobre o animal e apertando as alças. Riley acaricia o focinho de Jude. ── Olá, Jude. ── A égua relincha, enquanto Riley lhe faz carrinho. A mulher sorri. ── Você é uma ótima menina.

Riley continua acariciando Jude, enquanto Tommy dá um singelo sorriso e Joel a observa da baía ao lado, tendo terminado de ajustar a sela do cavalo que escolheu.

── Eu vou lá fora pegar algumas frutas para que vocês os alimentem durante a viagem. ── Tommy comenta. ── Vou aproveitar e tentar achar a Maria, lembrei que preciso falar algo com ela. Vocês podem me esperar aqui ou do lado de fora. Vou tentar não demorar.

── Tudo bem. ── Riley responde, enquanto Joel também concorda, não vendo problema em Tommy sair um pouco. Eles ainda tinham um pouco de tempo até as 10hrs.

Assim que Tommy sai, Riley retorna para conferir a sela de Jude e a deixar algumas coisas nas pequenas bolsas nas laterais. Ela deixa algumas munições reserva e um pouco de comida também. Deixa o outro lado livre para colocar o que Tommy vai trazer e termina acariciando o animal novamente, gostando da forma como Jude reage aos seus gracejos.

Ela demora para perceber que Joel terminou a algum tempo e está fora da baía, encostado contra a estante que guarda os utensílios para cuidados dos cavalos, apenas observando-a com seus braços cruzados na frente do peito. Quando nota, Riley olha para ele brevemente e logo desvia o olhar para Jude novamente, agora penteando o pelo dela com uma escova.

── Diga-me o que há na sua mente, cowboy. ── Ela fala, chamando a atenção dele, porém sem desviar a sua própria do que está fazendo.

── Nada demais. ── disse Miller. ── Só pensando em algumas coisas.

── Alguma dessas coisas tem haver comigo? ── Indagou Riley, levemente curiosa.

── Sempre tem. Você está na minha mente mais do que eu gostaria de admitir. ── A mulher ri com a resposta dele.

── Isso é bom certo?

── Ainda estou me decidindo. ── Falou, fazendo Riley balançar a cabeça de um lado ao outro, enquanto ela morde o lábio inferior. Ocorrem algumas batidas silenciosas até que Joel fale novamente, como se estivesse tomando coragem para iniciar determinado assunto. ── Estive pensando no que conversamos alguns dias atrás, perto do falso rio da morte. Quando você me disse sobre os seus planos para depois de entregar a Ellie para os Vaga-lumes.

A mão de Riley para o que está fazendo, mantendo a escova intacta no lugar, enquanto se recorda do que ela e Joel conversavam antes de irem dormir. Separar-se de Sally e ir atrás dos Jericós. Plano arriscado com possibilidades mortais, porém algo que ainda estava em sua mente.

── Ainda quer fazer aquilo? ── Quase como se estivesse lendo os pensamentos dela, Joel a questiona, fazendo a mulher suspirar profundamente.

── Joel. ── Ela se voltou para ele.

── Só me responde. ── Joel pede. Não há raiva ou rancor em seu tom de voz, ele está incrivelmente calmo quando profere aquelas palavras.

Riley sabia que teria que falar com ele sobre isso em algum momento, mas não imaginou que seria tão cedo. Quando compartilhou com Joel o que planejava fazer, não imaginava que o relacionamento dos dois fosse mudar. Ela o confidenciou seus planos por confiar nele e por achar que os dois iriam se separar depois que o trabalho fosse comprido.

Agora tudo estava diferente.

Ela suspira mais uma vez, deixando a escova de lado e saindo da baía sem olhar para ele. Porém Joel a segue com os olhos, observando cada movimento dela no seu lugar. Riley vai até um monte de feno no canto do estábulo e senta-se, deixando sua mochila perto de seus pés.

── Se eu disser sim, vai ficar chateado comigo? ── Ela o questiona, finalmente erguendo o olhar para Joel mais uma vez.

── Eu só gostaria de entender o porquê. ── Responde o homem.

── Pra tentar me impedir?

── Para saber onde estou me metendo. ── Disse ele, deixando-a surpresa. Joel estava... concordando com ela? Ele iria segui-lá? ── Se é isso que você quer fazer depois desse trabalho, tudo bem. Estou com você nessa. Mas eu quero saber contra o que estou lutando, já que você disse que seu assunto pendente era com uma pessoa em específico.

Ainda se recuperando do choque que era ouvir aquelas palavras de Joel, Riley pensou sobre o que dizer para ele. Quando pensou neles tendo aquela conversa, achou que o homem ficaria contra essa ideia, que faria de tudo para fazê-la desistir.

── Vai mesmo me apoiar com isso?

── É o que quer mesmo fazer? ── Ele retruca. Riley assentiu levemente. ── Se você quisesse incendiar o mundo, querida, eu faria isso com você. Não estou te deixando sozinha. ── Completa Joel. ── Mas, se não for demais para você, quero entender o que está te motivando a isso.

Enquanto há silêncio depois que Joel fala, Riley pensa. Havia algumas coisas que ela não havia deixado ele a par e pensava que o homem merecia saber a verdade. Era o mínimo que poderia fazer, ainda mais depois que ele concordou em ser mais aberto com ela. Precisava cumprir com a sua parte também.

── Você se lembra de um antigo guarda da zona de quarentena? Dwayne. ── Ela fala, após soltar um suspiro e olhar para ele mais uma vez.

── Dwayne Dallas? ── Riley confirma. ── Eu lembro, impossível me esquecer daquele babaca. Vivia chantageando as pessoas, principalmente mulheres. Pedia favores a elas em troca de dar cartões de rações extras. Lembro que te impedi de tentar machucá-lo uma vez.

── Machucá-lo? ── Solta uma risada debochada. ── Eu queria matá-lo, Joel. Machucá-lo seria pouco, muito pouco. Aquele desgraçado merecia cada tortura que eu ia fazer com ele.

── Foi ele quem fez algo contra a Sally? ── Indaga Joel, relembrando sobre a conversa de dias atrás. Relutantemente, Riley assentiu.

── Ela tinha 15 anos e eu não tinha muito tempo para ficar em casa. Tinha que trabalhar dobrado na ZQ, pegava vários turnos e ainda tinha os trabalhos de contrabando. Na época era só eu, a Margot e o Ben e a gente tinha que virar. ── Ela explica. ── Estávamos apenas começando com os negócios e precisavámos nos dedicar a isso para não foder com tudo e acabar chamando a atenção da FEDRA. 

Ela se recordava das várias vezes que teve que se esgueirar durante a madrugada para dentro de casa, depois de ficar horas na casa de Margot analisando as plantas da ZQ, passando planos com Ben, tentando contato com pessoas no rádio. Foi um trabalho árduo no começo, muito difícil de se firmar. Demorou alguns anos até que eles tivessem uma rotina feita.

── Por conta disso a Sally acabou ficando muito tempo sozinha. Ela sabia se cuidar, eu tinha ensinado para ela algumas coisas, mas ela ainda era só... uma criança. ── Riley umedece os lábios, olhando para algum ponto distante. ── Ela era inocente, não sabia muito sobre o mundo e, por mais que eu estivesse me esforçando, nunca conseguiria suprir o papel dos nossos pais na vida dela. As crianças da idade dela não eram legais, então... imagina como a Sally deve ter se sentido quando alguém, além de mim, mostrou se importar tanto com ela.

Joel parecia entender onde Riley queria chegar, porém a deixou continuar a contar.

── Eu não sabia, mas já fazia um tempo que a Sally e ele conversavam quando ela saía da escola da FEDRA. Dwayne se fez de amigo, dava presentes para ela, pedia pra que a Sally não contasse sobre ele pra mim e ela acreditava em tudo o que ele dizia porque achava que fez um amigo. ── Riley solta uma risada de escárnio. ── Perto do aniversário de 16 anos dela, eu consegui alguns presentes adiantados porque sabia que não poderia estar com ela no dia. Winston queria que entregassemos uma encomenda pra ele e só tinha aquele dia pra receber. Eu expliquei pra ela isso. Sally ficou chateada, mas acabou aceitando. Principalmente porque Frank disse que poderíamos ir para Lincoln comemorar com ele e Bill, então não seria tão ruim assim. Teríamos comida de verdade e um dia fora daquele inferno de ZQ, seria perfeito e seria a primeira vez que ela conheceria eles.

O olhar de Riley recai para suas mãos em seu colo. Ela observa as próprias unhas, alguma sujeira que deixou passar enquanto estava arrumando a sela de Jude. Aquela é a forma que encontra de se concentrar, de manter a mente clara antes de continuar e Joel deixa que ela tome seu próprio tempo, sem forçá-la a nada.

Riley engole o seco antes de continuar.

── Mas aquele idiota tinha que estragar tudo. ── Ela ergue a cabeça mais uma vez e volta a encarar um ponto à sua frente. ── Quando voltei para casa na madruga, eu a encontrei... ── Respirando profundamente, Riley fecha os olhos por um momento. ── Ela estava chorando. ── Com a visão embaçada, finalmente encara Joel. ── Ela estava chorando porque aquele babaca forçou ela a... ── Riley não consegue continuar. Passa as duas mãos pelo rosto antes que derrame qualquer lágrima. ── Minha irmã só tinha 16 anos, Joel. Apenas 16 anos e aquele filho da puta se aproveitou da inocência dela. Porque já não bastava o que ele fazia com outras mulheres na ZQ, ele precisava ser mais baixo ainda e ser a porra de um pedofilo.

Deixando sua cabeça pender para trás, Riley encara o teto enquanto tenta se controlar. Sua voz não estava tão alta e a porta estava aberta, ela tinha uma visão privilegiada da entrada do estábulo para a rua, então poderia ver quando Ellie e Sally se aproximassem. Mesmo assim, ela fez o possível para se controlar. Já havia se passado tanto tempo, porém ela não havia se esquecido daquele dia e sabia que Sally também não.

Sua irmã mais nova não falava mais sobre, não gostava de tocar no assunto e, de certa forma, havia aprendido a esquecer ── o que não significava que Sally havia superado. Riley notou a forma como aquele acontecimento a afetou e gostaria de ter feito de tudo para que não tivesse ocorrido. Os dias depois daquilo foram os mais difíceis. Noites angustiantes onde Sally acordou chorando depois de um pesadelo, se afastar sempre que alguém encostava nela e sentir-se absurdamente culpada por algo que nem ao menos foi culpa dela.

Riley passou por tudo ao lado da irmã, mas não conteve sua raiva. Ela foi atrás de Dwayne na exata noite em que descobriu tudo, porém não teve a chance de fazer algo de ruim com ele ── Joel a havia impedido antes que a mulher fizesse uma loucura. Ele a segurou e a afastou de Dallas antes que ela pudesse acertá-lo. Se Riley tivesse feito aquilo no meio da zona de quarentena teria se metido em grandes problemas. Querendo ou não, Dwayne era um guarda da ZQ e eles deveriam "respeitá-lo."

Riley ficou com raiva de Joel na época mas, se não fosse por ele, talvez ela não tivesse mais a chance de continuar ao lado de sua irmã mais nova, a protegendo. Teria estragado a própria vida e deixado Sally totalmente à mercê da FEDRA.

── Depois que você não me deixou matar o desgraçado, eu tinha planejado um plano de fazer isso de outra maneira. Mas aí os Vaga-lumes estragaram tudo. Eles começaram uma briga com o FEDRA, o Dwayne foi descoberto como um traidor e queriam executar ele por estar passando informação para os Jericós. ── Riley explica, após se acalmar um pouco. ── Ele conseguiu fugir no meio da confusão que se formou naquele dia.

Joel recordava-se daquele dia. Aquele foi o primeiro conflito grande gerado entre FEDRA, Vaga-lumes e os ainda desconhecidos, Jericos. Eles tiveram um toque de recolher mais cedo naquele dia por causa disso. Estavam todos proibidos de sair de suas casas até a manhã seguinte. Tudo o que poderiam ouvir eram os tiros do lado de fora.

── Eu confrontei a Marlene sobre isso, porque dei de cara com ela quando estava perseguindo o Dwayne. ── Adams continua. ── Firmamos um acordo depois daquela noite. Eu ajudaria ela com algumas coisas na ZQ, passando algumas informações, enquanto o pessoal dela caçaria o Dwayne pra mim. Como eles conseguiam sair mais facilmente, parecia que seria mais fácil, mas não foi. Eu esperei por meses e não estava recebendo o que queria então, cansada de esperar, eu decidi me virar sozinha. Ela tinha compartilhado que a última localização dele foi em um acampamento de Jericós ao leste de Boston e segui isso.

── E conseguiu encontrá-lo? ── Joel a questiona em um murmúrio baixo. Ela assente.

── Nós brigamos feio, mas eu não consegui matá-lo.── Disse ela, com o olhar distante. ── Só deixei ele com uma cicatriz no olho direito. Dwayne também deixou algumas em mim para contar a história. Mas, no fim, ele fugiu de novo, como o rato que sempre foi. E por um tempo, eu achei que aquele assunto estava encerrado. Não conseguir matá-lo foi frustrante, mas pensei ter dado um recado pra ele que era o suficiente para fazê-lo desaparecer para sempre. Infelizmente, não foi.

── O que mais ele fez?

── O ataque ao pessoal da Marlene, aquele que matou o Ben e a Margot, descobri que foi ele quem coordenou. ── Ela responde. ── Dwayne virou o braço direito do padre Matthias, o estrategista dele. É ele quem arma as emboscadas, quem manda as pessoas para cidades fantasmas e afins. E ele fez aquilo com o Ben pra me atingir. O Ben morreu por minha causa.

Joel aparenta surpresa. O estômago dele se revirou com toda a história, cada parte explicando a ele detalhes que o homem nem sequer imaginava que existissem. Agora que sabia de tudo, ele entendia Riley e sentia-se mal por Sally. Céus, o ódio que ele sentia por Dwayne aumentou, mesmo fazendo anos desde a última vez que se viram pela última vez.

Aquele homem foi um dos piores que Joel já teve o desprazer de conhecer. Baixo, sem escrúpulos, ele sempre abusou do poder que tinha. Parecia que o suposto fim do mundo lhe dava aval para ser um monstro com mais propriedade, mostrando a sua verdadeira face para as pessoas. Foi realmente uma pena que Sally demorou tanto para perceber isso, ela não merecia ter passado por um evento tão traumático.

── Eu nem sei o que dizer. ── Ele diz, depois de um tempo em silêncio. ── Vocês duas não mereciam passar por isso, principalmente a Sally. Deus... ── Joel soa incrédulo. ── Como ele teve coragem de fazer uma coisa dessas?

── Eu me fiz essa mesma pergunta várias vezes e a resposta pra mim sempre foi óbvia: porque ele nunca se importou com nada. ── Riley responde. ── Para homens como o Dwayne é sempre "vou pegar aquilo que eu quero, não importa como." Para eles, mulheres são apenas objetos, não importa a idade que tenham. E é isso que eu sempre achei injusto. Não foram atrás dele porque estuprou alguém ou pelas chantagens que fazia, mas sim porque ele traiu a FEDRA. Você tem noção do quanto a nossa vida importava para aquelas pessoas? Nunca valemos nada para eles.

Joel concordava com ela. Ele viu de perto toda a opressão deles, o dano que causaram. O mundo se tornou uma tela sem lei a muito tempo e agora eles lidavam com as consequências disso.

── Você não ficou com medo do Dwayne tentar algo contra você ou a Sally novamente? Ele com certeza deixou o poder que o Matthias lhe deu subir a cabeça. ── Joel a questionou.

── Eu fiquei preocupada sim, foi isso que me motivou a tentar sair da ZQ várias vezes, mas eu nunca tive a chance. ── Riley responde. ── Marlene também havia prometido segurança e como a ZQ de Boston era uma das mais difíceis de serem tomadas, acabou que eu só fiquei por lá e me vinguei da minha forma. Liberei toda a minha frustração nos acampamentos deles que haviam por perto e no final tudo pareceu seguir como se nada tivesse acontecido, principalmente porque o padre Matthias sumiu do nada.

Riley temeu por sua própria segurança e a de Sally muitas vezes, porém, no fim de tudo, quando Matthias desapareceu, ela se sentiu aliviada. Nem mesmo ele e Dwayne deram qualquer sinal de vida. Os Jericos ainda existiam, o que significava que alguém ainda os coordenava, porém a pergunta do que havia acontecido com eles ainda permanecia no ar e essa era uma incógnita que trazia um pouco de preocupação para a Adams.

── Bom, eu achava que estava tudo em paz, mas... ── ela suspira. Riley leva sua mão até sua mochila, abrindo a mesma e retirando dois papéis de dentro dela. ── eu estava completamente enganada. ── Ela os entrega a Joel.

O homem segura as duas folhas que tem nas mãos e vê dois desenhos. Um deles é de Sally e o outro de Ellie.

── Quem fez isso? ── Pergunta ele.

── Eu não sei, mas estavam com os Jericos. Encontrei em um daqueles acampamentos que passamos depois da cidade do Oregon. Aquele que pegamos as roupas de inverno. ── Explica. ── Deixamos alguém passar e agora eles estão atrás delas.

O vinco na testa de Joel se intensifica, enquanto ele observa as imagens. Milhares de pensamentos percorrendo a mente dele.

── Agora você entende o porque que eu preciso fazer alguma coisa? ── Indagou a mulher. ── Vai ser questão de tempo até eles encontrarem a gente, até descobrirem que a Ellie é imune. Eles não querem uma cura, Joel. Eles repudiam isso. Se os Jericos descobrirem sobre ela... Eu nem quero pensar no que eles vão fazer.

── Se eles já não souberem sobre. ── Murmura Joel.
── É, ainda têm isso. ── Riley concorda. ── Por isso que eu quero chegar logo até os Vaga-lumes, deixar elas seguras e voltar para lidar com essa bagunça.

── Por que não avisar aos Vaga-lumes? Essa não é uma responsabilidade apenas sua, Riley, Isso envolve eles também.

── Porque a Marlene não vai querer entrar em uma guerra contra esses malucos e eu sei que os outros líderes dos Vaga-lumes também não vão querer. ── Ela responde. ── Eles estão focados na cura, é isso que eles mais querem fazer. Uma vacina para salvar o mundo. Acham que assim tudo vai mágicamente se resolver,── Debocha Riley. ── mas nós dois sabemos que não é assim que funciona. E eu não quero ficar aqui, esperando a merda bater na minha porta.

Joel pondera sobre as palavras dela, fixando seu olhar sobre a mulher durante um tempo, antes de abaixar seu olhar para as folhas novamente. A questão estava se tornando bem mais ampla agora e Joel apenas se questionava o que esses lunáticos poderiam estar tramando. Riley também estava certa sobre Ellie, eles a matariam se descobrissem que ela é imune. A veriam como algum tipo de aberração, uma pecadora que vai contra a palavra do deus deles.

Se estavam atrás dela, o lugar mais seguro para a garota seria com os Vaga-lumes. Eles tinham uma base, poderiam protegê-la. Tudo o que Joel e Riley teriam que fazer era retornar e seguir para o sul para tentar lidar com os Jericos. Os dois sozinhos contra vários deles. Parecia loucura, porém Joel imaginava que Riley tinha um plano. Ela os conhecia bem, não entraria de cabeça nisso se não tivesse algo planejado.

Dobrando o papel em suas mãos, Joel caminha até onde a mulher está e entrega os cartazes a ela para que possa guardar novamente. Enquanto Riley faz isso, Joel senta-se ao lado dele, soltando um pequeno suspiro.

── É uma ideia arriscada essa sua. ── Ele comenta. ── Tem muita possibilidade de dar errado.

── Eu sei. ── Riley murmura, um pouco curvada enquanto mantem seus cotovelos sobre as coxas.

── E pode acabar em morte também. ── Joel continua.

── Também sei disso. ── Esse era um risco que Riley estava disposta a correr, mas não diria a Joel que estava preparada para lidar com a própria morte. Não depois de prometer pra ele que não o abandonaria.

── Mas eu não me oponho a isso. ── ele segura a mão dela, entrelaçando seus dedos com os dela. ── Eu disse pra você, não estou te deixando sozinha. ── Riley desvia o olhar para Joel, seus rostos tão próximos um do outro. ── Pra onde você for, eu vou. Principalmente se for para proteger elas.

Riley apertar seus dedos contra os dele. Joel se aproxima o suficiente para que suas testas se toquem e os dois fecham os olhos. Ela respira fundo uma vez, acalmando a si mesma enquanto Miller deixa seu polegar acariciar os nós dos dedos dela.

Joel beija as costas das mãos dela, beijando entre os nós machucados e se afastando um pouco, fazendo com que Riley abra seus olhos para encará-lo.

── Eles são muitos, bem mais do que a gente, e devem nos odiar. ── Ele comenta.── Isso faz com que seja nós dois contra o mundo.

── Gosto de como isso soa. ── Fala Riley, sorrindo fracamente. ── Mas a gente não vai precisar matar todos eles. Se tirarmos o Dwayne de jogada, deve ser o suficiente. Se os Jericos ainda estão se organizando é por conta dele. Matthias vai ficar perdido sem o cãozinho dele. Tudo o que a gente tem que fazer é descobrir onde ele está.

Compreensivo, Joel assentiu.

── Isso faz sentido. É melhor do que arriscar nossas vidas contra vários daqueles malucos. ── Miller responde. ── Porém não anula o fato de que ainda assim vai ser algo arriscado. ── Riley concorda com ele quanto a isso.

Ainda segurando a mão dela, Joel fica de pé e a puxa para que Riley fique também. Os dois ficam de frente um para o outro e se encaram por um tempo, até que Riley acabe o puxando para um abraço. Joel retribuiu a rodeando com seus longos braços, a envolvendo quase protetoramente e beijando o topo da cabeça dela.

Enquanto sente o calor do corpo de Joel, Riley respira fundo e deixa seus olhos fecharem momentaneamente, deixando-se relaxar nos braços do homem que ama, sentindo o cheiro que emana dele ── uma mistura de avelã, cascalho e o sabonete de lavanda que ele havia usado durante o banho mais cedo.

Riley derreteu no abraço dele, sentindo-se segura e aliviada por ter conseguido compartilhar tanto com ele. Joel havia sido tão compreensivo com ela e, por mais que ele não conseguisse expressar isso, ele a estava deixando saber que sentia muito por tudo que havia acontecido. Aquela era a forma dele dizer "está tudo bem, eu entendo você", "você não está sozinha nessa, estou com você", "eu te amo."

E por mais que ela quisesse muito escutar aquela última declaração da boca dele, Riley sabia que ainda não era a hora. Ela se contetava com o que Joel poderia lhe dar e isso era o suficiente por enquanto.

── Só preciso te pedir mais uma coisa. ── Diz ela enquanto se afasta um pouco para poder olhá-lo nos olhos. Os dois permanecem envolvidos um no outro, os braços de Joel em volta da cintura dela e os de Riley da mesma forma sobre ele. ── Por favor, não conta nada do que conversamos aqui com a Sally. Mantêm toda essa conversa entre a gente, ela não pode saber o que eu estou planejando e eu não quero ter que falar sobre o Dwayne com ela. Demorou muito pra Sally esquecer isso.

── Tudo bem. Eu não vou contar. ── Joel afirma. ── Fique tranquila, não vou falar sobre isso para ninguém. Vai estar apenas entre a gente.

Riley sente confiança nas palavras dele e assente, tentando afastar todos os pensamentos ruins que aquela conversa trouxe. Joel leva a mão até o rosto dela, embalando os dois lados e inclinando para ela, podendo assim beijar a testa dela.

── Vamos resolver isso. ── Ele garante, murmurando aquelas palavras contra o cabelo dela enquanto Riley o abraça. ── Nada de ruim vai acontecer com elas, nem com você. Eu te garanto isso. Não vou deixar que aconteça.

Ela sente seu olhos começando a arder enquanto repousa a cabeça contra o ombro de Joel. Ele acaricia as costas dela, deixa-a saber que está ali para lhe passar conforto e Riley aceita isso de bom grado, pois sabe que é isso que precisa.

Eles passam algum tempo assim até que Riley sinta-se bem o suficiente para se afastar dele. Quando o faz, com os olhos um pouco vermelhos, Joel finalmente cede a tentação de puxá-la para um beijo. É singela a forma como ela segura o rosto dele nas mãos, suas mãos muito menores que as dele, mas suaves em comparação.

Joel deixa suas mãos repousando nos quadris da mulher, apertando-os levemente enquanto eles se entregam aos lábios um do outro. Ele pode sentir os resquícios do café nos lábios dela, a forma como eles se movem em sincronia. Tudo parece certo demais, deixa-os com a guarda baixa.

── Puta que pariu! ── A exclamação de Ellie faz os dois se sobressaltarem. Eles se afastam surpresos, encarando as quatro pessoas na porta do estábulo em total espanto.

── Ok, isso é algo que eu... Não esperava. ── Tommy fala calmante, surpreso, porém acaba rindo no final. Sebastian está atrás dele com os braços cruzados, tentando permanecer estoico, mas é nítido que ele quer sorrir.

Riley e Joel se entreolham e é nítido o panico na face da mulher, que não sabe como reagir. Aquela foi a primeira vez que ele a viu sem reação.

── Como... Quando... Porque... ?! ── Sally aparenta estar em choque, gaguejando as palavras, ainda sem uma reação formada quanto ao o que acabou de ver. ── Oh meu deus, Riley! Foi por isso que vocês dividiram o quarto!

── Sally! ── Riley a repreendeu, levando as mãos ao rosto, sentindo-se pior.

── Eles dividiram o quarto? ── Tommy questionou.

── Cara, isso só fica melhor. ── Sebastian murmura, divertindo-se com a situação.

── Tudo bem, não é necessário tanto espanto assim. ── Joel tenta remediar a situação, vendo como Riley está começando a fica vermelha, ele toma a frente. ── Não estávamos fazendo nada demais.

── Vocês estão se beijando, caralho! ── Sorrindo, Ellie aponta pra eles. ── Desde quando vocês estão escondendo isso da gente?!

── Não te interessa. ── Responde Joel, irritado.

── Uh, velho rancoroso. Eu só estou curiosa. ── Ellie cruzou os braços. ── Vamos, Riley. Fala alguma coisa.

Naquele momento, tudo o que Riley mais desejava era poder sumir. Todo o sentimento de tristeza de antes passou para a mais pura vergonha. Ela queria que eles soubessem sobre eles, mas não daquela forma.

Ela estava quase se escondendo atrás de Joel, ainda sem saber o que dizer ou como reagir com tantos olhos sobre isso.

── Agora que vocês estão aqui, que tal pararmos de enrolar e irmos embora? ── Miller sugere, tentando mudar de assunto. Ele vai até a baía dos cavalos.

── Ah, qual é. Vocês não podem só fingir que nada aconteceu. Acabamos de pegar vocês dois no maior amasso! ── A garota exclama.

── Ellie, chega disso. ── Joel a repreende. ── Estamos saindo agora. ── Ela bufa em sinal de irritação.

── Tá, mas não pensa que estou deixando esse assunto morrer. ── Disse. ── Vocês dois ainda tem muito o que explicar. ── Joel revira os olhos.

Riley também vai até Jude, guiando o animal para foda da baía, assim como Joel faz com seu próprio cavalo. Eles planejaram levar apenas dois, Ellie e Joel iriam em um e Sally e Riley em outro. Seria apenas 1 semana de viagem e não havia necessidade de levar um para cada.

Eles também achavam que seria abusar demais da hospitalidade de Maria. Ela já lhes estava cedendo os cavalos, o que já era muito.

Juntos, eles vão até os portões da cidade guiando os cavalos pelas ruas poucos movimentadas naquela manhã gelida. Algumas pessoas já estavam de pé, retirando um pouco de neve da calçada, abrindo suas lojas e começando os trabalhos comunitários que dividiam pela cidade. Maria estava no portão conversando com duas pessoas desconhecidas.

Tommy e Sebastian acompanham Joel, enquanto Ellie e Sally estão perto de Riley seguindo os homens que caminham vários passos à frente. Eles estão perto o suficiente para que elas escutem o que eles conversam.

── Então, foi assim que vocês se reconciliaram. ── Tommy comenta, sorrindo ladino. Joel o fuzila com os olhos.

── Tommy. ── Ele o adverte.

── O que? Eu só estou feliz por você, irmão mais velho. ── Tommy dá alguns tapinhas no ombro de Joel, enquanto fala. Em seguida, volta-se para Riley. ── E por você também Riley. Também te desejo boa sorte, sei que aturar meu irmão não é fácil.

── Valeu, Tommy... Eu acho. ── Ela murmura, ainda sentindo a vergonha de ter sido pega persistindo. Ellie e Sally apenas riem baixinho, gostando demais da situação em questão.

Chegando nos portões, eles conversam com Maria uma última vez. Riley chega a abraca-la, agradecendo a mulher por ter sido tão generosa com eles. Joel abraça seu irmão, fortemente. Os dois passando um tempo assim, compartilhando um momento afetivo. Quando se afastam, os dois se encaram uma última vez e Joel vira-se para dar um aperto de mão em seu cunhado ── isso é o mais perto que eles chegam em contato.

Depois das breves despedidas, eles sobem nos cavalos para partir. Riley sobe primeiro e depois ajuda Sally a subir, oferencendo seu braço e a puxando para cima. Ellie sobe primeiro no cavalo que divide com Joel e o homem segue logo depois, ficando na frente da garota.

── Vão para sudoeste até chegar na 25, perto da interestadual. Não tem erro. ── Sebastian diz o caminho. ── É fácil de chegar até lá, costumava ser um caminho limpo.

── Continua sendo? ── Sally questiona.

── Até 2 semanas atrás sim. ── Ela assentiu.

── Foi bom te ver novamente, irmão. ── Tommy diz. Joel segura as rédeas com as duas mãos e acena para seu irmão mais novo com a cabeça. ── Tomem cuidado por aí. Andem na linha, quero ter a oportunidade de ver vocês de novo.

── Não se preocupe, vamos tomar cuidado. ── Joel responde.

── Na verdade, você deveria se preocupar com as outras pessoas. ── Ellie comenta. ── Elas é que estão em perigo com a gente por aí. Bang, bang. ── Ela faz armas com a mão e finge atirar. Tommy ri fracamente, enquanto balança a cabeça de um lado ao outro.

── Saibam que Jackson sempre estará de portas abertas para vocês. ── Maria comenta. ── Serão sempre bem-vindos aqui.

── Tem casas para vocês aqui. ── Tommy completa. ── Para vocês quatro.

── Obrigado. ── Riley agradece, balançando a cabeça em afirmação uma vez. ── Nós contamos com isso.

Passando pelos portões abertos, eles saem para encarar o mundo exterior mais uma vez. Por ainda ser início de dezembro, a neve não era um problema tão grande. Estava presente por uma grande camada de terra, mas não era tão densa como costuma ser perto do Natal.

Tommy permanece no portão enquanto ele começa a ser fechado, olhando até o último momento para o pequeno grupo que está se afastando cada vez mais. Riley olha uma última vez para ele antes que a fresta suma e da um breve sorriso para o homem, esperando transmitir o agradecimento que ele merece.

Quando o som do metal contra metal é escutado, sinalizando que os portões foram trancados, Riley já está olhando para frente novamente. Os braços de Riley estão em volta da cintura dela e suas próprias mão seguram as cordas das rédeas, guiando Jude pela estrada. Ele e Joel mantêm os animais em um ritmo neutro, sem qualquer presa naquele momento.

Eles têm a chance de se entreolharem, um momento que se passa despercebido tanto por Ellie quanto por Sally, deixando os livre para fazer isso sem pressa. Vem aquele pensamento a Riley novamente, aquele que lhe diz que ela já não o enxerga mais com os mesmos olhos e realmente muito coisa havia mudado desde Boston. Era algo tão simples e tão óbvio.

E, agora que o choque da descoberta havia passado, uma parte de Riley sentia-se aliviada por todos saberem. Naquele momento, ela tinha menos um peso em suas costas.

AUTHOR'S NOTE. 𓏲࣪ ☄︎˖ ࣪

I. Esse capítulo foi bem trabalhoso por ter uma carga bem pesada. Eu pensei e repensei muito sobre como abordaria o tema em questão na história da Sally, até cogitei a possibilidade de deixar isso fora da história, porém acabei mantendo e dando seguimento com o que planejei.

II. Muitos pontos abordados aqui serão ainda trabalhados mais a frente, isso é apenas um gancho para o que vem a seguir. Por isso garanto para vocês que estou fazendo o meu melhor para tratar o tema com muita responsabilidade.

⠀III. É de suma importância também o feedback de vocês quanto a isso, pois quero ter certeza que não estou com nenhum erro. 

IV.  Por mais que eu tenha deixado claro na intro que iria abordar determinados temas, também estou mantendo esses avisos antes das partes para que vocês estejam cientes dos temas que podem trazer gatilhos.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top