𝟭𝟲 : WELCOME TO JACKSON
PRELÚDIO : DIÁRIO #4
Três longos meses de caminhada.
Estamos finalmente no Wyoming agora, cada vez mais perto do Tommy, cada vez mais perto do nosso objetivo. E eu me agarro a esses pensamentos, mas não penso no que pode vir depois.
E eu não sei o que esperar.
Estou tentando não deixar a ansiedade tomar a minha mente, preciso focar no agora e não no depois, mas a incógnita do que está por vir me deixa atordoada.
Todos estão dormindo agora, mas minha mente me mantém acordada. Então o que me resta é escrever aqui e observar o Joel.
Estou vendo ele com outros olhos agora e não a explicar o que aconteceu. Tenho visto Joel de uma forma que a Riley de meses atrás não via, de uma forma que a Riley de Boston não o via.
Constantemente me pergunto, o que mudou?⠀
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☆ ☆ ☆
CAPÍTULO DEZESSEIS :
BEM-VINDO A JACKSON
❝ Through werewolf's eyes,
who are you? ❞
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"A raiva o deixa cansado, mas a culpa
o impede de adormecer."
── Mindy McGinnis
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INVERNO⠀─ ⠀DEZEMBRO 01, 16:00
⠀⠀⠀⠀Estado de Wyoming
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A PORTA FOI ABERTA com um ranger, sinalizando que alguém estava entrando na cabana de madeira. Passos pesados ficaram mais altos conforme a pessoa caminhava pelo assoalho, aproximando-se do centro da pequena sala, após deixar um conjunto de arco e flecha no banco ao lado da porta. Seus passos não muito longe quando o cano de uma arma é posto atrás de sua cabeça.
O homem - um senhor por volta dos seus 60 ou 70 anos - para exatamente onde está, sem deixar transparecer qualquer sinal de surpresa em sua face e encara a esposa que está sentada em uma cadeira de balanço. O olhar de soslaio dela leva para a esquerda, onde ele parece compreender o que ela quer dizer, mesmo que nenhuma palavra seja dita entre eles naquele momento.
Retirando suas luvas, ele as guarda no bolso de trás da calça jeans. Depois abre o casaco pesado que veste, tendo o colocado para se proteger do frio inebriante daquela manhã de inverno.
── Me passa a arma também. ── A ordem vem da mulher que está atrás dele, que ainda mantém sua própria arma apontada na direção dele. Olhando por cima do ombro, encontra os olhos selvagens de Riley a espreita.
── Quem são vocês mesmo? ── O senhor questiona a eles, sem qualquer tom de simpatia em sua voz enquanto fala.
── Estamos só de passagem. ── É a voz de Joel que o responde, saindo canto em que estava para se fazer presente na sala. Uma pistola em sua mão enquanto caminha. ── Pega a arma com as pontas dos dedos e entrega pra ela.
Retirando o objeto do coldre em sua cintura, um idoso faz uma careta de um sorriso debochado para Joel, enquanto pega o objeto com as pontas dos dedos da forma que lhe foi ordenado. Ele passa a pistola para trás e Riley segura a mesma, levando-a para suas costas e guardando.
── Muito bem. ── Ela comenta, saindo das costas do homem para ficar ao lado dele, arma ainda erguida. ── Não foi tão ruim assim, foi?
Ele bufa, mas não a responde.
── E você? ── Refere-se a sua esposa. ── Não atirou por que?
── A arma estava lá daquele lado. ── Inclina a cabeça na direção da escopeta presa na parede. ── E eles não me machucaram.
── É, deu pra ver. ── Ele caminha até o centro da sala, onde encontra um mapa e dois pratos com sopa na mesa de centro feita de madeira. ── Fez sopa pra eles?
── É, fiz sim. ── A mulher responde, enquanto seu marido senta-se em uma poltrona, o tempo todo sobre a mira das armas de Riley e Joel. ── Tá frio lá fora.
── Estou procurando meu irmão. ── Decidindo ser direto e entrar no assunto que importa, Joel fala. Riley aproxima-se dele e agora os dois estão lado a lado enquanto encaram o casal de idoso.
── Eu não o vi. ── Responde o senhor, retirando seu boné e o deixando repousar no braço da poltrona.
── Não falamos como ele é. ── Riley comenta.
── É parecido com você? ── Ele pergunta para Joel, que afirma que sim. ── Então não vi.
── Tem mais duas pessoas com eles. Uma garota e uma mulher que se parece com ela. ── Aponta a mulher.
── Podemos descer? ── Vem a voz de Ellie do andar de cima.
── Não. ── Riley e Joel respondem juntos, porém a garota não escuta. Ela desce as escadas em passos apressados, mesmo quando Sally chama por ela e Joel tenta repreende-la. Riley bufa e passa a mão enluvada pelo rosto, cansada.
A mulher idosa ri, enquanto o marido observa a cena que se desdobra interessado. Sally não encontra motivos para permanecer no andar de cima sozinha, então segue Ellie acaba junto dela no primeiro piso da cabana.
── O que eu falei? ── Irritado, Joel a questiona. Ellie tem uma própria pistola em sua mão e a mantém apontada para o casal de idosos.
── Joel, qual é? Eles tem uns mil anos. ── Comenta a garota.
── Quem é a trombadinha? ── Questiona o senhor. ── Filha de vocês? ── Intercala o apontar de seu dedo entre Adams e Miller.
── Felizmente, ela não é. ── Riley responde, lançando um olhar duro para Ellie por ter desobedecido uma ordem. ── E nós dois não somos casados. Não somos nada um do outro.
── Sério? Não pareceu pra mim. ── Comenta a mulher idosa.
── Chega disso. ── Joel corta a conversa e se aproxima da mesa de centro. ── Diga pra mim aonde a gente está. ── Ele coloca o mapa mais perto do homem.
── Vocês tem mapa e estão perdidos? ── Questiona o senhor, soando indignado.
── É que a gente não viu direito as placas atravessando a porra da floresta. ── Ellie responde.
── Ih rapaz. ── O homem comenta, rindo fracamente, enquanto sua esposa o acompanha.
── Pode só nos dizer logo aonde estamos? ── Sally pergunta, parecendo suplicante e cansada de toda enrolação. ── Não queremos ficar aqui por mais tempo.
── É em algum lugar por aqui? ── Riley pontua no mapa.
── Acho bom a resposta ser a mesma da sua esposa. ── Joel completa, enquanto a Adams se afasta do mapa. ── Não estou com muita paciência pra isso.
── Você falou a verdade? ── Indaga o homem mais velho, sua esposa assente afirmativamente. ── E tá falando a verdade agora?
── Estou. ── Balançando na cadeira de balanço, ela assente mais uma vez.
O homem olha entre eles por um momento antes de suspirar e se aproximar do mapa, apontando para o mesmo lugar que sua esposa havia apontado quando ele não estava em casa. Riley tentou não deixar transparecer, mas estava aliviada.
Joel guarda sua arma e ela abaixa a sua própria, os dois trocando um olhar conhecedor entre si. Transborda um pouco de alivio, mas também preocupação. Eles se desviaram um pouco de sua rota, seguiram para o lado ao invés de continuar em frente.
Em suas defesas, era fácil se perder na neve. O lençol branco que cobria a terra era vasto, existente em cada canto do Wyoming naquela época do ano, onde a maior parte da área era floresta e árvores, praticamente nenhuma civilização.
Eles estavam na estrada a dois meses agora e havia sido um percurso exaustivo. Conforme mais se aproximavam do oeste, mas acampamentos de Jericos apareciam e eles precisam se afastar deles, pois não era viável um confronto direto. Apenas quando estavam nos arredores daquelas grandes planícies e montanhas é que conseguiram uma certa estabilidade. Porém o que os atrasou foi um erro ao seguir o mapa.
── Pelo visto, vocês acharam um ótimo lugar para se esconder. ── Joel comenta, sentando-se no sofá, aparentando estar um pouco frustrado.
── Me esconder? Eu vim pra cá antes de você nascer, filho. ── Responde o senhor de idade, enquanto Riley senta-se ao lado de Miller. Ellie e Sally a seguem logo em seguida, a garota ficando ao seu lado e a mulher sentando-se no braço do sofá.
── Porra, então isso deve fazer um puta tempo. O Joel é tipo um dinossauro. ── Ellie disse, atraindo uma risada deles, incluindo das irmãs, e um olhar endurecido de Joel.
── Eu vim para bem longe de todo mundo. ── Continua o homem.
── Eu fui contra. ── Relata a esposa, continuando a balançar na cadeira. Seu marido dá um breve aceno em desdém, mau humorado e resmungando.
── Escuta, não queria te chatear com isso do seu irmão, ── Disse ele. ── mas chegou tão longe. Você sabe o que tem por ai. Já viram Cody?
── A gente chegou perto. Está cheio de infectados. ── Riley o responde. Suspirando, inclina-se para trás. ── Não é um bom lugar para passar as férias.
── Se o lugar já teve gente, não da mais para entrar. ── Comenta o senhor.
── Então não teve notícias de nenhum Tommy? ── Joel pergunta.
── Não.
── E os Vaga-lumes? ── Sally questiona a eles.
── Eles aparecem no verão. ── Responde a mulher.
── Não os bichos, as pessoas. ── Ellie explica a ela, atraindo uma risada da velha senhora.
── Tem gente Vaga-lume agora? ── Indaga, enquanto seu marido também ri. Os dois se divertem com isso.
── Tem algum conselho para alguém que vai para o oeste? ── Pergunta Joel, inclinado para a frente e mantendo seus cotovelos apoiados em suas coxas.
── Tenho. ── O homem disse, chegando para a frente. ── Vão para o leste. ── Depois vai até o mapa e aponta para um rio. ── E nunca atravessem esse rio aqui. Nunca.
── O que tem do outro lado? ── Riley os questiona.
── Morte. ── Responde a velha senhora. ── Nunca vimos quem está lá do outro lado, mas já vimos os corpos que deixam para trás. Uns infectados, outros não.
Não era difícil para Riley imaginar o que havia do outro lado, ela tinha uma ideia do que encontrariam, das pessoas que estavam do outro lado do rio. Na braço do sofá, Sally mexe-se, incomodada. Apenas a mísera lembrança de seu último encontro com uma pessoa daquele grupo a deixava tensa.
── Jericos. Novo mundo. ── Indaga Riley, com o olhar de Joel sobre si. ── Já ouviram falar sobre eles?
── Não. O que é isso? ── Questiona a velha com o cenho franzido. ── Jericó não fica na Palestina? Vocês estão tão perdidos assim? ── Ela ri.
Frustrada, Riley bufa e revira os olhos.
── Deixa pra lá. Vocês são absurdamente desinformados. ── Riley cruza os braços. ── Talvez seja por isso que são tão abençoados, já que nada parece atingi-los nesse lugar no meio do nada.
── Bom, se o seu irmão foi para oeste do rio, ── continua a mulher, olhando para Joel. ── ele já era.
── Vocês não assustam a gente. ── Ellie comenta, quando um possível silêncio tenso está perto de se instalar sobre eles.
── Eu assustei ele. ── Responde a senhora. Seu marido começou a rir, uma risada áspera e velha, que quase se assemelhava a uma tosse.
── Mas ela não tá assustada. ── Ele aponta para Riley, que o encara com a mesma face que mantém desde que a conversa seguiu para aquele tema em questão. ── Não, esse não é o olhar de uma pessoa assustada. Não tem medo ai.
── Você não me conhece, velho. ── Adams responde.
── Mas não preciso de muito para saber que esse é o olhar de alguém que gosta do perigo. ── Inclina-se para trás em sua poltrona. ── Sou velho, não burro, filha.
Incômoda a forma como todos estão olhando para ela, as palavras do velho ressoando em sua mente por mais tempo do que o esperado. Riley não sabe o que dizer para rebata-las ── talvez seja pelo fato de que ele diz a verdade e ela odeia que seja tão fácil para um alguém desconhecido lê-la.
Para apaziguar aquela guerra interna e a irritação que cresce, Riley diz a si mesma que ele é velho, já viu muito mais que ela do mundo e tem experiência de sobra com as pessoas. Não dá pra lutar contra isso, ou tentar se esconder dos olhos bem treinados de um velho caçador.
── Certo. ── Ela diz, pegando o mapa e o dobrando. Ellie, Sally e Joel observando seus movimentos. ── Acho que está na nossa hora de ir.
Ela coloca-se de pé e os outros a seguem. Entrega o mapa para Joel enquanto estão saindo e vai em direção a porta. Sally e Ellie são as únicas que se despedem do casal, agradecendo pela sopa e por terem os ajudado a achar o caminho.
Do lado de fora, eles encaram a neve mais uma vez. Riley puxa as mangas de de seu casaco mais para baixo quando sente o vento frio chegando em seu pulso. Aproveita para colocar o chapéu cinza sobre sua cabeça mais uma vez, enquanto guarda sua arma no coldre.
Ela deixou a pistola do idoso na mesa perto da porta ao sair, pensando que eles não precisariam de mais armas além daquelas que já carregavam. A única coisa boa que os acampamentos de Jericós os proporcionava eram os suprimentos. Passar por eles os rendeu comida, armas e munição, além de algumas roupas também.
Eles conseguiram roupas mais adequadas para aquele clima pouco antes da neve começar a cair. Riley manteve as luvas que Joel a entregou na ZQ, achando-as mais confortáveis do que aquelas que cobriam seus dedos, mas trocou a sua blusa branca por uma preta de manga comprida. Seu casaco era de um tom azul marinho e mais acolchoado do que o antigo que levava consigo a algum tempo.
Dentre eles, Sally e Ellie foram as únicas que optaram por luvas mais que cobriam suas mãos. Por mais que estivesse frio, pela manhã o clima estava sempre suportável o suficiente, onde apenas se tornaria mais intenso ao final daquele mês.
── Vocês acreditam mesmo neles? ── Ellie os questiona, após fechar a porta da cabana. Joel e Riley seguiam a frente, Sally vinha depois e a garota estava por último.
── Eles moram aqui a muito tempo. ── Joel responde, olhando por cima do ombro, ele vê quando ela rouba um coelho morto preso na porta. ── Devolver isso.
── Eles não vão sentir falta. ── Ela retruca. ── E eles não sabem de nada, nunca nem sequer ouviram falar dos vaga-lumes.
Riley observa as costas de Joel enquanto ele afasta, ficando centímetros a frente dela. A mulher ainda está absorta em pensamentos sobre a conversa com o casal dentro da casa, a fala do velho a perturbando o suficiente para deixa-la presa em seu próprio mundo e até que um movimento do homem a sua frente chama sua atenção.
Joel apoia-se na cerca que contorna a pequena cabana do casal de idosos. Pelo subir e descer constante das costas dele, ela nota que Miller está arfando. O que ocorre a deixa intrigada, então decidi se aproximar do homem mais rápido. A neve ao redor não ajuda muito e seus pés afundam conforme ela anda para subir o pequeno morro até ele.
── Joel? ── Ela chama o nome dele sem alterar seu tom de voz, mesmo assim nota-se o pequeno traço de preocupação presente. ── Está tudo bem?
Ellie e Sally seguem atrás delas, testas franzidas sem entender o que está acontecendo e tentando saber se está tudo bem com Joel, que não responde a pergunta de Riley. Quando está próxima dele, Adams vê como ele está arfando mais pesadamente, como sua mão está próxima ao peito. É quase como se estivesse tendo um deja vu de meses atrás, quando ela teve um ataque de pânico ao bater do carro em Kansas City.
Riley percebe a semelhança, a forma como ele aparenta estar distante agora, imagina até que os ouvidos dele devem estar zumbindo, como se estivesse com a cabeça cheia de algodão. É uma sensação ruim, Adams se recorda, e horrível de se escapar. Chega a se perguntar se foi aquela conversa que causou essa espiral nele, uma possível preocupação com seu irmão.
── Joel? Joel? ── Ellie o chama. ── Está tudo bem? Porra, você tá morrendo?
── Ellie, para. ── Riley pede para ela, erguendo a mão para que ela não se aproxime. Sally segura a garota, que não aparenta dar muita atenção para a Adams, está focada em Joel.
── Eu to bem... ── Murmura o homem, balançando a cabeça em uma falha tentativa de clarear a mente. ── Eu to bem. ── Ele repete isso várias vezes, enquanto pisca os olhos.
── Não, só pra lembra. Se você morrer, eu to fudida.
── Sally, tira ela daqui. ── Riley rosna, direcionando seu olhar raivoso para sua irmã.
── Vem, Ellie. Dá um espaço pra eles. ── Sally arrasta Ellie consigo, as duas voltando para perto da cabana, onde estão afastadas o suficiente dos dois.
Riley retorna sua atenção par o homem novamente, vendo como ele aperta a mão contra o peito, notando a aflição em que Joel está. Sua mão direita está sobre o ombro dele agora, enquanto leva sua mão esquerda para a dele. Seus dedos se entrelaçam com os de Joel e ela sente como o homem os aperta, quase como se estivesse a utilizando como uma âncora.
Ela ignora a eletricidade que percorre a ponta de seus dedos, a forma como aquele primeiro contato parece pega-la desprevenida - mesmo que tenha sido ela a dar o primeiro passo, apenas para tentar ajuda-lo. Joel não a está afastando, ele mantém Riley por perto.
── Tudo bem. Você precisa respirar devagar, Joel. ── Riley diz para ele, tentando manter seu foco no que realmente importa.
── É esse... Ar gelado... De repente... ── Joel ofega, fazendo com que ela perceba a pressa em suas palavras.
── Se acalma, nós temos tempo. ── Ela o instruiu. ── Não precisa se apressar, nem se preocupar com nada. Está tudo bem. ── Riley fala mansamente, recordando-se das noites em que Sally teve pesadelos e teve que conforta-la, além das próprias noites em que passou tendo crises onde sua irmã mais nova era tudo que tinha para se segurar. ── Respire comigo, ok?
Joel a encara, seu olhos tremendo levemente, mas ele se força a encara-la. A luz do sol afeta um pouco sua visão, Riley está contra ele e parece etérea dessa forma. Os raios que se lançam contra o rosto dela a iluminam de uma forma que Joel quase não consegue ver o rosto dela claramente - sua visão embaçada também não ajuda - porém a voz dela é algo que ele consegue escutar, algo que ele precisa escutar.
A utiliza como um guia, como uma forma de se aterrar a realidade. Joel se agarra a ela como se sua vida dependesse disso, como se pudesse morrer de verdade se não a escutasse novamente. Sua mente confusa pelo ataque de pânico estava se clareando aos poucos por causa dela.
── Inspira lentamente enquanto conta até quatro. ── Ela diz e começa a respirar junto com ele, que segue os movimentos dela. ── Devagar. ── Riley sussurra. Eles contam as batidas, indo de um a quatro lentamente, enchendo a barriga e não o peito. ── Solta.
Eles expiram juntos e repetem os movimentos várias vezes até que Joel consiga estabilizar a própria respiração. Demora alguns poucos minutos até que ele volte ao normal, os dois mantendo a concentração no que estão fazendo até que Joel pare de tremer e seu coração para de bater de forma descompensada em seu peito.
── Tudo certo? ── Riley o questiona, esperançosa de que ele esteja melhor dessa vez. Joel consegue vê-la claramente e isso, de certa forma, o alivia.
── Sim. ── Suspirando pelos lábios entreabertos, ele assente. ── Obrigada.
── Bom. ── Riley dá um sorriso singelo para Joel e retira sua mão da dele devagar. Só quando ela se afastar é que o homem percebe a proximidade e forma como suas mãos estavam entrelaçadas. ── Quer voltar para estrada agora ou planeja fazer uma parada para descansar?
── Acho que... Já descansamos o suficiente. ── Ele murmura, ajeitando sua postura, deixando de ficar curvado. ── Vamos seguir em frente.
── Tá certo. ── Riley concorda, ajeitando o rifle que tem sobre seu ombro. ── Mas, se achar que precisa de um tempo, não hesita em pedir, ok? É uma caminhada longa, vamos ter que parar para dormir de qualquer forma.
Joel assente, vagarosamente. O vinco em sua testa parece mais profundo agora, quase como se algo o incomodasse, porém Riley prefere não tocar no assunto. Ela apenas se vira na direção de Ellie e Sally e acena para que as duas se aproximem.
Elas fazem o que lhes é pedido e voltam a ficar perto deles. O foco maior está em Joel, apenas pelas feições das duas, Riley sabe que perguntam se ele está bem.
── Está tudo bem agora? ── A Adams mais nova é a primeira a questionar.
── Sim, Joel está melhor. ── Riley responde. ── Podemos voltar para a estrada agora. Ou pelo menos tentar achar ela.
── Pelo menos agora sabemos onde estamos. ── Ellie comenta, intercalando o olhar entre eles. Quando ninguém mais fala, ela toma a frente ── Então vamos lá achar o Tommy, depois os vaga-lumes ── Passa pela parte quebrada da cerca para que possa adentrar na floresta novamente. ── e vai ser tranquilo. A gente só tem que atravessar o rio da morte.
Sally é a segunda a passar pela certa, Riley a segue logo depois, mas não antes de encarar Joel uma última vez. Sua expressão é suave, porém não esconde o pequeno indício de preocupação que ela deixa escapar.
Joel passa pela cerca assim que Riley se afasta, ajeitando a alça de sua arma antes de se abaixar, tentando fazer aquele leve incomodo que predomina em sua corpo passar. Não é agradável, na verdade é desconfortável. Ele sente falta de algo e demora a perceber o que é.
Sua mão está fria, Joel nota. Está fria sem a mão dela sobre a dele e é disso que ele sente falta. Joel não consegue evitar se questionar o que está acontecendo. Enquanto caminha, seguindo as mulheres a distância, volta-se para si mesmo com uma sugestão de uma resposta e isso o pega desprevenido. Céus, Riley tem um efeito sobre ele que é o suficiente para deixa-lo alarmado. Isso não é nada bom.
── O rio da morte. ── Ellie fala, após um longo percurso até ali. Eles estão de frente para um Rio congelado. ── Ui, que medo. ── A garota debocha e contêm um sorriso, olhando para Joel que para ao seu lado. Ele bufa.
── Não começa. ── Resmungando, o homem tem seu olhar atento passando pelo rio. Riley para ao lado dele e depois dela vem Sally. ── Já vai escurecer. Tem umas cavernas ao longo do rio. Vamos armar acampamento e continuar amanhã.
── É uma boa ideia. ── Sally comenta. ── Mas acha que é seguro Joel?
── Não aparenta ter nada demais. ── Responde Miller. ── O problema está depois do rio.
── Tommy está pra lá e o problema também. Qual a possibilidade da gente acabar se ferrando? ── Sally questiona.
── Que tal você pensar positivo? ── Riley sugere, encarando a irmã. ── O Wyoming é enorme. Os Jericos podem estar em qualquer lugar.
── O Tommy também. ── Ellie retruca.
── Mas vamos encontra-lo. ── Retorquiu Joel, encarando-a. Em seguida, volta seu olhar para frente novamente. ── Temos que aproveitar enquanto tudo parece calmo por aqui. Com sorte, chegamos até Tommy pela manhã.
── Boa, eu to com fome. Eu devia ter roubado os dois coelhos. ── Comenta a menina.
── Caça o seu próprio coelho, ok? ── Riley sugere. ── Aproveita e treina com essa arma. Precisa aprender a se defender. ── Vira-se e fala, frisando a frase. ── Você tem que se defender.
── Então me ensina a atirar. ── Ellie dá de ombros.
── O Joel já não fez isso? ── Questiona Sally.
── Uma vez. Não é assim tão fácil, preciso de prática. ── Ela responde. ── E estamos em um lugar aberto. ── Ellie ergue os braços, referindo-se ao local em que estão. ── Dá pra fazer isso sem problema algum. ── Ela intercala o olhar entre os adultos presentes. ── Então, vão me ensinar a caçar?
Joel revira os olhos e está perto de responder de uma forma mau humorada, quando Riley intervém.
── Podemos fazer isso depois. Vamos achar um lugar para passar a noite primeiro. ── Adams responde, tomando a frente do grupo enquanto o olhar de Joel a segue. ── Anda logo, pirralha.
Riley coloca o braço sobre o ombro de Ellie e a guia, as duas andando juntas para descer até as cavernas ao longo do Rio. Sally passa por Joel e mais uma vez ele fica para trás. Sem ter o que contestar, ele as segue.
Ainda está começando a escurecer quando a Adams mais velha decidi ensinar Ellie a utilizar o arco. Durante os últimos dois meses, eles conseguiram mais flechas pelo caminho. Fabricaram algumas com os galhos das árvores que também se mostraram úteis.
Riley estava perto de uma pedra com Ellie, enquanto Joel e Sally se mantiveram perto da fogueira que ele havia conseguido acender a pouco tempo atrás na entrada da caverna. Agora o homem utilizava um graveto para atiçar o fogo e manter as chamas vivas e não próximas de se apagarem.
Sally estava sentada com as costas contra uma rocha íngreme, o caderno de desenho em sua mão novamente enquanto rabiscava algo nas páginas. O fone de ouvido do walkie talkie estava em volta de seu pescoço e o volume do mesmo estava alto o suficiente para que ela pudesse escutar a música sem coloca-lo no ouvido.
── Está com fome? ── Ocasionalmente erguendo o olhar para Sally, Joel a questiona. ── Sobrou um pouco de carne do coelho.
── Não, eu to legal. ── A Adams mais nova responde, sem retirar seu olhar do desenho que faz no caderno. ── Valeu.
Joel assente, mesmo que ela não consiga ver. Quando acha que já atiçou as chamas o suficiente, ele joga o graveto de lado e limpa as mãos. Recosta-se para trás, contra a pedra que tem as suas costas e deixa-se relaxar por um momento.
O silêncio que eles tem é contínuo, só é movimentado pelo vento que ocorre em determinados momentos e pelas vozes de Riley e Ellie que estão um pouco distantes. Uma vez ou outra, os dois escutam risadas.
── Ela vai acabar acertando o próprio pé com aquilo. ── Comenta Miller, enquanto observa Ellie erguer o arco e puxar a corda com a flecha fortemente. Riley faz com que ela o posicione de forma adequada, colocando seus membros nas posições corretas.
── Não precisa se preocupar com isso, Riley é uma boa professora. ── Sorrindo brevemente, Sally disse. Ela ainda não olha para ele, concentrada demais no que faz. ── Foi ela quem me ensinou a usar o arco.
── E quem ensinou a ela? ── Joel indaga, de braços cruzados.
── Nosso pai. Ele costumava sair para caçar com os amigos. ── Sally responde. ── Eles tinham o costume de levar os filhos juntos e ele sempre levava a Riley. Coisa de militar e tals.
── Não sabia que o pai de vocês era militar. ── Disse Miller.
── Ele serviu por um tempo. Alguns anos no Afeganistão e depois conseguiu uma despensa. Depois voltou novamente quando começou a guerra em Jacarta e eles precisavam de pessoal. ── O som do lápis rabiscando sobre o papel é fraco, mas Joel ainda o escuta. ── Riley sabe atirar bem por causa dele, já eu não tive a oportunidade de aprender.
── Sabe, acho que isso é bom. Armas não são para crianças. ── Joel comenta, olhando para o céu que passa a ficar mais escuro com o anoitecer. ── Por mais "divertido" que pareça ser.
── Sei lá, é que... Talvez, se eu tivesse aprendido desde cedo a usar uma, não teria tanto medo agora. ── Sally suspira. Ela deixa o lápis cair sobre o caderno e finalmente encara Joel. ── Não quero ser um fardo pra ninguém.
── Você não é um fardo.
── E você acha mesmo isso?
── Sim, eu acho. ── Sincero, ele responde. ── Você se vira bem com o arco, corre bem rápido, o que é algo bem importante hoje em dia ── a fala de Joel atraí uma risada de Sally. ── e sua irmã te ensinou a sobreviver bem sem uma arma. Está fazendo um bom trabalho até agora.
── Valeu, Joel. É bom saber que eu não to atrasando vocês. ── Ela diz, fazendo Joel acenar de maneira afirmativa uma vez. ── Mas e você e o Tommy? Não se falam há muito tempo?
── Costumávamos nos falar pelo rádio algumas vezes. Não era sempre, uma vez ou outra. Apenas pra me dizer que estava vivo e bem. ── O homem responde, deixando com que suas mãos repousem em seu estômago, entrelaçadas. ── Mas ai ele parou do nada. Várias semanas sem notícias. Não é do feitio dele.
── Acha que ele tá encrencado? ── Pergunta Sally, fechando o caderno e o deixando sobre seu colo.
── É uma possibilidade. ── Joel suspira. ── Ou ele só se cansou ou teve algum problema. ── Cansado, ele passa a mão pelo rosto. ── Eu não sei o que esperar.
Sally entende o que ele quer dizer e entende a aflição de Joel. Eles estavam seguindo para o oeste, a direção onde Tommy deveria estar estabelecido, mas também o local onde havia o povo do Novo Mundo. Era impossível evitar uma possível preocupação.
── Ele deve estar bem. Pelo o que eu me lembro do Tommy, ele era muito esperto. ── Sally disse, tentando tranquilizar Joel. ── Sabia se cuidar.
── É, você tem razão. ── Assente o homem. ── Mas ainda assim eu... Fico meio preocupado. A última vez que nos vimos, nós brigamos. Ele queria ir embora, estava decidido a deixar Boston e, quando viu uma oportunidade, ele não a desperdiçou.
── E você não queria.
── Não, eu não. Não depois de eu ter deixado o Texas por ele. Tudo o que eu fiz, foi por ele. Ele me arrastou para aquele grupo, perdemos várias pessoas, mas nos estabilizamos em Boston. ── Explica Miller. ── Ai ele inventa de se juntar aos Vaga-lumes, mas parece não ser o bastante e logo estava querendo partir novamente. Parecia que nada era o bastante ou que ele sempre estava tentando compensar alguma coisa.
Joel suspira, ajeitando-se confortavelmente em seu lugar. Ele fica em silêncio e Sally apenas o observa enquanto o homem está focado nas duas pessoas a distância.
── Eu queria te perguntar, por que você odeia os Vaga-lumes? ── Joel a encara, enquanto Sally passa a mão pela capa de couro do diário. ── É só porque você acha que eles fizeram a cabeça do seu irmão ou tem mais algum coisa?
── Eu não os odeio só... Acho que eles fazem é uma perca de tempo. ── Ele responde. ── Eles dizem que sabem pelo o que estão lutando, que fazem isso pelas pessoas e para libertar as zonas de quarentena, mas você sabe que muito do que eles contam é mentira. Às vezes, acabam causando mais opressão do que ajuda. O mundo não precisa de heróis, só sobreviventes.
── Entendo que você já perdeu a esperança no mundo e tudo, onde tudo que importa pra você agora é o Tommy, mas algumas pessoas ainda não pensam dessa forma. ── Sally retruca. ── Eles continuam procurando uma saída pra isso. Acho que é o que dá sentido pra vida, sabe?
── Foi por isso que você se juntou a eles? Queria achar um sentido pra sua vida? ── Indaga Miller, fazendo Sally rir fracamente.
── É por aí. Eu queria entender porque continuei viva nesses últimos anos. Apenas pra ter uma vida miserável em uma ZQ qualquer? Sei lá, não valia a pena pra mim. ── Adams comenta, dando de ombros. ── Então eu sempre via a forma como a Riley lutava pela gente, o objetivo dela de tentar deixar Boston e eu percebi que queria ajudar de alguma forma, tirar esse peso dos ombros dela e agir pela primeira vez. Me sentir importante. ── Ela encara Joel. ── Talvez o Tommy estivesse da mesma forma. Talvez ele não quisesse ser o herói, apenas fazer algo minimamente importante pelo menos uma vez na vida. Só pra não achar que estava sendo um desperdício de vida.
── Vocês, irmãos mais novos, são complicados. ── Joel resmunga, após ponderar sobre as palavras de Sally e perceber que ela poderia não estar errada.
── Não, são os irmãos mais velhos que sempre complicam as coisas. ── Ela diz, rindo. ── Vocês e essa mania de querer carregar todo o peso do mundo nas costas.
── Precisamos ser assim, alguém precisa ser o responsável. ── Ele disse, fazendo Sally revirar os olhos, mas não esconder o bom humor que a conversa trás. Joel também aparenta estar dentro do clima, mas leve do que de costume.
Eles continuam em silêncio após isso, apenas o crepitar das chamas entre os dois. Um vento forte passa e Sally puxa seu com as mãos, buscando se aquecer melhor. Puxa as bordas se sua touca para baixo, cobrindo os ouvidos adequadamente, enquanto ajeita algumas mechas de seu cabelo que estão saindo pelas laterais.
Novamente eles escutam a risada de Ellie a distância, Riley está atrás dela quando a garota se vira, animada por conta de alguma coisa que fez. Os dois não conseguem ver claramente o rosto dela a distância, porém a mulher aparenta estar falando algo com a garota de maneira tranquila.
── Parece que a Ellie está se divertindo. ── Sally comenta.
── Não quer se juntar a elas? ── Questiona Joel, a observando de seu lugar a distância.
── Não, eu to bem aqui. Já passei por essa fase de treinamento com a Riley. ── Ela responde, guardando o caderno dentro da mochila. ── Mas você podia ir pra lá, sei lá, pra dar algumas dicas talvez. ── Sally da dê ombros. ── Não iria fazer mal.
── Não, sua irmã é melhor nisso do que eu. Acho melhor deixa-las ter esse momento. ── Responde Joel. ── Riley sabe o que está fazendo. Ela é boa nisso.
Sally o observa enquanto o homem encara as duas distância. Quando escuta a risada de Riley, nota-se como os cantos dos lábios de Joel sobem minimamente para cima e a Adams mais nova recorda-se de sua conversa com Henry meses atrás.
Um sorriso ladino cresce nos lábios dela, um que passa despercebido por Joel, e mulher decide testar as águas.
── Você gosta da minha irmã. ── Sally afirma, em um tom de implicância que acaba pegando Joel de surpresa. Ele a encara com seu olhar estoico e ela precisa se segurar para conter o riso.
── Eu não disse isso. ── Miller a responde, em um balançar de cabeça.
── Não foi necessário. ── Sorrindo, Sally fala e Joel parece estupefato agora. Ela leva seu cantil com água até os lábios e bebe um pouco, arqueando uma sobrancelha para ele em provocação.
Joel está perto de tentar retrucar, quando é impedido por uma Ellie muito animada chegando no acampamento improvisado deles.
── Olha só o que eu consegui pegar! ── Ela carrega um coelho cinza consigo, ergue ele com uma mão, apresentando o animal morto para eles. É menor do que aquele que comeram a pouco, mas deveria servir. ── Eu peguei ele sozinha!
── E dois esquilos também. ── Riley completa, chegando logo depois de Ellie. Não nota a forma como Joel a segue com o olhar. ── Odeio dizer isso, mas a garota é boa.
── É isso ai, Ellie. ── Sally a parabeniza, sorrindo. ── Logo você vai estar melhor do que a gente. ── As bochechas da menina coram com o elogio, enquanto ela guarda o coelho.
── Vou deixa-lo pro café da manhã. Ninguém mais tá com fome, não né? ── Ellie passa seu olhar por Joel e Sally.
── Estamos bem. ── Responde a Adams mais nova, enquanto sua irmã aproxima-se para sentar ao seu lado.
── Porra, meus dedos estão congelando. ── Riley murmura. Senta-se perto da fogueira e levanta suas mãos próximas ao fogo para aquecer seus dedos frios.
── Eu disse pra você trocar de luva. ── Cantarola Sally. ── Não me ouviu porque não quis.
── Não enche. ── Riley bufa. ── É só esse tempo terrível, durante a noite sempre fica pior.
Sally não a contesta mais, ela apenas revira os olhos. Desde que conseguiram as roupas, Riley não havia se desfeito das luvas. As retirou algumas vezes para lavar as mãos, mas não estava disposta a ficar sem elas.
Agora que o céu havia ficado totalmente escuro, rodeado por estrelas e uma grande lua, eles podiam ver apenas vultos de árvores congeladas a distância. Joel aproveitou o momento para pegar um rolo de fita de sua mochila e utiliza-la em suas botas. Sally deitou a cabeça no colo de Riley e observou as estrelas com a irmã, as duas conversando entre si baixinho.
Ellie, depois de guardar o coelho morto no meio de suas coisas, ficou encantada com o céu daquela noite estrelada. Acima de suas cabeças havia uma linda Aurora Boreal formada e a menina não se deteve ao subir em uma pedra próxima para observa-la melhor.
Em determinado momento, Joel assobia e chama a atenção de Ellie, que vira-se para olhar para ele.
── Desce daí, vai acabar quebrando o pescoço. ── Ele fala. A menina encara o céu uma última vez antes de descer a grande rocha e caminhar de volta para o acampamento. Ela senta-se perto do fogo, de frente para os adultos ali presentes.
── Eu estava pensando. ── Ellie quebra o silêncio entre eles, chamando a atenção dos três. ── Digamos que a gente ache os Vaga-lumes e dê tudo certo. Eles tiram o meu sangue, botam naquelas máquinas maneira e fazem uma cura.
── Ok. ── Disse Joel, após ponderar sobre as palavras dela e dar a deixa para que Ellie continue.
── E depois? O que a gente faz?
── Espera ai, a gente? ── Indaga Miller.
── Tá, tudo bem vai. Você. ── Ela reformula a pergunta. ── E vocês duas. ── Aponta para as Adams, que estão observando a conversa. ── Eu sei que vocês vão para algum lugar melhor e tudo mais, mas vão ficar com os Vaga-lumes ou sei lá vagar por ai por conta própria? Vocês podem fazer o que quiser, para onde iriam? ── O olhar de Ellie intercala entre os três. ── O que fariam?
── Nunca tinha pensado nisso. ── Joel limpa a garganta. ── De repente... Uma fazenda. Um terreno. Um rancho.
── Boa ── Ellie comenta, sorrindo. ── Criando o que?
── Ovelhas. Eu criaria ovelhas. ── Ele responde. ── São quietinhas e são obedientes. ── Joel encara Ellie.
── Tá, saquei. ── Ela diz, compreendendo onde ele quer chegar com a última frase. ── Só você e um monte de ovelhas.
── Essa eu gostaria de ver. ── Riley comenta, sorrindo. ── Joel como pastor de ovelhas. Acho que seria uma cena e tanto. ── Ele bufa, revirando os olhos e desviando o olhar para longe. ── Quer um chapéu de cowboy também e um cavalo pra combinar?
── Para, Riley. Eu acho que isso seria legal. ── Sally disse. ── Ovelhas são legais e fofas. Também seria legal ter um cachorro. ── Ela ergue o olhar para a irmã. ── Podemos ter um?
── Se a gente encontrar um bom lugar para morar, você pode ter até um papagaio se quiser. ── Riley responde. ── Marlene só vai ter que cumprir com a parte dela.
── Ela vai. Ela disse que os Vaga-lumes tem bases em cidades fechadas, onde o surto costuma estar mais controlado. ── Disse a mais nova, esperançosa. ── As coisas no Canadá também parecem melhores.
── Depois daqui, eu vou pra qualquer lugar. Aceito qualquer coisa que não seja a FEDRA, infectados e Jericós. Eu só quero paz. ── Adams leva o cantil com água aos lábios e bebe.
── Pode ir morar em uma fazenda com o Joel. ── Ellie sugere, fazendo Riley ri fracamente.
── Acho que depois desse trabalho, ele vai estar é mais do que enjoado de ver a minha cara. ── Ela responde, ainda soltando uma curta risada. O homem está em silêncio, meio impassível. Ele maneja a cabeça levemente, uma tentativa de concordar com ela, mas pode se dizer que Joel não pensa dessa forma.
── Tá, mas e você, Ellie? Para onde você iria? ── Sally pergunta, curiosa. Ela segura o gorro vermelho que colocou, enquanto os dedos de Riley passam pelos fios sedosos de seus cabelos.
Ellie fica em silêncio por um tempo, porém logo olha para cima, para o céu.
── Pro céu? ── Riley a questiona, sem parar o cafuné na cabeça da irmã.
── Deve ser por que eu cresci na ZQ. ── Ellie responde. ── Para trás tinha o mar, para frente tinha um muro... Então eu só podia olhar para cima. Eu li tudo que tinha na biblioteca da escola. Neil Armstrong, Buzz Aldrin, Jim Lovell. Sabem quem eu prefiro?
── Sally Ride. ── Joel responde.
── A fodástica Sally Ride. ── Ela responde, dando ênfase a frase. As irmãs sorriem com a empolgação dela. ── Melhor nome de astronauta.
── O nome da Sally é por causa dela. ── Riley comenta, atraindo o olhar brilhante de Ellie para si.
── Sério?
── Sim. Minha mãe estava perto dos 8 meses de gravidez e ainda não tinha um nome, nenhum a agradava. ── Explica Riley. ── Então, um dia, quando eu era mais nova, estava assistindo TV e passou um documentário sobre astronautas. Sally Ride estava no meio deles, como a primeira mulher americana a viajar para o espaço. E eles contaram a história dela e minha mãe, que era uma fã, acabou se recordando do nome e achou bonito.
── Isso é tão legal e esse nome combina com você. ── Ellie comenta, olhando para Sally e a fazendo sorrir. ── E o seu, Riley? Apenas por que sim ou tem alguma inspiração por trás?
── Não foi por causa de nenhuma pessoa famosa, se quer saber. Apenas era o nome do irmão mais novo do nosso pai que faleceu aos 13 anos quando caiu em um lago. ── A mais velha responde. ── Eles eram muito próximos e ele achou que seria uma boa homenagem pro nosso tio, que nunca tivemos a chance de conhecer.
Ellie assente, sem ter o que dizer. O olhar dela recaí sobre as chamas que crepitam, o som do fogo dançando é tudo que eles escutam agora. A menina está focada nisso, porém está com a mente distante. Nota-se o momento em que sua face se obscurece.
── Vai funcionar, né? ── Ela pergunta em um murmúrio baixo. O questionamento perdurar no ar, não sendo direcionado a ninguém em particular. ── A vacina.
── É meio tarde pra começar a duvidar. ── Responde Joel.
── Eu tentei com o Sam.
── Tentou o que? ── Questiona o homem.
── Eu sabia que ele estava infectado. Eu esfreguei meu sangue na mordida. Eu sei, eu sei. Foi burrice. ── Ela disse, antes que pudesse ser julgada. ── Eu queria salvar ele.
── Não, é... Bem mais complicado que isso. ── Miller murmura.
── A Marlene pode ser muita coisa, mas ela não é burra. ── Riley diz, buscando apoiar a menina, que a encara. ── Se ela disse que eles conseguem, eles devem conseguir.
As palavras de Riley parecem bastar para tranquilizar Ellie durante aquele momento. O silêncio entre eles retorna e tudo está calmo mais uma vez.
── Quer ficar com a primeira ou segunda vigia? ── A Adams pergunta a Joel, depois de um tempo. Ele terminou de beber o café que tem em seu cantil e fecha o pequeno recipiente.
── As duas. ── Joel responde. ── Podem ir dormir. Sonhem com ranchos de ovelhas na lua.
Riley pensa em retrucar, dizer que ele não deve se forçar tanto - ainda mais depois do episódio que ocorreu mais cedo, porém ela percebe que está cansada demais para discutir. Sally já tem seus olhos quase fechados nesse momento e também está exausta.
Ela força a mais nova a se levantar e as três reunem seus seus sacos de dormir para entrar na caverna, onde está mais quente e é um bom lugar dormir. Enquanto Sally acompanha Ellie, Riley fica para trás e puxa seu saco de dormir de sua mochila, deixando suas bagagens para trás com Joel.
Deixa tudo pronto para quando estiver mais cansada pois, por hora, prefere ficar um pouco do lado de fora um pouco mais de tempo.
── Não vai dormir? ── Joel a questiona, vendo-a sentar-se novamente.
── Agora não. ── Ela balança a cabeça. ── O céu tá muito bom pra ir dormir agora. Faz tempo que não me dou ao luxo de só deitar e observar. ── Ele murmura em concordância.
Joel acaba seguindo o olhar dela e observando o céu também, deixando que vague pelas estrelas que adornam aquela noite fria de dezembro. Após um momento, Miller parece se recordar de algo. Retorna seu olhar para Riley mais uma vez, intrigada com alguma coisa.
── Sobre aquilo que aquele velho disse na cabana mais cedo, ── Riley olha para Joel enquanto ele fala. ── sobre você não sentir medo do que tem do outro lado... Espera encontrar mais Jericos?
── Bom, a base deles fica por aqui, não é? É meio impossível não dar de cara com eles em algum momento. ── Adams responde, tentando desviar do assunto. ── Temos que estar preparados pra tudo.
── Mas me parece que você quer isso. ── Joel indaga, fazendo a mulher suspirar.
── Eu não quero colocar vocês em problemas, se é isso que te preocupa. Não vou te forçar a caçar mais Jericos ou te pedir pra invadir a cidade deles comigo. ── Ela disse. ── Mas eu ainda tenho um assunto pendente e, quando tudo isso acabar, vou atrás do meu acerto de contas.
── Contra todos eles?
── Se tentarem se meter no meu caminho, sim. ── Riley assente, encarando-o. ── Mas só tem uma pessoa em dividia comigo. Alguém que precisa pagar pelo o que fez.
── Tem alguma coisa haver com o Ben ainda ou é sobre algo que eu ainda não sei? ── Questiona Miller, os olhos dele se estreitam com tantas perguntas. ── O que essa pessoa te fez?
── Não é sobre mim, Joel. Não foi a mim que ele machucou. ── Riley desvia o olhar para dentro da caverna e Joel segue, observando Sally que está dormindo a distância.
Ele pisca os olhos algumas vezes, processando aquela informação. Riley estava atrás de alguém que fez mau a Sally então.
── Ela não sabe o que eu vou fazer, mas eu tenho planos pra depois de encontrar os Vaga-lumes. ── Continua Riley, olhando para a irmã. ── Vou deixá-la em um lugar seguro e vou voltar pra cá. Seguir o tal rio da morte e ver se ele me leva até onde eu quero chegar.
── Você não devia. Entendo que esteja com raiva, tem o direito de querer vingança, mas realmente vale a pena? ── O homem indaga. ── Não faça nada que vai fazer você se arrepender depois, Adams.
── Você sabe o que eu penso sobre essas pessoas, o quanto odeio cada um deles e o que fazem com os outros. ── Riley fala. ── Pra mim não seria um problema morrer tentando acabar com cada um deles. Eu nunca hesitaria. Só não posso deixar isso morrer Joel, porque isso não vai.
Joel a encara através das chamas, percebendo o quão séria ela está. Poderia se dizer que ele nunca a viu assim antes, tão determinada a algo. Aquilo o preocupava, de certa maneira. O quão disposta Riley estava para arriscar tudo por conta de algo assim.
Ele sabia que havia mais, que ela tinha seus motivos, seu remorso e sua vingança. Tudo estava enterrado no fundo de quem Riley era, havia servido para construi-la daquela maneira.
Os dois deixam o silêncio tomar o ambiente, sem qualquer pretenção de quebra-lo agora. Demora um tempo até que Riley decida se levantar e seguir para dentro da caverna. Antes de prosseguir, olha para trás.
Ela vê enquanto Joel pega o rifle e o coloca no colo, ajeitando-se para poder passar a noite ali, vasculhando em sua mente o que pode dizer. Riley segura o arco em pé, apoiando uma parte no chão, seus dedos se movimento algumas vezes em uma leve ansiedade.
── Se quiser trocar, não hesita em me acordar, ok? ── Ela diz para ele antes de partir. Joel a encara sem desviar o olhar e assente em concordância.
── Não precisa se preocupar. Apenas vá descansar. ── Suavemente, Miller responde. Sua voz áspera soando monótona.
── Tudo bem. ── Riley dá as costas para ele. ── Boa noite, Joel.
── Boa noite, Riley. ── Ele a cumprimenta, observando enquanto ela se afasta cada vez mais. A última coisa que Joel faz antes de desviar o olhar é suspirar e encarar as estrelas novamente
⠀
INVERNO⠀─ ⠀DEZEMBRO 02, 10:20
⠀⠀⠀⠀Estado de Wyoming
⠀⠀⠀⠀
A manhã fria de dezembro chegou com rapidez. Por dentre as nuvens havia os feixes de luz do sol, que iluminavam aquela manhã. O grupo havia acordado cedo para partir, Riley havia sido a primeira a estar de pé. Quando ela acordou, todos ainda estavam dormindo, incluindo Joel que deveria ter apagado durante sua vigia.
Sem conseguir voltar a dormir, por conta de seu sono pouco duradouro, Riley decidiu ficar vigiando por um tempo. Ela deixa Joel descansar, pensando que o homem merece esse tempo para si mesmo, e o observa durante o sono. Percebe que ele fala enquanto dorme - algo que Adams já havia percebido outras vezes.
Uma pequena preocupação cresce dentro dela e Riley se vê pensando no que poderia perturba-lo durante o sono. A resposta vem na forma da conversa que eles tiveram meses atrás em Oregon, quando Joel falou sobre Sarah com ela pela primeira vez. Riley sentiu-se mal por ele, mas não quis acorda-lo. Aquela era primeira vez que ele aparentava dormir por mais de 2 horas.
Ela não teve muito mais para fazer, além de escrever em seu diário. Passa boas horas rabiscando algumas palavras, falando um pouco sobre os últimos meses. A ajuda a se manter ocupada pelo resto da manhã que se forma lentamente. A colocação do céu mudando.
Ellie levantou em seguida, a cumprimentou e disse que estava com fome. Riley não estava surpresa, porém a fez comer um pouco da comida que eles mantinham guardadas nas mochilas, ao invés de acender o fogo para assar o coelho. Depois disso, ela deixou Ellie de guarda e partiu para fazer uma pequena caçada por perto.
A ronda de Riley não dura muito. Ela planeja apenas conseguir mais algum coelho e ter certeza de que poderiam continuar seu caminho em segurança. Quando alcançou seu objetivo e conseguiu um coelho branco, ela retornou para o acampamento para encontrar Joel e Ellie tendo uma breve discussão sobre ela não ter o acordado.
── Eu a deixei de vigia. ── Riley disse, antes que ele resmungasse mais sobre isso. ── Ela tem que praticar, de qualquer forma. Não vamos ficar a protegendo pra sempre.
Joel não retrucou sobre isso, escolhendo ficar em silêncio. Ele apenas pega sua arma de volta com Ellie e decidi começar a juntar suas coisas. Antes de passar pela Adams mais velha, ele resmunga.
── Dá próxima vez me acorda. ── Disse em um tom autoritário.
Depois disso Riley acorda Sally e eles estão de volta a estrada mais uma vez.
O grupo continua a seguir pelo rio, atentos a qualquer ameaça possível. Não há rastros de sangue ou qualquer sinal de Jericós a quilômetros, mesmo assim Riley ainda pensa que eles estão por ai. Ela sabe que eles estão em algum lugar.
Seguindo o mapa de Joel, eles chegam até uma ponte. Antes que possam seguir para atravessá-la, Miller planeja ter certeza que o local está seguro. Escondidos em um área antes da travessia, ele atira para cima com o rifle, fazendo com que os pássaros próximos comecem a voar para longe, saindo de seus ninhos nas árvores.
O som do tiro ecoa por toda a vasta área em que estão e o que se segue após ele é apenas silêncio. Contínuo e vazio, não demonstra qualquer sinal de perturbação após isso.
── O rio da morte ainda sem gente. ── Murmura Ellie, enquanto eles observam ao longo do rio. Nenhum movimento aparente, o outro lado da ponte continua vazio.
── Vamos. ── Joel as chama, ficando de pé e continuando a caminhada.
As três o seguem - Ellie e Sally no meio, enquanto Riley faz a escolta atrás. Segura seu rifle de caça com as duas mãos, sentindo a textura da arma com seus dedos finos. Seus olhos focados estão atentos a todos os lados. Ela olha uma vez para trás enquanto eles caminham, certificando-se de que não estão sendo seguidos.
Ajeita a aba do chapéu em sua cabeça ao virar-se mais uma vez e solta um suspiro por dentre os lábios entreabertos. O ar a sua frente forma uma pequena camada de fumaça feita pela sua respiração. Riley acompanha os passos de Sally a sua frente e ela sente um pouco de tensão, a inquietude que perdura.
Ela não está com medo. Dentre eles, ela deve ser a única que não sente medo, mas mantém sua atenção redobrada no que pode aparecer a frente. Após o rio, eles não sabem o que os espera.
Atravessando a ponte, o percurso continua. A camada de neve que cobre a terra é menos densa, há mais verde ao redor e o frio não é tão forte. Sally e Ellie aproveitam para tirar as luvas, ocasionalmente conversando entre si. Riley e Joel se mantém em silêncio. Tudo o que a mulher faz é observar as costas dele a distância.
Em determinado momento do caminho, Ellie tem dois dedos na boca enquanto tenta assobiar. Tudo o que ela consegue fazer é expelir o ar de forma audível, sem produzir nenhum som além disso.
── O que você tá fazendo? ── Sally a questiona, ainda sem entender onde a menina quer chegar e o som sendo incomodo.
── Estou tentando aprender a assobiar. ── Ela responde, ainda com os dedos na boca.
── Você não sabe assobiar? ── Pergunta Joel, sem olhar para atrás.
── Tá parecendo que eu sei assobiar? ── Retruca a menina.
── Não.
── Você é uma merda nisso. ── Comenta Riley, olhando para as árvores a sua direita.
── Valeu por dizer o óbvio, Riley. ── Responde Ellie, revirando os olhos. ── Mas fala sério, como você faz isso, Joel?
── Talento. ── Ele responde.
── Ah, não enche. ── A garota responde, não gostando da resposta debochada dele, que fez Sally e Riley rir fracamente.
Eles continuam conversando durante a caminhada, sem parar para descansar. Dentre os quatro, Ellie é a que mais fala, chegando até mesmo a ficar ofegante em alguns momentos por que andar e tagalerar ao mesmo tempo.
Apenas para quando eles chegam até uma represa. O local chama atenção deles que param para observar o lugar vazio.
── Uma represa. ── Ellie constata o óbvio.
── Falou a rainha do óbvio. ── Riley debocha.
── É isso mesmo, realeza. ── A garota responde, provocando. Ela olha para Riley que está ao seu lado e revira os olhos. ── E isso fazia eletricidade? ── Questiona, desviando sua atenção para a frente mais uma vez.
── Isso. ── Joel responde. Ela se vira para perguntar, mas ele a impede de continuar. ── Mas nem me pergunta como, eu não sei. ── Miller dá as costas para a menina e volta a andar.
── Cara, você podia ter inventada. Eu ia acreditar. ── Comenta Ellie, seguindo Joel. Riley e Sally indo logo depois.
Eles seguem em frente, caminhando pela neve seguindo a liderança de Joel. Riley pensa em fazê-lo parar, quer dizer a ele que talvez eles estejam perdidos mais uma vez, pois estão andando a horas e não encontram qualquer sinal de civilização.
Talvez devessem traçar um plano melhor, pois não faziam ideia de onde Tommy poderia estar - sem contar que havia a possibilidade dele estar morto ou em perigo. Muitas possibilidades passavam pela mente de Riley naquele momento e elas a deixavam autoconsciente do fato de que eles não sabiam para onde estavam indo.
── Joel. ── Riley o chama, apressando seus passos para chegar até ele. Ellie a interrompe antes que ela possa falar.
── E se esse for o rio da morte? ── Ela encara o rio pelo qual eles passam perto, fazendo com que todos parem para encarar a água azul cristalina do lugar.
Apressado, Joel puxa o mapa de seu bolso e o observa enquanto compara a imagem.
── Olha aquilo ali. É fumaça? ── Sally aponta para um lugar do outro lado do rio, onde uma fumaça preta sobe no céu. As grandes árvores ao longo do rio e que seguem pela vasta terra do Wyoming, impede que eles vejam adequadamente o que há após delas. ── Será que é pra lá que devemos ir?
Nenhum deles responde, ainda encarando aquele ponto distante entre as árvores. Se Joel realmente se enganou e aquele é o verdadeiro rio da morte, significa que o pior ainda não passou. Riley quer perguntar a Joel o que eles devem fazer agora, porém o homem não lhe dá essa chance.
Ele vira as costas e continua olhando para o mapa enquanto caminha. Seu olhar está focado no papel em sua mão, como se pudesse decifrar o segredo que aquele mapa esconde. Adams o segue, suspirando. A frustração emana dela aos poucos, mas continua em silêncio.
Ellie e Sally estão atrás deles, seguindo os dois que vão a frente. Quando Joel olha para atrás, observando ao redor para poder se encontrar no mapa, um barulho chega aos ouvidos de Riley. Está distante, porém consegue escutar mesmo assim. Fica mais próximo e não demora para que encontre o causador daquele leve incomodo.
Inesperadamente, surgem pessoas na pequena subida a frente deles. Todas estão a cavalo e os sons que Riley havia escutado era dos relinchos deles. Aquelas pessoas surgem aos montes, todas armadas e dispersam em volta deles. Joel segura a mão de Ellie e a puxa, tentando fugir para uma direção oposta, mas não encontra saída. Riley faz o mesmo com Sally mas encontra apenas mais daquelas pessoas desconhecidas.
Eles estão cercados, sem poder correr para qualquer lugar. Tudo o que lhes resta é permanecer no centro, enquanto as armas são apontadas em suas direções.
── Fiquem atrás de mim. ── Joel ordena, passam Ellie para atrás dele. Riley a puxa pela mochila, mantendo a garota perto de Sally ás suas costas e ficando próxima a Joel. Os quatro levantam as mãos em sinal de rendição. ── A gente não quer problema. ── Ele exclama. ── sÓ estamos de passagem.
── Solta a arma. ── Um deles ordena. Sua voz está abafada pelo pano que cobre metade de seu rosto, deixando apenas seus olhos amostra. Todos os outros estão da mesma forma, completamente agasalhados e armados. Joel obedece. ── Ela também.
Riley tenta esconder sua irritação ao fazer o que lhe é mandado. Tira a alça do rifle do ombro vagarosamente, dá mesma forma que Joel. Os dois soltam os objetos no chão.
── Afastem-se um dos outros. Cada um de 5 passos para trás. ── Ordena o homem desconhecido, que age como líder do grupo.
── Será que a gente pode conversar?
── Será que você pode calar a boca? ── Ríspido, ele indaga para Joel.
── Ok. Calma. ── Responde Miller. Ele olha para elas por cima do ombro, notando as faces aflitas de Ellie e Sally e a face irritada de Riley. Joel sabe que ela está se contendo. ── Está tudo bem. Façam isso, se afastem.
Sally e Ellie seguem as palavras dele primeiro. A Williams indo para trás em direção ao lado esquerdo, dando 5 passos. A Adams mais nova faz o mesmo, porém na direção oposta. O que resta é apenas Riley, que ainda está atrás de Joel. Seu olhar duro perfura o homem com a arma, emanando prepotência, ela demora a se afastar de Miller.
Joel pensa que ela não vai ceder, até que a mulher caminha para trás devagar, ainda com suas mãos levantadas. Riley apenas para após dar 5 passos. Seu olhar se desvia para sua irmã por um momento, percebendo como ela aparenta estar preocupada. Tudo o que Riley consegue pensar naquele momento é uma forma de tira-los daquela situação.
── Passaram por infectados? ── Questiona o homem.
── Não tem infectados por aqui. ── Responde Joel.
── Não tem é o cacete. ── Retruca o líder. Em seguida ele assobia, dando a deixa para uma pessoa que está a pé se aproximar com um cachorro que começa a latir. ── Última chance pro tiro. ── Exclama o homem. ── Se tiver infectado ele vai sentir o cheiro e vai arrebentar você todo.
O coração de Riley martela em seu peito e ela se force a não olhar para Ellie, sabendo que poderia acabar entregando a garota. Os latidos do cachorro continuam, porém ele ainda está perto dos cavalos, ainda não tendo sido solto.
Quando acontece, o animal vai até Joel primeiro e cheira seus pés. O animal se ergue e apoia as patas da frente perto do estômago do homem, farejando mais algumas vezes antes de partir. Apenas quando terminar de conferir, ele retorna para seu dono.
── Como eu disse, a gente só quer passar. ── Joel diz.
── Ainda temos mais três pessoas para conferir. ── Responde o líder, que ainda tem o rifle apontado para eles. ── Agora a menina.
── Acha mesmo que estaríamos andando juntos se houvesse alguém infectado?! ── Riley questiona, tentando intervir. ── Só deixa a gente passar.
── Se não quiser levar um tiro, eu recomendo você ficar quieta e esperar a sua vez. ── O homem responde, soando irritado. Riley é obrigada a se conter, principalmente quando Joel está olhando para ela por cima do ombro mais uma vez.
O cachorro está solto novamente e é direcionado para Ellie. Sally arfa quando o animal começa a rosnar para a menina, seu olhar passa do cachorro para a jovem. Ela percebe o medo em Ellie, a forma como está aflita, aquilo também está a corroendo por dentro e nenhum deles pode fazer nada enquanto o cão se aproxima.
A tensão fica maior, Joel não consegue olhar para trás, mantendo-se aterrado em seu lugar quando começa a sentir pânico mais uma vez. Tudo o que Riley pode ver são as costas dele subindo e descendo rapidamente, dessa vez sem poder fazer algo para ajuda-lo.
Ela engole o seco quando vê o cachorro se aproximando cada vez mais de Ellie, até estar aos pés dela. Espera que o animal a ataque, por isso fecha os olhos e espera pelo pior. Algo que nunca acontece.
Ao invés disso eles escutam risadas. A atenção dos três se volta para a menina que agora está agachada e brincando com o cão, que está lambendo o seu rosto. Ellie o cumprimenta enquanto faz carinho nele, divertindo-se com o mesmo e sentando-se no chão. Ela olha para Joel e Riley.
Quando o líder assobia, o cachorro se afasta de Ellie no mesmo instante e Riley sente que está respirando adequadamente mais uma vez.
── Acabaram de ganhar mais 10 segundos. Ainda falta vocês duas. ── Diz o homem.
── Olha, eu já disse que não estamos infectados. Isso é perca de tempo. ── Joel retruca. ── Eu só estou procurando o meu irmão.
Uma mulher chama a atenção do grupo com um exclamação. Com alguns galopes de seu cavalo, ela aproxima-se de Joel.
── Qual é o seu nome? ── Ela pergunta, com sua a voz abafada pelo pano.
── Joel. ── É tudo o que ele responde.
O que ocorre a seguir é rápido. A mulher pede que eles os sigam, após observar cada um deles. Os quatro são obrigados a obedecer sem fazer perguntas, mas Riley não está confiando neles, ela ainda se mantém rígida ao subir em um cavalo que lhe é cedido por eles. Ellie e Sally dividem o mesmo cavalo, enquanto Joel e Riley receberam outros dois.
Durante todo o percurso, Adams cogita todas as possibilidade que teria de conseguir fugir caso aquelas pessoas fossem problema. Joel a encara várias vezes, eles trocam olhares que funcionam como palavras que não são ditas. Ela percebe que ele também está preocupado.
O grupo avança até uma cidade que tem muros de altos feitos de madeira que envolve todo o lugar. Os grandes portões se abrem assim que eles se aproximam, lhes dando a possibilidade de entrar no local que está cheio de pessoas.
O olhar de Riley observa tudo o que tem ao seu redor. Desde as lojas na rua, até as pessoas que andam e conversam normalmente. O lugar é pacífico, diferente da zona de quarentena. É como apenas qualquer outra cidade que tem pessoas seguindo suas vidas como se o cordycerps nunca tivesse ocorrido.
Aquele ar diferente faz Adams ter um deja vu, como se estivesse voltando no tempo. Aquele tipo de normalidade não é visto por ela a muito tempo, quase não aparenta ser real.
Quando eles adentram o suficiente na cidade, passando por alguns olhares curiosos, aproximam-se do meio da rua. O cavalo de Joel é o primeiro a começar a parar quando ele encontra algo - mais especificamente alguém - que chama sua atenção.
── Tommy! ── Joel chama pelo irmão, fazendo com que Riley siga o olhar dele para encontrar Tommy em um andaime do outro lado da rua, ajudando a subir uma tábua de madeira com uma corda.
O olhar do Miller mais novo vai diretamente na direção daquele que lhe chama, identificando seu irmão e não hesitando em ir até ele. Joel desce do cavalo, enquanto Tommy desce as escadas e os dois vão um até o outro.
Joel encontra o irmão no meio do caminho, andando apressadamente para chegar até eles. Os dois se abraçam e Riley se pega sorrindo minimamente. É um sorriso singelo, que demonstra como está feliz por Joel e, de certa forma, aliviada por Tommy estar bem. Eles finalmente haviam conseguido encontra-lo.
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