𝟭𝟮 : ENDURE AND SURVIVE

☆ ☆ ☆

CAPÍTULO DOZE :
RESISTIR E SOBREVIVER
i'm prepared to sacrifice my life i
would gladly do it twice


"Quando não houver mais
espaço no inferno, os mortos
andarão pela terra."
── George A. Romero






VERÃO⠀─ ⠀SETEMBRO 02, 18:15
⠀⠀⠀⠀Kansas City, Missouri

── O QUE VOCÊ SENTE mais falta de antes? ── A pergunta de Henry faz Sally erguer o olhar do chão em direção a ele. A testa dela franze por um momento, assimilando aquele questionamento enquanto eles continuam caminhando para sair dos túneis de manutenção.

Depois da conversa que tiveram, Joel decidiu que aquele era o momento certo para continuar a jornada. A fala de Henry o deixou sério, fazendo com que não dissesse nada o restante do caminho inteiro. Ellie e Sam eram os únicos entre eles que faziam algum barulho mínimo, as vezes rindo, as vezes conversando entre si.

── Sinto falta da comida. ── Sally respondeu, chutando uma pedra para fora do caminho. ── Mas não de qualquer comida. Sinto falta da comida da minha mãe. ── Riley olha por cima do ombro ao escutar o que sua irmã fala. ── Faz muito tempo, mas ainda me lembro de como era boa.

Henry assente, sendo compreensível e concordando com ela.

── Mais alguma coisa? ── Ele pergunta.

── Várias, mas eu acho que a comida é o que eu sinto mais falta. ── Ela o responde. ── Sabe a quanto tempo eu não como um bolo de chocolate com sorvete?

── Tópico sensível, por favor não entre nesse assunto. ── Riley se intromete, quase choramingando apenas pela lembrança. Sally ri.

── Está vendo? Esse tipo de coisa realmente faz falta hoje em dia. ── Sorrindo, a mais nova comenta, arrancando uma risada fraca de Henry que a seguia lado a lado. Ellie, que estava ao lado oposto de Sally, semicerrou o olhar, intercalando entre os dois adultos.

Os olhos de Riley focados a sua frente, enquanto os passos dos demais continuam seguindo ela e Joel que lideram o caminho pela rua deserta, são minuciosos aos detalhes. Segundo o que Henry havia lhes contado, chegariam a ponte após atravessar aquela área urbana, rodeada de casas grandes e nenhum prédio ao redor.

Era um bairro nobre, com casas altas e madeiradas, sujas, gastas e quebradas pelo tempo. Os quintais eram espaçosos, alguns tinham balanços para crianças que agora já estavam enferrujados e caindo aos pedaços. Pela rua, também há vários veículos atravessados pelo caminho, esquecidos desde o dia D.

Sam chama a atenção de Henry tocando no braço dele algumas vezes. O mais velho encara o mais novo, esperando que ele se comunique com ele.

── Por que não podemos usar lanterna? ── Sam pergunta através das formas gestuais e Sally observa enquanto eles conversam, entendendo alguns dos sinais.

── Ele falou que vai chamar atenção. ── Seu irmão mais velho responde da mesma forma.

── Mas não tem ninguém aqui. ── Constata o garoto.

── Eu sei. ── Ele gesticula e fala ao mesmo tempo. ── Não tem ninguém e nem vai ter. Porque... ── Henry profere em voz alta para que Joel possa escutar. ── Meu plano funcionou.

── Não sei porque tanto falatório. ── Resmunga o Miller, fazendo Henry rir. Ellie e Sally sorriem, tentando conter o riso.

── Só to dizendo. Eu mandei bem. ── Burrell responde, fazendo a Adams mais nova revirar os olhos.

── Não canta vitória antes da hora. ── Riley retruca. ── Vai dar azar pra gente.

O rapaz bufa, exasperado.

── Vocês dois são bem pessimistas.

── Não é pessimismo, é autopreservação. ── Ela responde, olhando para Henry por cima do ombro. ── Autopreservação também funciona como salvação.

── E com isso, ela quer dizer pra você só comemorar quando chegarmos ao nosso objetivo e estivermos todos em segurança. ── Explica Sally. ── Ainda corremos riscos aqui fora.

── Certo, certo. Vocês me convenceram. ── Henry deixa-se ceder. ── Pega a direita, segue a rua. ── Ele diz, apontando a direção. ── O declive fica depois da última casa.

── Você conhece bem esse lugar. ── Ellie comenta.

── Uns amigos dos meus pais moravam por aqui. As vezes, eles faziam churrasco no fim de semana. ── Dissera, ao passo que Sam se aproximou mais dele. Henry segurou a mão do irmão. ── Era normal pra mim ficar aqui até tarde, andar de bicicleta até o fim do quarteirão e voltar.

── Deveria ser legal. ── O comentário de Sally faz Henry erguer o olhar para ela. A Adams está olhando ao redor, admirando a vizinhança enquanto segura as alças da mochila em suas costas. ── Não parece um bairro ruim. Quase consigo imaginar como esse lugar era antes.

── Era um dos melhores bairros da cidade. ── O rapaz afirma. ── Acho que você teria gostado de conhecer.

Sally sorri, solene. Eles continuam caminhando em um silêncio confortável, desviando pelos carros e passando pelas aberturas que funcionavam como uma boa passagem.

── A gente atravessa o rio e depois? ── Ellie pergunta para Henry, desfazendo o silêncio entre eles. ── Vocês vão para onde?

── Eu ainda não sei.

── A gente vai para Wyoming. ── Diz a garota, fazendo Joel lançar um olhar irritado para que ela se calasse. ── O que? É um estado gigante cabe mais duas pessoas! ── Ellie exclama. ── E eu tenho certeza que a Sally não iria se importar de ter mais companhia. Não é Sally?

O olhar e a fala sugestiva de Ellie faz Sally se engasgar. Ela gagueja, sem saber o que dizer, enquanto suas bochechas ficam coradas. Para a sorte dela, está de noite e um vento frio bate sobre eles. Henry ri da reação dela e Riley a encara com uma sobrancelha arqueada.

A mais nova se encolhe, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha. A cena em questão diverte Ellie, que não desfaz o sorrisinho que está em seu rosto.

── Ou a gente fica feliz com o que tem e cada um segue o seu rumo. ── Henry disse, respondendo a garota pela Adams.

── Ele vai mudar de ideia, vai por mim. Ele é assim mesmo. ── Williams comenta. Joel olha para ela enquanto caminha, estreitando o olhar para a menina ── É sempre "Não, Ellie. Nunca, nunca, jamais vai acontecer." E ai eu falo, eu vou pedir mais 1 milhão de vezes e ele cede. E a Riley também pode convence-lo porque ela é muito boa nisso.

── Quem disse que eu quero fazer parte disso, pirralha? ── Ela questiona por cima do ombro, acompanhando o homem carrancudo ao seu lado que está calado. ── Quem garante que eu não concordo com o Joel?

── Porque você, as vezes, é legal e- ── Ellie é interrompida por um disparo que acerta o chão a centímetros de seu pé. A bala, provinda de algum lugar a distante, deixa uma marca sobre a superfície que atinge.

Eles se abaixam no exato momento em que acontece. Joel está do lado de Ellie em segundos, que tem a mão de Sally segurando a sua. Henry puxa Sam para mais próximo dele, garantindo que o menino fique abaixado. Riley tem uma mão sobre as costas de sua irmã mais nova, enquanto seus olhos vasculham todos os cantos para tentar encontrar o atirador.

── Corre! Corre! ── Joel profere, sem dar tempo a Adams. Ele faz questão de empurrar Ellie para frente, trazendo ela e Sally consigo. Os outros o obedecem e seguem. ── Se escondam!

Eles ficam abaixados atrás de um carro, conseguindo se esconder do atirador. Henry cobre Sam, ficando na frente do irmão que está imprensado contra o carro. Sally, Ellie e Joel estão logo a frente dele, com suas costas contra o metal frio do veículo.

A mão de Miller envolve o pulso de Riley e ele e puxa para que ela fique mais próximo do veículo, mesmo que não consiga ficar contra ele pela falta de espaço. Adams consegue apoiar uma mão contra a lateral, mantendo-se curvada, enquanto seus olhos arregalados encaram Joel. Ela está ofegante e preocupação estampa suas feições.

── De onde é que isso está vindo? ── Henry questiona.

── Cala a boca. ── O homem ordena. Escorando-se no carro ele coloca a cabeça para fora do esconderijo devagar, apenas para poder tentar encontrar a localização da pessoa que disparou contra eles. Antes que Joel possa subir mais um pouco, outro tiro é dado.

Mesmo que o som os faça se encolher mais, a bala não chegou perto de acertar. Riley vê o lugar exato em que ela acertou, vários centímetros de distância de onde estão, e sua testa franze com a imprecisão.

Henry tenta se levantar para olhar também, porém outro tiro é disparado, acertando o retrovisor do carro e fazendo ele se abaixar novamente. Ele envolve sua mão na de Sam e puxa, enquanto se levanta e começa a correr na direção oposta a qual o atirador está.

── O que você tá fazendo, porra?! ── Riley questiona, ao ver o rapaz partindo com o irmão. Os outros também observam.

── Fugindo daqui! ── Ele responde. Os dois chegam até uma van parada a uma distância considerável da onde eles estão, porém são parados por mais um disparo que quase os acerta. ── Ai caralho! ── Henry exclama ao puxar Sam para trás consigo e decidir voltar. ── Merda, merda, merda!

Eles retornam para o lugar aonde estavam, fazendo com que Riley lançasse um olhar irritado para o irmão mais velho.

── Ótima ideia, gênio. ── Debocha, Sally. As palavras são ditas com irritação. ── Não pensou que, se fugir fosse a solução aqui, nós já não estaríamos fazendo isso?!

── Foi mal, eu não pensei direito. ── Ele retruca, em seguida olha para Joel e Riley, intercalando o olhar entre os dois. ── Qual é o plano?

Riley suspira, pensativa. Ela levanta-se apenas um pouco, buscando encontrar o local onde o atirador está. É breve, pois logo precisa se abaixar novamente quando ele a vê e decide atirar, porém consegue ter um vislumbre do brilho característico da mira da arma dele, que reflete contra a luz da lua que é única iluminação naquela noite gélida.

A pessoa por trás da sniper está no último andar de uma casa no fim da rua. Eles só conseguiram continuar quando lidarem com aquele atirador e a única forma de chegar até ele ── Riley sabe ── é escondendo-se por entre os carros e dando a volta.

── Eu tive uma ideia. ── Ela diz, antes que Joel possa dizer algo. ── Vocês ficam aqui, eu vou até ele.

── O que?! ── Joel e Sally exclamam ao mesmo tempo, a encarando.

── Se vocês não se mexerem, ── ela diz para os mais novos. ── ele não vai acertar. Joel me cobre, tentando chamar a atenção enquanto eu saio e dou a volta pra entrar na casa pelos fundos.

── Não. ── Joel nega veemente. ── Nada disso. Você não vai.

── Eu vou. ── Ela insisti.

── Você vai ficar aqui com eles, eu vou. ── Ele balança a cabeça de um lado ao outro, mantendo sua palavra e aparentando não estar disposto a ceder.

── Se qualquer um de vocês dois sair daqui, ele vai matar. ── Apreensiva, Ellie disse.

── Está escuro, a mira dele é uma merda. ── Riley responde. ── Ele não vai me matar, só a si mesmo se continuar desse jeito. Eu vou e vou ser rápida. Quando eu lidar com ele, vocês correm e continuam. Antes que tenhamos mais surpresas.

Puxando sua mochila para a frente, Riley a abre e retira dois walkie talkies, entregando um deles para Sally e prendendo o outro em seu cinto.

── Quando o caminho estiver livre, eu aviso vocês. ── Ela explica, ajeitando sua mochila sobre os ombros novamente. ── Fiquem abaixados e obedeçam o Joel. Entre contato comigo se algo acontecer.

── Riley. ── Ele diz o nome dela em um rosnado bravo, soa quase como uma advertência. Porém Riley não lhe dá ouvidos. Ela sai do esconderijo pelos cantos, correndo para se esconder atrás de outro carro. Uma bala quase a acerta. ── Riley!

As costas da Adams estão contra uma picape, ela retira do coldre a pistola que carrega e a segura com as duas mãos. Respira fundo várias vezes, erguendo o olhar na direção de onde veio, encontrando brevemente o olhar de Joel e dos outros. Riley não espera que ele grite e a mande voltar novamente, apenas corre agachada em direção a calçada. Tudo o que ela escuta é um praguejar irritado de Joel.

Riley continua a correr se protegendo atrás dos carros. Os disparos acontecem, a seguindo por onde passa, porém nenhum a alcança. Todos são errados, acabam acertando algum alvo aleatório no meio do caminho. Em determinado momento, enquanto passa pelo meio de algumas arvores e arbustos na calçada lateral a casa, ela ainda escuto o som dos tiros mas nenhum é em sua direção ── pois não é possível que ele a acerte de onde está.

Pergunta-se o que pode estar acontecendo, preocupada com a possibilidade de alguém estar ferido agora. Mesmo assim, Riley não para. Se mantém em seu objetivo, pois sabe que de nada adiantaria retornar agora. Continua até estar na parte dos fundos da casa, em frente a porta do quintal. Uma de suas mãos segura a pistola, enquanto a outra empurra a madeira devagar até que esteja dentro de uma casa simples e quase vazia.

Através da luz da lua que entra pelas persianas e os buracos feitos na parede, Adams avista uma cadeira caída, alguns trapos em um canto e muita poeira ao redor. Sobe um lance de escadas antes de escutar mais um disparo, o que a faz parar e guiar-se por ele. Subindo as últimas escadas, andando devagar até chegar no último andar e nunca abaixando sua arma, ela se esgueira pela parede para não ser ouvida.

Abre a porta de um quarto, procurando algo ou alguém e encontra o lugar vazio. Fecha-a sem fazer barulho. Riley coloca uma mecha de cabelo atrás da orelha, retirando os fios rebeldes do caminho ao ouvir um farfalhar vindo da última porta naquele corredor, onde a luz faz uma sombra se movimentar pela fresta da madeira entreaberta. Ela caminha até lá, escutando mais um tiro quando está na metade do caminho. Riley consegue entrar sem ser ouvida, encontrando algo que a faz arfar.

Há um homem naquele cômodo e ele segura um rifle de precisão em suas mãos. Cabelos brancos característicos de um senhor idoso e isso se confirma quando ele encara Riley ao finalmente conseguir escuta-la.

── Abaixa a arma. ── Ela ordena, apontando a pistola para o homem. ── Coloca ela no chão e joga pra mim. Tudo o que você tem que fazer é ficar esperando mais 1 hora. Só isso. E ai eu não atiro.

Riley nota o momento em que ele pondera sobre as palavras dela, tem um vislumbre da duvida sobre aquele rosto velho e cansado. No seu interior, espera que ele faça o que ela pede. Outros não tiveram o luxo de conhecerem a misericórdia dela, naquele momento Riley esperava que o mais velho aproveitasse a oportunidade.

── Riley, está tudo bem ai? ── O rádio em sua cintura chia e ela escuta a voz de Sally através do aparelho. É o suficiente para desconcentra-la. Riley leva a mão livre até o walkie talkie, mantendo a arma em sua outra mão apontada para o homem.

Durante o tempo em que retira o aparelho para responder, é surpreendida pela tentativa do senhor de apontar o rifle para ela. Riley assusta-se, mas não tem tempo de disparar. Um tiro ecoa, reverberando pela casa, fazendo com que os pássaros nas árvores comecem a voar do lado de fora.

O corpo do homem a sua frente cai no chão em um baque surdo, rangendo a madeira do assoalho e manchando a superfície com o sangue avermelhado que brota do ferimento em sua testa. A poça que se forma escorre, parando a centímetros a redor de seu corpo, enquanto a arma que segurava deslizou pelo lado oposto o qual ele caiu.

Quando percebe que o disparo foi dado atrás de si, ela olha para atrás, escutando passos pesados aproximando-se ── agora não mais cuidadosos como antes. Riley encontra Joel e seu olhar estoico, segurando a magnum que ele carregava veementemente consigo.

── Joel. ── Ela ofega, abaixando sua arma, assim como Miller faz o mesmo. ── O que você-

── Por que você nunca me escuta? Eu disse pra você ficar lá embaixo. ── Joel rosna, colocando sua magnum de volta na cintura.

── Eu ia cuidar disso, você era quem deveria ter ficado. ── Riley retruca, se irritando pela forma como Joel falara com ela. Guardando também o rádio em suas mãos, colocando o mesmo de volta no lugar. ── Eles estão sozinhos agora, Joel.

── Se eu não te acompanho, aquele velho teria atirado em você. ── O homem pega o rifle do chão, enquanto fala. ── De nada, a propósito.

Ela suspira de forma audivel e revira os olhos, sem retrucar. Dessa vez, Riley decide dar o braço a torcer sem insistir no assunto. Por mais incomodada que estivesse, sua parte racional sabia que Joel estava certa.

Caminhando até a janela, Riley está perto de abri-la quando escuta o som característico de um walkie talkie ligando, a estática ecoando pelo sala, e nota que não é o dela. Os dois viram-se na direção do som quando escutam alguém falar.

── Anthony... ── Diz a voz do outro lado da linha. ── Anthony... ── Joel encontra o aparelho do lado da cadeira caída em que o homem estava sentado, coberto pela cortina que estava no canto daquele quarto. Havia escorregado na hora em que o homem caíra. ── Anthony segura eles ai... A gente já está chegando...

── Merda. ── Pragueja Joel, com o objeto nas mãos.

Apressadamente, Riley abre a janela e olha para o lado de fora, vendo as luzes características de lanternas de veículos se aproximando. Ela se atrapalha puxando seu próprio walkie talkie, enquanto Joel fica ao seu lado. Dá janela, ele grita "corre" várias vezes para que eles escutem.

── Sally, está me escutando?! ── Riley grita ao ligar o aparelho. ── Sally, você precisa sair dai!

── Riley ── Sally responde do outro lado da linha mais não continua. A distância Riley pode ver que eles levantaram, vultos atrás do carro, enquanto Kathleen e seu pessoal agora podem ser vistos na entrada da rua.

── Saíam dai agora! ── Ela grita.

Eles começam a correr quando o caminhão que está a frente dos outros veículos aumenta a velocidade, passando por cima dos outros automóveis na rua, jogando-os para o lado, abrindo o caminho por dentre cada um deles. Joel puxa o rifle e começa a atirar contra o caminhão, acertando na blindagem duas vezes.

No meio da rua, fugindo do veículo, ela pode ver Henry a frente com Sam, e Sally e Ellie logo atrás deles. Com o revólver que tem em mãos, Ellie tenta atirar contra o caminhão, não obtendo sucesso em acertar o vidro do para-brisa.

Riley dá as costas para Joel e vai em direção a porta.

── Ei! Aonde você vai?! ── Ele a questiona por cima do ombro, não tendo tempo para parar e falar com ela de forma apropriada. Joel continua suas tentativas frustradas de acertar o motorista.

── Eu vou até eles. ── Ela responde, passando pela porta. Miller não tenta impedi-la.

Riley puxa a pistola, guarda o rádio e sai pela porta da frente dessa vez.

O caminhão está perto de chegar até eles, as balas de Ellie acabaram e ela fica mais lenta, tropeçando nos próprios pés e caindo no chão após descartar seu revólver. Sally percebe o que aconteceu e para, voltando para busca-la. As palavras de Riley sobre não se arriscar ficam esquecidas em sua mente naquele momento. Suas mãos vão até o braço de Ellie, ajudando-a a levantar e tudo o que importa para a mulher é a ajudar a menina.

Colocar Ellie sobre seus próprios pés novamente mostra-se um trabalho árduo, ainda mais quando estão correndo contra o tempo ── o terreno arenoso também não ajuda.

── Vamos, Ellie. ── Sally pragueja, fazendo esforço enquanto a mais nova tentava firmar seus pés no chão novamente.

A proximidade do caminhão as assusta e as faz parar, encarando as luzes fortes que vem em sua direção. Em algum lugar distante, ela podia escutar Riley gritando o seu nome, porém não conseguia se mover. Era como se já tivesse aceitado seu destino.

Porém, antes mesmo que o veículo tivesse a chance de chegar mais perto, um disparo certeiro encontra o motorista. O caminhão perde a direção, saindo da pista e indo de encontro com uma casa próxima, colidindo coma estrutura. Sally aproveita o momento para puxar Ellie para cima e fazê-la correr, enquanto os outros carros param perto de onde o acidente aconteceu.

O caminhão explode atrás delas, o ato as pegando desprevenidas e fazendo com que as duas caíam no chão. Poeira e fumaça inibem suas visões, deixando todos um pouco desorientados. Sally tem um braço por cima de Ellie, protegendo a garota enquanto estão no chão. Ela tosse, cobrindo o próprio rosto com o outro braço. Sente a quentura próxima, os pequenos estilhaços em chamas dançando ao redor delas.

Henry é quem vai de encontro a elas, puxa Sally pra cima com certa pressa e faz o mesmo com Ellie. Ele não diz nada, apenas as faz correr na direção de um carro perto da calçada. Atrás dele, Sam está escondido e é onde eles ficam, agora que o pessoal de Kathleen está fora dos veículos e a sua procura.

── Tudo bem? ── Ofegante, Henry pergunta. Seu olhar intercala entre Ellie e Sally, porém demora-se sobre a mais velha. ── Vocês estão bem?

── Sim. ── A Adams responde, tentando recuperar o fôlego. Ela olha para a garota, fazendo uma pergunta silenciosa. Ellie assente com a cabeça.

── Sua irmã estava na entrada da casa. ── O rapaz diz para Sally, enquanto seu olhos desviassem para tentar observar os inimigos que se aproximam.

A mulher vira-se na direção oposta, tentando encontrar Riley, porém o lugar está vazio e ela não a encontra em lugar nenhum a vista.

── Ela não tá mais lá. ── Ellie comenta, vendo o mesmo que Sally. ── Será que ela tá bem?

── Ela deve estar. ── Adams a encara agora, garantindo. ── Tenho certeza que sim.

Seu olhar pousa nas duas crianças, notando como Sam está assustado. Sally desejava poder dizer alguma palavra de conforto a ele, qualquer coisa que pudesse ajuda-lo. Imaginava que tudo deveria ser muito confuso para uma criança de apenas 8 anos. Foi para ela aos 11, quando viu aqueles monstros surgindo de todos os lados, quando viu New Haven afundar, quando viu seu pai morrer. A diferença era que os monstros os quais fugiam não eram os infectados, mas sim os humanos. Aqueles que restaram na humanidade. A resistência.

Em meio ao crepitar das chamas, escutam os passos que se aproximam. Vários ao mesmo tempo, estão surgindo em meio a fumaça. Sally segura a mão de Ellie, enquanto a menina mantém Sam perto dela. Henry está ao lado esquerdo da Adams e o olhar dos dois se encontra mais uma vez.

── Ele tá lá em cima. ── Uma voz masculina diz. ── Em duplas, deem a volta e peguem ele. ── A ordem clara se referindo a Joel, deixa as duas aflitas.

── Fim da linha, Henry. ── Exclama uma voz feminina. Sally acha que essa deve ser Kathleen, a líder. ── Quer aparecer logo e poupar tempo? ── Quando ele não responde, Kathleen continua. ── Não? Tá, tudo bem, não importa.

Henry passa seu olhar pelos três ao seu lado. Ele encara Sam por um tempo mais longo, um conflito interno acontecendo dentro do rapaz e Sally é capaz de notar isso.

── Eu to saindo. ── Ele a responde e os olhos da Adams se arregalam. Ela segura o antebraço dele e sussurra um 'não'. ── Mas deixa as crianças em paz.

── Ela vai matar todos nós, de qualquer forma. ── Ela sussurra para ele, evitando que a mulher escute.

── Não.Sinto muito ── Responde Kathleen ao pedido dele. ── As duas garotas estão com o homem que matou o Brian, o Barry, o meu pessoal. E o Sam... Bem, ele está com você.

── Você não entende! ── Henry exclama.

── Eu entendo. Eu sei porque você fez o que fez. ── Garante a mulher. ── Mas já parou pra pensar que talvez fosse bem melhor ele morrer?

── Ele é só uma criança! ── Retruca.

── E crianças morrem, Henry. E morrem o tempo todo. ── Fria, ela respondeu. ── Você acha que o mundo todo gira em torno dele? E que ele vale... Vale tudo?! ── Enquanto ela fala, Henry vira-se para Sally, olhando diretamente para ela. ── É isso o que acontece quando você brinca com o destino.

A fala desprovida de empatia da mulher mexe com Sally, fazendo uma raiva florescer na mulher, odiando cada mísera palavra do que ela disse.

── Se prepara para pegar eles e correr. ── Ela começa a negar, quando ele murmura isso. ── Sim, você tem que fazer isso. Não discute comigo agora, Sally.

── Henry- ── Burrell a interrompe antes que Sally possa continuar.

── Anda. Faz o que eu pedi. ── O olhar dele está sério enquanto encara as feições devastadas dela. ── Tira eles daqui.

Sally não tenta mais ir contra Henry. Dolorosamente, ela assente e pede para Ellie segurar a mão de Sam. O mais novo parece confuso, mas também não tenta questionar. A Adams nova respira fundo várias vezes, entrelaçando seus dedos com os da garota ao seu lado.

── Está na hora, Henry. Acabou ── A voz enfadonha de Kathleen diz, alertando-os de que sua paciência está chegando ao limite.

Henry dá algumas respirações profundas, antes de tomar coragem e se levantar. Ele está com as mãos erguidas, rendendo-se. Caminha para fora do esconderijo, chamando a atenção de Kathleen e dos outros para si. Sam tenta segui-lo, porém Ellie não permite.

── Acaba assim, é a vida. ── Ela da de ombros.

A líder da resistência encara o jovem de 28 anos por um tempo, seu olhar sofrido contradiz com suas ações. Kathleen não planeja recuar. Henry vê aquela como a única alternativa possível para tentar dar uma chance aos outros de fugir. Ele quase aceita seu destino, até que escuta o clique de uma arma e passos surgindo em meio a fumaça.

As armas são apontadas para a frente, para quem se aproxima.

── Deixa eles irem. ── Dissera Riley, ao emergir por dentre a fumaça. A sua frente está um dos homens de Kathleen, com as mãos erguidas enquanto ela aponta uma arma para as costas do mesmo que caminha aos tropeços. ── E não, isso não é um pedido.

Escutar a voz da irmã energiza Sally que, por mais que tenha ficado melhor ao saber que ela estava bem, ficava aflita pelo o que Riley estava fazendo.

── Quem é você? ── Kathleen a questiona. ── Quem você pensa que é?

── Eu sou a pessoa que disse "deixa eles irem", porra. ── Ela responde. ── E eu odeio me repetir.

── Você acha mesmo que eu vou recuar só porque você, sozinha, me mandou? ── Debocha a mulher. Enquanto ela fala, Riley olha para a Henry. Um mínimo movimento de cabeça que apenas ele percebe, faz o rapaz perceber que ela quer que ele chegue para trás. ── Somo vários, você é só uma. Com apenas um refém.

── É porque eu matei os outros três. Desculpa. ── Riley sorri, ironica. Ela percebe a forma como o olhar de Kathleen se intensifica e ela treme por um mísero momento. ── Se quiser, eu digo onde deixei os corpos. Assim você pode levar pra enterrar junto com os outros que eu matei ontem. Tenho certeza que o Barry e o Brian vão querer companhia.

── Sua vadia. ── A mulher puxa sua semiautomática, apontando-a na direção de Riley. Os outros atrás dela também engatilham a arma.

── Ficou brava? Bom, significa que você se importa. ── Comenta a Adams.

── Você não tem saída. Vai morrer aqui como eles. ── Kathleen disse. ── Esse seu plano é estúpido e burro. Não tem chance alguma de conseguir sair daqui viva.

── Quem disse que meu plano era sair daqui viva? Eu morro, mas levo você e alguns dos seus homens junto comigo. ── Um sorriso ladino cresce em seus lábios. ── Eu sou a distração, sua puta.

Sally ofega, esperando os disparos, pronta para tentar intervir, porém eles nunca chegam. Riley tem apenas tempo de engatilhar a arma para começar a disparar, mas não o faz. Não quando a atenção de todos volta-se para um estrondo alto.

No instante em que o caminhão começa a cair vagarosamente dentro do buraco abaixo da casa, as botas sobre o chão dão meia-volta, olhares confusos questionam-se sobre o que está acontecendo e ninguém dá mais nenhum passo até que o veículo suma debaixo da terra daquela casa em chamas.

O vento e o tempo parecem parar, Riley pode escutar seu próprio coração batendo, a forma como o suor escorre por sua têmpora. Ela ainda sente a dormência nas mãos do pescoço que quebrou a minutos atrás, a faca que usou para cortar as gargantas dos outros dois ainda está manchada de sangue em seu coldre. Tudo pesa conforme a adrenalina ainda corre em suas veias, deixando seu corpo quente por baixo do casaco que veste.

Os soldados da resistência estão com suas armas apontadas na direção do buraco onde parte da casa despencou com o veículo. Um vento frio passa, trazendo consigo o sussurro do que só pode ser resumido como o pior dos pesadelos. É notório que algo está se aproximando.

E, quando chega, trás consigo o desespero.

Eles emergem do chão aos montes. Vários infectados saem de dentro do buraco, uma horda que faz a terra tremer conforme avançam até seus alvos. Os primeiros a irem de encontro a eles são o pessoal de Kathleen, pois estão mais perto. Eles atiram enquanto os infectados chegam, tentando a todo o custo mata-los, porém eles não param de aparecer.

Riley dá um passo para trás, Henry corre até os três que estão escondidos e fica com eles. O homem que está a sua frente corre para longe e ela não se importa em tentar para-lo. O choque ainda se apodera de seu corpo, quando vê que os infectados começam a destroçar os soldados.

Um deles sobe em cima do carro em que Sally, Ellie, Sam e Henry estão escondidos. Um único disparo certeiro na cabeça o faz cair antes que possa chegar até eles, fazendo Riley voltar para a realidade e se lembrar de Joel na casa, dando proteção a eles com o rifle.

── Corram! ── Ela grita para eles, enquanto começa a atirar contra alguns infectados com a metralhadora. ── Agora!

Eles a obedecem e saem correndo do esconderijo improvisado, desviando dos infectados presentes. Enquanto atira, Riley dá passos para trás, tentando a todo custo se afastar do centro da luta. Há vários soldados fugindo, tentando salvar suas próprias vidas. Isso ajuda a dispersar os infectados, amplia o espaço e as direções em que eles vão.

Quando um tenta agarra-la por trás, tudo o que Riley tem tempo de escutar é um único disparo que mata o infectado antes que ele possa ataca-la. Ela olha para trás, para o corpo caído no chão e em seguida seu olhar ergue-se para Joel na janela. Não tem tempo para agradecer quando mais deles surgem em sua direção e precisa voltar a disparar antes que eles cheguem até ela.

Ellie é segurada por um infectado enquanto corre. Joel o acerta na cabeça, explodindo os miolos por toda a parte. A menina é puxada para o chão junto do corpo morto, sendo deixada para trás por Henry, Sally e Sam que não notam o que acontece até que já estejam do outro lado, perto de outro carro.

── Ellie! ── Sally grita, puxando o arco e a flecha das costas. Henry e Sam estavam escondidos atrás dela. ── O carro! ── Ellie nota o veículo a sua frente, a janela aberta é o suficiente para ela conseguir passar e se esconder.

Sally dispara a primeira flecha, que acerta a cabeça de um inimigo. Ellie rasteja no chão enquanto tem a proteção das duas irmãs e de Joel, que também não permite que os infectados se aproximem dela. A pessoas correndo por todos os lados, assim como vários Estaladores e Corredores. Vários deles passam por Ellie enquanto ela está no chão, lutando para chegar até o veículo. Ela levanta-se e corre até a janela de trás da minivan, entrando na mesma antes de que um Estalador tenha a chance de agarra-la ── Joel o acertando na cabeça em seguida.

As balas de Riley acabam e ela pragueja quando nota que não há mais para substituir. Um infectado avança sobre a Adams, fazendo com que a mulher o acertasse na cabeça com sua arma descarregada. Quando ele cai no chão, coloca o pé sobre o corpo, puxa sua pistola e atira duas vezes na cabeça dele.

── Atropela! Atropela! ── Um dos soldados de Kathleen ordena, fazendo com que alguém a frente de um dos veículos, avançasse com o carro para cima dos infectados.

Riley sai do caminho, antes que possa acabar sendo acertada. O carro distrai a maioria dos infectados, deixando a mulher apenas um para lidar. Ela puxa um granada que conseguiu dos soldados de Kathleen que emboscou, tirou o pino e colocou dentro da blusa de um, assim que avançou sobre ela. Riley conseguiu segura-lo antes que pudesse morde-la e o jogou para o lado.

O monstro se desequilibrou, caindo contra um carro, mas logo estava na direção dela novamente, rosnando para ela. Os olhos de Riley se arregalaram e tudo o que fez  foi fugir, caindo no chão quando ele explodiu em milhares de pedaços.

── Riley! ── Sally grita o nome dela, aparecendo ao lado da irmã em seguida. Ela a ajuda a ficar de pé.

── Você tem que sair daqui. Agora! ── Riley exclama. Ela troca a munição da pistola e atira duas vezes contra um infectado, Sally acerta outro com a flecha.

── Não vou deixar você e a Ellie. ── Disse a mais nova. ── Nem o Henry e o Sam. Precisamos acha-los.

── Eu disse pra você se preocupar consigo mesma. ── Rosna Riley, olhando para a irmã em um momento em que mais nenhum inimigo se aproxima, porém nenhuma das duas abaixa a guarda. ── Sai daqui agora, Sa-

Um rugido distinto interrompe pela noite, esse é mais grave e forte do que o dos infectados normais. Sua mão, que segura a beirada do buraco, também é maior. Do meio do fogo, surge o maior infectado que Riley já viu. Vários esporos cobrem a extensão de seu corpo e ele é mais alto do que os outros. Sua brutalidade se mostra quando mata um dos homens apenas o erguendo com uma mão e o jogando no chão com força em seguida.

Um home ao lado de Kathleen atira contra ele com uma AK-47, mas tudo que isso faz é deixa-lo irritado. O monstro anda com passos pesados na direção dele. Riley vira-se para Sally.

── Temos que sair daqui agora. ── Firme, ela segura o braço da irmã e a puxa consigo para longe.

── O que? Riley, mas e os outros?! ── Sally a questiona, tropeçando nos próprios pés enquanto tenta acompanha-la.

── Fizemos o que deu pra fazer, agora não é mais hora de arriscar. ── Ela diz, atirando contra a cabeça de Estalador que vinha em sua direção.

── Não se arriscar? Quer mesmo falar sobre não se arriscar?! ── Sally exclamou quando Riley a jogou para frente para que continuasse andando. ── Você ia se matar lá atrás, Riley!

── Agora não é o momento pra isso, porra.

Sally ia retrucar, quando escutou um disparo do rifle de Joe. As duas olharam para direção em que a bala acertou, vendo Ellie dentro da minivan e uma criança infectada dentro do carro com ela. O veículo estava longe delas, perto da calçada a esquerda. Sally e Riley estavam perto do caminho que levava para fora da cidade, os infectados ainda focados nos vários soldados da resistência que corriam desesperados e aquele Verme matando vários mais a frente. Seria questão de minutos até ele estar mais perto.

Do outro lado, elas escutam a voz de Henry. Ambos os irmãos estão de baixo de um carro, chutando contra Estaladores que tentam chegar até eles, o mais velho grita para eles solta-lo, puxa o menor para mais tento, tentando a todo custo protege-lo. Riley está preocupada com os três, seu olhar frenético passando por eles enquanto pensa no que fazer e a confusão em sua face faz Sally agir.

── Vai até a Ellie, eu vou ajuda-los. ── A voz de Sally reverbera em meio ao conflito interno em que Riley se encontra, trazendo a mulher de volta a realidade.

── Não- ── Ela não tem tempo de contestar quando a mais nova corre para longe dela, retira mais flechas do coldre e atira. ── Sally! ── Riley grita, porém é em vão. ── Porra.

Adams grunhe, cedendo e fazendo o que Sally instrui. Ela atira em dois infectados perto do veículo, derruba-os e os tira da frente da porta, deixando o caminho livre para Ellie sair. A porta está emperrada e a garota tenta seu máximo para conseguir abri-la, porém seus esforços são frustrados. Riley limpa o caminho até ela, derrubando qualquer um que entre em seu caminho.

Tudo o que ela pode escutar seus batimentos cardíacos acelerando, a forma como apenas age no automático. Nada pode para-la naquele momento, humano ou infectado, eles caem um por um para que ela possa chegar na pessoa que é sua única preocupação naquele momento.

── Se protege! ── Ela instrui Ellie a abaixar enquanto Riley quebra o vidro com o cotovelo. A garota de cabelos castanhos passa pela janela, antes que a criança infectada possa chegar até ela.

Quando surge na janela, após se contorcer pelos assentos para chegar até Ellie, a pequena infectada grita para Riley, que é rápida em acerta-la com um tiro na cabeça, após deixar Ellie no chão ao seu lado. Adams está ofegando quando termina, sentindo a adrenalina ainda fluindo em suas veias enquanto observar o sangue e as partes dos cérebro da menina que mancham a parte interna do veiculo.

Ela pisca várias vezes, aterrando-se a realidade novamente. Deixando aquela sensação nauseando sair de seu corpo para encarar Ellie.

── Você está bem? Se machucou? ── Riley pergunta, ao ajudar a garota a se levantar.

── Eu 'to bem... Eu 'to bem, Riley. Obrigada. ── Ellie balança a cabeça afirmativamente, parecendo tão nervosa quanto Riley. A forma como a garota a encarou, o olhar que ela lhe deu, fez algo pesar dentro da Adams, mesmo que ainda sentisse um a alivio por saber que Ellie estava bem.

── Me solta! Me solta! ── Elas escutam os gritos de Henry, viram-se na direção de onde os garotos ainda estão. Sally lidava com alguns infectados, mas não conseguia chegar até eles, segurando o arco com as duas mãos e utilizando o mesmo para afastar um infectado que estava em cima dela, tentando morde-la.

Ellie não hesitou ao correr até eles, vendo que Joel ainda estava na janela da casa e poderia protege-la. Riley tentou segurar a garota, mas ela escapou de seus dedos. Ao seu lado, a mulher escutou o rugido do Verme, agora mais próximo dela. Ele andava na direção em que os quatro estavam, focado em chegar até eles.

Riley ergueu a pistola e atirou contra ele, acertando nos esporos em suas costas que explodiram em uma mistura viscosa de pus e sangue. O grande infectado se virou na direção dela, grasnando gravemente para a mulher e agora mudando sua rota. Ao fundo, ela viu Ellie acertando um dos Estaladores com sua faca e Sally perfurando o outro com uma flecha que estava em suas mãos, acertando o diretamente na cabeça e livrando os irmãos dos últimos que restaram.

Enquanto o Verme caminhava em sua direção com passos pesados, Riley disparou várias vezes contra ele até seu pente estar vazio. Ela tentou encontrar outro em seus bolsos, porém não havia mais nenhum. Seus olhos se arregalaram e ela desviou no exato momento em que a mão dele tentou agarra-la. Os pés de Riley deslizaram por o chão, levantando poeira enquanto agia.

O infectado virou-se para ela mais uma vez. Um disparo surgiu, acertando o Verme no pescoço. Ele rugiu, irritado e procurando quem havia o acerto. Riley sabia que havia sido Joel e o agradeceu internamente por isso, lhe deu tempo de encontrar a granada restante em seu bolso. Riley retirou o pino e jogou o objeto aos pés do Verme.

Pondo-se a correr, Adams não olhou para trás, apenas ouviu quando a granada explodiu, escutando os restos grotescos dele caindo no chão. Não havia sido o suficiente para matá-lo, porém o atrasou o suficiente para Riley fugir. No meio do caminho, pegou o arco que Sally acabou deixando para trás no meio da luta. Retirou duas flechas de corpos estirados no chão e as levou consigo.

Um carro passou rapidamente em sua frente, derrubando vários estaladores e levando alguns consigo. Riley assustou-se, mas não parou se manteve parada por muito tempo. Ela avistou o caminho, viu Henry, Sally e Ellie na saída pela mata que os levaria até a ponte. Ocorreu de Sam ficar para trás no meio de toda a correria. O menino de costas no chão, arrastando-se de um infectado.

Joel dispara uma bala com o rifle, estourando a cabeça do infectado, enquanto Riley corre até Sam. Henry grita pelo irmão, Adams o ergue pela roupa e o faz ficar atrás dela quando mais um surge para ataca-los. O acerta com o cabo do arco duas vezes, recusando-se a gastar as poucas duas flechas que lhe restam em sua mochila.

Puxa a faca da bota e a crava no crânio do corredor, antes de segurar Sam e pelo braço e sair correndo com o menino. Os olhos dela encontram as costas de Kathleen, que aponta uma arma para os três ── Henry mantendo um braço na frente das garotas, Ellie segurando a barra do casaco de Sally atrás da mais velha.

── Para! ── Ela exclamou, sem notar a Adams se aproximando. Henry e Sally colocam Sam e Ellie atrás de si, protegendo os dois. ── Isso tudo... é culpa de vocês! ── Kathleen rosna.

Riley coloca uma flecha no arco e acerta diretamente na panturrilha da mulher, a fazendo gritar de dor quando cai de joelhos no chão e perde seu revólver no processo.. Os olhares surpresos deles recaem sobre ela.

── Não, Kathleen. Isso tudo é culpa sua. ── Riley responde. ── Nada disso estaria acontecendo se você não tivesse insistido em uma vingança estúpida. Seu pessoal não estaria sendo morto por infectados e você não estaria aqui agora. ── Ela arfa, vendo o olhar raivoso que a mulher lhe lança. Riley empurra Sam para frente, mandando o menino se juntar ao grupo. Inclina a cabeça para a saída, mandando eles saírem. ── Vão logo.

Henry assente, mas Sally hesita. Ele precisa arrasta-la pelo caminho, até que a mulher finalmente de as costas para a irmã e aceita fugir com os outros.

── Você vai me matar? ── Kathleen pergunta, com um joelho e as duas mãos sobre o chão terroso.

── Eu preciso? ── Indaga a Adams.

As mãos de Kathleen se fecham sobre a terra e ela joga um punhado no rosto de Riley. A obstrução de sua visão, faz a mulher grunhir, enquanto leva a mão ao rosto para tentar limpa-lo. A líder da resistência avança sobre ela, acertando um soco no rosto de Riley e em seguida acerta seu joelho contra o estômago da mulher.

As costas da Adams se chocam contra uma árvore e Kathleen leva as duas mãos ao pescoço dela, tentando enforca-la. Riley coloca as duas mãos por dentro dos braços dela, bate contra eles com as costas das mãos, fazendo com a mulher a solte por um momento suficiente para que Adams possa acertar o rosto dela com a testa. Riley puxa a outra flecha restante de sua mochila e a crava no pescoço de Kathleen.

Instantaneamente, sangue começa a escorrer do local e ela leva a mão até a área, segurando a flecha com a outra, mas em tira-la do lugar. Os olhos arregalados da líder a encaram, enquanto ela cai de joelhos no chão, sofrendo para respirar. Riley a deixa cair no chão, vendo como ela implora de ajuda sem palavras e se afasta sem tentar socorre-la.

Logo surgem infectados que devastam o corpo de Kathleen no chão, porém a Adams apenas dá as costas para a cena após pegar seu arco do chão. O som dos estalos característicos era tudo que ela escutava ao afastar-se.

── Riley! ── Joel a chamou, quando a encontrou no meio do caminho, vindo da direção em que estava a casa. Ela estava aliviada ao vê-lo. O homem levou a mão ao braço dela e a Adams segurou o dele em resposta. ── Tudo bem? ── A mão dele subiu para o rosto dela, embalando a parte que nãos estava machucada, notando como Joel a analisava virando para ver o lado em que o hematoma estava se formando.

── Sim. Não se preocupa comigo, eu to legal. ── Ela firmou, garantindo a ele que estava bem. Riley fez com que Joel abaixasse sua mão, segurando-a na dela.  ── Temos que sair daqui. Os outros já devem estar na ponte, precisamos alcança-los.

── Certo, vem. ── Joel assentiu, soltando-a devagar e guiando o caminho, mantendo o rifle consigo. ── Vamos sair desse inferno de lugar.

Após atravessarem a ponte, eles decidem passar a noite em um hotel perto da beira da estrada. O lugar está totalmente vazio, não há infectados por perto e, para a sorte deles, ainda tem água corrente. Joel umedece um pano no banheiro, encarando seu reflexo no espelho por um tempo. Ele ainda pensa em tudo o que aconteceu, em como tudo mudou tão rápido de uma noite calma para uma que eles nunca se esqueceriam.

Quando o pano já está molhado o suficiente, ele o torce e o deixa apenas úmido. Sai daquele cômodo para retornar ao quarto e caminha até Riley, que está sentada contra a parede, logo abaixo de uma janela. Henry está sentado sobre a cômoda na parede oposta a dela, comendo a carne seca que Riley lhe entregou.

──  Obrigada ── Agradecendo a Joel pelo pano que ele estende para ela, Riley o leva ao lado machucado de seu rosto enquanto o homem se senta ao seu lado.

── Sério cara, me fale mais sobre isso. ── Henry pede, entrando no assunto que eles estavam conversando antes. De alguma forma os dois homens haviam entrado no assunto de motos. Joel cortou a conversa quando notou o desconforto de Riley.

── Nem tem muito o que falar sobre. ── Joel grunhe. ── Era aniversário do meu irmão. Tudo o que ele queria era alugar duas Harleys e viajar pelo país.

── E vocês fizeram isso mesmo? ── Questiona a mulher ao seu lado.

── Sim. ── Joel confirma.

── Nossa, eu morreria feliz se pudesse dar uma volta no quarteirão com uma dessas. ── Comenta Burrell, sorrindo sonhador. O que fez Riley e Joel rirem fracamente. ── Como foi?

── Foi bom. Foi muito bom.

── Bom? ── Henry encara a Adams, incrédulo. ── Dá pra acreditar nesse cara? ── Joel bufa. ── Vamos, conte os detalhes. Descreva.

── Sabe de uma coisa? Estou cogitando a possibilidade de sair daqui. Acho que vocês dois merecem um pouco de privacidade. ── Riley ironiza.

── Para, vai me dizer que não gosta de motos?

── Não sou uma grande fã. ── Ela responde, fazendo Henry acenar em desdém.

── Riley, essa não é uma moto normal, tá? Você sente nessa malvada e sente o motor. ── Decidido a provar seu ponto, Henry insisti. ── Não tem nada igual.

── Ah, é? Como você sabe? ── Arqueando uma sobrancelha, Riley pergunta.

── Eu vi ela nos meus sonhos. Vrum, vrum, vrum... ── O rapaz imita o som do motor da moto, enquanto fingi estar dirigindo uma Harley imaginária. Riley começa a rir da encenação dele, fazendo o lado machucado de seu rosto doer.

Henry também termina rindo e Joel solta um bufo incrédulo, que pode se igualar com uma risada baixa. As risadas morrem aos poucos, até que eles estejam apenas ouvindo murmúrios provindos do outro quarto,

Eles ficam em silêncio novamente, apenas ouvindo as risadas que vinham do cômodo ao lado. A porta aberta mostrava Ellie e Sam sentados em uma cama e Sally estava na outra, de frente para eles. A Adams mais nova conversava algo com eles que os quatro adultos não conseguiam escutar claramente mas que mantinha os dois entretidos. 

── Será que eles vão ficar bem? ── Henry questiona, enquanto os observa. Ele come a carne seca que Riley ofereceu para ele vagarosamente.

── Acho que sim. ── A mulher suspira, estremecendo um pouco quando a área fraturada dói quando ela pressiona o pano. ── Foi uma noite e tanto, mas... Eles vão conseguir superar isso.

── É mais fácil quando você é criança. ── Joel dá de ombros, olhando brevemente para os dois no outro cômodo, antes de abaixar seu olhar para o chão. ── Não tem ninguém que depende de você. ── Encara Henry a dizer. ── Essa é a parte dificil.

── Até que a gente tá indo bem. ── O rapaz assente com a cabeça, concordando com o que Joel diz.

── É como eles dizem no quadrinho. ── Riley comenta, inclinado sua cabeça em direção as crianças sentadas na cama e lendo juntas. ── Resistir e sobreviver.

── Resistir e sobreviver. ── Repete Henry. ── Que merda redundante.

── É, não é muito bom. ── Joel concorda.

── Não mesmo. ── Riley ri fracamente. ── Mas até que faz sentido. Acho que é basicamente o que fazemos durante toda a nossa vida agora.

Ela inclina cabeça contra a parede, respirando fundo e acalmando seus músculos doloridos. Agora que o terror passou, começa a sentir as consequências de uma noite agitada.

── Vão dormir vocês dois, nada de ficar lendo essa revistinha até tarde. ── Sally saí do quarto rindo, falando com eles antes de encostar a porta um pouco, mas ainda deixando um fresta para que os dois possam ser observados. ── Estou falando sério.

── Sim, senhora. ── Vem a resposta de Ellie em um tom irônico, que faz a Adams revirar os olhos.

Sally vira-se para os outros adultos, seu olhar recai sobre sua irmã. Parte de seu corpo é iluminado pela luz provinda da fresta da iluminação do abajur que sai do quarto em que as crianças estão. Henry sorri ao vê-la.

── Como está seu rosto? ── Ela pergunta, sentando-se no chão perto da cômoda em que o Burrell está.

── Doendo um pouco, mas vou sobreviver. ── Responde Riley, suspirando. Seu pescoço também dói um pouco, por mais que não tivesse dado tanto tempo para Kathleen estrangula-la ao ponto de deixar marcas mais escuras. ── Nada que eu não possa lidar com-

── Um pouco de bebida. ── Joel e Sally dizem em uníssono, completando a fala dela. Riley aparenta choque ao abaixar a mão do rosto.

── Já estamos acostumados. ── Sua irmã mais nova disse, sorrindo. Riley bufa. Seu olhar perplexo e indignado, transborda o quanto ela se sente ofendida.

── Idiotas. ── Resmunga Riley, irritada. O que apenas arranca algumas risadas de sua irmã e de Henry, enquanto Joel solta um riso contido e baixo, disfarçando levando a mão a boca.

Eles caem em um silêncio tranquilo por um tempo, até que Joel o quebra, entrando no assunto que está em sua mente desde que chegaram naquele hotel.

── Eu não sei como vamos chegar em Wyoming, provavelmente andando, mas... ── Dissera ele, encarando Henry. ── Se vocês quiserem...

── Tá. ── Burrell responde, entendendo onde Miller quer chegar. ── Se não for um incomodo para vocês.

── Pode ficar tranquilo, você e seu irmão são bem-vindos. ── Garante Riley. ── Depois do fez hoje, acho que já provou ser confiável. ── Henry sorri.

── Também somos gratos a você pelo o que fez lá atrás. ── Ele comenta. ── Você salvou a gente, várias vezes. Salvou o Sam.

── E quase se matou antes disso com aquele plano idiota. ── Sally adiciona. ── Alias, que ideia foi aquela de enfrentar todo aquele pessoal, mais a fodida da Kathleen, sozinha?

── Era um bom plano, ia dar tempo de vocês fugirem. ── Adams dá de ombros.

── Era um plano suicida, Riley. ── A mais nova retruca, irritada.

── Essa é que era a graça. ── Um sorriso debochado surge nos lábios da mulher, enquanto Sally semicerra os olhos para ela.

── Eu vou socar o outro lado do seu rosto se você continuar falando merda. ── Sally a ameaça.

── Pelo visto a ameaça é de família. ── Henry comenta, rindo fracamente.

── Logo você se acostuma com isso garoto. ── Joel disse, passando a mão pelos cabelos e jogando-os para trás. ── Vem com o pacote.

Burrell ri, olhando para Sally que revira os olhos e Riley bufa mais uma vez, fechando os olhos momentaneamente com a cabeça ainda apoiada contra a parede, sentindo o cansaço se apoderando de seu corpo.

Eles continuam conversando por mais um tempo, discutem sobre quem vai dormir aonde até que o sono leve os dois mais velhos primeiro. Sally sorri, observando Riley dormir com a cabeça apoiada no ombro de Joel. O homem também com os olhos fechados ao lado dela e a cabeça contra o papel de parede desgastado atrás dele.

Ela pega o casaco que sua irmã descartou assim que entraram no quarto e coloca sobre a mulher, cobrindo parcialmente o Miller no processo. A porta do quarto das crianças já está fechada e a luz se apagou, Sally já havia conferido que os dois estavam dormindo então não precisava fazer mais nada por ali.

Caminhou até a porta e saiu para o ar frio da noite, encontrando Henry contra o parapeito do corredor. Ele observava a paisagem ao redor, aquela noite que agora se tornará pacífica.

── Estão todos apagados. ── Ela comenta ao se aproximar dele e ficar parada ao lado do rapaz, braços cruzados na frente do peito. Henry a observa com um olhar suave. ── Você deveria ir dormir também. Tivemos uma noite e tanto.

── Não estou com tanto sono assim ainda. ── Responde ele. ── Pode ir dormir se quiser, não vou ficar muito tempo aqui fora.

── Também não estou com sono. ── Vira-se para frente, encarando o céu estrelado. ── É meio difícil dormir depois de tudo o que aconteceu. Nem acredito que saímos vivos daquele lugar, não parece real.

── É, foi loucura. ── Comenta o rapaz. ── Mas a sua irmã e o Joel sabiam o que fazer. Eles mandaram muito bem lá atrás. Não teríamos conseguido sem eles.

── Os dois estão nessa a muito tempo, são verdadeiros sobreviventes.

── E todos nós não somos? ── Questiona ele, sorrindo ladino.

── Ah, você sabe o que eu quero dizer. Com eles sempre é "matar ou ser morto". Riley e Joel nunca hesitam. ── Ela disse. ── As vezes, eu prefiro ser morta do que tirar outra vida novamente.

── Já matou alguém antes?

── Uma vez. Eu era muito nova. ── Sally responde. ── Não estava infectada, era só... Uma mulher. Só uma pessoa que estava tentado sobreviver, assim como a gente. ── Ela suspira. ── Ela estava grávida. Eu não sabia. Me senti pior ainda.

── Sally, não foi sua-

── Não tenta me consolar, tá? ── Ela o encara. ── Não tem consolo pra isso. Eu fiz, eu matei alguém. Isso não vai mudar, nada vai fazer isso mudar. ── Sally arfa, abaixando o olhar e apoiando a mão nas grades. ── Todo o dia eu tento ser melhor por conta disso, tento ajudar as pessoas... Tento não mudar porque eu não quero deixar que esse mundo me mude. Não quero que tenha esse efeito sobre mim. Mas... As vezes é difícil pra caralho.

── Não fica mais fácil, não é? ── Henry fala com o canto dos lábios puxados para cima, em um pequeno sorriso triste e compreensível. Sally acenou com a cabeça.

── Nunca fica. ── Disse ela. ── Riley fala que tudo que ela faz é por mim, pela gente. E eu também faço tudo por ela. Tudo pra que ela não tenha mais fardos nas costas, porque eu sei que ela já lidou com tanta merda. Então eu tento amenizar as coisas, seguir em frente e superar ao invés de deixar isso acabar comigo, porque sei que acabaria com ela também.

Alguns batidas silenciosas passam antes que ela volte a falar novamente, Henry a escuta concentrado, prestando atenção em tudo o que Sally tem a dizer.

── A única fez que cansei de ficar parada só olhando e decidi agir, tentar ajudar, eu me ferrei e ainda tive que ver o quanto ela ficou decepcionada comigo. ── Adams continua. ── Quero ajudar, quero ser útil. Mas eu não sou como a Riley. Não sou forte como ela. Ela aprendeu a sobreviver nesse novo mundo de verdade, a ditar as próprias. Eu... ── Sally suspira. ── Acho que eu fiquei congelada no tempo.

A mão de Sally aperta sobre a grade e ela realmente não entende o porque de estar falando aquelas coisas para Henry. Não entende o porque de se sentir tão confortável perto dele para desabafar de tal forma. Talvez fosse porque ele a entendia, Henry sabia o que era matar um inocente para proteger alguém que amava. Sabia o que ela se sentia por nunca se sentir o suficiente.

Ele se aproxima e tenta segurar a mão dela que esta apoiada no parapeito. O movimento, por mais termo que possa ser, assusta a Adams que se retraí e afasta a mão. Henry arregala os olhos, notando que fez algo errado pela forma como Sally o encara e segura a sua própria mão próximo ao seu peito.

── Desculpa, eu... ── Ele gagueja, sem saber o que dizer. ── Eu só queria dizer que eu sei como você se sente, não queria te assustar nem nada. ── Henry leva a mão a nuca. ── E só porque você não se conformou com esse mundo, não significa que não seja útil. Você também salvou minha vida hoje, então... Apenas porque você não é como a Riley, não quer dizer que esteja vivendo errado. Quero que saiba disso.

Os grandes olhos de Sally o encaram por um tempo, piscando algumas vezes enquanto tudo o que poderiam escutar era a respiração um do outro. Ela sentiu-se mal por ter agido de tal forma com ele, ainda mais por não poder explicar o porque daquele pequeno ato te-la deixado tão desconfortável.

Sally desviou o olhar, pensativa e ressentida, percebendo que Henry tentará amenizar a situação e que as palavras dele não eram nada mais do que doces e reconfortantes.

── Obrigada. Significa muito ouvir isso de alguém que não seja a minha irmã. ── Ela sorri, fracamente, abaixando as mãos devagar até que fiquem sobre a grade novamente. ── E, sobre aquilo que você disse mais cedo, não acho que o que você fez te faça um vilão, Henry. Eu não te vejo como um.

── Bom, porque você também não é a vilã pra mim, Sally Adams. ── Henry responde, referindo-se ao o que os dois confessaram que fizeram antes.

Era claro que aquilo não mudaria a forma como cada um deles enxergava a si mesmo, mas saber que pelo menos alguém os olhava de maneira diferente, compreendia o que era cometer erros por alguém, arriscar tudo por alguém, já lhes trazia um certo alivio.

Sally não se orgulhava do que fez no passado, mas sabia que faria novamente caso tivesse a chance. Algo que a fez perceber que não era tão diferente de Riley e Joel, afinal. ── Mesmo que o remorso a assombrasse.

── Sabe, até que não vai ser ruim ter você e o Sam conosco. ── Sally decidi mudar de assunto. Henry apoia os cotovelos no parapeito, inclinando-se contra ele. ── Você vai poder finalmente fazer um show de mágica pra mim. ── Ele riu com a fala dela.

── Você vai me cobrar isso, não vai? ── Pergunta Burrell.

── Claro que vou. Você disse que faria pra me ajudar a passar o tempo. ── Ela responde. ── E não vamos sobreviver o restante do caminho só com as piadas sem graça da Ellie.

── Ok, certo. Você ganhou, senhorita. Vou te mostrar meu truque com as cartas. ── Sally sorri, empolgada. Ela bate palmas baixo para não acordar os outros. Henry desvia o olhar sorrindo, encarando o posto de gasolina abandonado a frente. ── Sabe, eu acho que vai ser bom pro Sam ter uma amiga.

── Ele e a Ellie se dão tão bem. É bom ver os dois juntos. ── Sally afirma.

── Eu vou contar pra ele de manhã, já que não tive a chance de dizer antes dois irem dormir. ── Disse Henry, soando esperançoso. ── Dia novo, vida nova.

── Soa bem pra mim. ── Diz Sally, sorrindo suavemente para Henry. As duas mãos apoiadas no chão atrás de si e as pernas esticadas no carpete. ── Vocês merecem isso.

O sorriso genuíno que Burrell lhe dá a deixa feliz. Parece que um peso está fora dos ombros dela desde que eles começaram a conversar. O vento frio daquela noite lhe faz bem e, quando o sono chega, fazendo os dois entrar, Sally está tranquila.

Ao deitar-se e fechar os olhos, parece que o pior já passou, que os monstros estão longe o suficiente para não persegui-la durante o sono. Trás um certo alívio que a envolve durante toda a noite e ela espera que dure até o amanhecer.


AUTHOR'S NOTE. 𓏲࣪ ☄︎˖ ࣪

I. Não sei se perceberam, mas eu decidi trazer uma simples mudança nesse cap. Decidi colocar essas "☆" quando há uma mudança de perspectiva para que vocês não fiquem tão perdidos. No caso desse cap, vocês tiveram o ponto de vista da Riley e da Sally na primeira parte e eu queria que ficasse mais claro pq essa foi a parte mais longa desse capítulo. Me digam se ajudou, se deixou menos confuso e afins.

II. Já adianto a vocês que o cap. 13 sai amanhã e ele está de partir o coração, juro. Antes ele estaria junto desse capítulo, todos os acontecimentos no cap. 12, mas eu decidi dividir e trazer duas atualizações da fic essa semana. Espero que estejam preparados ;)

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