𝟬𝟳 : FOR THOSE WHO STAY
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CAPÍTULO SETE :
PARA AQUELES QUE FICAM.
❝ i found you ❞
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"Eu não sabia que precisava me
preocupar com eles até que
eles fossem embora."
── Fatimah Asghar
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OUTONO⠀─ ⠀SETEMBRO 2013, 11:50
⠀⠀⠀Lincoln, Massachusetts
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ERA PERTO DO MEIO-DIA quando Riley chegou a cidade no interior em que Frank e Bill moravam. O tempo estava ameno, o clima trazia uma vento suave de uma tarde fresca. Outono em Massachusetts sempre trazia um clima agradável e, durante o trajeto, Riley tentou se apegar a esse pensamento ── mesmo que sua irmã estivesse dificultando seu objetivo.
Sally havia reclamado o caminho inteiro sobre como estava cansada e como seus pés doíam pela caminhada intensiva que fizeram. A paciência da mais velha se encontrava perto do limite, fazendo-a se questionar várias vezes se havia sido uma boa ideia levar sua irmã consigo.
A verdade era que Riley não tinha muitas opções, em relação a isso. Agora que estava sozinha no contrabando, trazer Sally para ajuda-la parecia o mais correto a se fazer e até que conseguisse firmar parcerias novamente. Havia passado um bom tempo explicando tudo o que faziam para ela, justamente para prepara-la para o que viria.
Elas haviam deixado a zona de quarentena pela madrugada, em um horário em que as ruas estão totalmente vazias e com poucos guardas da FEDRA de vigia. Durante todo o percurso, Riley a ensinou o que fazer e o que não fazer. Quais caminhos deveria tomar, o cuidado redobrado que deveria ter. Deixou Sally a par de tudo que faziam e o que estava acostumada a fazer com Ben e Margot.
Sua irmã era esperta, aprendia rápido, mas não tinha a disposição que Riley costumava ter. Quando Sally choraminga sobre estar cansada pela décima vez, ela acha que já teve o suficiente de toda aquela reclamação contínua.
── Se você abrir a boca mais uma vez, ── Ela parou abruptamente, virando-se para a irmã mais nova. ── corto sua língua fora.
── Você não seria capaz disso. ── Retruca Sally, cruzando os braços. ── Sou sua irmã, você não tem coragem.
── Não me teste. ── Cerrou os olhos, lançando um olhar duro na direção da irmã. ── Sabe que posso muito bem te deixar pra trás, pra ser comida por uma orda de estaladores.
── Boa tentativa, mas eu sei que não tem orda de estaladores por aqui. ── Diz a garota, confiante. Riley arqueia uma sobrancelha para ela, porém sua expressão não muda. A confiança de Sally se desfaz aos poucos. ── Tem? ── Pergunta, quando a mais velha lhe da as costas e não lhe responde. Ela olha de um lado sou outro, preocupada. ── Riley!
Ao ouvir sua irmã choramingar, a mais velha ri. Sally corre para alcança-la e ficar perto, enquanto elas retomam o passo até a pequena cidade de Lincoln. A garota admira as folhas secas que caem das árvores, o outono sendo sua estação favorita do ano e lhe trazendo a paisagem agridoce de folhas secas alaranjadas.
Elas caminham mais um pouco, até finalmente estarem frente a frente com o portão principal de entrada na cidade. Riley observa, procurando qualquer sinal de Bill e Frank nas redondezas. Ela não sabe a senha do portão, não é de confiança o suficiente para Bill compartilhar isso com ela, então apenas espera por um tempo.
── Tem certeza que eles estão em casa? ── Pergunta Sally, depois de um momento de silêncio. ── Talvez eles tenham saído.
── Eles não saíram. Eu avisei que estava vindo. ── Explica Riley.
── Então o que a gente faz? Fica aqui esperando?
Riley suspira e depois olha para a irmã.
── Eu vou ver se eles estão na horta. ── Ela diz. ── Fica aqui, eu não vou demorar.
── Espera, você vai me deixar aqui sozinha? ── Pergunta, segurando na manga do casaco de Riley, antes que ela saía.
── Eu já disse que não vou demorar, Sally. ── Responde Riley. ── A horta fica do outro lado, seguindo essa cerca. ── Aponta para o lado direito. ── Eu sei onde estão as armadilhas do Bill, então é melhor que eu vá sozinha. Você fica aqui e eu volto assim que falar com os dois.
── Tem armadilhas?
── Por todo o canto. ── Assente Riley. ── Por isso que eu quero que você fique aqui. Vou ter mais cuidado indo sozinha.
Sally não parece convencida, porém deixa Riley ir. Ela sabe que sua irmã mais velha é esperta e confia nela. Se havia alguém capaz de lidar com qualquer problema, seria ela.
Depois que Riley parte, Sally fica parada exatamente aonde foi deixada. Quando passa 5 minutos, ela já está entediada. Tenta se convencer de que não deve estar acontecendo nada demais, sua irmã deve estar apenas procurando por eles e logo retornará.
Ela olha em volta, um pouco impaciente. Seus olhos são atraídos para o campo do seu lado esquerdo e Sally observa um esquilo. Ela sorri, admirando o pequeno animal. Sally não tem o costume de ver animais com frequência, a ZQ sempre acaba afastando eles de alguma forma. Seja os guardas da FEDRA ou os infectados.
Sally leva a mão ao bolso e retira o papel que utilizou para guardar o pedaço de carne seca que começou a comer no caminho. Ela o desdobra e pesca o pedaço que sobrou. O parte em um pedaço menor e começa a caminhar na direção do animal, guardando o que sobrou em seu bolso mais um vez.
Caminhando devagar, ela se aproxima do animal sendo cautelosa para não assusta-lo. Estende a mão e a mantêm firme quando se agacha, sem se mover um músculo para não afasta-lo. O animal fareja ar e da alguns passos. Ele fareja a comida mais uma vez, se aproximando de Sally e se esticando para puxar o pedaço de carne seca e correr para longe com a comida.
Sally ri, achando a cena divertida. Ela se levanta, dá um passo inconsciente para frente e do nada tudo gira. Uma corda se amarra em seu tonozelo e ela grita em surpresa, quando é virada de cabeça para baixo. Está presa na árvore em cima de sua cabeça, sendo segurada por apenas uma perna. Sally se debate, ofegando enquanto tudo ainda gira em seu entorno.
Quando a corda se estabiliza, ela vê que alguém abriu a porta que leva aquela área e está se aproximando. Um alarme também está soando, mas para alguns minutos depois que o homem aperta um aparelho que retirou do bolso.
Ela não consegue analisa-lo bem de cabeça para baixo, mas percebe que ele é branco, tem cabelos longos e barba. Veste uma roupa confortável, do tipo que utiliza para correr, porém carrega um facão e o usa para cortar a corda que a mantêm presa. Assim que ele faz isso, Sally cai com tudo no chão, soltando um gemido dolorido. Bill guarda a lâmina de volta no cinto de utilidades que carrega. Enquanto a garota ofega um pouco, mas se recompõe o mais rápido que pode.
Ficando de pé, bate algumas vezes na própria roupa para tirar um pouco da sujeira. Em seguida, ergue o olhar para o homem que a encara de forma impassível, fazendo com que ela fique sem jeito, ainda sem saber como agir. Sally tenta ser amigável com homem, imaginando que ele deve ser o Bill ── levando em conta a forma como Riley o havia descrito para ela antes.
── Ah... Valeu! ── Sally agradece, um pouco incerta. ── Pelo heroísmo e tal. Eu fiquei um pouco desesperada. ── Bill se aproxima dela e a garota espera que ele vá se apresentar. Ergue a mão na direção dele. ── Meu nome é...
Ela não tem tempo de terminar a frase. Ele segura a mão dela e a prende com uma algema.
── Ei, o que você... ── Começa a dizer, mas é impedida de continuar quando Bill a vira bruscamente e prende uma mão dela contra a outra nas costas. ── Riley!
── Fica de joelhos. ── Ele ordena, enquanto a força a se abaixar. Bill mira a pistola contra a cabeça dela. ── Anda ou eu vou atirar em você!
── Me solta, seu idiota! ── Sally grita. ── Riley!
Ouvindo os chamados da irmã a distância, Riley corre na direção do som. Ela já estava retornando, quando percebeu que nem Bill e nem Frank estavam na horta. Porém começou a ser mais rápida quando percebeu que Sally poderia estar em perigo.
── Sally? ── Quando ela vê o que está acontecendo, seus olhos se arregalam. ── Bill! ── Riley exclama ao se aproximar correndo. ── Bill, que porra você tá fazendo?! Solta a minha irmã!
── Ela pode estar infectada. ── Ele diz, puxando um dos aparelhos de verificação da FEDRA da sua cintura.
── Ela não está infectada, seu puto! ── Riley tenta se aproximar mais, para impedir ele de usar o aparelho e soltar sua irmã, porém Bill aponta a arma para ela, fazendo com que Adams parasse. ── Para com isso, você não precisa fazer isso.
── Sem mais um passo, Adams. ── Ele diz. ── Eu preciso ter certeza.
── Bill! ── Frank exclama. Ele escutou todo o alarde, fazendo com que corresse para entender o que estava acontecendo. ── O que você tá fazendo?
── Fique ai, Frank. Eu estou conferindo pra saber se essa garota não é uma ameaça. ── Diz Bill, mantendo a voz firme.
── Ela não está infectada, ela é minha irmã! ── Exclama Riley. Na sua frente, Bill ainda está com a arma apontada para ela, enquanto usa a outra para levar o aparelho até a nuca de Sally. ── Ela está comigo!
── Bill, não tem necessidade disso. ── Frank diz ao abrir o portão e caminhar até eles.
── Você não tem certeza. Pode haver qualquer espasmo e- ── Antes que ele pudesse continuar, Sally se levantou rapidamente e se lançou para cima dele. ── Ai! ── Bill exclama quando ela o acerta com o ombro e o derruba jogando seu peso em cima dele. Os dois caem no chão em um emaranhado de corpos. A arma e o detector se perdem no meio do caminho.
Riley e Frank se aproximam, tentando afastar um do outro. Sally está se debatendo quando sua irmã a ergue, tentando chutar Bill. Em contrapartida, o próprio ainda está tentando se recompor quando Frank o ajuda.
Aproveitando o momento, a Adams mais velha também pega a pistola que Bill deixou cair no chão e a segura, mantendo ela longe dele.
── Filha da puta! ── Exclama Bill.
── Sally, para com isso! ── Diz Riley, enquanto a arrasta para longe dele. Segura a irmã pelos ombros. ── Já chega!
Sally a escuta e para, ainda ofegante e com os cabelos bagunçados, deixando algumas mexas caírem na frente de seu rosto.
── Não faça algo estúpido, Adams. ── Disse Bill, assim que ficou de pé e viu sua arma na mão de Riley.
── Eu não sou você, Bill. ── Ela guarda a pistola atrás da cintura. ── Só pra garantir que você não aponte essa merda pra gente de novo.
── Falei para você não trazer mais ninguém, Adams. ── Disse Bill, bravo. ── Eu já fui bom o suficiente em aceitar fazer um acordo com você e aqueles dois. Agora está achando que isso aqui é uma festa e pode ficar trazendo toda a sua família pra minha casa?! Na próxima vai trazer todos os seus amigos da zona de quarentena pra comer nossa comida e levar tudo embora?!
── Olhando você, talvez isso te faça bem. Parece que precisa de uma dieta. ── O ofende Sally.
── Escuta aqui, sua merdinha.
── Foda-se, você me algemou! ── Ela retruca, irritada e dando alguns passos a frente. Riley bloqueia seu caminho e a impede de continuar, enquanto Frank contêm Bill.
── Eu preciso que você fique quieta. ── Riley fica de frente para a irmã e a segurando pelos ombros. ── Tá bem? Não está ajudando agindo assim.
── Mas ele-
── Eu sei o que ele fez e não foi nada legal, mas você precisa entender que o Bill é muito imprevisível e desconfia demais das pessoas.
── Esse cara é maluco, Riley!
── Sim, ele é. E a gente lida com isso da forma que dá. ── Ela responde. ── Agora relaxa e me deixa resolver isso, tudo bem?
Sally respirou, frustrada. Ela bufou e desviou o olhar, assentindo. Com a confirmação da irmã, ela se virou para os dois novamente. Frank também estava conversando com Bill, o repreendendo pelo o que havia feito.
── Eu vim trazer a mercadoria. ── Riley diz, assim que eles estão olhando para ela. ── E Sally veio me acompanhar. Ela é minha irmã mais nova e trabalha comigo agora.
── E onde estão o Ben e a Margot? ── Questiona Bill, ríspido. ── Fazemos negócio com eles, não com uma pirralha de 16 anos.
── Eu tenho 20, seu puto! ── Retruca Sally, atrás de Riley. A mais velha repreende com um olhar por cima do ombro.
── Para o seu desapontamento Bill, vai ter que aceitar que a Sally trabalha comigo. ── Responde ela, olhando para ele novamente. ── É só nós duas agora.
── Por que? Você e o Ben não trabalham mais juntos? ── Pergunta Frank, aparentemente apenas preocupado.
Riley engole o seco, antes de continuar. Ela suspira.
── Ele morreu faz duas semanas. ── Adams responde. ── Os dois morreram.
O olhar de Frank muda, as sobrancelhas dele se erguem em surpresa e choque. Até mesmo Bill aparenta estar um pouco abalado, porém disfarça com seu olhar estoico de sempre.
── Eu... Eu sinto muito, Riley. ── Frank diz.
── Tá tudo bem, Frank. ── Ela responde. ── Eu sei que devia ter contado pra vocês, mas... foi uma semana complicada. A zona de quarentena ficou muito movimentada por causa de alguns problemas, também tive mais trabalhos do que o normal.
── Você não precisa se explicar. ── Disse ele, sendo complacente. ── Nós te entendemos. ── Em seguida se vira para o Bill. ── E o Bill pede desculpas pelo o que fez. ── O homem o encara indignado, prestes a reclamar. ── O Bill vai pedir desculpas, certo?
O olhar de Frank é o suficiente para fazer Bill recuar e desistir de reclamar. Ele suspira, frustrado. Depois olha para as irmãs Adams.
── Me desculpem.
── Tudo bem. ── Riley responde.
── Só aceito suas desculpas quando você tirar essas drogas de algemas de mim. ── Exclama Sally, ainda irritada.
── Cadê as chaves, Bill? ── Frank pergunta para o seu parceiro. O homem tateia no bolso em busca da chave das algemas, até finalmente encontrar e a entregar a Frank.
Frank as passa para Riley.
── Obrigada. ── Ela agradece. Sally se vira e a deixa solta o objeto de seus pulsos.
── Pode me devolver minha algema? ── Bill pede, enquanto a mais nova segura o objeto enquanto massageia a área em que foi algemada.
── Claro. ── Disse ela, dando um sorriso ladino. Sally chegou a estender a algema, porém a jogou longe antes que Bill pudesse pega-la.
Irritado, o homem rosnou para ela.
── Acho que precisamos acalmar os ânimos. ── Frank interveio, antes que aquela briga continuasse. ── Que tal vocês duas entrarem? Imagino que devem estar com fome. O almoço ainda deve estar quente. ── Frank apresentou o caminho pelo portão. ── Venham. Me acompanhem.
Os três acompanharam Frank para dentro dos arredores da cidade. Bill ficou para trás apenas por um momento para fechar o portão de arame, deixando as meninas seguirem na frente com seu companheiro e ouvindo eles conversando a distância.
Frank era sempre amigável, tinha o dom de apaziguar qualquer situação desconfortável. Ele as levou até a casa deles, serviu comida para as duas e conversou com elas como se nada tivesse acontecido. Bill não se intrometeu muito na conversa, apenas observando a maior parte do tempo e respondendo uma ou outra pergunta que Frank lhe fazia, ao tentar puxa-lo para a conversa.
Em algum momento após eles começarem a conversar, o assunto partiu para as encomendas que Riley e Sally levaram. A mercadoria que eles tinham eram leves, por isso deixaram tudo dentro das mochilas grandes. Basicamente tinta e dois galões de combustível e receberiam em troca algumas armas e remédios.
Quando Sally percebeu que a tinta era para Frank, os dois entraram em uma conversa emocionante sobre arte, desenhos e pintura. Ele a convidou para conhecer seu estúdio e os dois acabaram deixando Riley e Bill sozinhos na mesa de jantar na sala.
Eles ficam em silêncio por um tempo, desconfortáveis na presença um do outro. Riley estava acostumada a lidar com Bill apenas na presença de Frank, ficar sozinha com ele era uma experiência nova.
── Então, o quão grande a mercadoria teria que ser ── Riley quebrou o silêncio entre eles. ── para vocês me arranjarem um carro em troca?
── O que? ── Bill a questiona, surpreso.
── O que você quer em troca de me arranjar um carro, Bill?
── Porque você quer um carro, Adams? O que vai fazer com isso na zona de quarentena?
── Não vou levar pra ZQ. ── Responde ela, revirando os olhos. ── Preciso de um carro para ir embora de Massachusetts.
── E para onde você iria? Ficou maluca por acaso?
── As coisas não estão fáceis em Boston. ── Ela explica. ── Não posso continuar com a Sally por lá, não depois do que aconteceu com a Margot e o Ben. É questão de tempo até tudo piorar.
── O que aconteceu com os dois?
── Já disse pra você, eles morreram.
── Isso eu sei, Adams. Quero saber como.
── Não quero falar sobre isso. ── Riley desvia o olhar, enquanto mastiga o interior da bochecha. Bill a analisa por um tempo, antes assentir.
── Certo, você quer um carro. ── Ele diz. ── Mas eu não tenho nenhum aqui pra te dar. O único que funciona é o meu, mas eu não to afim de dar ele pra você.
── Você poderia pelo menos fingir ser amigável, Bill. ── Ironiza Riley, fazendo Bill bufar.
── Essa sua ideia é horrível. Não tem lugar no mundo seguro hoje em dia, não tem pra onde fugir. ── Disse ele. ── E nem pense que eu vou te chamar pra morar aqui com a gente.
── Eu nunca nem sonharia com uma coisa dessas. Trabalhar com você já é um inferno, imagina morar no mesmo lugar. ── Responde. ── Meu único objetivo é procurar um lugar melhor pra viver. Nem que seja em outro país.
── Isso não existe, porra.
── Talvez. ── Ela dá de ombros. ── Mas eu preciso pelo menos ter uma alternativa. Pelo menos tentar. Eu espero o tempo que for por isso.
Bill ri, fracamente. Uma risada ácida, que mais se parece com uma tosse.
── Você vai acabar se matando.
── Que seja. ── Ela fala em desdém, despreocupada. ── Não estou fazendo isso só por mim. Nunca é apenas por mim.
── E a sua irmã sabe dessa sua ideia estúpida?
── Nós já conversamos sobre isso algumas vezes antes. ── Adams responde a ele. ── Mas ainda não temos uma alternativa viável. Conseguir um carro pode ser um bom primeiro passo, mas ainda vou precisar pensar em um lugar pra ir. E isso pode levar tempo, mas conseguir o carro também vai então ── Dá de ombros. ── estou correndo atrás dos dois ao mesmo tempo.
Riley observa os raios de sol que entram pela janela, a iluminação suave daquela tarde. Bill a encara por um momento, parece pensativo, porém seu olhar parece impassível. Riley ainda não o conhece bem o suficiente para imaginar o que deve estar se passando pela mente dele.
── Essa é a maior loucura que eu já te ouvi dizer. ── Comenta ele, se ajeitando na cadeira em que está sentado. Seus cotovelos estão apoiados nos braços de madeira do objeto. ── E olha que eu já te ouvi falando muita merda.
Riley ri, fracamente.
── Se a sua preocupação é com os infectados, pode ter certeza que eu sei lidar com eles. ── Diz a Adams. ── Não são mais um problema pra mim. Posso proteger nós duas depois que deixarmos a ZQ de vez.
── Sinceramente, eu não preocupo com o faz ou deixa de fazer. ── Bill responde, encarando-a. ── Mas você sabe que, nesse mundo, nossos maiores inimigos nunca foram os infectados.
E Riley sabe que ele não está errado sobre isso.
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⠀⠀⠀⠀DIAS ATUAIS:
VERÃO⠀─ ⠀AGOSTO 31, 12:25
⠀⠀Lincoln, Massachusetts
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Nada havia mudado.
Desde a última vez em que estivera em frente aqueles portões, tudo parecia exatamente como Riley se lembrava. Poucas lojas foram reformadas pelos dois nos últimos anos. Levando em conta que Frank estava doente e os dois haviam envelhecido bastante, já não tinham a mesma disposição de antes e faziam apenas o que estava em seu alcance para manter o lugar em que moravam seguro.
Mesmo assim, tudo parecia bem. Como Sally gostava de dizer que a cidade de Lincoln era uma como cidade fantasma, assombrado por um único casal. E, de certa perspectiva, era assim que funcionava. Por isso, Riley sempre estranhava quando Bill e Frank não apareciam logo quando alguém chegava perto dos portões.
As câmeras de segurança sempre alertaram Bill que, mesmo depois de todo esse tempo, nunca deixou de ser rigoroso com a segurança da cidade. Algumas vezes, no máximo o que acontecia, era um atraso de alguns minutos ── como ocorreu quando Sally a acompanhou pela primeira em sua viagem de levar as mercadorias até eles.
Porém agora, quando eles esperavam por um tempo, e nenhum dos dois surge, Riley sente que algo está errado. A cidade não mudou, porém parece descuidada. Agora mesmo está mais idêntica a uma cidade fantasma, quase mórbida, e isso a preocupa. Ela troca olhares com Joel, pensativa. Ele também aparenta certa preocupação e é isso que o motiva a fazer algo.
Joel coloca a senha no portão e o abre, deixando que Riley e Ellie entrem primeiro. Os três seguem pela rua vazia, olhando em volta pela cidade abandonada. Os olhos da Adams procuram por qualquer sinal dos dois únicos moradores da cidade, pensando na possibilidade deles estarem em algum lugar que não fosse a residência o qual moravam.
Quando estão finalmente em frente a enorme casa branca, que fica no meio da cidade, os olhos de Riley caem para o vaso de flores na entrada do quintal. Perto da cerca branca, aquele arranjo está murcho pelo longo tempo em que ficará sem água. Algo que apenas serviu para deixa-la mais pensativa e preocupada em relação a Bill e Frank.
── Vamos entrar? ── Pergunta a Joel, que assente com a cabeça em seguida. Ela percebe como o olhar estoico dele carrega apreensão.
Eles chegam até a porta da frente e Joel a abre. Ele entra primeiro desta vez, com as madeiras rangendo a cada passo dado.
── Que bizarro! ── Ellie exclama, em um tom de voz baixo. Seu olhar está deslumbrado com a casa e com a decoração. Para Riley, aquilo não é muito diferente do que eles conheciam antes mas, para uma garota que nasceu no meio de uma pandemia, uma casa típica é algo novo.
── Bill? ── Joel chama. ── Frank?
Não há resposta. A testa da Adams franze para os pratos sobre a mesa, largados com resto do jantar que aparenta estar estragado a mais de um dia, e o silêncio que se segue sendo totalmente incomum e inesperado.
── Fica aqui, nós vamos procurar por eles. ── Ele se vira para Ellie. ── Se ouvir ou ver alguma coisa... grite.
── E se eles tiverem ido embora? ── Ela questiona.
── Eles não foram. ── Riley responde, passando por ela para chegar até Joel na sala.
── Mas e se-
── Eles não foram. ── Ríspida, ela fala para Ellie frisando cada palavra enquanto a encara por cima do ombro. Quando Riley desvia o olhar, retoma o passo e passa por Joel abrindo a porta de madeira e entrando na cozinha.
Joel parece sem jeito em responder qualquer coisa, intercalando o olhar entre a garota e a porta, parecendo um tanto pensativo. A arma em sua mão balança algumas vezes, antes que ele finalmente decida prosseguir.
Ellie fica para trás quando eles saem, soltando um suspiro que ela nem havia percebido que estava segurando. A reação de Riley havia pegado a garota desprevenida. Não deixou transparecer, porém ficou nervosa quando Adams lançou um olhar duro na direção dela. A forma como ela falará também carregou peso. Parecia que trazer a possibilidade de Bill e Frank terem abandonado a cidade era algo impensável.
Porém Ellie também se questionava sobre algo pior ter acontecido com eles e pensava que Joel também cogitava a possibilidade.
Assim que entrou na cozinha e a encontrou vazia, Riley saiu pela outra porta que levava ao corredor. Nas últimas vezes que havia conversado com eles pelo rádio, Bill havia atendido e contado que Frank agora utilizava uma cadeira de rodas. Eles tiveram que começar a dormir no quarto abaixo das escadas por conta do fácil acesso.
Riley primeiro bate na madeira, tentando se comunicar com alguém que esteja dentro do quarto. Quando não obtém resposta, tenta abri-la, porém a porta está trancada por dentro. Suas mãos tentam forçar a maçaneta e empurrar a porta com força, porém ela nem ao menos se move.
── Joel! ── Ela o chama, repetindo o processo de tentar forçar a maçaneta. ── Preciso de ajuda aqui.
O homem aparece em questão de segundos, fazendo o mesmo caminho que Riley.
── O que foi? ── Pergunta ele, a encarando com a testa franzida.
── Esse é o quarto deles. ── Inclina a cabeça na direção da porta. ── Mas não consigo abrir.
Joel assente, compreendendo onde Riley quer chegar. Ele se junta a ela na frente da porta quando Adams dá espaço para que ele se aproxime. Joel tenta primeiro a maçaneta, girando a mesma de um lado ao outro para conseguir abrir a porta, porém não consegue.
Ele tenta mais uma vez e em seguida empurra a porta, mas nem mesmo sua força é o suficiente para arrombar a passagem. Ele se afasta e encara a madeira, a pintura branca que se mantém intacta. Riley se pergunta se ele vai tentar arrombar com um chute ou se os dois tentaram juntos, porém a porta da frente bate, chamando a atenção dos dois.
── Ellie? ── Em voz alta, Joel a chama.
Sem uma resposta da garota, eles voltam até a sala para encontrá-la sentada em uma das cadeiras da mesa de jantar, lendo uma carta. Ellie abaixa o papel quando os vê.
── É do Bill. ── Informa ela. ── Ele deixou duas cartas pra vocês. ── Quando Joel guarda sua arma, Ellie pega o envelope que abriu e lê o que está escrito no papel. ── "Para alguém, mas provavelmente as duas únicas pessoas loucas o suficiente para andarem por ai no fim do mundo."
Riley engole o seco e desvia o olhar para o chão, suas mãos abrem e fecham algumas vezes, antes dela respirar fundo e balançar a cabeça. Uma tentativa de clarear a mente.
── Achei que eu me encaixava nesse "alguém". ── Comenta ela, deixando o envelope aberto em cima da mesa novamente. ── Estava com isso. ── Desliza a chave de um carro sobre a mesa.
Joel retira a mochila e a deixa no chão, enquanto vai até a mesa e pega a chave. Ele encara o objeto em sua mão por um tempo, antes de finalmente dizer algo.
── Eles morreram? ── Vem a pergunta de Joel, aquela que Riley se recusava a fazer pois já sabia a resposta. Ellie assente, fazendo um som confirmatório.
── Vocês querem... que eu leia? ── Ela questiona, observando a Adams que está agora encarando a janela e depois Joel, que está mais próximo dela.
── Pode ler. ── Responde o Miller.
── "Dia 29 de agosto de 2023. Se achar isso, por favor não entre no quarto. Deixamos a janela aberta para a casa não feder, mas não deve ser bonito de ver. " ── Ela profere, começando a ler a carta. ── "Você deve ter achado isso, Joel. Ou a Riley. Qualquer outro teria sido eletrocutado ou explodido por uma armadilha."
Ellie reproduz as risadas que ele deixou escritas. Riley imaginava que ele havia se divertido escrevendo essa parte e não consegue evitar dar um sorriso mínimo com o pensamento.
── " Mas se possível, recomendo que a Adams leia a outra carta, porque essa sim é pra ela. Levem o que precisarem. A senha do abrigo é a mesma do portão, só que ao contrário. Enfim, eu nunca gostei de você, mesmo assim, é como se fôssemos amigos. Quase. E eu respeito você. ── A garota continua. ── Então eu vou lhe contar uma coisa, pois você deve ser uma das únicas pessoas que vão entender. Eu odiava o mundo e adorei quando todos morreram. Mas me enganei. Tinha uma pessoa que valia a pena ser salva. Foi o que eu fiz. Eu salvei ele. Depois protegi ele. É para isso que homens como eu e você existimos. Nós temos o nosso propósito. E Deus que ajude qualquer filho da puta que se meter no nosso caminho. Pode ficar com todas as armas e equipamentos. Usa para proteger a..."
Quando Ellie para, Riley a encara. A garota observa a carta por um tempo, sem dizer nada, porém Adams já imagina o nome que tem ali. Joel vai até ela e pega a carta, lendo o que está escrito onde Ellie parou.
"Para proteger a Tess", Riley pensa.
── Fiquem aqui. ── Joel diz. Ele sai da casa sem dar a qualquer uma das duas a chance de dizer qualquer coisa.
Quando a porta bate, o olhar de Riley se volta para Ellie e as duas se encaram. Nenhuma das duas aparenta saber como agir a seguir, então o silêncio persiste até que a garota pegue o segundo papel.
── Você quer que eu leia? ── Ela pergunta, balançando a carta.
── Não. ── Riley responde. Caminha até ela e pega o papel. ── Eu sei ler, não sou analfabeta. Obrigada. ── Ela encarou a folha que segurava com as duas mãos, enquanto Ellie revirava os olhos.
Riley respira fundo antes de ler. Caminha autoconsciente até a janela, onde vê Joel passando por ela e indo até a garagem. Seu olhar se abaixa para a folha novamente, quando seus olhos começam a ler as primeiras palavras.
"Adams, eu imagino que, enxerida da forma que você é, já deve ter lido aquela carta que deixei pro Joel e já deve saber o que aconteceu. Você também pode pegar o que precisar, armas, suprimentos, o que for. Se quiser ficar na cidade também, isso não vai ser um problema.
Mas eu imagino que você não queira ficar nesse por aqui. Deve existir lugares melhores no mundo pra você e pra garota. Em alguns anos talvez, esse lugar não seja o suficiente para mante-las em segurança.
Só achei necessário escrever essa carta porque, por mais que eu odeie admitir, você e a Sally fizeram parte da nossa vida. Principalmente da vida do Frank.
Frank me pediu para dizer para a Sally que, infelizmente, eles não vão poder terminar a pintura que começaram juntos. Também sente muito por não poder se despedir de vocês, do Joel e da Tess. Mas que acha que assim é melhor.
Não quer que a última lembrança que vocês tenham dele seja triste. E eu também não quero.
De qualquer forma, Adams. Eu confesso que te julgava no inicio. Te achava a pessoa mais inconsequente que já conheci. Como alguém pode se arriscar tanto e se colocar tanto em perigo o tempo todo? Sinceramente, eu não te entendia.
Até que eu entendi. Nada do que você fez foi por você. Eu entendi que você não se colocava em perigo porque queria. Era porque você precisava.
Seja lá o que você decidir fazer daqui pra frente, sei que vai ser algo absurdo e totalmente arriscado e inconsequente. Apenas espero que você sabia o que está fazendo e que consiga encontrar um lugar melhor para viver com a sua irmã.
Talvez, em algum lugar desse mundo fodido, exista um lugar que mereça vocês duas."
Riley suspira, piscando os olhos algumas vezes. Ela mão derrama nenhuma lágrima, mas sente a forma como a umidade enche sua visão. Não transborda, apenas deixa sua vista turva por um momento.
Se recompõe assim que escuta passos. Olha por cima do ombro e vê Joel entrando no cômodo. Ele olha para ela brevemente, mas seu foco caí sobre Ellie.
── Mostra o braço. ── Ordena Joel. Ellie se levanta e ergue a manga do casaco para que ele possa ver as duas marcas, tanto aquela que já se tornou uma cicatriz, quanto aquela que recebeu recentemente do estalador. ── Estou preparando a bateria do carro. Deixei carregando.
── Tá bom.
── Meu irmão está no Wyoming. Pelo visto está em perigo, eu vou lá atrás dele. ── Explica Joel. ── Ele já foi vaga-lume. Ele pode saber onde eles estão, talvez consiga te levar para esse tal laboratório.
── Tá bom. ── Ellie repete, assentindo. ── Quanto a Tess...
── Se eu for te levar, precisa seguir certas regras. ── Diz ele, depois de um curto período de silêncio entre os dois, onde Ellie não encontra as palavras certas para continuar. ── Primeira: nunca fale da Tess. Nunca. Aliás, não vamos falar da nossa vida pessoal. Segunda regra: não conta pra ninguém a sua... condição. Se virem essa mordida, vão atirar sem hesitar. Terceira regra: vai fazer o que eu mandar. Entendeu?
── Sim. ── Confirma Ellie.
── Repete.
── Você que manda. ── Ela responde devagar, deixando as palavras claras para Joel. Ele suspira, pensativo. ── Mas... e ela? ── Pergunta, se referindo a Riley. ── Vai continuar com a gente?
── Eu não sei. ── Responde Miller, observando Riley de costas para eles. ── Adams? O que vai fazer agora?
── Não vou sair daqui sem a Sally. ── Disse ela, dobrando a carta. ── Se ela não aparecer até a bateria carregar, eu vou voltar.
── Você tá maluca? ── Ellie pergunta, exclamando em voz alta. ── É loucura voltar, você mesma disse isso várias vezes.
── É. mas não tenho motivos para seguir com vocês se a minha irmã não aparecer. ── Riley os encara. ── Sally é o motivo pelo qual eu fiz isso tudo e eu tenho certeza que ela não está no Wyoming. ── Ela lança um olhar irônico para Joel. ── Eu nem sei se ela ouviu o chamado no rádio ou onde ela está agora ou se está bem. Não posso deixar Massachusetts até encontra-la.
Joel e Ellie se encaram por um momento, a garota parece o questionar do porque ele não está tentando convence-la a não fazer isso, porém o homem parece decidido a não tentar. Ellie está frustrada quando se vira para Riley novamente, prestes a reclamar quando algo acontece.
Um alarme começa a soar, um sinal de que alguém caiu nas armadilhas. Os olhos de Riley se arregalam quando ela encara Joel, que espelha as mesmas reações que as dela.
── O que é isso? ── Ellie questiona, alarmada.
Riley não responde, pois está mais preocupada em saber o que ousou chegar tão perto. Não imagina que seja Sally pois ela conhece o lugar melhor do que ninguém, já havia a ensinado aonde ficava as armadilhas e a sempre seguir pela estrada para chegar até o portão.
A mente da Adams a recordou dos saqueadores que estavam por perto, se perguntando se pelo menos um deles conseguiu chegar até Lincoln. Isso poderia ser um grande problema para eles.
Riley sai da casa primeiro. Joel a segue depois, antes dizendo para que Ellie não deixe a residência até que eles voltem. Os dois sacam suas armas e correm até onde o alarme está tocando, sinalizando a armadilha que havia sido acionada.
── Saqueador? ── Joel questiona, enquanto os dois correm. Tendo tido o mesmo pensamento que ela.
── Talvez. É uma possibilidade. ── Responde Riley.
Eles chegam até o portão daquela área e Joel coloca a senha para que abra, deixando Riley passar primeiro, enquanto a cobre. Ele olha para os dois lados, segurando sua arma com as duas mãos e sendo cuidadoso o suficiente para estar pronto para atirar em qualquer alvo, caso mais pessoas apareçam.
Riley desacelera seus passos quando está mais próxima do buraco no chão. Uma das armadilhas que Bill fez e cobriu com um solo falso, apenas para enganar qualquer um que ousasse se aproximar demais.
Ela está confiante de que, a pessoa que está ali, só pode ser um infectado ou um saqueador. Não haveria mais ninguém em quilômetros além desses possíveis invasores.
Seu olhar trava com seu alvo assim que pode finalmente vê-lo, porém nada a prepara para o que encontra e seus movimentos para abruptamente. Seu olhos se arregalam, Riley da um passo surpreso para trás, abaixando a mira da pistola.
── Ei, mana. ── Diz Sally de dentro da armadilha, dando um sorriso amarelado para sua irmã mais velha. Coçando a nuca, ela pergunta: ── Sentiu saudades?
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