𝟬𝟲 : PATHS WE TRAVEL

PRELÚDIO : DIÁRIO #2

Tess se foi.

Já faz horas que nos afastamos de Boston, horas que deixamos o Congresso para trás e eu ainda não consigo digerir essa informação.

Não parece real pra mim.

Joel não falou comigo desde que partimos. Ele está frio e distante, o que não é muito diferente do seu normal, mas agora parece pior.

Ellie também não falou muito, se limitou a poucas perguntas e comentários durante o percurso. Percebi que ela estava um pouco abalada também, então tentei ser gentil.

No fim, acabamos decidindo passar a noite na mata. Estávamos distante o suficiente de Boston e pareceu certo descansar um pouco.

Não acendemos fogueira, nem nada do tipo. Tentamos chamar o mínimo de atenção possível. Acho que deu certo, já que não fomos atacados durante a noite.

Dormir sempre foi um desafio antes, mas agora parece que estou enlouquecendo toda vez que fecho os olhos.

Não consigo descansar, não consigo me desfazer daquilo que me consome. E, pela primeira vez em muito tempo, acho que não sei mais o que fazer.

Também me preocupo com Sally e me pergunto constantemente se fiz a escolha errada. Confiar em Marlene e nos Vaga-lumes, seguir com esse trabalho, acreditar que seríamos capazes de durar até o fim.

Sei que não vale a pena remoer o passado, mas... Meu orgulho me impede de fugir da culpa.

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☆ ☆ ☆

CAPÍTULO SEIS :
CAMINHOS QUE PERCORREMOS
you're growing tired of me



"O orgulho é uma falha muito
comum, acredito. "
── Jane Austen





VERÃO⠀─ ⠀AGOSTO 30, 18:30
⠀⠀⠀Boston, Massachusetts

SALLY SONHA COM SUA CASA. Não aquela em Boston, mas sim sua antiga casa em New Haven. Aquela em que cresceu. Sonha com sua mãe a chamando para almoçar depois de uma manhã brincando no quintal. Coberta de sujeira da cabeça aos pés, as unhas cheias de terra por apenas ficar remexendo no solo onde procurava por insetos e vermes. Sua irmã assiste de longe com nojo, mas agora está a puxando pelo braço para dentro de casa para que elas possam entrar.

A mais nova a segue, pés descalços pisando no chão de madeira. O almoço está na mesa ── seus pratos favoritos espalhados pela mesa, tudo que gostava de comer feito exatamente no mesmo dia pela sua mãe. Um copo vazio que deve ser preenchido com suco. Seu estômago uiva. Sally olha para cima para pedir outra coisa à sua mãe, porém um cheiro peculiar começa da deixa-la tonta.

Bem diante de seus olhos, um Laurie sorridente se derrete em algo cinza. Vermes sangram nos cantos dos olhos e pelos seus lábios. As íris ficam brancas, olhando para a menina com uma fome ainda mais forte que a sua. Em seguida, ela está em chamas.

── Mãe? ── Os olhos dela estão arregalados, surpresa inunda suas feições. ── Mamãe?

Do outro lado da mesa, sua irmã também se derrete e o mesmo se repete com ela. Seu corpo está mutilado a ponto de cair no chão da cozinha, ardendo em chamas e Sally pode sentir o cheiro de queimado empregnado no ambiente.

Sally acorda no momento em que as mãos decompostas de sua mãe agarram seus ombros e a boca dela encontra a curva do seu pescoço.

Seus olhos se abrem para encontrar o cheiro de queimado e o calor das chamas que estão próximas. Ela ofega por ar, mas acaba tossindo quando respira aquela fumaça.

A casa em New Haven se desfez e ela se encontra no banco do passageiro de um caminhão da FEDRA tombado. Sally se arrasta pelo vídeo quebrado, saindo de dentro do veículo em chamas para poder encarar o lado de fora. A luz do sol fere sua visão e ela precisa fechar os olhos por um momento, até conseguir se acostumar.

Enxuga os olhos e caminha precariamente, procurando entender o que aconteceu. Vê, além do caminhão, o prédio do Congresso em chamas, manchado pelas cinzas e as brasas do fogo, fazendo com que sua memória retornasse ao o que aconteceu minutos atrás.

Eles estavam se aproximando do prédio, quando perceberam o fogo. Em seguida os Corredores apareceram. Paul tentou contorna-los, tentou fugir deles, mas não conseguiu. A estrada íngreme apenas proporcionou uma queda mais rápida, e os infectados ajudaram a tombar o pequeno caminhão que logo começou a pegar fogo quando a gasolina explode o motor.

A cabeça de Sally bate contra a janela por conta do impacto e tudo se torna um borrão. Imagina que o fogo manteve os infectados longe, por isso não chegou a ser atacada enquanto estava apagada.

Julian e Bessie estão em algum lugar ── imagina ela ──, mas não consegue encontra-los. O corpo de Paul ── o motorista ── está caído do lado de fora e Sally pode escutar um ruído vindo dele.

Quando se aproxima do corpo do homem, percebe que ele está morto. Seus olhos estão fechados, há sangue na lateral da cabeça e mais ainda em áreas aleatórias de seu corpo. Sally se agacha e pega o rádio preso na cintura de Paul, vendo que os ruídos vem dele. Suas mãos trêmulas seguram o aparelho e ela aumenta o volume, tentando escutar melhor.

Os ruídos estão entre cortados porque a antena quebrou com o impacto. Tenta escutar, mas as frases não estão claras.

── Se alguém.... Estiver... Escuta... ── Diz a voz feminina do outro lado na linha. ── Não... Congresso... Infectados estão... Não é seguro... Sally... Vá... Bill e Frank...

Bill e Frank.

Sally ofegou, quando compreendeu as partes entrecortadas e tentou sofregamente ajeitar a antena, apenas para se frustrar quando não obteve êxito e bater no aparelho com a mão para faze-lo funcionar corretamente. No final, houve apenas estática.

Ela está tonta, cansada e sua testa está sangrando, mas desta vez, o pesadelo chega quando está acordada, mais uma vez na forma de um cheiro podre e gemidos sibilados que fazem Sally perceber algo e arregalar os olhos: ela não está sozinha.


VERÃO⠀─ ⠀AGOSTO 31, 5:25
16 quilômetros a oeste de Boston

Eles estiveram caminhando por horas.

Joel as fez andar sem parar, sempre estando vários passos a frente e em silêncio total, as respondendo apenas com alguns murmuros quando perguntavam alguma coisa ou as deixando sem resposta. Esse era o sinal de que ele não estava disposto a conversar e Riley respeitou isso mas, quando seus pés começaram a doer demais, sabia que estava na hora de fazê-lo parar.

Eles descansaram perto das 1 da manhã, ao lado de rio. Os dois adultos revisaram para a vigia noturna, porém nenhum dos dois dormiu tanto quanto Ellie. Riley havia passado a maior parte do tempo em que caminharam para longe do Congresso, tentando entrar em contato com algum Vaga-lume ou Sally. Porém não obteve êxito em nenhum dos dois.

Sabia que sua mensagem havia chegado a algum canal, mas não conseguiu ouvir uma resposta. Ela estava frustrada e preocupada, pensando na possibilidade de voltar para Boston e procurar por Sally sozinha. O problema era que a) ela não tinha coragem o suficiente para voltar b) tinha medo de descobrir que sua irmã estava morta.

A noite foi barulhenta em sua cabeça, onde seus pensamentos não lhe deram descanso. Estava se sentindo culpada, principalmente pelo o que aconteceu com Tess.

O ar estava com uma brisa leve pela aquela manhã. Tempo claro e uma temperatura confortável. Após fechar seu diário e guardar o casaco que utilizou para deitar durante a noite, Riley deixou Ellie encostada perto de uma árvore para descer até o rio, onde Joel estava. Ela se aproximou dele com cautela, porém deixando seus passos altos o suficiente para que o homem soubesse que estava se aproximando.

No rio, Joel descansava sua mão machucada sobre algumas pedras, deixando a água gelada ajudar com um pouco do inchaço e com a dor. Adams se agachou ao lado dele e encheu seu cantil com água.

── Já bebeu todo o álcool que tinha ai. ── Para a surpresa dela, ele foi o primeiro a quebrar o silêncio entre eles. Mantendo seu foco no que fazia, Joel não direcionou seu olhar para ela, porém Riley o fez. O observou por um momento, antes de se direcionar para água novamente.

── Não é nessa garrafa que fica a bebida, velho. ── Adams o respondeu, perto de levar o cantil aos lábios para beber. ── Fica na outra garrafa que é térmica e conserva melhor. Você deveria começar a investir em mais garrafas assim também.

Joel zombou, sem saber se ela estava falando sério ou dizendo aquilo só para irrita-lo. Uma lufada de ar dançou ao redor deles e Riley suspirou, aproveitando o vento fresco, enquanto enchia o cantil mais uma vez e depois o fechava.

Ela o observou pelo canto dos olhos, vendo como ele colocava algumas pedras que encontrou no rio uma sobre a outra. Sabia que aquilo era como fazer um pequeno memorial a Tess.

── Sabe Joel, sobre o que aconteceu ontem-

── Eu não quero falar sobre isso. ── Ele a interrompeu.

── Eu sei que você não quer, mas precisa ao menos me ouvir. ── Disse Riley, apontando para si mesma. Quando os dois se encararam e ela percebeu o quão irritado ele já parecia estar, Adams suspirou. ── Sinto muito, de verdade. Sei o quanto você e a Tess eram próximos e eu não consigo evitar me sentir culpada pelo o que aconteceu.

Joel assentiu e olhou para longe. Em sua mão havia uma pedra e ele a girou algumas vezes, umedecendo os lábios enquanto pensava.

── É, verdade. ── Respondeu, assentindo com a cabeça. ── Talvez se não tivesse insistido tanto nessa merda de trabalho e me escutado, as coisas seriam diferente.

Ele ficou de pé, colocando a última pedra sobre o pequeno monte que havia criado e deu as costas para Riley, deixando-a atordoada para trás. Ao processar as palavras de Joel, a mulher ficou de pé e encarou as costas largas do homem, enquanto ele se afastava.

── Espera ai. ── Deu alguns passos para fora da margem do rio. ── Então é isso que você tem a dizer pra mim? Vai jogar toda a culpa nas minhas costas e seguir como se nada tivesse acontecido?

── Esperava o que? Que eu te consolasse? ── Joel parou e a encarou. ── Pois saiba que isso não vai acontecer.

── Sabe que não é isso que eu quero dizer. ── Ela retrucou.

── Então o que é? Você mesma disse que se sentia culpada. ── Joel retorquiu. ── Queria que eu te ajudasse a se sentir melhor? Que passasse a mão na sua cabeça e dissesse que está tudo bem, quando não está?

── Não, não era isso que eu queria. Eu já sei que eu errei, que agi sem pensar. Mas você não deveria agir como se não tivesse algo a ganhar com isso tudo. ── Ela o respondeu. ── Por acaso se esqueceu da bateria? Você também entrou nessa por algo, Joel. Não foi só eu.

── É, mas eu queria voltar. Disse pra vocês duas que era uma péssima ideia, mas você insistiu. ── Retrucou ele. ── E olha onde estamos agora ── Joel abriu os braços, dando ênfase, e depois os abaixou. ── A vida da Tess e da sua irmã estão nas suas mãos agora, Adams.

── Não fala como se a Sally... ── Riley apontou para ele, enquanto falava. Ela engoliu o seco antes de continuar, fechou os olhos e e respirou fundo para se acalmar. ── Eu não te obriguei a vir comigo, disse que levava a garota sozinha se fosse preciso. Você veio porque quis.

── Eu vim pela, Tess. ── Ele exclamou. ── Porque era o que ela queria. Antes eu tivesse deixado você se virar sozinha.

── Então faz isso, vá embora! Não estou te pedindo pra continuar comigo, sei que você já não suporta mais a minha cara. ── Adams o encarou.

Joel umedece os lábios e olha para o lado, em silêncio. Ele está irritado, tenso. Riley percebe que está atingindo um nervo ao jogar a verdade nele, mas também não suporta se manter calada.

── Você é um babaca, Joel. ── Ela diz, quebrando o silêncio entre eles. ── Não é capaz de lidar com a própria culpa, por isso prefere apontar os erros dos outros. Acha que isso vai mudar alguma coisa, mas não vai. E eu sei que você preferia que fosse a Tess aqui e não eu. Eu também preferia. ── As mãos dela tremeram levemente, Riley desviou o olhar por um momento. ── Mas, infelizmente, sou o que você tem agora. Eu e a pirralha imune. Então se recomponha, cowboy. Porque essa "merda de trabalho" ainda não acabou e se quiser continuar nela, vai ter que lidar com isso.

Riley passou por Joel pisando duro e com as mãos fechadas em punho. Ela não sabia o que esperava ao conversar com ele, mas definitivamente não era que a conversa terminasse daquela forma.

Bem no fundo, abaixo de todo o orgulho ferido, Riley sabia que ele só estava irritado e precisava descontar em alguém. Não havia como saber que o Museu estaria tão cheio de Estaladores, muito menos que o Congresso havia sido invadido pelos infectados. Ninguém era capaz de prever o que estava por vir.

Mas lidar com tudo era bem mais difícil. Adams pensava no quanto foi imprudente e precipitada ao aceitar aquele trabalho por conta de uma proposta que pensava ser irrecusável. As vezes ela se culpava por não ter insistido pra ficar e encontrar Sally, se culpava por não ter ouvido Joel antes e se culpava, principalmente, por não ter sido ela lá atrás.

Pensava que era injusto com Joel, ela estar viva e Tess não.

Isso doeu mais que tudo.

Ellie fitou Riley enquanto a mulher passava perto dela para chegar até suas próprias coisas. A garota havia escutado boa parte da discussão, levando em conta que as vozes dos dois aumentaram quando estavam irritados. Sentada contra o tronco de uma árvore, com as pernas perto do peito e o casaco de Joel servindo de cobertor, Ellie se manteve onde estava e se contentou em apenas observar Riley arrumar sua mochila.

Brava, Adams guardava seu casaco e a muda de roupa que usou como travesseiro de volta em sua mochila. Enquanto fazia isso, escutou os passos de Joel se aproximando, mas não ergueu o olhar para ele que foi para o lado oposto onde estava sua própria mochila.

── Quer sua jaqueta de volta? ── Ellie perguntou ao Miller, tentando desfazer o clima estranho que estava no ar. Joel havia acabado de começar a vasculhar sua mochila em busca da carne seca que sobrará, ele continuou o que fazia e ignorou a pergunta da menina.

O silêncio continuou entre eles, com Ellie apenas revirando os olhos para a forma como os dois estavam agindo. Joel parou e pensou um pouco, enquanto mastigava o alimento que havia consigo. Fechou o papel sobre o que restou e jogou o resto para a garota comer.

Ela aceitou de bom grado e comeu em silêncio.

── Nunca estive em uma floresta antes. ── Ellie comentou. ── Tem mais inseto do que eu pensava. ── Suspirando pelo tratamento silencioso que recebeu, ela se sentia frustrada. ── Eu estive pensando-

── Não precisa me consolar. ── Ele a interrompeu, jogando a mochila sobre as costas, assim como Riley.

── Eu não ia te consolar. ── Retrucou Ellie. ── Eu só ia falar que estava pensando no que aconteceu. Ninguém obrigou vocês a me levarem, ── O olhar dela recaiu sobre a Adams, que a encarava enquanto arrumava a alça de sua mochila. Em seguida retornou para Joel. ── ninguém te obrigou a seguir com esse plano. Vocês precisavam da bateria e ela de encontrar a irmã, por isso fizeram uma escolha. Então não me culpa por uma coisa que não é minha culpa.

Eles se encararam até Joel assentir brevemente para ela. Foi rápido e quase imperceptível.

── É, acho que hoje não é o seu dia de sorte, cowboy. ── Riley resmungou, dando as costas para ele e caminhando para poder retornar até a trilha.

Ellie se levantou, devolvendo o casaco a Joel e os dois seguiram Riley, caminhando devagar até a estrada. Ela se mantendo vários passos a frente deles.

── Falta muito? ── Ellie perguntou.

── Cinco horas andando. ── A respondeu o Miller.

── A gente aguenta. ── Disse ela, dando um manejo de cabeça.

A jornada continua de maneira monótona. Riley sempre fica alguns passos a frente dos dois, buscando ignorar Joel pelo restante do percurso. O caminho até Bill e Frank sempre se mostrou limpo, por mais que eles sempre estivessem prontos para lidar com qualquer possível invasor.

Costuma ser a área mais limpa, onde não a tanta civilização e locais para a infecção se propagar. A maior parte é mata, campos grandes e extensos, árvores e mais árvores. Riley percebe algumas mudanças, mas são poucas. Ter passado quase 2 anos sem sair da zona de quarentena trás aquela sensação de algumas coisas estão diferentes.

── Vocês já passaram muito por aqui? ── Ellie os questiona, em um ponto onde já andaram por 2 horas e eles mantiveram suas bocas fechadas por tempo o suficiente. ── Não tem infectados?

── Geralmente não. ── Joel responde. Não passa despercebido por ela a forma como ele olha para todos os lados.

── Tá procurando o quê então?

── Pessoas.

── Ah. ── Diz Ellie, pensando ter compreendido onde ele quer chegar. ── O Bill e o Frank são legais?

── O Frank é.

── E qual de vocês dois conheceu eles primeiro? ── Questiona a garota, olhando de um para outro.

── Ela. ── Joel responde, depois que percebe que Riley não parece estar dando atenção para a conversa deles. ── Foi a Riley que falou com eles primeiro.

── Não foi eu, exatamente. ── Disse a Adams, após um suspiro frustrado. ── Meu antigo parceiro recebeu umas chamadas no rádio, todas feitas pelo Frank. Eles começaram a conversar e depois a fazer negócio. Depois que isso se tornou algo frequente, acabei me juntando a ele pra levar algumas mercadorias uma ou outra vez.

── E o tal do Bill?

── No início ele não sabia. ── Respondeu Riley. ── O Frank fazia essas negociações sem o Bill saber porque ele nunca foi muito amigável com pessoas de fora. ── Passou a mão pelos cabelos ondulados, ajeitando-os ── Ele começou a ser mais receptivo depois que o Frank passou a conversar com a Tess por rádio também. Basicamente éramos as únicas pessoas na zona de quarentena que forneciam mercadorias pra eles.

Ellie assentiu em compreensão.

── E essa cicatriz na sua cabeça? ── Pergunta a garota. ── De on ela veio? ── Joel suspirou. ── Foi uma parada ridícula, tipo cair da escada?

── Não caí da escada. ── Ele responde, ríspido.

── Tá bom, e como foi então?

── Levei um tiro de raspão.

── Viu? Isso é maneiro. ── Ela exclama. ── Atirou de volta?

── Atirei.

── Acertou?

── Não, também errei. ── Respondeu. ── É mais normal do que pensa.

── Porque você é ruim de mira ou em geral? ── Ellie questiona, fazendo Riley tentar conter uma risada. Joel olha para ela, enquanto caminha.

── No geral. ── Diz ele, voltando a olhar para frente.

Ellie sabia que os dois não estavam em boas águas no momento, mas pareciam estar fingindo que nada havia acontecido de suas próprias maneiras. Precisavam continuar com a jornada e não ficariam brigando na frente dela, por isso o melhor a se fazer era ignorar o ocorrido.

Não significava, é claro, que qualquer um dos dois esqueceria.

── Fazendas Cumberland. ── Exclama Ellie ao ver o nome no posto de gasolina na estrada, depois de uns minutos incessantes de caminhada.

── O que vamos fazer aqui? ── Riley questiona Joel, quando ele passa por ela, indo na direção da loja no posto.

── Aguentem aqui um pouco. ── Responde ele. ── Vou pegar umas coisas que escondi.

── Escondeu? ── Ellie pergunta. ── Porque escondeu alguma coisa aqui?

── Você pergunta demais. ── Comenta Joel, em um suspiro cansado.

── É verdade. ── Confirma a garota, assentindo.

Joel abre a porta e entra na loja, onde tudo está revirado e empoeirado. Das aberturas do teto, saem vários ramos de plantas e algumas flores. Riley observa o local com atenção, analisando os detalhes para não deixar nada passar. Joel dá algumas passos cautelosos a frente, fazendo o mesmo que ela e mantendo a guarda levantada.

── Nós deixamos suprimentos pela estrada, caso precisemos de alguma coisa. ── Joel explica. ── Agora eu preciso, então...

── Mentira! ── Entusiasmada, a garota exclama. Riley franze a testa, enquanto ela vai até uma máquina de fliperama no canto da sala.

── Que foi? Nunca viu um fliperama antes? ── Adams a questiona, inclinando-se contra o balcão para descansar, enquanto Joel começa a vasculhar a sala em busca de algo.

── Eu tinha uma amiga que sabia tudo desse jogo. ── Ellie comenta, enquanto começa a apertar as teclas como se estivesse jogando. ── Tem uma personagem que tirava a máscara e tem dentes de monstro, ela te engole inteiro e vomita só os ossos. ── Empolgação transbordando em seu tom de voz.

── É, essa é a Mileena. ── Riley responde, passando a mão pelo rosto, desinteressada.

── Então você conhece esse jogo. ── Diz Ellie, se afastando da máquina e olhando para a mulher. ── Já jogou?

── Algumas vezes. ── Responde. ── Tinha um fliperama na minha cidade e eu fui algumas vezes com uns amigos quando era mais nova. ── Ela apoia a bochecha contra a palma da mão, enquanto observava a garota. ── Gostava de jogar com a Sonya Blade, era a minha favorita.

── Essa é aquela agente militar loira? ── Pergunta e Riley assente, confirmando. ── Cara, ela é muito foda também! Minha amiga tinha me contado que ela foi a primeira personagem feminina introduzida nesse jogo e que os golpes dela eram irados.

── Quantos anos essa sua amiga tem? 40? ── Rindo fracamente, ela retruca. ── Ela sabe muito sobre Mortal Kombat para uma garota de 14 anos em um mundo pós apocalíptico.

── Ela só gostava muito de pesquisar sobre esses jogos, achava legal. ── Ellie deu de ombros, voltando a encarar a máquina, dando uma resposta vaga a Riley. ── E você Joel? Já jogou algum?

── Ahn, um ou outro quando eu era mais novo. ── Respondeu, sem dar muito atenção a elas. Joel passou o pé sobre o chão, tentando limpar uma área que pensou ter algum alçapão. ── Mas nunca me interessei muito.

Ellie soltou um murmúrio, compreensivo. Enquanto a garota olhava em volta, tentando encontrar algo que lhe chamasse a atenção, os olhos de Adams seguiram os movimentos do homem pela loja.

── Esqueceu aonde escondeu as coisas. ── Riley comenta, cruzando os braços ao ver Joel tirar algumas madeiras do caminho.

── Não. ── Ele responde, ríspido e olhando para ela por um momento, antes de voltar a procurar algo pelo cômodo.

── Não foi uma pergunta.

Joel bufou, irritado.

── Só estou refrescando a memória. ── Diz ele, emburrado e Riley revira os olhos. ── Já faz uns dois anos.

── Beleza, então vou dar uma volta para ver se eu encontro alguma coisa útil. ── Comenta a Williams, achando a conversa dos dois cansativa.

── Vai por mim, já foi tudo roubado. ── disse Joel, vasculhando o chão.

── Talvez não. ── Ellie chega até a porta que leva para a parte dos fundos da loja. ── Não tem algo de ruim aqui, né?

── Só você. ── Riley e Joel respondem ao mesmo tempo, fazendo Ellie revirar os olhos e dar as costas pra eles.

── Vocês são dois idiotas. ── Resmunga ela, entrando na outra sala. ── Cheios de gracinha. ── Murmura ao entra.

Quando ela saiu, Joel e Riley ficaram sozinhos na loja. Deixando que o silêncio entre eles perdurasse, ela o observou enquanto tentava arrastar alguns móveis, vasculhar alguns cantos e empurrar estantes.

Suspirando de forma audível, Riley revirou os olhos. Sua cabeça caiu para frente e ela observou os próprios sapatos por um tempo, apenas ouvindo os resmungos de Joel e os passos irritados do homem, que ainda não havia recordado do local exato onde guardou seus suprimentos.

── Eu vou lá pra fora. ── Cansada de ficar parada, Riley diz. Se afasta do balcão e se vira na direção da porta. ── Vou ficar de vigia para o caso de alguém aparecer de surpresa ── fala por cima do ombro, um tanto desinteressada, a briga de antes ainda está vívida em sua mente. ── e também vou tentar usar o rádio, ver se alguém me responde agora.

── Tá, faz isso. ── Joel responde, sem dar muita atenção para o que Adams diz, seu foco ainda permanece em procurar aonde escondeu suas coisas.

── Grite se precisar de ajuda. ── Disse Riley, saindo e batendo a porta com força, sem dar a chance de Joel dizer algo como resposta.

Riley caminha até a porta e passa por ela, encarando o lado de fora novamente. Tudo permanece da mesma forma, sem qualquer movimento. Também não há muito vento, o verão costuma ser sempre abafado, mas o sol começa a enfraquecer depois do meio dia. O ambiente se tornou confuso com o tempo, as constantes mudanças climáticas e o aumento de calor na terra, deixaram a vida imprevisível.

Durante a época em que estudava, Riley se lembrava do que havia lido sobre o aumento do aquecimento global, propagação do efeito estufa e como os seres humanos seriam capazes de destruir seu próprio planeta por pura negligência. Descarte indevido de lixo, propagação de gazes tóxicos no ambiente, desmatamento e queimadas. Todos sabiam que haveria consequências, só não imaginavam que seriam essas com as quais lidavam atualmente.

Alguns minutos depois de observar ao seu redor, Riley caminhou até a mureta de madeira do posto e recostou nela. Aproveitando o momento sozinha, ela retirou o colar dos vaga-lumes do bolso da calça jeans e o segurou pelo pingente. Seu polegar passou pelo metal e pelo nome de Benji escrito na parte de trás. Ela ainda pensava em uma forma de consertar o fecho para poder mantê-lo no pescoço novamente.

A paz que permeia o ambiente é quebrada quando o som da estática chega até os ouvidos de Riley. Se assusta por um momento, mas logo sente o rádio em sua cintura tremendo levemente pelo som entrecortado que sai dele. Ela guarda o colar de volta e puxa o aparelho, o encarando com olhos arregalados. Primeiro tenta escutar o que a pessoa que entrou em contato tenta dizer, porém os chiados que saem do rádio são altos demais e a voz fica falhada e praticamente incompreensível.

── Alô, está me ouvindo? ── Após apertar o botão do rádio, Riley tenta se comunicar com a pessoa, porém o aparelho apenas continua a falhar. ── Merda, essa droga não funciona. ── Bateu a mão contra o aparelho, tentando faze-lo funcionar. ── Alô? Alguém na escuta?

Houve o chiado por mais um momento, Riley teve o vislumbre de uma voz que parecia feminina, mas depois o rádio caiu em silêncio. Exasperada, ela observava o aparelho em suas mãos, ainda sem saber o que fazer.

Seu primeiro movimento após isso foi tentar entrar em contato com aquele canal novamente. Andando de um lado para o outro, Riley tentou várias vezes, porém não conseguiu falar com ninguém. Toda aquela situação só serviu para deixa-la mais frustrada.

── Caralho. ── Xingou batendo no rádio uma última vez, antes de abaixar a mão e olhar em volta, pensativa.

Passando a mão pelo rosto mais uma vez, ela guarda o aparelho na cintura novamente, o cobrindo com sua blusa. Riley respira e pondera sobre suas opções, quando sente o cheiro azedo de queimado começar a envolver o ambiente.

No início, ela pensa vir da loja, porém percebe que tudo permanece nos seus devidos lugares. Depois, olhando para o céu, percebe o rastro de fumaça vindo de um caminho oposto ao qual fizeram. Estava distante, por isso o cheiro não estava tão forte. Também não poderia ver o que causava o fogo por conta das altas árvores que rodeavam o lugar.

Os olhos de Riley ficam cerrados, suas mãos estão em sua cintura e ela observa com atenção redobrada aquela fumaça negra sobre o céu azul claro. Atrás dela, escuta passos.

── Tudo bem ai? ── Joel pergunta, ao se aproximar da mulher.

── O que tem pra lá? ── Riley questiona, ignorando a pergunta feita pelo homem. Ela aponta na direção da fumaça.

── Acho que é uma estação de rádio, porque? ── Responde Miller. Ela encara o local por um tempo, pensativa.

── Não tava pegando fogo antes, estava? ── Ellie olha de um ao outro, preocupada. ── Será que foram os infectados?

── Muito provavelmente, não. ── Diz a Adams. ── Teríamos ouvido algo, esse incêndio foi silencioso, premeditado. Infectados fazem barulho, causam estrago com frequência.

── Então... pessoas estão tacando fogo na torre de rádio? ── A pergunta de Ellie é para os dois, passando seu olhar pelos dois adultos presentes.

── Eles fazem isso pra cortar o sinal. ── Explica Joel. ── Saqueadores que querem encurralar as pessoas que entram na cidade mais próxima, deixa-los sem alternativa para chamar reforços depois que atacam. Mas essa é a primeira vez que estão por aqui, isso nunca aconteceu antes.

── Deve ser isso que está interferindo no rádio aqui. ── Riley comenta. ── Bill e Frank também devem estar sem sinal agora.

── Mas também estava assim em Boston. ── Comenta a garota. ── Não conseguimos falar com ninguém depois que deixamos o Congresso.

── Dependendo do local, mesmo com torres de rádio ativas, a comunicação fica com interferência. ── Miller a responde. ── Acho que tudo tem conspirado contra o nosso favor atualmente.

── O que não é nada bom. ── Cantalorou Ellie, girando sobre os próprios pés. ── Vamos continuar então?

── Sim. ── Assente Joel. Ele se vira para voltar para a estrada, mas para quando vê que Riley não se mexeu ainda. ── Você vem, Adams?

Riley permanece parada por um tempo, antes de finalmente assentir e decidir deixar aquele local. Seus olhos se demoraram pela fumaça preta por um tempo e ela tentou ignorar aquela sensação ruim que crescia na boca de seu estômago.

Eles continuaram na trilha por mais um tempo, ainda tinham três horas de caminhada pela frente e o sol permanecia alto no céu. Enquanto passava por aquele caminho, se lembrava da época que passou por ele pela primeira vez com Ben e Margot anos atrás. Os dois já haviam feito aquele percurso duas vezes antes, mas para ela aquela era a primeira vez oficialmente fora da zona de quarentena para um trabalho.

Na época não haviam passado pelo museu, pois ainda não sabiam da existência daquele atalho. Passar pelo hotel era mais seguro na época, mesmo que demorasse mais tempo. Eles caminharam por 5 horas, fazendo algumas paradas para comer e beber água. Quando finalmente chegaram na cidade em que Frank morava com Bill, ela sentiu um grande alívio por finalmente chegar naquele lugar.

── Puta merda! ── Exclama Ellie, tirando Riley de seus devaneios. Joel e a Adams encaram o mesmo que ela: o avião caído no ponto alto do monte, destruído e com suas partes partidas sobre a grama. ── Vocês já voaram em um desses?

── Algumas vezes. ── Joel responde.

── Sim. ── Diz Riley ao mesmo tempo que ele.

── Que sorte!

── Não parecia sorte na época. ── Comenta Miller. ── Sentar no meio, pagar caro num sanduíche.

── Cara, você voava pelo céu. ── Ellie o encarou.

── É, eles também voaram. ── Adams responde. ── E olha só onde vieram parar.

── Sinistro. ── Ellie fala, acompanhando Joel quando ele recomeça a andar. Riley o segue eles continuam o trajeto em silêncio por um tempo. ── E veio tudo abaixo em um dia só? ── Questiona a mais nova.

── Basicamente. ── Responde Joel, tentando encurtar a conversa.

── Como? Ninguém estava infectado com Cordyceps, estava todo mundo bem comendo em restaurantes e viajando de avião, e tudo aconteceu do nada? ── Ela olha para Joel, enquanto o questiona. ── Como começou? Se a infecção é por mordida, quem mordeu a 1 pessoa? Foi um macaco? Aposto que foi.

── Não foi um macaco. Você não estudava? ── Questiona Joel de volta.

── Escola da FEDRA não ensina como a bosta do governo não impediu a pandemia. ── Ellie responde.

── Ninguém tem certeza, mas o mais aceito é que o Cordyceps sofreu mutação. ── Ele começa a explicar, depois de um momento silencioso entre eles. ── Depois foi parar em alimentos, provavelmente o ingrediente básico como farinha ou açúcar.

── Havia marcas vendidas em toda a parte, no país todo e no mundo todo. ── Riley completa, fazendo a atenção de Ellie cair sobre si. ── Foi fácil se propagar no pão, cereal...

── ... Mistura de panqueca. ── Continua o homem. ── Se comer um tanto, fica infectado. A comida contaminada chegou nos mercados na mesma hora na quinta. As pessoas compraram e comeram na quinta à noite ou sexta cedo. Ao longo do dia, foram passando mal. À tarde e à noite, elas pioraram ── Ele faz uma breve pausa. ── e ai começaram a morder.

── Sexta à noite, 26 de setembro de 2003. ── Diz Riley. ── No dia seguinte, já não havia mais nada do mundo que conhecíamos.

Eles continuaram caminhando em silêncio, deixando uma Ellie pensativa processando as informações que eles haviam compartilhado com ela.

── Ouvi dizer que começou em Jacarta. ── Riley comenta. ── Uma antiga doutora da zona de quarentena me explicou que as coisas desandaram por lá primeiro, em uma fábrica de farinha. Não sei se é verdade, mas... faria até um certo sentindo. Levando em conta a questão da guerra e afins.

── Faz mais sentido que macacos. ── Ela comenta. ── Obrigada... ── Ellie olha para Joel, em seguida para Riley. ── Aos dois.

── De nada. ── Ele responde pelos dois.

Depois de alguns poucos passos, Joel para e impede Ellie de continuar, colocando o braço a frente dela. Riley também para e o encara, percebendo que Miller está olhando ao redor.

── O que foi? ── Ela o questiona com a testa franzida.

── Se esqueceu do que tem mais a frente? ── Joel pergunta e ela para pra pensar, olhando em volta e tentando reconhecer o local exato onde estão, levando em conta que boa parte de caminho parece a mesma coisa. ── Vamos pela mata.

── Não é melhor a estrada? ── Retruca a garota.

── É, mas... tem coisas que você não deve ver. ── Com a fala de Joel, Riley finalmente entende onde ele quer chegar, se lembrando do que havia mais a frente na estrada.

── Ah, agora eu tenho que ver. ── Diz Ellie, sorrindo. Ela fica a frente de Joel e anda para atrás, se afastando deles.

── Ellie. ── Adams a adverte.

── Eu não quero que você veja. ── O homem responde, mas ela não dá importância para os dois. Ellie dá as costas para os dois e se afasta, continuando a caminhar. ── É serio, Ellie.

── Vai me machucar? ── Questiona, enquanto eles a seguem.

── Não, mas depende do ponto de vista. ── Riley responde. ── Não é uma cena agradável.

── Vocês são sinceros demais. ── Ela comenta, olhando para eles por cima do ombro e sorrindo. ── Deveriam ter dito que tem um psicopata.

Riley apenas bufa com a resposta dela, balançando a cabeça, um tanto cética pela forma como a garota agia.

── Não sei o que era, mas não tá mais aqui. ── Ellie diz, após eles continuarem andando por mais um tempo. Quando algo finalmente chama a atenção dela, a garota para. Joel e Riley se entreolham, sabendo que haviam chegado.

O olhar de Ellie permanece por um tempo sobre os vários ossos deixados sobre a grama, um amontoado de roupas velhas e puidas, onde antes existiram corpos vivos e saudáveis de várias pessoas. Ali residia o que poderia se chamar de cemitério de ossos. Uma vala comum cheia de restos de esqueletos.

── Uma semana após o surto, ── Riley começa a explicar. ── os soldados... evacuaram as cidades do interior. Diziam que iriam te levar para a zona de quarentena, isso se tivesse espaço. Se não tivesse...

── Essa gente não estava doente?

── Provavelmente, não. ── Joel responde, encarando-os.

── Por que matar? Por que não deixaram eles em paz? ── Ellie parece um pouco angustiada quando pergunta. Soltando um suspiro complacente, Riley passa o peso de uma perna para a outra e aperta a alça da mochila em seu ombro.

── Gente morta não fica infectada. ── Vem a resposta de Adams. Seus olhos impetuosos passam sobre a manta de bebê azul com desenhos de arco-íris e o pequeno esqueleto sobre a terra. ── Menos trabalho, menos boca pra alimentar. É mais fácil descartar do que tentar salvar.

Pensativa, Ellie observou aquele lugar por um tempo. Joel e Riley parados cada um em um lado da garota, fazendo o mesmo que ela.

Recordando da brutalidade militar que ocorreu nos primeiros dias do surto, ela pensava em como aquelas pessoas foram desprovidas de misericórdia. Então, no momento seguinte, se lembrou que empatia também lhe faltou quando a situação lhe colocou contra a parede anos atrás.

O instinto de sobrevivência fala mais alto em momentos assim, fazendo com que nenhum misericórdia seja capaz de prevalecer sobre a ira.

AUTHOR'S NOTE. 𓏲࣪ ☄︎˖ ࣪

I. Por favor, me digam que vocês pegaram a referência no final do capítulo. !!!

II. UATW agora terá apenas uma att por semana, apenas as quartas, às 21hrs. As vezes pode ocorrer uma segunda att, podendo ser sexta ou sábado, porém não são garantidas.

III. A fic tem uma opening agora! Essa perfeição que está na mídia bem no início do capítulo foi feita pela maravilhosa _gwldn e to muito apaixonadinha. Esse edit vai sempre colocado no início pra trazer uma boa imersão pro cap. Assistam pq vale muito a pena!

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