𝟬𝟱 : THINGS WE LOST

☆ ☆ ☆

CAPÍTULO CINCO :
COISAS QUE PERDEMOS
things we lost to the flames


"Quanto menos você disser, mais
peso suas palavras terão. "
── Leigh Bardugo





VERÃO⠀─ ⠀AGOSTO 30, 16:30
⠀⠀⠀Boston, Massachusetts

── ESTÃO DE SACANAGEM. ── Ellie murmura, assim que estão em frente a porta do museu de Massachusetts. Nas portas duplas, crescem vários fungos, que também descem pelas paredes e pela madeira e ficam amontoados pelas escadas e até o chão de concreto.

São como raízes secas. Assim como a vegetação que floresce, aqueles fungos estão ligados ao solo. Rachando o concreto, se alastrando pelos campos e jardins ao redor, trazendo o verde para cada canto das cidades e contaminando toda a paisagem urbana que existe.

Em outras situações, seria uma paisagem bonita, rústica. Porém, quando se lembra dos maus presságios que isso trás, não há conforto no verde ou em qualquer coisa relacionada a vegetação. Isso apenas os lembra de que nada disso os pertence mais. Está consumido pelos fungos, pelos infectados e pela morte.

── Bom, tem uma passagem no último andar. ── Riley comenta, retirando sua mochila das costas. Ela está ao lado da garota, observando o prédio. ── Vai nos levar até onde queremos.

── Ah, agora tudo bem. ── Responde Ellie, sendo ironica. ── Tranquilo.

── A gente usava o tempo todo. ── Tess explica, em uma tentativa de tranquilizar a menina quanto o caminho. ── E era seguro.

── Então tá ok. ── A resposta dela não as convence. ── Ótimo.

Joel se agacha perto de um dos fungos no chão e o analisa, em seguida utiliza o cabo da arma para quebrar a raiz que cresce.

── Tá seco. ── Diz, enquanto se levanta e fica ao lado de Tess. ── Pode ser que finalmente tenham morrido.

── Caminho limpo, então? ── Riley questiona, esperançosa.

── É uma possibilidade, ── Ele assente brevemente, enquanto retira a mochila do ombro e se agacha. ── mas ainda assim é bom tomar cuidado. Não sabemos o que podemos encontrar lá dentro.

Riley e Tess seguem Joel e também se abaixam, retirando de suas mochilas o que precisam. Adams veste um casaco grosso e se arma com uma pistola e sua lanterna. Ellie, a única que permanece de pé durante aquele momento, está frustrada por ver os três retirando pistolas de dentro de suas bolsas.

── A Marlene te deu uma dessas? ── Questiona Joel, segurando uma lanterna em uma de suas mãos. ── Ou só sanduiche?

── Deu. ── Responde ela, pegando sua mochila para encontrar o objeto.

── Tá bom, aqui vai mais algumas regras. ── Instrui Tess, assim que eles se levantam novamente. ── Vamos devagar. Se a gente encontrar alguma coisa, vai pra trás da gente e não saia, tá?

── Tá. ── Concordou Ellie.

── Ótimo. ── Ela cruza as mãos uma sobre a outra, arma e lanterna preparadas. Ellie nota o movimento e se interessa.

── Tenho uma mão sobrando.

── Meus parabéns ── Responde Joel.

Ele caminha na frente delas, sendo o primeiro a chegar até a porta e checar os arredores, antes de confirmar que o caminho está limpo.

── Talvez na próxima, garota. ── Riley diz para Ellie, ao passar pela garota para ir até Miller.

Eles entram no museu um atrás do outro, utilizando a luz das lanternas para guiar o caminho. Todo o prédio está sem energia e completamente revirado desde que o surto começou. Móveis caídos e muito entulhos pelo caminho, vidro quebrado, poeira para todo o lado e os fungos secos crescendo pelas paredes.

Riley respirou fundo, mantendo a calma em seus passos. Segurava firme em sua pistola, observando cada canto em que passava com sua luz para que pudesse clarear o ambiente. A sensações ruins sempre vinham conforme tinha que se aventurar por um local como aquele. Era impossível fugir da preocupação que deixavam seus ombros tensos e seus sentidos sempre em alerta.

Seguiu Joel até a sala de lembranças do museu, que agora era um local cheio de mais fungos secos e cadáveres que jaziam ali a muito tempo, tudo o que restava eram ossos e roupas que logo virariam pó.

── É, não tem mais nada vivo aqui. ── Adams comentou, falando em um tom baixo. ── Tudo virou pó.

── Até que enfim uma notícia boa. ── Tess responde, atrás dela.

── A gente devia ter vindo para cá desde o começo. ── Diz Joel em um murmuro grave. Sua voz retumbando no silêncio, ao decidir não entrar na sala e voltar para que pudessem subir as escadas.

Ellie dá dois passos para dentro do cômodo e dirige seu olhar para a parede ao lado, direcionando a luz de sua lanterna para o canto da sala o qual eles não podem enxergar.

── Cacete! ── Ela exclama, chamando a atenção dos três. Riley e Joel são os primeiros a estar ao lado de Ellie, com suas armas engatilhadas e a postos para acertar qualquer possível inimigo.

Quando encontram o que poderia ser uma ameaça, na verdade encontram uma pessoa morta. Um homem, que Riley chutaria estar na casa dos 30, está morto contra a parede e sentado sobre uma poça de seu próprio sangue. Ele também tem um ferimento na cabeça e no rosto, rastros carmesim marcam sua face, pescoço e mãos. Sua roupa também tem um rasgo no peito e mais um ferimento.

Todos são recentes. O corpo nem ao menos começou a se decompor, deixando claro que ele estava ali a pouco tempo.

── O que fez isso com ele? ── Pergunta Ellie, seus olhos estão arregalados.

Tess entra atrás dela enquanto a garota os questiona, sem desviar seu olhar do corpo, e para ao lado de Joel. Os dois se entreolham. Riley não percebe a conversa silenciosa que eles tem, o olhar aflito que trocam. Sua atenção ainda está sobre o homem morto, porém ela não precisa de muito para saber o que eles estão pensando.

── Ele pode... Pode ter sido atacado lá fora. ── Tess comenta, tentando manter a esperança e afastar aquela sensação de preocupação. A garota se vira para ela. ── Ele entrou pela porta, estava aberta mesmo. Pode ter sido ele.

── Não ouço nada. ── Disse Riley, sussurrando para que apenas eles pudessem ouvir.

── Ouvindo o que? ── Ellie a questiona, recebendo pedidos de silêncio de Joel e Tess no mesmo instante. O som de algo pesado sendo arrastado ocorre acima deles e Riley passa a luz da lanterna pelo teto, seguindo o rastro dos fungos, notando a poeira que se movimenta conforme ocorre o barulho ── Um infectado fez isso? Porque eu já fui atacada por um e ele não fazia isso.

── É o seguinte, daqui pra frente, silêncio total. ── Joel diz, firme. Sua voz está baixa o suficiente apenas para as três o escutarem. Riley o encara, percebendo a seriedade do momento e a forma como ele olha diretamente para Ellie. ── Nem sussurro, só silêncio.

── Por quê?

── Sem perguntas. ── Adams responde por Joel, atraindo o olhar da garota. Com o tom de voz um pouco acima de um sussurro, ela completa: ── Faz o que ele mandou. Apenas obedece.

Ellie passa seu olhar espantado por eles e não diz mais nada.

Elas seguem Joel assim que ele sai pela porta, guiando o caminho até as escadas com o corrimão impregnado por fungos secos. Tess é a última e Ellie está logo a frente de Riley. Eles seguem com cautela, dando passos calmos e evitando ao máximo estalar a madeira velha da escada. Não é fácil pela forma como o lugar range, porém os sons não são altos para chamar a atenção.

A estrutura do museu se movimenta, mais poeira cai do teto e a forma como todo o local estremece os faz parar. Riley respira fundo e olha para Tess por cima do ombro. Elas se encaram, sem dizer nada uma para outra, e apenas aguardam o momento passar. Não demora para tudo estar calmo novamente, reestabelecendo o silêncio de antes.

Agora ela pode ouvir seu coração batendo novamente. Riley faz o possível para manter a calma e se continuar estável, se lembrando de respirar devagar. A antecipação de que algo de ruim pode acontecer a qualquer momento, sempre a deixa no limite. Sabe que precisa estar centrada e com a atenção voltada para cada mísero detalhe. Conhecendo bem os terrores daquele novo mundo, Riley sabia o que os aguardava no segundo andar.

Quando estavam no meio das escadas, havia vários cadáveres deixados no caminho, que agora se assemelham a ossos puídos e pele seca. Um amontoado de carcaças que já nem mais lembram corpos, se não fosse pelos restos de suas roupas. Não dava para saber onde um corpo se iniciava e outra acabava, pois os fungos ligavam um ao outro.

Joel passou pelos cadáveres tentando não pisar em nenhum, encontrando um lugar vazio entre eles. Porém Ellie não fora cuidadosa o suficiente. Pisou com o pé em cima de uma mão, o estalo fazendo Joel parar e virar para ela no mesmo instante. Tess e Riley se mantiveram paradas no mesmo lugar, esperando os dois passarem primeiro e lançando olhares na direção da garota assim que ela chamou a atenção com o barulho.

O olhar de desaprovação de Joel foi tudo que ela recebeu, antes que eles retomassem o passo até o último andar ── que estava a porta do salão da Independência. Eles sobem os últimos lances e Miller abre uma das portas daquele cômodo, iluminando o lugar cheio de poeira e com várias estantes e vitrines com objetos antigos guardados.

Assim que Joel e Ellie estão dentro da sala, mais um tremor sacode o prédio, fazendo o edifício soltar mais poeira. Dessa vez, o estrondo trás consigo o desabamento da escada que leva para a última área. Riley e Tess se lançam para frente, caindo dentro do salão junto da garota. Do lado de fora, a fumaça densa cobre tudo, junta da madeira e os entulhos do teto, bloqueando a passagem.

Riley firma as duas mãos no chão, respirando pesadamente várias vezes. Suor escorre pela sua testa e seu coração bate mais rápido agora, o espanto propagado pelo susto persiste por pouco tempo e ela olha para os dois lados, checando se Tess e Ellie estão bem. Joel mantém seu silêncio quando segura a menina pelo braço e a ergue do chão. As duas mulheres se ajudam mutuamente e levantam juntas, puxando uma a outra para cima e firmando seus pés sobre o chão de linóleo.

Assim que eles pensam estar tranquilos, vem o primeiro ganido sinistro. Um som que se assemelha a um estalar e logo as armas estão apontadas na direção de onde ele veio. A luz ilumina o corredor vazio, um frio percorre a espinha de Riley e seus dedos apertam mais a pistola. Em seguida, o mesmo som se repete, se reproduz em outro lugar. Percebe que ecoa pelas paredes, quase como se ressoasse.

Tem mais de um deles, ela pensa. Já imaginava que poderia haver mais, porém ter a certeza a deixava mais apreensiva. Eles olham em voltam, porém sua luzes e suas armas permanecem viradas para aquele que está mais perto. Ellie vai para trás de Joel cautelosamente. Tess é a segunda a começar a recuar, Riley a segue conforme os passos do infectado se tornam mais próximos.

Seu estalos continuam acontecendo, até mesmo quando cambaleia para dentro daquela cômodo. Riley percebeu que esqueceu de respirar quando o vê completamente. A cabeça rachada ao meio, o fungo que floresce no lugar de seu olhos, aquele corpo contorcido e o ganido gutural que ele solta. Pavor, é isso que ela sente. E se intensifica quando escuta o mesmo som ecoar na outra entrada ao lado deles.

O salão da independência tem muitas passagens, todas ligadas ao mesmo corredor e todas as portas estão abertas. Eles continuam recuando, andando de costas com passos lentos para não chamar a atenção. Param apenas quando estão encurralados e ficam contra uma vitrine. Ellie está entre Joel e Riley, Tess se encontra logo atrás da Adams e todos permanecem em silêncio enquanto os infectados caminham.

Ellie lança um olhar assustado para Joel, os escutando passar por trás da vitrine, suas sombras passando pelo vidro e os ganidos dos estaladores continuando.

── Eles não enxergam, mas ouvem. ── Miller explica utilizando apenas as mãos, apontando para seus olhos e ouvidos e movimentando a boca para que ela pudesse ao menos entender as palavras que ele queria dizer em voz alta.

O infectado está parado exatamente ao lado oposto deles, onde apenas a vitrine os esconde. Riley respira fundo, olhando para cima, ao escuta-lo estalar e grunhir de forma audivel. Qualquer passo em falso pode alerta-lo e ela se concentra para não se mexer. Tess também está imóvel ao seu lado, mantendo suas mãos ocupadas com a lanterna e arma para baixo.

Quando Ellie direciona o olhar para Joel novamente, ele percebe que ela está ofegante, perto de estar em pânico. Ele levanta um dedo e leva até os lábios, pedindo silêncio. Adams fecha os olhos, enquanto ainda tem sua cabeça levemente inclinada para trás. Seu corpo está tenso e suas mãos estão suando. Imagina que seus nós dos dedos devem estar branco sobre a luva pela forma que mantém um aperto forte na arma e na lanterna.

Riley, assim como os outros, espera o estalador passar. Seus olhos se abrem devagar e ela novamente se obriga a respirar. A tensão a come viva naquele momento, se entranhando em seus ossos, a deixando tonta. Aquela sensação não é bem-vinda. Só consegue pensar no quanto deseja sair daquele lugar, se afastar daquele terror.O pensamento da morte a embrulha o estômago. Riley precisa respirar devagar várias vezes para conseguir manter a respiração estável por mais tempo.

Quando o estalador entra no campo de visão deles, ela o vê de relance, porém Ellie finalmente pode vê-lo por completo. Ele tropeça nos próprios pés, porém continua de pé e a luz da lanterna de Joel o ilumina.

A respiração de Ellie engata, ela solta um suspiro alto o suficiente para chamar a atenção do infectado.

Isso o alerta.

A uma confusão onde os grunhidos do estalador se misturam com o som dos disparos de Joel. Ele descarrega um pente naquele infectado, no momento em que ele está para ataca-lo. Não é o suficiente para mata-lo, nem de longe. Porém Joel consegue segura-lo.

── Corre! ── Ele grita. Agora que todos os outros infectados sabem onde eles estão, não há mais necessidade da descrição.

Tess puxa Ellie consigo, enquanto Riley atira contra um estalador que corre na direção delas. Ela erra três tiros e xinga ao perceber o quanto suas mãos estão tremendo. Adams esquiva dele por pouco, que se choca contra vitrine e quebra o vídeo em vários cacos pela sala.

Ela se encontra no chão agora, se arrastando de costas para longe, utilizando os cotovelos e se impulsionando com os pés. Não consegue se levantar, respirando ofegante, apenas se afasta enquanto observa o estalador se erguer da vitrine quebrada e ganir mais um vez, soltando baba e ranho no processo.

Ao fundo, percebe que todo aquele lugar se tornou uma confusão e um caos desacerbado. Joel está lutando contra um infectado em algum lugar a sua frente. Tess e Ellie fogem de um outro a sua esquerda e Riley não tem tempo para processar tudo que está acontecendo porque está escuro e se sente encurralada.

O frio da sala morde seu corpo, mas a adrenalina a mantém desperta o suficiente para faze-la agir com agilidade. Quando ele grunhe para ela mais uma vez, soltando o som de estalos no processo, Riley já está com as duas mãos na pistola e não planeja errar aquele tiro. Ela se lembra da voz de seu pai lhe dizendo para mirar com os olhos e não com a arma. Manter sua concentração em seu alvo apenas, firme. Leva tudo de si para não tremer quando ele está perto de avançar para cima dela.

Riley dispara uma vez, depois duas. A arma se torna pesada em suas mãos, mas sem textura. Quase não a sente quando aperta o gatilho, percebendo como seus dedos estão dormentes por ficarem tanto tempo pressionados contra o punho da pistola. Acertando aonde deveria ser a testa daquele infectado de cabeça rachada. O impacto da bala é forte o suficiente para fazer a cabeça dele ir para trás, deixando o mesmo desequilibrado. Ele pende e caí, fazendo um baque alto ecoar pelo salão.

Conseguiu ser rápida ao ficar de pé. Impulsionada pela adrenalina e pela forma como seu coração bombeia rapidamente em seu peito, Riley dispara mais duas vezes na cabeça do estalador, manchando o chão de linóleo com mais sangue denso e um liquido espesso que se assemelha a pus. Mancha seus sapatos e as vitrines mais próximas, o cheiro metálico lhe dá vontade de vomitar.

Joel já não está mais no lugar de antes e Riley escuta o som de passos apressados do outro lado do corredor, uma das vitrines sendo jogada no chão, o impacto sendo audível e chamativo conforme o vidro se quebra ── uma perseguição acontecendo. Riley é discreta ao caminhar na direção para onde Tess e Ellie foram. Escuta um estalador a distância, porém continua até encontrar a garota escondida atrás de uma das mesas de exposição de artefatos.

Se agacha ao lado dela e leva o dedo aos lábios, assim que Ellie a lança um olhar assustado. Pede para a garota continuar em silêncio quando percebe o estalador que entra no cômodo ── o mesmo que estava perseguindo Joel a poucos segundos atrás. Ele passa pelo outro lado da mesa, o oposto o qual eles se encontram, cambaleando e se contorcendo. Os olhos de Ellie estão arregalados, a garota está apavorada, mas Riley pede ── movimentando os lábios ── para que ela mantenha a calma.

Joel chega ao lado de Riley e os dois se encaram, agachados e em silêncio, esperando o infectado passar. Miller inclina a cabeça levemente para o lado e sinaliza para as duas irem por aquela direção. Adams assente e segue o homem quando ele se vira, ainda agachado, e começa a andar devagar para a direção contrária a do infectado. Faz com que Ellie passe a sua frente e cobre a retaguarda, conferindo os arredores antes de continuar.

A cada estalar dado, eram dois passos para frente e eles haviam conseguido continuar assim até metade do caminho. Quando a sola da bota de Joel pisou sobre cacos de vidro deixados no chão, o pânico retornou.

O infectado avança por cima da mesa, caindo em cima do homem e o derrubando, junto da garota. Riley caiu para o lado, acertando seu torso contra o chão lis e ficando atrás do estalador enquanto ele tentava abocanhar os dois. Joel e Ellie o seguraram longe, lutando contra ele. Riley ergueu a pistola e disparou três vezes contra as costas do infectado, tentando não errar por conta da forma como ele se movimentava bruscamente contra os dois.

Em baixo do infectado, Joel dispara com sua própria pistola. Os tiros dados são o suficiente para dispersa-lo, fazendo com que eles conseguissem escapar. Quando os três estão de pé, o infectado também se ergue. Ele avança e Riley e Joel disparam contra ele duas vezes. Caindo contra o chão, o corpo aos seus pés, Miller dispara mais três vezes na cabeça parando apenas quando percebe que seu pente está vazio.

Outro estalador surge de um corredor adjacente, sem dar tempo de uma reação imediata. Ellie está atrás de Riley e Joel quando ele corre. Antes que ele chegue perto, Tess surge pela porta a direita e o acerta na cabeça com um machado pequeno. Ela recua após fazer isso, se mantendo encurralada contra uma vitrine, enquanto o infectado solta gritos gutuais e balança os braços desordenadamente.

Adams mira a pistola e o acerta no peito da primeira vez, pouco abaixo da caixa toráxica. Em seguida seu olhar trava com a jugular do estalador e, utilizando apenas uma mão, Riley dispara a bala que atravessa o pescoço e faz com que ele engasgue com o próprio sangue. O infectado gorgoleja enquanto cambaleia para frente, ainda tentando chegar até ela. Mãos esticadas, sua tentativa de continuar é falha, quando Riley o acerta na cabeça. Ele cai ao seus pés, enquanto ela abaixa a arma devagar.

Sua respiração não se estabiliza, mas Riley tem a oportunidade de respirar fundo e levar a mão até o lado esquerdo que dói.

── Você está bem? ── Chega a pergunta de Joel que cai em ouvidos surdos. O corpo dela ainda está zumbindo pela tensão, não consegue focar em nada quando sua visão fica embasada. ── Riley!

Riley o encara, lançando para Miller um olhar assustado quando percebe que ele a chama.

── Eu... Bati meu torso, mas eu to legal. ── Disse ao pressionar a mão contra o lado dolorido. ── Eu to bem. Não precisa se preocupar.

── Tess ── Joel vira sua atenção para a a outra mulher, mesmo não estando muito convencido.

── Só torci o pé, mas tudo bem. ── Ela responde, compreendendo o que ele quer saber. Mancando, Tess se aproxima deles e questiona Ellie ── Você está bem?

── Olha, eu não me caguei então...

── Ótimo, porque não temos fraudas no momento. ── Provocou, tentando soar engraçada, porém foi falha por ainda estar tensa.

Ellie lançou um olhar para ela, que logo se dispersou quando se lembrou de algo. A pontada de dor em seu braço fez a garota levantar a manga do casaco e mostrar o novo ferimento sobre a mordida que já estava presente.

── Tá de sacanagem? ── Disse ela. Frustrada, Ellie bufou. ── Bom, se era para acontecer com alguém, que seja comigo.

── Melhor a gente dar um fora daqui. ── Tess sugere, mudando de assunto. Eles assentem.

Não demora muito para encontrar um caminho para fora. Saem pelo telhado, utilizando uma janela. Joel a abre e sai primeiro, deixando Ellie, Riley e Tess saírem em seguida, ajudando-as a chegar do outro lado.

O ar fresco daquela tarde foi revigorante e Riley não conseguiu evitar respirar profundamente, enquanto se sentava sobre as telhas do museu para descansar. Ao seu lado, Tess fez o mesmo e Joel se agachou perto dela para poder fazer um torniquete improvisado em seu pé machucado.

── Coloca isso no braço. ── Ele entregou a Ellie um pano.

── Valeu. ── Agradeceu, observando a tábua que fazia uma passagem do telhado do museu para o de um outro prédio. ── É por ali?

── É, sei que dá medo.

── Aquilo me deu medo. ── Ellie responde, caminhando pela caminho improvisado e deixando os três para trás. ── Isto é madeira.

── Espere ai. Um minuto. ── Pediu Joel, assim que a menina chegou ao outro prédio.

── Devemos encontrar mais em frente. ── No momento em que ficaram sozinhos, Riley comentou.

── A gente vê isso depois. ── Responde Tess, enquanto Miller envolve o pé dela com uma fita.

── E se eles tiverem chegado ao Congresso? ── Questiona ela. ── E se não tiver mais ninguém lá?

── Tem gente lá. ── Diz Tess com firmeza. ── Não estamos fazendo isso tudo em vão. Essa não é a hora de pensar negativamente. ── Quando Joel está para apertar a fita mais forte, ela o impede. ── Deixa. Eu termino.

Ele suspira, mas se afasta. Deixando Tess com seu próprio espaço.

── E a garota? A primeira mordida não funcionou, ── Joel fala. ── mas e a segunda?

── Vocês dois não conseguem ser otimistas? ── Tess se vira para ele abruptamente, ficando irritada. ── Pode ser? Pelo menos uma vez. Pensem que há chance de conseguirmos.

Riley se levanta de repente, sem direcionar qualquer palavra aos dois. Ela caminha e vai até a madeira no caminho.

── Ei, não precisa de ajuda com nenhum ferimento? ── Joel questiona.

── Só se você tiver uma bolsa de gelo dentro dessa sua mochila e uma garrafa de tequila. ── Ela responde, sem se virar. ── Até lá, eu acho melhor a gente só continuar mesmo.

Riley caminha sobre a madeira e chega até o outro edificio, descendo com cuidado extra pois seu lado ainda dói quando faz muito esforço ou se inclina para a esquerda. Mantém a mão no local enquanto caminha e fica ao lado de Ellie, observando a cidade e o sol que está perto de se por no horizonte.

Eles passaram o dia inteiro caminhando, bebendo água quente e pedaços de ração da zona de quarentena. Riley ainda sentia o gosto artificial da carne seca em seu paladar.

── Curtindo a vista? ── Ela pergunta a Ellie, ao se sentar em alguns caixotes de madeira. ── Era tudo que você esperava do lado de fora?

── É um pouco pior, mas... Não é ruim. Ainda to me decidindo ── A garota dá de ombros. ── Nem acredito que saímos vivos daquele lugar. Aquilo foi loucura. ── Ela exclama com empolgação com certa empolgação a última parte e Riley ri fracamente, pois a lembra de Sally quando era mais nova. ── Vocês são bons nisso.

── Isso se chama sorte e pode acabar a qualquer momento, garota. ── Responde ela. ── Não se anima tanto.

── Sua irmã já esteve aqui fora com você antes?

── Algumas vezes. ── Ela confirma. ── Poucas. Sally nunca gostou muito de sair da zona de quarentena.

── Ela tem medo?

── No inicio ela tinha. Depois só... Acho que ela se conformou com os muros da FEDRA.

── Mas você não. ── Afirma Ellie, fazendo Riley perceber que aquilo não é uma pergunta. Ela arqueia uma sobrancelha e cruza os braços.

── Nunca.

Riley sorriu para ela e Elli retribuiu, dando um sorriso contido e desviando o olhar. Elas ficaram ali em silêncio, aproveitando o momento de sossego e a brisa suave. Joel aparece segundos depois, deixando Tess sozinha perto da janela.

── Essa vista é um máximo. ── Ellie comenta, assim que ele para ao lado dela e observa Boston, ou melhor, o que restou da cidade desde o inicio do surto.

── Vamos, antes que escureça. ── Tess chama, passando por eles para descer pelo lado de fora do prédio. Joel olha para Ellie, movimenta a cabeça, pedindo para ela descer atrás da mulher.

Quando a garota faz isso, sobre apenas Miller e Adams no telhado.

── Precisa de ajuda? ── Joel pergunta, enquanto Riley se levanta devagar. Ela segura o lado machucado e faz uma careta quando dói.

── Não. ── Responde, ao se erguer. ── Eu me viro.

Joel assente e a observa caminhar até a beirada, quando ela está perto de descer, ele a chama.

── Riley. ── Ela para seus movimentos e o olha. Joel continua sério, seu olhar impassível como sempre, isso a faz se questionar o que se passa na mente dele naquele momento.

── Sim? ── Diz, curiosa para saber o que ele quer.

Porém o silêncio perdura e ela nota um leve contraste na face dele, vários pensamentos passando por sua mente. Ela sente a necessidade de perguntar o que ele quer, porém decide não ser a primeira a dar o primeiro passo. Aguarda até que o homem tenha algo a dizer.

Então ela recebe um suspiro frustrado e um leve balançar de cabeça. Seja lá o que ele queria dizer ou perguntar, Joel desiste. Comprime os lábios e responde:

── Nada.

Riley não insisti, apenas acena com a cabeça e se vira. Indo atrás de Tess e Ellie para que pudessem continuar sua jornada.

O caminho até o Congresso está limpo, o que por si só deveria ser o suficiente para trazer um grande alívio que precisam. Porém Riley não consegue se desfazer da sensação de preocupação, de que, a qualquer momento, algo ruim pode acontecer.

Lidar com os estaladores no museu trouxe para ela um choque de realidade o qual não estava preparada, deixando claro que talvez não tivesse para onde fugir. O mundo havia se tornado uma terra sem lei e vagar por ele significava se arriscar. E, ao vagar ao lado de outras pessoas, também significava colocar a vida delas em perigo. Seria com isso que lidaria assim que encontrasse Sally. Não poderiam voltar para a ZQ e não ficariam com os Vaga-lumes por muito tempo. Depois disso, depois que tudo estava feito, para onde ela correria?

Aqueles pensamentos estavam rodeando a sua mente por todo o caminho, fazendo com que Riley ficasse calada e não observa-se o tempo passar. Apenas despertou de seu devaneios quando avistou o prédio do Capitólio a distância. Um caminhão ── que deveria pertencer aos Vaga-lumes ── estava estacionado perto da entrada.

Joel os fez parar e se esconder atrás de um veículo descartado do outro lado da rua. Ele se mantiveram abaixados, observando, esperando qualquer possível movimento perto dos arredores do edifício. Depois de alguns minutos, absolutamente nada aconteceu.

── Cadê eles? ── Tess perguntou em um sussurro, enquanto estavam abaixados atrás de um carro. Joel a olhou, antes de retornar sua atenção para a frente e decidir se levantar e seguir.

Riley o acompanhou com sua arma em mãos, seguindo seus passos até o caminhão e deixando Tess e Ellie aonde estavam.

Ele abre a porta do passageiro e não encontra ninguém lá dentro. Riley vai até a parte de trás, seguindo até a porta do conteiner com a pistola em mãos. Está recarregada agora e ela a mantém preparada para caso encontre algo no compartimento.

Joel surge ao seu lado assim que ela está abrindo a primeira porta, os dois se encaram e ele assente, dizendo de forma silenciosa que ela pode continuar. Ela abre de uma vez e tudo que encontra é nada.

Os dois observam o conteiner vazio.

── Joel, o que tá acontecendo? ── Tess pergunta, ao se aproximar com Ellie.

── Eu não sei. ── Ele responde. ── Mas tem dois mortos embaixo do caminhão e sangue em todo o banco do motorista.

── Isso é um mau sinal. ── Riley comenta. ── Não é nada bom.

── Eles entraram. ── Ellie diz. Olhando para a escada com mais rastros de sangue que levam até as grandes portas duplas do Congresso.

Tess se precipita e pega a mão de Ellie, levando a garota consigo ao subir as escadas.

── Anda. ── Ela diz, transtornada. Quando Joel a chama, Tess apenas continua, ignorando-o. Ela não o escuta, fazendo com que Joel e Riley sejam obrigados a segui-la.

Eles entram para encontrar uma cena que já esperam. Há vários Vaga-lumes mortos por toda a parte, sangue espirrado no chão, sinais de luta e armas espalhadas.

── Puta merda ── Ellie exclama, enquanto Tess a solta e abaixa sua arma. Riley percebe como a mulher parece desesperada, olhando a sua volta e percebendo o massacre.

── Calma ── Diz ela, guardando sua arma na cintura. ── Deve ter a porra de um rádio por aqui, né? ── Tess vasculha as coisas deixadas pela sala, as malas e os baús de suprimentos.

── Quem matou eles? ── Pergunta Ellie, enquanto Tess anda pela sala em desespero mau contido. ── A FEDRA?

── Não parece coisa deles. ── Riley comenta. Em seguida Joel coloca o pé sobre um dos cadáveres e o vira, fazendo o corpo se mexer a o ferimento inundado com sangue preto viscoso ficar a mostra.

── Um deles foi mordido. ── Responde o homem. ── Os soldados brigaram com os doentes e todos perderam. ── Ele se vira na direção de Tess. ── Tess. O que você tá fazendo?

── Pra onde a Marlene falou que ia te levar? ── Sua pergunta é direcionada a Ellie. ── Ellie!

── Não sei, só oeste.

── Só oeste. Merda. ── Pragueja ela. ── Tá bom, calma. Um deles deve ter um mapa, certo? ── Tess caminha até um dos corpos e se abaixa, vasculhando a procura de alguma coisa que possa ajuda-los. ── Joel, pode ajudar?

── Não! ── Exclama Miller. ── Tess, acabou. Nós vamos para casa.

── Lá não é minha casa, porra! ── Ela responde, gritando de volta. Os dois se encaram por um tempo, até Tess desviar o olhar e tentar se recompor. Em algum momento ela começou a chorar, mas fazia o máximo para não deixar transparecer.

Riley também se sentia frustrada, porém não sabia o que fazer. A possibilidade de Tess ser mordida não passou pela sua mente. Eles tinham um plano, um objetivo e parecia ser tudo que bastava, porém agora ela sentia que não tinham mais nada.

Tess se levanta e diz para Joel, resignada. Sem qualquer indícios de que sua mente poderia ser mudada: ── Eu vou ficar.

── O que? ── Riley a questiona, dando uns passos a frente e ficando ao lado do homem. ── Você enlouqueceu?

── A sorte ia acabar, mais cedo ou mais tarde.

A fala de Tess faz Riley franzir o cenho, sem entender aonde ela quer chegar. Ela não é a única confusa e Joel também ponderar sobre as palavras da mulher, tentando chegar a uma causa lógica para a sua desistência.

── Merda. ── Ellie disse, sendo a primeira a compreender o que Tess quis dizer. Os três olham para ela. ── Ela tá infectada.

── Me mostra. ── Joel praticamente ordena, lançando um olhar duro a Tess.

── Joel... ── Ela dá um passo a frente e ele se afasta.

Aquilo dói em Tess, mas ela engole qualquer tipo de reclamação que poderia fazer. Um passo para trás e respira fundo, antes de puxar as camadas de roupa que cobrem a mordida em seu pescoço, expondo seu ferimento.

A respiração de Riley engata e a surpresa em suas feições se tornam evidente, ela leva as mãos ao rosto, cobrindo a boca.

── Opa, né? ── Ironiza Tess. Mas ninguém tem nada a dizer, todos os três estão sem palavras e ela sabe que não há nada que possam fazer. Cobre a mordida novamente e encara Ellie ── Tira o pano do braço.

A menina faz o que lhe é pedido e deixa a mostra seus ferimentos, que não mudaram nada.

── Olha, Joel. ── Tess vai até ela e expoem o as mordidas. ── Isso é real. Ela é diferente mesmo. ── Quando suas mãos começam a tremer, Tess se afasta. ── Vocês precisam levar ela para o Bill e pro Frank.

── Não. ── Responde Joel, imediatamente.

── Eles vão ajudar vocês. Vão ficar com ela e podem resolver depois. ── Ela continua, enquanto Miller prossegue negando. ── Sally sabe onde eles moram, ela também pode encontrar vocês lá. Vão receber vocês duas até que tenham um lugar para seguir.

── Não, isso é loucura. Eles não vão ficar com ela. ── Diz Joel, se referindo a Ellie.

── Eles vão sim, porque você vai convence-los. ── Responde Tess. ── Eu nunca te pedi nada, nem pra sentir o mesmo que eu. Nem pra... ── Joel tentou falar, mas ela o impede. ── Cala a boca porque eu não tenho tempo. É a sua chance. Leva elas pra lá, mantém ela viva e... conserta as coisas. As merdas que a gente fez. Diz que vai, Joel. Por favor.

Um dos mortos solta um grunhido, voltando a vida como infectado. Ellie se assustada, xingando ao se afastar do corpo desperto que está atrás dela. Joel puxa a arma da cintura, no mesmo tempo que Riley aponta sua arma na direção do som que a pegou desprevenida. Ele é mais rápido do que ela em suas passadas firmes, chega até o infectado e dispara na cabeça, fazendo com que ele morra.

Há silêncio novamente, mas logo a atenção deles se volta para as pequenas gavinhas que crescem do mato no chão e envolvem a mão do soldado falecido, conectando ele com a terra e, consequentemente, despertando uma horda a distância. Eles escutam os sons característicos que os alerta do que está por vir. Joel corre até a porta e a abre para ver a horda que se aproxima.

Quando ele retorna até elas, parecendo perturbado, Riley pergunta: ── Quantos?

── Todos eles. ── Ele diz, apressado e passando por ela para parar logo a frente. ── Devemos ter um minuto.

── Porra. ── Riley pragueja e começa a se mover pela sala. Ela passa as mãos pelo cabelo, jogando os fios para trás, frustrada.

Eles olham para Tess assim que ela pega uma arma descartada e bate com o cabo na tampa de um dos tambores de combustível. Ela o derruba depois que faz isso e deixa o líquido escorrer pelo chão.

── Tess, o que você tá fazendo? ── Riley a questiona.

── Garantindo que não vão seguir vocês. ── Ela responde, repetindo o mesmo processo em outro tambor. Depois derruba uma caixa de madeira cheia de granadas.

Sobre a mesa, um rádio chama a atenção de Tess e ela o pega. Não havia percebido ele ali antes, mas agora imagina que o objetivo possa ser util. Ainda funciona, mas não apresenta sinal.

── Toma ── Tess entrega a Riley, fazendo a mulher segurar, sem lhe dar tempo para fazer perguntas. ── Pode ser sua chance de entrar em contato com os Vaga-lumes e com a sua irmã.

── Tess...

── É a sua chance. ── Ela diz. ── Sei que pode fazer alguma coisa certa na sua vida, que não seja apenas atirar em infectados e encher a cara. Você é melhor que isso, Adams. ── Tess fecha a mão de Riley sobre o rádio, dando um sorriso fraco para ela. ── Sei que pode cuidar deles.

Ela se afasta e continua da onde parou, deixando mais uma caixa de granadas sobre o chão e uma Riley sem reação para trás.

Joel dá alguns passos na direção dela, mas para. A descrença nítida em suas feições, a forma como ele parece abalado, sem querer aceitar a realidade, deixa Riley sentindo uma sensação pior.

── Joel ── Tess o chama, quando se aproxima dele. Os dois estão cara a cara agora. ── Salva quem você pode salvar.

Eles se encaram por um tempo, antes que Joel consiga reunir o resto de coragem que lhe resta e segurar o braço de Ellie. Ele a puxa quando se vira e a garota tenta impedi-lo, porém não é forte o suficiente para isso.

── Riley, vamos. ── Chama Joel, mantendo a voz firme. Ele passa por ela, mas Adams não se mexe.

── Não! ── Grita Ellie, enquanto o olhar de Riley vai deles para Tess. ── A gente não pode deixar ela! ── A garota tenta faze-lo lhe soltar, acerta socos contra ele, mas tudo é em vão. ── Me solta, seu merda! A gente tem que voltar para ela.

Eles se afastam, mas Riley fica. Ainda não consegue se mover, ainda se sente sem saber o que fazer, mesmo tendo sua resposta. Sua arma parece sem textura em suas mãos mais uma vez, mas não por conta do pânico, mas sim pela sensação de impotência.

A sensação de impotência é pesada como chumbo, se instala em seu âmago e lhe pesa o estômago. Deixa sua cabeça tonta, faz Riley se sentir pequena e frágil. Enquanto caminha, indo em direção ao corredor, não parece que está sobre suas próprias pernas. Não sabe da onde conseguiu reunir forças para tal ato, mas sabe que precisa fazer isso, sabe que precisa ir embora ── mesmo que não queira.

Para no meio do caminho e se vira para Tess. As duas se encaram a distância e ela sente a necessidade de dizer algo, qualquer coisa. Proferir qualquer palavra de conforto, mas nada que planeja dizer parece certo.

Sinto muito.

Me desculpe.

Queria poder te salvar.

Porém nada sai. Nenhuma palavra sequer. Pois ela sabe que nada disso traria tranquilidade a Tess, são todas as coisas que a mulher já sabe. Riley acha que nada que disser será o suficiente. Nada pode reverter a situação em que se encontram ou evitar o inevitável. Não tem como nadar contra a correnteza, porque Tess não quer morrer. Ela não quer desistir. Mas aquilo é tudo que ela tem agora.

Riley aperta o rádio em suas mãos e dá alguns passos para trás, enquanto ainda encara Tess. Não pode ver o rosto da mulher agora mas, pela forma como as mãos dela tremem, abrindo e fechando várias vezes, Riley sabe que não é aquilo que Tess deseja. A fachada de coragem dela está se desfazendo aos poucos.

Aquilo é real. A morte é real. E assim como Riley não conseguiu salvar sua mãe, seu pai, Ben, Margot e todas as pessoas que conheceu pelo caminho e foram importantes em sua vida, ela também não poderia fazer nada por Tess agora.

Elas se encaram por mais um tempo, sem dizer qualquer palavra, por um último momento. Tess acena, querendo dar a deixa para Adams ir embora. Aquela é a sua forma de dizer que tudo vai ficar bem, que ela não precisa se preocupar. Riley quer acreditar nisso, quer se convencer de que é o melhor a se fazer e se agarrar a esses pensamentos. Quer colocar em sua mente que Tess não importa, que elas não eram próximas ou amigas, Riley desejava conseguir ser insensível pelo menos uma vez na sua vida ── porque assim doeria menos.

Então, antes que desista, ela dá meia volta e caminha para longe. Sai pela porta e deixa Tess para trás, apenas se encostando sobre a madeira por um momento, onde se sente entorpecida demais e precisa reunir forças novamente para continuar. Riley se afasta e olha para o campo, Joel e Ellie estão bem mais a frente, indo para o mais longe do Congresso que podem. Ela faz o mesmo e começa a correr, passando pelo mato e deixando para trás toda sua angústia. Toda a sensação de impotência que Riley tanto odeia.

Então, quando o prédio finalmente explode, ela está no meio do caminho até Joel e Ellie. Se abaixa com o impacto e se vira para ver as chamas, assim como os dois fazem. Observa a fumaça negra que sai do Congresso, misturada com o fogo que dança conforme aquele cheiro de queimado permeia no ar e fica empregnado no ambiente. Incomoda e quase a sufoca, mas Riley não consegue desviar o olhar. Tudo que lhe resta está bem a sua frente; o mar de chamas que consome tudo.

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