𝟬𝟰 : BAD OMENS EVERYWHERE
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CAPÍTULO QUATRO :
MAUS PRESSÁGIOS EM TODOS OS LUGARES
❝ cruising through the doom days ❞
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"Não era a escuridão da noite; era a
sombra tenebrosa dos maus presságios. "
── C. Robert Cargill
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VERÃO⠀─ ⠀AGOSTO 30, 11:15
⠀⠀⠀Boston, Massachusetts
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PELA MANHÃ, RILEY FOI A primeira a acordar. Mais uma vez despertando de um pesadelo ás 4hrs da manhã, ela não conseguiu dormir novamente depois que isso aconteceu. Eles estavam se revezando em ficar de vigia, apenas por uma garantia. Mesmo que aquela área já não estivesse mais tão movimentada por infectados quanto antes, a possibilidade ainda pairava a distância.
Trocando de lugar com Tess, ficou de guarda perto da porta de entrada da loja de conveniência. Quando chegaram no local na madrugada, Joel havia deixado uma das estantes em frente a porta, bloqueando a passagem. Tudo o que Riley fez foi ficar sentada em uma cadeira em frente a janela.
Estava um pouco inquieta no início, ainda deixando a adrenalina do sonho agitado passar. Seus olhos as vezes passeavam pela sala, observando enquanto Tess, Joel e Ellie dormiam em sua cama improvisada sobre a grama que cresceu no centro da loja. Outras vezes, Riley apenas observava o lado de fora, focada em qualquer possível transeunte.
Quando começou a se sentir entediada, puxou sua mochila para mais perto de seus pés e procurou dentro dela até encontrar o caderno que Sally havia lhe dado ano passado, no seu aniversário de 40 anos. Todas as páginas ainda estavam em branco, pois ela ainda não fazia a mínima ideia do que fazer com ele. Desenhar era o hobby de sua irmã mais velha, não seu. O máximo que conseguiria fazer era bonecos se palito e uma casa com formato de quadrado e triângulo.
Depois de um tempo pensando em suas opções, Riley decidiu fazer daquela caderno o que Sally havia lhe recomendado: um diário. Escrever suas memórias, suas recordações, falar sobre o seu dia. Parecia interessante desabafar de tal forma. Pescou um papel pardo que envolvia sua comida de dentro de sua mochila e mastigou alguns pedaços de carne seca enquanto escrevia.
Ela não teve muito tempo para aproveitar o silêncio, pois poucos minutos depois que escreveu na primeira folha do caderno, uma movimentação chamou sua atenção. Joel estava se levantando, esfregando os olhos nublados de sono para poder encarar o que havia ao seu redor. Não demorou muito para os olhos dele estarem sobre ela.
Riley o encarou de volta, sua expressão tranquila, enquanto o homem estava impassível como sempre e já aparentando ter um olhar rabugento. Ele se levantou e puxou a própria mochila enquanto fazia isso. Joel olhou brevemente para Tess e Ellie que ainda dormiam, checando as duas, antes de caminhar até Riley.
── Bom dia. ── Ele a cumprimentou assim que chegou perto dela, jogando a mochila por cima da ombro e vestindo uma das alças.
── Bom dia. ── Riley respondeu, agora sem tirar sua atenção do papel. Por algum motivo acho que seria uma boa ideia desenhar uma árvore no espaço que sobrou no final da folha. ── Aproveitou bastante sua noite de sono?
── Não o suficiente. ── Disse ele, ajeitando a arma que pegou de Lee em suas mãos, colocando a alça em volta de si. ── Você dormiu? Não parece que dormiu.
── Eu to tão ruim assim? ── Ela o questionou, sarcástica. Riley o encarou. ── Não sei se percebeu, mas a cama de plantas não é tão confortável.
── Desculpe, senhora. A suíte de luxo do hotel já estava ocupada. ── Debochou Joel, olhando pela janela e colocando as mãos no bolso da calça jeans. Adams soltou uma risada fraca, em tom de escárnio e se voltou para o papel novamente.
Ela comeu o último pedaço de carne em silêncio, rabiscando os últimos detalhes de uma precária árvore que estava longe de se parecer com as reais. Do lado de fora, um pássaro grasnou, voando a distância.
── A propósito, tá aqui seu colar. ── Joel retirou do bolso o objeto e o estendeu na direção da Adams, desfazendo o silêncio que pairou no ar por um tempo. ── Peguei ontem a noite, antes de irmos embora. Achei que fosse querer de volta.
── Obrigada. ── Ela agradeceu, suavemente, com a testa franzida. Pegou o colar de volta e segurou sobre a palma da mão vestida com couro, o analisando. ── Pensei que nunca mais fosse ver isso novamente. Quando me dei conta que deixei pra trás, já estávamos aqui.
Riley segurou pela corrente, analisando a fechadura para saber como estava e se poderia fecha-la novamente. Para seu descontentamento, estava quebrada graças a Lee.
── Depois da confusão que causou, seria bom se você o mantivesse bem escondido dessa vez. ── Aconselhou Miller, com seu tom de voz áspero de sempre, fazendo a fala simples soar como uma bronca. Riley ignorou isso. ── Já tivemos problemas o suficiente por uma noite.
── Não imaginei que o babaca do Lee fosse perceber. ── Resmungou. ── Pelo visto ele é mais atento do que eu imaginava.
Inicialmente Joel apenas soltou um murmúrio baixo em concordância, fazendo ela acreditar que a conversa entre eles havia se encerrado. Riley não percebeu que Joel estava apenas ponderando sobre como abordar determinado assunto.
Ele puxou uma cadeira que estava caída em um canto e a colocou de pé, em seguida sentou e respirou fundo. Ajeitou a arma sobre seu colo e mexeu os ombros, estalando seus ossos cansados.
── Eu vi o nome na parte de trás. ── Comentou Joel, depois de um momento de silêncio. Riley fechou a palma sobre o colar, agora olhando para o homem que observava algo pela janela. ── Não pensei que fosse ser do Ben, também não fazia ideia de que ele era um vaga-lume.
── Ele foi, durante muito tempo. ── Disse ela, desviando o olhar para a janela também. ── Na última vez que nos vimos, ele deixou isso comigo. Prometeu voltar pra buscar. ── Riley deixou uma risada amarga e sarcástica escapar. ── Ironicamente, ele voltou. Só não da forma que eu esperava.
── Sinto muito. ── Disse Joel, agora olhando para ela. De braços cruzados, Miller ponderou sobre suas palavras seguintes. Riley percebia como aquela conversa o estava deixando sem jeito, pensou em dizer algo para encerra-la. ── Me lembro do que aconteceu e... Imagino que deve ter sido difícil.
── Não é como se fosse algo recente, Joel. ── Ela respondeu, em tom de desdém. ── E, sinceramente, eu não me importo mais com isso, não tem mais tanta importância quanto tinha antes. Já passou muito tempo.
── Não é o que parece.
── É? E você sabe disso como? ── Questionou, arqueando uma sobrancelha para ele. Joel a encarou de volta. ── Reconhece uma pessoa quebrada quando vê uma?
── Quase isso. ── Deu de ombros. ── Só... Sei que não é tão fácil assim esquecer acontecimentos desse tipo.
Riley manteve os olhos sobre ele por mais um tempo, sua testa estava franzida. Pensou no que Joel havia dito por um tempo, antes de finalmente decidir que não prolongaria aquela conversa mais do que o necessário.
Ela não sabia muito sobre a vida de Joel antes da pandemia, o máximo era o básico: ele era de Austin, no Texas, e tinha um irmão mais novo chamado Tommy. E, também havia aquilo que Riley apenas presumia, Joel também havia sofrido perdas quando todo o surto começou e a terra se tornou a bagunça que eles conheciam.
Ela observou enquanto ele movimentava a mão trêmula, a forma como seus nós dos dedos estavam machucados. Joel estava checando os ferimentos feitos pela sua brutalidade quando atacou Lee.
── Sua mão... ── Riley disse, notando os pequenos tremores. Joel abriu e fechou os dedos devagar, testando as águas. ── Como está? Quebrou?
── Tá tudo bem. ── Ele respondeu, abaixando a mão e deixando descansar sobre sua coxa, perto do cabo da arma. ── Não tá quebrado, só trincou.
── Que bom. Então acho que posso falar o quão irônico aquilo foi, levando em conta que você tava reclamando de mim horas antes. ── Provocou. ── Meio hipócrita, eu diria.
── Nem deveria estar comparando o que aconteceu, Adams. ── Joel se defendeu. ── Foram situações completamente diferentes.
── Essa é sua desculpa pra não aceitar que também agiu de forma impulsiva? ── A pergunta dela fez Miller bugar.
── Vai dormir, Riley. ── Mexeu a mão em desdém, fazendo a mulher rir. ── Não vou discutir sobre isso agora.
── Apenas aceita, velho. ── Disse ela, presunçosa e com um sorriso mal contido nos lábios, aquela era sua forma de tentar dispersar a tensão que se criou entre eles pela conversa anterior. ── Você brigou comigo atoa.
Joel balançou a cabeça de um lado ao outro, irritado. Ele cruzou os braços e não disse mais nada. O silêncio dele foi o suficiente para deixar Riley satisfeita, colocando as mãos atrás da cabeça e inclinando a cadeira para trás, aproveitando o tempo que tinham.
Poucos minutos depois, Tess acordou e se aproximou deles.
── Bom dia, raio de sol. ── Brincou Riley, assim que ela se aproximou. Ela se ajeitou na cadeira, sentando corretamente e deixando suas mãos repousarem sobre suas coxas. ── Teve uma boa noite do sono?
── Na medida do possível, sim. ── Tess deu de ombros, em seguida puxou um caixote abandonado para se sentar. ── Então... Estão acordados a muito tempo?
── Alguns minutos. ── Respondeu Joel.
── Apenas gastando o tempo tendo uma conversa muito significativa. ── Disse a Adams. ── Me fez ver o quão velho e mau-humorado Joel é.
── Bom, se foi isso que essa conversa fez você vê, sinto te dizer que nem precisava ter que conversar pra perceber. ── Tess bufou, fazendo Riley rir fracamente.
── Que tal focarmos no que realmente importa? Ainda temos que decidir o que vamos fazer com ela. ── Joel apontou na direção de Ellie, que ainda dormia pacificamente. ── A garota não é confiável.
── Acha que a Marlene armou pra gente? ── Riley perguntou. ── Nos fez levar uma garota infectada só pra ferrar com a gente?
── Não acho que seja isso. ── Tess negou com a cabeça. ── Marlene escondeu a informação principal da gente, que é o porque dessa garota ser tão importante. Ela estava desesperada pra conseguir leva-la até o Congresso.
── É, ela não parecia estar fingindo sobre isso. ── Comentou Riley. ── Concordou com nossos termos bem rápido e tá até arriscando bastante pra fazer isso.
── Não muda o fato de que ela tá infectada e que pode se transformar a qualquer momento. ── Joel posicionou a arma que pegou de Lee no colo.
── Não temos certeza disso. ── Cantalorou Riley.
── Quer pagar pra ver? ── Joel a questionou. ── Melhor prevenir do que remediar, não acha?
── Eu acho que apenas devemos ser cautelosos. ── Interveio Tess. ── Ficar de olho na garota e ver o que acontece. Quando ela acordar, ai fazemos nossas perguntas.
Eles assentiram, concordando entre si e voltando ao silêncio habitual, o qual não durou muito.
Minutos depois que estavam ali, sentados em silêncio, Ellie começou a despertar. Os três mantiveram seus olhos sobre ela, monitorando cada movimento da garota sem recuar. Riley queria agir naturalmente, porém não poderia negar que estava preocupada.
── Bom dia. ── Cumprimentou Ellie, estranhando a cena. Quando ela tentou se levantar, Joel apontou a arma na direção dela, fazendo com que a garota ficasse parada na posição em que estava e decidisse sentar. ── Eu to parecendo infectada?
── Mostra o seu braço. ── Ordenou Miller. Mesmo a contragosto, Ellie puxou a manga do casaco para cima, expondo a cicatriz da mordida. Estava exatamente da mesma forma que antes.
── Não tá pior que antes, né? ── Ela os questionou. Os três se entreolharam em silêncio, deixando a menina de lado por um momento. ── A gente não tá na cidade, cadê os infectados?
── Não se preocupa com isso não. ── Riley respondeu.
── Me preocupo sim. ── Ellie a respondeu.
── O que a Marlene queria com uma garota infectada? ── Tess perguntou.
── Eu não to infectada. ── Retrucou.
── Não é o que parece. ── Disse a Adams. ── Você tem uma mordida, o detector piscou vermelho... Sabe, as provas dizem o contrário. Só porque você não se transformou ainda, não significa que não esteja.
── Marlene me achou depois que eu fui mordida. ── Ellie disse, após suspirar profundamente.
── E não atirou em você?
── Claramente não. ── Respondeu a pergunta de Joel, sarcasmos em seu tom de voz. ── Ele me prendeu e me testaram todo o dia pra ver se eu tava doente.
── Testavam como? ── Perguntou Tess.
── Quero fazer xixi.
── Testavam como? ── Repetiu, agora mais ríspida. Frisando sua pergunta.
── Mandavam eu contar até dez, esticar o braço e não tremer. Mas acho que o que mais impressionou foi eu não ter virado um monstro escroto. ── A garota respondeu. ── Agora eu posso ir?
No momento em que Ellie ficou de pé, Joel também se levantou, ameaçando a garota com a arma.
── Vai. ── Disse Tess, depois de um curto período silencioso entre eles. ── Lá atrás, acha um cantinho.
Quando Ellie se virou para ir até os fundos do estabelecimento, Riley se levantou.
── Toma.── Chamou a atenção da menina e pegou uma revista velha do chão e jogou para ela, que a segurou com as duas mãos. ── Rasga algumas páginas.
── E não tem nada de ruim aqui? ── Perguntou Ellie, assim que se virou para ir até a sala nos fundos.
── Só você. ── Joel respondeu.
── Haha, engraçado.
Quando finalmente estavam sozinhos, respiraram aliviados, mas ainda tensos. Eles se sentaram na cadeira novamente, ficando ao lado de Tess e voltando ao tópico que os preocupava.
── A noite passou e ela tá bem, Joel. ── Tess foi a primeira a quebrar o silêncio entre eles, olhando para o Miller.
── Não importa. ── Respondeu o homem, quase no mesmo instante. ── Vai acontecer mais cedo ou mais tarde.
── Ainda não temos certeza disso. ── Riley comentou.
── De que lado você está? ── Joel questionou, a encarando. ── Uma hora quer dar um tiro na garota, na outra defende ela? Não sei se percebeu, mas ela não é a sua irmã, Adams.
── No momento, estou do meu próprio lado, Miller. ── Riley respondeu, ríspida. ── Eu preciso dessa pirralha viva pra encontrar a Sally, acho que você esqueceu esse detalhe.
── Você nem sabe se a Marlene vai cumprir mesmo o acordo.
── Ela já foi avisada do que vai acontecer se não cumprir. ── Adams respondeu. ── Não quebro minhas promessas. Vou levar a garota até o Congresso e receber o que eu pedi, se isso não acontecer, sou a primeira a entregar essa garota para um bando de Estaladores.
── A gente tá perto do muro, vamos voltar para a Zona de Quarentena. ── Joel sugeriu, agora se direcionando mais a Tess do que a Riley. ── Isso vai ser perca de tempo.
── Você se esqueceu do que fez na noite passada, idiota? ── Exclamou Riley. ── Se voltarmos pra lá e o Lee ainda estiver vivo, estamos fodidos. Eu estou fodida e a minha irmã também. Não vou voltar para aquele inferno.
── Joel, essa é a nossa melhor chance. ── Tess finalmente falou, percebendo que precisava convence-lo. Joel bufou, virando o rosto para longe. ── Na zona de quarentena, alguém vai notar o braço dela, e ela será escaneada. E morta.
── Antes ela do que a gente. ── Com rispidez, ele respondeu. ── Parem de falar dessa menina como se ela fosse ter uma vida pela frente.
── Vamos fazer o seguinte, então. ── Riley se colocou de pé. ── Eu vou continuar o trabalho e vocês voltam para a ZQ. Se quer voltar e arcar com as consequências dos seus atos, que seja. ── Ela o encarou, contendo sua raiva. ── Não to atrás da porra de uma bateria, estou atrás da minha irmã e não vou deixar você e a sua teimosia me impedirem de conseguir a Sally de volta.
── Você vai acabar morta. ── Disse Joel.
── Que seja. ── Deu de ombros, fazendo pouco caso. ── Não é como se eu tivesse uma vida inteira pela frente, não é mesmo? ── Riley arqueou uma sobrancelha para ele. ── Acho que qualquer um de nós três já tem durado o suficiente.
Joel respirou pelo nariz, expondo toda a irritação que Riley já percebia que irradiava dele. Não parecia que a poucos minutos atrás eles estavam em um clima pacífico, conversando entre si de forma natural. Agora havia uma tensão palpável no ar, a expressão de desaprovação no rosto de Joel se intensificando.
Riley queria perguntar o porque dele se importar tanto. Por mais que estivessem juntos naquele trabalho, tinham objetivos diferentes. Se separariam assim que chegassem no objetivo e recebessem o que Marlene havia lhes prometido. Se ele não desejava mais dar continuidade a isso, Adams sabia que não tinha nada haver com sua decisão. Não eram parceiros, muito menos amigos, apenas tinham um interesse em comum.
Pensou em dizer isso a ele, mas desistiu quando ouviu os passos de Ellie. A garota saía da sala no canto, segurando a revista velha que Riley havia jogado para ele e caminhava de volta para o centro da sala.
── O que foi? Porque vocês estão com essa cara de morte? ── Ellie os questionou, jogando a revista aos pés de Riley. Nenhum deles a respondeu.
── Está com fome? ── Tess perguntou, assim que ela sentou novamente no lugar em que estava antes. ── Pode comer com a gente.
── Valeu. A Marlene me mandou comida. ── Respondeu a garota, puxando a própria mochila para perto, enquanto Joel e Tess pegavam as suas próprias para retirar a comida que guardavam.
── Vou ali atrás, já volto. ── Riley disse, saindo do cômodo antes que eles pudessem ter a chance de perguntar algo a ela.
Indo para a sala onde Ellie havia entrado minutos atrás, Riley observou o cômodo, antes de ir até um dos poucos armários de madeira que ainda estavam firmes contra a parede. Se abaixando, puxou a velha mochila que havia escondido ali e a arrastou pelo chão, até que tivesse livre acesso a ela.
Abrindo o zíper, conferiu se as coisas que havia guardado ainda estavam no seu devido lugar. Ali ela mantinha o arco e as flechas restantes, duas pistolas e uma bússola antiga que usava para se guiar quando precisava sair da zona de quarentena por um tempo. Costumava ser um par, mas Riley não tinha certeza se sua irmã estava com o outro, o mesmo que mantinha em casa, caso elas precisassem de última hora.
Ela fechou a bolsa e se levantou, caminhando para fora daquele cômodo com a bolsa em um dos seus ombros. Havia ignorado a conversa que acontecia do outro lado, chegando no momento em que Tess e Joel estavam de pé.
── Por que você é tão importante pra Marlene? ── Tess questionou a garota. ── Não mente pra mim, se não eu te levo de volta.
── Se eu voltar, vocês não tem bateria. ── Disse Ellie, presunçosa. Em seguida, se virou para Riley. ── E ela fica sem a irmã, o que eu tenho certeza que não vai deixa-la feliz.
── Eu já não to mesmo. ── Comentou a Adams. ── Mas, você sabe, a bateria eles arrumam outra. A minha irmã? Eu faço o inferno na terra pra encontra-la, destruo a FEDRA e os Vaga-lumes se for preciso. ── Riley deu uns passos para a luz do sol. ── Você... É só uma e é bem importante pra Marlene.
Ela não havia mudado de ideia sobre levar Ellie até o Congresso, porém também tinha interesse em saber o porque da garota ser tão importante para os Vaga-lumes. Se a colocasse contra a parede daquela forma, com firmeza, conseguiria a informação que desejava.
── Então, espero que você tenha entendido a situação em que se encontra. ── Disse Tess, enquanto Ellie mastigava um pedaço do sanduíche que comia, retraída e ainda pensando nas palavras de Riley. A mulher se abaixou na altura dela. ── Eu vou falar com você como adulta, tá bom? Nós três não somos pessoas boas. A gente só tá te levando porque, pelo visto, você é valiosa. Mas a gente não sabe o quanto vale, se a gente não sabe o que a gente tem. Então responde a pergunta.
── Ela mandou eu não contar pra ninguém, eu vou contar para os primeiros que... ── Ellie suspirou, fechando os olhos e batendo o punho na testa duas vezes, devagar. Abaixou as mãos e encarou Tess. ── Tem uma base de Vaga-lumes no oeste, com médicos que buscam uma cura.
── Uhum. Eu já ouvi essa história. ── Joel comentou, incrédulo.
── E o que aconteceu comigo é a chave...
── Pra fazer a vacina. ── Ele falou junto com ela. ── É tudo por isso? A gente já ouviu isso 1 milhão de vezes antes, vacinas, curas milagrosas. Nada funciona. Nunca.
── Vai se foder, eu não pedi por nada disso. ── Ela ficou de pé, abruptamente.
── Nem você, nem eu. ── Joel se direcionou a Tess. ── Isso não vai acabar bem, Tess. A gente tem que voltar.
Tess se colocou de pé.
── Vamos terminar o serviço. ── Disse ela, deixando Joel mais frustrado. ── Não interessa se ela é ou não o que dizem ser. Se eles acreditam, tudo bem. Eles vão dar o que a gente quer. É isso que importa.
Os dois se encararam por um tempo, antes do homem virar o rosto na direção de Ellie e Tess seguir o olhar dele. Joel balançou a cabeça de um lado ao outro.
── Se ela se contorcer... ── Ele avisou.
Ellie fez uma falsa encenação de transformação, se contorcendo e fazendo barulhos que deveriam se assemelhar aos infectados.
── Para! ── Ordenou Tess, não gostando da brincadeira. Ellie limpou a garganta, envergonhada.
── Foi mal. ── Disse em um tom baixo, coçando a nuca. Em seguida, Joel e Tess se encararam novamente.
── Tá bem? ── Ela perguntou, esperando pela resposta final dele. Joel assentiu, a respondendo em seguida, mesmo não querendo concordar em dar continuidade aquele trabalho.
Com a confirmação de Joel, eles tinham a deixa para começar a arrumar suas coisas para partir. Riley retirou a bolsa do ombro e pegou tudo que havia dentro dela, passando para sua própria mochila. As duas pistolas ficaram guardadas para um momento de emergência e o arco agora estava preso na lateral de sua mochila. As flechas ficaram dentro da aljava que Riley colocou nas costas.
Enquanto os outros recolhiam tudo que haviam deixado sobre o chão, Ellie percebeu que Joel e Tess carregavam armas próprias. Miller com o rifle e a mulher com a pistola que retirou de sua própria mochila.
── Posso levar uma? ── Ela perguntou.
── Não. ── Disse Tess.
── De jeito nenhum. ── Respondeu Joel ao mesmo tempo que ela.
── Tá, caramba. Nossa, eu jogo o sanduíche neles. ── Ironizou ela, ao terminar de guardar tudo que tinha dentro de sua mochila, assim como o sanduíche comido pela metade.
Riley ajeitou as alças da mochila sobre os ombros, enquanto Joel caminhava até a porta para retirar a estante sobre a porta para que pudessem sair. Ela caminhou até Ellie.
── Não fica desanimada, garota. ── Disse enquanto passava por ela e ia diretamente até a janela. ── Ter uma arma não é tão divertido quanto parece.
── Ei, onde você arrumou esse arco? ── A menina a questionou, ao observar o objeto nas costas de Riley.
── Mantenho ele guardado aqui já faz uns anos. ── Ela respondeu. ── Foi um presente pra minha irmã, a uns 10, 15 anos atrás. Não deu pra levar pra ZQ, então deixei aqui junto de algumas outras coisas.
── Passou todo esse tempo e isso ainda tá inteiro? ── Impressionada, ela perguntou. ── Arco resistente. ── Riley soltou uma risada fraca, quando parou ao lado da janela e puxou a única cortina que tinha ali e a puxou para o lado, apenas para checar o lado de fora uma última vez e confirmar que tudo estava limpo.
Ela assentiu para Joel que apenas esperava a deixar para retirar o móvel que barrava a passagem.
── Na verdade, ele já quebrou algumas vezes. Sally é bem desajeitada. ── Explicou, ao ficar do lado de Tess. ── Mas concertei, remendei, quebrei de novo e arrumei umas milhares de vezes antes.
── Podem vir. ── Informou Joel, assim que abriu a porta e a luz da manhã adentrou. Ellie tinha um olhar curioso em seu rosto.
Os três adultos saíram primeiro, deixando a garota por último. Do lado de fora, eles podiam ver com mais clareza tudo que havia sido encoberto pelo anoitecer e pela chuva.
── Uau. ── Exclamou Ellie, fascinada pelo o que agora era uma cidade cheia de vegetação.
── Pois é. É diferente à luz do dia. ── Tess disse, enquanto a mais nova analisava tudo a sua volta, seu olhar passando pelo prédio caído e inclinado sobre um outro. As ruínas da cidade cativam a garota.
── Vamos continuar. ── Diz Joel.
Durante o percurso, a curiosidade de Ellie ficou ainda mais evidente. Suas comparações entre as crateras abertas na terra pelos bombardeios e uma lua destruída, fez Tess explicar o que aconteceu na maioria das cidades grandes 20 anos atrás para tentar conter a infecção.
O caminho que acharam mais viável na época foi bombardear o máximo de locais possíveis. As bombas começaram em Jacarta, onde o surto havia se iniciado, porém não foi o suficiente e logo estava contaminando a maior parte do planeta. Em Boston, eles conseguiram diminuir a propagação, porém em outros lugares não ocorreu o mesmo.
Algo que aconteceu com New Haven.
── Quem escreveu aquilo? ── Ellie aponta para uma pichação em uma parede. Os olhares dos três caem sobre as palavras escritas em vermelho. ── "A terra não tem mais salvação, encontrem o novo mundo. " ── Ellie lê as palavras em voz alta e franze a testa.
── Isso é coisa dos maníacos dos Jericós. ── Explica Tess.
── Quem são esses... Jericós? ── Confusa, Ellie questiona.
── Marlene não explicou sobre eles pra você? Deixou de fora a briga que os Vaga-lumes tem com esses malucos? ── Adams pergunta. ── Isso também não é o tipo de coisa que uma criança deve saber. Já tem durado anos praticamente
── Eu já ouvi falar deles algumas vezes, mas não sei quem são.
── Eles dizem ser um grupo revolucionário, mas são apenas um bando de fanáticos religiosos e assassinos. ── Explicou. ── Não querem uma cura, acham que o mundo está bem assim e que devemos aprender a conviver com os infectados, porque eles estão aqui para "purificar" a terra.
── É, isso realmente soa como loucura pra mim. ── Ellie comenta. ── Se isso está pichado aqui, significa que eles estão por perto, certo?
── Não parece ser recente. ── Joel comenta. ── Acho que é da última vez que eles estiveram por perto.
── Pode ser. ── Tess pondera. ── Já faz anos mesmo que não temos notícias de acampamentos de Jericós por perto e é justamente desde daquela vez.
── O que aconteceu da última vez? ── Pergunta a menina, curiosa.
── Pessoas que saíram da zona de quarentena escondidas, alguns contrabandistas e outros Vaga-lumes, foram mortos. ── Tess responde. ── Pela manhã, encontraram vários corpos pendurados nas árvores em frente a entrada principal da ZQ. Todos vestiam apenas uma túnica e estavam posicionados de forma semelhante a crucificam.
── Minha nossa. ── Ellie murmurou.
O olhar de Joel estava sobre Riley, enquanto as duas conversavam. A mulher não havia dito mais nada e o homem entendia o porque, sua visão estava focada apenas nas palavras escritas na parede e ela parecia absorta em pensamentos, a expressão em sua face impassível. Joel notava como ela estava mais séria, mais concentrada. Suas mãos também pareciam inquietas.
Ele se lembrava dos anos passados, de como foi quando encontraram os corpos pendurados nas árvores. Joel também se lembrava de trabalhar dobrado aquela semana, ajudando a queimar vários daquele corpos. Várias daquelas pessoas que ele conheceu.
── É, não foi nada bonito. ── Assentiu a Servopoulos. ── Acusaram os Vaga-lumes na época, mas eles negaram. Claramente não era obra deles, mas... Alguns colocaram a culpa neles.
── Por que?
── Era mais fácil culpar os Vaga-lumes, discrebilizar a causa deles e afins. ── Disse ela. ── E levando em conta que os Jericós não eram muito conhecidos na época, ninguém atribuiu o que aconteceu a eles.
── Eles parecem bastante perigosos.
── Eles são. ── Disse Tess. ── Nada amistosos ou amigáveis. Quer dizer, apenas são se você concordar se juntar a eles e querer "adorar" os infectados como eles fazem.
── Esse pessoal com certeza não bate muito bem. ── Ellie comentou, estupefata. ── Isso na parede é tipo o slogan deles? ── A mulher assentiu em concordância. ── Não é nada legal. E vocês tem certeza que não é recente? Essa tinta tá bem nítida pra ser algo antigo.
── É porque isso não é tinta. ── Riley respondeu, fazendo os olhos de Ellie se virarem para ela e a encararem. Pensando que já teve o suficiente, Adams deu as costas para aquela parede e para o grupo. Decidiu continuar o caminho, deixando os três para trás.
Não demorou muito para Tess e Joel a seguirem. Ellie permaneceu ali por mais um tempo, olhando para as palavras escritas com ── o que ela imaginava ser ── sangue na parede. Inconscientemente, seu corpo estremeceu com o pensamento, percebendo que deveria voltar a acompanhar os três.
── O Congresso ficar por ali. Uns 10 minutos de caminhada se desse para ir reto. ── Explicou Tess, assim que eles pararam e encararam a distância o grande prédio caído que agora bloqueava o caminho.
── Então... Caminho longo ou atalho? ── Questionou, olhando de Tess para Joel.
── Olha só, é o caminho longo ou o caminho em que a gente morre. ── Respondeu a outra mulher.
── Eu voto no caminho longo. ── Opinou Ellie. ── Com base em informações bem limitadas.
── Vamos dar uma olhada no hotel antes. ── Joel sugeriu e Tess concordou.
O hotel não ficava muito longe de onde estavam, porém precisavam atravessar uma rodovia para chegar até ele, estando no caminho tanto para o atalho quanto para o caminho mais longo. Como era de se esperar, o percurso se mostrava infestado de veículos abandonados e envolvidos pela vegetação. Plantas, musgo e sujeira rodeavam os carros que estavam ali desde o colapso.
Eles passavam por entre os carros, caminhando com cautela. Tess e Riley assumiram a frente em algum momento do percurso, Ellie estava loga atrás delas e Joel ficou com a retaguarda.
── Obrigada, a propósito. ── Disse a Adams, quebrando o silêncio entre elas. ── Esqueci de te agradecer antes, então... to fazendo isso agora.
── Tá me agradecendo pelo o que exatamente? ── Tess questionou, segurando as alças de sua mochila, uma sobrancelha arqueada.
── Lá atrás, quando estávamos negociando com a Marlene, você não deixou a Sally de fora quando firmou o acordo. ── Respondeu Riley. ── Não era sua responsabilidade, nem tinha nada haver com vocês, mas... mesmo assim você frisou isso pra ela. Poderia só me deixar de fora, mas não fez isso.
── Você não precisa me agradecer por isso, Adams. ── Diz a mulher, olhando para frente. ── Era o mínimo que eu poderia fazer, sei o quanto a Sally é importante pra você. Não é todo mundo hoje em dia que tem alguém pra se preocupar.
── As vezes, eu acho que me preocupo demais com ela. ── Riley comentou. ── Todo mundo parece achar que eu exagero quando o assunto é a minha irmã.
── Isso é normal. ── Respondeu Tess. ── Ela é sua irmã, a única família que você tem. Seria estranho se não se preocupasse demais.
── Você é a primeira pessoa que me dá razão, sabia? Todo mundo me olha como se eu fosse uma irmã mais velha super protetora.
── Ah, mas você é. E eu não to exatamente te dando razão, mas entendo o seu lado. ── Explicou a mulher. ── Sally é a uma das poucas pessoas que eu conheço que continuou a mesma, desde o início. Isso é raro de acontecer, ainda mais depois de tudo. ── Tess a encarou. ── Vale a pena lutar por pessoas assim.
Riley a encarou de volta, enquanto andava. Pensando no peso que as palavras de Tess carregavam e o quanto ela estava certa sobre isso. Proteger Sally parecia ser a única coisa que Riley sabia fazer, mas nunca fez isso atoa, muito menos apenas por ela ser sua irmã.
── Onde é que eles estão, afinal? ── Ellie perguntou, se referindo aos infectados e se intrometendo na conversa das duas. ── Os infectados, no caso.
── Vai saber quando estiver perto. ── Riley respondeu, depois de desviar o olhar para o outro lado, focando na paisagem.
── Eu não soube da última vez. ── Olhou de relance para Joel que estava muitos passos atrás.
── Como você foi mordida? ── Questionou Tess, por pura curiosidade.
── Sabe o shopping na Zona de Quarentena?
── O que foi fechado e lacrado e que ninguém devia entrar nunca? Esse? ── Julgando, a mulher perguntou olhando diretamente para ela.
── Tanto faz. Eu entrei. ── Disse Ellie, meio retraída. ── Eu queria ver como ela. Não pensei que fosse ter nada lá, só que veio um pra cima de mim do nada. Eu achei que tinha fugido, mas...
── E você entrou sem a ajuda de ninguém? ── Riley a questionou. ── Teve essa ideia brilhante sozinha?
Houve um curto momento de silêncio enquanto Ellie pensava no que responder. Foi tão rápido que qualquer um outro não teria percebido, a dúvida, um vislumbre de um olhar angustiado. Riley chegou a arquear uma sobrancelha, mas a garota foi mais rápida em responder: ── Sim, eu fui sozinha.
── Quantos anos você tem? ── Foi a vez de Tess perguntar. As duas paradas no meio do caminho.
── Quatorze.
── Nossa, você é corajosa pra cacete, garota. ── Ela se virou, continuando a andar e a acompanhar Riley.
── Valeu. ── Respondeu Ellie, com um sorriso mal contido.
Os quatro passaram por cima de um carro capotado que bloqueava o caminho na rodovia.
── Ninguém vai vir atrás de você não né? Tipo mãe, pai, namorado.
── Eu sou órfã, e não. ── Ellie respondeu a pergunta de Tess. ── Todo mundo diz que a cidade é uma loucura. ── A garota mudou de assunto. ── Bando de Infectados correndo por toda parte.
── Não é bem assim. ── Disse Joel, falando pela primeira vez desde que haviam entrado na rodovia.
── As pessoas adoram contar histórias, inventar histórias. ── Comentou Riley. ── Elas ficam entediadas na ZQ e gastam seu tempo criando algumas mentiras para se engrandecer. Você não deve acreditar em tudo que eles dizem, Ellie.
── Então não existem Superinfectados que jogam esporos de fungos na gente? ── Questionou Ellie, parecendo um pouco empolgada.
── Eu espero que não.
── E outros com a cabeça rachada que enxergam no escuro que nem morcegos? ── Com a pergunta da menina de cabelos castanhos, os três se entreolharam em silêncio. Ela continua sem uma resposta quando um grito sinistro e gutural soa a distância, semelhante ao o que Riley escutou na noite passada.
Ellie pergunta o foi que eles acabaram de escutar, mas é ignorada por Joel que diz para eles continuarem andando, deixando de lado o que aconteceu. O perigo continua a volta deles, nada mudou. Tudo apenas os deixa mais alerta do que antes e seus passos se tornam mais cautelosos, mesmo que, por enquanto, não haja nada alarmante em volta deles.
Quando retomam o passo, Riley deixa seu olhar perdurar por mais um tempo em algum ponto a distância, na mesma direção em que escutaram o grito. Ela umedece os lábios, pensativa, e aperta mais fortemente as alças da mochila em suas costas. Sua mente não para de pensar em Sally.
Eles haviam finalmente chegam ao hotel. O lugar continua o mesmo, a única diferença é a água verde que agora inunda o saguão de entrada. Plantas e musgo adornam o ambiente, também há objetos esquecidos como várias malas, um carrinho utilizado para empurrar bagagens perto da recepção, um sofá que um dia fora vermelho, patos nadando, goteiras vindas de cima e outros milhares de objetos conhecidos e desconhecidos que estavam afundados ou boiando na água poluída.
O que ilumina aquele local são as frestas vindas das várias rachaduras e o buraco no teto, que fica a vários andares acima. O ambiente não tem um cheiro muito agradável, mas a unidade abafa bastante e Riley não consegue escolher o que deixa aquele lugar mais incomodo ── o cheiro de morte ou o cheiro de mofo. Não era agradável passar pelo hotel antes e também não era agradável passar por ele agora.
── Espera. A gente vai entrar ai? ── Ellie questionou, no momento em que Joel desceu as escadas do saguão e adentrou parcialmente na água. Parou antes de descer os últimos lances e olhou para a garota.
── Sim, temos que chegar à escada do outro lado. ── Respondeu Tess, apresentando o óbvio para a garota. Riley desceu alguns degraus, ficando um pouco atrás de Joel.
── Ah, é que... Eu não sei nadar. ── Comentou a menina.
── Tá brincando? ── Sem acreditar, Adams a questionou.
── Acha que tem piscina na zona de quarentena?
── Não, gênio. Olha. ── Ao dizer isso, Joel pulou os últimos degraus e mostrou para Ellie que a agua era rasa. Cobria todo o saguão mais não era funda.
── Como eu ia saber disso? ── Perguntou, enquanto Riley ria e seguia Joel para dentro do cômodo coberto pela água suja.
Ellie e Tess descem em seguida, dando passos cautelosos pelo salão inundado. Ao sentir água chegando até suas coxas e molhando sua calça, a garota ri, achando a situação engraçada.
── É nojento. ── Ela comenta, rindo. Sua atenção deixa de cair sobre o estado estranho da água e se volta para a área de atendimento do hotel. ── Olha só. ── Ellie começa a caminhar pela água até o balcão.
── Ei, o que você tá fazendo? ── Riley a chama, mas Ellie não dá importância. ── Não é pra sair de perto da gente, pirralha.
Riley bufou, ficando irritada. Ela voltou a caminhar pela água, porém a superfície em que pisou estava lisa por conta do lodo que havia no fundo. Assim que deu dois passos, Adams se viu escorregando. Ela teria caído completamente na água, se não fosse pelas mãos forte que a seguraram pelos antebraços.
Segurando um grito, Riley olhou para trás e encontrou Joel, a observando com seu típico olhar estóico de sempre.
── Cuidado.
── É, eu sei. ── Disse ela, um pouco ofegante. ── Valeu por... Me segurar. ── Riley ficou de pé, tentando ser rápida para se afastar dele, mas também tomando cuidado para não cair novamente.
Quando seus pés estavam firmes novamente, pode voltar sua atenção para Ellie mais uma vez. Notando que agora ela tocava a campainha da recepção ao mesmo tempo que reproduzia o som que ela fazia.
── Olá, senhor. Eu quero sua melhor suíte. ── Encenou a menina, se inclinando sobre o balcão e fazendo Riley revirar os olhos, mais uma vez. Joel e Tess também a observavam. ── Claro, senhora. Quer que eu leve sua bagagem? ── Ellie engrossou a voz para se passar por um recepcionista. ── Sim, senhora, sem demora.
Ela começou a empurrar o carrinho com as bagagens abandonadas, movimentando a água e a sujeira ao redor.
── Você é esquisita. ── Joel comentou.
── Você é esquisito. ── Retrucou, olhando para o homem enquanto fazia força para empurrar o carrinho. Do seu lado, caiu um corpo que fez Ellie se sobressaltar. ── Ai caralho!
Ela caiu sobre o piano, tocando as teclas. Joel foi rápido para chegar perto dela com a arma nas mãos e indo chegar se não era um infectado. Para a sorte deles, era apenas um esqueleto de alguém que já estava morto a muito tempo.
Vendo que não era perigoso e que Ellie estava bem, Riley e Tess deixaram de lado o que aconteceu e continuaram caminhando para fora da inundação. Joel estendeu a mão na direção da jovem e a ajudou a se levantar, enquanto ela ainda se recuperava do susto que havia levado.
── Você está bem? ── Tess perguntou, assim que notou os dois as seguindo.
── Eu 'to uma maravilha. ── Ironizou a garota.
── Falei pra não se afastar da gente. ── Comentou Riley. ── Falta de aviso não foi.
── Não seja chata. ── Respondeu Ellie. ── Foi só um susto, aquele cara tá morto a muito tempo. Deve ter coisa pior do que ele por aqui.
── Sim, você.
── Essa piada já ficou chata também.
Com os elevadores bloqueados e sem energia, assim como todo o prédio, o que lhes restava era as escadas que os levaria até o andar indicado. O problema se tornou os vários lances, a subida que nunca parecia ter fim e que cansou bastante os três adultos. Pelo outro lado, Ellie estava bem e com bastante disposição para implicar com eles por conta disso.
O clima retorna a tensão inicial, quando percebem que o corredor no décimo andar está bloqueado pelos entulhos que caíram. Riley se lembra que, da última vez que passou pelo hotel, aquilo não estava ali. Também fazia mais de 1 ano que ela não deixava a zona de quarentena.
── Quando foi que isso aconteceu? ── A pergunta de Tess era retórica, enquanto eles caminhavam até a parede feita de entulho que bloqueava o caminho. Riley tentou abrir a porta de um dos quartos no final do corredor, mas não obteve êxito.
── É, essa daqui não vai abrir. ── Ela comentou, após se afastar da maçaneta. Em seguida se virou para Joel que estava perto da porta na parede oposta. ── Tenta essa daí.
── Nada. ── Ele respondeu, após tentar girar a maçaneta para os dois lados e a porta não abrir.
── Tá, eu posso dar um jeito de subir ali, ── Sugeriu Tess, ao ver a fresta de um caminho em cima dos entulhos, por onde a luz entrava. ── eu tento dar a volta e abro pelo lado de dentro.
── Ah, não. Eu sou bem menor, é mais fácil pra mim. ── Ellie comentou, se aproximando da mulher.
── Mas se você morre, a gente não leva nada e ainda se ferra. Você fica.── Respondeu ela. Depois, se virou para Joel. ── Pode me ajudar?
Joel retirou Ellie do caminho puxando ela para trás pelo casaco, a garota olhou para ele com pura indignação em suas feições, mas não proferiu nenhuma palavra. Riley se inclinou contra a parede, apenas observando enquanto Joel ajudava Tess a subir e chegar do outro lado. Ela deu seus próximos passos com cuidado, segurando precariamente nos pedaços grandes de entulho e os utilizando para ficar de pé.
── Tudo certo ai? ── O homem perguntou.
── Tudo. Só está... tudo uma zona. Vou precisar de um tempinho.
Joel se virou para as duas, percebendo que, durante aquele "tempinho", seria apenas eles. O silêncio era um pouco desconfortável, porém convidativo. Riley o achava melhor do que os conflitos de sempre.
Observou Joel se sentar um pedaço de escombro caído perto da parede em que estava escorada, soltando um suspiro cansado no processo. Ellie estava de frente para ele agora, se deixando escorrer até ficar sentada no chão, braços cruzados e apoiados em suas pernas dobradas.
Quando ficou entediada, ela retirou o canivete do bolso do casaco ── Riley não se lembrava quando ela o conseguiu de volta, mas imaginava que foi no meio daquela confusão que armaram de noite ── e o abriu, deixando a faca a mostra. Ellie começou a jogar o objeto para o alto e pagar com a mão, sem se ferir.
── Boa faca. ── Comentou Joel, puxando assunto e notando o que a menina fazia. Quando ela não o respondeu e apenas continuou o que fazia, ele perguntou: ── Onde aprendeu a fazer isso?
── No circo. ── Respondeu, de forma sarcástica. Fazendo Joel suspirar, frustrado. Depois de um momento, Ellie se cansou do que fazia e guardou a faca, agora apenas a segurando nas mãos. Seus braços apoiados nos joelhos. Ela olhou para Joel e Riley. ── De onde vocês são?
── Texas. ── Murmurou Miller.
── New Haven. ── Riley respondeu, voltando sua atenção para a garota.
── E a Tess?
── Detroit. Fica no Michigan. ── Explicou o homem mais velho.
── Eu ia pra escola, eu sei onde fica Detroit. ── Ellie retrucou. ── E vocês dois, tipo...
── Passo.
── Como veio parar em Boston?
── Passo. ── Disse Joel, mais uma vez. ── Chega de perguntas sobre mim.
── Posso perguntar sobre você então? ── Ellie encarou Riley.
── Vai depender das perguntas. ── Disse, arqueando uma sobrancelha e mantendo os braços cruzados.
── Tá, então como você chegou em Boston? ── Questionou a garota. ── Se é que você pode me contar isso.
── Quando New Haven colapsou, havia ônibus tirando as pessoas da cidade e as levando para o local mais próximo. No caso, Boston. ── Explicou Riley. ── Por ser uma cidade pequena, não havia forma algumas de criar uma zona de quarentena e a propagação da infecção foi bem mais rápida. Praticamente não existe mais nada lá.
── Você já foi lá? Depois de tudo que aconteceu.
── Não. ── Adams se mexeu um pouco, desconfortável. Pensar sobre sua casa sempre lhe trazia lembranças desagradáveis.
── Pensa em voltar, no futuro?
── Não. Eu não tenho mais nada lá. ── A encarando, ela bufou. ── Era só isso que tinha pra perguntar? Já acabou com o interrogatório?
── É, não. ── Disse, como se fosse óbvio. ── Então é só você e a sua irmã? Não tem mais ninguém, nenhum parente?
── Tudo mundo que eu conhecia morreu. ── Ela respondeu. ── Não me sobrou muita gente pra contar.
── É, não. ── Riley revirou os olhos. ── Sua irmã... Ela é mais nova ou mais velha que você?
── Mais nova. ── Respondeu Riley. ── Sally é 10 anos mais nova do que eu.
── Uau. ── As sobrancelhas de Ellie se levantaram. ── Ela trabalha com você como contrabandista?
── Mais ou menos. Já fez alguns trabalhos comigo, mas bem poucos. ── Explicou. ── Ela tá mais pra trabalhar pra mim do que pra trabalhar comigo. ── Ellie assentiu, sinalizando que compreendeu o que Riley quis dizer.
── E vocês três? São amigos ou alguma coisa assim? ── Ellie continuou, fazendo Riley passar a mão pelo rosto.
── Não, nós não somos amigos. Você não vai parar de fazer perguntas? Isso já tá ficando um saco.
── Foi por isso que eu não dei corda pra ela. ── Joel murmurou, olhando para o lado, observando as paredes.
── Você disse que eu podia fazer perguntas sobre você.
── Acho que já fez perguntas pessoais o suficiente.
── Na verdade, faltou uma. ── Ellie fez o sinal de 1 com o dedo. ── Se você não é uma vaga-lume, de quem é o colar que o guarda arrancou do seu pescoço?
── Não te interessa. ── Ríspida, Riley a respondeu, quase fuzilando Ellie com os olhos.
── Se você não me disser, vou achar que você é uma vaga-lume infiltrada.
── Que ache. ── Adams deu de ombros. ── O que você pensa ou deixa de pensar de mim, não me interessa. Você é só um trabalho.
── Você é bastante insensível. ── A garota levou a mão ao peito, fingindo estar ofendida.
── Só com quem merece. ── Dando um falso sorriso amigável para ela, estreitou os olhos. ── Já acabou com as perguntas, ou eu vou ser obrigada a te dar um tiro pra você calar a boca?
── Essa é a terceira vez que você me ameaça e nós nos conhecemos ontem. ── Ellie comentou. ── Isso significa que você gosta de mim ou algo assim?
── No momento, eu apenas te suporto porque você é importante. ── Responde a mulher. ── Mas saiba que já atirei em pessoas por menos.
Riley sorri ladino e Ellie não consegue saber se ela está falando a verdade ou mentindo. É por isso que ela percebe que Riley é boa em mentir e esconder as coisas. Sua fala é sempre carregada com naturalidade, nunca parece estar blefando.
O olhar da garota queima sobre a Adams por um tempo, quase como se estivesse tentando analisar até mesmo sua alma. Riley gostaria de saber o que está se passando na cabeça dela naquele momento para que seus grandes olhos estivessem tão atentos sobre seu rosto.
── Quanto tempo os infectados vivem? ── Questionou a menina, mudando de assunto.
── Pensei que estudasse. ── Debochou a Adams, fazendo com que Joel contesse o que poderia vir a ser uma risada.
── A escola é uma merda. ── Ellie responde, quase cuspindo as palavras, deixando evidente seu desprezo pela escola.
── Existem coisas piores do que a escola, pode ter certeza disso. ── Disse Riley, saindo de perto da parede e indo se sentar ao lado de Miller. ── Alguns duram 1 mês ou 2, mas outros estão por aí há 20 anos.
── Já mataram algum?
── Já matamos vários deles. ── Joel respondeu por ela. ── É meio impossível viver atualmente sem ter matado algum deles.
── É difícil? Sabendo que já foram pessoas. ── Ele a encara por um tempo, antes de responder.
── As vezes. ── Assentiu.
── E o cara de ontem a noite?
Joel pondera antes de responder, encarando Ellie. Riley também aguarda por uma resposta, que acaba nunca vindo. Há passos vindo do outro lado pela porta fechada e isso os deixa em alerta, Joel é o primeiro a perceber e ficar de pé, segurando a arma com as duas mãos. Riley retira a pistola da cintura e também a segura, se preparando para o que vem a seguir.
── Podem abaixar as armas, vocês dois. ── Diz a voz de Tess vindo do outro lado. Relaxando um pouco, eles se afastam e esperam.
Podem escutar o som de um móvel sendo arrastado e logo a porta está sendo aberta. Tess os encara do outro lado e a expressão dela passa preocupação. Eles não precisam de muito para entender que as coisas não estão boa.
Seguindo Tess, eles chegam até a sacada do prédio. Um lugar aberto, que dava uma bela vista para a cidade em ruínas. Abaixo deles e espalhados pela rua, estão os motivos da preocupação da mulher. Vários infectados deitados no chão, amontoados entre si.
── São muitos. ── Comenta Ellie, em um murmúrio.
── Da última vez que a gente veio, estavam todos dentro dos prédios. ── Riley disse. ── O que aconteceu agora?
── Deve ter passado muita gente procurando a zona de quarentena ── Tess respondeu. ── Entraram procurando abrigo. É assim que conquistam cada vez mais a cidade, pouco a pouco, mordida a mordida, ano a ano.
── Estão conectados. ── Nota a garota, ao perceber a forma como eles se mexem em sincronia. Qualquer mísero som, faz com que todos levantem a cabeça no mesmo instante.
── Mais do que imagina. ── Diz Tess. ── O fungo cresce debaixo da terra. Fibras longas, como fios, que chegam a mais de 1,5km. As vezes, se você pisa no cordyceps certo, você acorda uns dez infectados em outro local. Eles sabem onde você está e vão atrás. Você não é imune a ser destroçada. ── Ellie a encara, parecendo angustiada. ── Entendeu? Isso é importante. To tentando te manter viva.
Ela assentiu. Em seguida, Ellie se afastou da sacada e disse: ── Então a gente não vai por ali.
── Não. ── Confirmou Tess.
── E o que que vai ser? ── O olhar dela passa pelos três adultos ali presentes. ── O atalho?
── Não temos outra escolha no momento. ── Responde Riley, enquanto eles se encaram entre si da forma que sempre faziam, se comunicando sem palavras. Com um manejo de cabeça, ela completa: ── Vamos ter que ir pelo museu.
AUTHOR'S NOTE. 𓏲࣪ ☄︎˖ ࣪
⠀I. Pensei que ia conseguir escrever um capítulo que pegasse todo o episódio, porém fiquei cansada e desisti. Ia ficar enorme, então fiz uma grande mudança de planos e o resto do episódio 2 fica pro cap. 5, trazendo bastante tensão e choro pra gente.
⠀II. Acho importante avisar vocês que, a partir da próxima semana, as atualizações de UATW devem mudar. As atualizações ocorriam duas vezes por semana, porém com o retorno da faculdade, eu não vou ter mais uma data certa para publicar capítulos novos. Sendo assim, a fic vai ser atualizada quando eu tiver tempo. Espero que entendam ♡
⠀III. Esse capítulo ficou consideravelmente grande e eu acabei ficando sem tempo para revisar. Por favor, relevem qualquer erro que encontrarem.
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