𝟬𝟯 : A STORMY NIGHT
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CAPÍTULO TRÊS :
UMA NOITE TEMPESTUOSA
❝ when i wake up, i see you with me ❞
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"A mente é uma jaula sem fronteiras
que guarda sonhos e pesadelos. "
── Nanette L. Avery
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VERÃO⠀─ ⠀AGOSTO 30, 00:10
⠀⠀⠀Boston, Massachusetts
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SUA RESPIRAÇÃO ENGATOU, seus olhos se abriram abruptamente e Riley levou a mão ao peito enquanto se sentava. Sentia seus batimentos cardíacos acelerados, um tremor percorrendo seu corpo e suor escorrendo pela sua pele. Era difícil respirar, precisou buscar por ar várias vezes, fazendo o possível para se estabilizar e fazer a névoa daquele pesadelo se dissipar.
Olhando ao seu redor, percebeu que ainda estava no quarto de Joel e que nada havia mudado. A chuva continuava caindo do lado de fora, gotas de água escorrendo pela janela fechada e o vendo balançando um pouco as árvores. Havia uma conversa abafada acontecendo no cômodo ao lado, porém Riley não conseguia distinguir o que eles falavam. Tudo parecia um ruído surto, um som de fundo, no momento em que seus ouvidos estavam apenas zumbindo.
Como estava acostumada a fazer, Riley começou a perceber o que havia ao seu redor, a sentir a textura dos lençóis da cama, a expirar e inspirar contando até 10 e fazer qualquer coisa que a fizesse se afastar daquele de panico que sentia seu peito. A sensação era ruim e torturante, envolvia seus sentidos por completo, se assemelhava a se afogar. Tentar nadar contra uma correnteza que apenas te puxa para baixo.
Riley apoiou o cotovelo nas coxas e passou as mãos sobre o rosto, enxugou o suor e respirou fundo mais algumas vezes. A adrenalina estava passando, levando consigo a ansiedade que sentia, sua mente estava sobre controle mais uma vez. Já havia perdido as contas de quantas vezes antes havia lidado com pesadelos, os que teve no início sendo os piores pois sempre acarretavam um ataque de pânico.
Agora ela sabia o que fazer para se acalmar totalmente. Ficou de pé, mesmo com as pernas trêmulas, pegou as luvas que ganhou de Joel e as colocou no bolso de trás da calça jeans. Riley saiu do quarto sem dar atenção para os dois que estavam na sala e caminhou diretamente para a cozinha. Abriu a geladeira, pegou a garrafa de bebida e o copo que ficou esquecido na pia, levando os dois até mesa que ficava na divisa entre os cômodos.
Riley puxou a cadeira e se sentou, deixando o copo sobre a superfície, antes de finalmente enche-lo com bebida. Sentia os olhos dos dois queimando sobre si, os olhares questionadores, o aborrecimento de Joel irradiando de seu lugar sentado no sofá. Ellie tinha certa curiosidade, enquanto a observava de seu lugar na poltrona perto da janela.
Adams não deu importância para os dois, buscando afogar todas as suas mágoas naquele copo de bebida que descia queimando em sua garganta ── algo que estava mais do que acostumada a fazer sempre que podia.
── O rádio tocou enquanto vocês estavam dormindo. ── Ellie comentou, atraindo a atenção de Joel para si. Riley agradeceu internamente por dela ter puxado assunto para outro tópico e a deixando ter um momento de paz.
── O que? Qual era a música? ── Miller a questionou, enquanto Adams levava o copo de bebida aos lábios, ainda sem olhar para eles. Sua atenção se mantinha em algum ponto aleatório sobre a mesa.
── Acho que era aquela "Wake Me Up Before You Go-Go". ── Respondeu, pensativa.
── Merda. ── Pestanejou Joel, abaixando a cabeça. O ato dele deixou Riley preocupada, esperando que algo de ruim estivesse para acontecer. Ela o encarou, com a testa franzida, o copo de bebida parado a centímetros de seus lábios.
── Descobri. ── Disse a garota, abrindo um sorriso. ── Anos 80 é problema. Desvendei o código.
As sobrancelhas de Riley se ergueram, surpresa. Em seguida ela soltou uma risada fraca, sem saber se era por conta do efeito da bebida ou pela situação ter sido realmente engraçada. Joel ficou de pé, quando compreendeu o que ela fez.
── Olha só-
O som da porta sendo destrancada impediu que Joel continuasse. Tess entrou no apartamento com sua mochila sobre os ombros e indo até o centro da sala, deixando passar despercebido o olhar presunçoso que Ellie direcionava a Joel.
Riley levou sua atenção até ela.
── A passagem sob Lancaster está livre. ── Tess comentou, deixando sua mochila sobre a mesa. Ela se virou para a Adams. ── Também encontrei os Vaga-lumes que estão encarregados de encontrar sua irmã.
── Sério? Quem são eles? ── Riley se indireitou na cadeira, prestando mais atenção ao o que a mulher tinha a dizer.
── Um casal, Bessie e Julian. ── Respondeu. ── Disseram que tem uma pista de onde a Sally pode estar e vão tentar entrar lá essa noite. Se for realmente o local certo, devem sair com ela um tempo depois da gente.
── Aonde é? Eles te disseram qual é a pista?
── Não, só falaram que é um dos esconderijos do Robert pela cidade. ── Explicou Tess. ── Ele tem 3 pelo menos. Não são exatamente dele, mas de uns amigos, parceiros de negócios e afins. Acabou usando um depois que o dele mesmo foi explodido pelos Vaga-lumes.
Respirando fundo, Riley desviou o olhar de Tess e focou no copo em sua mão, que agora repousava sobre a mesa. Sentia um alívio por saber que eles poderiam estar perto de encontrar Sally, porém ainda estava preocupada. Sua mente pensava em muitas possibilidades, correndo com as hipóteses e cogitando até mesmo largar tudo para trás para garantir a segurança de sua irmã mais nova.
Riley queria ve-la. Queria saber se ela estava segura, se estava bem, se alguém havia feito algum mal para ela. Céus, se eles tivessem, faria todos pagar. Não se conteria. Acabaria com qualquer um que a tivesse machucado, entraria naquela zona de quarentena novamente apenas para tortura-los. Nem mesmo se importaria com a FEDRA tentando caça-la.
── Tem casaco na mochila? ── Tess perguntou a Ellie, quebrando o curto período de silêncio o qual haviam estado emersos.
── Tenho.
── Então veste, estamos saindo. ── Ela disse, indo até o quarto de Joel e pegando o casaco que ele deixou sobre a cadeira. Tess jogou a roupa para ele, que pegou sem dizer uma palavra sequer. ── Você também, Adams.
Riley vestiu seu próprio casaco que retirou de dentro de sua mochila, colocou as luvas que recebeu de Joel e ajeitou os fios soltos de seu cabelo, amarrando suas madeixas curtas o melhor que pode. Jogando sua própria mochila por cima do ombro, se preparou para sair, assim como os outros.
Do lado de fora, deixando o apartamento de Miller, a cidade estava praticamente vazia, restando apenas os guardas da FEDRA em patrulha. Pelos altos falantes realocados nos carros de patrulha, soava a voz que anunciava o ínicio do toque de recolher.
"Respeite o toque de recolher obrigatório para combater a infecção" Enquanto avançam através dos escombros deixados para trás de alguns prédios da região, Riley escuta um veículo da FEDRA se afastando.
A passagem subterrânea que utilizam os leva diretamente para o outro lado, Joel é o primeiro a sair pelo buraco no chão. Ellie sai em seguida, seguida por Riley e Tess.
── Puta mera! ── Exclama a garota, no momento em que Miller esta colocando a pedra que bloqueia o buraco de volta ao seu lugar. Ellie está de pé, admirando tudo o que tem a sua volta. ── Eu to do lado de fora.
── Meu Deus, abaixa garota. ── Sussurra Adams, puxando Ellie para baixo e mantendo a garota agachada junto com ela. Uma luz de uma lanterna passa por cima deles, porém tem escombros que os mantém escondidos enquanto estiveram abaixados.
── Caramba. ── Murmura Tess. Ela se vira para a menina. ── Olha só, a gente vai dar a volta pela esquerda na zona de patrulha. Fique perto da Riley e faz o que ela mandar.
── Por que eu tenho que cuidar da pirralha?
── Porque você já está acostumada com isso. ── Respondeu a mulher, falando de forma óbvia. ── Não reclama. Vamos nessa.
Tess se virou na direção de um onibus escolar abandonado, passando por uma passagem abaixo dele. Os quatro passaram abaixados, fazendo o mínimo de barulho o possível e sendo cautelosos para não fazer barulho. Quando um dos veículos de patrulha se aproximou, eles se esconderam atrás de outros carros que estavam deixados ali a muito tempo. A maioria era lata velha, capotada ou quebrada, sem combustível e energia.
Riley esperou com Ellie atrás de um carro azul, mantendo sua mão sobre o antebraço dela. Joel e Tess estavam atrás de um veículo vermelho, que estava capotado. Eles apenas continuaram quando a FEDRA finalmente se afastou, escutando apenas o silêncio daquela noite fria de Agosto.
Eles entraram em um túnel de metal, um velho utensílio de obra abandonado, como praticamente tudo era naquela área. Havia vários furos dentro dele, que davam uma visão clara do que estava acontecendo do lado de fora. Quando a luz dos helicópteros da FEDRA começou a passar, seguido do som não muito distante, eles sabiam que era o momento de parar. Do lado de fora, a chuva retornou a cair.
Apenas quando estava finalmente seguro, Tess continuou a caminhar para fora daquele tubo. A meia escuridão os envolvendo novamente. Esperaram contra a parede, um clarão de luz forte passando no céu. Riley deu uma olhada em Ellie, que estava bem ao lado dele e depois em Joel, que ficou no final da fila.
Pensando que podiam continuar, eles retomaram o caminhar, virando uma esquina cheia de concreto e mais zonas apocalipticas abandonadas. A falta de luz foi o que os inibiu de ver o que os aguardava, um guarda da FEDRA foi alertado pelos passos dados pelo grupo.
── O que é isso? ── Questionou olhando para os quatro, que se assustaram. O homem fechou a barguilha de sua calça, após terminar de mijar contra uma parede, se atrapalhando um pouco no processo. Sua lanterna apontando a luz na direção do concreto, não os deixou notar que ele estava ali. ── Não se mexam!
── Que merda. ── Praguejou Tess.
Riley colocou Ellie para trás de si, enquanto Joel olhava para todos os lados, buscando uma saída. Mesmo que tentasse fazer algo, não poderia ser rápido o suficiente, levando em conta que o guarda ergueu sua arma na direção deles. Os quatro pararam aonde estavam, nervosos e com suas mãos erguidas. Adams ainda se manteve bloqueando parcialmente a visão da menina que protegia.
Quando a luz dos raios dançando nos céus clareou por um tempo a área ao redor, o guarda pode ver com mais nitidez quem eram os intrusos. Percebendo quem eram, ele ergueu a parte da frente de seu capacete e Riley notou que era Lee.
── Tá de sacanagem. ── Praguejou ele, parecendo não acreditar no que via. ── Porra, Adams.
── Lee? ── Riley questionou. Ao seu lado, Tess abaixou as mãos e tentou caminhar na direção do homem, buscando ser amigável.
── Calma, vamos conversar. ── Disse Joel, dando uns passos cautelosos a frente.
── Fiquem parados ai. ── Lee acendeu a luz de sua lanterna, que havia se apagado enquanto ele fechava as calças. Tess e Joel pararam no lugar em que estava. ── Virem de costas e se ajoelhem agora! ── Miller continuou a pedir calma, porém ele não quis escutar. ── De joelhos agora!
── Fica calmo.
── O que eu te falei, ein? ── Disse ele, se dirigindo a Joel. ── Eu te avisei para ficar em casa. Se ajoelha!
── Ajoelha logo. ── Disse Riley, tocando no ombro de Joel. ── Melhor a gente fazer isso o quanto antes.
── Vai, se ajoelha. ── Mandou Tess.
Ellie seguiu os passos de Tess e Riley e também se ajoelhou. Joel bufou, irritado, mas não tentou se opor, pois sabia que elas estavam certas.
── Olha só, a gente fecha o serviço e divide os cartões com você. ── Sugeriu Tess, se virando para Lee de seu lugar no chão, no momento em que os outros estavam se ajoelhando e colocando as mãos atrás da cabeça.
── Jura?
── Sim.
── Sorte a minha. Agora mão na cabeça e olha pra frente, assim como os outros. ── Ordenou o guarda. Quando Tess não se mexeu, ele gritou. ── Mãos na cabeça!
Quando Tess obedece, Lee se aproxima e coloca o aparelho da FEDRA para identificar infectados perto do pescoço dela.
── Jura, irmão? ── Indignada, ela questiona.
── É, eu vou seguir as regras.
── Agora você pensa em seguir as regras, Lee? Quando queria drogas ou cartões da alimentação você não estava pensando nelas. ── Debochou Riley, olhando para a frente.
── Cala a boca, Adams. ── Ele respondeu. ── Você sabe, melhor do que ninguém, que não deveria estar aqui. Sua irmã ainda tá no radar da FEDRA e vai ser muito legal ver o que eles vão fazer com ela quando encontra-lá.
── Babaca de merda. ── Ela resmungou, raivosa. Riley fez o possível para manter a calma.
── E agora que você tá aqui também, vai ser ótimo te entregar pra eles também. ── Disse Lee, ao colocar o aparelho perto do pescoço de Riley. Ele apitou, sinalizando em verde, mostrando que ela não estava infectada, mas algo chamou a atenção do guarda. ── Que merda é essa?
Passando a mão pelo colar prateado em volta do pescoço dela, Lee passou os dedos pela corrente, os envolveu e puxou com brutalidade. Riley não teve tempo para reagir, apenas levou a mão até o pescoço, massageando a área que queimava por conta da ação abrupta.
── Isso é um colar dos Vaga-lumes? ── Ele questionou retoricamente, irritação em seu tom de voz. Lee deixou o pingente sobre sua palma, encarando o símbolo desenhado.
── Eu posso explicar, Lee! ── Riley exclamou. Os olhos questionadores dos outros sobre si, alarmados por toda a situação. ── Isso não é meu.
── Ah não vem com essa, para de tentar me enganar. ── Retrucou ele, incrédulo. ── Sabia que você era uma traidora, Adams. Não estariam atrás da vadia da sua irmã atoa.
Riley rosnou para ele, irritada pela ofensa a Sally. Tess percebeu que ela estava perto de cometer alguma loucura, então interveio antes que a mulher pudesse falar demais.
── Que tal 75%? ── Tess questionou, ainda tentando negociar com ele. Talvez assim conseguisse faze-lo repensar.
── Saída não autorizada: vocês vão para a forca. ── Lee respondeu. ── E ela é a porra de um Vaga-lume.
── Eu já disse que não sou um Vaga-lume, seu idiota! ── Exclamou Riley, furiosa. Lee apontou a arma para a cabeça dela em resposta.
── Grita de novo e eu estoro seus miolos, Adams. ── Disse ele, com cautela. Seu tom de voz calmo, porém ríspido, apenas irritou mais Riley. Ela precisou fechar a mão em punho atrás da cabeça, cravando a unha sobre o couro que cobria sua palma, apenas para conseguir se controlar. ── Você tá fodida. Nem ferrando que vou te deixar sair daqui agora.
O cano da arma estava sobre a testa de Riley, que o encarava com nada além de raiva e ódio em suas feições. O colar dos vaga-lume permanecia entre os dedos de Lee, um lembrete de que o homem permanecia com o único presente que a Adams guardou com tanto carinho.
Riley poderia odiar os Vaga-lumes muitas vezes, detestar o caos que eles causavam, mas aquilo era a única lembrança de alguém do passado que carregava consigo.
── Tá, a gente te dá os cartões e metade dos comprimidos também. ── Joel tentou, percebendo que os dois estavam se encarando por tempo demais e que precisava amenizar a situação.
── Metade? Quero tudo. ── Exclamou o guarda, se virando para ele e seguindo para examina-lo ── Eu vou arriscar meu emprego por metade? Só pode estar maluco.
── Então vai deixar a gente ir? ── Tess questionou.
── Vocês sim, ela não. ── Apontou para Riley. ── Ela vai ficar e ser enforcada logo pela manhã. Faço questão de ser o primeiro da fila para isso.
── Vai se fuder, escroto do caralho. ── Xingou a Adams, bufando de raiva.
Acabando com Joel, a última que faltava era Ellie. Porém, quando o aparelho chegou perto do pescoço dela, a garota sacou o canivete e enfiou diretamente na coxa de Lee. Ele prageujou de dor e se afastou, assustando todos com seu grito e pela cena que se desenrolou.
── Ellie! ── Exclamou Riley, ficando de pé, assim como os outros três. ── Mas que porra...
── Vagabunda! ── Gritou Lee, furioso. Ele retirou a faca e a jogou longe. O colar a muito havia sido perdido em algum lugar em meio a lama e a terra que se acumulavam no chão.
No momento da confusão, Riley e Tess ficaram de um lado, enquanto Joel e Ellie estavam do outro. O homem mais velho ficou na frente da garota, a mantendo atrás de seu corpo.
── Saí da minha frente! ── Lee exclamou, apontando a arma para eles. A luz da lanterna iluminou o rosto de Joel.
── Calma, vamos resolver. ── Disse o Miller, mantendo suas mãos levantadas, tanto para sinalizar rendição, quanto para pedir por calma.
── Sai. ── Disse o guarda, entredentes.
── Lee, isso não é necessário, ela é só uma criança. ── Riley tentou convence-lo a abaixar a arma, tomou a frente de Ellie, ficando entre ela e Joel e a mantendo atrás de si.
── Eu disse para vocês saírem!
Joel encarou Lee por um tempo, as palavras dele ressoando em sua mente. Riley percebeu quando algo pareceu gatilhar o homem o suficiente para fazer com que ele agisse com fúria. Joel partiu para cima do guarda, o derrubando no chão antes que pudesse atirar. Quando Lee caiu, Miller começou a soca-lo repetidamente.
A cena lembrou Riley de como ela mesma havia agido horas antes, do que havia feito com o informante de Robert. Joel agia de forma igual a ela, atirando vários socos no rosto de Lee, deixando o rosto do rapaz cheio de sangue, abrindo feridas no rosto dele e o fazendo ficar quase inrreconhecível.
Ao seu redor, as mulheres apenas observavam. Riley pode notar as feições de Ellie, a forma como ela parecia fascinada por Joel a estar defendendo. O brilho nos olhos dela foi algo que a Adams não deixou passar.
Decidida a tentar intervir, Riley foi quem deu o primeiro passo. No momento que Joel ia soca-lo mais uma vez, ela segurou o braço dele, fazendo ele parar. O homem a encarou, irritado. Seus dentes estavam cerrados e seu coração batia rápido, Riley reparou isso pela forma como ele respirava fundo várias vezes.
── Sou eu, Joel. ── Ela disse, calmamente. Mesmo se sentindo um pouco assustada, ela não o temeu completamente. ── Já chega. Você já fez o suficiente, ele não pode mais nos machucar. Pode parar agora.
O olhar dele se manteve sobre ela por um tempo, enquanto Joel respirava fundo várias vezes. Riley engoliu o seco, nervosa. Porém não recuou. Miller olhou para Ellie em seguida, que ainda estava parada no mesmo lugar, observando Joel com seus olhos grandes e fascinados.
O feitiço apenas se quebrou quando Tess alcançou o aparelho no chão, abandonado por Lee quando Ellie o esfaqueou. A tela do objeto brilhava em vermelho, sinalizando a infecção.
── Não, eu não to infectada. ── Ellie foi rápida ao dizer, vendo a reação de Tess ao o que havia encontrado. ── Me escuta, eu posso explicar-
── Joel! ── Gritou a mulher, mostrando a cor da tela para Joel e Riley. Eles encararam, abismados. ── Joel!
── Eu não to doente! ── A garota continuava repetindo. Riley soltou o braço do homem e se afastou, indo até as duas. ── Olha. ── Ellie levantou a manga do casaco. ── Já tem três semanas.
Ela mostrou para Tess a marca de uma mordida. Quando chegou perto, Riley percebeu o quanto a marca mais se assemelhava a uma cicartriz.
── Mas que merda.
── Ninguém dura mais que um dia. ── Continuou Ellie. ── Isso aqui parece que foi ontem? Vocês me matariam.
── Eu deveria matar mesmo! Quando isso aconteceu? ── Tess a questionou.
── Não interessa. Vocês tem que confiar em mim. Vão pegar a gente se não sairmos daqui. ── No momento em que Ellie disse isso, eles ouviram vozes e passos a distãncia.
── Joel, ela tá certa. A gente tem que ir! ── Riley exclamou, enquanto Tess puxava a garota consigo. Elas começaram a caminha para longe, porém ele ainda parecia absorto, quase confuso. ── Temos que ir, Joel!
Antes de deixar aquele lugar, Joel pega o rifle de assalto de Lee do chão e, caído ao lado dele, está o objeto que aumentou toda a confusão. Ele também recolhe e guarda o colar, em seguida seguindo atrás das mulheres. Percebendo a ameaça maior que está perto de se aproximar, os quatro decidem buscar segurança em outro lugar enquanto a chuva aperta e seus passos estão sobre a terra enlameada, lutando para se firma até chegarem a cerca de arame que circunda a área.
── Eu sei um lugar que podemos passar a noite. ── Diz Riley, enquanto eles passam por uma abertura cortada a algum tempo atrás por algum contrabandista, visando a saída para o mundo externo. ── Me sigam.
Levantando o arame envergando, eles consegue passar um pouco agachados, voltando aos seus passos apressados quando estão em terra mais firme. Deixando para trás qualquer caos eminente que estivesse prestes a ser iniciado.
Passos rápidos, desviando de carros largados a esmo e se mantendo sempre em linha reta, a chuva continuava caindo e os raios dançavam no céu, naquela noite tempestuosa mas ruas instáveis de Boston. Ao longe, houve um grito esganiçado familiar. Uma alerta distante de perigo, trazendo um frio que percorreu a espinha de Riley. Ela não vacilou enquanto corria, mas sabia que aquele não era um bom. Sinal.
Sobre a cerca, ela se lembrava, havia um aviso. Todos frisando a importância de não deixar a zona de quarentena, alertando sobre a área biologicamente infectada e dos terrores que os aguardariam daquela lado do muro.
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PRIMAVERA⠀─ ⠀MARÇO 2008, 16:15
⠀⠀⠀Boston, Massachusetts
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── Então, você vai me dizer quem fez isso com você? ── Riley questionou, casualmente. Enquanto caminhava com as mãos no bolso da calça, ela arqueou uma sobrancelha. ── Ou eu vou ter que descobrir sozinha?
── Eu não quero falar sobre isso. ── Resmungou Sally, emburrada e com os braços cruzados na frente do corpo. Ela chutou uma pedra em seu caminho, a mesma quicou para longe várias vezes até sumir embaixo de um carro abandonado. ── Não foi nada demais, Riley.
── Para você estar com um olho roxo, ── A menina torceu o rosto com a fala da irmã, tentando cobrir a área machucada com o cabelo. ── não acho que tenha sido nada demais.
Sally bufou, soprando uma mexa de seu cabelo para longe de seu rosto. Ela estava emburrada e descontente com aquela conversa.
── Não deveríamos estar falando do porque estarmos do lado de fora? ── Questionou a mais jovem. ── Se a FEDRA descobrir que estamos aqui, vamos ser enforcadas na praça!
── Eu sei o que estou fazendo, Sally. ── Respondeu Riley, guiando a irmã por entre os carros estacionados a esmo na rua. ── E não vamos demorar muito, retornamos pra casa antes do toque de recolher. Só quero te mostrar uma coisa.
── E precisava logo ser aqui fora?! ── Exclamou a garota, atraindo um olhar bruto da irmã por ter aumentado o tom de voz. ── Foi mal.
Riley suspirou, voltando a olhar para frente.
── Não teria graça se fosse lá dentro. ── Explicou ela. ── Também vamos ter mais privacidade aqui. Juro que está vazio, limpei a área antes pra ter certeza.
Sally estava curiosa para saber o motivo de Riley a levar para fora da zona de quarentena, mas também estava nervosa. Aquela era a primeira vez que deixava a área segura para se aventurar pelas ruas desertas de Boston.
A paisagem ao seu redor era rodeada de verde, de plantas que cresciam entre os prédios depredados, caídos e abanonados. Vários veículos esquecidos a muito tempo naquelas ruas que não eram mais ocupadas por civis. O que restou de Boston, após 6 anos, se encontrava em boa parte atrás dos altos muros das zonas de quarentena. Parte da vida que restará na terra, vivia protegida e longe da normalidade que um dia se fez conhecida.
Durante esses anos, Sally e Riley ainda estavam se acostumando com o "Novo Mundo". A vida dentro da zona de quarentena não era das melhores, mas as mantinha longe dos infectados. A Adams mais nova aprendeu a se contentar com isso, sem pensar tanto em se aventurar no lado de fora. Porém, diferente da irmã, Riley era mais inquieta.
Aos 27 anos, ela agora se dedicava a alguns trabalhos ilegais dentro das zonas. Faziam pouco mais de 3 meses que a jovem haviam começado a trabalhar como contrabandista, negociando com acampamentos de fora por diversos materiais, desde armas até comida e drogas. Sally não gostava muito da ideia de sua irmã se arriscar tanto, mas não era contra. Ela apenas ficava bastante preocupada.
O primeiro trabalho oficialmente de Riley foi fora da zona de quarentena, indo até dois homens chamados Bill e Frank. Ela retornou durante a manhã, exausta, e passou boa parte do resto do dia dormindo. Riley não havia compartilhado o que aconteceu, deixando Sally curiosa e, quando finalmente acordou, a primeira coisa que fez foi retirar a garota de seu quarto e arrasta-la para fora da zona de quarentena.
── Será que dá pra falar logo para onde estamos indo, Riley? ── Perguntou Sally, cansada de todo aquele silêncio. ── Vou voltar para casa se você não me disser.
── Você tem que aprender a ser mais paciente, Sal. ── Respondeu a mais velha. ── Que tal só curtir a caminhada?
── Meio difícil "curtir a caminhada" quando estou correndo o risco de ter um infectado correndo atrás da minha bunda! ── Exclamou Sally, fazendo Riley soltar uma gargalhada pelo forma como seu irmã respondeu.
── Isso não vai acontecer, maninha. Estou aqui para te defender. ── Riley disse, olhando para Sally por cima do ombro e piscando um olho para ela. ── Nunca deixaria nada de ruim acontecer com você.
Elas continuaram a caminhar por mais um tempo, mas não foram para muito longe. Riley parou em frente uma loja de conveniência, atraindo mais um olhar confuso de Sally.
── Chegamos. ── Comentou Riley, abrindo as portas duplas da loja, porém nenhuma das duas se mexeu para entrar.
── O que você está fazendo? ── Questionou a mais nova. ── Não deveríamos estar entrando ai! ── Alertou a garota. ── Pode ter infectados ai dentro.
── Qual a parte do "eu limpei a área", você não entendeu? A maioria dos infectados estão do outro lado, perto do parque. ── Explicou. ── Eles tem mais espaço lá e estão em maior grupo. Eu os vi quando estava voltando para casa com o Ben e a Margot.
── Mas você sabe como eles são imprevisíveis. Não é seguro pra gente aqui fora, Riley.
── Você pode só confiar em mim? Já disse que nunca te colocaria em perigo. ── Respondeu Riley. ── Eu sei o que estou fazendo, não te trouxe aqui atoa. Não quer falar sobre o machucado no seu rosto? Tudo bem, eu entendo. Mas pode pelo menos me dar um voto de confiança?
── Eu só não quero que você fique em uma enrascada por minha culpa, Riley. ── Disse Sally. ── Se tudo isso é por causa do meu aniversário, você não precisa fazer isso. Eu nem me importo tanto assim com ele mais. ── A garota murmurou a última parte, desviando o olhar.
── Ei, olha pra mim. ── Riley a fez erguer o olhar e a encarar. A mais velha percebeu o olhar triste no rosto da irmã. ── Não precisa se preocupar comigo, sei me cuidar.
── Sei que você sabe, mas não quero que fique se arriscando por minha causa. Você já faz muito pela gente e esses trabalhos... ── Sally suspirou, com a voz chorosa. ── são perigosos. E você continua saindo da zona de quarentena e eu só tenho você! Se algo acontecer com você, eu vou ficar sozinha, Riley!
── Sally, ei. Respira. ── Riley colocou as mãos nos ombros da irmã, vendo como os olhos dela se encheram de lágrimas. ── Relaxa. Fica calma, você não precisa se desesperar. Eu to aqui, eu to inteira.
── Mas você poderia não estar e...
── Para de pensar no pior. Já passou. ── Respondeu, falando suavemente com a menina. ── Me desculpa se eu te preocupei, mas esses trabalhos são assim mesmo. Eles levam tempo e são um pouco complicados, mas deu tudo certo e é isso que importa. ── Riley limpou algumas lágrimas que caíram pela bochecha de Sally. O ato a lembrando de anos atrás. ── Não vou sair com frequência porque temos outros meios de nos comunicar com os fornecedores agora. Pode ficar tranquila.
Sally fungou, limpando o rosto e tentando parar de chorar. Ela se sentia infantil por estar agindo de tal forma, ainda mais tendo 16 anos, mas não conseguia deixar de lado aquela apreensão pela vida da irmã. Riley sempre se colocava em perigo por ela. Era justamente por isso que evitava de compartilhar os problemas que tinha durante seu dia na zona da quarentena.
Lidar com garotas de 17 e 18 anos que implicavam com ela, não era nada comparado com as coisas que sua irmã lidava sozinha e calada. Riley era forte, muito corajosa e obstinada. As vezes Sally desejava ser um pouquinho mais como ela.
── Tudo o que eu faço ── Riley se afastou um pouco, deixando a irmã respirar. ── é por nós.
Sally a encarou, agora conseguindo se recompor melhor. Ela suspirou, compreendendo as palavras da irmã.
── Apenas lembra disso, ok? ── Pediu Riley. ── Vou continuar lutando por você sempre. É uma promessa e eu não quebro minhas promessas.
Sally assentiu. Sorrindo fracamente, Riley segurou a mão dela, puxando Sally para mais perto.
── Agora, vem comigo. ── Disse ela, puxando q mais nova consigo. ── Sem chororô dessa vez, apenas coisas boas.
── Tá bom. ── A garota revirou os olhos, tentando conter um sorriso.
Elas entraram juntas na loja de conveniência e Sally aproveitou para dar uma olhada melhor no lugar, enquanto Riley trancava as portas, garantindo que as duas estariam seguras e sozinhas ali dentro.
O local não era muito grande e o teto tinham um grande buraco. No centro haviam a vegetação que havia florescido, formado quase uma cama, rodeada de verde e plantas que floresciam. Era bonito, por mais que fosse bem inesperado.
O resto da loja não era muito relevante. As prateleiras estavam quebradas ou caídas, apenas duas se mantinham de pé. Não havia qualquer mantimento ali, tudo havia desaparecido com o tempo, ou estava escondido em algum lugar abaixo das estantes caídas. Sally não preocupou-se em procurar pois imaginava que tudo já deveria estar estragado.
Riley passou por ela sorrindo, indo até os fundos da loja e pegando uma bolsa grande e marrom. As duas ficaram sobre a luz que adentrava pelo buraco no telhado, se sentando naquela pequena área esverdeada para conversarem melhor. Colocaram seus casacos abaixo, utilizando eles para bloquear qualquer sujeito que pudesse ficar em suas calças.
── Trouxe umas coisas para você. ── Riley comentou, deixando a bolsa ao seu lado e abrindo zíper. ── Sei que seu aniversário é só daqui amanhã, mas acho que é legal começar com as surpresas agora.
── Você só tá fazendo isso porque tá ansiosa pra ver minha reação. ── Respondeu Sally, presunçosa. ── Não consegue guardar surpresas por muito tempo.
── Também, espertinha. ── Riley riu, depois de mostrar a língua para a mais nova. ── Mas não é apenas por isso.
Riley retirou de dentro da bolsa um arco e algumas flechas, entregando o objeto para Sally, que olhou para ele surpresa.
── Isso é pra gente treinar. ── Explicou a Adams mais velha. ── Como você não gosta de armas de fogo, pensei que seria uma boa tentar arco e flechas ao invés de apenas faças. São mais úteis para algo a distância, mas... Já é uma segurança a mais.
Sally observou os detalhes. O arco era feito de madeira e tinha alguns detalhes cravados nas duas pontas. Eram semelhantes a pétalas de rosas e seguiam como ondas, o desenho terminando do lado oposto, lembrando uma braçadeira. O objeto também e tá um pouco pesado, não parecia ter sido feito de qualquer forma.
── E onde vamos treinar? ── Perguntou, erguendo os olhos para Riley.
── Aqui fora mesmo. Quando tivermos tempo, podemos sair e acertar alguns infectados com uma dessas. ── Ela ergueu a flecha. ── Pode ficar tranquila que vamos fazer isso a distância, só pra você pegar o jeito mesmo.
Sally assentiu, voltando a examinar o arco com cautela. Percebendo o quanto estava encantada pelo presente.
── Vamos guardar ele em casa?
── Não, é um erro tentar levar isso pra casa. É grande demais, vai chamar muita atenção. ── Riley respondeu. ── Vamos deixar ele guardado aqui, escondido. Foi por isso que deixei a mochila nessa loja, acho que é um bom lugar pra deixar ele.
── Ok. ── Concordou Sally, deixando o objeto descansar em seu colo. ── E o que mais você trouxe?
── Ah, deixa eu ver. ── Riley se virou para a bolsa e começou a mexer. ── Trouxe um walkman novo pra você, pra você parar de roubar o meu. ── Tirando o objeto da bolsa, o entregou a Sally, que mostrou a língua para ela enquanto ria. ── Também peguei duas fitas. Uma do A-ha e outra da Ella Fitzgerald.
Os olhos de Sally brilharam, enquanto ela pegava as fitas na mão e observava os nomes escritos no objeto. As duas tinham as músicas favoritas de Sally gravadas, "Take on Me" e "Dream a Little".
Riley sabia o quanto Sally sentia falta de escuta-las, sempre cantalorando o instrumental pela casa. Riley tinha alguns fitas, mas a maioria eram de bandas que gostava e que conseguiu encontrar ou manter consigo em sua mochila desce o dia que toda a pandemia começou.
── Obrigada, Riley! ── Exclamou, envolvendo os braços em volta do pescoço da irmã e a abraçando. ── Eu amei tanto! Obrigado, obrigada, obrigada.
── Fico muito feliz por você ter gostado, Sal. ── Ela respondeu, rindo. A mais nova se afastou, ainda fascinada pelas fitas.
── Vai ser bom ouvir a música favorita da mamãe de novo. ── Disse ela, observando o objeto em suas mãos. ── Sinto falta de quando ela cantava essa música.
── Eu também.
Um momento de silêncio entre elas. Sally continuou observando a fita em suas mãos, girando a mesma algumas vezes. Até que finalmente parou.
── Sinto falta de casa, Riley. ── Comentou.
── Eu também. ── Respondeu Riley. ── Todo o dia.
── Queria voltar para New Haven, queria voltar para nossa casa, pra nossa família, pra nossa vida. ── Ela apertou a fita na mão.
── Infelizmente, não acho que isso pode acontecer, mas... ── Riley levou a mão até a bolsa e retirou um globo de neve. Isso atraiu a atenção de Sally. ── acho que posso trazer New Haven para um pouco mais perto de você.
A mais jovem pegou o objeto com cautela, depois de deixar as fitas e o walkman de lado. Ela segurou o globo como se fosse algo muito precioso, observando com olhos grandes o que havia dentro da bola de vidro.
Era o centro comercial de New Haven, os prédios enormes, as árvores que não tinham nenhuma folhas, apenas neve e uma fina camada de branca cobrindo a superfície. Quando balançada, a nerve falsa se movimentava e deixava flocos caindo em volta da cidade. Sally sorriu.
── Riley... ── Ela comecou a dizer, com a voz baixa. ── Como você conseguiu isso?
── Demorou pra caralho pra mim conseguir isso, você não imagina o quanto. ── Disse Riley. ── Mas Ben me ajudou e o Frank também. Ele foi muito legal, se desdobrou pra encontrar um globo de Nova York e transformar em um de New Haven. Até paguei ele a mais por isso.
── Foi muito legal da sua parte ter feito isso. Eu... Eu nem sei o que dizer. ── Sally soltou uma risada fraca, estupefata.
── Só "obrigada, melhor irmã do mundo" é o suficiente. ── Disse, sorrindo. Sally empurrou o ombro dela, brincando e as duas riram.
Depois disso, Riley guardou o arco e as flechas, deixando apenas o walkman e o globo com Sally, já que ela os levaria para casa. A mais nova deixou "Take on Me" do A-ha tocando, enquanto elas deitavam na grama e observavam o céu pelo buraco no teto. O tempo estava limpo, porém perto de escurecer.
O sol havia desaparecido e o azul claro estava começando a ser substituído por um tom mais escuro. Sally ficou observando o globo, movimentando o mesmo várias vezes para ver a neve flutuando dentro dele.
── Qual era a música favorita do papai? ── Perguntou, quebrando o momento de silêncio entre elas. ── Você se lembra?
── Hum, acho que era "Kiss From a Rose" do Seal e "Yesterday" dos Beatles. ── Riley respondeu, com as mãos atrás da cabeça, enquanto mantinha seus olhos nas nuvens no céu. ── Ele era muito fã dos Beatles. Gostava porque tinha um integrante com o mesmo nome que o dele.
── O John Lennon?
── É, ele mesmo. ── Respondeu sorrindo. ── Mas ele também gostava de músicas countrys, por causa do nosso avô. Ele tinha muitas fitas do Kenny Rogers, Dolly Parton e Johnny Cash.
── E a mamãe? ── Questionou a garota, agora olhando para a irmã. ── Sei qual era a música favorita dela, mas não os artistas.
── Diana Ross e Ella Fitzgerald. ── Disse a mais velha, ainda sem desviar seu olhar do céu. ── Elton John, ABBA e Fleetwood Mac também eram alguns que ela gostava, mas acho que a Ella Fitzgerald ganhava de todos esses para ela.
Sally riu, voltando a observar o globo, que agora estava parado em suas mãos.
Suas feições se suavisaram aos poucos e ela pensou em sua família, pensou em seus pais. As vezes ela gostava de pensar em como seria sua vida se eles ainda estivessem vivos, se nada de ruim tivesse acontecido. Se o câncer não tivesse levado Laurie embora, se John e Riley nunca tivessem brigado, se a pandemia não tivesse acontecido.
Ela gostava de fechar os olhos e imaginar sua vida de antes, o conforto e a tranquilidade que tinha inabalados. Nada de zonas de quarentena, nada de mortes e nada de perigo. Apenas sua velha e conhecida New Haven, sua casa em uma rua pacata e uma vida suburbana qualquer.
Então, Sally abria os olhos e enxergava. Enxergava que nada daquilo voltaria mais, que eram tempos passados, que New Haven não existia mais. Ela não tinha mais seus pais, seus amigos e a vida que conhecia. Isso a deixava assustada, até que finalmente olhasse para o lado e uma tranquilidade se preenchia seu ser.
Mesmo que não tivesse mais nada do antes, ela ainda tinha Riley. Sua irmã, sua melhor amiga, sua guardiã. Poderia não ter tudo que desejava, mas tinha sua única famíla. Tinha a única pessoa que faria de tudo por ela e isso era o suficiente para deixa-la feliz.
AUTHOR'S NOTE. 𓏲࣪ ☄︎˖ ࣪
⠀I. Crackship do capítulo feito pela incrível sweetinacai, todos os créditos a essa ícone por essa obra de arte, que me deixou apaixonada até agora.
⠀II. Finalmente um cap. que terminou fofinho, trazendo esse flashback das nossas irmãs favoritas e algumas referências musicais pq não podia deixar de fora KK. Espero que vocês tenham gostado!
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