𝟬𝟭 : DAYS GONE QUIET
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CAPÍTULO UM :
DIAS FICARAM QUIETOS
❝ at least it's all gone quiet for now ❞
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"Pisque e os anos caem como folhas. "
── A vida Invisível de Addie LaRue
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VERÃO⠀─ ⠀AGOSTO 29, 10:35
⠀⠀⠀Boston, Massachusetts
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O COPO DE WHISKEY BARATO está meio vazio e permanece sobre a mesa ao lado da cama desde a noite passada. Duas garrafas de cerveja estão jogadas pelo chão, esquecidas e viradas, manchando o carpete velho da casa, com mais alguns tons escuros da bebida viscosa que escorre em pequenas gotas. Quando Riley acorda, seus olhos piscam algumas vezes, tentando se acostumar com a luz da manhã que entra pela janela e atravessa as persianas.
Soltando um resmungo, Adams leva a mão ao rosto, conforme a dor de cabeça aumenta e ela precise fechar os olhos novamente para poder se concentrar, tentando massagear a testa para poder clarear a mente e afastar a névoa do sono que persiste em envolve-la. A esse ponto, Riley já deveria estar acostumada com a indisposição do dia seguinte. Acontecia com mais frequência do que ela poderia contar, ainda mais quando tinha uma noite agitada.
Acordar era sempre um sacrifício normalmente, mas, depois de uma noite de bebedeira com seus velhos amigos de pôquer, Riley sentia que havia sido atingida por um trem de carga. Qualquer mísero movimento a incomodava e fazia sua cabeça latejar, sem contar a vontade de vomitar que crescia a cada minuto deixando seu estômago revirado.
Ao sentar-se no sofá, ela respirou fundo algumas vezes e piscou os olhos até conseguir focar. Seus pés acabaram esbarrando nas garrafas abandonadas, a alertando de que os objetos estavam ali. Alcançando uma, Riley a levou até a boca apenas para se frustrar vendo que estava vazia. Bufando irritada, deixou a garrafa de lado e olhou para a mesinha ao lado da cama. Vendo o copo de whisky e em seguida os números sobre a tela, seu olhar se arregalou e Riley despertou totalmente.
O despertador não havia tocado e ela estava muito atrasada para receber o carregamento de armas que chegaria aquela manhã. Se algum dos guardas, que não fosse Lee, tivesse recebido, sabia que estava ferrada. Seria pior se a carga fosse roubada por algum espertinho de uma facção inimiga. Xingando enquanto levantava-se, ela retirou a blusa que usava para dormir e vestiu algo mais apropriado.
── Sally! Sally, acorda. Estamos atrasadas. ── Ela gritou, enquanto se movia pela casa. Riley calçou o sapato e colocou o relógio no pulso. Direcionando o olhar para a porta do quarto da irmã, ela franziu o cenho pela falta de resposta. ── Sally, hora de ir, porra. Não faz corpo mole agora. Estamos muito atrasadas.
Bufando e resmungando para si mesma, Riley revirou os olhos enquanto abotoa a calça jeans e caminha até o quarto de Sally. Sem bater, sua mão foi direto para a maçaneta, depois de colocar a faca escondida na cintura, abaixo da blusa branca com estampas que vestia.
── Sally, vamos. Hora de levantar- ── Riley parou de falar no meio da frase, quando percebeu que o quarto estava vazio. Seu olhar passou por todo o cômodo, sem qualquer vestígio de que a Adams mais nova estava ali.
Ela franziu o cenho, inspecionando o quarto. A cama de Sally estava feita e organizada como ela sempre fazia todas as manhãs. Havia os quadros na parede que Riley roubou de uma casa abandonada, o qual elas invadiram a algum tempo atrás. Os desenhos que Sally fazia agora ocupavam o lugar da fotografia de família que um dia havia ocupado aquele espaço na moldura. Imagens perfeitas do rosto de John e Laurie, Riley e de lugares que Sally se recordava.
O quarto dela, comparado com o de Riley, era apresentável e aconchegante. Aquela era a forma que Sally encontrou de buscar conforto, deixando aquela casa mais parecida com um lar. Sua irmã não via as coisas do mesmo jeito, Riley não dava importância para seu próprio bem estar a muito tempo e pensava que tudo era passageiro. Não havia motivos para arrumar seu quarto se não sentia que aquela era sua casa. Era mais cômodo deixar tudo como estava.
Aflita, Adams deixou a porta do quarto e partiu para fora de casa pegando a arma que deixava escondida debaixo da mesa e colocando no coldre que mantinha nas costas. Deixando o primeiro andar do prédio, ela desceu dois lances de escada e caminhou para a rua, enfrentando mais um dia ensolarado e abafado, com ruas movimentadas e o ar poluído lhe dando boas vindas.. Quando encontrou o lado de fora, olhou ao para os dois lados, percebendo as pessoas que caminhavam e conversavam, notando toda a movimentação. Seus olhos caíram para a mulher atrás da barraca de ração da FEDRA, do outro lado da rua. Riley caminhou até ela.
── Onde a Sally está? ── Questionou assim que parou em frente a barraca. Pearl Douglas levantou o olhar das frutas em direção a Riley, uma sobrancelha arqueada.
── Bom dia, Adams. Imagino que você tenha tido uma noite agradável. ── Debochou a mulher de pele escura. ── Se já está com tanta disposição, não deve ter bebido o suficiente para ficar em coma alcoólico.
── Eu não estou com humor para os seus afrontes, Pearl. ── Riley respondeu. ── Quero saber aonde a Sally está, você a viu?
── Por que eu deveria saber? Ela é sua irmã, sua responsabilidade. ── Retrucou Pearl, dando de ombros. ── Você já deixou isso claro milhares de vezes.
── Porque ela passa mais tempo com você, ouvindo suas histórias toscas, do que focada no trabalho. ── Retorquiu a Adams, ficando irritada. ── Enche a cabeça dela com fantasias, então eu imagino que você saiba onde a minha irmã está agora, já que é tão amiga dela. Então, vai me dizer onde a Sally está ou continuar fazendo esses joguinhos?
Pearl a encarou por um momento, sua expressão dura como pedra e Riley sabia que a mulher desejava xinga-la. Ela já esperava por isso, levando em conta que as duas não se davam bem a muito tempo. Porém, Douglas não disse nada, apenas continuou a arrumar suas frutas na bancada de madeira.
── Eu não sei onde a sua irmã está, Adams. ─ Respondeu, após um momento silencioso que Riley pensou que duraria mais. ── Mas ela passou por aqui mais cedo. Comprou uma maçã e me disse que estava indo para o trabalho, receber uma encomenda ou algo do tipo. Não tive tempo de perguntar o que era ou onde era.
── Porra. ── Riley xingou, passando a mão no rosto. ── Eu não acredito que ela fez isso. Não acredito que ela foi sozinha.
Pearl arqueou um sobrancelha, olhando de soslaio para Riley ao arrumar algumas maçãs que tinha sobre sua bancada. Seu olhar era poderia julga-la, pois Douglas tinha muito o que opinar sobre a Adams, porém ela se absteve naquele momento. Pelo menos por um tempo.
── Obrigada... Pela ajuda. ── Disse Riley, após respirar fundo. As palavras sairam um pouco frustradas, como se não desejasse dize-las.
Sem mais nenhuma palavra, ela se virou para sair.
── Adams. ── Pearl a chamou, fazendo com que parasse e olhasse para ela novamente. ── Precisa parar de tratar sua irmã como uma criança, Sally não tem mais 15 anos.
── Você-
── "Eu não tenho nada haver com isso", eu sei. ── Respondeu a mulher, cansada de ouvir a mesma resposta sempre. ── Já me disse isso várias vezes antes, não me esqueci. Mas ainda acho que precisa confiar mais na garota. Ela é uma adulta, não é mais sua responsabilidade.
Os olhos de Riley se estreitaram para ela.
── Ela sempre será minha responsabilidade. ── Ríspida, respondeu devagar, pontuando as palavras e as deixando claras para Pearl. ── Sally é minha irmã, eu sempre vou me preocupar com ela. Se você não tem uma família para fazer isso, o problema não é meu. Cuide da sua vida, Pearl. Passar bem.
Ao dar as costas para Pearl, não notou como a mulher lhe fuzilou com o olhar. Riley continuou andando pela rua, tentando evitar se sentir culpada pelo o que havia dito. Não sabia muito sobre a vida da Douglas, mas Sally já havia contado que ela era sozinha. Seu marido e filho não viviam mais com ela e Riley julgava que eles estavam mortos.
A maioria das pessoas na zona de quarentena não tinha mais suas famílias. Era difícil encontrar alguém que tivesse mais de dois parentes vivos agora. Aqueles que tinham, reconstruíram suas vidas nesses últimos 20 anos. Fazendo o possível para afastar as memórias daqueles que perderam, buscando se reestruturar e não deixar que o surto de um fungo fosse capaz de fazê-los parar de continuar. Mas também haviam aqueles que não conseguiram se desvencilhar do que aconteceu anos atrás.
Mesmo que já tivesse se passado tanto tempo, não era fácil afastar o que ocorreu naquela noite fatídica de setembro. Ainda mais quando tudo ao seu redor te lembra que o mundo colapsou, te lembra de que aquilo que você tinha não vai voltar mais. Nada nunca mais será como antes.
O que bastava para sobreviver nesse "novo mundo" era saber se adaptar, jogar com as cartas que tem e saber escolher bem seus aliados. Ou você ganha, ou perde. Não existia meio termo. Existia a realidade e um mundo que não estava mais ao favor de ninguém. Era por isso que Riley se preocupava tanto com Sally e era por isso que ela vivia da forma que vivia.
Nas zonas de quarentena existiam trabalhos que lhe rendiam cartões de racionamento. Cartões esses que lhe permitiam comprar as rações ── também conhecidas como os alimentos disponibilizados pela FEDRA. Nos últimos anos, a quantidade de comida começou a abaixar e eles tiveram que racionalizar, diminuindo assim o quanto cada um ganhava por qualquer trabalho feito.
A opressão também era constante, levando em conta que os guardas abusavam de sua autoridade para impor ordens contra alguns civis ou até mesmo agir com violência em certas ocasiões. Por conta disso, algumas pessoas começaram mobilizações clandestinas. Contrabando era o que mantinha muitos dos que viviam nas zonas de quarentena. Firmando acordo com guardas em troca do recebimento de armas, drogas ou qualquer coisa vinda do mundo exterior. Quando eles recebiam o que precisavam, passavam adiante mais cartões para os contrabandistas.
Algumas outras zonas também se envolviam e firmavam acordos que eram lucrativos para ambos os lados. Essa era a forma que tinham de obter qualquer coisa vinda do lado de fora, já que os civis estavam proibidos de deixar os locais em que estavam inseridos. Riley, assim como vários outros, era uma contrabandista. Esse era o seu trabalho e, as vezes, era o de Sally também.
Sally não tendia a ir para um trabalho sem Riley e nem sempre ela participava de algum recebimento com a irmã. Era por isso que a mais velha começou a se preocupar, pensando no que a levou a fazer algo tão imprudente sozinha. Em busca de respostas, Adams foi até um dos únicos guardas da FEDRA que estava inteirado sobre o carregamento que receberiam.
Riley encontrou Lee rápido. Seu posto tendia a ser sempre o mesmo pela manhã, perto da praça de execução. Não demorou muito para o olhar dele cruzar com o dela e a postura do homem mudar. Adams inclinou a cabeça levemente para o lado, indicando o beco ao seu lado e o homem assentiu discretamente.
Recebendo a confirmação que precisava, Riley entrou naquela viela e caminhou até o final dela. Levantou o olhar em busca de qualquer atirador da FEDRA nos telhados, olhou para trás para checar se não estava sendo seguida e continuou o seu caminho até ficar em frente a porta dos fundos de uma casa.
Minutos depois, Lee apareceu.
── Finalmente deu as caras, Adams. ── Foi a primeira coisa que ele disse ao se aproximar dela. Lee ficou de frente para Riley, que estava encostada em frente a uma lixeira perto de uma parede pixada com a famosa frase dos Vaga-lumes. ── Estava me perguntando quanto tempo demoraria para você aparecer.
── Se estava pensando nisso, com certeza esperava que eu aparecesse. O que significa que você sabe de algo que eu não sei. ── Constatou a Adams, cruzando os braços. ── E eu espero que tenha haver com a Sally, porque estou atrás dela.
── Imaginei que fosse estar. ── Segurando nas alças do colete que usava por cima do uniforme, Lee mexeu os ombros ao soltar um bufo fraco e desviar o olhar por um momento. ── Sua irmã arrumou um problemão, Adams.
── O que aconteceu? ── Riley perguntou, tentando se manter impassível e não demonstrar o quão preocupada estava.
── Ela foi receber a mercadoria no galpão com o Robert e o Gray, mas eu não sei que merda aconteceu depois disso que os Vaga-lumes e os malucos do Novo Mundo acabaram se envolvendo. ── Respondeu Lee. ── Eles começaram a brigar, o que atraiu a atenção da FEDRA. Metade do carregamento foi apreendido e a outra parte o Robert levou.
── E a minha irmã? Aonde ela tá?
── Isso é o que todo mundo quer saber agora, mas o Robert tá com ela em algum esconderijo dele. ── Disse ele, com escárnio. ── A FEDRA acha que a Sally tem alguma coisa haver com os Vaga-lumes, estão caçando ela por toda a parte.
── Se estão atrás dela mesmo, por que não vieram atrás de mim ainda?
── Não bateram na sua porta ainda porque essa confusão aconteceu agora a pouco,── Ele a respondeu. ── mas com certeza não vai demorar para descobrirem que você é irmã da suposta terrorista que estava contrabandeando armas para os rebeldes.
Umedecendo os lábios, Riley balançou a cabeça de um lado ao outro pensativa, desviando o olhar de Lee, ela observou a frase escrita com tinta na parede amarela, "Quando estiver perdido no escuro, procure a luz". Em seguida, seus olhos focaram nele novamente.
── Porque você deixou ela participar disso sem mim, Lee? ── Questionou, sua voz beirando a histeria e irritação agora. ── Porra, o trabalho era meu. Não deveria ter deixado ela entrar nessa sem mim.
── Ei, nós tínhamos um acordo. Eu aceitei ajudar você a receber o carregamento no galpão, liberei o acesso, levei seu pessoal até lá e recebi a minha parte. ── Lee apontou um dedo para ela enquanto falava, pontuando. ── Não me importava quem iria receber, apenas que alguém teria que receber. Não tenho nada haver com sua irmã e a incompetência dela.
── Meça suas palavras ao falar da minha irmã, Lee. ── Ela disse entredentes, em tom de ameaça. Riley cerrou os punhos ao lado do corpo.
── É? Se não você vai fazer o que, Adams? ── Ele a questionou, erguendo um pouco mais a arma que segurava. Os dois se encararam por um tempo e Riley pensou em dar uma boa resposta para ele, porém se conteve. Ela trincou o maxilar, buscando diminuir sua raiva e depois recuou. ── É, eu sabia que você era esperta.
Riley poderia facilmente mata-lo ali mesmo, mas sabia que não valia a pena ter a FEDRA em seu encalço agora. Ela tinha algo mais importante para fazer.
── Olha, eu só quero saber aonde a minha irmã está. ── Disse, agindo mais calmamente. Riley colocou as mãos nos bolsos de trás da calça. ── Eu não me importo mais com merda nenhuma, só com isso. Então se você, por favor, puder me ajudar... Eu agradeceria.
Lee a observou por um tempo, antes de finalmente suspirar cansadamente e olhar para algum ponto distante.
── Eu não faço a mínima ideia de onde o Robert está, Adams. ── Respondeu o homem. ── Mas sei que ele costuma trabalhar com uma velha conhecida sua. ── Riley franziu o cenho. Lee olhou para ela, arqueando uma sobrancelha. ── Tess.
Riley bateu na porta com força três vezes.
Sua paciência estava beirando o limite e não queria ter que esperar demais para alguém atende-la. Sua mente só pensava em Sally, no que poderia fazer para salva-la e em como acabaria com Robert no momento em que o homem aparecesse na sua frente. Pelo o que sabia, ele havia passado a perna neles. Ouviu alguns burburinhos no caminho até o apartamento de Joel e descobriu que Gray foi morto por ele no meio do tiroteio.
Outros falavam que havia sido pela FEDRA, outros pelos rebeldes, porém Riley apostava mais na possibilidades de ter sido realmente Robert. Como o trabalho seria em um lugar fechado, era difícil ter a influência direta de alguém além dos três que estavam lá para receber o carregamento. A briga dos rebeldes foi apenas um fator externo que repercutiu sobre eles.
Agora ele mantinha Sally presa em algum lugar, possivelmente tentando mante-la calada sobre o que aconteceu. Riley tentava evitar no que ele poderia estar fazendo com ela agora. Não gostava de imaginar coisas ruins acontecendo com sua irmã. Mas, se acontecesse, faria de tudo para faze-lo pagar por isso.
Enquanto esperava, ela apertou a alça da mochila mais fortemente. Havia passado em casa para buscar algumas coisas e teve que sair pelas escadas de incêndio, pois guardas da FEDRA estavam entrando no prédio.
A porta não demorou para ser aberta, porém para a Adams e sua impaciência parecia que havia se passado uma eternidade. Ela estava perto de bater novamente, quando ocorreu o barulho da porta sendo destrancada. Em questão de segundos, Riley estava frente a frente com ninguém menos que Joel Miller.
── Adams. ── Ele disse. Estranheza em seu tom de voz e sua testa franzida. Riley não tinha o costume de bater na porta dele, aquele era um acontecimento atípico. ── O que tá fazendo aqui?
── Precisamos conversar. ── Disse ela, ajeitando a alça da mochila sobre o ombro. Em seguida olhou para por cima do ombro dele, vendo Tess sentada na cadeira em frente a mesa de Joel e também olhando para ela com curiosidade. ── Na verdade, preciso conversar com ela.
── Nós estamos de saída agora, Adams. ── Tess respondeu, ficando de pé. Quando ela se aproximou da porta, Adams notou os hematomas nos rosto da mulher. ── O que quiser falar, vai precisar deixar para mais tarde. Não to com muito tempo agora.
── Eu vou ser rápida, só quero uma informação. ── Riley cruzou os braços. Joel foi para trás, deixando Tess tomar a frente, porém não se manteve longe da conversa. A porta continuou aberta e ela deu dois passos para frente, sem entrar totalmente. ── Sabe onde o Robert está?
── Por que quer saber? ── A mulher a questionou, intrigada.
── Porque eu quero mata-lo. ── Respondeu com neutralidade.
── Ha, acho melhor entrar na fila, querida. ── Comentou Joel, soltando uma risada rouca fraca, enquanto se inclinava contra a mesa e segurava a beirada dela. ── Você não é a única que quer ver aquele desgraçado morto.
Ponderando sobre as palavras dele, Riley olhou novamente para Tess, algo clicando em sua mente.
── Foi ele que fez isso com você? ── Apontou para os ferimentos no rosto dela.
── Os homens dele na verdade. Robert vendeu uma bateria de carro que seria minha pra outra pessoa, sem avisar e sem devolver meus cartões. ── Disse Tess, passando a mão sobre o rosto levemente, antes de abrir mais a porta e convidar Riley para entrar. ── Vem, entra. Sai da porta. Vamos conversar melhor aqui dentro.
Fazendo o que ela pediu, Riley adentrou no apartamento de Joel enquanto Tess fechava a porta. Ela olhou brevemente para o lugar, percebendo as diferenças que tinha com o dela. Aquela era a sua segunda vez na casa dele e a primeira que havia realmente entrado.
Riley chegou a estar na porta dele antes, apenas uma vez. Depois disso seus encontros acabaram ocorrendo em outros lugares, como em frente ao prédio dela ou quando acabavam sendo escalados juntos para um trabalho. Fosse algum trabalho comum na zona de quarentena, como o mais recorrente de queimar corpos mortos de infectados, ou fosse em algum trabalho de contrabando que acabava os interessando.
── Então você foi confrontar o Robert sobre isso e os homens dele pegaram você, foi isso? ── Perguntou a Adams, enquanto Tess puxava uma cadeira para se sentar.
── Sim, foi exatamente isso. E você? Qual é o seu problema com o Robert? ── Tess perguntou, assim que os três estavam com mais privacidade. ── Ele roubou alguma coisa de você também?
── Mais ou menos isso. ── Assentiu. ── Ele sequestrou a minha irmã e roubou parte do meu carregamento de armas.
── Espera, ele sequestrou a Sally? ── Foi a vez de Joel perguntar. Riley confirmou com um aceno de cabeça. ── Por que ele fez isso?
── Porque ele é um escroto ── Ela respondeu. Em seguida levou a mão ao pescoço, massageando a área. ── e sabia que eu ia atrás dele no momento que me passasse a perna. Tenho certeza que o merdinha ficou pensando nisso a semanas.
── E como sequestrar a Sally ameniza as coisas para o lado dele? ── Tess perguntou. ── Isso só não iria te deixar mais irritada?
── É, com certeza. Mas não vou fazer nada impensado enquanto ele estiver com a Sally. ── Disse ela, erguendo o olhar para a mulher. ── Ele sabe que vou agir com cautela, porque a segurança da minha irmã vem em primeiro lugar.
── E ele pode ter a chance de firmar um acordo em troca da segurança dela. ── Completou Joel, fazendo Riley assentir em concordância. ── Filho da puta.
── Pois é, ele realmente pensou em tudo. ── Comentou Tess. ── Mas como exatamente isso aconteceu? Quer dizer, você não deixou ele roubar sua mercadoria e sua irmã na sua frente né? Você não é de dar bobeira.
Riley suspirou, desviando o olhar. De braços cruzados, ela focou em um ponto aleatório na cozinha de Joel.
── Eu não fui receber o carregamento, na verdade. ── Respondeu, desconfortável. Era complicado dizer aquilo em voz alta. ── Sally foi sozinha.
── Você deixou a garota ir sozinha? ── Joel a questionou, parecendo indignado. Ele a julgava e Riley odiava isso. A fazia se sentir mais culpada por toda a situação, mesmo que fosse algo que não tivesse controle.
── Se você fez, foi burrice. ── Tess disse. ── Sem querer ofender, mas... Sua irmã é pacifista demais pra toda essa merda. Nem sei como ela continua trabalhando junto contigo.
── Não, eu não deixei ela ir sozinha. ── Falou, olhando diretamente para Joel. ── Ela foi enquanto eu dormia, não me acordou. ── Em seguida, olhou para Tess. ── E a Sally não é pacifista, ela apenas não usa armas de fogo. Ela ainda usa armas brancas pra se defender.
── O que hoje em dia não serve pra porra nenhuma. ── Retrucou Tess. ── Antes dela sacar uma faca, atirariam nela 20 vezes.
── Tess ── Joel a advertiu.
── Obrigada pela sua preocupação, Tess. Mas isso não vem ao caso agora. ── Riley respondeu, ficando irritada. ── Eu preciso encontrar a Sally o quanto antes. A FEDRA tá atrás dela e não vai demorar pra estar atrás de mim também.
── E o que você vai fazer depois que encontrar ela? ── Joel perguntou, cruzando os braços. Seu olhar sempre irritado perfurando Riley, a julgando como sempre fazia. ── Se eles estão atrás dela agora, vão continuar depois disso também.
── Eu não sei o que vou fazer, mas com certeza não vai ser continuar aqui. ── Disse. ── Nem que eu tenha que morrer tentando, vou sair desse inferno de lugar. Estou cansada dessa merda de zona de quarentena e vou levar minha irmã comigo, mas pra isso eu preciso encontrar ela primeiro.
Joel e Tess se entreolharam, pensando sobre o que fazer e ponderando sobre as palavras de Riley. Era um plano imprudente, ela sabia disso, mas faria de tudo para resgatar sua irmã em segurança e partir daquela zona de quarentena.
Riley já tinha esse plano em mente a algum tempo, ela pensava nisso com mais frequência do que gostaria de admitir. Também já havia compartilhado essa ideia com Sally uma vez e a garota havia concordado, mas não achava que elas conseguiriam sair de Boston tão cedo. Já estavam ali a tanto tempo, Riley deveria estar acostumado com o lugar, porém isso nunca aconteceu.
Enquanto trabalhava, sempre imaginou finalmente deixar os portões daquele lugar opressor. Sabia que não seria fácil encontrar um lugar melhor ── levando em conta que o lado de fora estava infestado de infectados ── mas, de qualquer maneira, ela queria ir embora. E tinha uma ideia de como conseguir isso, porém precisaria de tempo.
── Então, ── chamou a atenção deles. ── vocês vão me dizer onde o Robert está ou terei que descobrir sozinha?
Tess suspirou e em seguida assentiu.
── Que tal você vir com a gente atrás do Robert? ── Perguntou a mulher. Pela forma que Joel suspirou e balançou a cabeça, Riley percebeu que ele não era totalmente a favor dessa ideia, mas também não seria contra. ── Já que nós três temos assuntos pendentes para resolver com ele, nada melhor do que nos juntarmos pra isso.
── É, não me parece uma má ideia. ── Riley deu de ombros, após ponderar sobre a oferta. Ela não se considerava próxima dos dois, mas tinha plena convicção de que eram minimamente confiáveis. ── Eu aceito acompanhar vocês.
── Eu só espero que você realmente não faça nada impensado, Riley. ── Advertiu Joel. ── Sei que é vida da sua irmã em risco, mas isso não te dá o direito de ser imprudente.
── Eu não sou criança, Joel. ── Retrucou ela, ríspida. ── Sei me cuidar. Você não precisa se preocupar com isso.
── Espero mesmo. ── Miller passou por Tess para ir até a porta. Riley estreitou os olhos para ele, enquanto o mesmo passava, o fuzilando com os olhos. Não era anormal Joel ser tão desconfiado, mas isso ainda a irritava.
── Não liga pra ele, tá sempre de mau humor. ── Disse Tess, também indo até a saída da casa, Riley a seguiu.
── Para onde vamos? ── Adams perguntou, decidindo mudar de assunto, não desejando prolongar por mais tempo aquela tensão. ── Aonde o Robert está?
── Bom, essa é a parte engraçada, a genta ainda não sabe. ── Tess respondeu, enquanto segurava a porta aberta para Riley passar. ── Mas vamos descobrir.
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