EPILOGUE ⋆ THE LIGHT

PRELÚDIO : DIÁRIO 8

Finais são sempre difíceis. Você nunca quer que algo acabe. Eu não queria que algo valioso que eu tinha chegasse ao fim... Mas aconteceu. Nada dura pra sempre e não temos como prever quando o fim está próximo.

No começo, quando escrevi nesse diário a primeira vez, eu terminei dizendo que talvez, assim eu consiga me perdoar.

Eu ainda me culpo. Muito. Em alguns dias mais do que outros. Mas... Continuo vivendo. Continuo tentando por eles.

Estou a 2 anos sóbria e frequentando o grupo de apoio de Maria. Tem sido bom. Uma boa experiência e acho que fiz bastante progresso.

Joel, Ellie e eu moramos na casa em frente ao Tommy. Ele consertou a maior parte do lugar. Todo dia inventa uma mudança diferente e Tommy sempre o acompanha. O ajuda pintar as paredes e a portas, trocar janelas, etc. Já desisti de tentar reclamar.

Toda vez que volto de uma patrulha que ele não foi, algo está fora do lugar. Essa é a forma que Joel encontrou de ocupar seu tempo. Queria que a Sally tivesse a chance de ver a gente agora. Acho que ela ia gostar e rir bastante também.

Espero que, aonde quer que ela está agora, esteja orgulhosa.

Estamos seguindo em frente da nossa forma. Fazendo os dias que se seguiram valer a pena. Eu gosto da minha vida agora, gosto da simplicidade que ela tem.

Eu não me perdoei, mas... Sinto que estou cada dia mais perto disso.

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EPÍLOGO : A LUZ
and I will leave a light on

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"Em duas palavras, posso resumir
tudo o que aprendi sobre a
vida: ela continua."
── Robert Frost







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2 ANOS DEPOIS.
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PRIMAVERA⠀─ ⠀ MARÇO 13, 11:40
⠀ ⠀⠀ ⠀⠀ Jackson, Wyoming
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VENTOS FORTES balançam as árvores do lado de fora durante a manhã. O sol brilhava intensamente no céu, os feixes de luz atravessavam as nuvens, refletiam sobre as frestas das cortinas e as vidraças, banhando a casa com uma luz etérea.

Ao soar da chaleira, Riley desperta de seus pensamentos, desviando o olhar do ponto aleatória que observava pela janela da cozinha. Seus olhos piscaram algumas vezes, desfazendo-se da névoa que rodeou sua mente durante alguns minutos. Ela desliga o fogo e enche sua caneca com a água quente, onde há o pequeno saquinho de chá de camomila.

Deixando a chaleira sobre o fogão novamente, segurou a caneca de porcelana pela alça e assoprou sobre ela para esfriar um pouco a bebida. Uma camada fina de fumaça se esvai do conteúdo, enquanto ela escuta algumas risadas vindo do lado de fora e bebe um pouco da bebida, sentindo seu estômago aquecer instantaneamente.

Riley observa a cozinha, o almoço pronto sobre o fogão e a mesa posta minutos atrás, quando Joel ainda estava dentro da casa. Pensa que aquele é um bom momento para chamá-los para entrar. Caminha daquele cômodo até o corredor, passando pelos quadros e retratos de família na parede pintada de verde oliva. Fotos antigas de Joel, Tommy e Sarah que o Miller mais novo havia guardado consigo quando deixou Boston e depois entregou para Joel assim que eles se mudaram 2 anos atrás.

Também havia algumas polaroids encontradas na mochila de Sally, tiradas por ela durante a viagem que fizeram. A maioria eram fotos de paisagem, mas também havia algumas de Ellie, Joel e Riley que Sally tirou quando eles não estavam olhando. Além dessas, poderiam encontrar as mais recentes, tiradas em Jackson. Uma de Ellie e Joel no jardim, outra de todos reunidos em um jantar na casa de Tommy e Sebastian. Riley e Ellie fazendo um boneco de neve que teve seu nariz de cenoura comido pelo cachorro da família, Vicky.

A última era uma de Joel e Riley juntos, bem próximos um do outro. Ele mantinha o braço em volta dela, porém a foto não mostrava direito essa parte. Adams estava distraído, olhando para longe, porém Miller olhou diretamente para a câmera no momento em que Ellie tirou a foto, perdendo a chance de pegá-los desprevenidos. Todas aquelas fotos estavam presas por tachas no quadro de avisos pendurado na parede.

Desde que se mudaram para aquela casa, houveram várias pequenas reformas e mudanças. Riley ajudou em algumas, porém Joel era sempre imprevisível. Ela sempre tinha uma surpresa quando voltava para casa depois de algumas horas ocupada pela cidade. Descobria um novo móvel ou algum conserto mínimo que ele fazia, alguma mudança em algum cômodo da casa ou um entalhe de madeira novo na estante perto da entrada.

Durante aqueles anos, Riley descobriu que Joel era muito bom com carpintaria. Um dos quartos vagos no andar de cima tornou-se a própria área de trabalho do homem, onde havia uma mesa com suas ferramentas, livros sobre cavalos e esculturas de madeira que ele recém havia feito. Algumas noites ela passava sentada no sofá do quarto, observando Joel trabalhar, enquanto lia algum livro e Ellie estava dormindo profundamente em seu quarto. Eles escutavam música no velho toca discos e ficavam em silêncio, apenas aproveitando a companhia um do outro até que estivessem cansados o suficiente para deitar.

Riley nunca se imaginou caindo em uma rotina como aquela, muito menos vivendo pequenos momentos como aquele. Foi difícil aceitar a normalidade nos primeiros meses, aceitar que agora tinha uma vida tranquila. Havia passado por altos e baixos, principalmente quando decidiu largar a bebida. Riley chegou ao seu pior estado após perder a irmã. Seu humor se tornou volátil, sua mente estava em um péssimo estado e ela passou muito tempo tentando afastar todo mundo. Joel nunca deixou que isso acontecesse. Ele ficou, do jeito que disse que faria, e os dois fizeram tudo funcionar.

Ela aceitou a reabilitação e com a ajuda de Maria, passou a ocupar sua mente com afazeres pela cidade. Nada era perfeito, mas Riley estava aprendendo a dar um passo de cada vez e a não se cobrar tanto. Muitas vezes precisava se lembrar que não estava mais na zona de quarentena ou lutando por sua vida em uma alguma cidade abandonada. Os infectados estavam além dos muros de Jackson e não precisavam mais se preocupar com sobreviver. Tanto ela quanto Joel tinham seus momentos ruins. Não era fácil se livrar de velhos hábitos, muito menos deixá-los morrer.

Riley ainda pensa na irmã com frequência, Sally está sempre em sua mente, mas não é mais como antes. Quando ela vem a sua mente, as vezes é quando Riley está ouvindo alguma música, cuidando do jardim com Ellie ou observando a garota brincar com Vicky. As vezes, é como se Sally nunca estivesse partido de verdade. Ela está nas árvores, está na brisa, no canto dos pássaros. É uma presença constante na vida de Riley e nunca deseja esquece-la.

Após sua pequena inspeção no corredor, que encheu sua mente sobre pensamentos relacionados aos últimos 2 anos, Riley andou até a sala, onde colocou um disco para tocar na vitrola que ficava na próximo da janela. Os primeiros acordes de "Dream A Little Dream Of Me" começou a tocar, fazendo ela sorrir.

O disco de Ella Fitzgerald havia sido um presente de Joel para ela 1 ano atrás. Riley havia perdido a conta das vezes que o escutou enquanto fazia algo pela casa. Chegou a pegar Ellie cantarolando a música várias vezes também.

As risadas que antes eram distantes, agora estavam nítidas quando saiu pela porta e pôde observar das escadas enquanto Ellie jogava o frisbee vermelho longe para que Vicky pudesse pegar. A vira-lata preta com manchas brancas corria animadamente pela grama, indo atrás do objeto que agora estava nas mãos de Joel. Antes que ela o alcançasse, ele lançava o frisbee para Ellie novamente e os dois se divertiam vendo Vicky correr mais uma vez.

── Ei, o almoço está esfriando ── Riley exclamou, apoiando-se no guarda-corpo de madeira. Os dois voltaram-se para ela. ── E, se bem me lembro, pedi para você vir chamá-la para comer, Joel Miller.

── Joel Miller. Você está encrencado cara ── Ellie comentou em um tom que só Joel conseguiu ouvir. A atenção da garota havia se voltado para Vicky e ela sacudia o frisbee acima da cachorra que tentava alcançá-la.

Vicky era grande e espaçosa, quase tinha o tamanho de Ellie, que agora estava com 16 anos e havia crescido consideravelmente.

── Nós já estávamos indo ── Joel respondeu com um sorriso nos lábios. Riley ergueu uma sobrancelha para ele, observando-o caminhar na direção dela.

── Sério? Não parecia.

── E ainda temos que esperar o Tommy e o Sebastian. ── Ele continuou. ── Almoço em família, esqueceu?

── Não esqueci, ── Riley se virou, ainda apoiada no guarda-corpo, porém agora estava na direção de Joel, que subiu os lances de escada para ficar de frente para ela ── mas eu sei como vocês gostam de enrolar e a casa dos dois é bem ali na frente. Além disso, a Ellie precisa tomar um banho porque deve estar fedendo pra caramba depois de ficar correndo para todos os lados com a Vicky, bancando a Dora, Aventureira.

── Eu não tô fedendo ── Retrucou Ellie, defendendo a si mesma. Ela puxou a camisa abaixo do sovaco e cheirou, fazendo uma careta em seguida. ── Ok, talvez eu esteja fedendo um pouquinho. "Pra caramba" já é exagero.

Riley a sobrancelha mais uma vez e mexeu os ombros como se dissesse "viu?". Joel riu fracamente. Ela deixou a caneca meio vazia de chá sobre a superfície de madeira.

── Já pro banho, garota. ── Riley estendeu o braço na direção da porta.

── Estou indo, sargento ── Ellie fez uma falsa continência ao chegar perto das escadas, Vicky a seguiu abanando o rabo. Naquele momento, Sebastian abriu a porta de casa e saiu junto com Tommy. ── Olha só, Tommy e Sebastian estão vindo.

── Já era hora ── Comentou Joel.

── Desculpa a demora, Sebs se atrasou para voltar da patrulha ── Tommy comentou, chegando no gramado ao entorno da casa.

── Tivemos uma reunião de última hora. ── Reeves adicionou com sua voz grave e sotaque britânico acentuado. Ele segurava uma tigela laranja com alguma sobremesa dentro que Riley ainda não havia reconhecido.

── Problemas? ── Questionou Riley, apresentando certa seriedade.

── Nada demais, apenas algumas pequenas reclamações de alguns moradores, como sempre ── Sebastian respondeu em tom de desdém. ── Algumas pessoas não sabem ser civilizadas e outras são só um bando de idiotas.

── Eu não sei como você e a Maria aguentam ── A mulher comentou.

── Ela se esforça muito pra ser a voz da razão e eu... bem, eu só idealizo todo mundo morrendo lenta e dolorosamente. ── Disse Sebastian. ── Me trás paz de espírito.

── Nossa, muito saudável ── Joel respondeu de forma irônica, em um resmungo, os outros riram.

Ele e Sebastian haviam se aproximado com o tempo. Não eram melhores amigos, mas agora conseguiam ter conversas mais longas, achavam pontos em comum. Reeves também estava mais aberto a se aproximar das outras pessoas, tendo criado confiança em Riley e às vezes os dois passavam um tempo juntos comentando sobre a cidade ou sobre como era viver com os irmãos Miller.

── Bom, vamos almoçar? Eu to morrendo de fome ── Tommy bateu as mãos juntas e depois sorriu largamente ── E tenho certeza que minha sobrinha também.

Instintivamente, Riley desceu a mão até sua barriga redonda por conta dos 5 meses de gravidez e a acariciou. Não estava tão grande, as roupas largas que ela vestia tinham o costume de esconder, mas não era um segredo para ninguém.

Aceitar aquela notícia foi difícil, ainda mais para ela que havia passado por um aborto anos atrás. Riley e Joel conversaram e discutiram muito, passando por uma fase complicada. Mesmo assim, mesmo com a incerteza do futuro, ele garantiu a cada minuto que estaria ao lado dela e que eles passariam por isso juntos. Não importava o que acontecesse.

── Até que estamos bem ── Riley respondeu, erguendo o olhar do inchaço em sua barriga e encarando Tommy. ── Eu tomei um chá agora a pouco.

── E não é sobrinha, é sobrinho. ── Ellie se intrometeu, corrigindo Tommy. ── Acostume-se com isso.

Ele riu.

── Você está doida, garota. Tenho certeza que é menina ── O Miller retrucou. ── Tem que aceitar isso logo. Vai perder feio nessa.

── Não, é você quem vai perder. Eu tenho 100% de certeza de que é menino ── Insistiu Ellie. ── Está escrito no livro. Quando o bebê chuta demais é porque vai ser menino.

Joel havia arranjado muitos livros sobre gravidez desde que descobriu a notícia. Alguns eles acharam durante a patrulha, outros foram emprestados de vizinhos ou de Maria, que havia ganhado o bebê a 7 meses atrás.

Ellie decidiu que também queria se inteirar sobre o assunto, pegando alguns dos livros para ler ou para fazer alguns comentários desagradáveis sobre como a gravidez era estranha.

── Isso é superstição. Você parece um velho em crise da meia idade, nem o Joel é assim── Tommy acenou com a mão em um puro sinal de desdém. Ele se voltou para Riley e o irmão ── Dá pra acreditar nessa garota?

Joel e Riley riram, Sebastian bufou cruzando os braços e balançando a cabeça de um lado ao outro, enquanto os três estavam observando a discussão infantil dos dois.

── O que realmente importa é que esse bebê venha com saúde, vamos amá-lo de qualquer forma ── Disse Riley, tentando apaziguar a discussão.

── Isso pode não importar pra vocês, mas pra mim importa. Eu apostei sério nisso e me recuso a ter que limpar os estábulos ── Williams retrucou.

── Espera ai, vocês dois apostaram sobre o sexo do bebê? ── Indagou Joel, olhando de um para o outro enquanto eles estavam nas escadas.

── Claro, achou mesmo que eu estava discutindo sobre isso atoa? ── Tommy retrucou.

── Eu falei pra ele não fazer isso, mas Tommy nunca me escuta ── Sebastian comentou, subindo e caminhando em direção a porta. Ele abriu e entrou dentro da casa, indo para a cozinha guardar a sobremesa.

── Não acredito que vocês fizeram isso. ── Riley cruzou os braços.

── O que você apostou? ── Joel perguntou a Ellie. ── Você limpa os estábulos se perder, mas o que consegue se ganhar?

── Tommy vai me levar para a patrulha. ── Ela respondeu.

── Sem chance ── Riley disse.

── Não mesmo ── Joel falou ao mesmo tempo.

── Meio tarde pra vocês reclamarem, isso já está apostado e o tio Tommy aqui concordou totalmente com os termos ── Ellie deu um tapinha no ombro do Miller mais novo e saiu antes que os dois pudessem fazer mais reclamações.

Ela abriu a porta de casa e entrou correndo, Vicky a seguiu como a boa garota que era. As duas subiram para o andar de cima.

── Tommy ── Com as mãos na cintura e de forma autoritária, Joel chamou a atenção do irmão, soando nada contente. Tommy ergueu as mãos como se estivesse se rendendo.

── Não é culpa minha, ── ele começou a andar de costas até a porta ── ela insistiu muito. Essa garota é muito convincente. O que posso fazer? Ela é mesmo filha de vocês.

Tommy entrou na casa, deixando os dois para trás. A porta bateu ruidosamente quando ele sumiu dentro da residência, indo de encontro a Sebastian na cozinha.

── Eu não acredito nisso ── Riley comentou, ainda chocada.

── Ele é mais inconsequente do que uma criança de 15 anos. ── Disse Joel, ficando ao lado de Riley. ── Não sei qual dos dois é pior.

Ela riu fracamente, bebendo o restante do chá e o deixando descansar sobre a madeira polida mais uma vez. Os dois ficaram lado a lado em frente ao guarda-corpo, observando a grama da casa e a rua vazia. Riley apoiou os antebraços na superfície, Joel manteve apenas as mãos no espaço vago ao lado direito dela.

── Pelo menos a gente não precisa realmente se preocupar com isso ── Riley disse, erguendo seus grandes olhos claros para Joel, um sorriso ladino desejando crescer em seus lábios. ── Sabemos que ela não vai ganhar essa.

Joel concordou e riu baixinho juntos com ela.
Fazia algumas noites que os dois, impacientes demais para esperar, abriram o envelope que continha o resultado da ultra ── havia apenas um médico em Jackson e uma única máquina de ultra sonografia que já tinha visto dias melhores, mas que por sorte ainda funcionava.

Eles haviam escondido dentro da escrivaninha no quarto que Joel usava como sua área de trabalho e o mantiveram trancado. Haviam decidido que iam deixar a descoberta do sexo do bebê como uma surpresa, mas nenhum dos dois aguentou. Ficaram inquietos 1 semana atrás, acordados demais para descansar e pensando em milhares de nomes para o bebê e várias outras possibilidades.

Aproveitaram que Ellie estava dormindo e andaram nas pontas dos pés até o quarto, onde encontraram a resposta que aquietou todas as suas dúvidas. Foi um acordo mútuo que não contariam para ninguém sobre isso, deixando que seus familiares pudessem ficar tentando adivinhar. De qualquer forma, era algo divertido de se observar.

Ao cessar das risadas, os dois aproveitaram a companhia um do outro em um silêncio confortável, apenas escutando os sons ambientes e a leve movimentação dentro da casa. O olhar de Joel vaga pelas casas próximas, pela vista simplista que eles têm. Não é nada como um rancho, mas é... aconchegante. Ele pensa muito sobre a casa fora Jackson, em uma pequena fazenda que ele avistou durante as patrulhas. Parecia ser um bom lugar para viver, mas ele ainda não tinha certeza sobre isso. Gostava de como a vida deles estava.

Seu olhar recai sobre a mulher ao seu lado e ele a observa atentamente. Nota cada detalhe dela que tem a chance de admirar. Percebe as mudanças que a gravidez trouxe, mas também algo que era uma constante na vida de Joel.

Ele ama ela. Disso ele tem certeza.

Ele adora a risada dela; aquele som agudo e repentino; a risada cínica que sempre sai rápido demais, como se tivesse sido arrancada dela. Ele adora seu sorriso rápido e confiante. Ele ama sua resiliência, sua coragem e até mesmo sua impulsividade.

Ele nunca conheceu ninguém como ela. Ela o aterroriza, e ele a ama tanto que dói.
Joel ama cada detalhe dela, mas acima de tudo ama a família que os dois construíram juntos. A vida boa que eles conseguiram estabelecer e a paz e a plenitude que vem disso. Não trocaria isso por nada nesse mundo.

Em determinado momento, Riley nota que ele a está observando. Seus olhares se encontraram, as sobrancelhas dela se erguem em curiosidade, com certeza notando o sorriso e olhar bobo que está no rosto dele.

── O que foi, cowboy? ── Ela pergunta, aquecendo algo dele com aquele apelido que Joel já não esconde mais que ama.

── Nada. Só pensando em como eu tenho muita sorte de ter você ── Ele sorri de lado, um braço envolvendo a cintura de Riley e a puxando para perto. Ela se aconchega perto do peito dele, contente, enquanto a mão de Joel acaricia sua barriga suavemente e gentilmente. Um contato sutil com sua filha, algo que ele adorava fazer. Algumas vezes, ele também cantava músicas no violão para as duas. ── E ela também. Sadie vai ter muita sorte de ter você como mãe.

Não passou despercebido por ele a forma como as bochechas dela coram levemente. Um vento passa por eles, levantando algumas folhas sobre o jardim e bagunçando alguns fios de cabelo dela, escondendo parte de seu rosto até que Riley retire-os com a mão.

O cabelo dela está maior agora, passa do ombro. Riley o trança algumas vezes, assim como costuma fazer nos de Ellie. Joel as observa algumas vezes, estudando-as com cuidado. Gosta de gravar esse momentos em suas mentes, eterniza-los em sua memória.

── Você não é o único sortudo aqui, senhor Miller. ── Riley comenta. A outra mão de Joel vai de encontro a dela, segurando-a e acariciando.

── Mas eu acho que sou o mais sortudo, senhora Miller. ── Responde ele, passando o polegar sobre a aliança no dedo anelar dela e sorrindo quando Riley se inclina para beijá-lo.

Ao som suave da música soando dentro da casa, os dois estão envolvidos um no outro naquele momento. Não há mais lutas ou dor. Os riscos, mesmo distantes, ainda existem. O mundo não mudou, talvez nunca mude, mas isso já não importa mais. Pelo menos ali, dentro do lugar seguro que eles criaram, não precisam se preocupar com mais nada.

Haviam em fim encontrado a luz. O lugar para
onde correr quando estivessem perdidos na
escuridão, o lar que buscavam a muito tempo.
Casa não necessariamente deveria significar um
lugar, mas sim para onde correr quando o peso
do mundo se tornasse demais para carregar
sozinho. E Riley sabia que sempre estaria em
casa enquanto estivessem juntos.

Alguns finais não eram tão ruins, afinal. Ela
enfim entendeu e aceitou isso. Eles também
significavam novos começos.

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