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Cᥲρɩ́tᥙꙆo 11:
Des conhecidos...
E algumas palavras sobre Deus.

· † ·

　　Era impossível viver em um só dia de completa paz?

Era uma tarde ensolarada quando Christopher saiu de casa, determinado a encontrar um pouco de paz em seu dia. Ele ainda não conseguia acreditar no que havia acontecido na noite anterior. Changbin havia confessado a ele que o homem misterioso que apareceu em sua porta dias atrás era Han Jisung, o seu antigo colega de catequese e ex melhor amigo de Seo Changbin, tudo pareceu estranho demais para o australiano, que tentou entender o do porque diabos não havia o reconhecido. Essa revelação levou um tempo para ser processada, Christopher odiava não entender o porque que Jisung, há anos atrás havia se interessado logo em uma pessoa sem graça e invisível como ele.

Bang, aos seus olhos não tinha qualidades e nem ao menos se achava bonito o bastante para entender que não apenas tinha alguém interessado em si, mas que ele também era obcecado pela a sua imagem. Era surreal demais para ele compreender.

O australiano não entendia por que era tão importante para Changbin impedir que ele se encontrasse com o antigo (des) conhecido. Ele não tinha nenhum interesse ou envolvimento passado com Jisung, então qual era o problema? Sentindo-se manipulado, Christopher se viu envolvido em uma discussão um tanto quanto acalorada com Changbin, que terminou com o coreano o empurrando contra a parede.

Naquele momento, o Bang Chan sentiu uma mistura de raiva, frustração e tristeza. Ele não esperava que a situação tomasse tal rumo e instantaneamente se culpou por sua própria parte na discussão, mas pensou, usou a sua cabeça para perceber que ele em momento algum errou, não era a sua culpa, todos aqueles problemas e principalmente Han Jisung foram empurrados para a sua vida sem aviso prévio algum, não era como se ele gostasse de ter uma dúzia de problemas batendo em sua porta e explicou para Seo tal fato, que assim que entrou na cabeça do coreano, lhe deu uma horrível sensação de culpa ao começar uma briga com o mais velho, Seo infelizmente perdia a cabeça facilmente e bem, Christopher Bang sabia que Jisung tinha o poder de mexer com o psicológico de Changbin e isso o preocupava profundamente.

O australiano agora estava sentado no sofá da pequena biblioteca da igreja, era um domingo ensolarado, o cenário perfeito para a tão aguardada festa de aniversário das crianças que viviam no orfanato cristão e mesmo que acontecendo todos os meses, para comemorar o aniversários daquele mês, Christopher estava muito bem arrumado e aquela simples camisa social rosa pêssego combinava com a sua pulseira artesanal lilás que Haerin havia feito para ele há meses atrás.

Assim que o Padre Simon entrou na biblioteca Christopher o cumprimentou e ambos se sentaram de forma confortável, afinal, era uma conversa pessoal demais para ser discutida tão apressadamente. Era um pouco estranho estar na presença de um padre que no qual o australiano não conhecia muito bem, mas infelizmente o antigo padre Judah, estava velho demais para retomar as atividades da igreja. O australiano suspirou baixo e começou a contar tudo que o frustrava para o Padre, que atentamente o ouvia, era muita coisa, mas só de desabafar sobre os seus problemas ele se sentia mais leve.

━ Padre Simon, por favor, me ajude a entender melhor. - Christopher olhou para o padre Simon, sentindo-se um pouco mais tranquilo com a presença reconfortante do religioso ao seu lado. Ele respirou fundo e tentou relaxar seu corpo tenso. ━ Eu sempre pensei que a mentira era algo terrível, mas ela fez parte de mim por tanto tempo que eu nem ao menos sei bem como me livrar dela. - Observou-o com atenção antes de terminar o seu desabafo. ━ Eu mesmo não sei como me libertar disso, do homem que eu acho que tenho sentimentos, da desaprovação do meu pai com todas as minhas escolhas e claro, com Deus.

O padre olhou nos olhos de Christopher, transmitindo compreensão.━ Meu jovem, entendo que você esteja enfrentando um dilema difícil. A verdade é que todas as pessoas, inclusive você, cometem erros e enfrentam desafios. Deus não quer que você viva com mentiras, mas Ele nos dá a chance de buscar a transformação e o perdão. O amor verdadeiro é construído na sinceridade e na honestidade. É preciso coragem para enfrentar as consequências de nossas ações, mas este é o caminho para a felicidade e a paz interior. - O padre colocou a mão gentilmente no ombro de Christopher, ele tentou lhe passar algo como companheirismo e compaixão.

━ Mas padre, em levítico dezoito versículo vinte e dois eles falam que... - Christopher falou baixo olhando envergonhado para o padre que logo o interrompeu.

Simon descia gentilmente a sua mão pelo braço de Christopher. ━ Meu filho, esse é um fato inverídico e equivocado, o nosso Deus nunca teria repulsa ou vergonha de um filho, eu não sei onde que você aprendeu que seria punido por amar outra pessoa, não tem como o Deus do amor, que em sua forma humana andava com pessoas falhas, que viviam no mais puro pecado, te julgar e te condenar ao inferno, seria incerto. - Padre Simon tentou acalmar Christopher que envergonhado fixou seu olhar no chão da biblioteca. ━ Pelo o que eu saiba você é um membro fixo aqui na igreja, frequenta os cultos, células, participa das nossas ações de caridade, é voluntário no orfanato e está nesta caminhada desde os seus treze anos. Você deve ter lido o livro de levíticos, não? Agora me fale, qual é o tema abordado?

Bang concordou com a cabeça lentamente enquanto observava a mão do padre que ainda estava acariciando o seu braço, ele estava tentando o acalmar, assim como o antigo padre, Judah sempre fazia.  ━ Sim, eu já o li algumas vezes. São instruções, em levítico enfatizam práticas sacerdotais, foi escrito pela tribo de Levi que organizava os ritos religiosos naquela época.

O australiano explicou, levantando um pouco a cabeça. Ele se sentia incerto, não soube se estava fazendo a coisa certa ao abrir-se para o padre, revelando tudo o que o afligia. No entanto, a cada vez que beijava Seo Changbin, sentia o peso da sua culpa aumentar. A sujeira parecia impregnar a sua alma, era repugnante e pensar coisas terríveis sobre si era desesperador. Christopher sabia que podia sim desabafar seus sentimentos com Changbin, mas após a briga sem sentido que tiveram, ele cortou todo o contato com o coreano, que claramente precisava de um tempo para se acalmar.

O padre sorriu. ━ Isso mesmo. O povo hebreu era a única nação monoteísta em volta de várias nações politeístas, que adoravam a outros deuses, por conta disso tinha uma grande preocupação para que o povo hebreu não se misturasse com o povo pagão e assim não praticando idolatria a outros Deuses. - Simon se levantou caminhando até a mesinha de canto pegando dois copos de plástico e servindo um pouco de água para ambos, Simon sabia bem que Christopher Bang havia estudado a bíblia por completo, porém imaginava que, como foi um rapaz completamente influenciado pelo pai, teve problemas em compreender alguns ensinamentos do livro sagrado. ━ Agora você vai se perguntar: Por Deus, o que a Homossexualidade tem haver com tudo isso?

E assim, a conversa entre Christopher e o padre continuou. Simon, enquanto segurava o copo com água, se sentou novamente em seu lugar bebendo um pouco do líquido que estava levemente gélido, era o começo, Christopher estava cada vez mais à vontade com aquela conversa, uma raridade já que odiava conversar sobre si mesmo. ━ Por favor, continue. - O australiano trocou mais sorrisos com o mais velho que havia arrumado o seu paletó preto.

O Padre pousou as mãos sobre as coxas de Christopher, que pareceu se sentir um pouco melhor, Simon não queria esconder nada de Christopher, então resolveu terminar a conversa calmamente enquanto o encorajava.  ━ Mas convenhamos você nunca teve medo de ser você mesmo por conta de Deus, eu vejo que você que você é bem resolvido com a sua religião, já que além de inteligente, não mistura a sua fé com o seu trabalho que foca em coisas nada espirituais. - Piscou lento concordando apreensivo. ━ Olhe, hoje em dia nossa compreensão da sexualidade e das diferenças está evoluindo, muitas pessoas agora entendem que a homossexualidade não é uma escolha ou desvio, mas sim uma expressão natural da diversidade humana.

O padre acreditava que o amor de Deus era absoluto, isso o ajudou a entender o lado do australiano que se culpava tanto, sinceramente. O padre o entendia bem, mesmo que Christopher aceitasse a todos, ele nunca percebeu que a sua prioridade era o seu amor próprio, ele pode sim ter o discernimento de ser amável com outros, mas infelizmente ele não conseguia se colocar em primeiro lugar e se priorizar.

━ Eu acredito na importância do amor e do respeito mútuo, independentemente da orientação sexual de cada um. O que importa é a bondade, compaixão e integridade de uma pessoa, não quem ela ama. Deus é amor, comece a acreditar que o seu amor não faz o mundo pior, o que nos faz pecadores é o rancor, a culpa, o julgamento, a inveja, não quem você ama. - Ele soube, Christopher nunca foi generoso consigo mesmo, ele nunca teve muito autorespeito e o seu autocuidado era baseado em fugas e autonegação.

Amar a si mesmo era um processo contínuo e que Christopher precisava de tempo, um apoio para aprender a se respeitar de verdade e o padre Simon estava disposto a caminhar ao lado dele nessa luta, sempre o lembrando que o amor de Deus era incondicional e que ele merecia sim ser amar, assim como amava e respeitava os outros.

━ Todo o seu desabafo foi centrado em duas pessoas, seu pai excessivamente violento e narcisista e no seu possível parceiro que não é lá muito confiável, ambos te deixam desconfortável, mas você sabe por que? - O olhou com cautela. ━ Você mente constantemente para eles, o medo de ser você mesmo está te matando, não apenas psicologicamente, mas também espiritualmente.

· † ·

O tempo se fechou, o friozinho havia aparecido, porém era uma noite realmente linda, fria e a chuva fraca só agradava Changbin que havia acabado de sair de seu banho, o coreano secava seus cabelos enquanto olhava fixo para a sua janela enquanto pensava arrependido na briga que havia tido com Christopher no dia anterior.

Além de aumentar a voz para Christopher que mesmo visivelmente bravo, falava de forma calma, ele ainda se alterou ao ponto de empurrá-lo contra uma parede, Changbin o machucou, foi imperdoável.

O australiano se manteve calmo, mandou o coreano se acalmar e bem, ignorou todas as trinta e sete chamadas do mesmo. Mas Changbin mesmo sendo ignorado não se atreveu a bater na porta de Christopher, já que o mesmo havia deixado bem claro que apenas iria o procurar quando fosse a hora certa. Ouvindo a sua campainha tocar, logo percebeu que ainda estava sem camisa e colocou o seu moletom, ele caminhou até a porta de seu apartamento abrindo-a lentamente, logo vendo que era Christopher, Changbin sorriu de lado um pouco nervoso, já que o outro aparentava estar sério, o australiano estava com seus cabelos molhados e um conjunto de moletom preto, em suas ambas mãos ele carregava sacolas de papel. ━ Posso entrar? Eu trouxe frango do KFC e um tema novo para as nossas discussões. - Seu tom permaneceu calmo e baixo. 

E apesar de ser anteriormente ignorado por um dia inteiro, ele apenas se alegrou ao vê-lo em sua porta. Seo era solitário, ele não conhecia muitas pessoas em Melbourne e seu passatempo favorito, após de reconciliar com Chris, era o fazer companhia, mesmo participando de coisas bobas e cotidianas, como ir ao mercado, assistir filmes, cozinhar ou limpar a casa, Changbin adorava se sentir acompanhado.

━ Oi! Mas é claro que sim. Pode entrar. - Changbin abriu a porta por completo o deixando entrar, observou Christopher caminhar até a sua sala, fechou a porta um tanto tenso e voltou a observar o outro, que havia se sentado em seu sofá e que agora abria as sacolas arrumando as caixinhas em cima da mesa de centro. ━ Eu vou pegar as bebidas. - Rapidamente caminhou até a sua cozinha, ele estava meio confuso, pois não sabia bem o que falar para Christopher, assim que abriu sua geladeira pegou duas latas de cerveja e duas latas de refrigerante, ele olhou em volta desorientado e voltou para a sala colocando as latas em cima da mesinha de centro e se sentou ao lado do australiano, que o olhou silencioso. ━ Eu sei que eu errei...

━ É né. - Bang pegou a latinha de cerveja e a observou por um momento, pensando em como expressar seus sentimentos de forma clara. Ele olhou para Changbin. ━ Eu espero que você saiba, a atração que esse cara tem por mim não é culpa minha, ele ter vindo até a minha casa é culpa sua e mesmo assim você tentou esconder isso de mim. - Umedeceu os seus lábios com tamanha calmaria enquanto observava a televisão de Seo, que mesmo ligada, não emitia som algum. ━ E eu nem estava falando em o quão você me deixou irritado, ei, você me culpou, como se eu tivesse algum controle sobre tudo, sobre ele aparecer ou não em nossas vidas. -Explicou Christopher. ━ Eu não quero ser chato, mas foi infantil aquela crise sem sentido de ciúmes e eu detesto infantilidade, eu avisei que se a gente fosse ter algo, precisaríamos agir como adultos. - Ele não estava mais chateado ou nervoso com o parceiro, mas acreditava que era crucial deixar tudo claro para evitar futuros desentendimentos em sua já complicada vida. ━ Changbin, eu e você deveríamos conversar mais, isso pode ajudar bastante, sabe, a comunicação na vida das pessoas é crucial.

━ Eu sei, eu sou um idiota completo, além de ter mentido e discutido com você sobre algo que não tinha muito sentido, eu ainda te machuquei fisicamente, mas eu prometo que isso nunca mais vai acontecer. - Changbin pousou suas mãos sobre a perna de Christopher que o olhou silencioso, realmente estava arrependido, porém não conseguia se acalmar com facilidade e quando nervoso ficava extremamente violento, ele tentou mudar isso desde que prometeu ser alguém diferente.

Mas Jisung o tirava do sério, tinha consciência que se o mesmo se aproximasse de Christopher, faria o possível para tê-lo. O que poderia acontecer, já que Jisung não era nada confiável e tentaria de tudo para conquistar aquilo que desejava e isso assustava Changbin, que entendia que o seu ex-amigo sempre conquistou tudo o que sonhou.

━ Chris, eu... Olha, eu estou tentando mesmo mudar, mas não é fácil, eu fui desse jeito a minha vida inteira e estou tentando mudar apenas por você e mesmo assim eu não recebo nem um ponto positivo por isso. Você só reconhece meus erros, é cansativo. - Reclamou irritado.

━ Tadinho. - Christopher acabou rindo ao entregar a lata de cerveja para Changbin que suspirou nervoso pela risada cínica do australiano. ━ Está mudando o seu temperamento ruim, quer um prêmio? Meus parabéns? - Christopher novamente riu, mas logo tornou a falar sério. ━ Você precisa mudar suas ações, assim como eu devo mudar o meu modo de pensar, convenhamos, ambos estamos errados.

━ Tá legal, mas não precisa ser tão ignorante. Legal, eu preciso mudar, não foi a minha intenção te machucar, foi no calor do momento, mas eu fico puto só de pensar naquele viado do caralho se aproximando de você, porra Christopher, você não faz ideia de como ele é perigoso. - Changbin olhou de relance para Christopher que suspirou alto colocando a sua lata de refrigerante na mesinha de centro, o australiano se levantou lentamente e se sentou no colo do coreano que estranhou tal ato, já que Christopher nunca havia tentado tal aproximação. ━ Pensar que ele esteve perto de você me faz querer… Chris…

O relacionamento entre o australiano e o coreano era complexo e ao mesmo tempo confuso, não era como uma via de mão única, ambos estavam empenhados em apontar todos os seus erros e ao mesmo tempo os parabenizar pelos acertos. Enquanto Christopher tentava relaxar Changbin com carícias no pescoço, ele também tentava compreender os medos que atormentavam a mente fraca de Seo e ele não sabia ao certo se toda essa loucura que o coreano contava era verdade, mas o medo em seus olhos era verdadeiro, bem mais verdadeiro que o próprio imaginava.

Christopher sabia que Changbin ainda escondia algumas coisas e isso o preocupava constantemente, porém também tinha consciência que ele estava verdadeiramente gostando de si, ele enxergava a tal mudança.
Christopher também tinha um sentimento, confuso, mas ainda sim altruísta, compassivo e possivelmente romântico por Changbin, ele queria ser feliz um dia e só agora cogitou a ideia de tentar a felicidade do seu próprio jeito, seguindo as suas próprias regras e ele agradecia mentalmente o mais novo, pois se não fosse ele, o australiano nunca deixaria a sua zona de conforto para trás.

━ Fica tranquilo, eu sou contra a violência, mas se você sequer pensar em me machucar de novo, eu arrebento a sua cara. Você sabe que eu não digo mais mentiras. - Riu baixo puxando o coreano para um beijo lento, sentiu uma das mãos de seu parceiro apertarem suas coxas e pela primeira vez não se sentiu culpado por beijar um homem, Christopher estava achando tal ato até mais gostoso, se comparado ao seu primeiro beijo com Changbin.  ━ Uhm, eu não tô brincando, eu consigo ser malvadão também.

Seus olhos brilhavam, além da surpresa de o ter tão radiante, o coreano foi presenteado com beijos e um combo nada esperado de sorrisos e carinhos. ━ O que aconteceu com você? - O observou calmamente recebendo um delicado selar. ━ Chris, você está bem diferente, não que eu ache errado, você me parece feliz…- Changbin sorriu ao sentir as mãos alheias se entrelaçando cuidadosamente em seus cabelos e logo os puxando-os de leve, novamente, os seus lábios se juntavam.

O coreano estava surpreso com a reação de Christopher. Normalmente, ele o afastaria quando as coisas se intensificassem. Mas dessa vez foi diferente. Dessa vez, Christopher estava entregue ao prazer e ao desejo que compartilhavam. Os beijos, carícias, risadinhas ao fundo abafadas, suas mãos bobas, cada toque, cada mínima ação os causava uma explosão de prazer em seus corpos. Foi ali que Bang percebeu, eles tinham algum tipo de conexão, ele não sou ao certo qual tipo, mas ele percebeu ser forte, era um sentimento intenso e tão liberto de se sentir, que a cada segundo que se passava, ele pediu para continuar ali, naquele mesmo momento, por pelo menos uma noite.

Porém, algo os interrompeu imediatamente: o telefone do cristão tocou. Christopher tentou ignorá-lo, mas ao perceber que não iria parar de tocar, suspirou nervoso. Ele se levantou e tirou o celular do bolso, constatando que era uma ligação do padre Simon, o amigável padre da igreja que ele costumava frequentar. Ao atender a ligação, um leve sorriso se formou em seu rosto, a doce voz do mais velho tinha tal efeito nas pessoas, mas logo ficou sério ao receber uma notícia nada boa. ━ Poxa Padre, eu não acredito, mas ele teve esse surto por conta do desentendimento?... - Engoliu o seco observando Seo, que o olhava em silêncio, ele estava curioso sobre o que tanto Christopher falava em seu celular. ━ Mas hoje ele estava bem, eu até conversei com ele, jogamos cartas, sim, ele pareceu estar bem…

Com uma expressão preocupada, ele levou uma mão até os lábios e começou a mordiscar suas unhas, Chris estava preocupado, ansioso. Apesar da fraca ligação repleta de chiados, ele se esforçou para tentar entender todas as palavras que Simon falava, a chamada vinda do orfanato cristão não era lá uma das melhores, o sinal sempre deixava a desejar. Os seus olhos permaneciam fixos em Changbin, mas os pensamentos do outro estavam longe, ele estava tentando decifrar as informações que Simon transmitia.

Um longo suspiro saiu dos lábios de Bang. ━Eu entendo, qualquer coisa me liga, eu estarei a sua disposição, é sério Padre, me avisa se vocês o acharem. - O australiano desligou o telefone e logo se sentou jogando o aparelho em algum canto do sofá, agora toda a sua animação havia desaparecido, os problemas sempre o rodeavam e quando conseguia se livrar de um problema, aparecia outro duas vezes maior para desgraçar os seus dias, era cansativo. ━ Não é possível que eu não possa ter nem ao menos um dia de paz nessa vida. Aparece problema até do bueiro para eu resolver.

Changbin não entendeu o que aconteceu, infelizmente ele ainda esperava que Christopher se sentasse em seu colo e voltasse a usá-lo como antes, mas não aconteceu. ━ O que aconteceu. Chris você tá bem? Me fale. - Changbin pousou sua mão sobre o ombro de Christopher que respirou fundo se estressando novamente pois, por um segundo, pensou em seu mais novo problema, o coreano sabia que havia acontecido algo sério, então resolveu falar com calma.

━ Não é nada disso. Você sabe que eu faço trabalho voluntário no orfanato, todos os sábados, né? - Christopher falou baixo vendo que Seo havia concordado com a cabeça. ━ Lá eu sempre tive afinidade com um garoto, ele é um bom garoto, mas tem um problema chamado Transtorno Ciclotímico, sem contar que ele foi diagnosticado com TDAH, não sou o psicólogo dele, mas esse garoto é um perigo para ele mesmo em alguns períodos depressivos e histéricos. Ele estava sendo bem cuidado pelos voluntários da igreja e do orfanato, as irmãs sempre tomam bastante cuidado com ele, mas á uns meses ele começou a se meter em algumas brigas com outros garotos e agora ele fugiu. - Christopher riu frustrado o olhando desesperado para Changbin que tentava compreender cada ponto da história. ━ Changbin, esse garoto tem apenas dezesseis anos, pensa no perigo que ele pode passar no meio da rua? - Seus olhos se arregalaram. ━ Cristo Jesus, se alguma coisa acontecer com ele eu não sei o que eu faço…

━ Se acalme, não vamos pensar no pior, não parece, mas os garotos dessa idade sabem se virar bem nas ruas. Logo, logo eles vão encontrá-lo. - Changbin tentava o acalmar, ele havia se chateado um pouco por ser interrompido no seu "momento de glória" mas compreendeu desde o início que a vida e as dezenas de responsabilidades de seu parceiro às vezes poderia anular momentos de prazer.

Christopher tinha um coração muito bom e não negava ajuda a ninguém, se apegava a todos que estavam com problemas e fazia de tudo para sempre melhorar a vida daqueles que precisavam, ao contrário de Changbin, um típico narcisista que inconscientemente ignorava os problemas alheios. Christopher sempre tomou as dores das pessoas para si, o que era um erro em excesso, o coreano sabia bem que o australiano ficaria preocupado com o garoto, então tentou ocupá-lo com um assunto qualquer, afinal, eles não podiam fazer nada mais do que esperar.

━ Tá legal, explica pra mim aí, o que é esse tal de TDAH? - Ele cruzou os braços e se acomodou no sofá, fechando minimamente os olhos para se concentrar melhor na resposta que estava por vir.

Christopher percebeu que Changbin estava procurando apenas distraí-lo um pouco, mas não se irritou. Na verdade, às vezes ele precisava desses momentos, ele precisava de uma válvula de escape. Afinal, não há nada de errado em se afastar um pouco dos problemas, todo mundo precisa descansar, fugir um pouco da constante luta cotidiana.