• vinte e um •

CAPÍTULO VINTE E UM
wildest dreams

Quando recebeu uma carta naquela manhã de fim de semana, Pandora só poderia esperar alguma reclamação formal vinda de sua mãe, ou talvez um aviso vindo diretamente do Ministério da Magia após ela e Sirius praticamente causarem pânico na escola inteira. A verdade era que nenhum dos alunos ficou sequer assustado com a situação, talvez surpresos, mas ficaram a semana inteira comentando que foi, de longe, a coisa mais legal que acontecera naquele ano. Não era todo dia que alunos começavam a ficar brilhantes e voar. E apesar de estar com certo medo de abrir o papel, ela sabia que não estava nada arrependida. Por aqueles segundos, em que seus olhos encontraram os de Sirius, brilhando não apenas por conta da pegadinha que haviam montado, mas porquê ele amava aquilo. A adrenalina, o frio na barriga de saber que estava fazendo uma coisa errada e mesmo assim continuar.

Pandora gostava daquilo porquê seu único desejo era viver, não apenas existir, ela queria honrar a liberdade que sua família preservava. Pandora Madison queria sentir para sempre o que sentiu quando os olhos de Sirius brilharam.

— Conheço esse selo. — Regulus disse.

Nos momentos em que Morgana fugia para encontrar James durante as refeições, Regulus era sua única companhia. Poderia simplesmente atravessar até a mesa da Grifinória e encontrar seus amigos de lá, mas sabia que como ela, o Black mais novo também ficaria solitário. Perguntou-se, intercalando o olhar entre o rosto dele e o papel em suas mãos, se ele sentia saudade de seu irmão mais velho. Mas sabia, que se sentisse, jamais ousaria falar. A carta era feita com um estilo de papel caro, já que parecia brilhar em um tom de amarelo claro, o verde constrastando em seu selo. O desenho parecido com a garra de um pássaro forte fora carimbado em tinta preta na parte de trás do envelope. Quando o abriu, um cheiro forte de mar invadiu seu nariz e ela quase riu pensando que visitou apenas uma única vez uma praia.

"Querida Pandora Madison,

Soubemos por meio de seu Diretor, Alvo Dumbledore, que a senhorita tem — dentre outros muitos talentos — habilidades extraordinárias no Quadribol. Somos um grande time e estamos sempre tentando renovar nossos ares, principalmente quando se trata de alguém tão elogiada quanto você.

Aceite nosso convite e venha participar de um treino experimental logo depois da formatura! Estaremos observando você enquanto isso.

Com carinho,
Pompilia Aniles,
Treinadora das Harpias de Holyhead desde 1950."

A garota franziu o cenho, lendo e relendo todas aquelas palavras, tentando entender se era verdade o que estava escrito. Ela havia sido chamada por um dos maiores times de Quadribol do mundo bruxo para fazer um treino de teste... porquê o próprio Alvo Dumbledore a elogiou? Era estranho demais até para alguém que comia comida feita por elfos no café da manhã. Sua surpresa afetou Regulus Black também, fazendo-a encará-la de novo, notando que não apenas a curiosidade estampava seu rosto magro, mas um desalento sem igual, como se buscasse falar de qualquer coisa feliz para esquecer de outra.

— Então? O que diz aí? — ele questionou.

Do outro lado do Salão Principal ela viu Sirius, olhando para ela também, tentando ler sem sucesso as palavras miúdas da carta dela. Como se estivesse se policiando perante a situação, ele deixou seu olhar fugir para outro canto do local, pensando que talvez ela não quisesse sua intromissão naquele momento. Mas por alguns segundos, ela desejou que ele caminhasse até ela e perguntasse, queria Sirius interessado nela. Queria... queria.

— Me convidaram para um teste depois da formatura. — ela contou. — As... as Harpias de Holyhead... isso é insano.

Regulus sorriu, talvez um dos únicos sorrisos sinceros que dera nos últimos dias.

— Não é uma grande surpresa, você é magnífica. — ele confessou. — Não me admira que queiram você no time.

— Você acha?

Ele riu.

— Sim, acho.

Pandora guiou sua mão até a dele a fim lhe dar um cumprimento carinhoso, ele recuou estranhamente, apertando seus braços contra o peito.

— Reg, você está bem?

— Sim. — interrompeu. — Preciso ir.

Ela o viu caminhar rapidamente entre as mesas e a pressa instaurada nele a assustou, como se ele quisesse fugir de algo. Bem, talvez todos eles qusiessem em algum ponto da vida fugir de alguma coisa. Naquele momento, Pandora não desejava fugir de nada que não fosse da infame vontade de estar perto de seu nêmesis. Pensou consigo mesma que ele não tinha o menor direito que ser tão bom quando precisava ser. Sirius a deixava tão confusa.

Olhou para o outro lado do Salão, dessa vez ele não a encarou de volta, mas também estava olhando o caminho que seu irmão usou para partir. Os dois pedaços de sanduíche cortados em formato diagonal ainda estavam esperando por ele em seu prato, assim como o pouco suco de laranja que ele não quis tomar, como se estivesse preocupado demais com qualquer outra coisa que não fosse o café da manhã. Pandora quis sentar-se ao seu lado, comer um dos pedaços e tomar um gole do suco, qualquer coisa que fizesse parecer que os dois eram normais, que eram amigos, que faziam esse tipo de coisa. Qualquer coisa.

Por Merlin, ela queria tanto fazer qualquer coisa com ele, talvez olhar as estrelas, nadar no lago frio de madrugada, dançar alguma música triste da Janis Joplin ou simplesmente observar cada pedaço que ela ainda não conhecia em sua carne. E aquilo a estava matando, não deveria funcionar dessa maneira, ele não... não deveria mexer com ela assim, nem com tudo em sua vida. Porquê agora Sirius Black, além de lhe atormentar os pensamentos, estava em todos os lugares feito o fantasma agourento que era.

E o pior de tudo: ela não sabia o que fazer.

Não costumava lidar com sentimentos e coisas do tipo, ela era o tipo mais fechado de pessoa quando se tratava disso. De qualquer forma, ela precisava saber como agir naquele momento, nem que para isso fosse necessário contar sua situação para alguém. Obviamente não poderia facilmente espalhar um de seus maiores segredos para qualquer um, teria de confessá-lo para alguém que a pudesse ajudar, que soubesse como lidar com sentimentos, que também estivesse confuso. Alguém como Morgana. Sua melhor amiga era, com certeza, a única fonte da qual ela poderia tirar esse tipo de informação e que não riria em sua cara.

Saiu do Salão Principal com dois objetivos: não olhar para trás na direção de Sirius e encontrar Morgana no caminho da aula de Defesa Contra as Artes das Trevas. E também, é claro, pensar em como poderia dizer que Sirius Black a estava deixando insana sem necessariamente utilizar essas palavras, ou melhor, nem deixar claro que seus problemas chegavam nele. Talvez mentir que estava apaixonada por Peter Pettigrew fosse um pouquinho melhor. Se soubesse que os dois haviam feito muito mais do que dado uns amassos, levaria Pandora de volta para casa em uma camisa de forças.

— Você não vai acreditar na bobagem que eu fiz, Morgie! — Dora berrou.

Era a única coisa que ela poderia dizer, não era uma mentira. Caminhou na direção de sua amiga com passos ansiosos.

— Droga, Pandora Madison, o que é que você fez agora?

Será que ela era tão ruim assim? Provavelmente a resposta era sim. Respirou fundo, encarando sua amiga enquanto procurava as palavras corretas.

— Digamos que eu tenha beijado alguém que eu não gosto. Não gosto, entendeu? — contou, deveras confusa. — E agora tudo parece esquisito. Não como se eu estivesse apaixonada. Não como você e o Potter Pirado, claro.

Bem, ela não estava mentindo, apenas escondendo parte da verdade.

— Dora!

— Desculpe, escapuliu. — a garota pigarreou. — Enfim, eu posso ter beijado ele. E agora ele... agora tudo é estranho e...

— Dora... eu...

— Não, não. Eu sei o que você vai dizer. — riu, nervosa. — Eu não gosto dele, nem gosto do beijo dele, aliás... é muito... muito molhado. É, é, molhado.

Morgana a encarou com uma cara de riso, enquanto tentava entender as palavras de Pandora, mesmo já sabendo do que ela estava falando. As duas pararam no meio do corredor praticamente vazio e a loira teve que se segurar para não rir.

— E eu não sei o que eu faç...

— Você beijou Sirius Black. — Morgana afirmou.

Pandora quase derreteu feito gelo naquele corredor empoeirado.

— Como você sabe? — ela berrou. — Eu já te disse que se descobrisse como ler mentes era pra me contar!

— Por Merlin, Dora, cale a boca por um segundo! — falou. — Não precisa surtar. Foi um beijo, um beijo nada surpreendente.

Bem, não foi só um beijo, mas ela não precisava saber.

— O que você quer dizer com isso?

— Ah, você sabe... a tensão entre vocês dois desde o quinto ano. — Morgana riu.

Pandora sentiu suas bochechas esquentarem.

— Não sei do que está falando. E pare de rir de mim, Morgana Bouveair! Sua melhor amiga está com problemas! — choramingou. — Não quero que ele pense que estou apaixonada.

Naquelas circunstâncias, de alguma maneira ele pensar em paixão poderia ser o menos pior.

— Ah, aposto que ele deve estar apaixonado também. — brincou. — Vamos para a aula, depois falamos sobre garotos.

Ela estava tentando entender como aquela conversa poderia a ajudar com seus problemas.

— Morgana! Eu...

Seguiram para a sala de DCAT em passos rápido, Pandora ainda confusa pensou que as respostas para suas perguntas ainda estavam muito distantes. Na sala, ela notou a presença de praticamente todos os alunos, assim como o próprio Sirius, ao lado de Remus e James. Viu Morgana quase se dereter com a presença dele, enquanto ela tentou ao máximo ficar afastada de onde o seu problema estava. Ela estava lutando contra a vontade de caminhar até ele e ficar ao seu lado, mesmo que não falasse nada, apenas respirasse ao lado dele. Aquela foi a confirmação de que ela estava ficando maluca. Sirius percebeu perfeitamente a maneira nervosa que ela agiu quando caminhou até mais perto, não entendendo se ela queria fugir ou ficar ali. Ela tentou com todas suas forças manter sua mente em qualquer canto daquela sala.

— Esse, alunos, é um dos mais antigos artefatos de magia. É extremamente poderoso e já levou bruxos à insanidade. — o professor contou.

No meio do local, pôde perceber q presença de algum material mágico escondido por um pano. Rapidamente o tecido escuro que cobria a tal coisa foi puxado e todos puderam ver do que se tratava, era um enorme espelho ornamentado, com escritos por sua estrutura. Bem, se estava naquela aula não poderia ser um simples espelho.

— Esse é o Espelho de Ojesed, ele mostra o desejo mais desesperado do coração de uma pessoa. — o professor informou. — Imagino que possam imaginar os motivos para ele ter enlouquecido tantas pessoas.

Pandora arregalou os olhos, não sabia se ficava fascinada ou com medo.

— Mas se ele já fez pessoas enlouquecerem, por quais razões esse professor maluco o trouxe aqui? — ela sussurrou.

Todos os dias costumava questionar a sanidade da equipe de professores daquela escola.

— Muito bem, quem quer tentar primeiro?

Depois que alunos dos alunos presentes se ofereceram para tentar e tiveram experiências distintas, ela resolveu tentar, pensando que não poderia ser tão estranho assim. Talvez quando parasse na frente dele ela veria a si mesma ganhando a Taça das Casas, ou então a face de um Sirius Black ao ter perdido algo. Bem, ele não deveria ser objeto de seu desejo, jamais. Com as mãos unidas nas costas, ela foi na direção do Espelho de Ojesed, seu corpo quase implorando para que ela ficasse no lugar que estava anteriormente, como se soubesse de alguma coisa. Como se a quisesse impedir de ver o que desejava, poderia ser assustador demais ver de seu íntimo bem em sua frente.

Pigarreou no momento em que parou na frente do espelho, ainda sem olhar diretamente para o reflexo e somente ler os ornamentos ali dispostos, figuras tão bonitas que ela quase fingiu ter mais interesse nelas. Fechou os olhos por alguns segundos, então os abrindo quando soube que se fosse algo assustador, ela era a única que poderia ver. E por Merlin, ela achou mesmo que seu desejo seria monstruoso. Não chegou a ser tão terrível, mas estava próximo de a enlouquecer.

A primeira coisa que ela viu foi a si mesma, estava igual, apesar de agora o cabelo estar um pouco mais comprido e preso em um rabo de cavalo perfeitamente arrumado. Vestia um uniforme verde e amarelo, sabendo que com certeza não era da Sonserina, mas foi difícil identificar o time, talvez fosse um desejo tão íntimo em seu subconsciente que ela nem conseguisse se lembrar. Viu uma multidão atrás de si gritar seus pulmões para fora, mesmo que não conseguisse ouvi-la e soube que estavam torcendo para ela, como se fosse a campeã de alguma coisa. Depois, a visão se modificou, ela viu uma praia serena, raios de sol brilhando por todo lado.

E então... ela viu algo pior do que um monstro. Monstros não sorriam assim para ela, não eram bonitos o suficiente para fazer sua barriga esfriar.

Ela viu Sirius na areia, sentado em uma toalha como a que usara na piscina de sua casa, vestindo uma camisa verde e amarela igual o uniforme de quadribol dela, como um torcedor. Ele a encarou de volta, como se soubesse todos seus segredos e se levantou, o cabelo comprido voando contra o vento daquela praia de mentira. Só poderia ser mentira, ele ria da forma debochada de sempre, aquilo parecia tão real que era como se ele estivesse realmente atrás dela. A fez acreditar que estava.

— Adorei a brincadeira. — falou Pandora, forçando uma risada. — Já pode sair daí, quero ver o meu desejo e você está atrapalhando a visão.

Ela quase podia senti-lo chegar mais perto.

— Não sorria assim pra mim, ande, saia daí!

Todos os alunos ficaram confusos, perguntando-se com quem raios ela estava conversando naquele momento. Morgana, que ainda observava a situação, franziu o cenho.

— Dora, com quem você está falando? — perguntou Morgana.

Ela revirou os olhos e encarou a amiga que estava ao seu lado.

— Com o...

Com ninguém, porquê não havia absolutamente ninguém atrás dela e a distância que ela estava de Sirius Black não era suficiente para que ele saísse dali tão rápido. Ela o viu no espelho, porquê o desejava.

E aquilo não poderia ter sido pior.

Ela queria sumir, desmaiar, sair correndo daquela sala e qualquer outra coisa que a fizesse sair de perto dele. Não era possível que seu desejo fosse ele, quando ela poderia desejar tantas outras coisas, era tão bobo... tão infantil. E tão real. Ela não gostava nem um pouco de enfrentar a realidade. Esperou que a atenção do professor estivesse em outro aluno e atravessou a porta da sala como se aquela fosse a única forma de liberdade no mundo e sentiu o ar frio invadir suas narinas.

Se deixou ir para qualquer lugar que o corredor a levasse, como se a única coisa que pudesse fazer naquele momento era vagar como um fantasma, ela não mais sentia seus pés tocarem o chão, eles apenas o faziam e ela seguia. As muitas janelas intercalavam sua imagem, seus cabelos curtos balançando contra o vento e a gravata do uniforme ficando cada vez mais solta em seu pescoço, como se pudesse cair. Ela acelerou o passo no instante que viu que as portas da biblioteca estavam abertas, imediatamente a fazendo entrar ali e travar na frente da Madame Pince, que cuidava do local. Com a maior cara de pau do mundo ela encarou a mulher e sorriu.

— Vim procurar um livro para a aula de Poções. — avisou.

A mais velha a analisou por alguns segundos e assentiu. Ela estava feliz porque sabia que os livros de Poções ficavam nas prateleiras do fundo. Só percebeu que estava sem a gravata quando sentou-se no chão e abraçou suas pernas. Se seria tão ridícula por estar na pior por conta de um garoto e mais tonta ainda por ele ser Sirius. Ao menos poderia estar sofrendo por alguém diferente, sofrer por ele era quase como pagar seus pecados mais ardilosos e aparentemente eles eram muitos. Poderia estar sofrendo por Remus, mesmo sabendo que ele nunca a faria sofrer ou qualquer outro mal, ele era bom e doce. E ela não o merecia.

Ela merecia Sirius, assim como ele a merecia por serem tão ruins com os outros e consigo mesmos.

— Acho que perdeu a gravata. — ela ouviu uma voz chamar sua atenção.

Olhou para cima e lá estava ele, de pé e fazendo sombra. Sirius Black segurando uma gravata verde e prata que ela possivelmente usaria para enforcá-lo uma hora ou outra. Mas naquele momento, ela apenas ficou em silêncio, vendo ele se sentar ao seu lado no chão e puxar o cabelo para trás.

— Sou uma idiota, nem a vi caindo. — sussurrou.

— É só uma gravata.

Ela encarou o chão.

— Nunca é só uma gravata.

Sirius uniu as sobrancelhas, confuso. Ela era tão difícil de ler quando queria.

— Você está bem?

— Sim. — ela mentiu.

Suspirou profundamente, ele sabia que era mentira.

— Pandora, o que você viu no espelho?

Dessa vez ela o encarou como se ele tivesse falado algo inapropriado demais. Talvez ela devesse falar, talvez não.

— O que você viu, Sirius? — ela devolveu a pergunta.

Ele mordeu o lábio antes de falar. Por Merlin, agora ela entendia o que ele queria dizer quando falou que estava embriagado dela.

— Eu me vi em uma casa grande, diferente da que eu morava antes, essa era um lar. Vi liberdade, não haviam tapeçarias com rostos queimados, nem regras ou insultos contra nascidos trouxas. — ele contou.

Pandora queria segurar a mão dele.

— Eu estava sozinho, mas não era solitário, me senti como se eu estivesse aprendendo a receber pessoas naquele lugar. E eu vi um quadro pequeno em cima da lareira, era uma foto que se mexia e você estava nela. Aquela foto que tiramos no Natal. — disse. — Espero que isso responda sua pergunta.

Ela o fez, deixou que seus sentimentos ganhassem e segurou a mão dele com timidez. Sirius apertou a mão dela de volta, mas não ousou fazer nenhum comentário que a pudesse levar a soltá-lo.

— Agora me conte a sua visão.

— Me vi em um jogo de quadribol, eu era mais velha, todos torcendo pra mim. Vestia verde e amarelo. — disse em uma única respiração. — Foi isso.

Ele riu.

— Diga a verdade.

— Acha que estou mentindo?

— Acho.

— Me diga, Sirius, o que acha que eu vi?

Ele puxou a mão dela que estava unida à sua e a beijou.

— Eu.

E os beijos subiram até o pulso.

— E acho que era algo bem pervertido, já que você está aqui morta de vergonha. — ele brincou.

Ela riu com sinceridade.

Maldito. — sussurrou perto da bochecha dele. — Eu vi uma praia, nunca vi uma de verdade, mas naquele espelho eu a imaginei. A água era clara, o sol brilhava nos meus olhos e você estava lá.

Ele fechou os olhos, como se tentasse visualizar a praia também.

— E eu estava lá? — ele repetiu.

O coração dele aqueceu, o dela acelerou.

— Sim. — ela respondeu, quase como uma confissão. — Estava caminhando até mim quando parei de olhar.

Sirius se aproximou dela, mesmo ainda de olhos fechados, enquanto imaginava a praia e sentia o calor quase febril do corpo dela. Ele tocou o rosto dela e soltou sua mão, ficando de frente para ela, sentindo a respiração da garota em seu rosto, desejando tanto quanto ela.

— Diga-me, o que eu teria feito naquela praia se tivesse chegado até você?

Ela umedeceu o lábio.

— Você teria me beijado. — ela falou baixinho.

Sirius abriu os olhos cinzas e encontrou os dela, sentiu as mãos dela segurarem sua cintura.

— Eu posso beijar você agora, Dora?

Era quase como um pedido "eu posso ser seu para sempre, Dora?".

— Sim...

Os olhos dela fecharam no momento em que ele tocou seus lábios com o polegar, sentindo a pele macia dela e imaginando que poderia tocá-la para sempre. Beijou seu maxilar antes, assim como a bochecha corada e o canto da boca, só depois deixando seus lábios se tocarem com delicadeza, feito o cuidado que alguém tem ao manipular uma poção, com minuciosidade. Ela apertou seus dedos contra a pele coberta dele, sabendo que já havia tocado ali quando ele estava nú e aquilo tornava a situação ainda mais sufocante. Pandora já conhecia aquele corpo, mas ela queria saber mais, queria conhecer tudo sobre ele, saber o que ele gostava, gostar também.

Ela queria tudo e queria qualquer coisa com ele.

As línguas se encontraram de forma instintiva como sempre, parecia que sabiam exatamente como encaixar aquele beijo talvez apaixonado. Sirius segurou o cabelo dela e conseguiu sentir perfeitamente o cheiro do perfume que ela carregava por todos os lugares, o deixando maluco, ela tinha cheiro das frutas que encontravam quando invadiam a floresta da escola de madrugada e das flores que ele encontrou na janela da casa Madison. Até o cheiro dela o deixava maluco, tudo nela, o cabelo curto, os braços fortes, as coxas grossas e os olhos, que, por Merlin, eram olhos ábtidos.

Eles mal conseguiam se separar para respirar, temiam que aquilo acabasse o beijo para sempre e que nunca mais pudessem sentir aquele contato incondicional, aquela paixão e luxúria que somente ambos conseguiam ter. Era embriagante, de fato. E era tão bom que parecia injusto que todas as outras pessoas no mundo não conseguissem ter aquilo que ambos tinham. Haviam desejado tanto que se tornou mil vezes melhor, apesar de ser apenas um beijo.

Na verdade, nunca era apenas um beijo, eles estavam cientes disso desde o começo.

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