• vinte e seis •
CAPÍTULO VINTE E SEIS
your power
A carta jogada em cima da cama de Pandora dizia em letras verdes perfeitamente delineadas que ela estava sendo oficialmente convidada para fazer parte das Harpias, como se aquela não fosse literalmente a melhor notícia que ela poderia ter recebido. Ao lado dela jazia outra carta, esta informando que ela havia recebido a oportunidade de estudar Poções na Universidade Bruxa do País de Gales, onde centenas de gênios se formavam. Mesmo assim, seus olhos não conseguiam ultrapassar as palavras que confirmavam a aceitação, já que outras coisas preocupavam sua cabeça.
Depois do grande jogo que tiveram naquele dia, quando venceram e ela pôde esfregar na cara de Sirius que havia vencido, o mundo caiu em sua frente. Sua melhor amiga, que estava apaixonada por James e queria apenas alguns momentos de paz com ele foi descoberta. Poderiam dizer que era estupidez demais escolher aquele lugar para trocar alguns beijos, ou falar que estavam sendo descuidados demais, mas eles eram apenas dois jovens apaixonados e aquela merda toda não havia sido criada por eles.
Todos da escola já sabiam sobre o que havia acontecido, que James e Morgana estavam juntos e que ela não estava nem um pouco comprometida de verdade com Charlie Monarch, mesmo que ele fosse bom. As pessoas eram rudes e não faziam questão de esconder.
Pandora costumava dizer que odiava Sirius, mas sabia que a única pessoa que realmente lhe causou ódio em toda sua vida fora a mãe de Morgana. Por Merlin, ela precisava de apenas um motivo para justificar sua maldade, talvez tivesse sido impedida de amar alguém ou talvez seus pais não fossem bons também, mas não havia nada. Nada que justificasse seus atos, nada que pudesse causar comoção ou que ajudasse a garota a odiá-la menos. Ela era ruim até os ossos.
Olhou para o lado por alguns instantes, percebendo que Morgana estava sentada no chão do dormitório, perto da janela grande com visão para as águas do lago, seu corpo encolhido abraçado pelos próprios braços. Quando James e Morgana foram pegos se beijando naquele fim de tarde depois do jogo, nenhum dos amigos poderia sequer imaginar que as consequências seriam tão grandes. Levantou-se de sua cama rapidamente, então foi na direção de sua melhor amiga e se sentou ao lado dela, os pés encostando um no outro como quando eram crianças.
— Vamos dar um jeito. — Pandora disse. — Sempre damos um jeito.
Morgana agarrou os cabelos com as duas mãos, pressionando sua cabeça.
— Não dessa vez, Dora. — ela murmurou. — Tenho certeza que o maldito Lucius já contou para minha mãe ou está se preparando pra isso.
— Morgie, ela não pode machucar vocês... — respondeu. — E se nós fizermos o que estávamos planejando? Se nós fugirmos para a minha casa?
Morgana riu.
— Você não entende... — disse. — Ela vai fazer o que quiser comigo. Ela pode.
— O que? Por que ela pode fazer algo assim?
— Porque ela é assim, Dora! Eu sei que sua família é cheia de amor e carinho, sei que eles prezam pela felicidade um do outro... mas a minha não é assim, nada mais importa desde que você siga o que estão mandando, o que foi previsto pra você. — falou.
Pandora a encarou.
— Quando Mavena fugiu há alguns anos, ela a perseguiu por meses, tentou enfeitiçar o marido dela e quase o matou. Acho que é por isso que ele está sempre doente. — contou. — Mesmo se eu for corajosa, mesmo se eu fugir, ela virá atrás de mim. E eu não quero que James sofra por minha causa.
O amor deles era puro e real, aquele tipo de paixão arrebatadora. Pandora sabia que James faria tudo e qualquer coisa por Morgana, mesmo que arriscasse sua vida.
— Quando ela vier, por favor, faça com que ele não vá atrás de mim. — a garota pediu.
— Morgana, eu não posso...
— Vai ficar tudo bem. — insistiu.
— Não! Não vai, Morgie! Não vai ficar tudo bem, você não entende...
— Por favor. — sussurrou. — Deixe que eles pensem que temos um plano que pode dar certo.
— Não é justo.
— Cuide dele... por mim.
Pandora agarrou suas pernas e escondeu seu rosto, as lágrimas que ela não deixaria cair queimando em seus olhos.
Mais tarde naquele dia, quando todos estavam sentados perto do Grande Lago, mais afastados do que poderiam estar, Pandora olhou ao seu redor. Todos quietos, até mesmo Charlie, que não costumava compactuar com aquele grupo, ele sabia que tudo aquilo o envolvia também, afinal de contas, ele era o noivo. Estavam todos tão absortos que até mesmo o fato de Pandora estar deitada no colo de Sirius não os atormentou, ele não ligavam, eles não julgavam, estava tudo bem desde que estivessem seguros. A única coisa que eles sentiam com certeza era que algo ruim estava por vir.
E veio mais rápido do que esperavam.
— Morgana, não vamos desistir. — comentou James. — Temos que pensar em algo, Mavena pode ajudar. Você sabe que ela pode.
— Mavena não conseguiu pensar em nada até agora, eu tive esperança no começo, antes daquela doninha fofoqueira descobrir, mas agora... — Morgana falou. — Parece impossível.
— Não é impossível, vamos dar um jeito! — Pandora berrou. — Vamos dar um jeito... nós precisamos.
— Pandora, você não entende, não é? — perguntou Charlie. — Não foi criada como nós, sua família amou você e se importa com a sua felicidade. As nossas famílias nos criaram para mantermos a tradição, Sirius sabe como é.
O Black que também estava ali assentiu, mas abraçou Pandora mais forte.
— No meu caso e de Morgana, é se casar e se unir ao lado de você-sabe-quem. — completou. — Você não entende que temos medo deles, porque eles tem poder sobre nós. Eles tem poder sobre qualquer um, não são pessoas boas. Sei que você rejeita a ideia de seguir a tradição e obedecer, mas às vezes é melhor obedecer do que morrer.
— Eu juro que vamos dar um jeito... — falou Sirius. — Se eu consegui fugir, vocês também conseguirão.
— Assim espero... — disse Morgana. — Pelo menos ainda temos tempo.
O tempo que achavam que ainda tinham durou cerca de minutos, não mais que uma hora, já que como fantasmas, os pais de Morgana apareceram no silêncio daquele fim de tarde. Eles sabiam que não deveriam estar tão afastados do castelo, que não tinham motivos para se sentirem seguros em terras que não pertenciam à Hogwarts, porquê qualquer um poderia aparecer ali. Não deveriam se sentir seguros onde não havia segurança, muito menos esperar que os professores os protegessem. Mas eles erraram e agora estava tudo desmoronando.
Em palavras simples: eles estavam fodidos.
Bastou apenas uma varinha silenciosa sendo guiada para a garganta de James, nada além, nenhuma palavra direta. Morgana sabia que se tentassem fazer algo contra, ela o mataria. Sirius segurou os braços de Pandora como se quisesse impedir que ela fizesse alguma coisa que a poderia ferir. Todos permaneceram em silêncio até o momento em que Morgana pediu que todos menos Charlie saíssem dali, ela poderia não estar planejando nada, mas não queria que seus amigos se ferissem.
— Morgie, nós vamos ficar. — Pandora disse, firmemente.
Mas o olhar que sua melhor amiga deu para Sirius praticamente implorava que ele a levasse.
— Sirius, eu quero ficar. — ela pediu. — Sirius...
— Vamos, Dora. — ele respondeu.
Nenhum deles queria sair, mas o fizeram depois de Morgana praticamente implorar. Todos começaram a caminhar lentamente para longe, onde conseguiam continuar observando, menos James. O Potter estava longe de Morgana, mas perto da mãe dela, a qual já estava claramente sem paciência e desejando matá-lo com apenas um feitiço. Pandora não queria deixá-los sozinhos, ela não queria que nenhum deles se ferisse, precisava ajudá-los de alguma forma, mesmo que não soubesse como.
Mas Sirius a arrastou para longe, quase a carregando em seu braços como se ela fosse uma criança, ela sabia que não era para irritá-la.
— Ela é maluca, se não saíssemos ela com certeza mataria alguém. — ele sussurrou.
Dora olhou para trás mais uma vez, a varinha de Seline Bouveair ainda estava apontada na direção de James, ela ainda poderia matá-lo.
— Ele não está vindo... — ela falou. — Sirius, ele vai se machucar.
Ela percebeu que o corpo de Sirius enrijeceu, mas ele continuou caminhando.
— Por favor, eu imploro que você vá embora. — foi Morgana quem falou. — James, eu imploro, eu não quero que você se machuque.
Eles conseguiram ouvir claramente, mesmo de longe. Estavam mais perto do castelo.
— Eu não vou me machucar. — ele sorriu. — Venha, vamos sair daqui, Morgana.
Pandora segurou a mão de Sirius e o fez parar de caminhar, o puxando para trás de uma árvore velha.
— Ele está tentando se matar? Que merda é essa? — ela murmurou.
— Remus foi pedir ajuda, vai ficar tudo bem. — Sirius respondeu.
Ela não conseguia entender porquê todos eles sempre pensavam que estava tudo bem, que daria tudo certo, quando na verdade estavam morrendo aos poucos. Eles viram Charlie tentar proteger Morgana, caminhando ao seu lado. Pandora pegou sua varinha de dentro do bolso e a segurou fortemente, Sirius fez o mesmo. Monarch falou alguma coisa que eles não conseguiram ouvir e de repente tudo pareceu ficar em câmera lenta, ao menos era essa a sensação que ela sentia quando algo ruim estava acontecendo.
Ela viu um raio vermelho e rápido sair da varinha de Seline e ir a direção de James, como se fosse a coisa mais comum do mundo usar uma Maldição Imperdoável em um garoto de dezessete anos, Pandora tampou sua boca para não gritar e agarrou-se ainda mais à Sirius, ela sabia que ele estava prestes a sair correndo para ajudar o amigo, mas ele provavelmente seria ferido também. Ela não podia perdê-lo também, quando nem sequer o tinha. Tudo estava tão confuso em meio aos gritos desesperados de Morgana, ajoelhada no chão e os gemidos dolorosos de seu namorado. E eles não podiam fazer nada, eles não queriam que ele morresse por causa de um passo em falso. Porquê eles sabiam que ela o mataria em um piscar de olhos.
Pandora não queria perder mais uma melhor amiga, ela não queria perder sua Morgana.
Charlie agarrou Morgana para que se ela afastasse quando James foi atingido mais uma vez, mesmo sem ter provocado, mesmo já desmaiado, porquê aquela mulher era covarde o suficiente para atingir alguém que estava quase morrendo. E como se já não fosse desesperador o suficiente, Seline Bouveair agarrou os dois que estavam ajoelhados no chão e sumiu enquanto Pandora e Sirius tentavam correr até eles, os passos maiores que seus corpos, eles já nem sentiam mais os pés firmes no chão. Ela viu os cabelos loiros de sua melhor amiga sumirem e seu coração palpitou, eles não sabiam o que os pais dela fariam e isso era o pior de tudo. Jogou-se no chão ao lado de um James Potter completamente desmaiado, apoiou a cabeça dele em sua perna e guiou a mão, que só então percebeu estar trêmula, até o peito dele para confirmar que seu coração ainda estava batendo.
Soltou um suspiro quando confirmou que ele estava vivo, mas permanecia desmaiado enquanto tremia como se sentisse frio, assim como a própria garota. Ela tirou o casaco que estava usando e o tapou, como se fosse um bebê, tentando fazer o que sua melhor amiga pediu, tentando cuidar dele para ela. Por mais que quisesse que aquele não fosse o fim, parecia mais próximo do que nunca.
— Precisamos levá-lo para a enfermaria. — ela disse, sem fôlego.
— Veja, é Remus! — Sirius exclamou.
O garoto estava vermelho de tanto correr, suor escorria de seus cabelos e seu suéter estava amassado, mas a única coisa que Pandora reparou nele, foi que não estava sozinho. Ao seu lado a Professora McGonagall, com os olhos arregalados, observou a cena assustadora e levou alguns segundos até decidir o que fazer. A garota já sem paciência, pediu a ajuda de Sirius e Remus para levantá-lo do chão, cada um deles agarrado em um lado do corpo vivo de seu melhor amigo. Eles começaram a caminhar na frente com certa dificuldade, deixando-as para trás.
— Por que vocês nunca estão aqui quando precisamos? — ela gritou. — Hogwarts deveria ser segura! Disseram que estaríamos seguros aqui...
Seus olhos brilharam em lágrimas, ela sentiu suas pernas ficarem fracas e quase cedeu ao chão, mas tentou se manter forte.
— A mãe de Morgana a levou, ela torturou James e vocês não estavam aqui! — sua voz embargada. — Vocês não estavam aqui quando deveriam nos proteger!
A professora não sabia o que dizer, Pandora não estava mentindo. Hogwarts não era segurava para aqueles que não eram bem-vindos, para quem não vestia vermelho e dourado, para os alunos que tinham problemas fora do castelo.
— Pandora, eu...
Ela viu McGonagall tentando chegar mais perto, talvez para abraçá-la, mas se afastou. Seus pés quebrando as folhas caídas no chão enquanto caminhava na direção do castelo.
— Precisamos ajudá-lo agora. — disse. — E é melhor a senhora chamar alguém que possa nos acompanhar em um resgate.
Já era de madrugada quando eles decidiram que deveriam sair da enfermaria e do lado da cama de James, mesmo que fosse difícil. Sirius estava abatido, mas aliviado por saber que seu melhor amigo não estava morto, ao contrário de Pandora, que não fazia nem ideia do que sua amiga poderia estar sofrendo. Ela se sentia tão inútil por não ter conseguido fazer nada, por ter tido medo de tentar e acabar morrendo também, ou em uma cama de hospital como o garoto.
Remus ficou com James quando eles saíram, Sirius e Pandora ao lado um do outro e com as mãos dadas, como se fosse a coisa mais comum do mundo, porquê para falar a verdade, era. Eles estavam cansados de fingir para si mesmos que não queriam aquele tipo de contato, que não queriam abraços carinhosos e beijos apaixonados ou simplesmente atenção quando estavam tristes. E era bom pra caramba não ter medo de dizer para o seu, até então, maior inimigo que nada era melhor do que tê-lo por perto.
A primeira coisa que Pandora fez quando saíram foi ir até o corujal e sem pensar duas vezes ela escreveu uma carta com papel amassado e tinta barata, não precisava de muito para transmitir uma mensagem como aquela. Sabia que era arriscado para Mavena, que estava grávida, mas não tinha outra saída, ela não conhecia ninguém mais que poderia ajudá-la, alguém que soubesse exatamente como Morgana poderia estar se sentindo. Sirius a observou em silêncio, seus olhos atentos passearam pelas palavras que ela escreveu e ele pareceu curioso, mas não queria ser invasivo, aquelas linhas que ainda dividiam a vida dos dois permaneciam ali.
— É para a irmã de Morgana, ela pode ajudar. — Dora decidiu acabar com a curiosidade dele.
— Eu pensei que elas não mantinham mais muito contato... — ele comentou.
Claro, porquê ele mesmo não conversava com seu irmão há meses.
— Ficaram por anos sem falar nada. — ela disse. — Irmãos são irmãos, sempre se resolvem.
Sirius desviou o olhar, mas não como se quisesse esconder seus sentimentos. Pandora o abraçou com força, seus braços apertando contra o pescoço do garoto ao mesmo tempo que os dele seguravam sua cintura a trazendo para perto. Aquele calor humano talvez fosse melhor do que qualquer palavra ou lamentação, eles sabiam muito bem disso.
— Era pra ser um momento feliz, estávamos bem. Morgana estava pensando em se tornar Auror, eu entrei nas Hapias e na universidade... — ela contou.
A voz dela estava abafada porquê seu rosto estava colado no pescoço dele.
— E as coisas estavam indo bem com a gente. — falou. — É tão injusto.
Ele afagou os cabelos dela quando sentiu lágrimas quentes caírem em sua pele, ela nunca havia chorado em seus braços. O que antes seria considerado fraqueza agora era o símbolo de uma confiança construída aos poucos.
— Não é o fim, Dora. — ele sussurrou. — Nós vamos ser felizes. Eu, você, Morgana e James... nós vamos conseguir.
Ele sorriu.
— Até mesmo se você for mais feliz do que eu e quiser me deixar, sabe... — ele brincou.
Dessa vez ela voltou a encará-lo, ainda o abraçando e com os olhos molhados.
— Sirius, eu te dou meu nome, meus dias, meu coração e qualquer outra coisa que te faça entender que eu sou apaixonada por tudo em você. — ela disse, como se fosse uma confissão. — Não quero ficar longe.
Sirius segurou o rosto dela próximo do seu e colou seus lábios com delicadeza, quase como se fosse um agradecimento. Mas era mais do que isso, era uma promessa.
— Acho que tenho um plano. — ela falou quando já estavam separados.
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