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CAPÍTULO VINTE
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Remus Lupin beijou Sirius Black, que beijou Pandora Madison, que também foi beijada por Remus Lupin.

Talvez tivessem cometido em erro em pensar que algo como aquilo não tivesse a possibilidade de acabar mal, mas simplesmente conheciam a si mesmos e sabiam que acabariam fazendo merda de qualquer jeito. Pandora cometeu um erro imenso quando se deixou levar pela aposta e outro ainda maior no momento em que correspondeu ao beijo de Remus, já que ele, diferente dela, só beijaria alguém a quem confiasse de verdade, só contaria sobre sua licantropia para uma pessoa que merecesse saber. E ela não merecia, não deveria ter direito sobre nada que vinha dele, porque Remus Lupin era bom demais para ela e estava tudo bem até aí, estava tudo certo até o momento em que ele beijou Sirius.

Se pudessem ter simplesmente esquecido da má ideia que tiveram, fingir que aquela maldita aposta nunca tivera sido feita e agir como se o único erro que cometeram fosse ter beijado um ao outro...

Sirius também queria aquilo, esquecer a aposta, porque por um momento ele soube que a única coisa que importava era a maneira com que Pandora olhava para ele, ou então o beijo que nunca fora planejado e mesmo assim tornou-se perfeito, deixando-o aos pés dela. Se esquecessem da aposta, ele poderia implorar por uma chance com ela, ou talvez correr atrás dela como um cachorrinho e beijar sua boca feito um idiota apaixonado. Mas não, não quando Remus Lupin o beijou por livre e espontânea vontade na madrugada de uma festa qualquer e o deixou vencer a aposta. Ao menos era o que ele pensava, que havia vencido.

E Sirius nunca se sentiu tão mal, não por ter sido beijado por Remus, mas por não ter ficado louco com aquilo, embriagado da mesma forma que Pandora o fez ficar. Porquê assim como ela, Sirius sabia que Remus era a melhor escolha, era seguro e bom, o tipo de cara perfeito que faz café da manhã depois de uma noitada e te diz "eu te amo" só quando sabe que ama de verdade. Remus Lupin era bom demais para qualquer um e melhor ainda que Pandora e Remus.

Talvez fosse por isso que naquela manhã, enquanto os alunos conversavam alto e comiam no Salão Principal, ele não conseguiu entrar, ficou com as costas coladas na parede fria ao lado das grandes portas e imaginou o que falaria para Remus quando se encontrassem. "Você é meu melhor amigo e eu sou o babaca que apostou um beijo seu... e ganhou." não soaria tão bem assim quando ele levasse um soco na cara, mas talvez merecesse.

— O que você está fazendo aqui? — Pandora o interrompeu no meio de sua melancolia.

Quando o encontrou, ele estava escorado na parede, como em uma cena daqueles filmes bem pirados e agia como se a parede o pudesse puxar para dentro, era estranho vê-lo assim, já que Siriue sempre parecia tão confiante, como se nada o pudesse abalar. Ela o encarou novamente, enquanto o garoto voltava sua atenção para o rosto de Pandora, tentando adivinhar qual seria o golpe que ela usaria para bater nele quando descobrisse.

— Não consigo entrar. — ele disse, sendo sincero.

Pandora ficou confusa, mas caminhou até a porta, olhando através dela por alguns segundos e notou apenas a presença de muitos alunos entediados, nada demais, nada que pudesse fazê-lo temer.

— Por que? — perguntou.

"Porquê beijei Remus Lupin e agora não sei como vou olhar na cara dele. Nem na sua." ele queria muito falar isso.

— Não estou com fome. — mentiu.

Uma mentira tão mentirosa que nem ela poderia acreditar. Por mais que ela não quisesse se importar com ele, escorou-se ao seu lado, seus dedos tocando a parede atrás dela, também esperando que ela a engolisse. Sirius quase conseguiu sentir o calor que ela irradiava chegar até ele, tão perto e ao mesmo tempo tão longe, era ser melhor assim, que ela estivesse distante dele.

— O que aconteceu, Sirius? — ela repetiu. — Pode contar, eu com certeza já fiz tantas merdas quanto você, não posso te julgar.

Ele riu baixinho, os olhos fechados e a certeza de que Pandora o estava encarando.

— Que reconfortante. — comentou. — Não importa o que fiz.

— Se é o que diz... só me resta acreditar.

Desde quando ela acredita nele?

Pandora se ergueu na parede, dando alguns passos para frente, até chegar perto das portas de novo, dessa vez haviam menos alunos do que antes e ela piscou os olhos algumas vezes antes de uma ideia perversa invadir sua cabeça. Chamou Sirius, fazendo-o abrir os olhos e a observar, caminhou até ela, como se percorresse seus passos anteriores e foi puxado para olhar o mesmo que ela. Quatro grandes mesas, bancos com alunos que ainda faziam suas refeições e nada mais, simplesmente nada. Era tedioso de uma maneira que a fazia pirar. Ela sentiu o corpo de Sirius quase tocar suas costas e respirou profundamente antes de dividir sua ideia com ele.

— Quando foi a última vez que você fez alguma pegadinha? — ela perguntou.

Sirius nem conseguia se lembrar, talvez o clima estranho e pesado de guerra o tivesse impedido de pensar em brincadeiras.

— No ano passado? Quando soltamos todas as corujas e a escola virou um caos por uma semana inteira. — ele se lembrou. — Faz muito tempo.

— O que acha de se divertir um pouco?

Apesar da confusão em ter Pandora Madison lhe oferecendo divertimento — que envolvesse pegadinhas infantis —, ele apenas assentiu para concordar com o convite e tentou afastar os pensamentos sobre o que havia feito. Naquele momento, enquanto seguia ela pelo corredor praticamente vazio, Sirius soube que não poderia contar sobre o beijo, porque ele não queria mais aquela posta, ele queria ela.

— E o que vamos fazer? — ele perguntou.

Pandora andava ao seu lado, observando os alunos e caminhando cada vez mais rápido, ao mesmo tempo que ela prendia o cabelo e parecia determinada, como se tivesse uma ideia maléfica. Ele não sabia, até aquele momento, que gostava tanto de ver ela daquele jeito, como se pudesse mover céus e terras.

— Vamos levar diversão para os alunos. — ela informou.

— E como vamos fazer isso?

Ela permaneceu em silêncio, como se quisesse fazer um tipo de mistério sobre o assunto e continuou assim até chegarem na sala do Professor Slughorn, que ainda estava vazia naquele horário. Pandora agarrou a mão de Sirius, olhando para um lado e para o outro confirmando que não havia ninguém os bisbilhotando e entrou. Sua atenção foi diretamente para o armário de ingredientes de Slughorn, onde ela jogou um encantamento e não tardou em caçar vários dos produtos ali, ao menos aquela receita estava guardada em sua mente, esperando para ser preparada.

— Pegue um caldeirão grande e materiais para preparar a poção. — ela pediu.

E assim Sirius o fez, catando o que ela pediu, sem tirar os olhos do que Pandora estava fazendo.

— Não vamos matar ninguém, não é? — ele questionou.

Pandora riu.

— É claro que não. Vamos.

Saíram de fininho pela porta, a garota o guiando pelo caminho até o banheiro das meninas que era inutilizado, ninguém pisava lá. Invadiram o local com pressa, tentando não fazer barulho e quando a porta foi trancada com um feitiço, Sirius levou um susto que quase o fez derrubar tudo no chão.

— Vejo que dessa vez você não está amaldiçoando o nome dele.

Murta-Que-Geme estava flutuando acima de suas cabeças, dessa vez com um olhar mais divertido do que triste.

— Não sei do que você está falando, Murtinha. — tentou disfarçar. — Podemos usar o seu banheiro?

— Não façam muito barulho, eu estou cansada. — ela exigiu.

Sirius quase riu, mas preferiu ficar em silêncio, colocando no chão o caldeirão e o resto das coisas que pegou, já acendendo o fogo. Pandora se sentou no chão, as pernas cruzadas e a atenção toda em sua poção. Sirius se sentou também, não fez nada e apenas ficou a observando. Enquanto cortava os ingredientes com materiais que pareciam surgiu do nada, Pandora repassava em sua cabeça tudo que seria necessário, misturando de vez em quando o líquido que estava sendo formado. Sirius não conseguiu deixar sua curiosidade de lado, toda vez que ela fazia algum movimento, ele se perguntava o que estava acontecendo. Por mais que quisesse questionar, ele não queria a incomodar.

— Sirius, não precisa ficar desconfiado. — ela falou. — Só não preciso da sua ajuda agora.

Ele pareceu respirar fundo, aliviado.

— Você realmente gosta de Poções... — disse.

Ela assentiu, mexendo com a colher comprida o líquido em um tom de amarelo queimado. Ela não gostava de poções, ela amava. Da mesma maneira que Hefesto amava plantas e que Dionisio amava livros, ou então do jeito que Zeus era apaixonado por liderança ou que Apolo venerava quadribol. Mas talvez não fosse como Odisseu, que amava muitas coisas na mesma intensidade.

— Já pensou mesmo em ser professora? — perguntou.

— Sim. Mas não sei se eu conseguiria.

Sirius quase gargalhou pensando em todas as coisas impossíveis que ela conseguiria tornar possíveis.

— Eu acho que sim.

Ela deu um rápida olhada na direção dele e em seguida voltou para olhar a poção. Pequenos fiapos dourados começaram a estalar dentro do caldeirão, a poção estava funcionando é muito bem.

— Os elfos gostam de você, não é? — ela perguntou. — Já o vi entrar várias vezes na cozinha.

Sirius ficou confuso pensando no quanto ela deveria ser observadora para saber algo como aquilo.

— Você vai entrar lá e pedir que eles coloquem isso na comida. — falou. — Não diga nada a não ser que eles perguntem. Invente uma mentira boa caso desconfiarem demais, acredito em você.

Sirius quase derreteu feito um sorvete no sol.

— Eles nunca vão colocar uma poção suspeita na comida.

— Você sabe todos os ingredientes que os elfos usam para cozinhar?

É claro que ele nem gostaria de saber.

— Pegue o frasco e coloque toda a poção dentro, depois vá até o Grande Salão e espere comigo até o almoço.

E Sirius o fez, exatamente como ela disse, pegou o frasco em um formato circular e o encheu com aquela poção amarelada, pensando que se não tivesse sido preparada por Pandora, ele com certeza iria ingerir até o final sem querer apenas por achá-la bonita. Seguiu seu caminho do banheiro feminino até a cozinha com a poção escondida embaixo de sua capa, caminhando em passos largos para chegar mais rápido e talvez chamando atenção demais porquê seu caminhar fazia muito barulho. Os elfos o encararam com surpresa quando viram que ele estava invadindo a cozinha, mas mesmo assim, o ofereceram um copo de água e uma cadeira para se sentar.

É claro que a reação esperada por ele aconteceu, ficaram levemente desconfiados ao encarar o líquido e decidiram entre si se era uma boa opção ou não colocá-lo na refeição. Levou cerca de cinco minutos para que todos concordassem e murmurassem um um tom muito baixo que se algo desse errado, seria por conta do garoto. Pediram para ele sair, quase o empurrando para fora da cozinha e a primeira coisa que Sirius fez foi caminhar até onde combinou de encontrar Pandora, estranhamente esperando que ela ficasse orgulhosa por seu belo desempenho. E por nem precisar mentir.

Encontrou a garota esperando no corredor, contando os fios de cabelo e batendo o pé no chão em um ritmo musical do qual ele não conseguiu compreender.

— Você conseguiu?

— É claro que sim.

Ela riu, chamando-o para ficar ao seu lado. De onde estavam conseguiam ver o Salão ainda vazio, já que boa parte dos estudantes deveriam estar em suas aulas naquele horário. Deixou-se escorregar com as costas na parede até o chão, vendo o garoto fazer o mesmo e bateu os dedos impacientemente até que decidisse falar.

— Sabe... naquele dia em que eu fiz a poção para você, como sabia? — perguntou. — Quer dizer, como descobriu que eu estava lá?

Sirius pensou antes de responder, indagando-se sobre contar a verdade ou não.

— Prometa que não vai contar para ninguém. — ele pediu.

Pandora levantou os dois dedos cruzados e levou-os até sua boca, como se realmente estivesse fazendo uma promessa.

— Eu prometo, Black.

Ele sorriu.

— Há alguns anos nós resolvemos anotar todas nossas descobertas sobre a escola em um mapa, para ajudar caso algum dia fosse necessário. — suspirou. — Montamos um mapa com todos os lugares da escola, sem excessão.

Droga, eles não deveriam ser tão espertos, ela pensou.

— Mas a questão é: além de toda a escola, o mapa também mostra as pessoas nela. Todas pessoas e onde elas estão. — contou. — Naquela noite, eu vi quando você fugiu do seu Salão Comunal e pensei que o único motivo deveria ser algo maléfico.

Ela riu.

— Algo maléfico. — ela repetiu. — Ao menos resultou em uma coisa boa.

— Claro, cupido. — Sirius brincou.

— Espera... então todas as vezes que eu e alguém...

Ele a encarou.

— Sim. Todas as vezes. — disse, logo se corrigindo. — Não que eu tenha bisbilhotado.

— Não é do seu feitio. — ela debochou.

— Tenho certeza que não.

Os alunos começaram a chegar cerca de meia hora depois, aos poucos, mas rapidamente formando um grande grupo ao redor das mesas, fazendo os dois se levantarem e ficarem esperando o almoço começar. Perceberam que felizmente nenhum de seus amigos havia chegado, já que Morgana provavelmente estava com James em alguma salinha escura, Remus deveria estar em alguma aula extra e Peter, bem, ele era onipresente. Pandora puxou Sirius para ficar olhando com ela depois que aparentemente todos chegaram, assim como os professores. Esperavam que a comida deles não estivesse enfeitiçada, já que deveriam comer coisas diferentes, mas de qualquer forma, os alunos já causariam caos o suficiente.

— O que mesmo essa poção faz? — ele perguntou.

— Pare de ser apressado, já vai ver.

Depois que Dumbledore se sentou também, comidas começaram a aparecer magicamente, estalando em um barulho baixo, mas que se repetia muitas vezes. Aparentemente, não pareciam enfeitiçadas, deve ter sido por isso que todos atacaram as tortas e purês com tanta ferocidade, como se fossem os últimos pedaços de comida do mundo. Sirius franziu o cenho, sem entender a demora para alguma coisa acontecer.

— Pandora, nada está acontecendo...

— Espere.

— Tem certeza que...

— Veja!

Aos poucos, alguns alunos começaram a ficar brilhantes, literalmente. Uma luz amarela brilhava dentro deles como se iluminasse seus órgãos, outros começaram a tossir e alguns agarraram as mãos na mesa, porquê começavam a flutuar. Os brilhantes não estavam assustados, mas gargalhavam de seus amigos que tinham reações diferentes, enquanto aquela luz saía de suas bocas e orelhas como fogos de artifício. Os professores entraram em combustão com tantas coisas acontecendo, observando todos os alunos e gritando para que parassem de comer. Pandora encarou Sirius rapidamente e o viu tentando segurar o riso, ainda observando toda a situação.

Os que conseguiram tirar seus pés do chão flutuavam no alto do Salão como se pesassem o mesmo que penas de ganso, insistindo em fazer manobras no ar para os outros rirem. O resto deles, ria com a voz fina feito o som de ratinhos, como se tivessem engolido gás hélio demais e toda vez que falavam alguém ficava com falta de ar de tanto rir. Ela riu baixinho, temendo que alguém os encontrasse no corredor, mas não conseguiu segurar ver a Professora McGonagall sair em disparada na direção dos alunos, pedindo que descessem de seus voos repentinos e que parassem de cuspir brilho por todo lugar. Sirius a olhou de volta, surpreso com a sensação de encará-la nos olhos e saber que ela conseguia tão boa até em pegadinhas.

Ele desejou profundamente que sempre fossem assim, mesmo nas brincadeiras pudessem agir juntos. Porquê aquele sentimento era bom demais, era ela e era ele, fazendo o que gostavam de fazer, caos.

— Quantos dias acha que vamos ficar na detenção? — ele perguntou.

— Nenhum se não conseguirem nos pegar. Venha.

Pandora agarrou a mão dele, apertando seus dedos contra os dela e o puxou para correr até longe dali, pedindo aos céus que McGonagall não os encontrasse de jeito algum.

Esconderam-se em uma sala que não estava sendo usada, fechando a porta com um feitiço e tentando não falar nada, fazendo o máximo de silêncio possível. Sirius a encarou quando apenas uma luz fraca que vinha de fora banhou seus cabelos escuros junto dos olhos, aqueles olhos tão bonitos, ele pensou que poderia ficar horas olhando para eles e sabia que até mesmo ela teria que deixar. A culpa que o consumia era forte, pensar que ele não devia ter feito tantas coisas erradas quanto fez lhe causavam dor. Mas Pandora... ela era leveza e sentimentos bons, aqueles olhos banhados com a luz eram como olhar para o céu de dia e encontrar paz, mesmo que fossem escuros como a noite. Ele deveria contar a verdade, que beijou Remus na noite anterior e que pior que isso, não havia sentido a mesma coisa que com ela.

Mas quando Pandora tampou sua boca com a palma da mão ao pensar que tinha ouvido alguns passos no lado de fora, ele sentiu um arrepio tomar conta de si. Por Merlin, ele havia ficado assim por causa de um toque tão simples.

— Silêncio. — ela disse.

Silêncio era tudo o que estava naquela sala junto do barulho baixo do coração batendo cada vez mais rápido. Não sabiam se era o dele ou o dela, talvez os dois.

Sirius pegou a sua mão, beijando a palma dela, então seu pulso e sentiu que aquela mão agora segurava seu rosto. E tão rapidamente tocaram seus lábios que ficaram chateados por não demorarem mais tempo com aqueles toques, que mereciam ser apreciados com lentidão. Os braços de Sirius escorregaram até às costas dela e suas mãos se espalharam na região, puxando-a contra seu corpo. As línguas se tocavam devagar, explorando a boca um do outro, os dois esperando encontrar algo que os dissesse que não deveriam gostar daquilo, ou que devessem parar, mas era impossível. Os dois eram magnéticos.

E talvez tivessem sido feitos um para o outro. Talvez... talvez... talvez...

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