• trinta e um •
CAPÍTULO TRINTA E UM
I will survive
Um despertador extremamente alto quase fez os miolos de Pandora fritarem quando ela acordou naquela manhã de sábado, sem nem pensar ela já estava de pé, ao lado da cama não havia mais ninguém, nem um bebê no berço que também ficava no quarto. Enquanto escovava os dentes, pôde sentir um cheiro maravilhoso vindo do andar de baixo, provavelmente omelete e bolinhos de milho para o café da manhã. E claro, todo aquele cheiro misturado com a maresia que deixava suas janelas embaçadas.
Depois de se arrumar, desceu a escada em passos leves, tentando não fazer barulho já que não sabia de Hydra estava dormindo ou não. Caminhou até a cozinha, de onde o cheiro vinha, ouvindo no rádio um som baixo do que parecia uma narração de quadribol, já que mencionava Charlie Monarch. Então viu a cena mais bonita e engraçada que poderia ter visto, lá estava Sirius, vestindo uma camiseta do Bowie, enquanto Hydra em seu colo o observava com olhos pequeninos e curiosos tirar os bolinhos do forno.
— Essa é a receita do seu vovô, Chiquitita. — ele disse. — São os meus favoritos, claro.
Pandora se escorou em um dos armários, os braços cruzados enquanto observava seu marido quase queimar os dedos tentando pegar um pedaço do lanchinho.
— Chiquitita?
O homem pulou com o susto ao ouvir a voz dela atrás de si, colocando uma das mãos em seu coração, depois abraçou a filha fortemente.
— Você nos assustou.
Ela riu, andando em sua direção e lhe dando um beijo rápido nos lábios. Depois beijou a bochecha de Hydra, pegou-a no colo e deixou que Sirius terminasse seu trabalho.
— O que você e o papai estavam aprontando, Hyde? — perguntou. — Poderia ter me acordado, Six.
— Eu queria um momento de pai e filha com ela, fizemos bolinhos e ela ajudou com os ingredientes... quando não estava dormindo.
Os dois riram.
— Como se sente hoje? Preparada? — ele questionou.
— Não é como se minha vida dependesse do emprego, ainda gosto do quadribol e continuo estudando... mas de certa forma me deixa nervosa. — contou.
— Tenho certeza que você vai se dar bem. — falou. — E eu vou poder dizer que sou o marido da professora mais gata de Hogwarts.
— Sirius!
Havia alguma coisa nele, algum detalhe naquele homem agora adulto que ela não conseguia definir, mas era ainda melhor do que quando eram mais jovens. Talvez fosse a belíssima visão dos braços fortes por causa do treino de Auror, ou o cabelo cortado como um galã daqueles filmes trouxas que usam Farah Fawcett e quase pegam fogo quando alguém acende um fósforo perto demais do cabelo. Definitivamente ela adorava ficar olhando para ele por horas, principal quando nadavam no mar, era admirável olhar para suas costas nuas em contato com o sol.
— Morgana mandou flores pra animar você, elas estão na sala. — informou. — Ah, você quer ir de moto até Hogsmeade?
— Vou aparatar até lá, sem problemas. — falou. — Estava com saudade de usar magia para me transportar.
— Você já vai?
Pandora assentiu.
— Vou pegar minhas coisas e ir, se precisar de qualquer coisa pode me chamar. — ela disse.
Sirius pegou Hydra de volta, deitando-a em seus braços com cuidado, depois beijou Dora mais uma vez, antes de vê-la pegando a bolsa e o casaco na sala, então sair pela porta. Não acompanhou quando ela se preparou para aparatar, nem viu o sorriso no rosto dela ao fazê-lo. Passou meses sem poder viajar assim, já que não era recomendado para pessoas grávidas que fizessem esse tipo de viagem, até chaves de portal poderiam ser perigosas. Mas agora que já fazia mais um de mês que Hydra nascera, ela poderia voltar tranquilamente a aparatar. Conseguiu ir diretamente para o seu destino, chegando em Hogsmeade rapidamente, pousou no meio da cidade e sorriu ao reconhecê-la, fazia muito tempo que não visitava o local, principalmente porquê depois da formatura eles não voltaram a ver a escola.
Caminhou por aquelas ruas de pedra por onde costumava correr com seu uniforme ou fugir de algumas aulas chatas. Se lembrou dos doces que compravam, das cervejas amanteigadas que bebiam quase sempre e de todas as vezes que desejaram ficar lá para sempre. Até mesmo a vez que ela e Sirius caíram juntos no chão por causa da neve ainda estava em sua mente, era como se o tempo tivesse passado, mas tudo continuasse igual. E ela sabia que aquilo era apenas uma sensação, já que muitas coisas estavam diferentes e era notável. Finalmente seguiu seu caminho até o Três Vassouras, que estava deveras vazio para um dia bonito como aquele.
Apenas algumas pessoas almoçando ou tomando cervejas amanteigadas na melancolia de suas vidas solitárias, outras estavam nervosas, ela conseguiu perceber, talvez porquê estivessem ali para fazer o mesmo que ela, uma entrevista de emprego. Sentou-se em uma das mesas mais afastadas, tirando o caso e pendurando-o na cadeira, deixou a bolsa na cadeira ao lado e pediu algo para comer, já que havia saído de casa com a barriga vazia. Estava tudo tão silencioso, só conseguia ouvir o som de um relógio velho e os barulhos que outros clientes faziam, sem nenhuma conversa, ela estava começando a ficar nervosa.
Comeu seu almoço enquanto observava uma mulher mais ou menos de sua idade descer a escada, provavelmente vindo de um dos quartos que viajantes usavam para passar a noite. Cabelos loiros e despenteados, roupas excêntricas que arrastavam no chão e um óculos redondo que fazia seus olhos parecerem muito maiores. A jovem também parecia nervosa enquanto falava sozinha algumas palavras soltas como "sou a próxima" e "preciso do emprego". De repente, ela ouviu mais passos, dessa vez rígidos como um animal selvagem irritado, desviou seu olhar de seu prato para a figura que fazia tanto barulho.
Severus Snape. Ele a encarou de volta, mas não desviou sua caminhada até o bar, onde falou alguma coisa antes de subir a escada outra vez e sumir no segundo andar. Aparentemente ele também estava se candidatando para algum cargo, Pandora não fazia nem ideia de que ele havia concluído mais uma graduação e muito menos que queria se tornar professor.
— Esse é babaca, quando chegamos ontem ele nem sequer me cumprimentou. — a mulher loira da mesa ao lado comentou. — Você também veio para a entrevista?
Pandora assentiu.
— Sou Sibila Trelawney. — disse. — Você é Pandora Madison, não é? Jogadora das Harpias.
— Sou eu sim. — respondeu. — É um prazer te conhecer, Sibila.
A mulher olhou para o seu relógio de pulso e quase saltou da cadeira, dando um sorriso amarelo ao sair correndo, sem nem sequer prestar atenção no mundo ao redor.
— Me deseje sorte na entrevista!
Após alguns bons minutos Pandora percebeu que pela falta de atenção de Sibila, ela havia esquecido sua bolsa na mesa. Preocupada por pensar que ela poderia ter esquecido alguma coisa, se levantou rapidamente, recolhendo o que a mulher havia deixado ali e subindo as escadas em passos lentos para tentar fazer menos barulho. Caminhou primeiro para a direita, não encontrando ninguém em nenhum dos quartos, no corredor do meio havia apenas placas dizendo para que não fizessem barulho, mas no último, antes que ela pudesse desistir, percebeu que uma das portas estava entreaberta, uma luz baixa saía de lá dentro. E o pior, Snape estava observando discretamente.
"Aquele com o poder de vencer o Lorde das Trevas se aproxima... nascido dos que o desafiaram três vezes, nascido ao terminar o sétimo mês... e o Lorde das Trevas o marcará como seu igual, mas ele terá um poder que o Lorde das Trevas desconhece... e um dos dois deverá morrer na mão do outro pois nenhum poderá viver enquanto o outro sobreviver... aquele com o poder de vencer o Lorde das Trevas nascerá quando o sétimo mês terminar... e aquela que foi sentenciada ao desespero, ajudará a derrotar o Lorde das Trevas com esmero."
Dora conseguiu ouvir a voz da mulher que conversara anteriormente dizer essas palavras que ainda não lhe faziam sentido. Nem esperou que ela falasse alguma coisa, imediatamente deu as costas para aquela luz que estava se apagando, para Severus Snape e tudo aquilo que ela havia escutado. Passou por um homem idêntico à Dumbledore quando estava saindo, mas nem sequer pensou em falar alguma coisa, apenas pegou seus pertences, deixou o dinheiro da refeição na mesa e aparatou de volta para casa. Escancarou a porta assustando Sirius, que veio descendo do segundo andar diretamente em sua direção, como se percebesse que Pandora estava quase caindo no chão. Em pedaços.
Ela despejou tudo o que aconteceu, cada detalhe do que havia visto e ouvido quando estava no Três Vassouras. Sirius não falou nada durante aqueles longos minutos, ele apenas escutou o que ela precisava falar, enquanto segurava os seus braços com o força o suficiente para sustentá-la e evitar que ela caísse no chão. Quando terminou de falar tudo, recebeu um abraço apertado e foi levada até o sofá, onde ambos se sentaram e então Sirius tentou ao máximo raciocinar com tantas informações.
— Dora, eu preciso contar uma coisa... — ele disse. — Logo depois que você saiu eu recebi uma coruja.
Ele não estava chorando, mas parecia abalado.
— R-regulus... ele morreu. — Sirius murmurou. — Ele desapareceu há alguns dias, minha... minha mãe disse que achou uma carta dele...
Pandora arregalou os olhos, sentindo-os arder, ela não sabia o que havia acontecido com ele, mas sabia que seus planos haviam dado errado.
— Eu... eu deveria ter sido melhor... — ele sibilou. — Se não tivesse fugido, se não tivesse o deixado para trás... ele não teria se juntado aos Comensais, talvez ele ainda estivesse vivo.
— Sirius, não é sua culpa... as escolhas... Isso não importa mais.
Pandora o abraçou com força, como se não quisesse mais soltá-lo, sentindo que a única coisa segura que ela possuía agora era ele. Sirius era sua âncora.
No mesmo dia eles avisaram todos que poderiam ajudar sobre a Profecia que Pandora havia escutado, toda a Ordem da Fênix precisava estar preparada para os tempos sombrios que estariam por vir. Depois da morte de Regulus, ela foi a primeira a pedir que mandassem Rabicho ir embora e não se envolver mais com a Ordem, obviamente o deixando extremamente irritado por não ter mais nenhuma informação inútil que pudesse levar para o seu Lord. Morgana chorou tanto quanto Dora quando descobriu sobre Regulus.
Mesmo com tempos tão sombrios, elas sempre tentavam manter contato, fosse em visitas ou cartas, especialmente porque agora eram as únicas que sabiam da localização uma da outra. Morgana ainda não havia feito um feitiço que mantivesse a cada em segredo, então Pandora aproveita o tempo restante para encontrá-la. Juntavam seus bebês para que eles tivessem o mínimo de contato com outras crianças enquanto não estavam seguros para sair. Ambos bebês se deram muito bem desde o primeiro momento, haviam sido de fato criados para estarem unidos.
Sobre eles, uma das maiores fontes de discussão era a de quem apadrinharia Harry, passaram meses tentando escolher e por fim — por meio de uma aposta —, Sirius ficou com o cargo e foi James quem se tornou padrinho de Hydra, para igualar a situação. Sabiam que não tardaria até terem outros filhos, então Morgana e Pandora aceitaram esperar um pouco por seus afilhados. Porém, nada foi mais feliz que o dia do aniversário de ambos, aquele era o primeiro que comemorariam. Como presente de seus padrinhos, ambos ganharam pequenas vassouras infantis e jamais se vira bebês com tamanha habilidade quadribolística, eram mesmo filhos de seus pais.
Hydra também ganhou um bolo de chocolate com escritos em azul dizendo "Feliz Aniversário, Hydra!", seus olhos brilharam ao ver aquilo e Pandora chorou como uma mãe orgulhosa quando sua filha bateu palminhas junto aos outros. Ela e Sirius souberam desde o primeiro momento que nunca haviam amado alguém como amavam ela. Todos riram quando os bebês se sujaram de chocolate.
— Ao nosso Harry! — disse James levantando a taça.
— Ao nosso pequeninho e amado, Harry! — Morgana sorriu e olhou para a melhor amiga, que segurava a filha nos braços. — E à Hydra, igualmente amada e tão geniosa quanto os pais.
Pandora e Sirius gargalharam.
Mas, ao olhar ao redor e perceber que ali só estavam amigos muito próximos, els se lembrou que não era apenas de felicidade que os restava. Preocupações reais os assombravam, coisas terríveis que os fizeram se afastar de tudo, coisas que envolviam Harry. Fazia muito tempo que não se viam tão próximos dos Comensais da Morte. Mas agora era tudo real novamente e tinha a ver com uma criança, Harry, o pequeno bebê que não tinha nada a ver com os males do mundo bruxo e agora houvera sido sentenciado às lutar.
Claro, souberam do perigo que lhes acometia desde o momento que seus amigos começaram a desaparecer, primeiro colegas de trabalho, depois pessoas muito mais próximas. Quando perceberam que estavam de fato correndo um tremendo risco, Morgana e James decidiram que o melhor a se fazer era sumir, mas não da forma comum. Precisavam de algo inesperado, então buscaram um Fiel do Segredo, o qual guardaria sua localização e não revelaria em hipótese alguma onde estavam, muitos amigos se ofereceram, até Pandora e Sirius, mas estes foram impedidos, já que também tinham uma filha e precisavam se preocupar com a segurança dela. Quem se ofereceu foi Alma Sevier, a mãe de Morgana, que não possuía magia, mas tinha coragem e empatia pela filha, foi então ela quem guardou o segredo e fez isso com prazer.
Foram meses os que passaram trancafiados em casa, estavam claramente frustados por isso, foram várias as noites que um ou outro desabavam em lágrimas por notícias recentes, como a morte ou o desaparecimento de um amigo, ou até mesmo porquê não olhavam para outra coisa que não fossem as paredes. Pandora chorava todas as vezes que colocava sua filha para dormir, silenciosa e zelando pelo seu sono, ela se inclinava com destreza e beijava a testa de Hydra, a pessoa que ela mais amava no mundo, alguém por quem ela faria tudo. Ela queria que as coisas fossem diferentes, que pudesse ver sua mãe, seu pai e seus irmãos, que ela pudesse ir com a filha para algum lugar seguro de verdade.
— Sirius...
Ele, que estava sentado na cama, lendo um livro qualquer, a encarou.
— Sim?
— Acho que eu estou grávida de novo. — ela disse.
— Dora...
Eram noites e mais noites que passavam sem visitar os amigos, sem recebê-los em casa. Saber que o próprio Lord das Trevas procurava seus melhores amigos era a coisa mais assustadora que poderiam imaginar, tudo que ocorrera antes pareceu apenas uma brincadeirinha de criança, mesmo as batalhas que foram travadas e as coisas que viram, nada daquilo pareceu tão amedrontador. Era de dar medo o que estava acontecendo no mundo bruxo, eles estavam perdendo a guerra e nada seria como antes. E agora, depois que descobriu que estava esperando um bebê, ela simplesmente não sabia o que fazer, não havia nada que pudessem mudar para deixar suas crianças seguras.
Naquela noite, quando finalmente estavam na presença de Abigail Madison, que viajara do México para ficar com a neta mesmo com todos os pedidos que ficasse, Hydra não parava de chorar. Ela nunca foi uma criança calma, mas simplesmente desatou em um choro que não parava por nada, eles tentaram de tudo, fizeram tudo ao seu alcance, mas ela simplesmente passou horas chorando, como se sentisse alguma coisa. E então, Pandora também sentiu, uma pontada em seu coração fraco e soube que Sirius sentiu também, porque ele desceu a escada quase caindo por ela, vestiu seus tênis e encarou a esposa.
— Senhora Abigail, aparate para o México com Hydra agora! — ele exclamou. — Morgana e James... precisamos ir!
Mesmo sem entender direito, Pandora apenas concordou e encarou Sirius. Pegou sua varinha e foi atrás dele.
— Mãe, vá! — ela gritou.
Sirius e Pandora viajaram de imediato até a casa dos melhores amigos, a moto voadora acelerada como nunca e a vontade de chegar no destino e descobrir que nada daquilo fora real. Lá estava Hagrid, quando chegaram, carregando um bebê em seus braços e a casa resumida à escombros. Já ali, Pandora começou a chorar, suas lágrimas não paravam de descer e havia sido uma das poucas vezes na vida que havia chorado tanto, suas mãos tremiam e seu corpo tentou reagir ao pânico. A mulher por meio dos escombros que antes eram a casa que eles haviam sonhado por muito tempo, encontrando primeiro o corpo de James, com a varinha em suas mãos, mostrando que ele havia lutado e subiu, tentando não olhar para ele, como se assim doesse menos.
Um grito assustador saiu de sua boca quando a viu, jogada no chão ao lado do berço. Seus olhos fechados, serenos e agora calmos. Os cabelos bagunçados, a boca machucada e sangrando, mas o coração já havia parado. Não conseguia parar de gritar, mesmo que tentasse, era como se tivessem arrancado um pedaço do seu corpo com ferro quente, pior que isso, um pedaço da sua alma que nunca voltaria. Ela havia perdido uma parte de si no momento que Morgana parou de respirar. Uma parte que ela nunca iria recuperar.
— NÃO! — ela gritou, a voz quase falhando. — NÃO! MORGANA, POR FAVOR.
Ela se ajoelhou ao lado da amiga, as mãos trêmulas segurando o rosto dela.
— Não, não, isso não pode ser real. — soluçou, quase não conseguindo respirar. — Por favor, você é minha melhor amiga... Eu preciso de você, Morgana. Por favor.
Deitou a cabeça no colo da amiga, tentando recuperar o fôlego.
Enquanto isso, Sirius tentava descobrir quem havia revelado a localização dos dois, quando sabia que a fiel do segredo era Alma. Hagrid contou, que dois Comensais haviam descoberto e foram atrás dela, com magia entraram em sua mente e descobriram tudo, não era culpa dela, mas o culpado fora quem contou sobre ela. E Sirius soube que só havia uma única pessoa que saberia sobre os pais dela e gostaria de vingança, ou por covardia, ou por ódio. Peter Pettigrew. Pandora nem viu quando ele desaparatou e fora procurar Peter, ela ainda estava abalada quando saiu dos escombros e caminhou até Hagrid, observando o bebê em seus braços.
— Vou ficar com ele. — ela falou. — Com o Harry.
Hagrid pigarreou.
— Não pode. — ele respondeu. — Ordens de Dumbledore.
— Que se danem as ordens desse velho, Harry é meu afilhado. — ela berrou. — Eu fico com ele!
— Harry vai ficar com outra pessoa. — disse.
— Com quem? Se os avós dele morreram... ele não tem ninguém. Por favor, Hagrid...
— Tem sim, ele tem Mavena. — respondeu. — Precisa ficar com ela.
E Pandora assentiu, confusa.
— Onde está Sirius?
— Ele sumiu, foi procurar Peter Pettigrew. — Hagrid contou.
— O que? Onde ele foi parar? — ela gritou.
— Eu não sei, ele só sumiu.
E Pandora correu atrás dele, enquanto o meio-gigante esperava mais ordens com um bebê no colo, assustou-se quando notou a presença de Dumbledore ali, anunciando que o Lord das Trevas havia sido derrotado e a guerra acabado. Morgana e James lutaram até o fim por seu filho, porque tinham coragem, porque o amor incondicional dos dois os fizera fortes, os fizera aceitar seu destino, que era cruel, mas salvaria outros. Enquanto começavam as comemorações, Pandora ainda chorava pela morte dos melhores amigos que se sacrificaram, aparatou para qualquer lugar onde Sirius pudesse estar.
Encontrou-os no centro de uma cidade próxima, não havia ninguém na rua, mas as pessoas começavam a olhar na janela por tamanha gritaria. Ela viu Sirius, segurando a varinha na direção de Peter Pettigrew, que berrava para que todos ouvissem sobre uma traição que não aconteceu.
— VOCÊ MANDOU OS COMENSAIS ATRÁS DOS PAIS DE MORGANA! — ele berrou. — FOI VOCÊ, SIRIUS!
Pandora apontou a varinha na direção dele.
— Rabicho, largue a varinha! São dois contra um! — ela gritou de volta.
— NÃO!
E quando menos puderam esperar, ele lançou um tipo de feitiço das trevas que causou uma explosão catastrófica naquela rua. Alguns civis que saíram de suas casas para observar acabaram saindo feridos e o corpo de Rabicho desapareceu, a única coisa que sobrou dele foi um pedaço do dedo, nada que pudesse comprovar o que estava acontecendo. Tudo aquilo fazia parecer que na verdade eles eram os culpados do que havia acontecido. Quando o Ministério da Magia começou a aparecer, tentando evitar mais conflitos em uma zona trouxa e para entender o que havia acontecido naquela noite de comemoração, Sirius olhou para Pandora.
— Dora, você precisa ir! — ele berrou. — Agora! Vá agora! Eu explico o que aconteceu para eles!
— Não! Sirius, eu não vou deixar você!
Ele segurou a mão dela, as mãos trêmulas. Eles estavam sentindo aquela sensação: de que nunca mais se veriam de novo.
— Veja se Harry está seguro, depois fuja para o México. Entendeu?
— Sirius, eu não posso! Eu não vou fazer isso! Eu não vou deixar você sozinho, eu não...
Ele a segurou mais perto, suas mãos no rosto dela.
— É só fazer igual quando éramos crianças, lembra? Feche os olhos, Dora. — ele sussurrou. — Feche os olhos...
E ela os fechou, Sirius a beijou pela última vez, aquele toque que tanto negaram, mas agora... agora era o fim.
— Eu te amo.
— Te quiero, Pandora.
Você fecha os olhos e diz adeus. E toda a dor desaparece.
Quando percebeu, ela já estava em Godric's Hollow mais uma vez, mas Hagrid já havia desaparecido com o bebê Harry. Ela estava pronta para voltar até Sirius, ela estava prestes a fazer aquilo, mas viu uma movimentação nos escombros, alguém tentando sair de fininho antes que a vizinhança percebesse que algo horrendo aconteceu ali. Ela reconheceu os cabelos pretos e o jeito curvado de andar.
Então entendeu. Ela entendeu tudo.
Quando ela escutou a Profecia, ele estava escutando também. Mas não manteve sua descoberta em segredo, fora ele quem contou para o Lord das Trevas, fora Snape um dos culpados da morte de seus melhores amigos. E ele sabia daquilo melhor que ninguém, talvez por isso estava chorando tanto. Pandora nem pensou, apenas levantou sua varinha como se estivesse segurando uma espada como uma grande gladiadora. Mirou na direção dele e em plenos pulmões, berrou:
— CRUCIO!
Ela o observou cair de joelhos no chão, caminhou até ele que estava se gritando e agarrou seus cabelos, forçando-o a encará-la.
— Foi você. — ela sussurrou. — Foi você!
Deu-lhe um chute na barriga, depois um soco na primeira parte do rosto que atingiu e outro. Ele não reagiu, apenas esperou mais e mais.
— Não cansa de destruir todos nós, Ranhoso? — ela berrou.
Soltou os cabelos dele e o empurrou para o chão, onde ele apenas se deitou, ela apontou para os escombros. Pandora estava fora de si.
— Está vendo o que você fez? — continuou. — Covarde!
E então começou a chorar, uma dor intensa tomou conta de seu corpo, sentiu sua pressão baixar. Olhou para o seu corpo manchado com o sangue muitas pessoas e agora do seu. Sua calça estava manchada, seus olhos estavam molhados e a única pessoa em sua frente agora era o homem ao qual ela mais odiava em sua vida. O que ela carregava dentro de si há pouco tempo não existia mais, aquela dor não era apenas emocional, era física, suas pernas tremiam enquanto ela perdia mais e mais sangue.
O homem que ela mais amava provavelmente estava sendo levado para Azkaban. E a mulher que ela mais amava estava morta.
— Me perdoe. — ela ouviu um sussurro.
Ela o encarou no chão, em choque, sem entender nada do que estava acontecendo. A única coisa que desejava para ele era que se afogasse em todas suas mágoas, que morresse sabendo que não teria o perdão de nenhum daqueles que machucou.
— Não.
Então saiu caminhando para longe, até conseguir aparatar, cerca de três vezes até chegar em casa, no México, longe de tudo. Ela chegou causando um estrondo, caindo de joelhos no chão, fraca. Havia perdido tudo em uma só noite. Decidiu naquele instante que nada mais lhe seria tirado.
E para tudo que perdeu, Pandora Madison fechou os olhos... e disse adeus.
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