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CAPÍTULO NOVE
the way you make me feel

Quando Pandora acordou naquela manhã, com os raios dourados de luz iluminando seu rosto, nem sequer conseguiu pensar em qualquer coisa ruim que pudesse acontecer num lugar perfeito como sua casa. Levantou-se sem calçar os sapatos, sentindo o chão de pedra gelado contra seus pés e caminhou até a janela já aberta, provavelmente por sua mãe que a abriu sem fazer nenhum barulho. As cortinas brancas e leves voavam com o vento, assim como o seu cabelo escuro. Ela sentiu o cheiro das plantas espalhadas por todo lugar e nunca se sentiu tão em casa.

— Dora! Vamos tomar banho de piscina? — alguém falou do outro lado da porta.

Ela não conseguiu reconhecer a voz abafada, já que seus irmãos falavam da mesma maneira.

— Já desço!

Pandora começou a se arrumar então, escovou os dentes com a escova cor de rosa, tomou banho e penteou os cabelos com pressa, logo colocando as roupas de banho e percebendo que seu armário ficava cada vez mais vazio. Ela amava aquele quarto, sempre dormira ali, com os móveis em um tom não tão claro de madeira e a cama grande o suficiente para três pessoas. Enrolou-se na toalha de listras coloridas e desceu às escadas até o primeiro andar, mas se esquivando antes de sair até outra sala afastada. Bem, talvez não uma sala, mas sim um jardim.

A estufa de Hefesto ficava localizada no canto da casa, pegando a parte externa onde as plantas conseguiam tomar muito sol em dias quentes como aquele, ela notou que seu irmão estava lá junto delas. Como um especialista em formação, ele passava muito tempo cuidando e estudando tudo aquilo, enquanto falava sozinho e de vez em quando com as plantas, alegando que só não deveria deixá-las sozinhas. Ele era o tipo de pessoa que preferia passar horas na estufa do que fazendo qualquer outra coisa. Sua mãe uma vez disse que era por isso que ele não arranjava uma namorada.

— Vai ficar aí só olhando? — ele questionou lá de dentro. — Aposto que veio pedir algum ingrediente emprestado.

Ela entrou na estufa.

— O que vai ser agora? Uma bomba ou talvez um veneno pra matar o pobre garoto que você trouxe?

Pandora fingiu estar extremamente ofendida.

— Ele não é um coitadinho, você sabe muito bem. — ela disse. — Talvez ele mesmo venha preparar um veneno pra mim.

Hefesto riu, ainda focado na folha de uma planta.

— Vocês dois não param nunca? — ele continuou perguntando.

Ela revirou os olhos e bufou.

— Bem, já faz dois dias que chegamos e eu ainda não soquei a cara dele. — contou. — Então acho que a resposta é sim, nós paramos de vez em quando.

— Gostei dele, pode ser um cunhado legal. — Hefesto comentou. — E não me olhe assim, você sabe muito bem o que tudo isso parece.

Ela abriu a boca para tentar falar alguma coisa, mas nada saiu.

— Viu! — ele riu. — Também concorda que parece muito que você gosta dele e só não quer admitir. Mamãe vai amar saber disso!

— Você endoidou, Festo. — ela disse. — E eu vou sair daqui antes que me contagie com a loucura.

Ora essa, em que mundo existiria a possibilidade de que Pandora começasse a sentir alguma coisa além de asco para com Sirius Black? Ela o tinha convidado apenas por ser boa o suficiente para fazê-lo, mas não tinha nenhuma intenção por trás, muito menos queria que ele começasse a gostar dela ou coisa do tipo. Seria estranho se acontecesse, claro.

Saiu da estufa rapidamente, caminhando em passos largos até o lado de fora da casa, especificamente a parte de trás, onde portas altas de vidro se abriram e a permitiram ver que praticamente todos estavam na piscina ou tomando sol feito plantinhas. Percebeu que Zeus e Helena, sua esposa, estavam deitados em uma daquelas cadeiras compridas e conversavam sobre algum assunto não tão interessante, além deles, Odisseu nadava com Amara e jogava água nela feito uma criança. Os outros irmãos também nadavam, ou simplesmente ficavam deitados na beira da piscina, deixando os braços caírem na água.

E Sirius... ele estava deitado na grama com os olhos fechados, em cima de uma toalha feito um cachorro. Usando uma bermuda que claramente não era sua, já que ele não costumava usar nada com estampa de florzinhas, enquanto o peito nú e definido por todos aqueles anos de treino fez Pandora revirar os olhos. Ele era tão aparecido.

— Vai ficar encarando por muito tempo? — ele perguntou.

Ela podia chutá-lo ali mesmo, Sirius não poderia se denfender mesmo. Mas ela preferiu não fazer aquilo naquele momento.

Maldito. — ela sussurrou.

Megera. — ele provocou de volta, as palavras quase saindo sem som.

Percebeu que Dionísio lia um livro enquanto os pés estavam mergulhados na água, mas por conta dos óculos escuros podia observar os outros sem ser notado. Ele simplesmente riu para Pandora quando a viu sair de perto de Sirius pisando fortemente no chão.

— Não vai entrar na piscina, maninha? — Apolo perguntou. — Ela está quentinha, eu mesmo usei um feitiço pra esquentar!

Pandora assentiu, aproximando-se da piscina e tirando a toalha enrolada em seu corpo, havia colocado um roupa de banho qualquer que encontrou ali, preta como o resto de praticamente todas as suas roupas. Sirius gostaria de dizer que não olhou para ela feito um idiota, mas ele prestou atenção em cada movimento que ela fez, primeiro jogando a toalha em qualquer lugar, depois o encontro das costas praticamente nuas dela com o sol e então os passos que ela deu para trás, trazendo-a consequentemente para perto do campo de visão de Sirius. Após pegar impulso, ela correu de volta para a piscina e como uma sereia, simplesmente pulou sem fazer grande estrago com a água.

Levou alguns segundos até Sirius perceber que ficou a encarando por tanto tempo, logo voltando seu olhar para o céu azul e ensolarado, quase queimando os seus olhos. Talvez eles queimassem com o pecado que acabara de cometer, é sério, deveria estar nos provérbios: "Não cobiçarás sua maior inimiga".

— O que comprou pra mim de Natal? — Odisseu perguntou. — Por favor, me diga que trouxe aqueles docinhos legais da sua escola.

— Você estragou com a surpresa, chato. — ela disse. — Comprei tudo o que você pediu, claro. E comprei igual para todos, já que não tenho preferência.

Odisseu arqueou a sobrancelha e semicerrou os olhos.

— Mentirosa! — ele exclamou. — Sabe que eu sou seu preferido, somos os mais próximos em questão de idade.

— Amo todos igualmente. — ela repetiu.

— Mas me ama mais. Não é?

Ela gargalhou.

— Dora, você passou protetor solar? — Zeus berrou de longe. — Vai se queimar!

— Deixa a garota, Zeus! — Helena o repreendeu.

— Não se preocupe, pai. — ela debochou. — Já vou sair da piscina.

— Mas já? Acabou de entrar! — Apolo reclamou.

— Quero pegar sol.

— Sem protetor solar, maluca? — Zeus continuou.

Pandora jogou uma grande quantia de água na direção dele.

— É rapidinho, só para me secar. Vou ajudar o papai com a comida.

— E você, menudo? Não vai entrar?

Sirius entendeu que Apolo falava com ele.

— Não, obrigado. Vou só ficar no sol.

— Passou protetor solar, menudo?

— ZEUS!

Pandora saiu da piscina, pingando por todos os cantos inúmeras gotículas de água, inclusive na direção de Sirius, que levou um susto. Depois a garota se deitou na beira da piscina, sentindo ao mesmo tempo o calor do sol e o frio da água não tão gelada se entrelaçando no corpo dela. Tampou o rosto com o braço e o outro continuou mergulhado na água, as penas esticadas e os pés que se balançavam no ritmo de uma música que ela havia acabado de lembrar. Ela estava tão bonita lá estirada na parte de pedra do chão, enquanto Sirius a dava olhadas nervosas de longe, sentado na grama.

Por Merlin, ela parecia uma ninfa, como se os raios de sol só focassem em sua direção e no corpo lindo dela, com os braços e pernas fortes, o colo bronzeado que se mexia quando ela respirava. Ele tentou não olhá-la como se realmente se sentisse atraído, como se gostasse do que via, mas foi quase impossível desviar o olhar quando ela era tão bonita e era como um território proibido. Sirius se odiava por contradizer os próprios pensamentos negativos contra ela. Pandora estava certa, maldito Sirius.

Porém, quando ela tirou o braço do rosto e virou a cabeça para o lado, bem na direção de Sirius, ele que ainda a estava encarando, não sabia onde enfiar a cara. Arregalou os olhos como um idiota e tentou falhamente fingir que estava olhando para uma árvore, ou um pássaro, qualquer coisa que estivesse ali. Pandora franziu o cenho, pensando que talvez Sirius a estivesse encarando para rir dela, ou talvez desejar que uma bigorna feito as de desenhos infantis caíssem em sua direção. Sirius se sentir atraído por ela nem sequer passou em sua cabeça, afinal de contas, como poderia alguém como ele sentir atração por ela? Não fazia sentindo, eles não eram esse tipo de pessoa. Não é?

Ela suspirou profundamente, se levantando dessa vez e recolhendo a toalha que jogou, enrolando-se com ela mais uma vez, enquanto tentava desfazer os nós que a água formou em seu cabelo. Cogitou enfrentar Sirius e perguntar o que nela o fazia gargalhar, mas simplesmente o deu as costas e saiu até dentro da casa, já sem espalhar água por lá, finalmente indo até a cozinha. Ainda com os pés descalços, ela deu pulinhos pelo caminho, chegando até a cozinha rapidamente e encontrando lá o seu pai, que agora parecia montar manualmente vários bolinhos de milho.

Chiquitita, pensei que estaria na piscina agora. — ele comentou. — Cansou dos seus irmãos chatos, não é?

Ela riu e deu impulso para se sentar na bancada, podendo observá-lo melhor.

— Senti saudade. — ela disse. — Sempre sinto saudade de vocês.

— Foi você quem escolheu aquela escola tão longe. — seu pai disse.

Ele sorriu.

— Já sabe o que vai fazer depois que terminar os estudos? Falta pouco tempo, você cresceu rápido demais para que eu conseguisse acompanhar.

— Tive algumas ideias.

— Me conte, por favor.

O senhor Madison lhe ofereceu biscoitos de chocolate que já estavam prontos. Ela devorou dois deles rapidamente.

— Pensei em continuar como jogadora por um tempo e estudar Poções. — ela disse. — Talvez me tornar professora.

— Mais uma professora na família? Que orgulho!

Pandora riu.

— E o rapaz que você trouxe?

— O que tem ele?

Ele fez silêncio.

— Não, pai! Você também não! — ela reclamou. — Não tenho nada com ele e jamais vou ter. Juro que eu nunca, nunquinha, sem nem imaginar, teria algo com ele.

Carlos Madison riu.

— Ah, é mesmo?

Pandora preferiu enfinar mais biscoitos em sua boca do que continuar discutindo sobre ele.

— Ele parece muito legal, sabe? Todo educadinho. — o homem disse. — Mas se você diz...

— Pode deixar, pai, você vai ser o primeiro a saber se algum dia eu enlouquecer e namorar com ele. — debochou. — E o almoço?

Apesar da companhia frequente de Sirius, que sempre estava no mesmo lugar que ela, talvez por preferir ficar com alguém que já conhecesse há mais tempo, os dias passaram rápido. O suficiente para que a ceia de Natal já estivesse preparada na mesa e a árvore brilhassem em luzes coloridas, recheada de presentes. Ela viu todos seus irmãos sentados nos sofás gigantescos da sala, junto das esposas e de Sirius, que aparentemente já estava super integrado naquela conversa e tinha feito amizade com eles. Pandora o odiava, mas não podia negar que ele era bom de papo, ela mesma sofria com isso.

— Hora da foto! — a senhora Madison berrou. — Venham, vamos tirar perto da mesa. Se levantem! Zeus, Helena... Dionisio, arrume o cabelo!

Pandora estava vestida com um lindo macacão azul escuro de jeans, que ia até os seus pés e abria, ela usava tênis brancos e os cabelos soltos como sempre. Encaminhou-se rapidamente até a frente de seus irmãos, ficando ajoelhada na frente para que todos coubessem na foto, ao seu lado também estava Apolo, que não era o mais novo, mas não era casado e podia aparecer sozinho na foto. A mãe deles ajeitou os cabelos dos filhos, as roupas e elogiou as noras, falando o quanto elas estavam bonitas, assim como os elogios que ela jogou para Pandora, sempre muito orgulhosa de todo mundo na sua família. O senhor Madison, enquanto isso, ajeitava a câmera recém comprada em um tripé e tentando aprender como poderia colocar uma contagem regressiva.

— Tudo bem, eu tiro a foto, senhor. — Sirius ofereceu.

— Como assim? Você vai aparecer na foto! — Abigail Madison exclamou. — Aliás, venha você também, fique aqui do lado de Pandora.

Sirius não soube explicar muito bem o que havia sentido naquele momento, mas sabia que gostaria de sentir de novo. Algo como acolhimento e importância, nunca havia sentido nada assim nos seus feriados em casa, mas era bom. E ele se sentiu feliz, mesmo que por aqueles rápidos momentos.

Pandora o viu caminhar até ela com receio, se ajoelhando seu lado enquanto ajeitava a roupa e o cabelo, tentando talvez impressionar a senhora Madison. Felizmente, o pai conseguiu ajeitar a câmera e muito animado avisou que já estava pronto, todos fizeram poses feito modelos de grandes revistas e sorriram para a foto. Ele apertou a câmera, fazendo com que ela contasse os dez segundos e o deixasse correr para junto deles, esperando com um sorriso também.

Naquele momento, nem motivo algum, Sirius e Pandora se olharam ao mesmo tempo, ainda sorrindo para a foto e aquela memória foi guardada para sempre com um flash, mostrando o momento exato do olhar como um looping infinito na foto mágica.

— Ficou ótima! — a mãe sorriu. — Olha só que coisa mais linda...

Sentaram-se todos na mesa para finalmente comer a ceia que cheirava tão bem, comida até demais, mesmo que fossem tantos. Apesar disso, ficaram tão felizes que conversavam durante a janta, falando sobre o que fizeram durante o ano e que sentiriam saudade de coisas que aconteceram. Depois, sentaram-se ao redor da árvore, abrindo a imensa quantia de presentes que lá havia, fazendo Pandora pensar que em alguns anos teria muito mais e a árvore deveria aumentar de tamanho, já que os Madison com certeza não economizariam nos netinhos.

— Ah, Sirius, querido! Muito obrigada pelo presente! Eu e Carlos adoramos. — a mais velha agradeceu.

Aparentemente Sirius conseguiu conquistá-la completamente, até fez o truque do presentinho. Deu um vinho caro para os pais de Pandora e fez questão de distribuir caixinhas de chocolates para todos os irmãos dela, copiando sua ideia. Com certeza ele seria convidado a voltar.

Pandora recebeu muitos presentes também, livros de estudos, um perfume, doces, roupas novas e também alguns cartões de Natal. Um deles vinha de Regulus, acompanhado de uma caixa de chocolates, outro vinha de Remus, com um pirulito ácido que cantava, dos quais ela não fez questão de ler perto do garoto. Ainda sorrindo com a animação de seus irmãos que agiam como se caçassem tesouros, ela se sentou na janela, pegando um pouco do vento de fora. Mal percebeu quando Sirius apareceu ao seu lado e estranhamente educado, lhe entregou uma caixinha.

— E-eu não... — ela tentou dizer.

Não havia comprado um presente pra ele, por um breve momento se sentiu arrependida por tal fato.

— Tudo bem, encare como um agradecimento. — Sirius respondeu.

Pandora abriu a caixinha com lentidão, talvez temendo encontrar uma barata ou uma bomba, ao invés disso, ali dentro havia um estranho colar com um pingente quase microscópio, obviamente perfeito para ficar quase imperceptível.

Sensum Revelium. — ele sussurrou para o colar. — Acho que mostra as emoções, mas não sei o que cada cor significa.

O pingente brilhou em um laranja quase avermelhado, chamando a atenção de Pandora. Ela sorriu e Sirius quase se derreteu, nem ele entendia porquê, afinal de contas só havia comprado o presente para agradecer.

— É muito legal, Black. — ela disse. — Obrigada.

Talvez naquele momento ela não quisesse chamá-lo de maldito.

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